Edição 368 do Brasil de Fato MG

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Midia NINJA

Visibilidade trans

Marcelo Camargo /Agência Brasil

Olhe pra cima!

No Brasil, há 4 milhões de pessoas transgênero ou não binárias. Conheça a história de Arthur Antônio

O mundo enfrenta negacionismo em relação a mudanças climáticas, mas aquecimento global existe e está provado

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CIÊNCIAS 12

MG Minas Gerais Belo Horizonte, 28 de janeiro a 3 de fevereiro de 2022 • edição 368 • brasildefatomg.com.br • distribuição gratuita Gil Leonardi /ImprensaMG

Covid é a segunda causa de morte de crianças de 0 a 11 anos TEM QUE VACINAR Desde o início da pandemia, cerca de 1450 crianças brasileiras, de 0 a 11 anos, morreram devido à covid-19. Em Belo Horizonte, Unidades de Pronto Atendimento, Centros de Saúde e Hospital Infantil estão lotados. O cenário reforça a necessidade da imunização infantil

Rodoanel na marra

Governo de Minas lança edital para escolher empresa que construirá a rodovia e ignora propostas que teriam menor impacto social e ambiental MINAS 5

Indígenas contra a Vale

O SUS na linha de tiro

Famílias Pataxó e Pataxó Hã-hã-hãe, que estão desalojadas desde que enchente atingiu aldeia, ocupam linha de trem desde terça (25)

Com mais de 30 anos de história, o SUS encontrou seu pior inimigo. Gestão antiSUS foi a política de saúde de Bolsonaro e comparsas

MINAS 6

OPINIÃO 2


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OPINIÃO

Belo Horizonte, 28 de janeiro a 3 de fevereiro de 2022

O SUS na linha de tiro João Paulo Cunha

ESPAÇO DOS LEITORES “País colônia de exploração é isto: para o empresário tudo, para a natureza e para as pessoas, morte e destruição! Sistema “capetalista” deu super certo” Bárbara Souza sobre a reportagem “Três anos: lentidão da Justiça gera sentimento de impunidade no caso Brumadinho (MG)” -“Gente, com Lula concorrendo, não vai ter segundo turno!” Kelli Campos sobre a postagem “Lula é o único candidato que venceria Bolsonaro no 2º turno, diz pesquisa Futura/ModalMais” -“Sensato!” Rafael Corrêa sobre nota “Prefeitura de Belo Horizonte adia volta às aulas para 14 de fevereiro” -“Viva! Parabéns pela grande e bela conquista. Viva a ciência e a mulher negra” Rosilene Reis sobre matéria “Nilma Lino é uma das vencedoras de prêmio nacional para cientistas mulheres” -“A Vale não vale nada” Roberto Miranda comenta artigo “Brumadinho: o crime se repetiu”, de Pedro Patrus -“O povo é que sofre com reajustes absurdos da passagem” Raquel Martins sobre o artigo “Santa Luzia (MG) aumenta preço da tarifa de ônibus de R$4,70 para R$5,50”, de Maya Santana

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Bolsonaro não é apenas negacionista em matéria de saúde, seus atos são também afirmativos e indicam, com todas as letras, o projeto de acabar com o SUS. A ausência de condução da política de combate à pandemia não se deu no vazio, na ignorância e na crueldade apenas, mas na ocupação de todos os espaços onde era necessário combater o Sistema Único de Saúde. Um projeto. No entanto, foi exatamente o SUS a única barreira eficaz contra a necropolítica bolsonarista durante a pandemia da covid-19. Foi o que levou muita gente a celebrar o sistema e seus profissionais. Mas enquanto a resistência se estabelecia, o governo levava adiante seu propósito de aniquilar a estrutura construída por sanitaristas, pesquisadores, profissionais de saúde e movimentos sociais para conduzir a saúde pública brasileira. Com

O SUS foi única barreira eficaz contra a necropolítica bolsonarista mais de 30 anos de história de luta, o SUS encontrou seu pior inimigo. O saldo de mais de 600 mil mortes, a reiterada atuação anticiência, a suspeita de corrupção levantada pela CPI do Senado e o desprezo a suas atribuições constitucionais de defender o direito à vida, que ficam como herança macabra do atual governo, são a porta de entrada de um projeto ainda mais destrutivo. Não foi uma gestão incompetente e obscurantista, mas interessada de forma estratégica em mudar a lógica do direito à saúde,

O jornal Brasil de Fato circula semanalmente com edições regionais, em Minas Gerais, no Rio de Janeiro, no Paraná e em Pernambuco. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais em nosso país e no nosso estado.

Governo mentiu, atrasou, desmontou, desinformou e corrompeu em favor da prestação de serviços no mercado. Desde o início do governo, são atacados os princípios de universalização, integralidade e equidade do Sistema Único de Saúde, com acenos para o fortalecimento do segmento privado do setor e o que de pior existe em algumas corporações e entidades que sempre foram inimigas da saúde pública. Ainda antes da pandemia, vários programas foram desmontados e a máquina pública minada. A gestão anti-SUS sempre foi a política de saúde de Bolsonaro e acólitos. O primeiro ministro da saúde do atual governo, Mandetta, anunciou o fim do Mais Médicos, combateu a Farmácia Popular e a política antimanicomial. Nelson Teich não tinha qualquer familiaridade com o SUS e seus valores. O general Pazuello e, atualmente, Marcelo Queiroga, mergulharam no mar do charlatanismo e do desprezo à vida em nome de uma incompreensível fidelidade ao horror. O governo federal não comandou a política nacional, não investiu em testes nem no atendimento aos doentes. Atrasou a compra de vacinas e insumos indispensáveis, inclusive oxigênio, não informou a população e destroçou ou deixou destroçar os sistemas de informação. Em suma, o governo federal fez sua parte na pandemia: mentiu, atrasou, desmontou, confundiu, desinformou, ideologizou, corrompeu. Matou centenas de milhares de brasileiras e brasileiros.

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conselho editorial minas gerais: Aruanã Leonne, Beatriz Cerqueira, Bernadete Esperança, Bruno Abreu Gomes, Ênio Bohnenberger, Felipe Pinheiro, Frederico Santana Rick, Helberth Ávila de Souza, Jairo Nogueira Filho, Jefferson Leandro, Joana Tavares, João Paulo Cunha, Joceli Andrioli, Jô Moraes, José Guilherme Castro, José Luiz Quadros, Juarez Guimarães, Laísa Campos, Marcelo Almeida, Makota Celinha, Maria Júlia Gomes de Andrade, Milton Bicalho, Neila Batista, Nilmário Miranda, Padre Henrique Moura, Padre João, Pereira da Viola, Renan Santos, Robson Sávio, Rogério Correia, Samuel da Silva, Talles Lopes, Titane, Valquíria Assis, Wagner Xavier. Edição Geral: Larissa Costa (Mtb 22066/MG) Subedição: Amélia Gomes, Elis Almeida, Frederico Santana, Rafaella Dotta e Wallace Oliveira Redação: Amélia Gomes, Ana Carolina Vasconcelos, Maria Paula Araújo , Rafaella Dotta e Wallace Oliveira. Colaboração: André Fidusi, Anna Carolina Azevedo, Débora Borba, Joana Tavares, Marcelo Gomes. Colunistas: Antônio de Paiva Moura, Beatriz Cerqueira, Bráulio Siffert, Eliara Santana, Fabrício Farias, Frei Gilvander Moreira , Iza Lourença, João Paulo Cunha, Jonathan Hassen, José Prata Araújo, Luiza Dulci , Macaé Evaristo, Makota Celinha, Moara Saboia, Portal do Bicentenário da Independência, Renan Santos, Rogério Hilário, Rubinho Giaquinto, Sofia Barbosa, Tarifa Zero Administração e distribuição: Luiz Paulo Macedo Alves e Vinícius Moreno Nolasco. Diagramação: Tiago de Macedo Rodrigues. Revisão Luciana Santos Gonçalves Tiragem: 15 mil exemplares. Razão social: Associação Henfil Educação e Comunicação


Belo Horizonte, 28 de janeiro a 3 de fevereiro de 2022 Filippo Monteforte /AFP

Declaração da Semana Pais que veem orientações sexuais diferentes nos filhos, lidem com isso, acompanhem os filhos e não se escondam no comportamento de condenação

GERAL

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Números da Semana 571

denúncias de violação à liberdade de crença no Brasil foram feitas em 2021. Os dados são da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos.

Doação de sangue

Adair Gomez

Papa Francisco

O Ministério da Saúde e a Anvisa atualizaram, nesta semana, os critérios técnicos para a doação de sangue, devido ao risco de infecção por covid-19. A partir das novas orientações, quem teve covid-19 com ou sem sintomas deve aguardar dez dias para doar sangue. Profissionais de saúde que fizeram uso contínuo e correto de equipamentos de proteção individual (EPI), durante atendimento a pacientes com covid-19, podem doar. Além disso, pessoas com sintomas respiratórios sem teste de covid-19 devem aguardar 14 dias para doar. Mais informações, em abre.ai/ doacaosangue.

Pandemia em BH

Marcelo Camargo /Agência Brasil

A partir segunda (31), serão exigidos comprovante de vacinação e teste negativo para a covid-19 para a entrada em todos os eventos realizados em Belo Horizonte. O anúncio feito pelo prefeito Alexandre Kalil (PSD), na quarta (26), é para diminuir a circulação do vírus na cidade. Segundo o boletim epidemiológico de quarta (26), a ocupação dos leitos de enfermaria e UTI estão em torno de 82%. O prefeito ainda reafirmou a importância de evitar aglomerações e o uso correto de máscaras.


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CIDADES

Belo Horizonte, 28 de janeiro a 3 de fevereiro de 2022

Unidades de saúde atingem capacidade máxima, reforçando a necessidade da vacinação infantil ATENÇÃO Covid-19 é a segunda maior causa de óbito entre crianças de 0 a 11 anos Rovena Rosa /Agência Brasil

Ana Carolina Vasconcelos Desde o início da pandemia do novo coronavírus, cerca de 1450 crianças brasileiras, de 0 a 11 anos, morreram devido à doença, segundo informações da Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização da Covid-19 (CTAI-Covid), “A maior causa de mortes entre crianças de 5 a 11 anos no Brasil ainda são as causas externas, como acidentes. A segunda causa é a covid-19, que supera todas as outras causas clínicas”, explica o médico de família e comunidade do Sistema Único de Saúde (SUS) e secretário geral do Conselho Municipal de Saúde de Belo Horizonte (CMS-BH), Bruno Pedralva. No último domingo (23), a Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig) anunciou que o Hospital Infantil João Paulo II, localizado em Belo Horizonte, atingiu a ocupação de 100% de seus leitos. A fundação informou ainda que a alta quantidade de demanda por internação é devido ao crescente número de crianças que apresentam sintomas de síndromes respiratórias. A situação do hospital João Paulo II não é isolada. Nos últimos dias, as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e Centros de Saúde da capital mineira também atingiram a capacidade máxima de atendimento, devido à alta quantidade de pacientes com sintomas gripais e suspeitas de covid-19. O Boletim Epidemiológico da Prefeitura de Belo Horizonte, da última quinta (27), informa que a ocupação de leitos de UTI, destinados a pacientes com covid-19, é

Atenção para a vacinação

de 83,2%, enquanto a ocupação de leitos de enfermaria é de 80,2%. “É uma situação de colapso. O atendimento das crianças começa nos Centros de Saúde e nós estamos com mais de 1400 profissionais afastados”, explicou o médico.

A prioridade deve ser a imunização das crianças

Para o vice-presidente do Conselho Estadual de Saúde de Minas Gerais, Ederson, Alves da Silva, esse cenário reforça a necessidade da vacinação infantil. “Neste momento, a prioridade é a criança”, afirmou Ederson que acredita que, uma vez que os adultos já receberam as duas doses e estão recebendo as doses de reforço, o governo estadual deveria priorizar a imunização das crianças. Em coletiva de imprensa realizada na quarta-feira (26), o prefeito de BH, Alexandre Kalil (PSD), praticamente implorou que as famílias levem seus filhos para serem vacinados. “Quero dizer como pai e avô: quem estiver me ouvindo, leve seus filhos, pelo

Para médico, governo federal tem ações coordenadas para boicotar a vacinação de crianças amor de Deus, para se vacinar”, declarou. Um levantamento divulgado pela Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte demonstrou que foram vacinadas com a primeira dose aproximadamente 12400 crianças de 5 a 11 anos. A quantidade é baixa, uma vez que o grupo convocado pela prefeitura ultrapassa 26 mil crianças. Bruno Pedralva acredita que esse cenário é fruto de ações coordenadas para boicotar a vacinação infantil, por parte do governo federal. “O governo Bolsonaro e o Ministério da Saúde fizeram sucessivas ações para boicotar a vacinação das crianças. Era possível termos começado há mais de um mês, deixando as crianças vacinadas para enfrentarem a onda da ômicron. Mas o governo preferiu uti-

lizar de informações mentirosas para atrasar a vacinação”, explicou.

Aulas presenciais adiadas para 14 de fevereiro

Na mesma coletiva de imprensa, Kalil também anunciou o adiamento do retorno de crianças de 5 a 11 anos para atividades presenciais escolares. Segundo ele, a medida foi tomada para que se tenha mais tempo para avançar na imunização do grupo. O retorno dos alunos de 5 a 11 anos, que era previsto para o dia 3 de fevereiro, agora será no dia 14. Segundo o Boletim Epidemiológico da PBH, de quinta (27), o matriciamento de risco (MR) da capital mineira está em 68%. O índice, que mostra o nível de alerta para liberação de aulas presenciais, quando se encontra entre 51% e 80%, indica o retorno às aulas presenciais para crianças e adolescentes de até 18 anos de idade.

Nesta semana, a Prefeitura de BH convocou crianças de 9 anos sem comorbidades para a vacinação contra a covid-19. Com o objetivo de manter a segurança das crianças, a vacinação infantil acontece em escolas municipais, das 9h às 16h. Ao todo, são 27 escolas com pontos de vacinação. Confira os endereços no portal prefeitura.pbh. gov.br . Nos locais também acontece a aplicação de doses de repescagem para crianças de 5 a 11 anos, com comorbidades, deficiência permanente, indígenas ou quilombolas que ainda não se vacinaram. O público é convocado pelo município desde o dia 15 de janeiro. Na sexta (28), é aplicada a primeira dose para crianças sem comorbidades nascidas de julho a dezembro de 2012 e que ainda tenham 9 anos na data da vacinação. É necessário levar o documento de identidade ou certidão de nascimento, CPF e comprovante de residência em Belo Horizonte. A convocação de outras faixas etárias não foi divulgada até o fechamento desta edição.


Belo Horizonte, 28 de janeiro a 3 de fevereiro de 2022

MINAS

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Governo Zema lança edital para construção do rodoanel sem mudanças necessárias GRANDE BH Além de outras áreas, reserva hídrica Vargem das Flores, Contagem e Betim continuam sendo “cortadas” por megaprojeto Guilherme Dardanhan

Projeto gigante, ouvidos pequenos

Em junho de 2021, movimentos realizaram manifestação em frente à ALMG contra o rodoanel

Rafaella Dotta O megaprojeto do Rodoanel Metropolitano teve mais um passo para sua efetivação. O governo de Minas Gerais lançou, na última semana, o edital de licitação para empresas que queiram entrar na concorrência para construir a estrada. A obra irá passar por 14 municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte e pretende “desafogar” o Anel Rodoviário da capital mineira. O lançamento surpreendeu, negativamente, quem vinha dialogando com o governo e tentando mudanças no projeto. Em julho de 2021, mais de 80 entidades assinaram um manifesto contra o traçado do rodoanel, que cortava inúmeras áreas de reserva ambiental. Diálogos e audiências públicas resultaram em algumas mudanças no empreendimento, retirando a Serra do Rola Moça (Ibirité), a Serra da Moeda (entre Moeda e Brumadinho) e a Serra da Calçada (Brumadinho) do traçado. No entanto, um grande prejuí-

zo permaneceu: o rodoanel passará pela área de recarga hídrica de Vargem das Flores, um dos três grandes reservatórios que abastecem a Grande BH. A obra passará dentro das cidades de Contagem e Betim e cortará bairros densamente urbanizados. Ambas as prefeituras realizaram conversas e fizeram propostas ao governo mineiro, mas o projeto previsto no edital não as considerou.

Posição do governo

O governo de Romeu Zema (Novo), por meio da Secretaria de Estado de Infraestrutura e Mobilidade (Seinfra), afirma que realizou duas consultas públicas que ficaram publicadas online por 115 dias e receberam 750 contribuições. De acordo com o governo mineiro, nesse período foram realizadas oito audiências públicas. Em paralelo às audiências, teriam sido feitas 75 reuniões que discutiram de forma pormenorizada os aspectos técnicos do projeto com os grupos interessados.

Há alternativas ao rodoanel “Discussão com a sociedade em parte teve, só que adiantou em alguns casos e outros não”, opinou Júlio Grilo, da Associação para Proteção Ambiental do Vale do Mutuca (Promutuca) e ex-conselheiro do Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam). Ele relembra um exemplo malsucedido, em que a sociedade organizada chegou a apresentar dois documentos com uma segunda opção para o rodoanel. Nessa proposta, ao invés de construir 100 quilômetros de estradas, o atual Anel Rodoviário, que possui 27 quilômetros, poderia ser duplicado. “Essa duplicação seria feita por pilotis, com uma outra estrada em cima do atual Anel Rodoviário. Com isso, seriam 27 quilômetros construídos ao invés de 100. Seria viável economicamente. Mas o governo não respondeu a esse questionamento”, explica Júlio.

No mesmo sentido é a avaliação de Adriana Souza, professora, ativista socioambiental do movimento SOS Vargem das Flores e militante da Frente Brasil Popular. Ela participa da Articulação Metropolitana contra o Rodoanel desde fevereiro de 2021 e acompanhou as cinco audiências públicas realizadas pelo governo estadual. Adriana relata uma série de problemas na realização das audiências, que foram virtuais e em formato híbrido – poucas pessoas presencialmente e transmissão virtual. “A gente chama essas audiências de ‘farsas públicas’, porque elas serviram apenas para o governo apresentar o projeto sem ouvir o contraditório. Na verdade, não teve escuta nenhuma da sociedade civil”, argumenta Adriana. Na avaliação da deputada estadual Beatriz Cerqueira (PT), que foi proponente de duas outras audiências públicas sobre o tema na As-

sembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), a postura do governo tem sido autoritária com as prefeituras, com os movimentos populares e com a população em geral. “É uma questão assustadora”, lamenta a deputada. “Há muitos impactos, que o governo do estado desconsidera, relacionados ao meio ambiente e a questões sociais, além do impacto financeiro, pois será um dos pedágios mais caros do país. Não é possível impor um traçado e uma obra que trará tantos prejuízos à população sem dialogar. A política se faz pela mediação e não pela exclusão e pelo autoritarismo”, aponta. A proposta da deputada Beatriz é a realização de audiências territoriais nos 14 municípios que serão impactados pelo rodoanel, organizadas a partir dos movimentos populares e lideranças, com o objetivo de escutar a população.

Detalhes do edital Lançado pela Seinfra em 21 de janeiro, o documento prevê que a sessão pública de concorrência aconteça em 28 de abril, às 14h, na Bolsa de Valores (B3) em São Paulo. A contratação será via parceria público-privada (PPP), em que o Estado investirá cerca de R$ 3 bilhões, oriundos do acordo assinado com a Vale em decorrência da tragédia de Brumadinho, e que não teve participação dos atingidos. Já a empresa vencedora da licitação investirá R$ 2 bilhões. O contrato de construção, manutenção e exploração da estrada – por meio de pedágios – será de 30 anos. A perspectiva do governo mineiro é iniciar a obra em 2023 e finalizá-la em 2028.


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MINAS

Belo Horizonte, 28 de janeiro a 3 de fevereiro de 2022

“É muito mais que chamar pelos pronomes corretos, é dar acesso e oportunidades”, afirma jovem trans VISIBILIDADE Há 18 anos, em 29 de janeiro é comemorado o Dia Nacional da Visibilidade Trans Elineudo Meira /Mídia NINJA

Ana Carolina Vasconcelos A inclusão social, o fim do preconceito e da transfobia são algumas reivindicações históricas das pessoas trans, que ganham ainda mais força no dia 29 de janeiro. Na data, é comemorado no Brasil, há 18 anos, o Dia Nacional da Visibilidade Trans. Um estudo realizado pela Faculdade de Medicina de Botucatu, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), revelou que o Brasil tem cerca de 4 milhões de pessoas transgênero ou não binárias. Mesmo sendo parcela considerável da população brasileira, essas pessoas ainda lidam cotidianamente com a invisibilidade. Morador de Belo Horizonte (MG), Arthur Antônio Mendes é um homem trans de

31 anos, casado e pai de uma menina de 6 anos. A trajetória do jovem, assim como a de milhares de pessoas trans, é marcada por preconceitos, mas também pelo sonho de viver em um mundo que as respeite. Ele assumiu sua identidade apenas aos 30 anos, pois tinha medo de não ter o apoio da família e de que a decisão afetasse sua filha. “Mas daí pensei: como vou ensiná-la a ser

feliz e a ser ela mesma se eu não fizer isso? Se eu não der exemplo? Ninguém vai ser feliz por mim, eu tenho esse dever e direito, e quem me amar que continue na minha vida”, relata. Ao se assumir, Arthur precisou sair da casa dos pais e enfrentar uma série de dificuldades. Uma delas foi o acesso ao emprego formal. O acesso à saúde também não é fácil. “Sabiam que um homem

trans não consegue marcar um ginecologista com facilidade? Algo tão essencial. Sem falar da saúde mental…”, explicou Arthur. País que mais mata trans Desde o ano de 2019, a transfobia é considerada crime no Brasil. Mesmo assim, o país é considerado o que mais mata pessoas trans e travestis no mundo, pelo 13º ano consecutivo. O relatório de 2021 da Transgender Europe (TGEU), revelou que 70% de todos os assassinatos registrados aconteceram na América do Sul e Central, sendo 33% no Brasil. Arthur acredita que essa realidade reafirma a necessidade de pensar um mundo em que pessoas trans sejam respeitadas e tenham

oportunidades, “onde as pessoas entendam que eu sou igual a elas em muitas coisas e diferente em outras. É muito mais do que chamar pelos pronomes corretos. É dar acesso e oportunidades”, conclui. Mulher trans ou travesti? Mulheres trans são aquelas que foram registradas como homens ao nascerem. Elas podem se identificar ou não também como travestis. As travestis são pessoas designadas como homens ao nascerem e que se reconhecem em uma identidade feminina. As travestis não necessariamente se consideram mulheres.

Com aldeia contaminada por enchente, indígenas ocupam linha férrea contra a Vale desde terça (25) RESISTÊNCIA Aldeia Naô Xohã, em São Joaquim de Bicas, foi alagada pelo Rio Paraopeba, que possui metais pesados Jessica de Almeida

Rafaella Dotta Os indígenas Pataxó e Pataxó Hã-hã-hãe ocupam, desde a manhã de terça (25), a linha de trem da empresa MRS, que é 10% propriedade da empresa Vale, na altura de São Joaquim de Bicas. As famílias estão desalojadas desde 9 de janeiro, quando seu território foi alagado pela enchente do Rio Paraopeba, que está poluído com metais pesados. A aldeia Naô Xohã é margeada pelo Rio Paraopeba e foi atingida há três anos pelos rejeitos de minério da barragem Córrego do Feijão, da Vale, que se rompeu em Brumadinho (MG). Nas primeiras semanas deste ano, a comunidade voltou a ser atingi-

da pela cheia do Paraopeba, contaminando novamente a aldeia. As famílias Pataxó e Pataxó Hã-hã-hãe ficaram alojadas do dia 9 ao dia 24 de janeiro em uma escola municipal de São Joaquim de Bicas, quando tiveram que sair para a es-

cola retomar as aulas. Desde o dia 25, as famílias estão no trilho do trem e reivindicam que a mineradora Vale faça o imediato reassentamento de todas as famílias em novo território, sem contaminação. “Hoje nosso povo existe em cima de uma linha de trem,

numa rodovia, porque nós não temos mais uma comunidade. Nossa aldeia foi inundada pelo rejeito de minério da Vale”, protesta o cacique Arakuã, da aldeia Naô Xohã. Vale segue sem responder O cacique afirma ainda que, apesar da resistência da manifestação, nada foi solucionado e a mineradora teria informado que não terá diálogo com os indígenas enquanto permanecerem no ato. Os indígenas, por outro lado, resistem no local enquanto suas demandas não forem atendidas. A mineradora foi procurada pelo Brasil de

Fato MG, mas não respondeu. Na tarde de sexta (28), deve acontecer uma reunião entre a aldeia Naô Xohã, o Ministério Público Federal, a Defensoria Pública da União e as empresas Vale e MRS para tentar uma negociação. A empresa MRS participará, pois também utiliza a linha férrea, que está fechada pelo protesto. Na tarde de quinta (27), a 2ª Vara Cível de Igarapé concedeu liminar a favor da empresa MRS, exigindo que os indígenas se retirem imediatamente da ferrovia. A empresa alegou prejuízo a seu serviço ferroviário. A liminar autoriza a Polícia Militar a cumprir a ordem. Os indígenas encontram-se, assim, em situação de rua.


Belo Horizonte, 28 de janeiro a 3 de fevereiro de 2022

OPINIÃO

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Adolfo Pérez Esquivel

Eunice Ferreira Godinho

A lama tirou de nós a alegria de ter encontrado o cantinho tão sonhado

Religião: ópio ou libertação? Para reconstruirmos a sociedade a partir das vítimas dos escombros e da devastação causada pelo capitalismo, agronegócio e bolsonarismo, tornou-se imprescindível compreendermos de forma libertadora o fenômeno religioso Sem a participação de milhares de pessoas cristãs teria sido muito difícil e teria tardado muito mais o nascimento da Central Única dos Trabalhadores (CUT), do Partido dos Trabalhadores (PT), do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e de outros movimentos. A partir da Teologia da Libertação, muitos pensadores passaram a usar como método de análise da realidade o materialismo histórico-dialético, de Karl Marx, para entender as contradições da realidade e explicitar as cau- Há íntima sas das injustiças sociais. Por assumir esse compromis- relação entre as so, muitas lideranças cristãs foram assassinadas, padres, dimensões freiras e bispos. espiritual e social Em 34 anos, de 1985 a 2019, foram assassinados na luta pela terra no Brasil 1483 camponeses, uma média de 43,6 camponeses por ano. Quase todas estas lideranças camponesas eram pessoas religiosas, de uma fé libertadora. Marx, em 1844, diz: “a religião é o suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, tal como o é o espírito de uma situação sem espírito. É o ópio do povo”. Ou seja, ele apenas constata que a religião dá alívio às pessoas que vivem oprimidas. Ao resgatar o Jesus histórico que viveu no nosso meio consolando injustiçados, incomodando os opressores da economia e da religião, e, ensinando e testemunhando um jeito de conviver e de construir fraternidade real com justiça econômica, a Teologia da Libertação dinamiza a dimensão libertadora do fenômeno religioso. Mostrando a íntima relação que existe entre as dimensões espiritual e social do Evangelho de Jesus Cristo. Gilvander Moreira é frei e padre da Ordem dos Carmelitas, doutor em Educação pela FAE/UFMG, agente e assessor da CPT/MG, assessor do CEBI e Ocupações Urbanas, e colunista do Brasil de Fato MG

Leia os artigos completos no site brasildefatomg.com.br Estes são artigos de opinião. A visão dos autores não expressam necessariamente a linha editorial do jornal Brasil de Fato

Eunice Ferreira Godinho é moradora de Cachoeira do Choro, em Curvelo (MG).

ACOMPANHANDO

Frei Gilvander Moreira

Permitam me apresentar: sou Eunice Ferreira Godinho, atingida pelo crime da Vale em Brumadinho, que fez com que a lama chegasse até mim e a todos na comunidade de Cachoeira do Choro, em Curvelo, Minas Gerais. A Vale trouxe a lama. Lama essa que não pediu licença para entrar e ficar em nossas vidas. Destruiu, assim, sonhos e projetos realizados e em construção. Tirou de nós a alegria de ter encontrado o cantinho tão sonhado, de ter se encantado com um rio tão imponente, que foi ferido como todos nós e que ainda sangra todos os dias sem que ninguém o cuide e nem a nós. São três anos de dor, gemidos e lágrimas, porque os homens grandes - arrogantes e soberbos, não conseguem, ou não querem, se curvar para ouvir o gemi- Assim como o do dos pequenos homens - rio ainda corre, também lutarehumildes. Pessoas que apenas que- mos e não mais rem que a justiça aconte- sozinhos ça de forma integral e íntegra, porque o que temos até aqui é uma justiça falha e covarde, que faz desse crime uma ferramenta para lucrar com a dor e sofrimento de quem está tentando limpar a lama de suas vidas. Mas assim como o rio, com toda sua dor, ainda corre, também lutaremos e não mais sozinhos, teremos sim a força daqueles que não tiveram lama nos quintais de suas vidas. Mas que se unirão a nós, nos ajudando a limpar os nossos quintais. Me refiro a você! Deixo meu abraço limpo, sem lama.

Na edição 358... “No Dia de Finados, o luto é coletivo” ... E agora Brasil tem transmissão recorde de covid-19 e mortes voltam a níveis de outubro O avanço da variante ômicron vem provocando recordes de infecção pela covid-19 no Brasil, a taxa de transmissão da covid-19 chegou a 1,9, ou seja, a cada 10 pessoas que contraem a doença, outras 19 são contaminadas. É o maior avanço no contágio já registrado até aqui. E a taxa de transmissão deve continuar subindo, e deve chegar a 2,03. São quase 600 pessoas que morrem da doença por dia no país, o maior índice desde meados de outubro. Ao todo, mais de 625 mil pessoas foram vítimas da doença no Brasil.


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BRASIL

Belo Horizonte, 28 de janeiro a 3 de fevereiro de 2022

Partidos avançam na construção de uma federação de esquerda

Lula está perto de ganhar eleição no 1º turno, diz pesquisa Ipespe

Ricardo Stuckert

Marina Ramos / Câmara dos Deputados

Redação Dirigentes do PT, PSB, PCdoB e PV definiram, no dia 26, como será o comando da federação que essas legendas pretendem formar, para atuar em conjunto pelos próximos quatro anos. A direção da frente deve ser composta por 50 inte-

grantes, com representação proporcional ao número de votos de cada sigla na Câmara dos Deputados. O PT ficaria com 25 cadeiras, o PSB, com 15, o PCdoB e o PV teriam, cada um, 5 vagas. A federação deve ter um presidente e outros três vice-presidentes – totalizando uma vaga para cada sigla.

Para garantir que os partidos pequenos sejam ouvidos, deve ser instituída uma regra em que toda decisão precise de um quórum mínimo de dois terços de votantes. A regra que institui a federação partidária definiu que elas devem funcionar por no mínimo quatro anos e deve valer não só para disputa presidencial mas também para os estados. Pela regra atual do TSE, as legendas têm até 1 de março para solicitar o registro formal da criação dessas associações. Porém, as siglas querem prorrogar esse prazo pelo menos até abril. Por conta disso, os dirigentes partidários devem protocolar no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) um recurso pedindo adiamento da definição das federações partidárias.

O ex-presidente Lula (PT) pode ganhar a eleição presidencial de outubro no 1º turno. É o que aponta a segunda pesquisa do ano do Ipespe, encomendada pela XP Investimentos, divulgada na quinta-feira (27). No principal cenário testado, o petista aparece com 44% das intenções de voto. Os outros candidatos, somados,

Representação contra Moro pede investigação por conflito de interesses CORRUPÇÃO Associação de Juristas pediu ao Ministério Público que investigue ex-juiz, que já é investigado pelo TCU Nelson Almeida/ AFP

Caroline Oliveira A Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD) protocolou, no dia 25, uma representação no Ministério Público Federal (MPF) contra o candidato à Presidência da República Sergio Moro (Podemos). Por meio da representação, o grupo de juristas solicita a instauração de um inquérito para apurar os valores e as condições da contratação do ex-juiz pela empresa de consultoria estadunidense Alvarez & Marsal (A&M), que é administradora judicial de empresas que foram investigadas pela Operação Lava Jato.

Por isso, também pede a investigação da relação entre Moro e as companhias assessoradas pela consultoria, como a Odebrecht. Moro permaneceu na A&M por 13 meses. Em nota, a associação destaca que “Moro, enquanto juiz, julgou e condenou executivos das empresas clien-

tes da Alvarez & Marsal no processo de recuperação judicial. Teve acesso a informações privilegiadas que possuíam potencial de impacto em favor de seu trabalho na empresa”. “É no mínimo para se desconfiar e, evidentemente, para se investigar, que Sergio Moro pudesse assumir um cargo para atuar na recuperação ju-

dicial de empresas cuja situação foi causada pela sua atuação como magistrado”. Nas palavras de Tânia de Oliveira, “quando um servidor público migra para o setor privado, na mesma área em que ele atuava, E leva consigo benefícios como acesso a informações privilegiadas, há conflito de interesses”. O conflito de interesses, está tipificado na Lei nº 12.813/2013, que “dispõe sobre o conflito de interesses no exercício de cargo ou emprego do Poder Executivo federal e impedimentos posteriores ao exercício do cargo ou emprego”.

têm 45%. Considerando a margem de erro (3,2 pontos percentuais para mais ou para menos), Lula poderia vencer sem a necessidade de um segundo turno. Na sequência, aparecem Jair Bolsonaro (PL), com 24%, Sergio Moro (Podemos), com 8%, Ciro Gomes (PDT), com 8%, João Doria (PSDB), com 2%, e Simone Tebet (MDB) e Alessandro Vieira (Cidadania) com 1%.

Alimentos, gás e aluguel ficam mais caros No primeiro mês do ano, a inflação oficial segue acima dos 10% acumulados. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) variou 0,58%, somando 10,20% em 12 meses. Alimentação e bebidas subiram 0,97%. Itens de higiene pessoal tiveram alta de 3,79%. Já o custo com aluguel residencial subiu 1,55%. A maior alta entre os grupos foi o de Vestuário, com aumento de 1,48%.


Belo Horizonte, 28 de janeiro a 3 de fevereiro de 2022

Eletricitários estão em greve em defesa da Eletrobras pública e por direitos PATRIMÔNIO PÚBLICO Empresa é um dos alvos principais do plano de privatização do ministro da Economia, Paulo Guedes Arquivo-STIU /DF

BRASIL

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Alexandre de Moraes determina que Bolsonaro deponha à polícia federal Fabio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil

Mateus Quevedo A Eletrobras, estatal de energia, é a principal empresa do ramo elétrico do país. É ela quem garante, de forma estratégica, que a energia elétrica chegue em cada rincão do Brasil. No último balanço financeiro, realizado com dados do terceiro trimestre do ano passado, registrou um lucro líquido de R$ 965 milhões, mesmo oferecendo o serviço mais barato para seus consumidores. Apesar disso, ela é um dos alvos principais do plano de privatização do ministro da Economia, Paulo Guedes. Para barrar a privatização e defender os direitos dos trabalhadores, eletricitários e eletricitários anunciaram uma greve da categoria. A paralisação iniciou dia 17 de janeiro, com Furnas, CEPEL e Eletrobras e, desde o dia 24, o movimento foi seguido pelas demais empresas do grupo: CGT Eletrosul, Chesf e Eletronorte. Desde o início do ano trabalhadores e trabalhadoras que atuam na holding (empresas em que a Eletrobras é a acionária principal) até as suas subsidiárias (Eletrobras Amazonas GT, Eletrobras CGT Eletrosul, Eletrobras Chesf, Eletrobras Eletronorte, Eletrobras Eletronu-

Empresa teve lucro de R$ 965 milhões em três meses clear e Eletrobras Furnas) têm denunciado o equívoco da privatização. A campanha Salve a Energia, promovida por diversas organizações, afirma que “o governo acelera os processos e atropela todas as instâncias de fiscalização e controle para entregar a empresa o mais rápido possível ao mercado especulativo”. No ano passado o presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), foi autor da Medida Provisória 1031/21, aprovada no Congresso, que dispõe da desestatização da empresa. Uma afronta à soberania nacional do Brasil, uma vez que possibilita que empresas estrangeiras, inclusive estatais, adquiram o patrimônio. O presidente da Eletrobras, Rodrigo Limp, indicado por Bolsonaro, retirou o atendimento à saúde dos funcionários. Isto tudo no momento em que a covid-19 voltou a atingir altos índices de contaminação. Esse cenário levou à deflagração da greve.

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, determinou na quinta (27), que o presidente Jair Bolsonaro comparecesse na sexta-feira (28), às 14h, para prestar depoimento à Polícia Federal, em Brasília. A determinação se dá em razão do inquérito que investiga o presidente por ter vazado informações de uma

investigação sigilosa do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Bolsonaro usou do vazamento para questionar a segurança do sistema eletrônico de votação. O presidente teve 60 dias para definir o local, a data e a hora do seu depoimento, como venceu o prazo e ele não agendou, Moraes resolveu determinar sua intimação.

FMI prevê crescimento de apenas 0,3% no Brasil em 2022

Nelson Almeida / AFP

Segundo dados divulgados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) nesta terça-feira (25), o Brasil deve ter um crescimento de apenas 0,3% em 2022. A previsão é bem menor do que a que havia sido anunciada em outubro, quando apontava crescimento de 1,5%.


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MUNDO

Belo Horizonte, 28 de janeiro a 3 de fevereiro de 2022

Rússia e EUA em pé de guerra na Ucrânia: cenário de conflito é real ou blefe de alto risco?

Xiomara Castro toma posse em Honduras

Luis Acosta /AFP

Alex Brandon /AFP

Serguei Monin O principal impasse entre a Rússia e o Ocidente em torno da Ucrânia diz respeito às exigências da Rússia de que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) não se expanda para o Leste da Europa e que não incorpore a Ucrânia. Como as potências ocidentais não parecem dispostas a ceder às garantias de segurança, resta saber até que ponto Moscou e o Ocidente vão conseguir manter as apostas altas para evitar um conflito. Para a pesquisadora-sênior do Instituto de Estudos dos EUA e Canadá da Academia de Ciências da Rússia Alexandra Filippenko, as garantias de segurança que Moscou exige da Otan estão no centro da atual tensão em torno da Ucrânia. Em entrevista ao Brasil de Fato, ela afirmou que as partes estão menos interessadas em um conflito armado e mais em demarcar certas fronteiras de segurança na Europa, mas

ela destaca que é evidente que o Ocidente não tem interesse em ceder às exigências russas e não o fará. Ela considera que algum compromisso diplomático deve prevalecer para evitar um conflito armado. No que diz respeito à prontidão dos EUA de intervir e agir no território ucraniano, considerando um cenário mais negativo, a pesquisadora aponta que isso seria feito por tropas europeias, tendo em vista que os cidadãos norte-americanos “acabaram de observar o fim da presença no Afeganistão e seriam categoricamente contra o envio de soldados americanos de novo para algum lugar longe para defender os interesses de alguém”. Repúblicas separatistas Já para o especialista militar russo Vassili Kashin, “a única razão possível para a guerra poderia ser uma ação contundente da Ucrânia ou de uma das unidades do exército ucraniano, já que o país é instável e suas forças nem sempre são bem con-

troladas. Se a guerra começar, a Rússia tentará derrotar completamente o exército ucraniano e a indústria de defesa ucraniana para garantir sua segurança para o futuro”, acrescenta. Além disso, Kashin comenta que, em um cenário de conflito, é provável que a Rússia reconheça oficialmente as Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, regiões separatistas do leste da Ucrânia apoiadas por Moscou. Ambas as regiões, que se autoproclamaram repúblicas independentes mas não são reconhecidas pela Ucrânia e pela comunidade internacional, representam o epicentro do conflito ucraniano.

A vitória de Xiomara Castro em novembro, e sua posse na quinta-feira (27), foi uma reviravolta histórica em Honduras. A presidência volta a ser ocupada pela esquerda, que sofreu um golpe há 12 anos. Na ocasião, o então presidente Manuel Zelaya, esposo de Xiomara Castro, foi sequestrado de madrugada e levado para fora do país. Entre as figuras que vão à posse de Xiomara estão a ex-presidenta Dilma Rousseff (PT), a vice-presi-

denta da Argentina, Cristina Kirchner, a vice-presidenta dos Estados Unidos, Kamala Harris, e o rei da Espanha, Filipe VI. A presença forte de delegações estrangeiras mostra que a comunidade internacional respalda Xiomara Castro, o que gera mais expectativas na população. O golpe e as políticas da direita permitiram que o número de pobres ultrapasse hoje 70% da população. ANÚNCIO


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Belo Horizonte, 28 de janeiro a 3 de fevereiro de 2022

ENTREVISTA 11

“A terceira onda da pandemia tem afetado significativamente o mercado de trabalho” PROTEÇÃO Ana Virgínia, especialista em Direito Trabalhista, falou sobre a pandemia e o seu impacto no mercado de trabalho USP Imagens

Geovanni Carvalho Ana Virgínia, especialista em Direito Trabalhista, falou com o Brasil de Fato sobre como o aumento no número casos de covid-19 está afetando os trabalhadores e o mercado de trabalho. De acordo com ela, o mercado de trabalho que atua diretamente com atendimento ao público está sendo impactado, já os ambientes industriais, em que não há grande movimentação de público, o percentual é bem menor. “Há sinais de aumento de afastamento significativo de trabalhadores dos locais de trabalho por causa da pandemia”. Confira. Brasil de Fato – Como esse avanço de casos confirmados de covid-19 está afetando o mercado de trabalho? Essa chamada terceira onda da Ômicron tem impactado bem significativamente nas últimas semanas. Temos notícias de muitos estabelecimentos que tiveram atendimentos e serviços suspensos por causa da disseminação do coronavírus nos ambientes de trabalho. O mercado de trabalho que atua diretamente com atendimento ao público está sendo muito impactado, e nos ambientes industriais, em que não há grande movimentação de público, o percentual é bem menor. Então, há sinais de aumento de afastamento significativo de trabalhadores dos locais de trabalho por causa da pandemia. E esses impactos seriam o que acontece, por exemplo, em algumas atividades que conseguiram se adaptar ao modelo digital, ao modelo de teletrabalho, chamado home office, outras atividades, não.

Ministério do Trabalho é ineficiente e segue inerte Graças à vacina esse aumento não tem sido com muito agressivo, mas ainda assim exige o afastamento do trabalhador e isso gera uma sobrecarga, uma exigência de reorganização imediata do que já estava se reorganizando. Brasil de Fato – Além desse crescente de acúmulo dos trabalhos, também há dados de profissionais que estão sendo demitidos nesse período de pandemia? Como está essa situação? Olha, o desemprego está aumentando muito. Agora no começo do ano uma grande onda de desemprego retoma, porém, ainda é cedo para avaliar se essa onda pode ser atribuída unicamente à terceira onda. Existe uma série de fatores, como a irresponsabilidade do governo em relação à questão econômica e à total ineficiência do Ministério do Trabalho, que permanece inerte.

Não há nenhuma política pública direcionada, não há nenhuma gestão sobre esses dados os quais são de difícil acesso via Ministério do Trabalho. Brasil de Fato – Os trabalhadores que estão empregados podem se prejudicar de alguma forma por estarem afastados do trabalho devido à pandemia? A princípio, não, mas é importante que se esclareça que os trabalhadores, caso sintam algum sintoma, mesmo que leve, e mesmo que sejam indícios da Influenza, procurem um serviço de saúde e se resguardem por meio de um

atestado médico. É importante também que seja feita a testagem para que o trabalhador possa comprovar seus sintomas. O trabalhador, inclusive por uma responsabilidade coletiva, precisa se afastar do trabalho, mas para isso é importante que ele esteja documentado. Brasil de Fato – Os trabalhadores têm algum direito trabalhista que assegure seus empregos durante a pandemia? Pelo simples fato de estarmos em uma pandemia já não temos a garantia de nossos empregos. Mas durante o período em que o trabalhador estiver assegurado por um atestado médico, por uma orientação médica, ele não pode ser demitido. Até 15 dias o empregador tem a obrigação de pagar o salário. Passado esse período, o empregador deve se comunicar com

Se precisar se afastar do trabalho é importante o atestado

Há uma política de abandono do governo federal aos trabalhadores o INSS e o trabalhador passa a ter direito de receber, além dos 15 dias do empregador, o restante do período por meio de benefício previdenciário. Brasil de Fato – Você quer deixar mais alguma mensagem? Primeiro devemos ter em mente a importância da vacina. Essa terceira onda não está sendo tão massacrante quanto as anteriores, especialmente para os trabalhadores, por conta da vacina. Então devemos incentivar a vacinação e não só a vacinação dos adultos, mas a vacinação de crianças. Ressaltar a importância em manter o uso obrigatório de máscaras, de higienização por álcool e de distanciamento social e incentivar uma reflexão sobre essa política de abandono do governo federal. ANÚNCIO


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VARIEDADES

Belo Horizonte, 28 de janeiro a 3 de fevereiro de 2022

CIÊNCIA, COISA BOA! OLHE PARA CIMA: O AQUECIMENTO GLOBAL É REAL

Nossos direitos Freepik

PRAZO PARA A EXIGÊNCIA DO LICENCIAMENTO DE VEÍCULOS É PRORROGADO

Cientistas afirmam que um grande asteroide se chocará com a Terra em seis meses e causará o fim da humanidade. Como governos, a mídia e a população reagiriam a isso? Essa é a premissa do filme estadunidense “Não olhe para cima, dirigido por Adam McKay e lançado no final de 2021. Apesar das comparações óbvias com a pandemia da covid-19, o roteiro do filme é anterior a ela, e visou criticar a forma como setores da sociedade ainda lidam com outro importante tema: as mudanças climáticas. É espantoso constatar que ainda há muita gente que nega que as atividades econômicas capitalistas geram impactos suficientes para alterar o clima em escala global. No século 19, cientistas já levantavam a hipótese de que aumento na emissão dos chamados gases estufa (CO2, CO, metano, vapor de água, entre outros) poderia ocasionar um aumento da temperatura média da Terra. De lá para cá, essa hipótese foi amplamente estudada por pesquisadores de diversas áreas. E, hoje, podemos afirmar que é um fato aceito pela ciência. Discutir mudanA queima de combustíveis fósseis, o desmatamento e as queimadas lançam ças climáticas uma quantidade grande de gases estu- envolve mexer fa na atmosfera. Esses gases são capazes no lucro da elite de segurar mais a energia solar em nos- econômica so planeta, o que leva ao aumento médio das temperaturas. Os impactos desse fenômeno são variados. Extinção de espécies, derretimento de áreas congeladas, alterações no regime de chuvas e ventos, mudanças no nível e movimentação dos oceanos etc. Essas consequências impactam e impactarão cada vez mais as populações mais pobres e vulneráveis. Desde os anos 1970, os países se organizam para discutir o tema e tentar buscar soluções que diminuam o problema. Porém, a cada ano e a cada nova rodada de debates, parece que o cenário só se complica. Isso porque discutir as mudanças climáticas exige repensar o desenvolvimento econômico dos países, a expansão e a acumulação capitalista. Envolve mexer no lucro da elite econômica. Por isso é tão difícil. E, assim como no filme, essa elite logo busca questionar a ciência. Há hoje setores negacionistas das mudanças climáticas que se organizam politicamente e financiam propaganda anticiência em benefício próprio. É fato científico que a expansão capitalista tem alterado o clima da Terra. Ou “olhamos para cima” e buscamos a superação desse modelo, com novas formas de organização social e econômica, ou teremos que lidar com as consequências, que atingirão os ecossistemas, as outras espécies e as comunidades humanas mais vulneráveis. Um abraço e até a próxima! Renan Santos é professor de biologia da rede estadual de Minas Gerais

Até o fim do ano passado, estava decidido o retorno da exigência do licenciamento de veículos referente ao ano de 2021. Entretanto, o governo voltou atrás. Assim, está suspensa a obrigatoriedade de apresentação do Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo (CRLV) em Minas Gerais, referente a 2021. Somente será obrigatória a sua apresentação a partir do dia 1 de junho de 2022. Até lá, será exigido dos condutores o CRLV

referente ao ano de 2019 para comprovar a regularidade do veículo. O documento, quando solicitado em blitz, pode ser apresentado impresso em papel comum, ou no aplicativo da Carteira Digital de Trânsito. Dirigir sem o documento que licencia o veículo gera multa no valor de R$ 293,47, além de sete pontos na carteira. Nessa situação, o veículo também é recolhido e fica retido até a regularização do documento.

Jonathan Hassen é advogado popular

AMIGA DA SAÚDE Sofia Barbosa é enfermeira do Sistema Unico de Saúde I Coren MG 159621

Ouvi falar de uma vacina contra a dengue. Isso é verdade? Cláudia Soares, 43 anos, gerente comercial. A vacina contra a dengue está sendo desenvolvida pelo Instituto Butantan desde 2009 e ainda não há previsão de quando será distribuída à população. Mas os estudos estão em fase final e com previsão de conclusão até 2024. A vacina é produzida com vírus atenuados e será tetravalente (protegerá contra os quatro tipos de dengue). Essa vacina será muito importante para o Brasil e demais países tropicais, que sofrem com as epidemias de dengue desde o século 16. Somente em 2019, foram registrados mais de 1,4 milhão de brasileiros infectados com a dengue e 689 mortos. Além disso, as epidemias sobrecarregam os serviços de saúde e geram impacto no acompanhamento de outras condições de saúde. Se houvesse mais investimentos na ciência, possivelmente, já teríamos a vacina contra a dengue em uso e muito sofrimento poderia ter sido evitado. :: CONHEÇA O CANAL DA AMIGA DA SAÚDE NO SPOTIFY! ::

Se você tem alguma dúvida sobre saúde e vida saudável, manda um zap para mim! O número é (31) 9 8468.4731.


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www.malvados.com.br Separamos aqui uma combinação infalível para você conquistar o coração da sua parceira. Trata-se da junção entre limpeza e um bom jantar. Em outras palavras, a demonstração de

TORTA DE FRANGO DE LIQUIDIFICADOR

afeto e cuidado. Pode ter certeza que é a melhor declaração!

Freepik

PALAVRAS CRUZADAS DIRETAS

www.coquetel.com.br Lugar como Cabo Frio

Dois alimentos ricos em 1 vitamina A

© Revistas COQUETEL

O dedo no qual se põe a aliança Atmosfera

Erva do chimarrão "(?) de Jó", 1 cantiga

Borracha que simula o seio 2 materno

Ordem dos Advogados do Brasil 3 (sigla)

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Colocar; guardar

São causados pelo sapato apertado O povo errante como o cigano

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Função do conta-gotas Lasca; fenda Macarrão em camadas com molho (Cul.)

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Roçar os dentes uns nos outros 6 Um milhar

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Nome da 4 letra "T" Grife de 11 roupa

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Forma de decote suave

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Sucede ao "U" Jogar água em 2

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Causar aflição

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Item do cadastro "Nacional", em Inpe 5

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Goste muito Chá, em 9 10 inglês "Pula" a cerca (gír.) 500, em 14 romanos 11

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Descrente em Deus Interjeição 7 gaúcha

Consoantes de "hino"

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Gargalhar Daniel Alves, 3 futebolista

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Nova visão sobre um mesmo as13 sunto (pl.)

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Sílaba de "trufa"

A carta mais valiosa do pôquer 1

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Solução

O A B

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Formalidades seguidas em ato solene

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R E L E I T U R A S

Atmosfera física (símbolo)

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Orestes Barbosa, letrista 6 da MPB

M B E A R I S T A C C E O R A D A N G E OM V N O N I A S A M T R A D E D A T E B R I A D U R H A A

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Aparar (o cabelo) Marcha de manobras

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Arma para matar vampiros 9 7 (Folcl.) Cervídeo do Canadá Fotogra3 fias (bras.) 1

A A L N R E A L R T A E R T M R I M A L O LH T O M A S A R R A C H S A N

P Primeira consoante do nosso alfabeto

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A B P O B C O R A C E C E N D O U R L A

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Ingredientes: 3 ovos 1 xícara (chá) de óleo 1 e 1/2 xícaras (chá) de leite 2 colheres (sopa) bem cheias de queijo ralado 1 colher (café) de sal 2 xícaras (chá) de farinha de trigo 1 colher (sopa) fermento em pó 450g de frango desfiado e temperado a gosto

Modo de preparo: 1. No liquidificador, coloque os ovos, o óleo, o leite e o sal. Bata para misturar e depois acrescente o queijo ralado, a farinha de trigo e bata até ficar homogêneo; 2. Por último, adicione o fermento em pó e bata até misturar bem; 3. Despeje metade da massa numa forma untada e enfarinhada. Em seguida, adicione o recheio e cubra com o restante da massa; 4. Asse em forno preaquecido, a 180 graus, por aproximadamente 35 minutos ou até ficar douradinha.


14 CULTURA 14

Belo Horizonte, 28 de janeiro a 3 de fevereiro de 2022

Livro do mês da Expressão Popular conta a história do artista chileno Victor Jara CLUBE DO LIVRO Escrito por Joan Jara, sua companheira de vida, livro traz diversas memórias e fala da importância de resistir Wikimedia Commons

Mariana Lemos “Victor: uma canção inacabada”, biografia do artista chileno Victor Jara morto pela ditadura Pinochet, foi a obra escolhida pela Expressão Popular para inaugurar o ano de 2022 no Clube do Livro da Editora. Escrito pela inglesa Joan Turner Roberts, também conhecida como Joan Jara, o livro teve o primeiro lançamento, originalmente em inglês, há quase 40 anos, em 1983. Joan é bailarina, professora de teatro, arte e dança, escritora, militante pelos direitos humanos e diretora da Fundação Victor Jara. Ela e Victor tiveram uma história de amor que perdurou do início dos anos 1960 até 1973, ano do cruel golpe militar no Chile e do covarde assassinato de seu companheiro. Narrativa Escrito em primeira pessoa e com uma ampla gama de detalhes que aproximam o leitor de suas histórias, a escritora, que internacionalizou a campanha

de denúncias acerca das violações de direitos humanos cometidas pela ditadura civil-militar chilena, inicia o livro contando sua história pessoal desde a infância na Inglaterra até a vida no Chile. O primeiro encontro com Victor acontece em um momento bastante difícil de sua vida. Na sequência Joan volta no tempo para construir a narrativa da história pessoal de Victor.

Depois a escritora narra a trajetória de vida compartilhada por ambos, relacionando sempre com a conjuntura política e social da época e com a paixão pela arte engajada e transformadora que o casal se envolveu em um Chile que vivia o ascenso da organização popular e das conquistas democráticas. Quem foi Victor Jara Victor poetizou sobre as be-

lezas da vida, cantou sobre os direitos do povo e amou sua pátria assim como amou suas filhas e sua companheira. De sorriso largo, cabelos cacheados e empunhando um violão, ele abriu alas, junto de tantos outros artistas, para o movimento chamado “Nueva Canción Chilena”, que ganhou força no final dos anos de 1960 e início da década de 70, sobretudo trazendo o folclore, os ritmos e os instrumentos dos povos ancestrais do continente americano. Victor fez seu nome junto ao povo e atuando na luta cotidiana. E assim que a ditadura de 11 de setembro de 1973 nebulou o céu do país, que se localiza espremido entre os Andes e o oceano Pacífico, Victor foi levado, junto de milhares de outros chilenos, ao Estádio Chile, torturado e assassinado alguns dias depois. Hoje o estádio leva seu nome. Em 2009, um novo sepultamento do corpo de Víctor Jara foi realizado, permitindo aos chilenos uma despe-

dida digna, já que o enterro realizado em 1973, havia sido feito sob clima de terrorismo de Estado. Em 2018, nove ex-funcionários do exército foram condenados pelo seu sequestro e assassinato. Segundo a Comissão Chilena de Direitos Humanos, foram 3,2 mil cidadãos mortos por agentes do Estado, sendo que destes, 1.192 seguem desaparecidos até hoje. Cerca de 33 mil pessoas foram torturadas e presas por motivos políticos, além de cerca de 200 mil pessoas tiveram que se exilar por questões políticas durante os anos da repressão de Augusto Pinochet.

Serviço É possível adquirir o livro “Victor: uma canção inacabada” acessando o site da Editora Expressão Popular (expressaopopular. com.br) e se cadastrando no Clube do Livro. São três modalidades de assinatura: Leitor Militante; Solidário; e Apoiador.

“Se não fosse o SUS...”: documentário fala sobre a saúde pública durante a pandemia Redação O documentário “Se não fosse o SUS…” é uma produção do Conselho Nacional de Saúde (CNS) que aborda o controle social e a saúde pública no enfrentamento à pandemia no Brasil. O lançamento aconteceu na quinta (27) e pode ser assistido nas redes sociais do conselho. Segundo o CNS, o documentário registra e analisa a crise sanitária a partir de cenas em Unidades Básicas de

Divulgação

Saúde (UBS) e territórios, com testemunhos de traba-

lhadores, usuários e integrantes de conselhos de Saúde.

A direção é assinada por Guilherme Castro, que também realizou o documentário “SUS, em defesa da vida” e a websérie “Travessia: covid-19 e os movimentos sociais populares”. O filme também mostra como o negacionismo e a falta de ação e de coordenação central seguem provocando o adoecimento e a perda de vidas, enquanto a pandemia ainda causa grande sofrimento à popula-

ção. Ao mesmo tempo, revela a abrangência, a estrutura e a necessidade de defesa do modelo de saúde pública universal do Sistema Único de Saúde (SUS).

Serviço O que: documentário “Se não fosse o SUS...” Onde: no canal do Conselho Nacional de Saúde no YouTube


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ESPORTES

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O técnico da Seleção Brasileira que participou da luta armada para defender camponeses Arquivo EBC

Ednilson Valia Entre 1948 e 1951,‌camponeses‌no norte do Paraná ‌desbravava‌m ‌terras‌ ‌que‌ ‌ninguém‌‌queria.‌Do outro lado, grileiros exigiram ao governo estadual que o solo fértil não fosse mais dividido. Esse foi o enredo da Revolta do Quebra-Milho ou Guerrilha de Porecatu, um conflito entre posseiros e “grileiros”, envolvendo diversas cidades, entre elas Porecatu, na divisa dos estados do Paraná e de São Paulo. O Partido Comunista Brasileiro teve um papel crucial no movimento de resistência dos posseiros. Os comunistas atuavam na clandestinidade, o presidente Dutra cas-

Saldanha sobre Porecatu: “único movimento de luta armada vitorioso no Brasi

sou o registro do partido em 1947. O “Partidão” entendeu ser o momento de militantes experientes dar o suporte necessário em treinamento com armas, logística e estratégia para a resistência armada. O militante que faria o contato direto com o comitê central, o camarada João Sal-

danha se fixou na cidade de Londrina como repórter do jornal comunista "Hoje". João Saldanha foi o responsável por montar o esquadrão considerado o melhor time de futebol da história, a Seleção Brasileira tricampeã do Mundo em 1970. A campanha de João como

treinador na Seleção Brasileira foi espetacular, com 100% de aproveitamento nas eliminatórias para o Mundial de 70. O ditador Médici pressionou para a convocação de Dario Maravilha, do Atlético Mineiro. Saldanha não cedeu. Oito dias antes de embarcar para o México, João foi demitido. Em Porecatu, Saldanha foi responsável pela organiza-

ção política dos camponeses, apoio logístico e organização dos grupos armados. O governador do Paraná incentivou os grileiros a utilizar toda categoria de violência. Mesmo apoiados pela força policial, contrataram também jagunços, acusados de roubo, estupro e violência. Mataram a principal liderança camponesa e a repercussão da disputa na mídia causou um desgaste público e o poder estadual foi obrigado a elaborar um acordo. João Saldanha definiu a “Revolta do Quebra Milho” na entrevista dada à “Folha de Londrina”: “O único movimento de luta armada vitorioso no Brasil”. ANÚNCIO


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Brasil empata com o Equador fora de casa

ESPORTES

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DECLARAÇÃO DA SEMANA Lucas Figueiredo /CBF

Lucas Figueiredo /CBF

Em sua estreia em 2022, a seleção brasileira empatou em 1 a 1 com o Equador na noite da quinta-feira (27) jogando fora de casa, em Quito. A partida aconteceu pela 15ª rodada das Eliminatórias Sul-Americanas da Copa de 2022. A seleção brasileira está garantida no próximo Mundial, já o Equador luta pela vaga. Durante o jogo houve expulsão do goleiro Domín-

guez, do Equador, e do lateral Emerson, do Brasil. O goleiro brasileiro Alisson chegou a receber cartão vermelho, mas o árbitro voltou atrás. O gol do Bra-

sil foi marcado aos cinco minutos do jogo, pelo volante Casemiro. Equador empatou com Félix Torres no final do segundo tempo.

Gol de placa Coletivo de torcedores antifascistas dos quatro grandes clubes de São Paulo realizará, às 15h de sábado (29), no Pacaembu, um protesto contra a privatização do estádio e em prol de sua reestatização. Segundo Geraldo Júnior, um dos organizadores do ato, “o estádio é de todo o povo de São Paulo e para ele deve ser devolvido”.

Em relação ao Endrick, se o Palmeiras achar por bem comprar uma passagem para ele e para a família para a Disneylândia, acho bom. É disso que ele precisa, é um menino de 15 anos Abel Ferreira, técnico do Palmeiras, sobre a pressão para que a cria da base do clube vá ao Mundial de Clubes, em fevereiro

OS PROVÉRBIOS NA ESTREIA DO MINEIRO OS ÚLTIMOS SERÃO OS PRIMEIROS

MELHOR UM PÁSSARO NA MÃO, QUE DOIS VOANDO

A PRIMEIRA IMPRESSÃO É A QUE FICA

O jogo entre Brasil x Equador, em Quito, na quinta (27), foi marcado por muita atuação do VAR, expulsões e, como já se deduz, por violência em campo. Ao fim, o empate em 1x1 ficou bom para os dois lados.

@ANDREFIDUSI

Gol contra

Laboratório para El Turco

Mineiro para testes

Vencer é sempre bom!

Bráulio Siffert

Rogério Hilário

Fabrício Farias

O América vai usar o Campeonato Mineiro como um laboratório para o restante da temporada, dando reais oportunidades para crias da base e outros reservas, além de iniciar o entrosamento do time titular para chegar bem, sobretudo, à Libertadores. Na estreia do MineiDecacampeão ro, contra a Caldense, atuaram 10 jogadores que vieram da base, incluindo o garoto Adyson, de 16 anos, que foi o destaque do Coelhãozinho na belíssima campanha de semifinalista na Copa São Paulo de Futebol Jr. O time mostrou alguns indícios de potencial, e alguns meninos - como Arthur, Rodriguinho e Carlos Alberto - mostraram bom serviço, mas dois gols irregulares da sempre chata Caldense fizeram o América começar seu ano histórico com uma derrota.

Não era esperado nada melhor. O empate diante do Villa Nova, em Nova Lima, reflete bem o que o jogo foi: fraco tecnicamente. Com uma equipe alternativa, algo justificável numa competição que, a princípio, serve apenas de laboratório, o Atlético só poderia mesÉ Galo doido! mo resgatar o habitual sofrimento. Ainda mais com elenco desentrosado, consequência de apenas uma semana de treinamento e, ainda por cima, com um comandante novo, El Turco Mohamed, que precisará de tempo para impor o estilo. Mas, a primeira prova de fogo do treinador argentino já tem data definida. A disputa do título da Supercopa do Brasil contra o Flamengo será no dia 20 de fevereiro, em Brasília. Aguardemos os resultados das experiências no Estadual.

Nossa caminhada em 2022 já começou com uma vitória. Evidentemente não é para se empolgar demais, afinal é o primeiro jogo do ano, mas vitória é sempre bom. Na partida contra a URT, valeu demais a boa movimentação do ataque, especialmente de Negra Waguininho pelas La Bestia pontas e a estreia segura do goleiro Denyvis. Domingo em São João Del Rey, em mais um horário absurdo (11h da manhã), temos que buscar mais uma vitória para que a equipe tenha mais tranquilidade para trabalhar. Por enquanto, quem pôde ir ao Independência disfrutou de uma grande vitória do cabuloso. Já quem optou pela compra do pacote pela internet, ficou com bronca das falhas técnicas. Mais respeito com o maior de Minas minha gente! Saudações Celestes!

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