ID: 63458018
01-04-2016
Tiragem: 50000
Pág: 160
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Mensal
Área: 20,00 x 26,50 cm²
Âmbito: Femininas e Moda
Corte: 1 de 2
Sede da GStar
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Esteve em Lisboa uma das arquitetas mais conceituadas da ateliê holandês OMA, criado por Rem Koolhaas e colegas em 1975. Fomos saber com que linhas se desenha o mundo onde vivemos. Por Ana Murcho llen van Loon é espontânea, sincera e inesperada. Fala de arquitetura como se de poesia se tratasse, com uma naturalidade desconcertante, ela que criou edifícios tão imponentes como o pavilhão Prada 11-ansformer em Seul (2009) ou a sede da G-Star em Amesterdão (2014). Apaixonada por cidades, pessoas e espaços, refere-se a todos eles com expressões recorrentes como "intrigante", "interessante", "excitante". No seu universo, são estas as variáveis que contam quando imagina as "criaturas vivas" (sublinha várias vezes que "um edifício bom tem de ser funcional e dinâmico", um ser "com vida própria") que vai projetando, um pouco por todo o mundo, enquanto sócia do reconhecido ateliê OMA. Entre os projetos que assinou estão a Casa da Música no Porto (2005), vencedor do prémio RIBA 2007 ("um edifício em si mesmo" onde "não mudaria nada") ou o De Rotterdam, o maior edifício da Holanda (2013). Com um currículo destes, esperava-se alguém com um discurso de aço. No entanto, Ellen surpreende pela simplicidade com que partilha as suas opiniões: "Acho que os bons edifícios são apreciados, os outros julgo que as pessoas nem reparam neles. Fazem
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parte da categoria de edifícios muito maus dos quais não gostamos, porque não acontece nada de novo e excitante com eles." E que impressões lhe provocam esses erros de casting? "Às vezes acho que é um desperdício, tipo 'se me tivessem dado o dinheiro tinha feito melhor'. Outras vezes... Sei que é estranho dizê-lo, mas os bons edifícios ficam melhor quando estão rodeados de maus edifícios!" Encontramo-nos num hotel no centro de Lisboa, um dia depois da conferência que deu no Centro Cultural de Belém, inserida na 'Bienal de Arquitectura. Aí, já tinha reconhecido perante um auditório cheio que "um arquiteto não é propriamente livre de fazer o que quer" - e que apesar de o cliente ter, sempre, um "papel substancial" em todas as decisões, o arquiteto deve lutar pelas suas ideias: "Muitas vezes o cliente não percebe a lógica das coisas até ver o projeto concluído." Aconteceu-lhe isso no New Court, sede do Rothschild Bank, em Londres, onde "os banqueiros tinham medo que fôssemos muito criativos!" Mal sabiam eles que, para Ellen, é mesmo o sonho que comanda a vida. "As pessoas criativas nunca deixam de sonhar, foi isso que aprendi ao longo do tempo. Todos os dias temos novas inspirações, e quando acabamos um edifício ficamos com novas ideias que nos levam para o
seguinte." Se por vezes as circunstâncias a obrigam a pensar de forma mais corporativa, todos os projetos ensinam algo novo - algo interessante. "Duvido que exista algum projeto no planeta que toda a gente considere absolutamente perfeito. Nem acho que devemos esforçar-nos por isso. É muito mais interessante fazer edifícios de tipos diferentes, que provocam tipos de experiências diferentes."
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os 52 anos, esta holandesa de cabelos desalinhados e aspeto jovial começou por desenhar roupa para bonecas, porque "a escala era ideal para a minha idade. A minha mãe deu-me uma máquina de costura, mas pouco tempo depois eu já estava aborrecida, porque a máquina era muito pequena". Aos 12 começou a ficar "mais interessada espaço e com o que se pode fazer com ele", e no fim da adolescência despertou para o lado mais técnico da profissão - "Foi assim que lentamente entrei na arquitetura", relembra. Nunca deixou de acompanhar a Moda ("acho que todas as mulheres gostam de Modal"), até porque o que a une à arquitetura é bem mais forte do que aquilo que as separa: "A indústria da Moda está constantemente a inventar coisas novas e excitantes. Além disso, as marcas têm de
ID: 63458018
01-04-2016
Tiragem: 50000
Pág: 161
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Mensal
Área: 20,00 x 26,50 cm²
Âmbito: Femininas e Moda
Corte: 2 de 2
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irar
lidar com a disposição das lojas, com a publicidade... Não estão apenas a fazer roupa, há todo um ambiente que tem de ser criado. E depois, obviamente, os nossos edifícios estão cheios de pessoas, e as pessoas usam roupa..." Os pontos de encontro esbarram na velocidade a que se trabalha, porque "a Moda é muito rápida", e enquanto se fazem 10 coleções por ano, não se erguem edifícios com a mesma rapidez.
POR UMA SEMANA OU DOIS DIAS, AQUI AO LADO OU PARA OUTRO CONTINENTE, ESTÁ NA ALTURA DE PÔR UMA VÍRGULA NA ROTINA E RESPIRAR.
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uma manhã em que o sol parece querer desafiar o inverno, a arquiteta elogia as cidades que "têm a sorte de ter um bom clima" (apesar de preferir o cinzento misterioso do Porto à luz que encandeia Lisboa) e onde "as pessoas se conseguem deslocar com facilidade e apreciam os espaços públicos". Fala de Hong Kong e Londres ("irritante e agradável") com o mesmo carinho que relembra a beleza de Amesterdão, porque o que lhe interessa é a dinâmica do dia a dia, ver "como as pessoas interagem com o espaço. Pensamos muitas vezes como é que o utilizador vai usar um edifício, sonhamos com o que ele poderá fazer. Mas isso não é visível quando terminamos o projeto. Temos de voltar, um ou dois anos depois, para ver o que o utilizador está a fazer com aquilo que tínhamos em mente. E muitas vezes descobrimos coisas em que nunca tínhamos pensado".
VOOS ALTOS Não é preciso voar para chegar alio, e o No novo Ace Hotel, em Pittsburgh, dormir é um pormenor. Erguido num antigo edifício do YMCA, está no centro da revolução cultural de uma cidade que tem tudo para oferecer e nada para pedir em troca. A não ser uma visita.
Alentejo é a prova disso. O Agro Turismo Monte Alto é daqueles lugares sem tempo nem estação, com lareiras para as noites, bicicletas para os dias. É daqueles lugares em Portugal que são grandes por serem pequenos e perlo de nós por estarem longe de todos. Herdade do Monte Alto, Degolados, Campo Maior. Tel. 268 688 176. www.montealto.com.pl.
www.acehotel.com/pittsburgh.
COSER VENEZA O Bauer Palazzo Veneza sobe a cortina e desvenda segredos numa tour pela manufatura da seda italiana, os seus showrooms com arquivos que datam do século XIX e museus submersos em história. www bauerpolazzo.hotelinvenice.com
A UM IJPO R A N I AR UM FILME
O PADRINHO UM DESIGNER
MIUCCIA PRADA Ellen não só regressa, como guarda memórias de todos os projetos, numa ode à experimentação e à descoberta - o seu escritório é um laboratório de materiais em constante atualização; sabe que arquitetura é uma arte que sobrevive ao tempo, e defende que "os bons edifícios continuarão a ser considerados bons daqui a 50 anos". E por isso mesmo tenta colocar um pouco do mundo, e do que retira dele, em cada projeto: "Os filmes do James Bond inspiram-me sempre, porque decerta forma são sempre sobre o espaço. Por vezes temos uma porta num edifício e dizemos 'esta é a porta James Bond', 'esta é a sala James Bond'." Antes de nos despedirmos, pergunto-lhe se tem uma cor-fetiche. Espero uma declaração de amor à intensidade do preto total, mas uma vez mais sou surpreendida. "Gosto de cor-de-rosa. Em muitos edifícios temos cor-de-rosa - não em todos, mas em alguns. Soft-pink, aliás." •
2.0 TIVOLI Os Tivoli Lisboa, Oriente e Marina
A NOVA •
Almada Negreiros, Júlio Pomar, Nadir Afonso, Henrique Pousão, Vieira da Silva, Manuel Cargaleiro, Julião Sarmento, Paula Rego e Emmerico Nunes. Não, esta não é uma exposição coletiva: são os nove apartamentos da Baumhaus, o novo empreendimento turístico do Porto. A antiga casa burguesa foi remodelada pela arquiteta Ana Coelho, num novo conceito de escapadelas que são o pretexto ideal para não ficar em casa. R. da Boavista, 781. Te!. 915 495 579. www.boumhaus.pt
de Vilamoura foram adquiridos pelo Minor Hotel Group e encaminham-se para uma revolução de estilo. Novos quartos, novo design e, em alguns • casos, novas fachadas transformam os ícones em edifícios de desejo.