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Moro X Bolsonaro: crimes denunciados Ex-ministro da Justiça denuncia presidente por interferir na PF por questões pessoais. Bolsonaro diz que Moro aceitaria troca se ganhasse vaga no Supremo. Governo está em guerra, rachado e levando país ao abismo Divulgação
Lula Marques | Fotos Públicas
PARANÁ
Ano 4
Edição 164
30 de abril a 6 de maio de 2020
distribuição gratuita
Irresponsabilidade que mata Prefeitura libera comércio e reduz frota de ônibus em Curitiba. Além de dar milhões de reais para empresas Brasil | p. 4 Giorgia Prates
www.brasildefatopr.com.br
O POVO QUE SE ORGANIZA Qual é o papel de associações de moradores em tempos de crise?
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29 de abril de 2015
Risco de extermínio
Solidariedade no interior
Cinco anos depois, servidores continuam sob ataque
Vírus, invasão de terras e sucateamento da Funai atingem indígenas
Em Londrina, campanha visa a doações e a garantir direitos
EDITORIAL
Brasil de Fato PR 2 Opinião
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Solidariedade SA versus Solidariedade Popular
mundo mudou e uma saída tem aparecido em propagandas de TV, que mostram ações de solidariedade protagonizadas por empresas, que buscam lucro. De outro lado, estão as ações dos movimentos populares, que buscam organização e protagonismo. A TV dá mais destaque à chamada “Solidariedade SA”, caso do Itaú Unibanco, que doou R$ 1 bilhão para Fundação Itaú (sendo que o lucro do banco foi de R$ 28,4 bilhões em 2019). Essas grandes empresas fazem marketing em cada ação de solidariedade anunciada, propagandas de esperança que nos convidam a reinventar o futuro com um discurso de empreendedorismo que exalta o trabalho em casa, disponibilizam ainda atendimentos via aplica-
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tivos ou Whatsapp e assim vão construindo um horizonte ainda mais desigual e inacessível ao trabalhador. A solidariedade que não é propagandeada é a solidariedade popular, a que não tem espaço no “Jornal Nacional”, mas que é feita pelo povo e com o povo, a partir das demandas reais. Toneladas de alimentos foram distribuídas, ações de conscientização para combater a desinformação gerada por fake news; assessorias jurídicas gratuitas com o pedido do auxílio emergencial. Esse trabalho de casa em casa traduz o objetivo: garantir a vida e a dignidade do trabalhador brasileiro. Que o novo mundo seja de solidariedade verdadeira e não uma mera propaganda.
SEMANA
110 caracteres com espaço
De onde tirar o dinheiro para pagar a conta da crise
OPINIÃO
Juliane Furno,
doutoranda em Desenvolvimento Econômico na Unicamp, assessora parlamentar da Câmara Federal e militante do Levante Popular da Juventude e da Consulta Popular
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iante da grave crise econômica e social que estamos vivendo, assistimos ruir o mito do “não tem dinheiro”. As equipes econômicas dos governos neoliberais, do passado recente e do presente brasileiro, ensejaram a necessidade de profundas reformas no estado brasileiro sempre com essa consigna. Instituir teto de gastos, outras políticas de ajuste fiscal e a reforma da previdência são alguns dos elementos que exemplificam isso. Se não tem dinheiro como é que o governo acabou de aprovar um plano com a destinação de R$ 30 bilhões em investimentos para os próximos 3 anos? Ou mesmo a aprovação da renda básica emergencial? E os R$ 98,2 bilhões para financiar a complementação dos salários inscritos na MP 936? Com isso, obviamente, não estou questionando a validade e a urgência dessas medidas. Com isso quero, apenas, demonstrar a falácia do argumento predominante de que “o estado está quebrado” ou que “não tem dinheiro”.
Muito diferente das famílias e das empresas, o estado brasileiro não tem constrangimentos monetários ao seu gasto. Ele pode gastar mais do que arrecada. O que limita a elevação do gasto público repousa em outros fatores, tais como o custo da rolagem do endividamento, expresso pela taxa básica de juros; a possibilidade de inflação pela baixa capacidade de oferta e se os agentes econômicos estarão ou não dispostos a carregar o custo do endividamento em reais. Assim, é importante frisar que os estados com soberania monetária têm condições de “imprimir” moeda, elevando seu gasto independentemente da receita. Portanto, em momentos como o de crise econômica que está vivendo no mundo, aguçado fortemente pela crise da coronavírus, é tarefa dos estados gastarem muito mais do que arrecadam, para manter o nível de atividade, sustentar a demanda agregada e dirimir o quadro de recessão que se avizinha. Divulgação
EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 164 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.
Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Juliane Furno, Gabriel Pansardi Ruiz, Fernan Silva e Ana Keil ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com
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29 de abril. Há cinco anos, a Assembleia Legislativa do Paraná votava pacotaço do ex-governador Beto Richa (PSDB) que atacava direitos do funcionalismo público do estado. Entre as medidas estava o saque de recursos do ParanaPrevidência. A votação aconteceu com forte aparato policial. Conduzida pelo agora deputado estadual, Delegado Francischini (PSL), o episódio ficou conhecido como Massacre do Centro Cívico, em que servidores públicos foram alvos de bomba e tiros de borracha por mais de duas horas para que o projeto fosse aprovado. Naquela época, o presidente da Alep era o deputado tucano Ademar Traiano. O presidente ainda conduziu em 2019 a Reforma da Previdência estadual, aumentando alíquotas dos servidores públicos em votação que aconteceu na Ópera de Arame, em uma manobra exitosa de Traiano e do atual governador, Ratinho Junior (PSD), que na época do Massacre de 29 de abril era secretário de Beto Richa e controlava dois partidos na Alep. Os efeitos dessa votação estão sendo sentidos agora, com o funcionalismo pagando 14% de previdência. Os ataques não pararam. Neste 29 de abril, cinco anos depois, projeto 189/2020 do governador Ratinho Junior, extingue cargos na educação, em universidades e na saúde em meio à pandemia.
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COLUNA
FRASE DA SEMANA
“Um a cada três brasileiros acha isto uma pessoa boa ou ótima. Onde nós erramos?”
“A bomba não é aqui dentro. Então, vamos votar”
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Disse o escritor Antonio Prata em seu Twitter ao repercutir a frase de Jair Bolsonaro, que questionado sobre o recorde de 5 mil mortos pelo Covid-19, respondeu: E daí? Lamento, quer que faça o quê?
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Moro X Bolsonaro, disputa mostra crimes e tráfico de influência Ex-juiz acusa presidente de querer interferir na PF. Bolsonaro diz que Moro aceitaria se fosse indicado ao Supremo Frédi Vasconcelos Quando renunciou ao Ministério da Justiça, o ex-juiz Sérgio Moro acusou o presidente Jair Bolsonaro de cometer crimes. Entre eles tentar interferir nas investigações da Polícia Federal. “O presidente queria alguém que ele pudesse ligar, colher informações, relatório de inteligência. Seja o diretor, seja o superintendente. E, realmente, não é o papel da PF se prestar a esse tipo de função”, disse Moro. Em diálogo que teria tido com o presidente, Bolsonaro teria respondido que queria ter interferência política nas nomeações de chefes da PF. Isso ficou provado com a indicação de um amigo de seu filho, que foi barrada pelo Supremo Tribunal Federal na quarta, 29. Além disso, teria indicado que pretende trocar os superintendes da PF no Rio de Janeiro e em Pernambuco. No Rio de Janeiro ocorrem investigações sobre o assassinato de Marielle Franco e processos contra filhos do presidente.
Já Bolsonaro retrucou que Moro aceitaria a troca do chefe da Polícia Federal desde que fosse indicado para vaga no Supremo Tribunal Federal no final do ano. “O senhor Sérgio Moro disse pra mim: você pode trocar o Valeixo, sim, mas em novembro, depois que o senhor me indicar para o Supremo Tribunal Federal”, disse Bolsonaro. Possibilidade de impeachment Em entrevista em programa ao vivo do Brasil de Fato Paraná na sexta-feira, 24, o professor de Direito da Universidade Federal do Paraná Ricardo Prestes Pazello, afi rmou: “A dinâmica do processo de impeachment é mais política que jurídica, e isso foi constatado contra a ex-presidente Dilma, em 2016, mas motivos (jurídicos para o impeachment) não faltam, o que falta é um entendimento político e força social. É difícil aos setores progressistas recusarem o ‘fora Bolsonaro’, mas este se dará por obra da direita, dos setores conversadores. Seria um arranjo da burguesia nacional.”
JUVENTUDE
Anticomunismo: uma doença na história Nas últimas semanas, notícias falsas de máscaras vindas da China com o vírus da Covid-19 fez com que conservadores se negassem ao uso, alegando que a contaminação seria intencional visto o plano chinês de dominar o mundo implementando o comunismo. No interior de São Paulo uma mulher foi autuada por desrespeitar o decreto municipal, ela resistiu à prisão e chamou a Guarda Municipal de comunista. O ódio ao comunismo prolifera, mesmo que muitos não saibam o que é isso. A outra face desta moeda é o negacionismo, não existe doença, não existiu ditadura... tudo invenção! A minoria que acompanha os discurso de Bolsonaro faz carreatas pela reabertura do comércio e pede a volta do AI-5 para proteger o país da ameaça (novamente) comunista. O anti-comunismo é antigo, começou com Hitler, em 1933, foi usado pelos Estados Unidos durante a Guerra Fria e atualmente é resgatado por políticos como Trump e Bolsonaro. Por que em meio à crise sanitária, econômica e política, ainda se esforçam para colocar o alvo nas costas desse tal comunismo? Parece que está em jogo manter ou não este sistema. Para eles o mundo precisa ter medo de toda alternativa que não seja a exploração. Para nós, a vida vem antes do lucro. Ana Keil e Fernan Silva são militantes do Levante Popular da Juventude e pesquisadores na área de arte e linguagem
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Greca diz que aumentar frota de ônibus é desperdício, mas repassa milhões a empresários Com redução da frota, ônibus e terminais ficam lotados e dificultam isolamento social Giorgia Prates
VEXATÓRIO
Ana Carolina Caldas
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odos os dias nas redes sociais do prefeito de Curitiba, Rafael Greca, há inúmeros curitibanos expressando preocupação quanto aos ônibus lotados, sem fiscalização em tempos de pandemia. Porém, as respostas do prefeito não têm agradado a quem espera uma política séria de proteção aos usuários do transporte coletivo. Na terça, 28, uma internauta questionou o prefeito, no Facebook, sobre quando a frota voltaria ao normal, já que as linhas estão operando com número reduzido de ônibus e horário de sábado. “As pessoas voltaram a trabalhar e continua o horário de sábado. Não adianta nada dizer para evitar aglomerações se no coletivo acontece diariamente isso.” O prefeito, que responde pessoalmente em suas redes sociais, disse que “só voltarão ao normal quando a cidade reabrir. Temos 200 mil passageiros para 240 mil lugares sentados. Não temos dinheiro para sustentar desperdício.” A resposta gerou protestos de outros internautas. Porém, o que disse o prefeito entra em contradição com o projeto de lei que enviou à Câmara Municipal para socorrer empresários que exploram o serviço, sob a alegação de estarem com prejuízos em razão do Covid-19. O projeto enviado destina 200 milhões de reais para emergências, citando no texto apenas as empresas de transporte coletivo. O projeto foi aprovado pelos vereadores. Em carta destinada aos vereadores de Curitiba, mais de 100 entidades e organizações sociais da cidade pediram que os vereadores reprovassem o projeto por não ser uma emergência. “Mais grave que desviar dinheiro público com o seu voto é doar a meia dúzia de famílias milionárias, que há mais de 54 anos exploram, sem concorrência, o trans-
Empresários obrigam trabalhadores a se ajoelhar contra quarentena
porte coletivo. Esses empresários continuam explorando a população com a tarifa mais cara do Brasil.” Desde o início da pandemia, poucas mudanças ocorreram no sistema do transporte coletivo que garantissem minimamente a prevenção. Em resposta ao Brasil de Fato Paraná, a comunicação da URBS Reprodução Redes Sociais
informou que “já foram muitas mudanças efetivadas, desde operações de limpeza com peróxido de hidrogênio, orientação de prevenção dos usuários e projeto de lei para garantir pagamento e emprego dos motoristas e cobradores.” Sobre a diminuição da frota e falta de fiscalização quanto às regras de distanciamento social, a empresa nada informou. “O mais preocupante é que, com a redução de ônibus, fica mais gente aglomerada”, diz usuário do transporte coletivo. Ivan Carlos Pinheiro, morador da ocupação Ferrovila, usa o transporte três vezes por semana para tratamento médico. Ele relata que a situação é preocupante. “Apesar de eu observar que as pessoas têm usado máscara e álcool gel, por conta própria, a aglomeração continua,” relata. Segundo ele, os alimentadores, que têm levado os passageiros até os terminais, estão com ocupação normal, ou seja, sem redução de número de pessoas esperado em tempos de pandemia. “Em função das empresas estarem reduzindo o número de veículos operando, fica sobrecarregado e reúne muita gente por viagem,” diz Ivan.
A população da Paraíba assistiu a uma cena chocante na segunda-feira (27). Trabalhadores do comércio de Campina Grande ajoelhados, fazendo louvores e orações pedindo a reabertura do setor. Por trás da ação, um protesto da Câmara de Dirigentes Lojistas de Campina Grande ao Tribunal de Justiça da Paraíba que buscava a reabertura do comércio local. Após o ato vexatório, vários comerciários denunciaram anonimamente ao sindicato os constrangimentos a que foram submetidos para que a atividade fosse realizada. Em nota, o Sindicato dos Comerciários de Campina Grande se posicionou dizendo que “é falsa a informação que este movimento foi organizado e realizado em comum acordo entre as partes”. Reprodução
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Qual o papel das associações de moradores neste momento? Semanalmente, reportagem traz ações de associações de moradores em tempos de pandemia Pedro Carrano
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este momento de crise da pandemia de covid-19 e crise econômica, associações de moradores cumprem o papel de contribuir na organização da solidariedade, com as demandas por orientação jurídica e das lutas pela manutenção
de direitos sociais. Nos anos anteriores, esses espaços viveram dificuldade de mobilização e tentativa de enfraquecimento por parte das gestões municipais. Agora, têm uma missão urgente a cumprir na organização dos bairros. Atualmente, as novas tecnologias e redes sociais cumprem também pa-
pel organizativo. Ivanilda Guimarães integra o Centro Social Alceu Grey, no bairro Pinheirinho, de abrangência de 500 famílias e atendimento das vilas Santo Antônio e Planta Piratini. As atividades promovidas estão suspensas e a dedicação da associação é para auxílio emergencial às famílias.
“Temos atividades, como capoeira e Zumba, temporariamente encerradas. Estamos na arrecadação de alimentos para famílias que conhecemos, famílias de catadores, alguns autônomos”, afirma a secretária da associação. Cada espaço encontra sua forma de ação. O programa de renda emergencial é tema
de dúvidas dos moradores e o grupo de Ivanilda auxilia na inscrição no programa. “Fazemos o pedido, muitas pessoas não têm acesso à internet, a maioria não consegue baixar aplicativo de celular”, comenta. *A reportagem decidiu preservar alguns nomes de lideranças sob risco de represálias do poder público.
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JUVENTUDE À FRENTE O papel da juventude na direção de algumas associações tem sido um fator novo. A Associação de Moradores Moradias Sabará, localizada na Cidade Industrial (CIC), é organizada em sua maioria por jovens, focados neste momento em campanha de solidariedade, em território que abrange mais de 50 mil famílias fraudadas pelos contratos da Cohab. “Como não estamos podendo atuar com os cursos e oficinas que fazíamos, participamos de rede de solidariedade, para comprar alimentos e cestas, identificamos famílias que precisam mais, fazendo cadastros”, afirma Diego Torres, integrante da associação.
Em Araucária, comunidade Santa Cruz resiste contra destruição de casas
ASSOCIAÇÕES EM LUTA
Redação
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alas de borracha. Trator. Estilhaços. Mulheres mais velhas feridas em ação desnecessária e violenta da Guarda Municipal de Araucária que ocorreu na área Santa Cruz, no dia 25. A associação de moradores da comunidade Santa Cruz tem coordenado a resistência neste momento. A justificativa oficial é que as pessoas não estariam sendo despejadas da área de ocupação. Porém, é fato que o objetivo é destruir parte de suas construções. O Tribunal de Justiça do Paraná indica não haver des-
pejos forçados, e que este tipo de situação não deveria acontecer. Então, durante a pandemia, moradores são obrigados a pressionar a prefeitura local (que deveria apoiar as famílias em lugar de destruir parte de suas casas). “Estamos aqui, representando os moradores, deram autonomia e estamos lutando por eles, trabalhando em prol da comunidade”, afirma “Foz”*, trabalhador da construção civil e liderança local da associação. Ele afirma que o princípio da associação é agir com autonomia, articulando-se com outras comunidades – caso da área 29 de março, no Sabará (CIC).
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PERIFERIA VIVA No marco da campanha Periferia Viva, que envolve organizações como MST, Levante Popular da Juventude, Consulta Popular e Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras por Direitos (MTD), entre outras, Ronaldo de Souza, da União de Vilas da Grande Cruzeiro (RS), afirmou, em transmissão semanal da campanha, que o objetivo das organizações de bairro é “articular os interesses do povo em prol de um objetivo maior. A organização humana parte dos grupos, e o que estamos fazendo ali está se convertendo em força política”, defende.
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Movimentos de Londrina lançam campanha solidária de arrecadação Gabriel Pansardi Ruiz
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m tempos de pandemia, a solidariedade é essencial. É com esse espírito que o Movimento dos Trabalhadores por Direitos (MTD) articulou a campanha nacional “Periferia Viva! Solidariedade para combater o coronavírus” para garantir direitos para a população nas periferias, organizar e realizar doações e conscientizar as pessoas por meio de dados seguros, combatendo a desinformação. Em Londrina (PR), a ação é desenvolvida junto aos moradores da ocupação Flores do Campo, no norte da cidade. A integrante do MTD e da Consulta Popular (CP) Raquel Mailan explica que o objetivo da campanha é impulsionar territorialmente essa forma de solidariedade. “Não como caridade, mas autonomia e emancipação do povo”, define. Para a moradora da Flores do Campo Josinéia da Silva, que vive no local desde o princípio da ocupação, em 2016, PUBLICIDADE
Pontos de arrecadação em Londrina Paróquia Nossa Senhora Aparecida - Av. Guilherme de Almeida, 2715 – Parque das Indústrias. Terça, quarta e quinta, das 16h às 19h. Paróquia Santa Cruz - Rua Wilson Gonçalves Brandão, 535 - Conjunto Luiz de Sá. Terça, quarta e quinta, das 16h às 19h. Canto do Marl - Av. Duque de Caxias, 3241 – Centro. Segunda, quarta e sexta, das 10h às 18h.
a campanha é fundamental. “Nessa situação do coronavírus está difícil, então a ajuda é importante, agradecemos muito, aqui tem casa que não tem o que dar de comer pra criança”, afirma. Além de alimentos não perecíveis, Silva indica que há necessidade de fraldas descartáveis, máscaras de proteção, materiais de higiene e limpeza. Periferia Viva Além de Londrina, a campanha Periferia Viva ocorre em outras locali-
Paróquia Anglicana de São Lucas - Rua Mossoró, 678 – Centro. Terça e quinta, das 9h às 12h. Também é possível colaborar com doações em dinheiro, na Caixa Econômica Federal Agência 2731 - Conta 00004995-8 - Poupança 013 – Sara Gladys Toninato.
dades. A militante da Consulta Popular e do MTD, Eliane Martins, reforça o caráter de solidariedade que está em jogo. “Grandes empresas, bancos etc. estão sendo solidários passivamente, não estão interessados em escutar as demandas nem dar voz à população”. Para ela, “junto com a ação tem que chegar também uma mensagem de responsabilidade coletiva de um povo que não pode mais apenas assistir à própria história”, completa.
Bancários temem contaminação com aglomeração em busca do auxílio emergencial Ana Carolina Caldas Dede o início da pandemia do coronavírus, bancários reivindicam que as empresas adotem regimes diferenciados de atendimento. A maioria, após a pressão dos trabalhadores, tem realizado atendimento parcial, com distanciamento social e número reduzido de clientes. Porém, na Caixa Econômica Federal, a partir do anúncio do pagamento do auxilio emergencial de 600 reais, a situação tem sido caótica. O Comando Nacional dos Bancários e a Comissão Executiva dos Empregados (CEE/Caixa) solicitaram que uma campanha informativa fosse feita pelo governo federal para evitar filas e aglomerações. Mas isso não ocorreu, e em muitas agências
os empregados precisam ir até grandes aglomerações em frente a agências para explicar como as pessoas devem proceder. Segundo Antônio Luiz Fermino, dirigente do Sindicato dos Bancários de Curitiba, a rotina diária tem sido desgastante. “Há impacto na saúde mental destes trabalhadores que, de um lado, precisam organizar essas filas e informar que as pessoas não conseguirão informação lá e, de outro, o medo constante de contágio,” explica. Fermino diz que a preocupação é proteger o trabalhador do risco de contágio e também da sobrecarga de trabalho. “Ainda muitos EPIs não vêm sendo implementados com segurança e de forma eficaz nas agências da Caixa neste momento de filas enormes.”
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Cooperativa do MST quer fortalecer doações Copavi faz arrecadação “online” para ajudar agricultores a doarem alimentos em Paranacity Coletivo de Comunicação do MST
tros agricultores familiares. A intenção é entregar 200 cestas a famílias indicadas pelo Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) de Paranacity, Cruzeiro do Sul e Inajá. “É uma situação de muita insegurança, mas temos fortalecido muito em nós a garantia da produção de alimentos, tanto para as famílias que estão aqui quanto para a comunidade ao nosso redor. Produzir alimentos pra que consiga se manter e passar por esse período”, diz Sturmer.
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ampo e cidade juntos alimentando quem precisa”. Esse é o lema da campanha de arrecadação “online” da Cooperativa de Produção Agropecuária Vitória (Copavi), de Paranacity. O objetivo é levantar fundos para que agricultores familiares mantenham suas produções e possam doar parte à população da cidade. Localizada no assentamento Santa Maria, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a Copavi tem feito ações de solidariedade. Em abril, doou 60 litros de álcool 70% ao hospital municipal, além de produtos como açúcar, ervas medicinais e hortaliças para a paróquia da cidade. A pandemia de coronavírus, no entanto, tem trazido dificuldades aos agricultores. Cristina Sturmer,
assentada e da diretoria da Copavi, explica que a quarentena acarretou queda na demanda e dificuldade para vender, uma vez que os deslocamentos estão restritos. “A gente precisa de uma alternativa pra po-
der entregar a produção que, de um jeito ou de outro, está parada”, diz. A campanha de arrecadação veio como alternativa para fazer doações. Além da produção da Copavi, a iniciativa vai unir produtos de ou-
As doações podem ser feitas até o dia 11 de abril pelo site: https://www.kickante. com.br/campanhas/campocidade-ajude-alimentarquem-precisa
População indígena tem maior vulnerabilidade na pandemia Lia Bianchini
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esde a primeira invasão europeia, há 520 anos, os povos indígenas têm sido dizimados - dentre outras violências - por doenças dos colonizadores. Neste ano, com o coronavírus, os povos originários continuam em maior vulnerabilidade. Kretã Kaingang, da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e cacique da aldeia Tupã Nhe’é Kretã, explica: “Estamos em comunidades que vivem em coletivo, utilizam o território e a terra em coletivo. Nós estamos muito vulneráveis não só pela Covid, mas pela questão de invasão de terras, sucateamento da Funai, do Ibama, por políticas negativas, que procuram negar a demarcação do nosso território”, diz. O cacique afirma ainda existir maior risco de contaminação em aldeias próximas a centros urbanos. Na região de Curitiba, três aldeias se encontram nessa situação, a Tupã Nhe’é Kretã, de São José dos Pinhais; a Araçaí, de Piraquara; e a Kakané Porã, do bairro Campo de Santana, na capital paranaense. O cacique Setembrino Rodrigues, da Kakané Porã,
conta sobre as dificuldades. Muitos dos moradores têm trabalhos na cidade. Grande parte também sobrevive da venda de artesanato. Com a pandemia, muitos ficaram desempregados e a venda de artesanato praticamente cessou. “Tem pessoas que já estão começando a passar dificuldade, quem tem mais família, mais crianças. A nossa situação está complicada”, diz. Joka Madruga
APOIE ALDEIA INDÍGENA Mandato Coletivo Ekoa: Rua Lourenço Pinto, 260, Centro. Tem também arrecadação em dinheiro, pela vaquinha virtual: www.vakinha.com.br/ vaquinha/doacao-alimentosaldeia-kakane-pora Projeto Origem: Rua Luiz Leduc, 200, sobrado 46, Vista Alegre (falar com Luiza). Doações em dinheiro no site: abacashi.com/ p/ficaemcasaparente Distrito Sanitário Especial Indígena Litoral Sul: R. Prof. Brasílio Ovídio da Costa, 634690 - Portão, Curitiba.
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Donos de bares e restaurantes defendem fechamento do comércio Mais de 100 estabelecimentos de Curitiba estão contra flexibilização do isolamento Divulgação
Redação Em carta aberta, mais de 100 donos de bares e restaurantes repudiaram a omissão da Prefeitura de Curitiba em não regulamentar o funcionamento do comércio. “Os casos da COVID-19 seguem crescendo e, mesmo ciente dos fatos, a Prefeitura opta por deixar a regulação do funcionamento do comércio nas mãos dos próprios comerciantes – isentando-se de atuar, por exemplo, na liberação de fundos que garantam a segurança do segmento. Queremos participar do debate, porque, até agora, somente aqueles que querem flexibilizar a quarentena estão decidindo por nós”, diz um trecho da carta. O movimento chamado “Fecha-
dos pela Vida” defende que o poder público dê suporte aos estabelecimentos para que resistam à pandemia e seja responsável quanto à
defesa da vida. “Esse período está sendo extremamente complicado financeiramente para nós, mas entendemos que a prioridade é a vida
das pessoas. Precisamos SIM de ajuda financeira para manter nossos negócios vivos e os empregos de tantas pessoas. A decisão de abrir não pode ser pautada por decisões puramente econômicas ou políticas. A prioridade é a saúde”, afirma o documento. Além disso, defendem que o comércio deve reabrir somente quando forem obedecidas as recomendações da Organização Mundial da Saúde para flexibilizar o isolamento social.
Para saber mais acesse: https://www.facebook. com/fechadospelavida Gibran Mendes
DICAS MASTIGADAS
Bolinho da quarentena Por Cibelle Prohmann A cada semana, publicamos aqui receitas enviadas por consumidores de produtos agroecológicos da rede colaborativa Produtos da Terra, da Sinergia Alimentos Saudáveis e da Rede Mandala. Parte dos ingredientes pode ser encontrada no site produtosdaterrapr.com.br Ingredientes 2 bananas orgânicas 2 colheres de açúcar mascavo orgânico Copavi. 2 colheres de cacau. 1 ovo. 1 colher de pasta de amendoim (pode ser substituído por óleo de coco). 1 colher de fermento. 1 colher de alguma farinha (aveia, amêndoa, de castanha do caju ou amendoim). 2 quadradinhos de chocolate 70% cacau. Modo de preparo: Misture todos os ingredientes num liquidificador e asse por 20 minutos.
Cibelle Prohmann
Por Pedro Carrano
Eu estou aqui dentro Sabíamos que ela estaria em casa para receber uma cesta de alimentos. Embora não tenha celular, nem TV, nem telefone fixo neste momento. Nem número nem caixa de correio, nada. Os cães da vizinhança se agitam com nossa chegada. Vivem de buscar água no seu bebedouro generoso. Aquele quarteirão é de Silvia, das suas latas e papelões, ela que vaga pelo centro, pelo bairro, e ao final organiza as cores do lixo. Silvia mora numa garagem alugada, com direito a banheiro, perto da associação de moradores da Vila Formosa. Uma boa pessoa. Corpo alto e frágil, diz que o peso do carrinho de catar papel, com os anos, vergou sua coluna. O pouco de material que ainda é recolhido é guardado numa caixa d´água, bem organizada, onde o papelão passa por quarentena. Adentramos a garagem exibida com orgulho. Ela vive é da memória, recortes de reportagens, “Tem essa de um jornal japonês!”, fotos do carnaval curitibano. Antes de a gente seguir rumo à próxima casa, confesso que doeu um pouco no peito o pedido de Silvia: “- Vai demorar pra acabar essa pandemia, vocês acham? Eu estou aqui dentro, o dia inteiro. Nunca mais saí desde que começou isso. Eu fico deitada nessa minha caminha. As outras pessoas também estão em casa, não é?”