Brasil de Fato Paraná - Edição 171

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Comida solidária

Giorgia Prates

Cidades | p. 7

Cidades | p. 7

MST e petroleiros fazem doações de alimentos e gás

PARANÁ

Afroempreendedorismo A Feira Cultural Afro este ano acontecerá on-line

Ano 4

Edição 171

18 a 24 de junho de 2020

distribuição gratuita

O auxílio que nunca vem

www.brasildefatopr.com.br

Greca perdido

Milhares de famílias têm dificuldades de acesso aos R$ 600 destinados a trabalhadores informais durante o período de pandemia. Há vários casos nos bairros do Portão e Novo Mundo, em Curitiba Brasil | p. 4 Giorgia Prates

Pressionada por empresários, Prefeitura de Curitiba passa por cima das próprias regras e deixa shoppings e academias abertos no momento em que pandemia chega a números recordes Cidades | p. 6

Brasil | p. 5

Pandemia no Parolin Falta de informação e de recursos agrava situação

Editorial | p. 2

Lutas nas ruas Após atos, Bolsonaro se desgasta, mas segue fascista

Porém | p. 3

Empresa ou o povo? MP impede que empresa de ônibus de Maringá seja indenizada


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OPINIÃO

Paraná, 18 a 24 de junho de 2020

SEMANA

A irresponsabilidade da omissão Aristóteles Cardona,

médico de família no sertão pernambucano e professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco

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Bolsonaro precisa ser detido EDITORIAL

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ma das marcas de um governo neofascista é jogar sempre no ataque em nome do seu projeto, que é um projeto de retirada de direitos, de autoritarismo e de combate às organizações sociais. O resultado da postura de Bolsonaro é o Brasil como novo epicentro da crise e segundo país do mundo em número de mortes. Desde o começo da pandemia de Covid-19, Bolsonaro e sua pequena, mas ativa base social, desrespeitam a política de distanciamento e prevenção. E vem ocupando as ruas para ameaçar os poderes Judiciário, Legislativo, governos estaduais e prefeituras. Diante da forte ameaça à democracia e aos direitos sociais,

integrantes do movimento negro, membros de torcidas organizadas e movimentos populares tiveram que ir às ruas nas duas semanas recentes. Em comum, a palavra “Fora Bolsonaro” consta em todos os atos. A repercussão nas redes sociais foi forte. Com isso, pesquisas de opinião já apontam aumento do número de pessoas desfavoráveis a manobras autoritárias como é uma intervenção militar. Então, Bolsonaro vai se acalmar e focar no combate à pandemia e no auxílio às famílias mais pobres? Nada disso. O fascismo joga sempre no ataque. Por isso é preciso o “Fora Bolsonaro” e, literalmente, colocá-lo em impedimento.

missão é uma palavra que define bem a postura do governo brasileiro com relação aos impactos da pandemia. A decisão por esconder o número total de casos e mortes por Covid-19 no Brasil, apesar de absurda, é bem representativa do governo. Hoje, o Ministério da Saúde nega que a intenção era esconder os números. Mas não é difícil reconstruir os fatos que evidenciam a tentativa. O primeiro deles foi a declaração de Carlos Wizard, empresário que estava prestes a assumir uma secretaria no Ministério, afirmando que os números sobre a Covid-19 seriam “fantasiosos ou manipulados”. O segundo se refere ao atraso na divulgação dos dados oficiais, com posterior mudança na divulgação dos dados, que passaram a ser publicados apenas com casos e mortes nas últimas 24h, mas sem a totalização. No final das contas, tornou-se óbvio o esforço por parte do governo de esconder a realidade. Apurações jornalísticas nos últimos dias apontaram que realmente era o desejo de Bolsonaro, e de militares que ocupam postos de comando no ministério, maquiar as in-

formações sobre a pandemia no Brasil. Mas a pressão, dentro e fora do país, foi tão grande que tiveram que recuar. É preciso falar também que a omissão não se restringe à divulgação dos dados. Já no final de abril, notícias deram conta de que nem 25% do dinheiro que deveria ser utilizado no combate à pandemia havia sido executado até então. E, na semana passada, Bolsonaro vetou um repasse de R$ 8,6 bilhões aos estados e municípios para as ações de saúde. Enquanto isso, seguimos a marcha do desastre anunciado. Para além do descontrole nos números, começamos a acompanhar também o fenômeno da interiorização da pandemia no Brasil, com a chegada da doença em regiões com situação mais precária de acesso aos serviços de saúde. Não chegam a 10% as cidades brasileiras com leitos de UTI. Giorgia Prates

EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição xx do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Aristóteles Cardona, Andréia Carvalho Gavita ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com


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Geral | 3

FRASE DA SEMANA

Entidades pedem a MP que investigue empresa de ônibus de Maringá Pelo menos 30 entidades protocolaram na coordenadoria do Ministério Público estadual, em Maringá, um pedido de providência contra a empresa de ônibus Transporte Coletivo Cidade Canção (TCCC). A empresa entrou com uma ação judicial para que o município de Maringá arque com os possíveis prejuízos que ela tenha tido por conta da redução de passageiros durante o período da pandemia de Covid-19 e o distanciamento social. O assunto foi parar no STJ, que negou o pleito da empresa. Para as entidades, para evitar um revés em prejuízo a população e ao erário público, o MP deve intervir no processo. Pedem ainda para que a TCCC seja investigada por conta de possíveis irregularidades no contrato firmado em 2011. Com abordagem semelhante ao caso de Maringá, o Ministério Público estadual abriu inquérito para apurar o repasse de verbas públicas da Prefeitura de Curitiba para as empresas de ônibus da capital. No inquérito, deve-se “apurar irregularidades dos repasses de valores pela Prefeitura, em auxílio às empresas do transporte coletivo de Curitiba, em razão da pandemia do vírus Covid-19.

“Recrudesce o Covid modificado na China. Por aqui, administradores imbecis liberam o comércio ameaçando a vida de todos nós”

Plataforma emergencial A CUT lançou, nesta semana, uma plataforma emergencial “Em Defesa da Vida Trabalho e Renda, Saúde, Soberania Alimentar e Moradia” para o enfrentamento da crise econômica e da pandemia. Entre as principais medidas estão a criação de fila única de acesso aos leitos de UTI públicos e privados, a garantia de equipamentos para os trabalhadores de serviços essenciais e contratação imediata dos aprovados em concursos públicos.

Afirma o ex-senador e ex-governador Roberto Requião em seu Twitter sobre a situação no Paraná

Divulgação

NOTAS BDF

Por Frédi Vasconcelos

Governo ruim/ péssimo

Supremo X fake news

Pesquisa publicada pela “Revista Fórum” nesta semana mostrou que Bolsonaro teve crescimento no número de pessoas que o avaliam como ruim/péssimo. De maio para junho, passou de 39,6% para 41,6% a desaprovação. Ao mesmo tempo cresceu de 32% para 35,1% o percentual dos que o consideram bom/ótimo.

Na quarta, 17, o STF voltou a julgar a continuidade do inquérito das “fake news”, relatado pelo ministro Alexandre de Moraes e que levou a operações da Polícia Federal contra grupos bolsonaristas nas redes. Em seu voto, Moraes destacou ameaças que vem recebendo e concluiu: “Liberdade de expressão não é liberdade de agressão, não é liberdade de destruição da democracia e da honra alheias.”

Agência Brasil

Bandidagem Entre as mensagens lidas por Moraes no plenário do Supremo estava a postada por uma advogada do Rio Grande do Sul: “Que estuprem e matem as filhas dos ordinários ministros do STF”. Para o ministro, “em nenhum lugar do mundo isso é liberdade de expressão. Isso é bandidagem, criminalidade”, disse.

Bolsonaro nas cordas Até o fechamento desta edição, a maioria dos ministros do Supremo já havia votado para a continuidade do processo que tanto incomoda Bolsonaro e seus apoiadores. Na decisão final, devem ser tomadas medidas como acompanhamento do processo pelo Ministério Público.

Testes para professores A APP-Sindicato enviou notificação à secretaria estadual de Educação reivindicando testagem para o coronavírus dos profissionais que estão fazendo trabalhos presenciais e a suspensão da convocação de professores e demais trabalhadores para todo e qualquer atendimento pedagógico.

Marmita agroecológica Quarta é dia de mutirão de militantes e amigos do MST para a produção de 700 marmitas agroecológicas em Curitiba. Nesta semana, o alimento foi levado, na campanha Periferia Viva, para a União de Moradores do Bolsão Formosa. A União de Moradores é uma iniciativa de fortalecimento e união das associações de moradores: Vila Leão, Uberlândia, Formosa, Ferrovila e Canaã. Neste momento de crise, os trabalhadores precisam se unir, lutar por seus direitos e exigir o isolamento social, defende a União.


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“Eu ainda não recebi o auxílio emergencial” A história de uma família que mora no Bolsão Formosa revela o drama de quem espera o auxílio emergencial, entre ausência de respostas, burocracia digital e presencial e desrespeito Pedro Carrano

O

relato de Natascha Milena da Silva Cândido, ex-auxiliar de cozinha em um shopping center, demitida no dia 4 de abril deste ano, devido à pandemia de Covid-19, de que não teve sequer direito ao seguro-desemprego. Aos 22 anos, mãe solteira, ensino fundamental completo, esta mulher é uma liderança de família com oito pessoas e frágeis fontes de renda. Moradora do chamado Bolsão Formosa, nos bairros do Portão e Novo Mundo, em Curitiba, Natascha não acessou ainda o auxílio emergencial de R$ 600 aprovado pelo Congresso Nacional. De acordo com dados até aqui, em um processo de 32,1 milhões de inscritos pelo Cadastro Único, apenas 10,5 milhões foram considerados elegíveis. Neste processo, quantas famílias como a de Natascha ficaram de fora? A jovem reclama que solicitou por três vezes o auxílio emergencial. Sem êxito. A mãe recebe Bolsa-família, e ao lado do avô, e de Natascha antes do desemprego, significava a única renda da família. “Estamos cheios de contas para pagar, trabalhando a gente faz conta, tivemos corte de luz recente. E a aposentadoria do meu avô tem desconto”, narra. Para dificultar ainda mais a situação, a tia de Natascha, que vivia na mesma casa, responsável pelo cuidado das crianças e do avô, faleceu na semana passada. O peso da morte é, além de tudo, também um peso econômico para uma família. “Com o falecimento da minha tia, não posso voltar a trabalhar no momento, tenho que cuidar da minha filha, meu irmão e meu avô. Não estou trabalhando, mesmo que eu quisesse, entreguei currículo, não estão contratando”, comenta a jovem.

Ela aponta também a dor de um processo no qual uma trabalhadora é submetida a longas esperas, longas filas, longas humilhações. “Já fui ao banco duas vezes, tentei falar com o gerente, não me deixaram passar para dentro do banco. Não tem para onde correr, não tem para quem reclamar, já estou surtando, o pessoal

está precisando do dinheiro”, diz. Regina Carvalho, moradora também do Bolsão Formosa, desempregada, auxiliar de produção, reclama da falta de acesso ao programa por parte do pai dessa trabalhadora. Seu pai trabalha com venda de panos de prato, e agora está isolamento social em casa. “A vida está apertada por-

que minha mãe trabalha em casa, eu e minha irmã com renda, mas isso também não ajuda muita coisa”, lamenta. No Bolsão Formosa, local desta reportagem, é fato que há trabalhadores entrevistados que conseguiram acessar o programa. Mas dificilmente mais de uma pessoa na mesma família. Giorgia Prates

Associação de Moradores da Vila Formosa em trabalho de solidariedade e entrega de alimentos

41,59 MILHÕES DE PESSOAS NÃO SÃO ELEGÍVEIS PARA O PROGRAMA O Ministério da Cidadania recebeu mais de 124,18 milhões de solicitações do auxílio emergencial, e processou 98,6% deles. Em nota, o ministério aponta que os 1,6 milhão de cadastros ainda em processamento foram feitos entre os dias 27 de maio e 11 de junho. Dos pedidos feitos, 64,14 milhões foram considerados elegíveis, e 41,59 milhões foram apontados como inelegíveis, por não atenderem aos critérios do programa. Via site e aplicativo, uma das grandes dificuldades para a população mais

pobre, de 54 milhões de pedidos, apenas 34,4 milhões foram considerados elegíveis. No que se refere ao Cadastro Único, 32,1 milhões de pedidos foram processados e 10,5 milhões considerados elegíveis. O governo federal estima que, até o momento, 61 milhões de pessoas foram beneficiadas pelo programa, em uma liberação de recursos que alcançou R$ 110 bilhões. Para se ter uma ideia, neste momento de disputa de orçamento entre bancos, grupos empresariais e recursos para a população, o governo liberou R$ 17,5

bilhões para 27 instituições financeiras do país. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por sua vez, ofertou apenas R$ 13 bilhões entre R$ 77 bi para pequenas empresas, entre as quais, em São Paulo, apenas 14% acessaram crédito. Alegando então suposta dificuldade, o governo fala em pagar mais duas parcelas do auxílio, com valor mais baixo. Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou que, se a cifra aprovada pelo Congresso for de R$ 600, será vetada.


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Moradores do Parolin temem contágio pelo coronavírus Relatos indicam falta de informação e dificuldade para comprar equipamentos de proteção Giorgia Prates

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“Abraçar meus filhos após o trabalho é sempre carregado de medo e culpa” diz enfermeira Ana Carolina Caldas

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Lia Bianchini

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edo. Esse é o sentimento que ronda a favela do Parolin, pois o número de casos confirmados de Covid-19 no local preocupa moradores. Há relatos de falta de informações adequadas sobre o coronavírus e que muitas pessoas não têm condições de comprar equipamentos de proteção, como álcool em gel e máscaras. “A favela corre mais perigo pela falta de informação”, é o que diz a moradora Paula Graciele. Ela conta que as informações que chegam, muitas vezes, são desencontradas ou falsas. “A gente não sabe como se prevenir, a gente não sabe nada. A gente nem sabe de onde o vírus está vindo. Uns falam que é só uma gripe, que se tem imunidade boa não pega”, conta.

Documento assinado pela autoridade sanitária local, vinculada à Unidade de Saúde do Parolin, indica que até 9 de junho existiam 37 casos suspeitos de Covid-19, 33 confirmados e 3 óbitos. No documento, indica-se que há oito ruas na comunidade com casos confirmados. Paula conta que muitos dos moradores não têm condições de comprar álcool em gel ou máscaras. O racionamento de água em vigor em Curitiba dificulta ainda mais a realidade, deixando muitos sem o item mais básico para higiene. “Sem água, sem álcool, sem nada, como vai se cuidar?”, questiona Paula. Procurada, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) de Curitiba informa que na regional do Portão, à qual a Unidade de Saúde do Parolin é vinculada, existiam (até 12/6) 164 casos confirmados, sendo 27 do Parolin.

E que dos três óbitos do bairro, nenhum residia em área de maior fragilidade social. Segundo a SMS, máscaras de tecido estão sendo distribuídas pelas unidades de saúde às pessoas mais vulneráveis. “Informações e orientações são divulgadas diariamente pela Prefeitura e pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS) em veículos e canais de grande circulação, em veículos comunitários, redes sociais, materiais informativos, além das orientações feitas pelas equipes de saúde com apoio de lideranças das comunidades locais”, informa também a secretaria. Da calçada de sua casa na favela do Parolin, enquanto faz seu relato, Paula aponta para as ruas onde se tem confirmação de infectados, uma em frente à sua e outra atrás. “Todos nós estamos no grupo de risco”, diz.

rabalhando no setor de Quimioterapia de Alto Risco do Hospital de Clínicas do Paraná, a enfermeira Juliana Mittelbach, 38 anos, contraiu Covid-19 no início da pandemia. Para ela, ficar longe da família foi a pior parte. “Foi muito difícil ficar 14 dias isolada e longe dos meus filhos,” diz. Ela mora com seu companheiro e o casal de filhos, de 9 e 7 anos. Mesmo se recuperando e voltando às atividades, continua se prevenindo por causa da incerteza sobre a recontaminação. “No início, diziam que ao pegar ficava imune, depois, que seria possível. Tenho todo o cuidado com a minha família. Chego do plantão, tomo banho, lavo a roupa antes de abraçar meus filhos. Mas é sempre um processo carregado de medo e culpa”, diz Juliana, que trabalha como enfermeira desde 2005. Diante das várias incertezas ainda sobre a pandemia, ela diz que são muitas as condições adversas no trabalho. E destaca como sua principal reivindicação que os profissionais da saúde recebessem pagamento por insalubridade. “Queríamos que todos os trabalhadores do hospital, pelo risco de contágio, recebessem insalubridade no grau máximo. Porém, a gestão não é sensível à nossa solicitação.” Decidida a fazer enfermagem por gostar de cuidar do próximo em momento de fragilidade, Juliana diz que se preocupa também com a população mais carente. “Já temos dados informando que há aumento da letalidade do vírus entre as pessoas negras. Me preocupa a pauperização da população e as consequências futuras disso para o sistema de saúde. É a expressão evidente da necropolítica.” Divulgação


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Prefeitura descumpre próprio protocolo e mantém shoppings e academias abertos Restrições foram anunciadas pela Secretaria de Saúde de Curitiba

Servidores da saúde enfrentam sobrecarga de trabalho e assédio moral Giorgia Prates

Ana Carolina Caldas

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om os recordes de contaminação pelo coronavírus em Curitiba, a Secretaria Municipal da Saúde declarou, no sábado (13/6), que a cidade passou de alerta amarelo nível 1 para o laranja nível 2. Mudança que inclui restrições, como o fechamento de bares, academias, igrejas e parques. Porém, contrariando o próprio protocolo, shoppings e academias permaneceram abertos. Quando anunciou o novo protocolo de responsabilidade sanitária e social de Curitiba, a secretaria explicou que a avaliação dos níveis de alerta se daria por cores (amarela, laranja e vermelha) e foram elencadas as normativas e restrições para cada uma delas. No alerta laranja, shoppings e academias deveriam ser fechados. O que não aconteceu. Em coletiva de imprensa no dia 13, a secretária de Saúde, Márcia Huçulak, informou que os shoppings continuariam abertos. Questionada por que a Prefeitura estaria descumprindo suas próprias regras, respondeu que: “estes estabelecimento estariam cumprindo corretamente os protocolos”. Mais pressão Após protesto de donos de academias em frente à casa do prefeito Rafael GrePUBLICIDADE

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ca, outro recuo. Na segunda, 15, a Secretaria informou que as academias também não precisariam fechar. No entanto, parques e praças, que são locais ao ar livre, foram fechados, trazendo uma informação confusa para a população, que questionou a Prefeitura nas redes sociais. “Não vai adiantar nada com comércio e shoppings abertos e população tendo que usar transporte público pra ir trabalhar”, disse uma curitibana no Facebook da Prefeitura. “É o resultado de ter medo de perder a reeleição. Abriram antes do tempo e agora agem como baratas tontas, abre, fecha, abre de novo, aumenta horário, diminui horário, libera atividades, fecha atividades, e a população perdida”, diz outro comentário.

Ana Carolina Caldas No combate ao coronavírus, os trabalhadores da saúde no Paraná enfrentam, além da pandemia, condições adversas de trabalho. Sobrecarga pela diminuição drástica de profissionais concursados e assédio moral são alguns dos problemas levantados pelo Sindicato dos Trabalhadores da Saúde Pública do Estado do Paraná, SindSaúde. Em março, início da pandemia, o SindSaúde já havia solicitado ao governo medidas como a contratação imediata de cerca de 4 mil profissionais para que se atingisse os pouco mais de 11 mil que deveriam estar a serviço da população em situações normais. Agravando mais este cenário, há ainda o afastamento de servidores com suspeita ou confirmados de infecção por Covid-19,

sem que sejam substituídos de forma adequada. Existem 112 funcionários suspeitos em isolamento domiciliar aguardando resultado de exame laboratorial e 39 casos já confirmados. Perícia desconsidera recomendações médicas Porém, segundo o sindicato, há outro fator agravante nos pedidos de afastamento. Devido à pandemia, as perícias médicas têm sido realizadas de forma virtual. E os resultados de pedidos de afastamento têm sido idênticos para a maioria das pessoas, infringindo a ética médica ao desrespeitar os atestados emitidos pelos médicos que acompanham o paciente. O que tem obrigado trabalhadores a cumprir expediente mesmo com a necessidade de afastamento. O sindicato entrou com pedido para que esta prática seja imediatamente suspensa.

ASSÉDIO MORAL Cobranças excessivas, autoritarismo e a tentativa de calar a voz de trabalhadores da saúde que reivindicam melhores de condições de trabalho também têm sido a prática de muitas chefias na saúde no Paraná. Segundo a presidente do sindicato, Olga Estefania Duarte Gomes Pereira, “têm sido várias as denúncias que o sindicato vem recebendo e para isso abrimos um canal de comunicação e atendimento. Temos gratidão pelas palmas recebidas em reconhecimento à importância do nosso trabalho. Mas é preciso transformá-las em forte apoio às nossas lutas por respeito e melhores condições de trabalho”, diz Olga.


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MST e Sindipetro doam 15 toneladas de alimentos e 520 botijões de gás em Curitiba Cerca de 700 famílias foram beneficiadas em quatro bairros da capital paranaense Redação

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o sábado (13), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o Sindicato dos Petroleiros do Paraná e Santa Catarina (Sindipetro-PR/ SC) se uniram para doar 15 toneladas de alimentos e 520 cargas de gás de cozinha em Curitiba. Os produtos chegaram a cerca de 700 famílias do Santa Quitéria, Osternak, Campo Comprido e da Cidade Industrial. Nas comunidades, cada pessoa recebeu cesta com cerca de 22 quilos de alimentos, entre arroz, feijão, mandioca, legumes, frutas e hortaliças. Todos produzidos por 370 famílias que vivem no acampamento Maila Sabrina, em Ortiguei-

ra. O acampamento tem 17 anos e luta pela efetivação da reforma agrária na área. Para Mirele Gonçalves, do MST do Paraná, as

ações de solidariedade do que o movimento tem feito mostram que “a narrativa do agronegócio é falsa”. “Quando a gente divide a

terra, coloca terra na mão do povo que vive e sobrevive da agricultura, a gente vê que a terra produz alimentação saudável, não Fotos: Giorgia Prates

“commodities”. O povo não come soja, não come cana. A agroecologia é a saída para alimentar o povo brasileiro”, diz. Além de buscar a superação da fome, garantindo o alimento, a iniciativa cobrou preço justo para o gás de cozinha. Apesar de ser essencial para a garantia do direito à alimentação, no último dia 25 maio a Petrobras anunciou reajuste de 5% no preço do botijão. Na capital do Paraná, o de 13 quilos custa entre R$ 60 e R$ 80. “Por que nós, que produzimos e refinamos o petróleo aqui no país, somos obrigados a pagar tão caro nos combustíveis e gás de cozinha?”, questiona Alexandro Guilherme, presidente do Sindicato dos petroleiros.

Feira Cultural Afro do Paraná migra para a internet em tempos de pandemia Expositores do tradicional evento na Praça Zumbi dos Palmares integram o projeto “Feira das Feiras” Wagner de Alcântara Aragão

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ano de 2020 já tinha começado cheio de desafios para expositoras e expositores da Feira Cultural do Afroempreendedorismo do Paraná, evento que ocorria uma vez por mês, entre maio e novembro, em Curitiba. A pandemia do novo coronavírus e as medidas de distanciamento social agravaram ainda mais a situação. Mas os artistas têm encontrado novas formas de manifestação, trabalho e renda. Desde o último mês, a Feira Cultural Afro se integrou ao projeto “Feira das Feiras” uma iniciativa que reúne os negócios em economia solidária e economia criativa da capital paranaense. É uma feira “online” – no perfil do projeto no Instagram (@feiradasfeiras_). Os participantes expõem seus trabalhos e as formas de obter obras e produtos oferecidos.

Secretária-geral do Instituto Afrobrasileiro, a psicóloga Maureen Reis explica que expositores estão se adaptando à comercialização on-line. O ingresso no “Feira das Feiras” ajuda a dar maior visibilidade aos negócios. Além disso, por aplicativos como o WhatsApp, o grupo faz transmissão de mensagens com links de divulgação dos trabalhos. Divulgação

FEIRA DA CULTURA AFRO A Feira Cultural do Afroempreendedorismo era realizada na Praça Zumbi dos Palmares, no Pinheirinho, região sul da cidade, e se consolidou como tradição. Reúne artesãos de roupas feitas com tecidos africanos, acessórios, lembrancinhas, presentes, brinquedos, artigos religiosos, além de comidas típicas. Oficinas e apresentações culturais como de música e dança compunham os encontros. Para 2020, entretanto, o Instituto Afrobrasileiro não conseguiu os recursos fi-

nanceiros necessários. Fez vaquinha virtual para arrecadar recursos para a contratação de artistas e instrutores de oficina. Quando a vaquinha tinha tudo para deslanchar, veio a pandemia. A ideia é retomar a feira ano que vem. Enquanto isso, a mobilização segue, ainda que à distância. “Estamos fazendo reuniões, rodas de conversa e ‘lives’ sobre afroempreendedorismo, educação antirracista, enfrentamento da Covid-19, impacto sobre a população negra, entre outros temas”, conta Maureen.


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Cine Passeio tem exibição on-line e gratuita de filmes curitibanos Para ver programação é necessário apenas fazer um cadastro no site Divulgação

Redação Desde o início da pandemia do coronavírus, o “Cine Passeio” foi um dos primeiros cinemas de Curitiba a anunciar seu fechamento. Mas criou programação on-line, em seu site, de fi lmes e, também, cursos, na maioria gratuitos. Está disponível para acesso gratuito, por exemplo, a “Mostra Curitiba de Cinema”. Nesta primeira fase da mostra, há dois fi lmes curitibanos: “Apneia”, direção de Carol Sakura e Valdir Fernandes, e “Curitiba Zero Grau”, direção de Elói Pires. Para ver os fi lmes é preciso acessar o site www.cinepasseio.org.br e se inscrever. Quinze minutos depois, ao receber por e-mail um link, já é possível assistir. Conheça ao lado dois dos fi lmes disponíveis.

“Apneia” A distância da mãe, a ausência do pai e os traumas provocados pelo padrasto formam um oceano dentro da menina Muriel, que tem medo de nadar. A animação aborda poeticamente a experiência de mergulhar fundo nas próprias dores para poder, enfi m, emergir. Curta-metragem. “Curitiba Zero Grau” Cosmopolita e provinciana, Curitiba pode ser uma boa síntese de confl itos. Através das histórias de quatro personagens que não se conhecem, mas têm seus destinos entrelaçados – um comerciante de automóveis, um motoboy, um motorista de ônibus e um catador de papel – o fi lme é uma crônica sobre a luta diária pela sobrevivência. (foto) Gibran Mendes

DICAS MASTIGADAS

Pastel de Forno

Divulgação

Ingredientes 1 xícara e ½ (chá) de farinha de trigo ½ xícara (chá) de creme de leite 1 colher (sopa) de Manteiga ½ colher (chá) de sal ½ colher (sopa) de fermento químico 1 ovo Como fazer Em uma tigela misture os ingredientes úmidos (creme de leite, ovo e manteiga). Junte o sal, metade da farinha de trigo e o fermento. Sove com as mãos e adicione o restante da farinha trigo aos poucos até que a massa solte das mãos. Embrulhe em plástico filme e deixe descansar por 20 minutos. Abra a massa bem fina e corte rodelas, recheie, feche bem as bordas, pincele uma gema e leve para assar em forno preaquecido a 200°C por 25 minutos ou até dourar. Recheie com o que quiser, como queijo, carne ou legumes. Só não use recheios úmidos para não estragar a massa.

Por Andréia Carvalho Gavita

Lantejoula assombrada Ibis vermelha & gralha-azul bicam o espírito santo. Não há transporte sadio no anti-silêncio das sirenes. Fossem sirenes, moedas pacificariam a viagem quieta nos olhos dos mortos. Mas mercadorias gritam mais alto, ensanguentando asas carnavalescas pelas vidraças escrotas das metrópoles. Fossem necrópoles, poderíamos passear pelas alamedas sem medo. Mas a lantejoula de ressaca no corredor. Lantejoula assombrada. Toda baderna é uma grande mentira comprada. Arderão no cosmos, todos os mentirosos. As aves continuarão a bicar qualquer campo de guerra. Pode esquecer sua mídia. No mundo dos espíritos, não existem outdoors.


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