Folha da arca 5

Nova Lima/MG, Junho de 2009 • Ano 2 • Nº 05

Editorial Nós da ARCA AMASERRA estamos unidos na defesa da Serra da Calçada, patrimônio natural e cultural da humanidade ameaçado pela ação de mineradoras, expansão urbana desordenada, incêndios fora da unidade, turismo desordenado, violência urbana, lixo, e uso indiscriminado de água. Lar para fauna e flora únicas, a Serra da Calçada também abriga o “Forte de Brumadinho”, monumento histórico importante para Minas Gerais e para o Brasil. No dia 05 de Junho, dia Mundial do Meio Ambiente, a ARCA AMASERRA completa dois anos de atividades em prol da promoção do respeito humano à natureza que nos cerca e acolhe. Pedimos responsabilidade e envolvimento da sociedade civil, encarregada de cobrar de nossos governantes a defesa do nosso patrimônio ambiental que é a Serra da Calçada e as montanhas de Minas Gerais.

Nessa edição do Jornal da ARCA AMASERRA, o leitor aprende sobre o beija-flor-de-gravata-verde (Augastes scutatus) e a Calibrachoa elegans, espécie de flor endêmica da região, além de conhecer um pouco sobre a amiga Maria Tereza F. Corujo, sensível moradora da Serra da Piedade. Nós, ativistas da ARCA AMASERRA agradecemos o apoio recebido nesses dois anos de ações, enquanto celebramos nossas vitórias e encontros. Boa leitura!

Jeanine Baraillon Presidente coordenadora da ARCA AMASERRA

Abraço à Serra da Moeda reúne 5.800 pessoas

Ilustração: Mário Vale

O Abraço à Serra da Moeda nos trouxe uma experiência de força e união quando o assunto é proteger nossas serras. As cinco mil e oitocentas pessoas que compareceram ao “topo do mundo” nos mostram que a consciência de nossas comunidades está ligada à nossa Terra, à nossas Serras... A mobilização teve início na BR 040, em frente ao posto Chefão, onde a ARCA AMASERRA e membros da Associação do Retiro do Chalet distribuíram saquinhos de lixo para carros, com a cooperação da Polícia Rodoviária Federal.O abraço contou com demonstrações populares, rituais e eventos esportivos em uma grande demonstração de união e força.

A mobilização bem feita e bem coordenada tem grande poder de sensibilização junto aos governantes que são o principal alvo de atenção.Que fique registrado que estamos unidos e queremos a proteção de nossas serras.

ARCA AMASERRA celebra dois anos de conquistas!

Nesse dia 05 de Junho, dia Mundial do Meio Ambiente, a Arca Amaserra celebra dois anos de atividades em prol da Serra da Calçada e seu entorno.

Sintonizados com a consciência mundial de que o planeta Terra precisa de cuidados e a humanidade precisa agir com responsabilidade e promoção do desenvolvimento sustentável para garantir a vida e seu equilíbrio, a ARCA AMASERRA conseguiu o tombamento provisório da Serra da Calçada em Junho de 2008 e continua presente e atuante nas esferas públicas e privadas da sociedade civil na promoção da consciência ecológica e proteção da Serra da Calçada.

Por isso, celebramos e cantamos “parabéns para você”, ARCA AMASERRA, e boa sorte!

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Serra: frágil natureza Atualmente a Serra da Calçada está protegida por tombamento estadual, ficando, por isso, resguardada por lei de quaisquer ações que comprometam seu patrimônio natural e histórico.

Contudo, devido à alta freqüência de visitação, alguns locais estão sendo intensamente degradados, sendo os principais problemas o lixo deixado nos locais de maior visita, o trânsito de veículos e a situação em que ficaram os locais utilizados para a prospecção minerária realizada em 2007.

A entrada de jipeiros e motoqueiros, que procuram a serra para o lazer, está se tornando um grave problema: Algumas pessoas transitam com seus jipes ou motos sobre a vegetação nativa, causando a sua supressão e até mesmo novos pontos de erosão. Além disso, transitam em áreas de nascente. Uma das nascentes da serra permanece severamente degradada devido ao trânsito intenso desses veículos. É importante lembrar que essas áreas são protegidas por lei, sendo consideradas áreas de proteção permanente (APP).

No ano de 2007, vários locais foram desmatados para a realização de prospecções minerárias. As prospecções foram interrompidas, e um processo recuperação das áreas ficou pendente.

Posteriormente, em 2008, os responsáveis pelo empreendimento iniciaram um trabalho de revegetação, utilizando um coquetel padrão de sementes. As espécies utilizadas são muito eficientes para proporcionar uma cobertura vegetal em curto prazo e resguardar a área contra processos erosivos, porém devem ser substituídas, antes da floração, para que não gerem descendentes que possam colonizar outras áreas, prejudicando a flora nativa.

Para conseguirmos a proteção integral da Serra da Calçada, é necessária a compreensão da grandeza de sua importância e fragilidade, sendo essencial a consciência do quanto nossas interferências podem prejudicar o seu ecossistema.

Pablo Burkowski Meyer

Estudante de Biologia da UFMG

Retrato de Pablo Burkowski Meyer Foto: Arquivo Arca Amasserra

FLORA E FAUNA FLORA A Calibrachoa elegans é uma espécie endêmica do quadrilátero ferrífero que foi incluída na lista de espécies ameaçadas de extinção do Estado de Minas Gerais, na categoria “criticamente em perigo”, citada como Petunia elegans Miers (COPAM 1997). Planta de porte herbáceo, geralmente não ultrapassa os 50 cm e apresenta flores na cor magenta e em formato estrelado.

Entre os meses de outubro a dezembro, seu florescimento é mais intenso. Os primeiros frutos aparecem em novembro, permanecendo durante o verão. Estudos feitos sobre cruzamento desta espécie indicam que ela não se autofecunda e que a polinização é feita apenas pelas fêmeas da abelha Hexantheda missionica,

Foto: Pablo Burkowski Meyer

enquanto os machos se alimentam de seu néctar, pousam durante os vôos de patrulhamento à procura de fêmeas e se abrigam em suas flores durante a noite.

Desta forma, as espécies Calibrachoa elegans e Hexantheda missionica possuem um relação extremamente especifica, que contribui para a perpetuação de ambas as espécies, já que uma é essencial para o ciclo reprodutivo da outra e vice- versa.

Para saber mais: Revista Brasileira de Botânica

Rev. bras. Bot. vol.24 no.1 São Paulo Mar. 2001 Biologia reprodutiva de Calibrachoa elegans (Miers) Stehmann & Semir (Solanaceae)

Pablo Burkowski Meyer

Estudante de Biologia da UFMG

FAUNA

Fonte: Plano de Manejo do Parque Estadual da Serra do Rola-Moça

Retrato de Silva Helena de Oliveira Por: Julia Baumfeld

O beija-flor-de-gravata-verde (Augastes scutatus) é uma das únicas espécies de aves endêmicas do Cerrado que estão restritas aos campos rupestres da Cadeia do Espinhaço.

Essa espécie é considerada relativamente comum nas áreas onde ocorre podendo ser avistada entre 1.000 e 2.050 m de altitude, visitando arbustos e herbáceas, como a Stachytarpheta glabra (Verbenaceae), também encontrada na Serra da Calçada.

Pode-se afirmar que esta peculiar porção da Serra da Moeda representa um importante habitat para A. scutatus, uma vez que disponibiliza recursos em abundância para a conservação desta espécie a longo prazo.

Para saber mais: VASCONCELOS, M. F. & LOMBARDI, J. A. 2001. Humming birds and their flowers in campos rupestres of Southern Espinhaço Range, Brazil. Melopsittacus, 4:3-30.

BIRDLIFE INTERNATIONAL. 2000. Threatened Birds of the World. Barcelona e Cambridge: Lynx Edicions, BirdLife International.

Silvia Helena Ferreira de Oliveira

Estudante de Biologia da UFMG

Diretoria Executiva: Jeanine Barillon, Simone A. Bottrel, Angeles Balbuena, Evelyn Zajdenwerg.

Conselho Deliberativo: Lívia Romanelli d’Assumpção, Henrique Torres Cabral, José Eduardo Gonçalves, Luciana Ferreira Faitin, Rafael Magno, Pablo Burkowski Meyer, Silvia Helena Ferreira de Oliveira, Julia Baumfeld.

Conselho Fiscal: Fernando Casula Ribeiro Pereira, Virginia Caetano de Melo Castro, Sérgio Caporali de Oliveira. Maria Christina Bechelany Dutra, Maria Marcia de Almeida Aguiar, Wagner José das Graças.

Jornalista Responsável: Luciana Tanure Blanton NR: 9035/MG Diagramação: Amanda Dias (Arte Impressa) Revisão: Rachel Kopit Cunha (Ophicina de Arte e Prosa) Contato: amaserra@gmail.com Tel: 55 (31) 8525 7775 Endereço: R. Massena, 156. Jardim Canadá. Nova Lima/MG Impressão: Gráfica Formato Tiragem: 3 mil.

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Projeto Armação:

Projeto Casa Jardim: “O Instituto de Desenvolvimento Local Integrado Casa do Jardim, fundado em abril de 2007, é uma entidade não-governamental e sem-fins lucrativos a serviço da comunidade do Jardim Canadá. Dia 25 de abril, celebrou o aniversário de dois anos junto aos alunos, suas famílias e convidados de organizações locais.A entidade desenvolve projetos nas áreas de educação complementar, integração e organização comunitária a fim de promover o desenvolvimento local integrado do Jardim Canadá e região. Os princípios de formação de parcerias de mútuo benefício, de valorização da experiência própria e do contexto local, e de ação com integridade e compromisso orientam o trabalho da ONG.A missão é ampliar a qualidade de vida de crianças e suas famílias no Jardim Canadá.” Para mais informações, ligue para 3541-8934 ou acesse: www.casadojardim.org.br” Johanne Durchfort – Diretora da ONG “Casa do Jardim”.

Recuperação de áreas degradadas.

Com o propósito de recuperar e conservar a vegetação remanescente de áreas degradadas do cerrado e mata atlântica na região de Casa Branca, município de Brumadinho, nasce o projeto Armação. A iniciativa é da ONG 4Cantos do Mundo, em parceria com a Casa Guará que, a partir de convite de edital em 2008 da SEMAD – Secretaria de Estado de Meio Ambiente, já plantaram, até início de março de 2009, mais de 1000 mil mudas de espécies nativas e de transição como candeia, quaresmeira, ipê, lobeira entre outras, no Parque Serra do Rola Moça.

O projeto Armação visa em sua próxima etapa, à formação de brigadistas para combate a incêndios na região, na perspectiva de uma visão social e de continuidade dessa empreitada de conservação da vegetação nativa. Essa parceria será com a ONG Brigada 1 e IEF. Pretende seguir adiante, segundo José Carlos Ferreira, um dos idealizadores da Casa Guará em Casa Branca,, hoje supervisor, buscando novos parceiros para fortalecer as ações, ao mesmo tempo em que agradece às pessoas generosas que passaram por esse caminho de cuidado, trilhado pelas duas organizações, plantando vidas.

Para saber mais visite o site: http://www.4cantosdomundo.org.br/

To d a a linha d e p n eu s Pirelli c o m p re ç os imp e rdívei s Existe uma constante preocupação por parte da Líder quanto à preservação do Meio Ambiente. Atualmente é primordial para toda instituição estar em sintonia com a natureza.

Em prol da sustentabilidade, todos os resíduos produzidos dentro da Líder são armazenados em tanques de decantação e logo depois recolhidos por empresas credenciadas, sem que haja nenhum impacto ambiental.

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Comissão da Serra da Moeda e Calçada: O relatório final da Comissão Especial das Serras da Calçada e da Moeda foi aprovado no mês de maio com unanimidade na Reunião Extraordinária de Plenário da Assembléia Legislativa de Minas Gerais. Esta comissão parlamentar foi criada com o objetivo de analisar o potencial para usos alternativos do solo e subsolo da Serra da Calçada e da Moeda, junto com a preservação dos patrimônios arqueológico, espeleológico e natural dessas áreas, bem como seu po-

tencial ecoturístico.

Nós, da ARCA AMASERRA, lamentamos o fato do conteúdo deste relatório por em risco a proteção integral da Serra da Calçada e todo seu rico patrimônio ecológico e cultural, pois este documento recomenda a criação de uma reserva particular do patrimônio natural (RPPN) que contempla parte desta particular região da Serra da Moeda. Em junho de 2008, o Conjunto Histórico e Paisagístico da Ser-

Gentes das Serras:

Maria Teresa de F. Corujo (*)

Testemunho de amor à Serra da Piedade... e a outras serras.

Meu elo profundo com a Serra da Piedade teve início há 15 anos, no momento em que a avistei do trevo de entrada de Caeté.

Sensação de contentamento inexplicável tomou conta de mim. De lá para cá a vi, e ali estive muitas e muitas vezes. A intensidade da emoção de deleite e pertencimento é única e inabalável, como se fosse sempre a primeira vez. Ali me sinto, apesar das imperfeições da minha humanidade, mais próxima de Deus, e em paz, como em nenhum outro lugar em que já estive.

Sentar em silêncio em sua ermida secular, ou nas pedras do adro, contemplando este local de oração, buscado por milhares de peregrinos desde meados de 1700, me conecta com o melhor de mim mesma neste momento tão tumultuado da raça humana e de nossa mãe Terra.

A primeira vez que pernoitei no alto desta serra deslumbrante, famosa Sabarabussu da formação do nosso Estado, e, bem cedinho junto com o sol nascendo, contemplei a paisagem de 360º até onde a vista alcança, chorei convulsivamente de alegria e prece pela graça de estar ali. Entendi, então, por que, há 200 anos, ali viveram eremitas, abrigados em estruturas de pedra rudimentares, bebendo a água que caía, gotejando, das formações rochosas tão belas.

Este amor me levou a participar, em me-

ra da Calçada foi tombado provisoriamente pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha), através de aprovação unânime do Conselho Estadual do Patrimônio Histórico, Cultural e Turístico de Minas Gerais (Conep). Lembramos que a área tombada abrange cerca de 3.800 ha, promovendo a devida proteção de todo patrimônio natural, geológico, espeleológico, histórico, cultural, turístico e paisagístico presente na Serra da Calçada.

DICA Projeto Manuelzão Atua na educação ambiental e pesquisa, desenvolvendo atividades ligadas à ação preventiva e social. http://www.manuelzao. ufmg.br/

ados de 2001, da criação do SOS Serra da Piedade, movimento de cidadãos e entidades em prol da preservação deste monumento natural - patrimônio de valor incalculável – não só de todos nós hoje, mas também de todos os que por ela passaram e todos os que ainda virão. É este sentimento de amor à Serra da Piedade que me traz o impulso, sempre premente, de colaborar com a sua preservação, junto com todos aqueles que também amam este lugar tão sagrado, que foi palco da aparição de Nossa Senhora da Piedade, ainda no século XVIII, local de peregrinação de milhares de romeiros desde essa época e sede do Santuário da Padroeira do Estado.

Não cessam nunca as ameaças a este santuário, obra da criação divina há milhões de anos, porque existem pessoas que não a amam. Vêem nela somente uma serra de minério para ser retirado, lavado com águas cristalinas, colocado em grandes caminhões para levar para fora e se transformar em notas, de diferentes tipos de dinheiro.

Queria eu, neste momento, que houvesse uma epidemia de amor para contaminar essas pessoas – mas não só pela resplandecente Serra da Piedade – por todas as serras como a do Caraça, da Ferrugem, da Calçada, da Moeda, do Gandarela, entre tantas outras, que foram e são também amadas por pessoas.

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Sinto que serras são santuários – principal referencial paisagístico do povo mineiro, garantia da qualidade do ar e da harmonia do clima, berçário da fauna e da flora e, principalmente, alicerce que garante os mananciais de nossas águas, essas sim, imprescindíveis à Vida. Por isso, é dolorosamente insuportável perceber nossas serras irremediavelmente dilaceradas e as nossas águas transpostas e extintas.

Do alto da Serra da Piedade, quando estou com o meu coração apertado, olho a paisagem repleta, ainda, de lindas serras e elevo minhas preces a Deus por este Estado de Minas, Serras, História, Gente e Águas Gerais. *Membro da coordenação do SOS Serra da Piedade e do Movimento Artístico, Cultural e Ambiental de Caeté – MACACA e do “Movimento pelas Serras e Águas de Minas”.

Ilustração: Mariana Mucida