Brasil de Fato Paraná - Edição 165

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Brasil | p. 5

Mulheres e a resistência Associações de moradores, centros sociais, grupos de bairro contam com lideranças femininas à frente da organização, neste momento de crise econômica, política e sanitária

Giorgia Prates

PARANÁ

Ano 4

Edição 165

7 a 13 de maio de 2020

distribuição gratuita

Milhões para donos de ônibus Greca aprova projeto para dar dinheiro a empresas ao mesmo tempo que corta benefício de professores Brasil | p. 4 Giorgia Prates

www.brasildefatopr.com.br

Briga de bons compadres Moro depõe contra Bolsonaro e reafirma tentativa de presidente em colocar alguém “seu” na PF do Rio, onde parentes são investigados Geral | p. 3 Giorgia Prates

Editorial | p. 2

Brasil | p. 6 7

Opinião | p. 2

Governo autoritário

Medo do futuro

Quem eles representam?

Presidente ameaça democracia e ignora problemas do povo

Liderança indígena protesta contra abandono da Ilha da Cotinga

Como se posicionam as classes sociais e suas representações


Brasil de Fato PR 2 Opinião

Paraná, 7 a 13 de maio de 2020

Quem se responsabilizará pela tragédia vivida?

SEMANA

OPINIÃO

Letícia Arcanjo Freitas,

Militante do Levante Popular da Juventude e estudante de Ciências Sociais

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Bolsonaro impõe autoritarismo e caos ao país EDITORIAL

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olsonaro reafirma, cada vez mais, o autoritarismo de seu governo. A cada pronunciamento ficam explícitas as ameaças às instituições democráticas, à imprensa, à ciência. Nesta semana, participou novamente de ato contra o STF e o Congresso afirmando que não vai “mais admitir interferência” e invocando as Forças Armadas em sua defesa. Sabe-se do número recorde de militares da reserva em seu governo. Embora, oficialmente, o exército não tenha, até aqui, endossado tais opiniões. As características neofacistas do governo são evidenciadas na manipulação de informações, no desprezo aos mais pobres, no apelo à

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violência, na afronta a todas as instituições que têm como função fiscalizar abusos do poder Executivo. Bolsonaro foge do debate sobre a crise sanitária e humanitária que devasta, em números alarmantes, um dos países mais desiguais do mundo. Enquanto grande parte da população corre atrás da sobrevivência e conta os mortos vítimas da pandemia, o presidente agrava a crise parecendo se aproveitar do contexto caótico e desolador para implementar seus projetos, que beneficiam apenas seus familiares e aliados. Cabe ao povo organizado e às instituições democráticas do país conter o presidente que ameaça a vida dos brasileiros.

e um lado, Bolsonaro diz que “a economia não pode parar, os pequenos vão quebrar”. De outro, Doria e Rodrigo Maia dizem que “estamos todo no mesmo barco”. Mas afinal, que interesses estão por trás desses posicionamentos? Uma das lições apreendidas pelo cientista e revolucionário Karl Marx, nascido há 202 anos, é que as figuras que se expressam na cena política – nesse caso, Bolsonaro, Doria ou Moro – são representações de interesses de classes sociais. Essas representações são sustentadas pela classe dominante, composta por latifundiários, empresários, banqueiros e industriais. Mas as classes sociais não são um bloco uniforme. Têm divisões. O isolamento social é, até agora no mundo, a única e melhor medida para o controle da pandemia. E essa medida, que paralisa parte das economias, coloca partes dessa classe social em conflito. A me-

dida, inevitável para a preservação da vida, apresenta diferentes impactos para as frações da classe dominante. Empresas como Havan e Riachuelo, indústrias representadas pela FIESP e pequenas e médias construtoras, veem seu lucro cair com o isolamento social e sustentam Bolsonaro e o neofascismo no governo. A sustentação das outras representações é dada pelos bancos, pelas empresas de telecomunicações e pela mídia tradicional – que vêm aumentando suas taxas de lucro e recebendo grandes montantes de dinheiro como ajuda do governo em decorrência da pandemia. Embora se expressem de formas diferentes, as diversas frações da classe dominante têm, em comum, a defesa de seus interesses econômicos às custas do sofrimento dos trabalhadores. O projeto neoliberal aplicado desde 2016 pela classe dominante limitou os investimentos nos serviços públicos com a EC 95, flexibilizou as leis trabalhistas, nos empobreceu e nos deixou ainda mais vulneráveis à crise sanitária e econômica que nos atinge. Giorgia Prates

EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 165 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Letícia Arcanjo Freitas, Venancio Oliveira e Juliana Maria ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com


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FRASE DA SEMANA

PT pode ter Veneri como candidato a prefeito de Curitiba O deputado estadual e líder da bancada do PT na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), Tadeu Veneri, pode ser o candidato do partido à Prefeitura de Curitiba novamente. Ele já havia representado o PT em 2016, após a sigla não aderir à reeleição de Gustavo Fruet (PDT). Para ser candidato, o deputado precisa ser indicado pelo diretório municipal. De olho nisso e no calendário eleitoral, um manifesto em defesa do seu nome foi lançado. O manifesto repete o mote de 2016 de enfrentar os “donos da cidade” e ainda acrescenta o enfrentamento a “destruição do serviço público” promovida pela agenda neoliberal do presidente Jair Bolsonaro. “Quatro anos depois, estamos nos dispondo a desafiar, mais uma vez, os “donos da cidade”, que venceram em 2016 e, novamente em 2018, para o governo do Paraná. Juntos, estão seguindo com a agenda do governo federal de destruição do serviço público e corte de direitos da população. E, que agora, durante a pandemia do coronavírus, revelam uma face criminosa, que expõe a vida dos cidadãos para continuar faturando e mantendo seus privilégios”, diz o abaixo-assinado.

“Se perder a governabilidade, eu torço e espero uma renúncia para evitar o processo de impeachment, que sempre é traumático” Disse o diretor executivo do São Paulo e ex-jogador da seleção brasileira, Raí, sobre o impeachment de Jair Bolsonaro. Para ele, no momento, o foco tem de estar no combate à pandemia. “Não é uma coisa (o impeachment) que tem de se pensar agora, energia nenhuma pode ser gasta nisso, mas se estiver prejudicando ainda mais essa crise gigantesca de saúde, sanitária, tem que ser considerado”, complementou.

Solidariedade de classe!

Divulgação

Em depoimento, Moro reforça denúncia de que presidente tentava interferir na PF Frédi Vasconcelos “Moro você tem 27 superintendências, eu quero apenas uma, a do Rio de Janeiro.” A confirmação de que o presidente Jair Bolsonaro pressionava para trocar a chefia da Polícia Federal onde sua família é investigada foi um dos principais pontos do depoimento do ex-ministro Sérgio Moro, no sábado, 2, em Curitiba. Como não conseguiu o que queria, ameaçou demitir o diretor-geral da PF e até o próprio ex-ministro. Levando Moro a renunciar ao cargo. O depoimento durou mais de 8 horas e foi marcado por discussões entre apoiadores do presidente e do ex-juiz, em frente à sede da Polícia Federal, na capital paranaense (veja fotos). Entre outros pontos, Moro também afirmou que o presidente enviou mensagem de Whatsapp com link de notícia do site “O Antagonista” que a PF estaria no encalço de deputados bolsonaristas, e que antes que pudesse responder, o presidente mandou outra mensagem afirmando que este seria mais um motivo para a troca do diretor-geral da PF. E isso acontece no momento em que Bolsonaro vem negociando cargos com deputados do Centrão, grupo fisiológico no Congresso, para aprovar seus projetos e tentar barrar as dezenas de pedidos de impeachment que

estão, por enquanto, parados com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM). Moro tenta não se incriminar Na íntegra do depoimento publicado nesta semana, em investigação aberta no Supremo Tribunal Federal, além das acusações de interferência de Bolsonaro na PF, fica claro que Moro também tenta não se incriminar. Perguntado se identificava nos fatos apresentados em sua entrevista coletiva alguma prática de crime por parte do presidente, afirma que “os fatos ali narrados são verdadeiros, que, não obstante, não afirmou que o presidente teria cometido algum crime.” O cuidado é porque caso tenha tomado conhecimento de crimes e não feito nada, também pode ser condenado. Giorgia Prates

Uma ação de solidariedade e parceria entre lideranças da comunidade Figueiras, em Pontal do Paraná, e o Sindicato dos Trabalhadores da Educação Básica, Técnica e Tecnológica do Estado do Paraná (Sindiedutec), garantiu cestas básicas para moradores e trabalhadores em situação difícil neste momento, seja pelo desemprego, pelo trabalho precário e sem proteção trabalhista, e pela falta de acesso até o momento ao programa de renda emergencial. Lucas Barbosa Pelissari, professor do IFPR, campus Paranaguá, integrante do núcleo sindical de base de Paranaguá, explica que a ação se dá há alguns meses já no marco da aliança entre trabalhadores do sindicato e moradores da comunidade.

Congelamento do preço do gás A presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR), protocolou ação popular na Justiça Federal de Curitiba contra o aumento abusivo do preço do gás de cozinha. A deputada pede que a Agência Nacional do Petróleo (ANP) fixe o valor do botijão de 13 quilos em 49 reais para o consumidor final e fiscalize o cumprimento da medida junto aos distribuidores em todo o país.


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Greca dá milhões a empresários do transporte coletivo Proposta não foi analisada pelo Conselho de Transporte nem detalha valores Giorgia Prates

Terminais lotados durante pandemia por conta da redução do número de ônibus pela Prefeitura

Ana Carolina Caldas

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m regime de urgência, foi aprovado pela maioria dos vereadores na Câmara Municipal de Curitiba, projeto de lei enviado pelo prefeito Rafael Greca que institui regime emergencial de operação e custeio do transporte público. Na prática, a proposta destina milhões de reais a empresários do setor, sob a alegação de que estariam tendo prejuízos na pandemia do coronavírus. O projeto não detalha os valores a serem repassados e também não foi analisado pelo Conselho Municipal do Transporte. Antes da votação, os vereadores ouviram o presidente da URBS, Pedro Ogeny Neto, que disse que a intenção é dar um equilíbrio financeiro ao transporte diante da redução de passageiros durante a pandemia e evitar o colapso do sistema. Disse também que

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havia necessidade de repasse mensal de R$18 milhões às empresas. O ex-vereador e atual deputado estadual Goura (PDT), que acompanha a pauta do transporte público em Curitiba, considerou a aprovação um episódio pouco republicano da relação que o prefeito tem mantido com empresários do transporte coletivo. “Prioriza sempre os lucros e a segurança financeira das empresas, em detrimento dos trabalhadores do transporte coletivo e dos usuários.” Goura informou que está estudando junto ao seu partido como impedir, na Justiça, que o projeto se concretize. O projeto foi rejeitado pelos vereadores Professora Josete, Katia Dittrich, Maria Leticia Fagundes, Noêmia Rocha, Cacá Pereira, Dalton Borba, Marcos Vieira, Mestre Pop, Professor Euler e Professor Silberto.

Professores de Curitiba têm contratos cancelados e passam dificuldades Ana Carolina Caldas

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erca de 300 professores que trabalham em Regime Integral de Trabalho ( RIT) na rede municipal de ensino de Curitiba tiveram seus contratos cancelados, sem aviso prévio, pela Prefeitura. Nesse regime, conseguem dobrar a jornada de 20 para 40 horas e trabalham em atividades de contraturno. A justificativa da Secretaria Municipal de Educação (SME) é corte de verbas devido à pandemia do coronavírus e que essas atividades não estariam inseridas no currículo a ser reposto. Carta de repúdio assinada pelos professores foi enviada à Câmara Municipal de Curitiba, ao prefeito Rafael Greca e à SME. O documento pede que o cancelamento seja revisto . “Vemos isso como um descaso pela nossa dedicação e comprometimento... Assumimos compromissos importantes como planejamentos, entre outras ações feitas também para o ensino regular. Tirar-nos da folha de pagamento faz nos parecer menos importantes,” diz trecho da carta. Um projeto de lei chegou a ser elaborado pela vereadora Maria Leticia (PV), porém foi arquivado. Já a vereadora Professora Josete (PT) enviou requerimento ao Executivo para que que os contratos fossem mantidos. “São docentes que assinaram no inicio do ano um contra-

“Fiz empréstimo e contava com esse dinheiro para pagar as parcelas. A gente já não tem aumento há um bom tempo, por isso corri atrás do RIT para aumentar minha renda. Agora, não sei como fazer”, diz professora to para um ano e, agora, estão sem essa renda,” diz Josete. Uma das 300 professoras prejudicadas sente-se desesperada em não saber como será o ano. “Fiz um empréstimo e contava com esse dinheiro para pagar as parcelas. A gente já não tem aumento há um bom tempo, por isso corri atrás do RIT para aumentar minha renda. Agora, não sei como fazer,” desabafou. Segundo o Sindicato dos Servidores do Magistério Municipal (SISMMAC), em nota, “Greca gasta R$ 4,2 milhões por ano com os altos salários pagos aos 26 funcionários em cargos de comissão do seu gabinete. Esse valor seria mais do que o suficiente para manter todos os contratos de RIT por quatro meses.” Divulgação


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Mulheres organizam resistência na periferia Na segunda parte, reportagem fala de associações e grupos liderados por mulheres Pedro Carrano

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heguei do serviço e estava aquela fila em casa, muita gente em desespero e eu sem saber que caminho tomar. Conseguimos frutas, doações das pessoas e entidades parceiras”, narra Claudete da Silva. É comum para quem acompanha a experiência de associações de moradores encontrar em mulheres as lideranças principais. O momento de crise do coronavírus confirma essa narrativa. As organizações mais ativas na solidariedade têm como lideranças populares mulheres trabalhadoras. É o exemplo do trabalho de Claudete da Silva, zeladora, Vita Maria, doméstica, e Maria Trindade, catadora de material reciclável, integrantes da associação de moradores Vila Leão, localizada no complexo conhecido como Bolsão Formosa, no bairro Novo Mundo, em área de ocupação que abrange cerca de duas mil famílias e tem no mínimo seis associações. Elas organizam, neste momento de urgência, cafés e doações para moradores em necessidade a partir de pedidos da Ceasa. Contam que o principal desafio hoje é conseguir alimentos, insumos e infraestrutura

para a cozinha da sede da associação. Em tempos normais, o espaço de boa estrutura oferece cursos para 170 crianças, do futebol ao reforço escolar. As cadeiras agora estão vazias. As ações, seguem firmes. Falta de cuidado do Estado Andréia de Lima, por sua vez, atua no bairro Parolin ao lado de uma verdadeira frente de quatro organizações (Usina de Ideias, Mãos Invisíveis, Baque Mulher e Um lugar Ao Sol) que inaugurariam a Col-

meia Cultural no final de março, e que agora está voltada para preparar refeições para moradores em situação de rua, moradores locais e, ao mesmo tempo, moradores de demais bairros com necessidade. Mais que isso, essas organizações são agentes de informação para a comunidade, realizam compras e produzem máscaras, junto a outras ações. Seu relato é forte. Afirma que a solidariedade local muitas vezes parte daqueles que menos têm.

Giorgia Prates

Fabrício Rodrigues, da Associação de Moradores Vila Maria e Uberlândia, critica a Fundação de Ação Social (FAS), critica o pouco acesso das pessoas à fundação, no que se refere ao auxílio de cestas básicas e outras necessidades. “Temos visto muita propaganda e pouca resolução, já enviei ofícios

pedindo ajuda e a resposta é de que cada família deve se encaminhar ao Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), que está quase em outro bairro, já há uma demanda por um ponto mais próximo de atendimento”, critica, no programa “Brasil de Fato Onze e Meia”. A liderança condena o atendimento apenas indi-

Pedro Carrano

Da esquerda para a direita Andréia (Parolin), Claudete, Maria e Vita (Vila Leão) organizam ações de solidariedade

Associação denuncia ausência da Fundação de Ação Social (FAS) Pedro Carrano

Caso dos carrinheiros. E critica o poder público por não fornecer informação às pessoas, sujeitas às fake news e discursos presidenciais. A Colmeia realizou pesquisa recente no local que apontou desconhecimento por parte da população idosa sobre os riscos da covid-19. “Há uma falta de cuidado do Estado com os nossos, a gente sabe que os nossos serão os mais afetados, o maior PIB vem das favelas, temos consciência da nossa importância”, afirma.

vidual às famílias, em lugar de parcerias com a associação de moradores. “Dependemos do que nossa comunidade nos manda, muita gente não se dirige ao CRAS, se dirige a nós. Temos tentado atender como prioridade na cesta básica famílias que não podem sair de casa. Temos tentado ação solidária com outras entidades não governamentais”, conta.

RESPOSTA À COBRANÇA A Fundação de Ação Social, cujo CRAS de referência do bairro Novo Mundo estava fechado até pouco tempo, por sua vez, justifica que “Ainda assim, de 23/03 a 04/05, o Núcleo Regional Pinheirinho (que comporta o território da Vila Formosa) fez 2.036 atendimentos, onde 245 famílias foram atendidas com cestas básicas. Além de requisição de alimentos, os demais atendimentos foram relacionados ao Auxílio Emergencial do governo federal e Cadastro Único, entre outras demandas”. A fundação se colocou aberta aos moradores da Vila Formosa, que devem demandar ação do poder público. SERVIÇO CRAS Novo Mundo. (41) 3229-9672 e (41) 3212-1421


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Na pandemia, Ratinho Jr. aproveita para atacar direitos de servidores públicos

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Sem diálogo, governador aprova projetos em regime de urgência Ana Carolina Caldas

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m abril, dois projetos de lei enviados pelo governador Ratinho Jr foram votados, em regime de urgência, na Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP), trazendo más notícias aos servidores públicos. A extinção de mais de 50 funções públicas e o aumento de contribuição previdenciária são alguns dos ataques que o funcionalismo público recebeu neste momento crítico de pandemia. Em sessão remota, sem discussão com os servidores públicos, deputados aprovaram projeto que acabou com cargos importantes, em especial na área da saúde e educação. O PL 189/2020 determinou a extinção de mais de 50 funções públicas, a maioria das áreas da educação básica, saúde e universidades. Pelo projeto, os cargos e funções serão extintos quando ficarem vagos, autorizando a substituição por mão de obra terceirizada. Na educação básica, serão afetados funcionários das escolas da rede pública estadual (Agente I e Agente II), merendeiras, secretários, bi-

bliotecários, auxiliares de serviços gerais e outros. Na saúde, radiologistas, auxiliares de enfermagem e outras funções importantes. Para a professora Marlei Fernandes, coordenadora do Fórum de Entidades Sindicais (FES), não é o momento para definir esse tipo de mudanças. “Há um projeto bem claro de privatização por parte do governo. Tem sido difícil para nós porque o governador, desde fevereiro, não responde a nenhum oficio nosso e não podemos reverter a situação com manifestações públicas devido à pandemia.” Mais descontos na folha de pagamento Sob a alegação de déficit no Regime Previdenciário, o governo Ratinho Jr. também enviou à Alep, projeto de lei que aumenta de 11% para 14% o desconto previdenciário para servidores públicos efetivos. O projeto também taxa em 14% aposentadas e aposentados que tenham benefícios maiores que o limite estabelecido de três salários mínimos. Para o professor Hermes

Leão, presidente da APP Sindicato, num momento como este é uma covardia o que se faz com os servidores aposentados, que já têm altos gastos com saúde. “É mais grave até que a proposta da reforma da previdência, em âmbito nacional. Vai afetar, no nosso caso, professores e professoras aposentadas que terão uma redução drástica em seus salários. Num momento crítico da saúde, que tem o público idoso como o mais afetado, é um ato covarde.” Para o Fórum das Entidades Sindicais, o governo usa argumento falso para punir as servidoras e servidores. “Continua usando o artifício de que há déficit na previdência. No entanto, o déficit que existe está apenas nos fundos militar e financeiro por culpa única e exclusiva dos governos anteriores e o atual, que deixaram de fazer a poupança para esses pagamento”, aponta Marlei. A partir do próximo pagamento, servidores da ativa, aposentados e pensionistas passam a ter descontado de seu salário o valor atualizado da alíquota de contribuição previdenciária.

Desempregados têm acesso negado à renda emergencial Redação, São Paulo São incontáveis os problemas que os brasileiros estão enfrentando para ter acesso à renda emergencial. Quase 13 milhões de pessoas que solicitaram o benefício receberam como resposta que algum dado não estava correto e era necessário realizar o recadastramento. Em muitos casos essa situação ocorre por um erro do governo. Uma notificação que trabalha-

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dores têm recebido é a informação de que ainda estão com vínculo formal, ou seja, ainda são considerados empregados com carteira assinada, embora estejam sem esse

vínculo. Uma explicação para isso é que a base de dados que o governo federal tem usado para fazer a análise dos pedidos de auxílio emergencial é o Cadastro Nacional de Informações Sociais (CNIS). Esse sistema tem apresentado informações desatualizadas dos vínculos empregatícios dos trabalhadores. A Dataprev, empresa do governo responsável por analisar os pedidos de auxílio, informou que o CNIS está sendo atualizado diariamen-

te. No entanto, como não é isso que tem aparecido na prática, é necessário buscar alternativas. Para resolver essa situação facilmente, era possível ir presencialmente a uma agência do INSS e atualizar seus dados. Mas devido às medidas de isolamento social os estabelecimentos estão fechados. A alternativa que restou é falar com a empresa que o trabalhador já teve vínculo e solicitar que dê baixa na carteira e comunique isso aos órgãos responsáveis.


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“É como se estivesse acontecendo tudo de novo”, diz cacique, comparando pandemia à colonização Juliana Kerexu, cacique de aldeia na Ilha da Cotinga, diz temer pelo futuro de seu povo Lia Bianchini

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a Terra Indígena da Ilha da Cotinga, na Baía de Paranaguá, a cacique Juliana Kerexu diz temer pelo futuro de seu povo na pandemia. As 27 pessoas que vivem em sua aldeia, Tekoá Takuaty, tinham como base de renda a venda de artesanatos em Paranaguá. Agora, as vendas pararam. Para ela, o sentimento é de que “a população indígena está à mercê, “invisibilizada”. E a chegada de uma doença urbana e as dificuldades para a subsistência podem ser comparadas ao período da colonização. “Agora é o momento mais delicado [da história], tirando a época de 500 anos atrás... é como se estivesse acontecendo tudo de novo”, diz. O Tekoá Takuaty foi fundado há pouco mais de um ano. Antes, as pessoas viviam na aldeia Pindoty, também na Ilha da Cotinga, que

foi homologada terra indígena em 1993 e abriga indígenas Guarani Mbya. Ambas as aldeias estão em isolamento. Dos órgãos públicos, a cacique conta que sua aldeia recebeu uma

remessa de cestas básicas do Centro de Referência de Assistência Social de Paranaguá no início de abril. A ajuda maior tem chegado por doações da população. Com a imprevisibilidade do fim da pandeDivulgação

mia, diz ter medo de que falte o sustento. “Se pararem essas doações, ninguém tem um trabalho em que possa receber salário. A gente não sabe quando isso vai acabar. Isso me tira o sono, pensar que se essas doações não vierem vai ser muito mais difícil”, conta.

DOE PARA AS ALDEIAS O Projeto Origem leva doações para diversas aldeias, incluindo as da Ilha da Cotinga. Doe alimentos, máscaras, álcool em gel, materiais de limpeza e higiene, agasalhos e cobertores. Pontos de coleta: Rua Lourenço Pinto, 260, ap.103, Centro (Thiago) e Rua Luiz Leduc, 200, sobrado 46, Vista Alegre (Luiza). Doações em dinheiro podem ser feitas no site: abacashi.com/p/ficaemcasaparente

Para dirigente do MST, pandemia mostra a necessidade da reforma agrária Lia Bianchini Desde o início da pandemia de coronavírus, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) tem se mobilizado para doações de alimentos a comunidades urbanas de todo o Brasil. Apenas em abril, foram doadas 500 toneladas produzidas em assentamentos e acampamentos nos estados. No Paraná, já foram mais de 84 toneladas. A campanha de solidariedade segue, com o objetivo de ajudar famílias urbanas que têm sofrido com os impactos econômicos da pandemia. Para o MST, o momento atual é de foco na produção de

alimentos e de fortalecimento da solidariedade e do projeto de reforma agrária. Para Roberto Baggio, da direção nacional do MST, a campanha de doações tem possibilitado mostrar à sociedade a importância do acesso à terra. Ele lembra também que, desde o início do movimento, em 1984, a luta dos camponeses organizados sofre violências, perseguições físicas e ideológicas. “Nós provamos que, à medida em que a terra é repartida e chega às mãos dos camponeses, agricultores, eles sabem organizar, produzir e repartir o que produzem. Não vai ser o bombardeio ideo-

lógico que nos destruirá, porque nossa luta tem uma necessidade concreta: as pessoas precisam de terra para trabalhar e plantar”, diz. Para o dirigente, a crise econômica vinda com a pandemia mostra que é preciso um projeto de reconstrução do Brasil, “que não será a exploração, e sim a cooperação entre os trabalhadores”. Mas, na análise de Baggio, tal reconstrução só será possível com a saída de Jair Bolsonaro da presidência. “Renuncia, Bolsonaro, vai embora! Não tem mais espaço pra ele neste país. Como presidente, ele não tem nenhuma condição política”, afirma.

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Paraná, 7 a 13 de maio de 2020

A arte funciona como uma válvula de escape das tensões atuais

Por Venancio de Oliveira

Fel

Em entrevista, Stephanie Batista, professora e pesquisadora da Federal do Paraná, fala sobre a função da arte em tempos de pandemia Divulgação

Ontem havia sido terrível. A estrada escura e o carro em velocidade cruel. Ele soca o volante. E depois fica mudo, fazendo parte daquela imensidão audaciosa. Eles deveriam ir para o pântano. - Você me acalma – disse se surpreendendo consigo. Ela o olha assustado, nunca o havia visto confessar tal sentimento. Achava-se desprezível ante a barba robusta e jaqueta de couro. Ela sorri inocente, com um olhar amarelo-doce. Porém, assobia de um jeito atabalhoado, denunciando um charme nada púcaro. Ela encara o horizonte sombrio, parecendo rasgar o véu da insegurança do homenzarrão, que tremia no carro e parecia querer chorar com seu olhar. Ele para o carro. - Eu só sou uma mina de boa, fico feliz que te acalmo – Ela toma a iniciativa e o beija. Ele cede e chora copiosamente. Sabia que deveriam ir ao pântano, mas não sabia a razão daquilo e nem entendia o que representava aquela moça para ele. Mas sabia que ele era quase uma criança em relação ao seu poder. Qualquer passo em falso, ela o mataria.

DICAS MASTIGADAS

Chips de inhame Ana Carolina Caldas Brasil de Fato – Qual a contribuição da arte neste momento em que grande parte da população está em confinamento? Stephanie Batista – A arte protege a saúde mental. Pessoas têm buscado, para suavizar este momento, assistir a fi lmes, “lives” musicais, mais leituras, visitas a museus virtuais ou mesmo praticar culinária, entre tantas outras atividades. A arte possibilita diversas formas de se conectar com o outro e explica a existência do momento com um olhar mais sensibilizado. Arte funciona como uma válvula de escape das tensões atuais. BDF – De que forma as pessoas podem fazer exercício artístico sem serem artistas? Consumindo ou produzindo arte. Existe uma infi nidade de ofertas de atividades e cursos on-line para

aprender ou para apenas consumir. Mas podemos começar olhando nosso cotidiano com outros olhos. Por exemplo, pedimos aos nossos alunos de artes visuais que desenhassem suas camas e janelas, trazendo cada um seu olhar. Olhar esse cotidiano, por vezes tenso, de uma forma artística que traga sua releitura é um bom começo para o exercício artístico. BDF – Como você analisa o desrespeito à arte pelo governo e a importância dela neste momento? Nosso país vem desvalorizando a arte e a cultura. Importante destacar que cultura é um direito humano. Mas, como se trata de uma área de conhecimento inerente ao ser humano ela se impõe, mesmo tão desrespeitada. E, como dizia Ferreira Gullar, a arte salva. Ela está, hoje, dentro dos lares, nos salvando e nos levando a um olhar sensibilizado sobre o que vivemos. Esperamos que isso seja lembrado depois que tudo passar.

Por Juliana Maria

A cada semana, publicamos aqui receitas enviadas por consumidores de produtos agroecológicos da rede colaborativa Produtos da Terra, da Sinergia Alimentos Saudáveis e da Rede Mandala. Parte dos ingredientes pode ser encontrada no site produtosdaterrapr.com.br

Divulgação

Ingredientes 6 inhames orgânicos (ou 4, depende do tamanho) Azeite a gosto Temperos a gosto Manteiga Farinha de trigo Como preparar Descascar os inhames e fatiar rodelas bem fininhas (pode usar um ralador se quiser). Temperar o inhame cru em rodelas, com temperos de sua preferência. Nessa receita, eu usei sal, orégano, cúrcuma e gengibre em pó. Colocar um pouco de azeite e misturar bem o tempero nas rodelas. Untar uma forma grande com manteiga e farinha de trigo. Arrumar as rodelas uma ao lado da outra. Importante: não sobreponha as rodelas. Passar um fio de azeite por cima de todas. Levar ao forno (pré aquecido por 10 min) e deixar em fogo médio por aproximadamente 10 minutos (ou quando perceber que está dourado e crocante.) Essa receita rende duas assadeiras grandes.


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