Brasil de Fato - Edição Especial

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Educação | p. 6

Cultural | p. 8

Escola saudável

Pra esquentar Curitiba

Modelo de negócio contamina comida e meio ambiente por lucro

Programa leva merenda de qualidade a estudantes e aumenta renda de produtores

Otto, Banda Mais Bonita da Cidade e mais 20 atrações culturais gratuitas

Divulgação

O agro é tóxico

PARANÁ

Ano 5

Edição Especial

junho de 2022

distribuição gratuita

www.brasildefatopr.com.br Fotos: Wellington Lenon

Comida sem veneno e futuro saudável para o planeta A 19ª Jornada de Agroecologia chega a Curitiba entre os dias 22 a 26 de junho. Serão dezenas de atividades, feira, shows, oficinas, seminários e exposições, tudo com participação gratuita. Participe de um dos maiores eventos da Agroecologia do Brasil

Local: Campus Rebouças da UFPR - Av. Sete de Setembro, 2645, bairro Rebouças, Curitiba (PR)

EDIÇÃO ESPECIAL


Brasil de Fato PR 2 Opinião

Jornada para aprender e ensinar editorial

O

Paraná é o terceiro estado que mais utiliza agrotóxicos no Brasil. A soja, o milho e o trigo consomem, juntos, 79,55% de todo esse veneno, com a maior parte desses produtos exportada. Dos 399 municípios paranaenses, 326 têm as águas contaminadas com ao menos 27 tipos de venenos, e a cada 10 horas uma pessoa é intoxicada por agrotóxico no Paraná. É um modelo de produção violento para a saúde da população e da natureza, com privatização do lucro e

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socialização dos danos. Mas a contraposição a esse modelo existe, é possível e tem sido impulsionada no campo e na cidade: a agroecologia. Ciência, prática, conhecimento e movimento são os pilares para produzir alimentos saudáveis, adaptados às realidades sociais e culturais regionais. A agroecologia aproxima os produtores - agricultores, camponeses, povos indígenas e comunidades tradicionais – dos consumidores, com sistemas de produção

justos e adequados. De 22 a 26 de junho, em Curitiba, será possível conhecer um pouco mais desse modelo na 19ª Jornada de Agroecologia, com grande feira, debates, atividades culturais, oficinas e seminários. A Jornada é um dos maiores eventos brasileiros da agroecologia, fruto do trabalho conjunto de dezenas de organizações, universidades e movimentos. É um momento especial para conhecer, trocar, ensinar a aprender!

Parece, mas não é... opinião

Ceres Hadich,

integrante da direção nacional do MST e da coordenação da Jornada de Agroecologia

E

ntre versos e reversos... Difícil imaginar como chegamos a esse ponto. Fundo do poço? Ao que parece, para alguns, ainda não. 33 milhões de brasileiros passam fome no Brasil (Rede Penssan). Cortes estruturais nos programas sociais, desmonte das políticas públicas de reforma agrária e agricultura familiar. Retiradas de direitos, inflação, violências... Desde o início do governo Bolsonaro, quase 1.750 novos agrotóxicos foram liberados. Destes, 30% são proibidos na União Europeia (DOU/EU Pesticide Database/Campanha Contra os Agrotóxicos). Quem é o agro? Apresente-se. Desmascare-se... “Agro é tech, agro é pop, agro é tudo?” Agro é tóxico, queima, sequestra, desmata e mata. O agronegócio é a grande mentira do Brasil. De que governo, de que Brasil e de que futuro estamos falando? Que país é esse? Não é possível, passados mais de cinco séculos, seguirmos assumindo o papel dos colonizados, escravizados, que reproduzem a lógica da exportação e da servidão aos interesses

das grandes potências e poderosos. Será que um dia ousaremos sonhar com um povo livre, soberano, que se identifique em suas raízes, crenças e rostos? Pensar, e mais que isso, construir a AGROECOLOGIA é isso. É cultura, movimento e transformação. Agroecologia é fazer possível a arte de humanizar. É trazer a harmonia das relações da natureza às relações de produção e econômicas, por meio das ações sociais e cooperadas.

“Agro é tech, agro é pop, agro é tudo?” Agro é tóxico, queima, sequestra, desmata e mata É experimentar o novo, a esperança, a coerência e a aposta de que comer é direito, é um ato político, e, mais que isso, é um ato de resistência e de fraternidade. Agroecologia é ter comida de verdade na mesa de todos e todas. Por isso, deve ser cultivada e defendida por todos e para todos e todas. Aliás, você tem fome de quê?

Agora é sua vez! Entre em contato por e-mail ou pelas redes sociais, comente uma de nossas matérias e apareça aqui no BdF impresso

FALA POVO

EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição Especial 19ª Jornada de Agroecologia do Brasil de Fato Paraná, que circulará na quinta-feira. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Gabriel Carriconde e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Barbara Zem, Ceres Hadich, Ednubia Ghisi ARTICULISTAS Cesar Caldas, Douglas Gasparin Arruda, Fernanda Haag, Marcio Mittelbach e Manoel Ramires REVISÃO Lea Okseanberg ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio, Robson Sebastian CONTATO pautabdfpr@gmail.com /bdfpr @brasildefatopr REDES SOCIAIS


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FRASE DA SEMANA

“Agroecologia é muita coisa, mas eu acho que ela é a resposta para o futuro, para um futuro que a gente quer, com uma alimentação mais saudável, mais harmônica” disse Bela Gil em visita ao assentamento Eli Vive, em Londrina (PR) Reprodução

No campo e na cidade, trabalhadores se unem contra despejos forçados “Estamos ansiosos por nova decisão do STF para não haver despejo em 2022”, afirma integrante da campanha Despejo Zero Giorgia Prates

Pedro Carrano Movimentos populares do campo, indígenas, quilombolas, áreas de ocupação urbanas e movimentos de luta por moradia estão nas ruas de capitais do país para pedir a prorrogação da chamada lei do Despejo Zero. Por decisão do ministro do STF Luís Roberto Barroso, 30 de junho é a data-limite na qual não pode haver despejos em áreas de ocupação devido à crise social e sanitária no país. No Paraná, no dia 23 de junho, ocorre a jornada por direitos batizada de “Terra, Teto e Trabalho”. Além de apresentar suas necessidades específicas, as comunidades do Paraná querem garantir que a lei seja prorrogada, no mínimo, até 2023.

1.600 Número de famílias despejadas no Paraná desde 2020

Contam para isso com um canal de diálogo importante, que envolve a Comissão de Mediação de Conflitos Fundiários do Tribunal de Justiça do estado (Cejusc), governo do estado, Defensoria Pública do Estado, entre outros órgãos. “Essa campanha do Despejo Zero envolve igrejas, partidos, sindicatos, sensíveis à causa das ocupações e que estão se somando nessa grande jornada de lutas. Estamos ansiosos por nova decisão do STF para não haver despejo em 2022, mas também, aqui no Paraná, a chance de criar um documento para que possamos avançar na regularização”, afirma Joabe Oliveira, da coordenação estadual do MST. Somente em Curitiba participam mais de 10 áreas de ocupação, a maioria delas recentes, surgidas com o aumento do preço do custo de vida. Reivindicações também estão presentes em Campo Largo, Ponta Grossa, Londrina, entre outras cidades.

LEI OCORRE APESAR DE BOLSONARO No último período, a Lei nº 14.216 e a ADPF nº 828, ao lado de outras decisões, determinaram a suspensão de despejos em razão da pandemia de Covid-19. Aprovada pelo Congresso, a lei que proíbe despejos foi vetada por Jair Bolsonaro. Mas o Congresso derrubou o veto e a lei

valeria até o fim de 2021, o que foi postergado para 31 de março por decisão do Supremo. Mais tarde, o ministro do STF Luís Roberto Barroso estendeu até 30 de junho a vigência de lei. Calcula-se que 132.290 famílias estão ameaçadas de despejo no Brasil.

COLUNA DA

JUVENTUDE Juventude paranaense vai para encontro nacional Em fevereiro deste ano, o Levante Popular da Juventude completou 10 anos de história de organização da juventude comprometidos com o projeto popular e a revolução brasileira. Após o período de isolamento social, que todos passamos, a juventude volta a se reunir para discutir os rumos e os próximos passos para o futuro na construção de um Brasil para os brasileiros. Os jovens do Paraná do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Movimento Popular por Moradia (MPM) e estudantes do estado vão para o Encontro Nacional junto à juventude do Levante Popular do Paraná, entre os dias 16 e 19 de junho, no Rio de Janeiro. Com o objetivo de passar os 4 dias de formação política e formação técnica na agitação e propaganda, os jovens vão com a missão de se preparar para esse período de intensa disputa de ideias e reafirmar compromisso na luta. Nesse sentido, o Levante convocou a militância urbana e rural para participar do evento. Na volta irão se somar às ações que acontecem na capital paranaense. Com início no dia 22, os militantes participarão da Jornada de Agroecologia e, dia 23, da Jornada de Lutas por Terra, Teto e Trabalho. Fernanda Maria Caldeira, militante do Levante Popular da Juventude Juliana Barbosa, militante do MST


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Por que o Agro não é Pop O agronegócio é apresentado como a riqueza do Brasil na campanha “Agro é pop”, transmitida na rede Globo desde 2016. A seguir, apresentamos informações que mostram como o agronegócio prejudica a sociedade e o meio ambiente: Intoxicação

Aumento da violência

O agronegócio resulta em milhares de intoxicações por agrotóxicos, de trabalhadores que aplicam o veneno, de pessoas que moram próximas das plantações. Foram registradas 8.412 intoxicações em 2019, 109% de aumento entre 2010 e 2019. Entre 2010 e 2021, ocorreram 9.806 intoxicações de crianças de 0 a 14 anos, e, destas, 91 morreram intoxicadas.

Despejos, execuções e massacres no campo crescem no Brasil, com alarmante aumento de mais de 1.000% em 2021. As principais vítimas foram indígenas, trabalhadores sem terra, posseiros, quilombolas, assentados, pequenos proprietários, quebradeiras de coco babaçu, lideranças e apoiadores da luta pela terra.

Fonte: Sinan/DataSUS

Fonte: Caderno de Conflitos no Campo da Comissão Pastoral da Terra (CPT)

Contaminação da água

Campo com poucos empregos

A água potável de uma em cada quatro cidades brasileiras está contaminada por 27 tipos diferentes de agrotóxicos. O problema pode afetar ainda mais localidades, uma vez que dos 5.570 municípios brasileiros, 2.931 não realizaram testes.

O setor agropecuário deixou de empregar quase 1,8 milhão de pessoas, entre 2012 e 2019. A maior parte dos empregos que existem está na agricultura familiar. Outro problema é o aumento dos flagrantes de trabalho escravo. Em 2021, 169 pessoas foram resgatadas em condições análogas à escravidão no campo. Alta de 76% em relação ao ano anterior.

Fonte: Repórter Brasil, Agência Pública e Public Eye

Recorde na produção de grão Xaumento da fome

A safra de grãos 2021/2022 deve bater novo recorde, com produção estimada em 271,3 milhões de toneladas, principalmente de milho, trigo e soja. Esse número representa 6,2% a mais do que na temporada anterior. A maior parte desta produção é vendida para outros países. Enquanto isso, 6 em cada 10 famílias não têm acesso pleno a alimentos. O número significa aumento de 70% de pessoas com insegurança alimentar grave desde 2020. Fonte: Conab, o 9º Levantamento da Safra de Grãos / Rede Penssan

Fonte: Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do IBGE

Desmatamento

Ilustrações: Dossiê do Veneno

O Brasil tem sido uma preocupação mundial pelos altos índices de destruição de florestas. Apenas em 2021, o país foi responsável por 40% do desmatamento global. A região Norte registra a maior perda, dando espaço à produção de gado e grãos para exportação. Entre os impactos do desmatamento está a destruição da biodiversidade, a aceleração do aquecimento global e mudanças nos regimes de chuva. Fonte: ONG Global Forest Watch


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Comida boa, oficinas, exposições: confira o que vai ter na Jornada Wellington Lenon

FEIRA DA AGROBIODIVERSIDADE CAMPONESA

Alimentos saudáveis e fresquinhos, direto das mãos de quem produz. Essa é a cara da Feira da Jornada de Agroecologia.

Serão mais de 50 expositores/as de todas as regiões do Paraná e de cooperativas da reforma agrária de Minas Gerais, Rio

SEMINÁRIOS E OFICINAS

Grande do Sul e Santa Catarina. Nos alimentos in natura há grãos, hortaliças, frutas; derivados de leite, da cana-de-açúcar, mel, suco; artesanatos; panificados e uma centena de produtos variados. O colorido e a qualidade virão de assentamentos e acampamentos da reforma agrária, de povos indígenas, comunidades tradicionais e coletivos da economia solidária. Agende-se! Abertura às 14, na quarta, dia 22. Nos dias 23, 24 e 25, das 9h às 20h, e no dia 26 das 9h às 16h.

A saúde física e mental é um dos grandes pilares da agroecologia e tem espaço central na Jornada. Também haverá comercialização de mudas de ervas medicinais, ervas desidratadas e fitoterápicos na feira. Serão oferecidos atendimentos terapêuticos e oficinas como massoterapia; biomagnetismo; auriculoterapia, acupuntura e reiki, além de conversa e meditação. Inscrições poderão ser realizadas durante a Jornada.

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ESPAÇO DA SAÚDE POPULAR

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A Jornada também é um espaço para aprender técnicas de produção agroecológica e estudar sobre a realidade do agronegócio e formas de fortalecimento da agroecologia. Isso tudo estará em cerca de 20 oficinas práticas e 10 seminários temáticos em todos os dias da programação. Entre os conferencistas estão o filósofo Leonardo Boff, Pastor Henrique Vieira e Adriana Oliveira, do MST e do coletivo Marmitas da Terra. O reitor da Universidade Federal do Paraná, Ricardo Marcelo Fonseca, também participará. A programação de oficinas inclui “Preparação de Caldas Agroecológicas”, “Abelhas Nativas – confecção de iscas e extrato de própolis”, “Uso Sustentável do Bambu”, entre outras. A maior parte das atividades não exige inscrição prévia. Confira a programação completa no site

SEMENTES CRIOULAS

“CHARGES PELA AGROECOLOGIA”

“AGROECOLOGIA E SOLIDARIEDADE”

A exposição reúne 34 chargistas, caricaturistas e ilustradores de 13 estados brasileiros e cinco outros países - Polônia, Espanha, México, Palestina e Bélgica. O objetivo é trazer a charge como forma de promoção e divulgação da Agroecologia. Cláudio Duarte

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Patrimônio dos povos, têm sido resgatadas e cultivadas por camponeses e camponesas conhecidos como “guardiões das sementes”. As inúmeras cores e formas dessas sementes fazem parte da origem da Jornada. Nesta edição, serão comercializadas, trocadas e partilhadas.

São 30 imagens de partilhas de milhares de quilos de alimentos desde o início da pandemia. A maior parte da exposição mostra ações solidárias de famílias do MST, que distribuíram cerca de 975 toneladas de alimentos, somente no Paraná.


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Programa leva alimentação saudável a escolas e renda a produtores Famílias mudaram forma de produção a partir de programa federal Leonardo Henrique

Ana Carolina Caldas

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oje, mais de 41 milhões de alunos da educação básica em 27 estados e 5,5 mil municípios são atendidos pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Uma das mais importantes políticas de garantia à alimentação, é uma rede que liga e beneficia trabalhadores da agricultura familiar a alunos da escola pública. Por lei, pelo menos 30% dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento (FNDE) tem de ir para a aquisição de alimentos da agricultura familiar, e fornecedores de assentamentos da reforma agrária, quilombolas e indígenas têm prioridade. Nos municípios, as realidades ainda são diversas: cerca de 2.500 conseguem chegar à meta

dos 30%. É o caso de Marechal Cândido Rondon (PR). São mais de 5.500 crianças atendidas pelo PNAE, com 30% de aquisição da agricultura familiar. Também há aporte financeiro de 60% do próprio município. Uma das famílias beneficiadas pelo programa é a de Charles Adir Alves, que trabalha na produção de hortaliças, frutas e manteiga para as escolas. Ele, o pai, a mãe e a irmã participam do programa desde 2014, a partir da articulação feita pela Associação Central de Produtores Rurais Ecológicos (Acempre). “Vemos como mais um canal de venda, o que nos fez poder aumentar o plantio, comercialização e renda”, conta. Segundo a engenheira florestal e técnica da Acempre Raquel Rossi Ribeiro, há uma meta

de 100% de aquisição da agricultura familiar a ser alcançada. “Aqui em Marechal Cândido Rondon temos uma lei municipal, do PNAE orgânico, que estipulou meta a ser alcançada de 100% até 2024”, diz. Destino certo Organizados na Cooperativa da Reforma Agrária Terra Livre, na Lapa, mais de 180 agricultores associados produzem, desde 2017, alimentos orgânicos destinados a escolas municipais e estaduais do Paraná. O plantio e colheita são organizados de acordo com a entrega no programa de Aquisição de Alimentos, pensado em ciclos de até um ano. A garantia de venda é destacada pelo presidente da cooperativa, Paulo Cesar Rodrigues. “A principal mudança é a organização dos agricultores para a produção de alimentos ser uma alternativa de renda para a juventude e mulheres, principalmente por saberem que o que for produzido será adquirido”, diz. Segundo Paulo, em 2021 foram fornecidas mais de 500 toneladas de alimentos para 12 escolas na Lapa e 96 em Curitiba. “Nosso trabalho leva saúde para as escolas e é resistência contra o agronegócio”, conclui.

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Leonardo Henrique

Indígenas no PNAE Outra experiência recente é a inclusão das famílias da Aldeia Indígena Okoy, em São Miguel do Iguaçu (PR), como produtoras de alimentos. Integram o PNAE e estão comercializando com a Cooperativa de Industrialização e Comercialização Camponesa (Coopercam) o excedente que produzem. Celso Jopoty Alves, uma

das lideranças da Aldeia Okoy, conta que sempre tiveram interesse pelo programa, mas faltava orientação. “Foi com a chegada do pessoal da Rede Capa de Agroecologia que começamos a receber orientação e conseguimos nos integrar ao programa, em 2021. Tudo mudou na nossa dinâmica de trabalho, nossa forma de produção é muito

à merenda dos alunos do Colégio Estadual Indígena Teko Nemoingo.

mais unida e temos conseguido autonomia financeira”, diz. Parte da produção para o PNAE fica na própria comunidade, destinada

Governo Bolsonaro diminui repasses Segundo dados do Observatório da Alimentação Escolar, desde 2017 o financiamento federal à alimentação escolar pelo PNAE sofreu enormes perdas. Apesar da inflação do preço dos alimentos, o

orçamento do programa apresentado pelo governo ao Congresso para 2022 foi de R$ 3,96 bilhões, menor que os R$ 4,06 bilhões de 2021. Some-se a isso a falta de reajustes do valor per capita. O último reajuste aconteceu em 2017. Desde lá o FNDE repassa só 32 centavos para cada refeição oferecida no ensino fundamental, médio e EJA.


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Agroecologia contra fome: modelo sustentável pode ser saída para crise Em lugar de exportar para ganhar muito dinheiro, produtores familiares põem comida na mesa do brasileiro Gabriel Carriconde

M

esmo em plena pandemia, com brasileiros passando fome, a exportação de soja, milho e carne fez o agronegócio brasileiro alcançar grandes margens de lucro, movimentando 102 bilhões de dólares. No início deste ano, as exportações cresceram 25%, atingindo 19 bilhões de dólares, apenas em janeiro. Com o dólar alto, o agronegócio brasileiro foi ao paraíso. Se para essa pequena parcela da população brasileira o ambiente foi positivo, para

O Brasil, que tinha em 2014 saído do “Mapa da Fome” voltou a figurar na lista

mais da metade da população a situação foi de desemprego, queda na renda, volta da fome. Foram mais de 100 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar em 2021. Dados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar, da Rede Penssan, mostram que das 116,8 milhões de pessoas em insegurança alimentar, 43,4 milhões não tinham comida suficiente e 19 milhões estavam passando fome. O Brasil, que tinha em 2014 saído do “Mapa da Fome” voltou a figurar na lista. Apesar da situação dramática, foi a agroecologia e a agricultura familiar, mesmo com cenário de alta de preços, que conseguiu colocar comida na mesa dos brasileiros. “A agroecologia se apresenta, nesse contexto de pandemia, como a estratégia possível de enfrentamento à

Wellington Lenon

fome porque ela traz o olhar a partir de um passo atrás ao ato de se alimentar”, descreve Islândia Bezerra, presidenta da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA). “O passo da produção de alimentos

que enfatiza a natureza como sujeita de direitos”, resume. Nesse contexto de desemprego crescente e fome, iniciativas de solidariedade se espalharam pelo país. O Movimento dos Trabalhado-

res Rurais Sem Terra (MST), por exemplo, está com a campanha permanente de solidariedade, que já doou 975 toneladas de alimentos só no Paraná. Além das doações quase mensais de cestas de alimentos, o movimento, através da ação “Marmitas da Terra”, entregou 100 mil refeições à população de rua, comunidades e ocupações urbanas de Curitiba e Região Metropolitana em 19 meses. Adriana Oliveira, integrante do MST e coordenadora do Marmitas da Terra, fala da importância das ações de solidariedade e dos mutirões de plantio e colheita. “Nós temos um projeto de vida que produz respeitando todas as esferas de produção, na relação com a natureza e com as pessoas, enxergando quem recebe o alimento como pessoa, e não como caridade”, disse em entrevista ao site do MST.

CULINÁRIA DA TERRA A 19ª Jornada de Agroecologia terá a Culinária da Terra, com muitas comidas deliciosas para experimentar. Estão confirmadas comidas típicas do sul para todos os gostos. Imagine comer canjica, caldo de inverno ou um pirão de galinha caipira no frio curitibano? Durante a Jornada você vai encontrar comidas típicas como vaca atolada, frango com polenta e palmito, porco no tacho, comidinhas de festa junina e muito mais. Como aperitivo vai uma receita: Polenta com frango caipira e palmito Ingredientes 1 kg de fubá orgânico moído na pedra 2 kg de frango ou galinha caipira 500 gramas de palmito da pupunha cortado em cubos 1 dente de alho picado 1 cebola grande picada 2 tomates cortados em cubo sal a gosto Açafrão da terra a gosto Salsinha e cebolinha picadas a gosto

Reprodução

Modo de preparo Pegue uma panela, coloque óleo e o frango, deixe fritar bem. Quando o frango estiver pronto adicione sal, alho, cebola, açafrão, palmito e tomate e deixe todos os ingredientes refogar bem e soltar sabor formando um caldo. Em outra panela, adicione água e sal e deixe esquentar, vá colocando o fubá aos poucos, sempre mexendo até ele virar uma pasta cremosa, Para finalizar o frango, coloque por cima a salsinha e a cebolinha picadas. Depois é só preparar o prato e se deliciar.

Receita de Dona Geni, da coordenação do MST PR, agricultora e moradora do assentamento Valmir Motta de Oliveira, na região Oeste do Paraná, em Cascavel.


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Brasil de Fato PR

Paraná, junho de 2022 Divulgação

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Jornada terá shows de Otto, A Banda Mais Bonita da Cidade e outras 20 atrações Todas as apresentações serão gratuitas e abertas ao público em geral Redação

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úsica, teatro, dança, passando pela moda de viola, rap e pelo fandango caiçara. A diversidade da cultura popular brasileira e paranaense estarão no palco e em diversos espaços da 19ª Jornada de Agroecologia. Um dos maiores eventos do Brasil dedicados ao

programação

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Cia Mirabólica

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23 de junho quinta-feira

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Jaquelivre e Beduíno

12h30 Susi Monte Serrat e João Bello 14h O Circo é Nosso – Cia Mirabólica 15h30 Sobre Lendas e Mulheres – Teatro 17h às 18h30 Show do grupo Mistura Popular Divulgação

Forró de Maravilha

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Matula Roots

9h às 11h Trupe dxs Encantadxs 10h Filhas da Fruta 12h30 Jaquelivre e Beduíno 15h30 Apresentações de Dança Voo das bandeiras – Yiuki Doi Carimbó – Aymê Amora 17h Atividade Cultural

22 de junho quarta-feira

tema vai reunir em sua volta mais de 20 atrações culturais em Curitiba. Entre as atrações que prometem esquentar os dias frios do inverno curitibano está o show do cantor e compositor Otto, A Banda Mais Bonita da Cidade e o grupo Mandicuera, de Fandango Caiçara, direto do litoral paranaense.

Osvaldo Rios

25 de junho sábado

26 de junho domingo

9h Mística: Marmitas da Terra 12h30 Coral Guarani 15h Contos e Causos com Vinícius Mazzon 16h Matula Roots 18h A Banda Mais Bonita da Cidade 20h Show com Otto

10h Denilson da Viola Trupe dxs Encantadxs 13h Osvaldo Rios e Rogério Gulin – Moda de Viola 15h Bamberê – Grupo Baquetá

Lucas Rachinski

24 de junho sexta-feira 12h30 Forró de Maravilha 15h30 Comitê Popular do Samba 17h30 Fandango Caiçara – Grupo Mandicuera

Vinicius Mazzon

Vanessa Vzorek

Grupo Baquetá


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