EDITORIAL É com imenso prazer que lançamos a Simplesmente Judô. Uma revista 1 00% digital para ser lida em qualquer plataforma disponível: Computadores, tablets e celulares. Essa revista é uma complementação do projeto que fazemos com o boletim OSOTOGARI e com a revista Spirit of JUDO. Aqui vamos falar de pessoas, de projetos, de academias e todo tipo de assunto que envolve o judô simples. É verdade que na nossa matéria de capa já vamos contar a história do maior campeão mundial dos pesos pesados, o francês Teddy Riner, mas fomos pesquisar peculiaridades nessa fera do judô que poucos conheciam. Fomos conhecer um celeiro de campeões em São Paulo, o E.C.Pinheiros. Vamos apresentar o judoca Julio Baitella, capixaba que lutou na seleção de base e que melhorou seu peso em 93 kilos e participará da Copa São Paulo para estrear em sua nova categoria de peso, o meio pesado. E vamos apresentar um texto do professor Marcos Lopes, que descreve o mais novo projeto editorial do Professor José Olívio da Associação Mercadante e que está tendo uma excelente repercursão no meio acadêmico e técnico. Uma revista eletrônica, pequena, com conteúdo que irá agregar conhecimento e curiosidades sobre o judô, simples assim. Espero que gostem! Everton Monteiro
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Teddy Riner olha para a sua oitava medalha de ouro em mundiais, conquistada em 201 3 no Rio de Janeiro.
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Pesquisa bibliográfica e Fotos: Everton Monteiro
Os anos passam e até hoje ninguém descobriu como vencer o octacampeão mundial de judô, peso pesado, Teddy Riner. Ele é também o atual campeão olímpico. Será um páreo duro para os adversários nas Olimpíadas Rio 201 6, que será realizada de 05 a 21 de agosto. Então vamos contar um pouco da história desse judoca. No Rio 201 6, o objetivo de Teddy Riner é se tornar maior judoca olímpico da França. No seu currículo, os resultados impressionam. São oito títulos mundiais, sendo o primeiro e único judoca masculino a realizar tal feito, quatro campeonatos europeus e uma medalha de ouro olímpica. Esses números deixam até os japoneses, que são os criadores do esporte, com inveja. Nasceu em 7 de Abril de 1 989, na ilha de Guadalupe, durante umas férias em família. Foi criado em Paris e na infância foi matriculado em um clube desportivo local por seus pais. Lá jogou futebol, tênis e basquete, mas diz que ele preferiu judô, porque é um esporte individual e só depende dele mesmo. Na França, defende a Levallois Sporting Club em Levallois-Perret, próximo a Paris. É treinado por Christian Chaumont e Benoit Campargue. Ganhou o Mundial de Juniores e títulos europeus em 2006. Em 2007, ganhou uma medalha de ouro nos campeonatos de judô europeus em Belgrado, na Sérvia, um dia após seu aniversário de dezoito anos. No Mundial de 2007 no Rio de Janeiro se tornou o mais jovem campeão mundial peso pesado, derrotando o medalhista de ouro da Olimpíada 2000 em Sydney, Kosei Inoue do Japão, na semi-final. 05
Nos Jogos Olímpicos de 2008 em Beijing, China, Riner recebeu um bye na segunda rodada da competição antes de bater Anis Chedli da Tunísia e Yeldos Ikhsangaliyev do Cazaquistão para avançar para as semifinais. Nas semifinais ele foi derrotado por Abdullo Tangriev do Uzbequistão no golden score. Riner foi para a repescagem e derrotou Andreas Tölzer da Alemanha e João Schlittler do Brasil para chegar a final da medalha de bronze contra Lasha Gujejiani da Georgia. Riner levou a medalha de bronze por um placar de um ippon , um yuko e um koka (naquela época utilizava-se a pontuação de Koka) a zero. Em dezembro de 2008 ele ganhou sua segunda medalha de ouro no Campeonato Mundial Absoluto (peso livre), realizada em Levallois-Perret, França, batendo Alexander Mikhaylin da Rússia na final. Riner ganhou seu terceiro título mundial em 2009 em Rotterdam, na Holanda . Ele ganhou lutas contra Daniel McCormick , Vladimirs Osnachs, Ivan Iliev e Martin Padar nas eliminatórias antes de bater Marius Paskevicius nas semifinais e Oscar Bryson na final para levar a medalha de ouro. Em 201 0, no Mundial de Tóquio, ele ganhou duas medalhas, uma de ouro e uma de prata. Depois de vencer a competição no peso pesado, Riner foi derrotado por Daiki Kamikawa do Japão na final da categoria absoluto, na decisão dos juízes 2-1 . Após o anúncio da decisão da luta pelo juiz central, Riner recusou a se curvar e apertar a mão de Kamikawa, alegando que ele "foi roubado". Riner ganhou sua segunda medalha de ouro no Europeu em 2011 , no campeonato de Istambul, Turquia. Ele derrotou Nodor Metreveli, Emil Tahirov e Zohar Asaf nas eliminatórias, depois derrotou o estoniano Martin Padar nas semifinais e Barna Bor da Hungria na final. No Mundial de Paris, em 2011 Riner ganhou a medalha de ouro na categoria pesado vencendo o alemão Tölzer na final. Esse resultado fez com que Riner se tornasse o primeiro judoca masculino a conquistar 06
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Teddy Riner durante a luta pela oitava medalaha de ouro no Campeonato Mundial no Rio de Janeiro, em 201 3, contra o brasileiro Rafael Silva.
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cinco títulos mundiais. Mas não parou por aí. Ele ganhou sua sexta medalha de ouro nessa mesma competição integrando a seleção da França que conquistou o título por equipes. Riner foi selecionado para competir pela França nos Jogos Olímpicos de 201 2 em Londres, Reino Unido na categoria pesado. O evento foi realizado no ExCeL London no dia 03 de agosto. Riner ganhou a medalha de ouro ao derrotar o russo Alexander Mikhaylin na final. Teddy Riner tem registrado durante a sua carreira apenas oito derrotas na elite campeonato internacional: Ele perdeu para Brayson e Toelzer em 2006, para Bianchessi e Rybak em 2007 e para Muneta e Vuijsters em 2008. As duas últimas derrotas que ele teve na terceira rodada da competição (pesado) dos Jogos Olímpicos de 2008, em frente de Abdullo Tangriev antes de obter a medalha de bronze, e em 1 3 de setembro de 201 0 para o título absoluto do mundial de Tokyo para Daiki Kamikawa, essa sua última derrota até então. Ele seguiu uma série de 1 03 vitórias, a última ganhou no Grand Prix de Jeju, em 28 de Novembro de 201 5. Teddy Riner é nome certo nos Jogos Olímpicos de 201 6 e pode se tornar o maior judoca da França na história da competição. Essa será sua terceira participação nas Olimpíadas. Nas duas primeiras, duas medalhas. Em Pequim 2008, o francês foi surpreendido e acabou com o bronze. Já em Londres 201 2, não deu chance ao azar e ficou com o ouro. Agora, caso volte a vencer o torneio olímpico neste ano, quando novamente será o principal favorito de sua categoria, o judoca se igualará a outro peso pesado francês: David Douillet, que foi bronze em Barcelona 1 992 e ouro em Atlanta 1 996 e Sydney 2000. Além da agilidade incomum para um atleta de 2,04m de altura e 1 30 kg, outro fator que faz de Riner um atleta fora de série é que ele ainda está na metade de sua carreira: terá 27 anos no Rio de Janeiro. Se tiver motivação, poderá disputar, no mínimo, mais dois Jogos 09
Olímpicos. O histórico na Cidade Maravilhosa é mais um ponto a favor do francês. Nas duas vezes em que esteve no Rio, nos Mundiais de Judô de 2007 e 201 3, Riner foi campeão. Em sua participação mais recente, a medalha de ouro veio com uma vitória na final sobre o brasileiro Rafael Silva. Mesmo tendo que fazer uma cirurgi no ombro, faltando poucos meses para as Olimpíadas, garante que estará bem para essa disputa e para defender seu título. Agora é aguardar os Jogos do Rio 201 6 e ficar de olho na performance desse gigante dos tatames.
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Texto e fotos: Everton Monteiro
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O Boletim OSOTOGARI fez uma visita ao dojô do E.C.Pinheiros, para conhecer como funciona um dos celeiros de atletas olímpicos do Brasil e a sua estrutura vencedora. Desde setembro de 201 5 o judô do E.C.Pinheiros conta com um novo gerente de judô. Sumio Tsujimoto, medalhista em Jogos Pan Americanos (Bronze em Havana em 1 991 ), que prontamente aceitou o desafio desta nova fase no clube. E para ajudá-lo nesse desafio, convidou o medalhista olímpico Douglas Vieira (Prata em Los Angeles em 1 984) para assumir a coordenação do alto rendimento, iniciando os trabalhos em outubro de 201 5. Cinco meses se passaram com a nova equipe gestora e fomos até o clube para uma visita e também conversar com atletas da base e equipe principal, para saber como estão os trabalhos e o que eles estão sentindo com as novas mudanças organizadas pela nova gestão. “Estou gostando bem. Todo mundo está focado, bem concentrado, o grupo está mais unido também. Ainda não começamos a competir, mas sinto que esse ano será um ano bom.” contou o judoca Eduardo Yudy Brito Santos, 21 , nascido e criado no Japão, mas com cidadania brasileira, membro da equipe sênior do clube há dois anos, quando mudouse para o Brasil e já soma alguns títulos importantes desde que passou a competir no país. “É uma escola nova, o sensei Douglas possui uma forma nova de passar os treinamentos e com esse trabalho que está sendo realizado, podemos chegar longe”, reflete o judoca Henrique Abreu Francini, que é membro da equipe de base Sub 21 e está no clube há três anos. “O treino está bastante forte, eles estão com uma programação de treino bom para um ano bom. Vou experimentar isso agora no próximo mês, pois viajo para a Alemanha para disputar o circuito europeu”, conta a judoca Larissa Pimenta, um dos destaques da equipe de base do Sub 1 8, que no ano passado, com apenas 1 6 anos, conquistou o ouro no Troféu Brasil na categoria até 48kg. “Foi uma mudança significativa para os atletas e também para o clube. É um projeto 14
para 2020 que vem com uma proposta muito boa e os atletas só tem a ganhar com isso”, afirma Guilherme Oliveira Guimarães, judoca do Sub 21 do clube. No dia 11 de janeiro, novos atletas da base passaram a integrar o clube. É o caso de Wiliam de Souza Lima, Guilherme Brait e Rafael Cafalqui Ramos, que também entrevistamos para saber as suas expectativas e objetivos na nova casa. “Minha expectativa aqui no Pinheiros é grande, vim para cá para evoluir, para alcançar meus objetivos e sonhos no judô e aqui não falta oportunidade porque é um dos melhores clubes do Brasil”, contou Guilherme. “Estar neste clube, querendo qualquer atleta consegue melhorar seu rendimento. Eu pretendo me manter na seleção Sub 1 8 no ano que vem, e agora treinando no Pinheiros, tenho certeza que vou chegar lá”, informou Wiliam. “Vai ser uma experiência muito boa, porque o clube ajuda com a estrutura e não deixa faltar nada e nós temos 1 00% de atenção nos treinos e a galera é muito forte para treinar, os melhores estão aqui, então minha expectativa é muito boa”, finalizou Rafael. Para completar o quadro de técnicos de judô do clube, integram também os técnicos do alto rendimento Leandro Mazzei e Andréia Oguma. Raphael “Juquita” Silva e Fabiana Oliveira são os professores da iniciação e Sergio Baldijão é o responsável pelo setor administrativo do judô no clube. Com a comissão técnica formada e os trabalhos iniciados, a responsabilidade dessa equipe é grande, afinal grande parte dos atletas que integram a seleção brasileira tanto da base quanto da principal sai deste centro de treinamento, um dos principais do país. Segundo Tsujimoto, todo esse trabalho desenvolvido para que esses atletas pudessem estar nesse nível de seleção brasileira número 01 , número 02 e número 03 já vinha acontecendo no passado. A nova comissão técnica dará continuidade desse trabalho que foi iniciado, dando o suporte adequado aos atletas para que possam chegar bem nas Olimpíadas, mas o trabalho principal será objetivando “Top 2020”.
Eles realizaram peneiras de atletas sub 1 8 e sub 21 para que possam prepará-los para as próximas Olimpíadas. A missão da nova comissão técnica não se restringe apenas ao alto rendimento. Eles têm a missão de remodelar todo o departamento de judô do clube. Tsujimoto desenvolveu um método de trabalho que utiliza em sua academia há 35 anos e sua intenção é implantar esse método no Pinheiros. “O judô filosófico e o judô de alto rendimento são dois caminhos que correm em paralelo, um complementando o outro e isso faz com que o judô fique muito melhor”, afirma o supervisor de judô Sumio Tsujimoto. E é seguindo essa metodologia que a nova comissão técnica irá desenvolver no clube, desde as aulas com crianças até o alto rendimento. E num futuro breve, não para os Jogos de 2020, mas para 2024, eles têm a ambição de levar os associados do clube ao alto rendimento, que será um dos grandes desafios dessa gestão. Já Douglas Vieira conta que está reformulando a proposta de ajudar os atletas olímpicos que irão para os Jogos Olímpicos 15
201 6, terminando o processo de preparação deles. E também está pensando no próximo ciclo olímpico, por isso, o programa de desenvolvimento do alto rendimento está com o foco em 2020, com várias etapas para realizar. E, dentro desse pensamento, foram reformuladas as questões de atletas, dias e horários de treinamento, com um grande trabalho que será realizado daqui para frente. Segundo Tsujimoto, os resultados poderão vir, mas com a sua experiência como competidor, sabe que por mais preparado que esteja, no dia da luta tudo pode acontecer. Mas ele acredita muito no processo, no trabalho e no envolvimento da equipe. Ele destacou o trabalho que Douglas Vieira já desenvolveu em outros centros de treinamento, confia em seu trabalho e sabe que ele conseguirá desenvolver o projeto como planejado. “O apoio espetacular do E.C. Pinheiros, através da Diretoria de Esportes, nos dá toda a condição de trabalho, nos amparando e dando muita segurança para darmos continuidade a esse projeto”, finalizou Sumio Tsujimoto.
Wiliam, Rafael e Guilherme fazem parte da nova geração do clube
Confira os atletas do E.C. Pinheiros que integram as seleções brasileiras Sub 1 8: Larissa Pimenta (-48kg), Samara de Oliveira (-63kg), Wilian de Lima (-60kg) e Lucas Lima (+90kg);
Sub 21 : Yanka Pascoalino (-63kg), Beatriz
Souza (+78kg), Kainan Pires (-60kg), Guilherme Guimarães (-81 kg), Henrique Abreu (-90kg);
Adulto: Gabriela Chibana (-48kg), Eleudis
Valentim (-52kg), Tawany Silva (-52kg), Flavia Gomes (-57kg), Jessica Santos (-63kg), Nadia Merli (-70kg), Samanta Soares (-78kg), Eric Takabatake (-60kg), Phelipe Pelim (-60kg), Charles Chibana (-66kg), Marcelo Contini (73kg), Leandro Guilheiro (-81 kg), Eduardo Yudi, (-81 kg), Tiago Camilo (-90kg), Gabriel Souza (-1 00kg), Rafael Silva (+1 00kg). 16
O supervissor do judô Sumio Tsujimoto e o coordenador de alto rendimento Douglas Vieira
Kodansha 9º dan carregará a tocha olímpica Vamos unificar o passado e futuro, em ano de Olimpíadas no Brasil, para apresentar o professor Edgard Ozon, 93 anos, mestre kodanshas 9º dan e um dos fundadores da Federação Paulista de Judô. Não pense que a idade intimida esse mestre super ativo, que esbanja saúde, lucidez e é membro do Conselho do E.C. Pinheiros. Durante nossa visita ao clube, mestre Ozon estava no dojô do clube, local que faz questão de participar com muita frequência. Tanto que Ozon foi convidado a conduzir a tocha olímpica, em sua passagem por São Paulo, no revezamento que começa 1 00 dias antes da cerimônia de abertura dos Jogos, em Olímpia, na Grécia. De lá, a chama Olímpica viaja até o Brasil passando por todas as regiões até chegar ao Rio de Janeiro, seu destino final. Uma honraria mais que merecida para quem tanto fez pelo judô e continua fazendo! 17
ASSOCIAÇÃO DE JUDÔ MESSIAS
COMPLETA 67 ANOS Texto: Maurício Neves Fotos: Divulgação
Em 02 de Fevereiro de 1 949, há exatos 67 anos, Professor Messias Rodarte Correa fundava a Associação de Judô Messias com o propósito de ensinar o tradicional Judô Japonês, formar pessoas melhores, campeões na vida e campeões no tatame. Em um pequeno espaço a vontade e perseverança do mestre ajudou a alcançar os seus objetivos e a tornar a Associação Judô Messias parte da casa de nossos alunos. Uma segunda família para todos eles. Hoje, o pequeno espaço deu lugar a um prédio de 1 .300 m2 e quase 500 m2 de tatame a serviço do judô de São Paulo e do Brasil. Lucro financeiro? Não há, o que arrecada se reinveste. A maior riqueza é manter viva uma paixão do mestre, ter uma enorme família ganhando títulos na vida e no esporte, como diz o nosso 18
diretor técnico Milton Correa, um dos grandes responsáveis na continuidade do trabalho do mestre. Lógico que o caminho não é fácil. Sem o apoio do nosso presidente Morihiro Shiroma, nosso representante na Kodokan no Japão, de todos os faixas pretas, pais, mães, Professor Mário Francisco, Marcelo Jesus Borges Neves , Marco Wlademir, Gaitan e outros milhares de colaboradores, que ajudam a manter o trabalho. Para nós, ensinar judô é uma missão, sucesso dos nossos "filhos" e "filhas". É o nosso combustível. Ter uma pessoa como sensei Messias como inspiração é algo que não se pode descrever, o "Jigoro Kano do ne-waza" viveu para o Judô, ensinou judô até seus últimos dias entre nós. Obrigado Mestre!
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JUDOCA CAPIXABA PERDE 93KG E IRÁ DISPUTAR A COPA SÃO PAULO 201 6
Texto: Everton Monteiro Foto: Divulgação
“Tudo na vida é construído em cima de nossos valores, de incentivos, de motivações geradas por sentimentos vindos de nossos pais, amigos ou até mesmo do esporte. Minha Família, meus amigos e o Judô me fizeram crescer no caminho certo, com sabedoria, respeito, educação, dignidade e gratidão, levando como virtude a coragem para seguir adiante”. Essas são palavras do judoca Julio Baitella, capixaba de Vitória, Espírito Santo, que teve sua vida pautada no espírito do judô 20
cuja síntese de sua história iremos contar agora. Julio Baitella teve sua vida guiada pela filosofia do caminho suave ou judô desde a infância, criando um elo e afinidade muito forte com a modalidade. Apesar de ser capixaba, passou a maior parte da sua vida no Rio de Janeiro, onde construiu suas amizades, além de iniciar e aprimorar seus conhecimentos do judô, federando-se pela primeira vez pela Universidade Gama Filho do
Rio de Janeiro. Em suas andanças pelo mundo do judô, Julio chegou a ser atleta do Minas Tênis Clube, por um ano e nove meses, quando então voltou ao Rio de Janeiro, federando-se pelo Jequiá Iate Clube. Então recebeu uma proposta pra voltar para sua cidade natal, Vitória, no Espirito Santo e continuar seus treinos como atleta da Associação Yamate de Judô, integrando também o projeto COES (Centro Olímpico do Espirito Santo), que foca a formação de atletas de alto rendimento. Nessa fase participou de muitas competições importantes, melhorando sua classificação no ranking da CBJ, ficando em 3º lugar no Brasileiro Regional. Mas isso teve um alto preço para Julio, pois os treinos, o alto número de lutas e de muito esforço físico, sofreu uma lesão no joelho enquanto lutava pelo Campeonato Brasileiro e, 201 3. A gravidade da lesão o afastou dos treinos e competições e a recuperação foi lenta, afastando-o por completo da equipe de alto rendimento e afetando sua motivação como atleta. Julio estava sem um rumo definido para sua carreira esportiva, achando até que aquele momento crucial de sua vida seria o fim de sua carreira como atleta. Mas, mais uma vez, a família deu-lhe um norte e sua mãe o incentivou a voltar para o Rio de Janeiro para treinar e cursar uma Faculdade de Contabilidade. No momento que estava completamente sem rumo, a família, que muitas vezes é esquecida e deixada de lado, fez o diferencial na vida deste atleta. Lá estava Julio Baitella, o Julião, revigorado e recuperado de sua lesão, pronto para recomeçar sua trajetória como atleta de judô em 201 4! “Nesse caminho aprendi com muitos mestres, e agradeço aos seus ensinamentos. Obrigado sensei Yamate, sensei Walcleydi Florencia , sensei Thiago Medeiros, sensei Bruno Yamate, sensei Bruno Silva e ao amigo e sensei Gabriel Vicentini”, declara com gratidão Julio Baitella. Agora, aos 24 anos, após um 201 5 de competições e lesões, Julio tomou decisões importantes em sua vida: Venceu o desafio da balança e diminuiu para dois dígitos o seu peso, após perder 93 quilos. Cuidou de suas 21
lesões, adquiridas ao longo e 201 5 e ainda está trabalhando duro com musculação para fortificar a musculatura e se preparar para a temporada de 201 6. E por fim, o bom filho a casa torna. Julio voltou a defender um clube capixaba, a Associação Yamate de Judô, da cidade de Vitória. Próximo desafio de “Julião”? Miséria pouca é bobagem! Vai abrir mão de disputar a primeira etapa da seletiva estadual do Espírito Santo, que vale vaga para o Brasileiro Regional, e vai competir na Copa São Paulo, que será realizada nos dias 1 9 e 20 de março. Vai ser sua estreia na competição e também na nova categoria de peso.Baitella pretende figurar entre os três finalistas da sua categoria, um grande desafio em uma competição que chega a reunir até 60 judocas por categoria de peso. Mas segundo o judoca, entre uma moqueca capixaba e outra (Julião é um expert nesse prato típico de sua terra), está se preparando muito, pois nunca competiu na Copa SP e é um desejo antigo. Agora é aguardar pra ver seu desempenho, porque determinação ele mostrou que tem! E quem sabe ele não escreva um livro contando a sua proeza de como perdeu os 93 quilos?
PEDAGOGIA COMPLEXA
APLICADA AO JUDÔ
Texto: Marcos Lopes
Amigos do judô, já temos acesso a um trabalho (livro) desenvolvido pelos profissionais do Projeto Kimono de Ouro (PKO) de Araras (o qual a meu ver dispensa apresentações). Durante o primeiro semestre fui convidado a acompanhar os treinos, avaliações e competições dos profissionais e atletas do PKO e pude ver de perto a aplicação prática e sistematizada de todo conhecimento que tive acesso ao longo de minha vida, e, muito mais. Sinceramente acredito que todos os professores, técnicos e treinadores de judô possuem uma ideia mental do caminho para se formar um atleta campeão, vemos atualmente inúmeros profissionais formando atletas de destaque no cenário nacional e internacional, é claro que temos a questão do talento esportivo, o qual, “apesar” de nós, sempre vai figurar entre os melhores; porém, tal caminho para a formação de atletas, ou seja, esse processo, particular, de preparação de atletas foi e será construído ao longo da sua vida dedicada ao judô, fruto de muito trabalho e dedicação. No entanto, poucos ousaram escrever e expor seu método (caminho) para que outros pudessem ler, analisar e criticar, ou até mesmo testar para verificar sua eficácia. No Brasil podemos citar inúmeros locais de prática de judô e seus responsáveis que construíram ao longo dos anos métodos eficazes na formação de atletas, mas guardam seus segredos “a sete chaves”. No entanto, muitas vezes tal método é construído seguindo exemplos e aprendizados obtidos em outros locais, ou seja, é uma continuação, adaptação ou melhoria do que ele observava e praticava, e por essa razão, em alguns casos, vemos até uma ruptura total no relacionamento “mestre/discípulo”, professor/aluno. Fato que contraria um dos princípios do judô. Essa pedagogia da prática, denominada de artesanato, é a forma que se enquadra os processos de ensino e aprendizagem no judô, a qual apresenta-se na formação que tradicionalmente os faixas pretas, instrutores, técnicos e dirigentes se enquadram no Brasil. Este processo é comum em nossa sociedade e tem grande influência na forma em que entendemos os esportes e várias atividades cotidianas e até mesmo a questão laboral do trabalho comum. Os autores, José Alfredo Olívio Junior e
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Alexandre Janota Drigo, apresentam na forma de um manual, que é acima de tudo, uma fonte de registro da atuação de técnicos e profissionais que trabalham com esporte. Desta forma, caminha em direção, a uma necessidade nacional, na qual registros e documentos referentes a métodos empregados na preparação desportiva de atletas, ainda são raros, dificultando o debate e o desenvolvimento da área técnica esportiva em nossa modalidade. Acredito, ainda, que tal obra contribuirá de forma significativa para o desenvolvimento do processo de preparação de atletas de judô no Brasil, pois, nele estão contidas de forma clara e direta todos os conceitos, princípios e leis que regem tal processo, como; o Treinamento em Longo Prazo (TLP) e a especialização em idade adequada; a especificidade, a sobrecarga progressiva e a individualidade biológica; as leis da adaptação biológica; além dos aspectos inerentes à formação do Ser Humano, o melhor que ele puder ser para si e para a sociedade, com autonomia e clareza para a tomada de decisão. Em suma, temos à nossa disposição, um manual prático e teórico que não se encerrará em si mesmo, pois os próprios autores se encarregaram de continuar seus trabalhos, por isso evoluirá, e teremos com toda a certeza inúmeras críticas e sugestões, debates e discussões daqueles que ousarem testar esta metodologia.
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