Brasil de Fato Paraná _ edição 134

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Voz doce e potente

Paraná | p. 6

Alice Maneschy

Cultura | p. 7

Agroecologia: comida saudável na feira

Daniel Monteles faz show em Curitiba

Jornada começa na sexta-feira, 29 o çã lga u v Di

PARANÁ

Ano 4

Edição 134

15 a 21 de agosto de 2019

distribuição gratuita

www.brasildefato.com.br/parana Eduardo Matysiak

MAIS DE 10 MIL PELA EDUCAÇÃO Ato em Curitiba defende universidade pública Brasil | p. 5

SAÚDE EM RISCO Fim do Mais Médicos e corte de investimentos piora situação dos mais pobres

Divulgação

Editorial | p. 2

A era da ignorância Governo Bolsonaro rejeita estudos científicos Geral | p. 3

Contra a venda da Copel Em 2001, Assembleia Legislativa foi ocupada


de Fato PR 2Brasil Opinião

Paraná, 15 a 21 de agosto de 2019

EDITORIAL

Brasil de Fato PR

SEMANA

Rejeição de Bolsonaro à ciência leva o Brasil à ignorância

U

ma das marcas do governo de Bolsonaro é a rejeição à ciência. A posição do governo sobre relações internacionais, meio ambiente e direitos humanos está assentada em teses sem qualquer apego à racionalidade nem compromisso com pesquisas sérias. Dentre os episódios marcantes sobre isso, está a exoneração do diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) por divulgar dados acerca do aumento do desmatamento na Amazônia. Se a verdade não interessa ao governo, ele proíbe que a verdade seja dita. Outro acontecimento recente foi o parecer da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) rejeitando auxílio acadêmico a evento que debaterá democracia e Constituição, sob o argumento de que se trata de “militância política”. A retirada de algumas questões sobre fonte de renda, formação escolar e bens de consumo do Censo de 2020 é outro exemplo. O governo não quer que sejam produzidas informações sobre as condições de vida da população. O ataque à produção de conhecimento entrega as universidades à iniciativa privada, colocando o país distante da soberania científica e tecnológica. É por tudo isso que as mobilizações em defesa educação e da ciência, como as do dia 13, são cruciais para o presente e para o futuro do Brasil.

OPINIÃO

A quem serve o conhecimento produzido no Brasil?

Daniel Mittelbach, coordenador do

Sindicato dos Trabalhadores em Educação das Instituições Federais de Ensino Superior no Estado do Paraná, Sinditest

V

ocê sabia que mais de 90% da ciência no Brasil é produzida pelas universidades públicas? E do que é feita essa universidade? O ensino, a pesquisa e a extensão são os três pilares da produção e disseminação do conhecimento científico nessas instituições. O ensino, principalmente nos cursos de graduação, é o responsável pela formação acadêmica de milhares de jovens que tiveram acesso aos bancos universitários facilitados por diversas políticas públicas ao longo dos últimos 15 anos. A pesquisa, além de contribuir na

formação de mestres e doutores, é a ponta de lança na produção de novos saberes e contribui diretamente com o avanço da ciência no Brasil. A extensão fomenta o desenvolvimento da arte e da cultura, bem como se desdobra em ações, programas e projetos em que a universidade devolve diretamente para a sociedade o conhecimento que produz. Em 15 de agosto se encerra o prazo dado pelo Ministério da Educação para a consulta pública sobre o Programa Future-se, lançado há um mês. Sem qualquer diálogo com as universidades e outras entidades, o MEC lançou mão de uma forte campanha midiática para apresentar e defender o programa, como se fosse a salvação do ensino superior brasileiro. Mas, ao se debruçar sobre a

proposta, quase todas as universidades federais já se posicionaram contra esse modelo. Porque a ideia do governo é terceirizar a gestão das universidades para organizações sociais e criar um fundo de investimentos para a transferência de recursos públicos à iniciativa privada. Além disso, o programa visa a financiar apenas pesquisas que deem lucro ao mercado, deixando de lado áreas de interesse social. E, mais grave, o Future-se prevê a possibilidade de abrir os hospitais universitários para os planos de saúde, destruindo a ideia do SUS público e gratuito para todos. É preciso que a sociedade diga NÃO ao Future-se, pois, do contrário, esse será o fim das universidades públicas no Brasil.

EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 134 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas e Laís Melo COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Bárbara Lia e Manoel Ramires ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Gibran Mendes e Wellington Lenon DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian TIRAGEM SEMANAL 20 mil exemplares REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com IMPRESSÃO Grafinorte | Nei 41 99926-1113


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Paraná, 15 a 21 de agosto de 2019

FRASE DA SEMANA

MP de Bolsonaro permite trabalhar quatro domingos seguidos Que tal passar um mês inteiro trabalhando aos domingos e sem folga? É isso que autoriza a MP da Liberdade econômica do presidente Jair Bolsonaro (PSL) aprovada pelos deputados federais no dia 13. O artigo 67 da CLT define que os trabalhadores têm direito a 24 horas consecutivas de descanso e que uma dessas folgas deve ocorrer pelo menos uma vez no mês. Contudo, a nova regra aprovada pelos parlamentares permite que esses trabalhadores trabalhem até quatro domingos seguidos antes de folgar. A regra podia ser ainda pior. A intenção do governo era permitir trabalhar até sete domingos consecutivos. Contudo, por intervenção da CUT, o presidente Rodrigo Maia (DEM) aceitou reduzir esse prazo para quatro. Em outro trecho da MP se retira a “exigência” do descanso e é criada “a possibilidade”, de acordo com o interesse do empregador. Outra mudança que afeta principalmente os trabalhadores do comércio e do setor de serviços como shoppings e supermercados acaba com o “pagamento em dobro do tempo trabalhado nesses dias se a folga for determinada para outro dia da semana”, conforme site da Câmara.

“Não podemos permitir que o governo remova as famílias quilombolas do seu território ancestral”

100 mil camponesas

disse a deputada federal Áurea Carolina (PSOL-MG), na última terça (13), ao portal “Alma Preta”. A deputada defende que o Estado brasileiro consulte as comunidades quilombolas ameaçadas de perder seus territórios com o acordo para a exploração comercial da base militar de Alcântara, no Maranhão. Divulgação

Foi com brilho nos olhos que a agricultora Maria Anecy Martins, de 45 anos, chegou a Brasília (DF) esta semana para participar da Marcha das Margaridas 2019. A mobilização reuniu mais de 100 mil mulheres camponesas e foi encerrada, na quarta-feira (14), com grande ato que tomou as ruas da capital. Vinda do interior do Maranhão, Anecy viajou mais de dois dias, enfrentou problemas na estrada e o cansaço físico para participar do evento, que é um símbolo da luta popular no Brasil. Giorgia Prates

Há 18 anos, povo ocupou Alep contra venda da Copel Divulgação

Manoel Ramires Em 2001, o plenário da Assembleia Legislativa do Paraná era ocupado por paranaenses contra a venda da Copel. No dia 15 de março de 2001, contrariando abaixo-assinado com 200 mil assinaturas e a vontade do povo organizado em mais de 400 entidades, o governo Jaime Lerner prosseguia com a ação de vender sua empresa de energia. “A população passou a rechaçar amplamente a proposta de venda, opinião que ficou comprovada por pesquisas realizada à época: mais de 90% dos paranaenses defendiam que a Copel continuasse pública”, comenta Cícero Martins, diretor do Senge-PR. Porém, mesmo com 20 mil pessoas nas ruas, o legislativo aprovou, no dia 20 de agosto, a venda da empresa. A votação foi aperta-

FÓRUM No próximo dia 30 de agosto será lançado o Fórum Paranaense em Defesa das Estatais. O governador Ratinho Junior planeja vender a Copel Telecom e a Compagas. da: 27 votos a favor e 26 contrários. Essa votação ocorreu em meio a denúncias de falta de transparência. Uma delas citava que a Copel valia R$ 14 bilhões, sendo que o valor a ser vendido estava em R$ 4,32 bilhões. À época, o então senador Roberto Requião (MDB) disse que a privatização traria prejuízo aos paranaenses. “A Copel venderá energia preferencialmente onde o preço for mais atrativo, o que prejudica as pequenas comunidades do interior do estado”, destacou no Senado.

Luta por direitos Falta de compradores Foi uma vitória da mobilização popular que manteve como patrimônio uma empresa pública eficiente e ágil. A empresa não foi privatizada por falta de compradores. Duas tentativas em 2001 não tiveram sucesso. Em 25 de janeiro de 2002, o governador Jaime Lerner anunciou a desistência da venda, alegando mudança na política do setor energético e a instabilidade econômica mundial após o 11 de setembro, quando ocorreu o atentado às torres gêmeas, em Nova York.

O evento trouxe como debate político uma plataforma que reforça a luta por direitos, como a defesa dos serviços de saúde e educação públicas, o combate à violência contra a mulher, a preservação da Previdência Social, entre outros. Nesse sentido, a marcha é também uma forma de compartilhar anseios comuns e reforçar o horizonte da luta popular. A marcha, que ocorre a cada quatro anos, reúne mulheres do campo, da floresta e das águas. Nesta edição, o evento contou com um reforço especial das participantes da 1ª Marcha das Mulheres Indígenas.


de Fato PR 4Brasil Saúde

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Foi totalmente sem noção acabar com o Mais Médicos Doutora em saúde pública, Alaerte Martins fala nesta entrevista sobre os efeitos do empobrecimento e a diminuição dos investimentos na saúde Pedro Carrano e Frédi Vasconcelos

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rasil de Fato Paraná – Como especialista, qual o impacto do atual empobrecimento da maioria da população e da diminuição dos investimentos em saúde? Alaerte Martins – Quando a gente fala em saúde, existem dois indicadores que são universais, a taxa de mortalidade materna e de mortalidade infantil. Se a saúde piora, as taxas aumentam imediatamente. Se as pessoas não têm emprego, ganham mal, vão se alimentar mal, com toda a certeza isso piora a saúde. E, desde o impeachment da presidente Dilma, a mortalidade infantil já aumentou. Com a piora de condições de vida dos mais pobres, aumenta a demanda pela saúde pública, e daí cortam-se recursos do setor, como fica? A questão do financiamento é uma grande luta desde o princípio do SUS. E o que a gente tem visto no atual governo foi

Divulgação

praticamente o fim dos conselhos de segurança alimentar e nutricional, o corte de medicamentos da farmácia básica do SUS e o fim do programa Mais Médicos. A grande mudança que a gente precisa fazer é implantar um modelo em que, em lugar de fazer uma consulta quando está doente, os profissionais de saúde vão até a casa das pessoas conversar e evitar que fiquem doentes, como faziam as equipes do Mais Médicos. O nosso problema é que tratamos da doença, não da saúde das pessoas. Mas de 70 cidades do Paraná estão sem médico desde o fim do programa, por que isso? São os municípios pequenos, com baixa arrecadação, que não conseguem contratar os profissionais, por isso precisavam do Mais Médicos. Agora, acham que vão contratar pagando o mesmo que antes, mas pela CLT (em que terão descontos maiores, receberão menos). Você acha que os médicos vão para essas cidades? Não vão. Foi totalmente sem noção ter acabado com o Mais Médicos.

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Uma a cada quatro mulheres teve direitos desrespeitados no parto Ana Carolina Caldas

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fender a mulher na hora do parto, ambiente sem privacidade e acolhimento e várias outras práticas que desrespeitam o direito da mulher em decidir sobre o seu corpo e a forma de trazer ao mundo seu filho são consideradas violências obstétricas. Ou seja, agressão à mulher na hora em que ela mais precisa de respeito e carinho e garantia dos seus direitos. Esse tema foi debatido na audiência pública “Violência Obstétrica e Direitos da Gestante, na Assembleia Legislativa do Paraná, por

iniciativa do mandato do deputado Goura (PDT). Na audiência, a estudante Luana Oliveira fez relato emocionado do parto da sua segunda filha, realizado em Araucária. “Assim que cheguei ao hospital me falaram que não teria remédio para não ter dor e só para ter dor, no caso a ocitocina. Minha filha ficou presa, pois não tive dilatação. Me negaram o direito de acompanhante, tive privação de água e comida. O médico fez episiotomia (incisão para ampliar o canal do parto) sem me perguntar e sem anestesia.” Traumatizada, buscou terapia.

Para a pesquisadora Mariana Silvino Paris, da Clínica de Direitos Humanos da UFPR, “situações como essa são muito comuns no Brasil, e muitas mulheres nem identificam que estão sofrendo violência obstétrica.” Alguns dados vêm sendo compilados por Ongs e entidades. Segundo pesquisa da Fiocruz, “Nascer no Brasil”, 37% das mulheres brasileiras sofreram pressão no útero para forçar a descida do bebê e 56% sofreram episiotomia sem autorização. Em 2010 a Perseu Abramo concluiu que uma em cada 4 brasileiras já sofreu essa violência.


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Paraná, 15 a 21 de agosto de 2019 Eduardo Matysiak

Juízes escrevem carta a Lula e exigem liberdade imediata Associação de magistrados argumenta que Justiça “político-partidária” ameaça Estado Democrático de Direito Emilly Dulce

Mais de 10 mil protestam em Curitiba contra os cortes na educação Professores, técnicos e estudantes posicionam-se contra o Future-se, projeto do MEC para privatizar universidades públicas Ana Carolina Caldas

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Praça Santos Andrade ficou lotada de manifestantes, na terça, 13, Dia Nacional de Mobilização em Defesa da Educação. Mais de dez mil pessoas se reuniram em ato e depois saíram em passeata pelas ruas centrais de Curitiba. Estudantes de universidades federais e estaduais pediram a união da sociedade para defender a educação pública. “Chegamos a uma situação em que os cortes farão a universidade parar. O governo, para deixar as universidades sem saída, apresentou o Future-se, que é na prática uma proposta de privatização da universidade pública”, disse Lucas Gracia, estudante de Pedagogia e do comando de mobilização de greve na Federal do Paraná.

Trabalhadores da educação Professores, técnicos e movimentos sociais participaram do Dia Nacional de Mobilização em defesa da Educação. Daniel Mittelbach, coordenador geral do Sindicato de Trabalhadores em Universidades Federais do Paraná (Sinditest), disse que a posição da maioria dos técnicos universitários é contra o Future-se. “É uma tentativa de

“O governo, para deixar as universidades sem saída, apresentou o Future-se, que é na prática uma proposta de privatização”, Lucas Gracia

privatizar a universidade, por isso queremos fazer um chamado à população em geral para que se una a nós e defenda um dos maiores patrimônios brasileiros, a educação pública.” Já para o professor Paulo Vieira Neto, presidente da Associação dos Professores da Universidade Federal do Paraná (Apuf-Pr), o momento é de constante diálogo e união. “Realizamos nesta tarde uma assembleia comunitária que se posicionou contra o projeto do Ministério da Educação, propondo alternativas para trazer o projeto de universidade que queremos, inclusiva, democrática, o que está sendo desconsiderado pelo atual governo.” Além da capital, houve atos em cidades paranaenses como em Paranaguá, Cascavel, Francisco Beltrão e Foz de Iguaçu.

E

m visita ao ex-presidente Lula, na quinta, 8, comitiva de magistrados da Associação Juízes para a Democracia (AJD) entregou carta aberta em que denuncia sua prisão como política. Segundo o documento, as arbitrariedades contra o ex-presidente violam o estado democrático de direito. A mensagem foi levada a Lula por Raduan Nassar, escritor agraciado com o Prêmio Camões, e o jornalista Fernando Morais, no interior da Superintendência da Polícia Federal, onde o petista está preso desde abril de 2018. Os juízes criticam a atuação político-partidária contra Lula e manifestam sua “indignação, irresignação e repúdio às distorções e ilicitudes praticadas, colocando-se ao lado daqueles que questionam a lisura, a isen-

ção e a justiça dos processos” contra o ex-presidente. “A liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, neste momento, é requisito essencial para a retomada do estado democrático de direito em nosso país, condição para a superação da crise político-institucional em curso e o mais pronto retorno possível à normalidade democrática”, diz o documento de nove páginas. Em entrevista ao Brasil de Fato, Reginaldo Melhado, juiz titular da 6ª Vara do Trabalho de Londrina (PR) e membro da AJD, afirma que não se trata de uma revisão do julgamento, mas da anulação do processo. Juiz há 26 anos, Melhado também analisou as revelações da Vaza Jato e disse que, pelo que se lê nos diálogos, “o ex-presidente Lula já estava condenado” antes do julgamento. Ricardo Stuckert


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Wellington Lenon

Feira proporciona contato entre produtores e consumidores de alimentos saudáveis Evento acontece dentro da jornada de Agroecologia, em Curitiba Redação

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entro da programação da Jornada de Agroecologia, que acontece em Curitiba, está a Feira da Agrobiodiversidade Camponesa e Popular e Culinária da Terra, que ocupará a Praça Santos Andrade, das 8h às 20h entre 29 a 31 de agosto, e das 8h às 16h, em 1º. de setembro. Participarão cerca de 100 coletivos de produtores, de produtos in natura, processados, artesanato, livros, sementes e mudas crioulas. Entre eles, 21 cooperativas do Paraná, a cooperativa central da reforma agrária do Rio Grande do Sul, a cooperativa central da reforma agrária de Santa Catarina, aproximadamente 15 grupos quilombolas, indígenas e da agricultura familiar em geral. Além de outros 20 empreendimentos da economia solidária. Nos quatro dias, haverá ainda extensa programação cultural. Para Cristiano Czycza, inte-

grante da equipe de organização da feira e militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), esse será um espaço de diálogo e conhecimento entre consumidores e produtores de comida saudável. “Nas jornadas de agroecologia, a gente vem discutindo a necessidade de diálogo com a sociedade, com o público consumidor que está nas cidades, além de que precisamos ampliar os espaços de comercialização”, diz.

Para ele, esse intercâmbio traz vantagens para os dois lados porque os consumidores podem comprar diretamente e o produtor comercializar, com preços acessíveis, sem atravessador. “Isso possibilita manter a produção de alimentos saudáveis e o consumidor saber que tipo de alimento está comendo, o que é importante neste momento em que tantos agrotóxicos (venenos) estão sendo liberados”, conclui. Wellington Lenon

Jornada ocorre a partir do dia 29 Redação A 18ª Jornada de Agroecologia do Paraná acontece de 29 de agosto a 1º. de setembro deste ano na Praça Santos Andrade, centro de Curitiba. Além da feira, o Pátio da Reitoria da Universidade Federal do Paraná (UFPR) vai receber o “Túnel do Tempo”, uma espécie de museu sobre a história da agricultura e da luta pela terra, construído com a participação de estudantes de escolas públicas. Conferências, seminários, rodas de conversas e oficinas também vão garantir a formação em temas relacionados à jornada. A programação completa e mais informações sobre como participar do evento serão divulgadas em breve.

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CAMPANHA DE ARRECADAÇÃO Para viabilizar a edição deste ano, as cerca de 70 organizações integrantes da Jornada lançaram campanha de financiamento coletivo. Para contribuições feitas a partir da plataforma online Kickante, há sete opções de valores, que variam de R$ 25 a R$ 1 mil. Entre as recompensas estão alimentos agroecológicos e produtos personalizados com a marca da Jornada. Pela internet, acesse kickante.com.br/campanhas/18a-jornada-agroecologia


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Uma voz que canta territórios e ancestralidade

Alice Maneschy

DICAS MASTIGADAS

Caldinho de Caranguejo Ingredientes 2 unidades de caranguejo 2 tomates picados 1 cebola picada 4 dentes de alho Cheiro verde picado a gosto, 1 colher de sopa de sal 1 colher (chá) de corante ou páprica 2 colheres (sopa) de azeite 1 pimentão picado 1/2 kg de mandioca

Daniel Monteles traz “Canto o Mistério” para Curitiba nas próximas semanas Laís Melo De uma sonoridade doce e potente, Daniel Monteles nasceu em São Luís do Maranhão e, atualmente, reside em Curitiba. É desse trânsito territorial, de suas inspirações poéticas e musicais na identidade do nosso povo, da música popular, da literatura, dos terreiros de mina aos de candomblé, que o artista-intérprete traz para os palcos da capital paranaense o espetáculo “Canto o mistério”. O repertório foi selecionado com cuidado pelo artista nordestino que carrega em sua voz a identidade negra africana que, conforme conta, são elementos que mudaram sua vida como um todo. “Mistério é segredo e vice-versa. Quando se fala em música, qualquer ritmo, segmento e afins, existe por trás dela um segredo tal como a religião “can-

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domblé”, segredos que são desvendados ou não. Mistérios que só a natureza tem e a música possui essa fórmula misteriosa de, através da oralidade, mexer com tudo que existe em nós enquanto seres humanos. A natureza me dá o que o tempo grita no meu ouvido. Vou e faço”, explica. Trajetória Daniel iniciou sua vida musical em um palco de igreja aos 17 anos e, em alguns projetos literários, foi ganhando visibilidade no cenário artístico de sua cidade, como com o livro “Máquinas de Maria”, berço do qual nasceram suas inspirações na casa de sua avó. Suas raízes estão na cultura preta popular, nos sambistas as rodas e cantos ancestrais. Maria Bethânia, Roque Ferreira, Clementina de Jesus, Ivone Lara e Itaércio Rocha estão entre suas referências.

Modo de Preparo Refogue o alho, cebola e pimentão, acrescente o sal e a páprica. Acrescente os caranguejos e deixe cozinhar por 20min. Retire os caranguejos e reserve o caldo. Cozinhe a mandioca separadamente e bata no liquidificador com dois copos de caldo e acrescente água até ficar fácil de bater. Junte a mandioca batida no caldo de caranguejo e deixe ferver junto. Acrescente o cheiro verde e sirva quentinho com as patinhas de acompanhamento.

Diva Braga

Para ficar por dentro Espetáculo “Canto o Mistério” 16 de agosto, às 20h, casa Ocitocina Largo (Des. Ermelino de Leão, 472) 29 de agosto, às 20h, no Espaço Fantástico das Artes Quanto: R$ 15

LUZES DA CIDADE

Gibran Mendes

Bárbara Lia

Sigma de saudade O pai colocava o teodolito no quintal para nos mostrar a lua. Ele vivia a recitar poesia e despertou a poeta em mim. Amava Vicente de Carvalho. Noites na varanda e histórias de assombração. A mais assustadora? Uma noite encontrou dois homens – já mortos – sentados no mourão da porteira. Quis dizer boa noite, mas estava a lidar com a fúria de seu cavalo, foi só quando o rabo do cavalo balançou no ar e atravessou os corpos que ele entendeu. Ele tinha orgulho da minha mente que captava tudo. Só uma coisa

me abala: o Sigma. Ele usava um anel com o Sigma. Um dia perguntei a razão e ele disse que era o “S” do nosso sobrenome. Eu era pequena, entendo seu silêncio. Com o tempo descobri que ele era Integralista. Ele era “camisa verde”, eu o via receber cartas de Plínio Salgado. O Sigma era da Ação Integralista Brasileira (AIB). Depois da Anistia descobri o que houve nos anos de chumbo e disse: se eu não fosse criança e vivesse no interior, creio que eu estaria entre os que você chamava – terroristas. Ele disse apenas: eu sei.


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Paraná, 15 a 21 de agosto de 2019

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Encaixando as peças Por Cesar Caldas Mesmo com a existência de muitos jogadores com capacidade técnica bem inferior à desejável pela nação coxa-branca, o técnico Umberto Louzer vai aos poucos conseguindo pelo menos equilibrar os setores do time do Coritiba. O treinador tem “tirado leite de pedra”, ao encaixar os atletas em um sistema tático voltado a correr poucos riscos na defesa e aproveitar bem as oportunidades de gol. Isso explica a invencibilidade de sete jogos seguidos, alcançada ao vencer o Brasil de Pelotas na última terça-feira (13/8) no Couto. A dupla de zaga (Rafael Lima e Sabino) está em avançado processo de entrosamento com o volante Matheus Sales. Se necessário, um dos alas tem recuado para ajudar, o que ocorre também com o armador Juan Alano. À frente, o retorno de Rafinha (que se recupera de lesão) enche de esperança o alviverde para os últimos quatro jogos de agosto.

Futebol e política em tempos de autoritarismo Bolsonaro vê no futebol possibilidade para se aproximar do povo Fabrício Farias,

Belo Horizonte (BH)

Enfim, um bom negócio Por Marcio Mittelbach Figura certa nas rodas de bate-papo da torcida tricolor, o volante Jhonny Lucas, o diamante da Vila, como ficou conhecido, parece que enfi m será negociado. Vai para o Sint-Truidense, da Bélgica. No início de 2019, com a frustração de algumas receitas, a diretoria do Paraná Clube colocou a venda do atleta de 18 anos como uma possível salvação financeira. Em fevereiro, após uma viagem de mais de duas semanas pela Europa, o presidente, Leonardo Oliveira, deu a venda do atleta para o Braga de Portugal como certa, o que não se concretizou. O valor da negociação ainda não foi divulgado. Pode ter chegado à casa dos 2,5 milhões de euros. Se assim for, seria a maior negociação da nossa história. O Paraná ainda não oficializou o assunto, mas esse poder de negociação já simboliza uma mudança de patamar para um clube tão acostumado a fornecer joias de mão beijada.

O ingresso mais caro do Brasil Por Roger Pereira O Athletico disputou jogos gigantescos na Arena da Baixada nesta temporada. Copa do Brasil contra o Flamengo, dois jogos contra o Boca Juniors pela Libertadores, decisão da Recopa contra o River Plate. Mas o recorde de público da Arena é uma partida de segunda divisão, entre Paraná Clube e Internacional, em 2017. Levantamento feito pelo Furacao.com mostra a razão disso. O Athletico tem, hoje, o ingresso avulso mais caro do Brasil, R$ 150. O líder do Brasileirão, Santos, tem ingresso a R$ 40. O valor do ingresso na Baixada é idêntico ao da mensalidade de sócio do clube, o que mostra a preferência por incentivar o torcedor a ser sócio. Mas essa política espanta torcedores esporádicos, que fariam um esforço para conseguir ir aos jogos mais importantes e afasta, também, o potencial torcedor, que poderia ir pela primeira vez ao estádio e, no futuro, tornar-se sócio.

J

á ouvi de um jornalista esportivo da mais poderosa emissora do país que futebol e política não se misturam. A declaração, à época, levantou certa polêmica por ser absolutamente sem sentido. Como não enxergar a relação entre política e futebol, se pensarmos na figura de Sócrates na luta pelas Diretas Já, bem como no movimento da Democracia Corintiana? Quem não se lembra das comemorações com o punho cerrado de Reinaldo, saudando os Panteras Negras?

Impossível pensarmos na separação entre futebol e política simplesmente porque tanto um quanto o outro compartilham o mesmo momento da história. Nesse momento de escalada do autoritarismo, não é nenhuma surpresa que os efeitos da política sejam sentidos também no futebol. Parece que quem está ocupando a presidência, como populista que é, enxerga no futebol uma possibilidade para se aproximar do povo, enquanto toca um projeto de destruição nacional. Menos mal que, nas vezes em que se atreveu a pisar nos gramados brasilei-

ros, foi vaiado. Foi o que ocorreu na Copa América contra a Argentina ou na partida entre Palmeiras e Vasco, pelo Brasileiro. Porém, não podemos subestimar os efeitos que esse autoritarismo pode ter na sociedade. Há poucos dias um torcedor corintiano foi agredido e detido em Itaquera por “homenagear” o presidente com o tradicional corinho que você bem sabe. Que futebol e política se misturam, não há a menor dúvida. O único problema é quando essa mistura transforma o esporte mais popular do planeta em uma arma contra o povo.

ELAS POR ELA Fernanda Haag

Que venha o mata-mata A primeira fase do Brasileirão série A1 chegou ao fim. Já conhecemos os classificados para as quartas de final, os rebaixados e o pessoal que ficou sem muitas emoções, no meio da tabela. Lá embaixo, Vitória-PE, Foz Cataratas, São Francisco e Sport jogarão a série A2 no próximo ano, buscando retornar à elite do futebol nacional. Já a fase eliminatória da A1 promete grandes jogos, com as partidas de ida já nesta semana. O Corinthians, com a marca histórica de 25 vitórias consecutivas, enfrenta o tradicional São José. Flamengo e In-

ternacional repetem um clássico do futebol masculino. As sereias da Vila enfrentam a Ferroviária e ainda temos Kindermann e Audax. Enquanto isso, já temos os finalistas da série A2: o Cruzeiro despachou o Grêmio, e o São Paulo arrancou um empate do Palmeiras, em jogo com arbitragem polêmica — como havia ganhado o primeiro prélio, garantiu a vaga na final. O embate entre São Paulo e Cruzeiro começa no domingo, dia 18, às 14 horas, com transmissão pela TV aberta. Apertem os cintos, que o mata-mata promete!


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