Jornal arca nº16

FOLHA

ARCA AMASERRA

Na essência da vida, encontramos o amor, a amizade, e o trabalho pelo bem comum.

Acreditem, se esta essência é a meta tudo se conecta e começa a mudar, pois assim, o ser divino que nos guia nesta terra permite que através de nosso esforço aconteçam transformações incríveis. É na busca desta essência que a ARCA trabalhou neste jornal compartilhando um pouco sobre a imprescindível riqueza da serra da Moeda.

Simone Bottrel

RIQUEZA DA SERRA DA MOEDA TEM RECONHECIMENTO INTERNACIONAL

Em outubro de 2013 foi divulgada, pela organização World Monuments Fund WMF, e Fundo Mundial para Monumentos, a atualização da lista de patrimônios da humanidade ameaçados de destruição. O complexo da Serra da Moeda foi incluído na lista Watch 2014, com base em um pedido formal elaborado pela ARCA.

A área descrita pela ARCA, analisada e selecionada pelo WMF, abrange todo o complexo da Serra da Moeda, incluindo a crista principal da serra, os platôs centrais e suas encostas mais a leste, voltadas para o rio das Velhas e a oeste com faces para o rio Paraopeba. O sítio começa na região de Nova Lima até Congonhas, passando pelos municípios de Rio Acima, Itabirito, Ouro Preto, Brumadinho, Moeda e Belo Vale.

A documentação encaminhada ao WMF pela ARCA inclui detalhes da fabulosa riqueza natural e cultural da Serra da Moeda.

Casa da Moeda Falsa

Foto: Ilana Lansky

e religiosas, bem como as paisagens naturais dos campos de altidude, as nascentes e cursos d’água, estão entre os aspectos destacados pela ARCA no dossiê.

Nos últimos anos, a área da Serra da Moeda sofreu bastante com dois dos desdobramentos da trajetória econômica recente do Brasil: o crescimento do setor mineral e a especulação imobiliária, com a formação de uma gigantesca bolha de ativos imobiliários.

O crescimento da demanda asiática, com a China à frente, aumentou temporariamente o preço da tonelada do minério de ferro no mercado internacional e viabilizou economicamente a abertura de novas minas.

O crescimento da demanda asiática, com a China à frente, aumentou temporariamente o preço da tonelada do minério de ferro O patrimônio arquitetônico e no mercado internacional e viabilizou arqueológico, os grupos quilombolas economicamente a abertura de novas minas. remanescentes, as tradições familiares Essas minas continuam seguindo o perverso 02

Nova Lima, 24 de junho de 2014

maio/junho | 2012 | Ano 5 | no: 1 padrão de qualidade ambiental adotado na região: são desenvolvidas a céu aberto, utilizam superfícies cada vez maiores e chamam de “recuperação de áreas degradadas” algo bem distante do que isso realmente significaria.

O reconhecimento pelo WMF da importância de se destacar o complexo da Serra da Moeda coloca, honorificamente, a região ao lado da cidade de Veneza e das relíquias dos cruzados na Síria.

Ja o setor imobiliário nadou por algum tempo na onda dos dólares que inundaram o mercado financeiro internacional, depois do incauto norte-americano de 2008, quando algo parecido com a Crise de 1929 pareceu dar as caras frente a maior economia do mundo. A euforia aumentou o preço dos imóveis (novos e usados) e dos terrenos, e assim um cenário que poderia levar a um ganho de qualidade no setor gerou, na verdade, uma corrida especulativa, assemelhada ao tipo pirâmide ou bolha.

A ARCA tem como foco lutar, com seus parceiros, pela melhoria das condições ambientais da Serra da Moeda, pela organização e fomento do lazer e das atividades esportivas e turísticas sustentáveis, e sobretudopelo resgate e preservação definitivos do seu patrimônio cultural, histórico e arqueológico.

A pressão pela utilização de áreas ambientalmente importantes ou sensíveis no complexo da Serra da Moeda subiu muito.

Um futuro melhor é possível, e ele será construído com o trabalho de todos nós.

Paulo André Barros Mendes / Geógrafo e jornalista, colaborador da ARCA

Mineração na Serra da Moeda

Foto: Ilana Lansy

EXPEDIENTE: Diretoria Executiva: Simone Alvarenga Borja Bottrel, Jeanine Marie Bairallion, Silvia Oliveira/ COORDENAÇÂO EDITORIAL: Simone Bottrel/ PROJETO E EDITORAÇÃO GRÁFICA: Evelyn Zajdenwerg / FOTOGRAFIA: Ilana Lansky / ILUSTRAÇÃO: Mário Valle / JORNALISTA RESPONSÁVEL: Evelyn Zajdenwerg

http://www.arca.eco.br/

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MONUMENTO NATURAL DA SERRA DA MOEDA

U ma magnífica paisagem, fauna e flora diversificadas e com espécies

ameaçadas, clima ameno, um acervo histórico a céu aberto e abundância de importantes recursos naturais - especialmente água e minério de ferro - fazem da serra da Moeda um alvo em potencial de duas ações antagônicas: exploração x proteção. Nativos e “forasteiros”, que adotaram a região como sua e ali fixaram raízes, se uniram num crescente movimento de proteção à serra, desafiando o poderio econômico e político e as mais diversas formas de especulação que atentam contra o patrimônio natural e cultural da região. De forma desafiadora, sensibilizante e vitoriosa, os protecionistas ganharam uma batalha e conseguiram, com o apoio do Ministério Público de Minas Gerais, a proteção legal de uma parte da Serra.

Foto: Ilana Lansy

Em julho de 2008, uma Ação Civil Pública Cautelar ajuizada pelo Ministério Público (MP) conseguiu por uma liminar a suspensão das atividades de mineração da Gerdau, em área de propriedade desta empresa conhecida como Várzea do Lopes. Área localizada na serra da Moeda dentro dos limites do município de Itabirito e, que faz limite com aquela que foi tombada no município de Moeda.

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Nova Lima, 24 de junho de 2014

maio/junho | 2012 | Ano 5 | no: 1 A empresa é detentora de direitos minerários naquela região, mas iniciou as atividades de mineração a revelia da realização de estudos prévios de impacto ambiental, da obtenção da anuência dos órgãos ambientais competentes e da submissão ao processo de licenciamento ambiental, obrigatórios para este tipo de atividade.

Com o cumprimento das obrigatoriedades para o licenciamento ambiental a empresa e o MP celebraram um Acordo Judicial, onde uma das condicionantes foi a criação de uma Unidade de Conservação (UC), na categoria Monumento Natural, em terras da Gerdau na serra da Moeda e, também, a incorporação daquela área tombada no município de Moeda nesta nova UC. Assim, foi criado o Monumento Natural Estadual da Serra da Moeda (MNSM) nos municípios de Moeda e Itabirito, com área de 2.372,5572ha.

Os aspectos que foram essenciais para a criação do Monumento Natural Estadual da Serra da Moeda são o patrimônio espeleológico, conectividade biológica e hidrológica, presença de nascentes e ressurgências e a conformação de um corredor ecológico entre o Monumento Natural da Serra da Moeda e Estação Ecológica de Arêdes.

Apesar da legislação que o protege, o MNSM é vulnerável à ações depredatórias que impactam e colocam em risco seus recursos naturais. A mineração que ocorre no entorno da UC exerce grande impacto na biodiversidade local, a qual é extremamente vulnerável, bem como, interfere no ciclo hidrológico por atingir o lençol freático, comprometendo as nascentes. A presença de um distrito industrial no entorno da UC também tem influência sobre sua estabilidade, pois as atividades industriais ali instaladas consumirão recursos provenientes da serra da Moeda e aumentarão o fluxo de veículo e pessoas na região, gerando impactos sobre a mesma.

Outras atividades de menor porte trazem grande preocupação, pois a prática das mesmas sem controle comprometem a integridade e a proteção da área. Como exemplo, a prática do Motocross na serra acelera o processo de erosão do solo, que é muito frágil e de difícil recomposição, além de perturbar e por em risco a fauna especialmente nas épocas de acasalamento e procriação. Os praticantes deste esporte acreditam não estarem contribuindo para o aumento de danos na serra, porém, os danos já existem e podem ser irreparáveis em alguns locais. Outras ações impactantes são a coleta de plantas endêmicas da Serra da Moeda, como algumas espécies de orquídeas, que podem desaparecer; o despejo de lixo doméstico e entulho de construções que colocam em risco a fauna e causam contaminação do solo e das águas; as queimadas que, por sua ocorrência frequente em alguns pontos da área, comprometem a biodiversidade, levando à sua diminuição.

É possível proteger integralmente pressões? Vai depender do quanto de queira assumir, sendo co-responsável

o MNSM de todas estas responsabilidade cada cidadão pela proteção desta área.

Cristiana Batista Costa, Gerente do Monumento Natural da Serra da Moeda 05

CALÇADAS O

s vestígios arqueológicos das nossas serras brumadinhenses, vistos e sentidos com preocupação quanto à sua preservação, foram levantados pelo Laboratório de arqueologia da UFMG. Para muitos o chamado Forte é o que evidencia este acervo legado da mineração aurífera dos anos oitocentistas na região, mas há muito mais: mundéus, bicames, canais extensos, pilhas de cascalhos revirados e muitas calçadas.

E ainda, não se fez escavação, são apenas vestígios levantados, desde as pinturas rupestres pré-colombianas até as marcas deixadas pelas sesmarias que requereram as terras para minerar. E o metal aflorou chegando a se fabricar moedas clandestinamente em São Caetano da Moeda Velha, daí o nome da serra.

Mas ela recebe vários nomes em seus trechos: Serrinha, Rola-Moça, Calçada.

Os caminhos indígenas adotados pelos bandeirantes, quando aqueles transportavam as cargas para estes, foram acessados pelos tropeiros que rumavam para os sertões dos gerais (lugares desconhecidos) a princípio em busca do ouro e quando este acabou, transportavam tudo o necessário para os povoados que surgiram pelos caminhos

em pedras brutas, assentadas por escravos, antes índios, depois negros.

A mais larga das calçadas desce para Moeda Velha, em Belo Vale, outra liga ruína de fortaleza na serra à casa do Barão de Paraopeba, hoje fazenda Boa Esperança, protegida por tombamentos. Na Serra da Calçada, pode-se observar, na fotografia, uma faixa de 2 a 3 metros de largura calcetada, com espetacular meio-fio, ótimo para sentar e admirar a vista, antes que motoqueiros as danifiquem para sempre.

Vale a pena conversar com o Sr. João Jerônimo na praça de Casa Branca. Contou-me que a piscina que meu cachorro se refrescou no alto da serra, na direção da cachoeira Osta, foi construída para dar água aos animais.

Em nossos anos, ele subia com sua tropa para buscar lenha, fornecida para o Barreiro. Conheceu o Forte ainda com cobertura de madeira e telhas de barro.

Nossa serra não só tem calçada, mas muita história para contar e preservar. Além de se tornar o Geoparque Quadrilátero Ferrífero, ela tem envergadura para ser declarada Paisagem Cultural nos moldes da portaria n°127/09 do IPHAN que organiza a chancela da Paisagem Cultural Brasileira e se tornar o museu Os pontos mais íngremes de nacional a céu-aberto da mineração maior dificuldade para as mulas do ouro ao ferro em Minas Gerais. transitarem receberam pavimentação Susana Leal Santana

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Nova Lima, 24 de junho de 2014 maio/junho | 2012 | Ano 5 | no: 1

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Calรงada Serra da Calรงada

Foto: Ilana Lansky

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Nova Lima, 24 de junho de 2014

LICENÇA SOCIAL

Ilustração: Mário Vale

A licença social é a permissão dada pela sociedade civil, pelos seus stakeholders, às empresas para operar, produzir e ampliar seus negócios, em determinada região e contexto.

É uma das justificativas para a incorporação da sustentabilidade como ferramenta estratégica para a organização, já que, sem o comprometimento efetivo com as questões socioambientais, a A licença social é adquirida licença social pode não ser obtida, através do diálogo constante dificultando ou até impedindo a e do engajamento das partes viabilização do empreendimento. interessadas, etapa fundamental de qualquer gestão empresarial.

Para saber mais sobre licença social acesse o site: www.licençasocial.eco.br Conheça as atividades da ARCA-AMASERRA APOIE NOSSOS PROJETOS ACESSE: WWW.ARCA.ECO.BR GOVERNO DO ESTADO DE MINAS GERAIS SECRETARIA DE ESTADO DE TRABALHO E DESENVOLVIMENTO SOCIAL Financiamento: Fundo Estadual de Direitos Difusos FUNDIF

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