Brasil de Fato PR - Edição 111

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Cidadania | p. 6

Brasil | p. 5

Venezuela em chamas

Lula: condenação frágil

Correspondente do Brasil de Fato mostra como está fronteira com a Colômbia e a ameaça de invasão militar estrangeira

Jurista mostra que sentença não para de pé Ricardo Stuckert

Latuff

PARANÁ

Ano 4

Edição 111

14 a 20 de fevereiro de 2019

distribuição gratuita

www.brasildefato.com.br/parana

ÔNIBUS MAIS CARO DO BRASIL?

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Aumento previsto deve levar Curitiba a 1º lugar no custo do transporte coletivo Cidades | p. 4

OS CRIMES QUE MATARAM CENTENAS DE PESSOAS Vale e Flamengo são responsáveis pela falta de segurança

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Cidadania | p. 6

Crime de homofobia Mães fazem ato em dia de julgamento Ana Carolina Caldas


Brasil de Fato PR 2 Opinião

As tragédias no meio das políticas trágicas EDITORIAL

“Nada deve parecer natural”, Bertolt Brecht

O

Brasil de Fato PR

Paraná, 14 a 20 de fevereiro de 2019

ano de 2019 tem sido marcado por trapalhadas diárias do governo Bolsonaro e também por tragédias que não podem ser chamadas de acidentes ou desastres naturais, isso porque tiveram responsáveis por elas – empresas e governos. O desabamento da barragem de Brumadinho, que deixou 165 vítimas fatais até o momento e 160 desaparecidos, mostra a falta de medidas do governo de maior controle sobre os rumos da mineradora Vale. Mas a equipe econômica anunciou que o governo quer “reprivatizar” a empresa, como se empresa já não fosse privada e preocupada apenas com os lucros. Ao lado disso, a morte de dez jogadores da base do Flamengo é o

símbolo da falta de políticas públicas para os jovens. Neste contexto, a morte do jornalista Ricardo Boechat aumenta a sensação de que o país pouco a pouco definha, à medida em que perde sua capacidade econômica, sua democracia, seus direitos sociais, suas melhores vozes. O momento de crise é sensível para as pessoas, marca as conversas nas ruas e traz uma sensação de angústia para a maioria do povo brasileiro. Infelizmente, as medidas do governo Bolsonaro acentuam ainda mais a crise. Cabe à sociedade brasileira se mobilizar por outro projeto de país, em que predomine a democracia, os espaços públicos e os direitos do povo trabalhador. É urgente.

SEMANA

OPINIÃO

Os sem-terrinha

der a injustiça do mundo e, nos momentos de retrocesso, golpe, ditaprofessora da Universidade Tecnológica dura, opressão, poder interferir. Federal do Paraná (UTFPR) E também na esperança que senim para casa atravessando o ti ao participar, há dois anos, do parque Barigui, afogada no so- congresso dos “sem terrinha” e ver lão e na beleza daquela bagunça que aquelas crianças, cujos pais vide natureza permeada por asfaltos. veram anos sob lonas na resiliência No meio das pessoas que aprovei- pela dignidade e que sabiam o que tavam o dia no parque, havia duas é lutar pela sobrevivência, haviam mulheres ensinando uma menini- conquistado o direito à educação de qualidade. nha a pular corda. E que elas conElas giravam e diseguiriam unir ziam: “Pula!” e a meEsperança que à prática aquenina, muito esforçasenti ao participar la teoria formada da, tentava tirar os pelos que buscapés do chão pra cordo congresso dos vam justiça para da passar, mas não “sem terrinha” e os demais e cresconseguia. ver que haviam cimento humano “Pula!”. Novo frapara um Brasil de casso, como quando conquistado o todos. erramos os probledireito à educação Chegaram os mas sobre “atrito” e de qualidade tempos de re“queda livre” nas autrocesso, golpe, las de Física. opressão e não Em dado modescarto que posmento, entre revolta sam vir os de ditadura. E quando e desespero, a criança grita: - Mas o que eu tô fazendo de grito: - O que eu to fazendo de errado? errado? A História me responde, com seu E uma das mulheres responde, humor sarcástico: bem humorada: - Nada, só te falta prática. - Nada, só te falta prática. Entendo a proeminência em proContinuei, pensando que são muitos anos de vida que, para acer- tegermos as conquistas populares tar o bater da corda no chão, me na área da educação: as escolas do preparei, indo fundo nas questões campo, os bons professores das pede política e economia, buscando, riferias de todas as cidades e as cotas na história, elementos para enten- nas universidades ainda públicas. Maurini Souza,

V

EXPEDIENTE Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em na Bahia, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul. Esta é a edição 111 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir para o debate de ideias e a análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Franciele Petry Schramm e Laís Melo COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Gabriel Carriconde, Gustavo Vidal e Maurini Souza ARTICULISTAS Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Gibran Mendes e Joka Madruga DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian TIRAGEM SEMANAL 20 mil exemplares REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com IMPRESSÃO Grafinorte | Nei 41 99926-1113


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Brasil de Fato|PR Geral 3

Paraná, 14 a 20 de fevereiro de 2019

Governo Bolsonaro quer volta de manicômios

FRASE

Salário mínimo deveria ser de quase R$ 4 mil Os brasileiros trabalham muito e ganham pouco. Com isso, a capacidade de compra tem se reduzido nos últimos anos devido ao baixo reajuste do salário-mínimo em oposição à elevação da cesta básica. De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em janeiro de 2019, o salário-mínimo necessário para a manutenção de uma família de quatro pessoas deveria equivaler a R$ 3.928,73. Isso equivale a 3,94 vezes o mínimo já reajustado de R$ 998,00. Esses números mostram que os trabalhadores gastam muitas jornadas para conseguir comprar pelo menos uma cesta básica. “Em janeiro de 2019, com o reajuste de 4,61% no salário-mínimo, o tempo médio necessário para adquirir os produtos da cesta básica foi de 88 horas e 5 minutos”, calcula o Dieese. Na média do país, é uma pequena queda em relação a janeiro de 2018, quando era necessário trabalhar 89 horas e 29 minutos para comprar os itens básicos. Ou seja, os trabalhadores destinam, em janeiro de 2019, 43,52% da remuneração para adquirir os produtos.

“Registre-se a infinita capacidade de Jair Bolsonaro de atrair os holofotes falando barbaridades sucessivamente”

Cecília Figueiredo,

Saúde Popular

Disse o jornalista Ricardo Boechat, falecido esta semana, sobre o discurso do deputado Bolsonaro no impeachment de Dilma, no qual homenageou torturadores.

Divulgação | BAND

Mortes não são tragédias, são crimes Frédi Vasconcelos O rompimento da barragem de Brumadinho (MG) contabilizava 165 corpos nesta semana, podendo passar de 300 mortos. No Ninho do Urubu, centro de treinamentos do Flamengo, dez garotos entre 14 e 16 anos perderam suas vidas. Em comum, nos dois casos, a constatação de que se leis e medidas de segurança tivessem sido respeitadas, vidas poderiam ser salvas. No caso da Brumadinho, a Companhia Vale do Rio Doce fez o tipo de barragem

mais barata para rejeitos de minério, construiu refeitório e centro administrativo abaixo dessa barragem e instalou sirenes de alarme que não funcionaram. Difícil falar em acidente quando estudo da própria mineradora, de outubro de 2018, estima que com um possível rompimento da barragem morreriam mais de cem pessoas e os custos poderiam chegar a 1,5 bilhão de dólares. E as causas prováveis de colapso seriam erosão interna ou liquefação. Inspeções já tinham encontrado indícios de erosão e alagamento. Mas Mídia Ninja

nada foi feito. Segundo a Folha de S.Paulo, esse documento está sendo usado pelo Ministério Público de Minas Gerais em ação civil pública em que pede a adoção de medidas imediatas para evitar novos desastres, já que dez barragens estariam em situação de risco. Em nota, a Central Única dos Trabalhadores, CUT, afirma que a Vale do Rio Doce é responsável por um desastre criminoso em Minas Gerais. “Não foi uma tragédia. Poderia ter sido evitada com manutenção, investimentos em itens de segurança e fiscalização. Foi um crime.” Já no caso do Flamengo, o dormitório das divisões de base funcionava sem alvará da prefeitura e, principalmente, sem autorização do Corpo de Bombeiros, porque faltavam itens de segurança e um plano contra incêndios. O clube havia sido notificado 31 vezes por irregularidades antes da tragédia, mas também nada foi feito.

A hospitalização em manicômio terá centralidade no Ministério da Saúde do governo Bolsonaro (PSL). A nota divulgada na quarta-feira (6/2) reorientou as diretrizes da Política Nacional de Saúde Mental. Entre as alterações, também constam a compra de aparelhos de eletrochoques para o Sistema Único de Saúde, internação de crianças em hospitais psiquiátricos e abstinência para o tratamento de dependentes de álcool e outras drogas. O documento retira o protagonismo da política de redução de danos, adotada há 30 anos no país, após esforços do movimento de sanitaristas e de luta antimanicomial. Para o psiquiatra Roberto Tykanori, liderança da luta antimanicomial no Brasil, é mais um ato de desrespeito à democracia: “A lei 10.216 [que estabelece a Política Nacional de Saúde Mental] e a Reforma Psiquiátrica foram lançados após 12 anos de debate no Congresso e na sociedade, e efetivados em milhares de serviços pelo Brasil. Não há governo que tenha legitimidade para mudar o rumo unilateralmente. A nota técnica é mais um ato de desrespeito à democracia na sequência do desmonte das instituições civilizatórias que assola o país”, lamenta. Reprodução

Personagem de Jack Nicholson é submetido a eletrochoques no filme “Um estranho no ninho”


Brasil de Fato PR 4 Cidades

Com aumento, Curitiba pode ter ônibus mais caro do Brasil Diminuição de passageiros vira justificativa de empresários para aumentar mais ainda

PROPOSTAS DA PLENÁRIA POPULAR DO TRANSPORTE PÚBLICO

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Anular a licitação do transporte de 2010 para que se tenha um processo transparente

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Ana Carolina Caldas

Lafaiete Neves alerta que o aumento da tarifa pode causar um colapso no transporte coletivo de Curitiba

E

que, além do lucro, os empresários do transporte coletivo querem manter a licitação feita em 2010. “Essa licitação foi denunciada antes, durante e depois por nós. E foi alvo de ação do Ministério Público, com prisões de muita gente envolvida nas fraudes cometidas. Foi escrita

a quatro mãos por prefeitura e empresários.” André explica que “o contrato feito após a licitação traz coisas como remuneração aos empresários. Quanto mais caro for, mais as empresas recebem. E quem tem controle sobre a planilha real de custos são os próprios empresários”. Joka Madruga

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Controle da Planilha de Custos pela URBS

Debater sobre a migração para uma frota pública para que a prefeitura tenha controle dos gastos

Câmara Municipal de Curitiba

ntre as capitais do país, Curitiba estava em 2018 em segundo no ranking das tarifas mais caras, “perdendo” apenas para Porto Alegre, que cobrava R$ 4,30. Mas tudo indica que o primeiro lugar nesse campeonato fique com Curitiba em breve, já que o prefeito Rafael Greca anunciou, em dezembro, que o aumento em 2019 será “inevitável”. Atualmente, a tarifa é de R$ 4,25, mas deve passar para R$ 4,50 a partir de março. Representantes da Plenária Popular do Transporte Público de Curitiba dizem que o aumento poderia ser evitado se o prefeito não se submetesse aos empresários. André Machado, da plenária, destaca

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Para Lafaiete Neves, professor aposentado da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e especialista em transporte coletivo, “o que temos hoje é uma planilha de custos que vem lá dos anos 1980, com parâmetros inflacionados. Outro grande problema é que a URBS não tem controle dessa planilha.” Diminuição de passageiros Segundo informações do Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana, Setransp, o número de usuários do transporte coletivo caiu 1,61% em 2018, comparado ao ano anterior. “Existe uma queda de usuários, que têm deixado de usar o ônibus por ser caro, inclusive migran-

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Congelar os preços da tarifa

Implementar e dar funcionamento ao Conselho Municipal do Transporte

do para Uber e táxi. Com a fuga de passageiros, obriga-se, na lógica dos empresários, a aumentar a tarifa, como deve ocorrer agora, diz Lafaiete. “Com aumento, menos passageiros usarão e teremos um colapso no transporte da cidade”, complementa André. A diminuição da tarifa é possível, segundo posicionamento da plenária, se o prefeito não se submeter à lógica de lucro dos empresários, denunciar contratos e fizer uma repactuação para alterar os parâmetros inflados. Mas essa não parece a lógica por trás das ações do prefeito. “Uma das primeiras medidas de Rafael Greca foi anistiar multas milionárias dos empresários do transporte coletivo”, complementa André.


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Jurista diz que direito não está valendo na condenação de Lula Falta de caracterização de crimes são falhas graves em todo o processo, segundo Carlos Frederico Marés Arquivo Pessoal

CONDENAÇÃO

Ana Carolina Caldas

Erros na sentença contra Lula

A

juíza federal substituta Gabriela Hardt condenou, em 6/2, o ex-presidente Lula por corrupção e lavagem de dinheiro em ação da Lava Jato sobre o chamado “sítio de Atibaia”. Os principais argumentos utilizados pela juíza na sentença são depoimentos dados como delações premiadas, em que condenados negociam perdões em troca de denúncias a outras pessoas. Vários juristas já questionaram a qualidade jurídica da sentença, bem como a fragilidade e inconsistência de provas em todo o processo que levou o Lula à prisão. Em entrevista ao Brasil de Fato, o professor de Direito Carlos Frederico Marés faz uma análise sobre os últimos capítulos desses processos. Brasil de Fato | Como o senhor analisa a última sentença da juíza substituta Gabriela Hardt contra Lula? Carlos Marés | A sensação que dá ao ler a sentença é que ela fez apressadamente para que pudesse assinar e não deixar

Para o crime de corrupção passiva, pelo que Lula foi condenado, é exigido que se prove que recebeu algo para dar vantagem a uma empresa ou pessoa. Não há prova do que recebeu nem de que vantagem teria dado a empresas.

na mão do juiz que assumiu. Talvez nem ela nem Moro tivessem confiança que outros juízes seguiriam a mesma linha deles.

nenhuma novidade, ela segue a mesma linha de Sérgio Moro. Quer dizer, uma sentença juridicamente fraca e inconsistente.

O texto e argumentos usados por ela foram muito criticados por juristas. Qual sua opinião? A primeira coisa que se tinha de provar era que a propriedade, seja do sítio de Atibaia, seja do apartamento, era do Lula. Não existe essa prova nem antes nem agora. De novo, não aparecem provas. A segunda questão é relativa aos benefícios e melhorias nas propriedades. Não há provas materiais novamente nesse processo. Portanto, não tem

O senhor tem dito que o processo contra Lula é um desrespeito ao direito. Como isso se relaciona a esta última sentença? Do ponto de vista jurídico, a sentença da juíza Gabriela Hardt apenas confirma que não é o direito que está valendo para as condenações a Lula. Sendo assim, podemos falar que Lula é preso político. Digo isso porque as sentenças baseiam-se em juízos políticos. Não dá menor relevância para provas, não busca provas.

Lula foi condenado por lavagem de dinheiro, que acontece quando há depósitos frequentes no banco. Lula não tem nenhum depósito em sua conta. Lula foi condenado por atos de quando não tinha nenhum cargo público, portanto não poderia ter dado vantagens às empresas. As acusações são baseadas no depoimento do o empresário Léo Pinheiro, da OAS, que tenta obter há dois anos benefícios por um acordo de delação premiada. E ele disse que a reforma no sítio de Atibaia era propina, teria negociado com o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. Vaccari diz que isso não existiu, mas seu depoimento não foi levado em consideração. Reprodução

Entidades pressionam Supremo Tribunal Federal por criminalização da Lgbtifobia Redação No dia 13 (terça), o Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou o julgamento de duas ações que apontam suposta omissão do poder Legislativo nas votações de projetos que criminalizem a lgbtifobia. As ações foram movidas pela Associação Brasileira de Lésbicas, Gays

e Transgêneros (ABGLT) e pelo Partido Popular Socialista (PPS), exigindo condenação para crimes de homofobia e transfobia. Os projetos de lei tramitam na corte desde 2013. Os ministros discutem se todas as formas de ofensa, sendo elas individuais ou coletivas, contra a população LGBTI devem ser consideradas crimes. Há expectativa das principais organizações de que essas con-

dutas sejam enquadradas como crimes de racismo até uma definição do Legislativo sobre os casos. “Os movimentos LGBTI e parceiros estão em grande campanha para que o STF possa criminalizar lgbtifobia. E que possamos ter de fato leis que defendam e assegurem o direito a vida de uma população que só quer ter o direito de ir e vir sem ser julgado e recriminado pela socie-

dade”, afirma Dhyego Lymma, presidente da União Nacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, travestis e transsexuais do Paraná (UNA LGBT PR). No Paraná, o movimento LGBTI acompanhou ao longo do dia 13 o julgamento. Hoje, de acordo com dados da UNA, o Brasil mata uma pessoa LGBTI a cada 19 horas, sendo o país que mais mata travestis e transsexuais em todo o mundo.


de Fato PR 6Brasil Cidadania

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Mães pela Diversidade pedem Fronteira de criminalização da homofobia Venezuela e Julgamento deve ser retomado pelo STF nesta quinta Ana Carolina Caldas

Marise Félix da Silva, da Mães pela Diversidade, quer proteção para os filhos

Ana Carolina Caldas

N

o dia em que o Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou o julgamento de duas ações que pedem a criminalização da LGBTfobia, o grupo “Mães pela Diversidade” fez manifestação e acompanhou a sessão na Boca Maldita, no centro de Curitiba. Para Marise Félix da Silva, uma das organizadoras, “o objetivo de estar na rua é porque o Congresso tem empurrado com a barriga, há seis anos, a PUBLICIDADE

decisão de tornar a homofobia crime. A legislação é muito importante porque não temos nenhuma lei que proteja nossos filhos.” O terror que leva à luta Mãe de um homem trans de 30 anos, Marise conta que o sentimento que une mães e filhos nessa mobilização é o terror. “Que leva a gente para luta. Quero colocar minha cabeça no travesseiro e saber que meu filho pode sair, que vai conse-

guir trabalho, que vai poder namorar como qualquer outra pessoa.” Esse também é o motivo da psicóloga Denise Vilarim. Mãe de um filho bissexual, de 24 anos, que chegou a ser agredido na saída do curso de mestrado, diz ter buscado na ONG um porto seguro. “Meu filho foi agredido por grupos violentos que não aceitam a diferença, teve síndrome do pânico. Procurei na internet quem estivesse passando pelo mesmo que nós e há um ano resolvi me unir a este grupo, que é hoje um porto seguro.” Emocionada, diz “tenho medo de perder uma vida que gerei, que eu pari. O sentimento diário é de injustiça.” Votação na quinta O STF deve votar nesta quinta-feira, 14, em sessão extraordinária, as ações que pedem que atos de discriminação e violência contra a população LGBT se tornem crime.

Colômbia em disputa “Aqui não temos medo, somos um povo valente”, diz jovem venezuelana, moradora de região fronteiriça Fania Rodriguez

Fania Rodrigues, enviada especial à Venezuela A pequena cidade venezuelana de San António, no estado de Táchira e que faz fronteira com a Colômbia, está sob o olhar do mundo. Do outro lado da divisa, parecem soar os tambores da guerra, com a chegada do que foi anunciado como ajuda humanitária, aumentando a pressão e a ameaça de invasão estrangeira e militar à Venezuela. O Brasil de Fato está na fronteira entre os dois países para apurar sua real situação política e militar. No local, está a ponte internacional Las Tenditas, que foi notícia no mundo inteiro por conta do “bloqueio” que teria sido feito por militares venezuelanos para impedir a entrada de ajuda humanitária. No entanto, não foi mencionado que essa ponte nunca foi inaugurada. “A construção dessa ponte foi concluída há dois anos, mas nunca foram estabelecidas as aduanas. Essa ponte nunca foi utilizada”, explica a moradora Grécia Colmenares. No dia 11 de fevereiro, o local estava lotado de moradores da região, pois o governo venezuelano realizou operativos para distribuir medicamentos e alimentos. Grécia Colmenares, uma jovem de 23 anos, afirmou que seus companheiros estudantes passariam a noite em vigília nessa ponte. No dia seguinte, a oposição venezuelana e simpatizantes do deputado autoproclamado presidente do país, Juan Guaidó, convocaram uma marcha em San António contra o governo do presidente Nicolás Maduro. “Preferimos resguardar o lugar, porque vamos fazer uma atividade aqui com jovens de vários estados”, explica. E quando perguntada se a população venezuelana da região tem medo de uma invasão militar, a resposta saiu na ponta língua: “Aqui não estamos com medo, somos um povo valente, um povo de paz”.


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MP pede anulação do decreto de Greca sobre artistas de rua Medida que dificulta apresentações será debatida por vereadores Ana Carolina Caldas Atendendo demanda de artistas da cidade, o Ministério Público do Paraná (MPPR) ajuizou ação civil pública contra o decreto do prefeito Rafael Greca que dificulta a apresentação de artistas de rua em Curitiba. De acordo com a ação, o decreto afeta a liberdade de expressão e contraria as leis. “Por afetar negativamente a liberdade de expressão, criação e produção no campo artístico e cultural, restringir o acesso aos espaços de difusão e o direito à fruição dos bens culturais e estar em desacordo com a Lei Orgânica de Curitiba, o Plano Diretor Municipal, o

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Estatuto das Cidades e as constituições Federal e Estadual, o recém-editado decreto é considerado ilegal e inconstitucional.” O MPPR destaca ainda que o processo de elaboração da regulamentação não contou com a efetiva participação da classe artística, especialmente dos artistas de rua da cidade, maio-

res afetados pelas novas regras. Audiência Pública Com apoio dos vereadores Mestre Pop (PSC), Professora Josete (PT) e Julieta Reis (DEM), a Câmara Municipal de Curitiba irá realizar audiência pública no próximo dia 20 de fevereiro, às 13h30, para debater o tema.

DICAS MASTIGADAS

Pão de Beterraba

Ingredientes 1 beterraba média 1/2 xícara (chá) de água 3 ovos 15g de fermento biológico 1 pitada de sal

1 colher de creme de cebola 2 colheres (sopa) de açúcar 50 g de manteiga 500 g de farinha de trigo Gema para pincelar Reprodução

Arquivo | Arte de Rua CWB

Modo de Preparo Corte a beterraba em pedaços e bata no liquidificador com a água que cozinhou a Beterraba. Acrescente os 2 ovos, o fermento, o sal, o açúcar e a margarina. Bata até ficar bem misturado. Coloque em uma tigela e acrescente a farinha aos poucos. Amasse até formar uma massa que desgrude das mãos. Deixe crescer até dobrar de volume por cerca de 30 minutos. Modele o pão (ou os pães) e coloque em uma assadeira untada com óleo. Deixe crescer por mais 30 minutos. Pincele com a gema e leve para assar em forno moderado (170°) por 30 a 35 minutos.

“O Caderno Rosa da Senhora H”

LUZES DA CIDADE

Divulgação

Pedro Carrano

O conto de Auster Encontro Auster. Ele na minha casa. Auster do cigarro amargo e da respiração funda. Ele ri, move os lábios desenhados a carvão, me constrange fortemente. Auster não aparece sempre. Ele, quando vem, é pra revirar almoGibran Mendes

fadas e fi ltros de velhos sonhos. É pra me recordar dos encontros que marquei mesmo comigo e desisti até que todas as pessoas do mundo começassem a me esquecer. E pra que eu caísse no abismo fundo do esquecimento. Todos me esqueceram, menos o Auster, que se torna insuportável ao ponto que eu simplesmente lhe corto pulsos, gengivas e jugulares. No desespero do gesto sem volta, abro a porta de minha casa e busco fugir. Auster me olha com olhos abertos sem vida. Ele, desgraçado, havia escrito em livro exatamente essa cena que agora eu executo e que um dia ele tinha apenas lido. Auster despede-se dessa maldita forma. Eu apenas tranco a porta carcomida e de madeira. Rodo a chave duas vezes e meia por segurança. E vou pra rua. Mas por pouco, por muito pouco, não carrego Auster de vez comigo.

O quê: O Teatro Novelas Curitibanas abre a temporada de espetáculos de 2019 com a peça “O Caderno Rosa da Senhora H”, baseada em obra da escritora Hilda Hilst. A peça, produzida pela Boreal Companhia de Teatro, fica em cartaz de quintafeira a domingo, às 20h, até 3 de março. Classificação: 18 anos Onde: Teatro Novelas Curitibanas (Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 1.222) Quando: Até 3 de março, de quinta-feira a domingo, às 20h Quanto: Grátis, ingressos distribuídos uma hora antes do espetáculo.


de Fato PR 8Brasil Esportes

Paraná, 14 a 20 de fevereiro de 2019

Brasil de Fato PR

Times do interior chegam com força no primeiro turno do estadual Taça Barcímio Sicupira tem na disputa três representantes de fora da capital. O Coritiba é o único do trio de ferro Divulgação

Gabriel Carriconde

Coritiba se classifica para decisão do 1º turno do campeonato estadual

O

primeiro turno do Campeonato Paranaense vai chegando ao fim com clubes do interior demonstrando força, com três representantes nas semifinais da Taça Barcímio Sicupira Jr. Toledo, Cascavel e Operário disputam com o Coritiba quem será o campeão da primeira fase. Num modelo parecido com o Campeonato Carioca, a edição deste ano do campeonato paranaense é dividida em turno e returno. O campeão da chamada Taça Barcímio Sicupira Jr (turno) enfrentará na decisão do campeonato o vencedor da Taça Dirceu Krü-

ger (returno) em dois jogos. Até o caminho para o título, dez equipes jogam entre si, divididas em dois grupos, para definição de pontuação. Os dois melhores dos

grupos se classificam para as semifinais. Interior se destaca Três equipes, duas do oeste e uma dos Campos Gerais,

entrarão em campo no próconsistência e bom futebol, fazendo bons jogos contra ximo domingo às 17h para definir seus destinos em as equipes da capital e times como o Londrina. jogo único. O Operário vai Já o Operário, sensaa Toledo enfrentar o time ção do futebol brasileiro da casa no estádio Quatorcom dois acessos em meze de Dezembro. Já na vizinos de três nha Cascavel, anos no Camo Futebol CluAté o caminho be Cascavel, peonato Brapara o título, equipe de mesileiro, chega lhor campacomo favoridez equipes to. A equipe nha no camjogam entre si, é comandapeonato, medivididas em da por Gerson dirá forças Gusmão descom o Coritiba dois grupos de 2016 e vem em jogo tamsurpreendenbém às 17h. do com o deO Interior sempenho dentro e fora dos chega com as duas sensagramados. O elenco é prações do primeiro turno queticamente o mesmo há três rendo mostrar que não são temporadas. As fichas estão apenas acasos nesse início na mesa e estão chegando de temporada. FC Casca“pés vermelhos”. vel e Toledo demonstraram

Hora de atacar

Dois mundos

Torcida humana?

Por Cesar Caldas

Por Marcio Mittelbach

Por Gustavo Vidal

O Coritiba estreia na Copa do Brasil na noite desta quinta-feira (14/2) diante da União Recreativa dos Trabalhadores (URT), em Patos de Minas. O treinador Argel Fucks já observou e orientou a transição dos atletas oriundos das categorias de base e tem experimentado os reforços que chegaram em 2019. Destes últimos, seis formarão o time titular no interior mineiro: o zagueiro Sabino, o lateral Fabiano, o volante João Vítor e os meias Giovanni e Juan Alano, além do atacante Rodrigão. O esquema tático utilizado no segundo turno na Série B do ano passado, de resto herdado dos antecessores de Argel na função, não era visto com bons olhos pelo torcedor. Quem frequenta o estádio e grupos de discussão em redes sociais nota a mesma insatisfação nesse início de temporada, principalmente dada a pequena estatura técnica dos adversários enfrentados. Atacar é preciso.

Mais que a vaga para a segunda fase da Copa do Brasil, ao bater o Itabaiana em Alagoas por 5 a 2, dia 6/2, o Paraná Clube trouxe na mala R$ 625 mil referentes à premiação. Só por ter participado da Copa do Brasil, o tricolor já havia recebido R$ 525 mil. Durante toda a competição serão distribuídos R$ 278 milhões entre os 80 participantes. Uma média de R$ 3,4 milhões por equipe. Já no campeonato paranaense, em que o Paraná foi eliminado no primeiro turno, mesmo vencendo o Londrina por 2 a 1 no dia 10/2, a realidade é bem mais modesta. Independentemente de qual será a classificação, receberá R$ 500 mil. Todas as 12 equipes vão receber juntas um montante de R$ 5 milhões. Entre a necessidade da grana da Copa do Brasil e a sede de conquista no estadual, o Paraná segue em sua intertemporada à espera do próximo confronto pelo torneio nacional, previsto para o dia 20/2.

Na última semana, o Tribunal de Justiça Desportiva do Paraná determinou o fim da “torcida humana” do Athlético Paranaense. Imposto pela diretoria, com aval do Ministério Público, a medida previa a venda de ingressos sem a separação para torcedores adversários e impedia o uso de camiseta de visitantes na Arena. Curiosamente, a discussão sobre a “torcida única” no estádio rubro-negro é mais efetiva em competições da qual o Atlético se impõe. Peitar a Federação Paranaense parece mais fácil, como fez quando impediu a presença da torcida do Coritiba no clássico local. Mas, no ano passado, o clube não enfrentou a Conmebol para impor a torcida humana na Copa Sul-americana. Em 2019, o CAP enfrenta o Boca Juniors da Argentina pela Libertadores. Petraglia vai tentar impor sua vontade e fazer com que a barra brava La 12, maior torcida do time argentino, fique em meio aos torcedores rubro-negros?


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