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Cultura | p. 8
Apoie artistas em resistência
Geral | p. 3
Solidariedade no Pontal Em situação de urgência, comunidade se organiza
Site possibilita compra de obras
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PARANÁ
Ano 4
Edição 163
23 a 29 de abril de 2020
distribuição gratuita
O DINHEIRO QUE NÃO CHEGA Trabalhadores em situação difícil buscam renda emergencial, mas não recebem por erro, falta de avaliação e burocracia. Saiba como proceder Cidades | p. 4
www.brasildefatopr.com.br
O RETRATO DA IGNORÂNCIA Bolsonaro, Ratinho, Greca e outros prefeitos desprezam impacto da pandemia e estimulam retorno às ruas. Aumenta risco de contágio e mortes Cidades | p. 5
Giorgia Prates
Giorgia Prates
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Brasil| |p.p.66 Brasil
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Risco nos presídios
Em isolamento, mas não em silêncio
45 toneladas de solidariedade
Sindicato denuncia situação de trabalhadores
Aumenta violência contra mulheres. Saiba os canais para denúncia
MST doa leite para Hospital de Clínicas
Brasil de Fato PR 2 Opinião
Brasil de Fato PR
Paraná, 23 a 29 de abril de 2020
Qual Um Ratinho no o papel da governo do Paraná esquerda na EDITORIAL
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governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), não se coloca contra a incompetência e o autoritarismo do presidente Bolsonaro (sem partido). Ele foi um dos sete governadores que não assinaram a carta em defesa dos presidentes da Câmara e do Senado, denunciando os abusos de Bolsonaro e defendendo as medidas de isolamento social diante da pandemia. Em dívida com medidas sociais em período de crise, Ratinho Junior destinou apenas R$ 50 para ajudar os paranaenses em situação de vulnerabilidade, limitou o kit alimentação apenas a estudantes do bolsa família. Assinou decreto, mas não publicou durante seis meses sobre a regulamentação da alimentação escolar orgânica. Por outro lado, contratou a operadora Claro por R$ 20 milhões com dispensa de licitação, mesmo
OPINIÃO
a Copel Telecom atuando em todo o estado. Promoveu mudanças da Agência Reguladora do Paraná (Agepar) por contar com maioria na Assembleia, entre outras medidas. Apesar de ser um … ratinho com o governo federal, é fato que o governador tem sido um leão feroz com o funcionalismo público na retirada de direitos e imposição da educação a distância (EaD). Eleito em 2018, buscando o perfil de estadista, mas é na crise que pessoas e governos se revelam. E o que temos é decepcionante.
Promoveu mudanças na Agência Reguladora do Paraná (Agepar) por contar com maioria na Assembleia
SEMANA
crise?
Jessy Daiane,
Militante e membro da coordenação nacional do Levante Popular da Juventude. Sergipana e ex-vice presidente da UNE, atualmente estuda Direito em São Paulo
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alar que vivemos uma crise não é novidade. O imperialismo, capitaneado pelos Estados Unidos, opera golpes e conflitos militares com o objetivo de restaurar o neoliberalismo e recuperar as taxas de lucro de suas empresas transnacionais. É neste contexto que surge a pandemia do novo coronavírus, que tende a agravar a crise econômica, transformando-a em crise política, social e humanitária. Embora o aprofundamento da crise não signifique necessariamente uma saída progressista, não é possível determinar o seu desfecho de antemão. Para isso, a preocupação central deve ser salvar a vida das pessoas, posicionando-nos como representantes das medidas de proteção social e garantia das medidas preventivas em saúde. Ao mesmo tempo, devemos exercer a solidariedade aos setores da classe trabalhadora mais vulne-
ráveis, os moradores das periferias dos grandes centros urbanos. Combinados com uma intensa batalha de ideias sobre o projeto político para o Brasil, sobre o programa econômico que defendemos, está a defesa do SUS e de medidas protetivas para os trabalhadores enfrentarem o desemprego e a fome. É possível afirmar que há um crescente isolamento de Bolsonaro na esfera institucional gradativa perda de referência nos setores médios da sociedade, além da ampliação do desgaste do governo nos setores populares. Segue sendo a tarefa central das forças populares desgastar, isolar e derrotar o neofascimo neste momento de crise, incidindo nas contradições dos nossos inimigos. É nosso papel demonstrar a falência do neoliberalismo, apresentando medidas como taxação das grandes fortunas, como uma resposta à crise econômica e como proteção à saúde do povo brasileiro. Fortalecendo os vínculos de confiança com a classe trabalhadora, acumulando forças em torno de um projeto popular para o Brasil.
EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 163 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.
Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Jessy Daiane, Jeferson de Souza e Andréia Carvalho Gavita ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Gibran Mendes e Giorgia Prates DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com
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Paraná, 23 a 29 de abril de 2020
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FRASE DA SEMANA
Governo do Paraná aposta na cloroquina Com mais de mil casos confirmados, o governo do Paraná aposta no uso da cloroquina para tratar os pacientes confirmados com a Covid-19. Incentivado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como solução no tratamento da pandemia, o estado distribuiu 17 mil comprimidos do medicamento cloroquina para todas as regionais e 28 hospitais de referência. A quantidade é suficiente para 850 tratamentos. Sem comprovação científica, a taxa de mortalidade é a mesma de quem não usa o medicamento, que tem diversos efeitos colaterais. Segundo o governo do estado, o uso da cloroquina como medicamento pode ser aplicado em pacientes com infecções graves da Covid-19 e que precisam de internamento em Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Por ser uma doença nova, ainda não há evidências científicas suficientes que comprovem a eficácia para casos de coronavírus. A cloroquina e a hidroxicloroquina devem ser usadas como “coadjuvantes” no tratamento. Além dos 17 mil comprimidos já recebidos, o Paraná deve receber outro lote com 27 mil do Ministério da Saúde. O Paraná ainda está recebendo 154 mil doses de hidroxicloroquina genérica do grupo farmacêutico Novartis/Sandoz, que tem uma planta em Cambé, no Norte do Estado.
“Não é possível montar economia em cima de cadáveres” Disse o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos nesta semana no programa “Café com o MST”. Para Boaventura, a pandemia causada pelo novo coronavírus está expondo o que é o neoliberalismo, “a face mais selvagem do capitalismo”, e suas contradições.
Quase 3 mil mortos Segundo dados do Ministério da Saúde, divulgados na quarta (22), o Brasil contabilizava 2.906 mortes, com 45.757 casos confirmados de coronavírus. O estado mais afetado é São Paulo, com 1.134 mortes e 15.914 casos. No mundo, já são 2,6 milhões de infectados confirmados, com 182 mil mortes.
Subnotificação
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Liderança de Pontal do Paraná organiza solidariedade Pedro Carrano A comunidade Figueiras, localizada em área de ocupação em Pontal do Paraná, organiza campanha de solidariedade para 170 famílias locais, sobretudo para 50 em situação de maior urgência. “No primeiro momento, a prefeitura deu atenção para as famílias com alimento. Mas a gente como comunidade correu atrás, muita gente com trabalho intermitente, muitos carrinheiros e autônomos”, enumera Claudia Antonia Roberto, liderança local. No marco da campanha nacional “Periferia Viva”, a liderança Claudia busca apoio da sociedade civil. Está aberta à necessária ajuda da prefeitura, mas sabe que o povo precisa se virar na própria organização. “A situação está crítica, sobretudo para quem
tem trabalho intermitente. Na campanha, vamos prestar contas, com trabalho fiscal”, elenca. Mesmo com a situação difícil das famílias trabalhadoras, Claudia é crítica à reabertura do comércio não essencial no litoral. Afirma que, até então, a quarentena vinha sendo cumprida. De acordo com ela, há o descaso de turistas para não realizar medidas de prevenção, caso do uso de máscaras. “Sabemos que um hospital atende sete municípios do litoral. Para nós é preocupante, mas o hospital em Paranaguá não vai dar conta de atender todo mundo aqui, a gente fica receoso com a reabertura do comércio, o governo (federal) é omisso”, afirma. Recursos Públicos Maria Luiza Nascimento, militante da campanha Periferia Vi-
va no litoral, completa: “Como tantas comunidades estão vendo o cadastro ao programa renda emergencial demorando séculos? Com a campanha Periferia Viva queremos evidenciar a necessidade de um Estado forte, com políticas sociais que atendam aos interesses do povo. Estamos em luta pelo acesso aos recursos públicos”, afirma.
Contatos para apoio e solidariedade Banco do Brasil Agência 4081-9 Conta Corrente 22531-2 Contatos (41) 97288181 (Claudia) (41) 999231454 (Maria)
A reportagem do jornal inglês “Financial Times”, na segunda-feira, 20, conversou com coveiros que trabalham no cemitério da Vila Formosa, em São Paulo. Foi flagrado o enterro de um homem de 96 anos, que morreu após ser hospitalizado com pneumonia e sem ter recebido os resultados do teste de coronavírus. Questionados, os trabalhadores comentaram que o cenário é comum. “Muitos como ele chegam aqui antes de receber os resultados dos testes. Estamos enterrando muitos.”
Casos no Paraná A Secretaria de Saúde do Paraná registrava 1.025 casos confirmados, com 53 pessoas mortas pelo surto de coronavírus (dados de 21/4). Porém, o número de internações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) foi cerca de três vezes maior que em anos anteriores, segundo a Fundação Oswaldo Cruz. Mais de 1,8 mil pessoas foram internadas com essas síndromes no estado entre 1º de março e 11 de abril. Contra 502 em 2019 e 383 em 2018.
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Famílias sofrem com demora em renda emergencial Pedro Carrano
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oseli* fez inscrição para o programa de renda emergencial, que está em análise há mais de uma semana. Trabalhadora autônoma, ela prepara doces, que o marido, hoje em grupo de risco, vendia nas ruas, mas não tem saído. A situação financeira, dificuldade de ter um plano de internet, idade avançada ou profissão em caráter precário, tudo dificulta a solicitação. O presidente da Caixa justificou em coletiva de imprensa a demora pela grande demanda de pedidos. Porém, para essas famílias, a necessidade não pode esperar. A reportagem do Brasil de Fato Paraná conversou com dez famílias, que vivem no chamado bolsão Formosa, no bairro Novo Mundo, em Curitiba, região histórica de luta por moradia, e apenas uma conseguiu a apro-
Giorgia Prates
Após pressão de Associação Comercial, prefeito Rafael Greca incentiva a reabertura
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43,8 milhões de cadastros para pagamento do auxílio emergencial de R$ 600 para autônomos, desempregados e trabalhadores com MEI. O banco liberou R$ 16,3 bilhões, para 24,2 milhões de pessoas.
DÚVIDAS E CONTATOS Quem não tem conta em banco A Caixa cria automaticamente uma conta digital, via aplicativo. Pode ser feito também saque na boca do caixa ou em agências lotéricas. Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) Esta é uma das principais dúvidas, para quem tem erro ou desatualização no CPF. Quem não tem CPF no Paraná deve enviar e-mail para: atendimentorfb.09@rfb.gov.br. Tenho direito ao auxílio emergencial? O auxílio é para: Contribuinte individual da Previdência Social, Trabalhador Informal, Microempreendedores individuais (MEI), A pessoa deve pertencer à família cuja renda mensal individual não ultrapasse meio salário mínimo (R$522,50), ou cuja renda familiar total seja de até 3 (três) salários mínimos (R$ 3.135,00).
Contato para informações gratuitas e dúvidas: Em Curitiba, ligue: 41 9599-1506 (Anna) Em Londrina: 43 9810-6459 (Fernan)
Porém, muitos trabalhadores não conseguem nem resposta de avaliação do pedido de auxílio. Informação e assessoria popular Pablo Bandeira, advogado popular em Feira de Santana (BA) e integrante do Movimento dos Trabalhadores e trabalhadoras por Direitos (MTD-BA), ajudou a criar, via grupo de Whatsapp, uma rede de informações das famílias de áreas de ocupação – iniciativa que ocorre em vários estados na campanha Periferia Viva. Bandeira afirma que “As pessoas têm muitas dúvidas, dos que já acessaram benefício bolsa família, calendário de pagamento. Em Feira de Santana, estamos com um canal de ‘zap’ com 20 e 30 mensagens por dia”, relata o advogado. Ele elenca também como dificuldades da população problemas no CPF e no pró-
Cidades | 5
Prefeitura de Curitiba confunde população sobre funcionamento do comércio
Governo tarda a depositar recursos e pessoas têm dúvidas e dificuldades com burocracia vação e tem a perspectiva de receber o recurso. O local abriga cinco associações de moradores e diversos barracões de material reciclável. Regina, moradora local, fez a inscrição, mas tem dúvidas sobre como receber o auxílio. É a mesma questão de Tiago, que não sabe como sacar o dinheiro. Ele era encanador e, agora, na crise, trabalha como coletor de material reciclável. Eliane, mãe de dois filhos, um deles com problemas de saúde, relata que há doze dias não tem retorno sobre o pedido. Já Anderson era motorista de Uber, mas enfrenta dificuldades, sem passageiros. O relato de Solange é cortante: “O que eu mais queria era os 600 reais, vendi a geladeira pra pagar o aluguel, fiz o pedido desde o primeiro dia e não sai a análise”, conta. Até 8h do dia 21 (terça), a Caixa Econômica Federal havia contabilizado
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prio recebimento do recurso. “Temos orientado que procurem a Caixa Econômica Federal, o canal de atendimento por telefone, mas o canal está sobrecarregado”, afirma. A mesma situação vivenciam advogados populares em Curitiba e Londrina, que recebem dúvidas de integrantes de comunidades. Anna Sandri, advogada popular que assessora a região da Formosa, reitera que o problema central é a demora. “Há pessoas que não sabiam que tinham direito ao auxílio e, por isso, não haviam feito inscrição. Há dúvidas sobre o funcionamento da poupança digital, e os prazos disponíveis para saque. O governo tem que pagar logo, o povo tem pressa para superar a fome”, critica. *Como o governo federal se mostra cada vez mais autoritário, preferimos preservar o sobrenome dos entrevistados.
Ana Carolina Caldas
prefeito de Curitiba, Rafael Greca, fez pronunciamentos nas duas últimas semanas sobre a reabertura do comércio que trouxeram insegurança e confusão. Apesar de decreto do governador Ratinho Jr determinar que apenas atividades essenciais devam funcionar no estado, enquanto durar o isolamento social contra coronavirus, em Curitiba isso vem sendo descumprido. Comércio, restaurantes e bares começaram a reabrir após solicitação da Associação Comercial do Paraná (ACP) à prefeitura. Num primeiro momento, o prefeito negou pedido dos comerciantes, mantendo as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e o decreto do governador. Mas voltou atrás nos últimos dias. Após novo pedido da ACP, juntamente com o Sindicato das Empresas de Gastronomia, Entretenimento e Similares de Curitiba, no dia 15 de abril, Greca disse que nunca havia mandado fechar o comércio e anunciou regras para estabeleci-
REPETIR O “ERRO” DE MILÃO Em entrevista para a Rádio Cidade, o presidente da Associação Comercial do Paraná, Camilo Turmina, disse que acredita que Curitiba não seguirá os passos de Milão, cidade italiana que foi adepta inicialmente do movimento “Milão não pode parar”. Porém, o que se viu após o anúncio de Greca foram aglomerações e falta de regras de prevenção no comércio aberto no centro da cidade (veja fotos da reportagem do BDF). O prefeito de Milão, Giu-
Giorgia Prates
mentos comerciais abrirem. “Os comerciantes devem entender que abrir uma loja é estabelecer corresponsabilidade comunitária para todos na sociedade. É preciso que o comerciante entenda que, além do dinheiro, existe o grande dever com a vida de todos“, disse. O anúncio chegou na mesma semana em que Curitiba alcançou mais de 400 casos de infectados e nove óbitos. O prefeito tem sido questionado em suas redes sociais sobre as informações contraditórias e também sobre como o comércio será fiscalizado, já que não há informações da prefeitura. Para a vereadora Professora Josete (PT), líder da oposição na Câmara, “com as manifestações da Associação Comercial, o município acabou editando uma resolução que regulamenta o funcionamento dos estabelecimentos comerciais. Observando as situações em outros países, onde não se garantiu isolamento social rígido, como por exemplo, na Itália, chegou-se a uma situação bastante crítica. Acho que população de Curitiba corre grande risco a partir dessa flexibilização.”
seppe Sala, admitiu à rede de TV RAI, que “errou” ao apoiar o Movimento “Milão não para” e ao não iniciar medidas de isolamento social. “No dia 27 de fevereiro, circulava nas redes o vídeo #Milãonãopara. Naquele momento, ninguém tinha compreendido a gravidade do vírus”, afirmou Sala. A província de Milão é a mais atingida pela pandemia na Itália em termos absolutos, com 9.522 casos. A Itália contabiliza 110.574 contágios.
O QUE DIZ A SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE A Resolução 1, publicada na quinta-feira (16/4), estabelece as regras ancoradas nas normas da Vigilância Sanitária para aqueles esta-
belecimentos que estão em funcionamento na cidade. Há decretos estaduais disciplinando o comércio e a legislação municipal da capi-
tal baseada em recomendações que, até agora, têm sido acatadas pela maioria da população, com resultados satisfatórios.
O QUE DIZ O MINISTÉRIO PÚBLICO DO PARANÁ Nesta quinta-feira, 16 de abril, em virtude do anúncio da prefeitura de Curitiba de flexibilização das condutas de isolamento social, com a liberação do comércio, a Promotoria manifestou-se no pro-
cesso reforçando a necessidade de liminar para garantir que essa intenção do gestor municipal seja vedada e que a cidade siga respeitando as determinações da OMS e dos governos estadual e federal.
Além disso, expediu ofício ao município para que apresente justificativa por escrito indicando quais os critérios técnico-científicos que embasaram a orientação pela liberação de serviços não essenciais.
Brasil de Fato PR 6 Brasil
Servidores denunciam condições precárias em penitenciárias do Paraná Sindicato da categoria entrou com ação junto ao Ministério Público por direito à prevenção Joka Madruga
Ana Carolina Caldas
Mulheres correm risco maior de violência em quarentena Lia Bianchini
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alta de álcool gel, termômetros, movimentação de presos de forma indevida, máscaras de modelos inadequados e inexistência de orientação sobre como se prevenir são algumas das situações vividas por policiais penais (antigos agentes penitenciários) do Paraná na pandemia de coronavírus. As denúncias foram feitas pelo sindicato da categoria, o Sindarspen, que acionou o Ministério Público para assegurar proteção aos mais de 3 mil servidores das penitenciárias no estado. Os policiais penais fazem parte das atividades consideradas essenciais e não podem parar, mas o medo de contágio é parte de seu dia a dia. “Há falta de álcool gel, tem sabão, mas não papel toalha. Ficamos de mãos molhadas ou secamos na própria roupa”, relata funcionário de penitenciária de Maringá. Ele reconhece a boa intenção na produção de máscaras por presos, porém diz que não são adequadas. “É uma piada. Não protege e não são higienizadas.” Outro policial, de Foz do Iguaçu, diz que não tem sido possível usar as máscaras. “Vieram todas em tamanho pequeno”, afirma. Apesar de decreto do governo ter suspendido a movimentação de presos, a atividade permanece em unidades penais e sem testagem para o PUBLICIDADE
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coronavírus. “O nosso maior problema é o recebimento de delegacias, sem qualquer orientação para servidores, sem triagem da enfermagem nem medição de temperatura”, conta policial de Maringá. Contato com suspeitos da doença No Hospital Penitenciário, no Complexo Médico Penal (CMP), uma ala foi separada para presos com suspeita de coronavírus, onde cerca de 20 estão isolados. Dois presos foram liberados pela chefia da unidade para cuidar dessa ala. “O que acontece é que este mesmo preso responsável se movimenta entre o hospital e o complexo médico penal, sem nenhum cuidado e podendo contaminar os presos do CMP. Estamos esperando pior”, diz um policial. *Os servidores entrevistados não quiseram se identificar.
Restrição da locomoção por risco de contrair uma doença, insegurança financeira, necessidade de convivência numa relação que já não era respeitosa e igualitária. Esses são fatores que tornam a quarentena um período mais perigoso para mulheres. No início do isolamento, a Polícia Militar do Paraná divulgou aumento de 15% no registro de denúncias relacionadas à violência doméstica. No fim de semana de 20 a 22 de março, foram 217 queixas. No fim de semana anterior, 189. A advogada Sandra Lia Bazzo, do Comitê da América Latina e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher (Cladem), explica que historicamente
o ambiente familiar é um lugar de perpetuação de violências. “A violência está associada a relações de poder. Quem tem mais poder numa família é quem provavelmente será o agressor. E normalmente será o homem em relação a uma mulher”, diz. Para a advogada, o isolamento traz à tona relações que já eram desrespeitosas e desiguais. Junto a fatores psicológicos e econômicos que podem se agravar na pandemia, como ansiedade, desemprego e insegurança financeira.“O ciclo da violência começa com pequenas ações e tende a aumentar gradativamente. Quanto mais tempo de convivência próxima e quanto mais essas relações não forem sólidas e respeitosas, maior o risco”, explica Bazzo.
Fique em isolamento, não em silêncio Ligue 190 Em caso de emergência (tanto para vítima quanto para testemunhas). Ligue 180 Para orientações sobre como proceder em caso de violência WhatsApp (41) 99285-8134 Núcleo de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher da Defensoria Pública do Paraná Ligue 153 Em caso de descumprimento de medida protetiva, em Curitiba acione a Patrulha Maria da Penha A Delegacia de Defesa da Mulher continua com atendimento normal.
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MST doa 45 toneladas de alimentos a hospitais, asilos e comunidades Mobilização marcou Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária Giorgia Prates
Redação
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ssentamentos e acampamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) se mobilizaram em novas doações de alimentos na sexta-feira (17). Hospitais, asilos e famílias carentes de todas as regiões do estado receberam mais de 45 toneladas de alimentos produzidos pelos camponeses, entre grãos, frutas, legumes, tubérculos, folhosas, leite e mel. A ação integra a campanha nacional do movimento em solidariedade a quem sofre com a falta de alimentos na pandemia de coronavírus. E também marcou o Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária, criado em memória aos 21 trabalhadores Sem Terra assassina-
dos no massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará, em 1996. Entre os dias 7 e 13 de abril, comunidades paranaenses do MST já haviam doado outras 35 toneladas de alimentos. Já são 80 toneladas no Paraná e mais
de 500 toneladas para populações carentes em todo o Brasil. “Neste momento atual de crise da saúde pública, a melhor forma de mantermos a lealdade e a memória desses lutadores e camponeses, que deram a vida em prol de uma causa
de repartir a terra, é repartir o que temos de melhor, que é o fruto do nosso trabalho, nosso alimento”, diz Roberto Baggio, da coordenação nacional do MST. Em Curitiba, cooperativas da reforma agrária também doaram 1,5 mi litros de
leite integral ao Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Cerca de 3 toneladas de alimentos foram distribuídas a famílias do Jardim Pantanal, do Boqueirão, da ocupação Portelinha, do Santa Quitéria. Integrantes e apoiadores do MST também produziram e distribuíram cerca de 500 marmitas à população em situação de rua da capital. Houve doações ainda na Lapa, em Londrina, Arapongas, Florestópolis, Centenário do Sul, Porecatu, Jacarezinho, Alvorada do Sul, Ivaiporã, Jardim Alegre, Paranavaí, Maringá, Laranjeiras do Sul, Cascavel, Quedas do Iguaçu, Rio Bonito do Iguaçu, Matelândia, Catanduva, São Miguel do Iguaçu, Santa Tereza do Oeste e Clevelândia.
Defensoria pede repasse da merenda a todos os estudantes das redes públicas Lia Bianchini
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om a suspensão das aulas presenciais na rede pública de ensino, o estado do Paraná restringiu a entrega de alimentos da merenda escolar a estudantes cadastrados no Bolsa Família. Para atender adequadamente a todas as pessoas que possivelmente entrarão em situação de vulnerabilidade na atual pandemia, o Núcleo da Infância e Juventude (Nudiji) da Defensoria Pública do Paraná recomendou à Secretaria de Educação do Estado e à Secretaria Municipal de Educação de Curitiba que seja feito o repasse da alimentação escolar a todos os estudantes de suas redes,
independentemente de cadastro. O defensor público coordenador do Nudij, Bruno Müller, explica que o cadastro pode refletir o “quadro de 2018, 2019, início de 2020”, não necessariamente a real situação das famílias durante a pandemia. “Essa crise do coronavírus impactou muito fortemente várias outras famílias que não estavam no cadastro, famílias que não eram vulneráveis passaram a ser. São muitas pessoas que entram em uma condição de vulnerabilidade que não são representadas pelo cadastro. E as crianças e adolescentes que estão nessas famílias acabam sofrendo o reflexo disso”, explica Müller.
A recomendação da Defensoria foi expedida em caráter extrajudicial, no dia 12. Na segunda (20), o governo do estado respondeu à recomendação de forma negativa,
alegando “inviabilidade técnica, operacional e financeira na atual conjuntura”. Com a negativa, o Nudij deve entrar com ação civil pública contra o governo do Paraná. Divulgação | AEN
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Gibran Mendes
Obras de artistas plásticos da Casa da Resistência estão à venda em site Esculturas, tapeçaria e mosaicos estão disponíveis para ajudar artistas a sobreviver em tempo de pandemia
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Redação Diante da pandemia do coronavírus e as regras de isolamento social recomendadas pela Organização Mundial da Saúde, muitos artistas perderam espaços para expor e vender seus produtos. Pensando nisso, organizadores da Casa da Resistência se uniram ao projeto Propulsão Local e criaram uma alternativa para a venda dos trabalhos. Vários artistas plásticos locais já estão expondo seus produtos em um bazar coletivo eletrônico organizado na união entre a Casa da Resistência e o Propulsão Local, que é um projeto que reúne e impulsiona produtores culturais e empreendimentos. São várias esculturas, utilitárias de cerâmica, tapeçaria e mosaicos dos artistas Alan Max, Ateliê Boitatá, Javier Guerreiro, Mariana Pajuaba e Risolete Bendin. Todos estão disponíveis no site www.propulsaolocal.com.br/loja-casa-da-resistencia
Andréia Carvalho Gavita*
Louva-verbo A louva-verbo no embrião da linguagem. Um caramujo, um musaranho, muralha ruída na família tipográfica da soricomorpha. Qualquer escaramuça letrada. Um verso com escorbuto na mandíbula da mantis, em pose circense para o palco sem substantivos econômicos. Algumas luzes estratosféricas na laqueadura dos advérbios mais abjetos. Nenhuma objeção, nenhum adversário. Nem o marfim agonizando no lábio leporino da savana, nem a fisionomia apática das amebas. Dizem que a revolução é coloquial, para angariar resultados sociais eficientes. Não acredito. A democracia é apenas utópica distração, cheia de palavras disfarçadas em urnas. Entre eleições e eloquentes promessas, voto nos sarcófagos suturados. *Organizadora do Coletivo Marianas de escritoras, e autora do livro Neônia, entre outras publicações.
DICAS MASTIGADAS
Lasanha de pupunha Por Jeferson de Souza
A cada semana, publicamos aqui receitas enviadas por consumidores de produtos agroecológicos da rede colaborativa Produtos da Terra, da Sinergia Alimentos Saudáveis e da Rede Mandala. Parte dos ingredientes pode ser encontrada no site produtosdaterrapr.com.br Ingredientes 8 tomates orgânicos médios Alho, cebola, cheiro verde, manjericão e temperos a gosto 9 a 12 folhas de massa para lasanha 500 gramas de espaguete de palmito pupunha orgânico 200 a 300gramas de queijo Óleo ou azeite de oliva Preparo do molho Doure levemente cebola e alho no fio de óleo ou azeite de oliva. Acrescente o tomate picado. Cozinhe em fogo brando até o ponto desejado. Se massa para lasanha for previamente hidratada, deixe o molho mais pastoso. Para massa não hidratada deixe o molho mais líquido. Neste último caso, recomenda-se usar a água que foi usada para amolecer a pupunha. Quando o tomate estiver desmanchando, acrescente os temperos de sua preferência. Dica: colocar o cheiro verde somente depois que o molho estiver pronto para evitar a perda de sabores.
Preparo da pupunha Deixe a pupunha em um pouco de água fervente por 5 a 10 minutos para amolecer um pouco (o espaguete é retirado da parte mais fibrosa do palmito). Montando e assando a lasanha Intercale camadas de molho, massa de lasanha e uma mistura de espaguete de pupunha com queijo. Se a massa não foi previamente hidratada, a primeira camada deve ser sempre de molho, além disso a massa de lasanha deve ser sempre coberta por molho. Divulgação Em seguida, coloque uma camada de queijo misturada com palmito de pupunha. Para realçar, use também folhas de manjericão fresco. O processo é repetido até que a forma esteja toda preenchida. Leve ao forno preaquecido a 180°C e asse por cerca de 30 a 40 minutos. Para checar o ponto, verifique se a massa está amolecida e se o excesso de água evaporou.