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ID: 59980729
02-07-2015 | Visão 7 Porto e Norte
CAPA Porto&norte
Tiragem: 82150
Pág: 4
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Semanal
Área: 18,50 x 25,00 cm²
Âmbito: Lazer
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Arquitetura PARA TODOS Um modelo democrático de visitas arquitetónicas, gratuitas, chega ao Porto, ajudando a construir novos olhares sobre a cidade. Serão 42 os edifícios, de diferentes tipologias e épocas, incluídos nesta primeira edição do Open House Porto JOANA LOUREIRO TEXTO E LUCÍLIA MONTEIRO FOTOS
Na Estação de Metro Campo 24 de Agosto, a arqueóloga Iva Botelho guia um grupo de visitantes
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ecordam-se perfeitamente da surpresa que tiveram na primeira visita. «Quem percorre a Rua da Vitória, um bocadinho encafuada, não imagina que a casa tenha esta panorâmica da cidade antiga e há sempre uma reação de deslumbre.» Paulo Freitas e Maria João Marques quiseram logo aproveitar estas paredes seculares (a guardar marcas da antiga judiaria, do século XVI) para fixar casa e ateliê. O projeto não assustava o casal de arquitetos, especializado em reabilitação. «Há o mito da reabilitação ser mais cara. O que está é mais sujeita a surpresas.» Não foi o caso. No exterior, mantiveram a simplicidade do edifício. O design de interiores, muito funcional, combinou tradição e modernidade e garantiu-lhes, em 2009, uma medalha de ouro na Bienal de Arquitetura de Miami. Esta é uma das habitações privadas que fará parte das visitas gratuitas do Open House Porto, a decorrer este sábado, 4, e domingo, 5, uma coprodução da Casa da Arquitetura e da Trienal de Arquitetura de Lisboa, em parceria com os municípios do Porto, Vila Nova de Gaia e Matosinhos. «Quis introduzir o tema da regeneração urbana no centro histórico, fazendo uma seleção de casas particulares que, pela maneira como
foram intervencionadas, demonstram diferentes formas de interagir com esse legado», aponta Pedro Bandeira, arquiteto, professor na Universidade do Minho e comissário desta primeira edição. Interpretações mais ousadas, como a do n.º 310 da Rua do Breiner (um edifício de raiz construído numa ruína de uma casa) ou interpretações mais discretas, como as três casas na Rua dos Caldeireiros. Paulo Freitas e Maria João Marques acederam a servir de cicerones durante as visitas. «As pessoas estão a redescobrir o centro histórico e é importante que percebam que isto não é só hotelaria e turismo, há quem viva aqui», dizem. Com muito prazer, percebe-se. Os Pritzker e a estação de Metro A inacessibilidade de muitos dos 42 edifícios selecionados, nas cidades do Porto, Vila Nova de Gaia e Matosinhos, espevitará a curiosidade dos visitantes, acredita Pedro Bandeira. É o caso das grandes infraestruturas que «no quotidiano, se tornam invisíveis e que temos agora a oportunidade de descodificar». Os exemplos são, mais uma vez, muito distintos e incluem desde o Complexo Industrial da Refinaria de Matosinhos – não sendo uma obra de arquitetura, marca a paisagem costeira – ao funicular dos Guindais, projetado por Adalberto
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Desenhado por Siza Vieira e reabilitado em 2006, o Bairro da Bouça será um dos locais a visitar durante a Open House Porto. Para o comissário da iniciativa, Pedro Bandeira, era importante destacar um exemplo de habitação social
OPEN HOUSE PORTO Porto, Matosinhos e Vila Nova de Gaia. 4-5 jul. Visitas gratuitas
Dias. O Farol da Boa Nova, em Leça da Palmeira, já tem um dia aberto a visitas (quartas, das 14 às 17 horas) e são muitos os que se aventuram a subir os 225 degraus (é o segundo mais alto do País, 46 metros de altura) para alcançar uma panorâmica impressionante das redondezas. «Há quem venha como se o farol fosse para um miradouro, mas outros visitantes querem saber um pouco mais sobre o seu funcionamento», explica António Oliveira, um dos faroleiros de serviço. São eles os responsáveis pela manutenção do complexo de edifícios inaugurado em 1927, reparando falhas, pintando paredes e mantendo os cobres a brilhar. Durante as visitas regulares da Open House (sábados e domingos das 14 às 17 horas), ajudarão os voluntários a responder às dúvidas e curiosidade sobre o dia a dia no farol. Os nomes da Escola de Arquitetura do Porto não ficarão de fora desta mostra. De Álvaro Siza Vieira, poderá conhecer-se a Casa de Chá da Boa Nova, a Piscina das Marés, a Casa da Arquitetura ou o Bairro da Bouça. De Eduardo Souto Moura, a estação de metro 24 de Agosto ou a Torre do Burgo. Não serão os premiados pelo Pritzker, considerado o Oscar da arquitetura, contudo, a acompanhar as visitas guiadas. «Sempre que possível,
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os arquitetos dos projetos vão estar envolvidos no Open House, senão convidamos outros arquitetos ou pessoas familiarizadas com as obras», diz Pedro Bandeira. Na estação 24 de Agosto, o trabalho estará (bem) entregue a Iva Botelho, arqueóloga da Metro do Porto, que fez parte da equipa que acompanhou e ajudou a salvaguardar os achados dos engenheiros nas primeiras prospeções ao subsolo. «A forma como este investimento se perdeu na memória é um enigma», afirma. Aos poucos, recuperou-se o fio da história. Naquele local, o aproveitamento hídrico remonta ao século XIV e já as crónicas de Fernão Lopes falavam na existência da fonte da ribeira de Mijavelhas. O local passa a ser conhecido, no século XVIII, como o Poço das Patas. O conjunto de resquícios arqueológicos que convivem, atualmente, com as linhas depuradas do espaço, é uma cópia infiel do que outrora existiu. «Esta é uma construção do século XXI, idealizada pela equipa de arqueólogos. Era impossível fazer uma reposição do desenho original», recorda Iva Botelho. Quando se partiu para a ideia de musealização destes achados, não havia uma linha do projeto da estação. E o diálogo entre arqueólogos, engenheiros e arquitetos nem sempre foi fácil. «Mas houve um bom compromisso entre o projeto arquitetónico e a preservação da memória», considera Pedro Bandeira. Um bairro social e um mosteiro quinhentista Para o comissário Pedro Bandeira, era igualmente importante destacar no Open House Porto um exemplo de habitação coletiva e social. O Bairro da Bouça, apesar de ser anterior ao SAAL (Serviço Ambulatório de Apoio Local, projeto que, no pós 25 de Abril, pretendeu responder à questão do direito à habitação das populações carenciadas, seguindo um processo participativo), é um dos que mais bem representam o seu espírito. Durante 30 anos, o projeto definhou. «Siza Vieira deixou de acreditar que o projeto seria acabado», conta Fernando Cardoso, um dos representantes da associação de moradores que mais lutou pela Bouça (e que também dará uma ajuda nas visitas). Reabilitado e completado em 2006, a forma como resistiu aos diferentes condicionalismos (sociais, económicos, políticos e históricos) comprova a qualidade do desenho. Nesta segunda vida da Bouça, assistiu-se à chegada de novos moradores (entre eles, muitos arquitetos), verificando-se um dos fenómenos de gen-
trificação de êxito, com um convívio harmonioso entre pessoas de estratos sociais e proveniências muito diferentes. «O fator Siza foi fundamental para a nossa vinda», admite Nuno Brandão Costa, um dos arquitetos (Prémio Secil 2009) que partilha um dos pequenos edifícios construídos naquela segunda fase do bairro e que disponibilizará o seu escritório para visitas. «Comprámos em leilão e nunca alterámos nada, funciona muito bem», conta. No andar inferior, será o Ateliê da Bouça, de Filipa Guerreiro e Tiago Correia (curiosamente, o casal também mora numa das casas desenhadas
por Siza), a abrir portas e a mostrar o que é o trabalho de um arquiteto. «À Escola da Porto pode apontar-se a ambição do controlo absoluto sobre os projetos, do princípio ao fim, o que se traduz nos escritórios de vão de escada, de pequenas dimensões», comenta Pedro Bandeira. «Quanto ao resto, há uma grande diversidade dentro da Escola e o Open House Porto também o demonstra.» Um dos motes da iniciativa é também a visita a edifícios das mais diferentes épocas. Por isso, não se entranhe ver nesta lista o Mosteiro da Serra do Pilar, com desenho original
De cima para baixo, da esquerda para a direita: «Manteve-se a traça original», diz o arquiteto Manuel Maria Reis, sobre a recuperação do Edíficio dos Maristas, um palacete do início do século XX que resistiu à voragem da Avenida da Boavista; os faroleiros do Farol da Boa Nova vão dar uma ajuda durante as visitas; no Mosteiro do Pilar, é possível ver o molde da estátua de Afonso Henriques da autoria de Soares dos Reis; e, por fim, a Casa da Vitória
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os 42 edifícios O Porto é o membro mais recente da Open House Family, de que fazem parte cerca de 30 cidades espalhadas pelo mundo. A iniciativa nasceu em Londres em 1992 como um roteiro de visitas gratuitas que pretende valorizar a arquitetura de excelência, dos edifícios clássicos aos mais vanguardistas. O modelo de funcionamento repete-se em cada cidade. Há três tipos de visita: livre, dentro do horário estipulado pela organização; regular, ou seja, acompanhada por voluntários (na sua maioria, estudantes de arquitetura); ou comentada, seja pelo autor do projeto ou por um especialista convidado. No site do Open House Porto (www.openhouseporto.com) ou nos guias e mapas entregues pela equipa de 90 voluntários espalhados pelos 42 locais (ver lista), podem ser consultados os horários, a localização, acessibilidades e o tipo de visita em causa. A maioria não exige reserva, pelo que as visitas são organizadas por ordem de chegada. Alguns exigem pré-marcação como é o caso do Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões ou o Edifício dos Maristas.
Matosinhos
A ideia da Open House também é integrar edifícios do quotidiano, «que se tornaram invisíveis», como o Funicular dos Guindais
do século XVI, dono do único claustro circular da Península Ibérica e o único ponto, na margem sul do Douro, que integra a zona classificada com património mundial da Unesco. O comissário pretendeu, com esta inclusão, fazer a ligação à invencibilidade de que se gaba o Porto já que foi aqui que aquartelaram as tropas de Wellington para resgatar a cidade ocupada pelos franceses e, mais tarde, as forças liberais aquando do Cerco do Porto. Regido pelo Regimento de Artilharia n.º 5, parte das suas instalações foram disponibilizadas à Direção Geral de Cultura do Norte, para ali fazer um espaço de informação sobre os monumentos mais significativos da região. As visitas da Open House abrangerão estas salas, o claustro, a igreja (a cúpula tem uma vista magnífica) e ainda o refeitório, cozinha e celas do quartel. Paulo Freitas e Maria João Marques (os arquitetos de quem já falámos) assinaram a reabilitação, concluída em 2012, obedecendo a introdução de
novos equipamentos ao princípio da reversibilidade (segundo o qual, os elementos acrescentados podem ser retirados em qualquer altura). Partilhou do mesmo princípio a intervenção de António Portugal e Manuel Maria Reis, no Edifício dos Maristas, um dos palacetes do início do século XX que resistiu à voragem urbanística da Avenida da Boavista, outrora habitação de um ilustre brasileiro torna-viagem e colégio. O restauro teve como propósito o acolhimento do serviço de private banking do Banco Espírito Santo (atualmente, Novo Banco). «Manteve-se quase toda a traça original», conta Manuel Maria Reis, revelando na visita guiada a minuciosidade do trabalho, que conserva a passagem do tempo nos elementos decorativos e esconde infraestruturas por detrás de paredes falsas. Exemplos das mais valias que um arquiteto pode ter na construção e na reabilitação e que a Open House Porto terá a oportunidade de mostrar._
Casa de Chá da Boa Nova • Farol de Leça • Refinaria de Matosinhos • Piscina das Marés • Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões • Posto de Turismo de Matosinhos • Casa da Arquitetura • Estratégia Urbana e Ateliê Nuno Sampaio
Porto Zona da Boavista Edifício Praça de Liége • Torre do Burgo • Edifício dos Maristas • Casa da Música • Casa do Conto Centro Apartamento Bairro da Bouça • Escritório Ateliê da Bouça • Escritório Brandão Costa Arquitetos • Centro Comunitário São Cirilo • Centro de Sangue e Transplantação • Antigo Matadouro Industrial • Casa Braamcamp • Torre Jornal de Notícias • Casa Breyner 310 • Edifício dos Paços do Concelho • Edifício Rua Miguel Bombarda • Estação de Metro Campo 24 de Agosto Baixa Teatro Municipal Rivoli • Casas da Rua dos Caldeireiros • Casa na Cidade 3 • Teatro Nacional São João • Claustro do Mosteiro São Bento da Vitória • Funicular dos Guindais • Casa da Rua da Vitória • Torre dos 24 • Ateliês da Lada
Vila Nova de Gaia Teleférico • Mosteiro da Serra do Pilar • Espaço Corpus Christi • Espaço Porto Cruz • Capela de São José, Quebrantões • Laboratório Eng. Edgar Cardoso • Centro Interpretativo do Património da Afurada • Palacete Marcos Gomes Página 74
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sete v 02-08 JULHO 2015 / Porto&norte
De portas abertas
De um mosteiro quinhentista às obras de Siza Vieira e Souto Moura – 42 edifícios selecionados para integrar a primeira edição da Open House Porto Página 75
LUCÍLIA MONTEIRO
Funicular dos Guindais, um projeto do arquiteto Adalberto Dias
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Área: 7,14 x 4,98 cm²
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PORTO & NORTE
Arquitetura para todos na primeira edição da Open House Porto
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