JN - Artes & Vidas página 51

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JORNAL DE NOTÍCIAS SEGUNDA-FEIRA 1/12/14

// 51 ORLANDO ALMEIDA / GLOBAL IMAGENS

Artes //Vidas ENTREVISTA // EUGÉNIA MELO E CASTRO Novo disco da cantora, um CD/livro, é baseado nos poemas da mãe, Maria Alberta Menéres, e inclui ilustrações da filha, Mariana Melo Por Ana Vitória

“Queremos fazer com as canções o que a minha mãe fez com os livros” a infância, a cantora Eugénia Melo e Castro conviveu com o universo poético da mãe, Maria Alberta Menéres. Desse encontro, afetivo e profundamente arreigado no seu imaginário, conservou a musicalidade dos versos. Essa ligação está agora plasmada no livro /CD “Conversas com versos”. A obra foi publicada originalmente em 1968 e já teve diversas edições. Agora, surge com novo rosto, graças à inclusão do disco com 11 canções e respetivas partituras e às ilustrações de Mariana Melo, filha da cantora. A sua mãe costumava ler-lhes estes versos? Sempre. Este foi o primeiro livro de poesia infantil dela. Publicou-o em 1968 e já teve múltiplas edições. Faz atualmente parte do Plano Nacional de Leitura. Acabou por ser

N

o grande livro de poesia infantil em Portugal. Era muito avançado para a época e, curiosamente, resistiu à passagem do tempo. Continua muito atual. Que memórias guarda daquele tempo? Na altura, vivíamos na Covilhã. A minha mãe sempre esteve muito ligada à natureza. Há um universo fantasioso em toda a produção dela para a infância. Os poemas surgiram de repente, de forma natural. Ela mostrava-nos as coisas que ia escrevendo. Lembro-me de que fazíamos teatrinhos com estes poemas. Havia uma animação cultural em volta disso. Portanto, este livro, para mim, é como se fosse meu também. “Conversas com versos” tem um significado importante para si, portanto... Este livro, escrito pela minha mãe, nasceu comigo e

com a minha irmã. Faz parte da nossa vida afetiva. É um livro muito interiorizado. Como é que lhe apeteceu musicar tudo isto? Os poemas são eles próprios muito musicais. Eu tinha melodias na cabeça. Mas este disco é o resultado de um trabalho criativo coletivo. No Brasil, tenho trabalhado com um produtor, o Eduardo Queiroz, que, quando lhe dei a conhecer a obra da minha mãe, considerou a poesia dela algo de extraordinário. Foi ele que disse: “quero musicar isto”. Nos últimos dez anos, estou mais em Portugal do que no Brasil. Vou quando há trabalho. E, da última vez que lá estive, o Eduardo mostrou-me duas músicas que fizera para dois poemas. Fiquei doida quando ouvi. Era um trabalho fantástico. Ao longo dos dois últimos anos, fomos gravando mais um ou outro

“O Ney Matogrosso leu os poemas e adorou . Disse logo que queria cantar” “A Mariana cresceu a ver a avó a escrever. E ia sempre ilustrando os poemas”

tema. Convidámos músicos. A percussionista Nath Calan e o violista Camilo Carrara. Às tantas, decidimos que o melhor era musicar tudo. Ficamos por 14 poemas agrupados em 11 canções. Como é que o Ney Matogrosso apareceu no disco? Já tínhamos convidado outro músico, Lino Krizz, para cantar comigo “O nariz” e “Os nomes”. Depois, decidi perguntar ao Ney se também queria participar. Ele leu os poemas e adorou. Disse logo que queria cantar “O meu chapéu” e “Consulta”, dois poemas que decidimos agrupar na mesma canção. É este tema que dá origem ao primeiro videoclip. E como surgiu a ideia de incluir as ilustrações da sua filha nesta edição de “Conversas com versos”? A Mariana cresceu a ver a avó escrever. E ia sempre ilus-

trando os poemas. Desde muito pequena que o fazia. Ela é uma ilustradora nata. Mas só agora, depois de o livro ter passado por várias edições e múltiplos ilustradores, é que finalmente conseguiu cumprir o sonho. Qual foi a reação da sua mãe a este projeto? Adorou. Aliás, foi a minha mãe que deu a ideia de incluir na edição do livro/CD as partituras das canções. A divulgação vai ter outros suportes? Estamos agora a fazer um apelo às escolas no sentido de estas programarem a nossa ida com um espetáculo de bolso baseado neste projeto. No fundo, queremos fazer com as canções o que a minha mãe sempre fez com os livros. Ela foi pioneira em ir às escolas falar da sua obra. Nós queremos fazer o mesmo com as canções. v


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