Brasil de Fato PR - Edição 169

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Editorial | p. 2

Mundo | p. 7

Fascista e racista

Brasileiros abandonados no México

Bolsonaro resume o que precisa ser banido do Brasil

PARANÁ

Ano 5

Roletarussa na pandemia

Cerca de 200 pessoas não têm como voltar. Governo não faz nada Edição 169

4 a 10 de junho de 2020

Cidades | p. 6

Giorgia Prates

distribuição gratuita

Shoppings reabrem quando há recorde de contaminados www.brasildefatopr.com.br

Giorgia Prates

Ato antirracista em Curitiba na segunda, 1º de junho

Nos EUA e no Brasil surgem revoltas contra o racismo, a partir do assassinato de George Floyd. Em Curitiba, novo ato está marcado o dia 7 (domingo). Em todo o país, manifestações mostram o aumento da crise política e revelam os ataques fascistas do governo Bolsonaro Brasil | p. 5


Brasil de Fato PR 2 Opinião

Brasil de Fato PR

Paraná, 4 a 10 de junho de 2020

O direito de O golpismo autoritário vem respirar a galope EDITORIAL

O

mundo, em meio ao caos do Covid-19, assistiu horrorizado à morte de George Floyd. Ele foi asfixiado, durante longos oito minutos, em Mineápolis, nos Estados Unidos. Um homem negro sendo assassinado por policiais brancos gerou forte comoção popular, com manifestações que já duram uma semana. Ao mesmo tempo, o mundo se solidariza com a luta antirracista. No Brasil, também. Mas aqui se está tendo de conviver com outros monstros: o caos e o autoritarismo, de características fascistas, do governo federal. A ascensão de Bolsonaro representou a abertura das jaulas de grupos de extrema-direi-

OPINIÃO

ta que dão suas caras com símbolos e atos de ódio. Racismo e fascismo encarnam-se no bolsonarismo. Esta é sua vertente social. No plano institucional, por sua vez, não faltam reflexos de tal ideologia. A estratégia golpista galopa e, não à toa, o presidente montou um cavalo da PM, no domingo passado, durante manifestação que pedia intervenção militar e atacava a democracia e seus poderes constituídos. O momento exige unidade. Acuado, o bolsonarismo e sua retaguarda militar podem dar o ultimato. A mobilização social progressista pode ser perseguida. É preciso derrubar Bolsonaro sem permitir o galope de um regime de exceção.

SEMANA

Giorgia Prates,

militante, fotojornalista e integrante da redação do Brasil de Fato Paraná

P

ensei em começar a escrever sobre o invisível, sobre o ar, ou sobre a ausência dele, que vem afetando a humanidade. O que penso, então, sobre a pandemia? Como mulher negra, favelada, lesboafetiva e umbandista, muitas pandemias me atravessam. No dicionário, pandemia significa uma enfermidade epidêmica amplamente disseminada. Há enfermidades que varrem as ruas das grandes e pequenas periferias. Se alguma vida oprimida tenta se libertar, logo recebe o adjetivo buscando o seu silêncio. De maneira branda e pandêmica, sabemos que isso é parte da estrutura racista. Agora, por que essa agressividade parte de nós e não das pessoas que nos silenciam, além de tentar diminuir e escravizar? Por que somos tão visíveis em certos assuntos e invisíveis em outros? Visíveis quando soltamos um não. E invisíveis nos sistemas carcerários, nas mortes diárias nas fave-

las, nos espaços de cultura, de poder etc. Somos invisíveis não, somos invisibilizados. Nos levantamos contra o extermínio da população negra. Mas repórteres brancos têm o mesmo discurso: “vandalismo”. Porém, normalizam o vandalismo que dá 80 tiros em um carro, que matou Marielle Franco, que deixa 76 tiros na casa de João Pedro; que atira contra quatro jovens em um carro tombado no Parolin; que ignora as mais de 30 mil mortes por Covid. É menos violento um presidente que despreza o povo? Tudo se resume ao medo branco capitalista de que esse movimento seja capaz de mobilizar e subverter a ordem. E que sejamos capazes de aceitar a diversidade com equidade. É necessário dizer que o genocídio do povo preto e a luta do povo preto não devem ser apagados ou sobrepostos por outra. Porque isso é racismo. Postura antirracista não silencia, soma. É necessário respeitar o protagonismo. A história do povo preto precisa ser contada por nós mesmos. A única pandemia que devemos aceitar é a pandemia do direito de respirar.

EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 169 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Manoel Ramires e Giorgia Prates ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com


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Paraná, 4 a 10 de junho de 2020

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FRASE DA SEMANA

“Não podemos tolerar ou fechar os olhos a qualquer tipo de racismo ou exclusão. O racismo é um pecado”

2020: negociações duríssimas Muito antes de a pandemia de Covid-19 resultar na MP 936, que permite a suspensão de contratos por até 60 dias e a redução de jornada em 25%, 50% e 70% com redução de vencimentos, os trabalhadores brasileiros já tinham prejuízos em suas negociações coletivas. Ante o cenário que levou a 1,1 milhão de demissões em março e abril, a classe trabalhadora foi impactada por reajustes abaixo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). Em abril, 33% dos acordos foram menores do que a inflação. Em março, 14%. Todavia, sem o coronavírus, os acordos coletivos também foram ruins em janeiro (34,1% abaixo da inflação) e em fevereiro (25,7% dos acordos abaixo da inflação). Fevereiro, por outro lado, conseguiu ter 59,5% das negociações com ganho real. Os números são do Caderno de Negociações do DIEESE, na edição 29. Os resultados só não são piores porque “os sindicatos têm conseguido negociar cláusulas que asseguram ajuda compensatória mensal paga pela empresa para complementar o benefício do governo. Dessa forma, o trabalhador recebe o equivalente ao salário líquido a que teria direito, se não houvesse a crise”.

Disse o Papa Francisco em manifestação pela morte de George Floyd, nos Estados Unidos, assassinado por um policial

Candidato em Curitiba Terminou no sábado, 30, o prazo para inscrição de pré-candidatos a prefeito de Curitiba pelo PT. Dois nomes se apresentaram, o deputado estadual Tadeu Veneri, que disputou a eleição de 2016. E Paulo Opuszka, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Eleição indireta

Agência Brasil

RADAR DA LUTA Por Frédi Vasconcelos

Procurando Moro Cada vez mais próximo de Bolsonaro, o procurador Geral da República, Augusto Aras, reabriu negociação de delação premiada do advogado Tacla Duran. O ex-operador da Odebrecht no exterior já denunciou que o padrinho de casamento de Sérgio Moro e sócio da esposa do ex-juiz, Carlos Zucolloto, pediu “propina” de 5 milhões de dólares em troca de benefícios em acordo com a Lava Jato.

Perplexo e indignado Em nota enviada à coluna de Bela Megale, de “O Globo”, o ex-juiz Moro se diz “perplexo” e “indignado” com a decisão. Nos bastidores de Brasília, a ação é vista como forma de afastar Moro de eleições futuras e de disputas com Bolsonaro.

Passado condena À época da Lava Jato, o ex-juiz Sérgio Moro fugiu como o diabo da cruz do depoimento de Tacla Duran pedido pela defesa do ex-presidente Lula. A alegação é que não tinha o endereço do advogado em Madri, na Espanha.

Desmentido por Duran Em depoimento aos advogados de Lula, à época, Tacla Duran afirmou que seu endereço estava nos documentos dos processos em que Sérgio Moro e os procuradores tinham à disposição. E que a Procuradoria do Paraná chegou a “encaminhar pedido para a Justiça espanhola para que eu fosse ouvido, no qual os procuradores do Brasil se comprometiam a vir a Madri para tomar meu depoimento. Eu fui à audiência, mas os procuradores não apareceram”, disse.

Quem paga as fake news A CPI das Fake News, no Congresso Nacional, divulgou que o governo Bolsonaro pagou por 653,3 mil anúncios em 47 canais de notícias falsas entre 6 de junho e 13 de julho de 2019. À época pagava para veicular a campanha da “Nova Previdência”. O dinheiro público, nesse caso, se soma às acusações de financiamento por empresários ligados ao presidente que também bancam as fake news e estão sendo investigados pela Polícia Federal.

Em 2020, a escolha do candidato será feita pelo diretório municipal, sem consulta a filiados do partido, até 5 de julho. Por informações obtidas pelo BDF-PR, apesar de Veneri ser mais conhecido e ter maior densidade eleitoral, o coração da maioria do diretório, neste momento, bate mais por Opuzka. O apoio a ele vem do grupo que controla a maioria do diretório e que tem entre suas lideranças a deputada Gleisi Hoffmann e o ex-candidato a prefeito e atual presidente do diretório, Angelo Vanhoni.

Liberdade Sindical Acontece na sexta, 5, videoconferência que debaterá liberdade sindical. O evento contará com participação de todas as centrais sindicais e o Ministério Público do Trabalho (MPT-PR), representado pela procuradora-chefe Dra. Margareth Matos de Carvalho. O objetivo é refletir sobre as condições de trabalho na pandemia do coronavírus e explicitar a conjuntura ao MPT para não permitir a flexibilização das regras que protegem o trabalhador neste momento. A videoconferência será transmitida pela página da CUT Paraná no Facebook.


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Paraná, 4 a 10 de junho de 2020 Leandro Taques

Sem provas, Prefeitura acusa movimento de moradia por aumento de criminalidade Ocupação em Campo Magro tem poucos dias e enfrenta preconceito da administração

“A reconstrução da engenharia passa pelos sindicatos” Leandro Grassmann assume o Senge com a missão de ajudar a recuperar a credibilidade da engenharia Manoel Ramires

engenheiro eletricisO ta da Copel Leandro Grassmann assumiu a

presidência do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná (Senge-PR) em primeiro de junho. E a tarefa não é fácil, em meio à pandemia, desregulamentação do trabalho e ataques que os sindicatos sofrem. Nesta conversa, ele avalia o momento atual e, como bom engenheiro, projeta o futuro buscando minimizar os erros e superar obstáculos. Brasil de Fato – Você assume o Senge-PR na pandemia e com entidades sindicais sendo alvo de ataques de governos e certo descrédito na sociedade. Como enfrentar esses desafios?

Leandro Grassman – Os ataques aos sindicatos, por parte do governo, da sociedade ou do ‘mercado’, já ocorrem há muito tempo. O Senge, como entidade sindical, continua sua trajetória de lutas e defesa dos profissionais da engenharia e geociências. É justamente nestes momentos de maior pressão que não podemos esmorecer. Precisamos unir esforços com quem esteja disposto a seguir o mesmo caminho e buscar manter os debates ‘vivos’. Em relação ao Covid-19, ele gerou uma crise internacional, e não se sabe quando cessará. Impõe uma nova realidade a todos nós. Se soubermos entender as adversidades, talvez possamos sair desta crise mais fortes. BDF – O Senge tem imposto uma série de “derrotas” à Copel em questões finan-

ceiras e de terceirizações. A Copel tem mais de 7 mil empregados e 19 sindicatos que os representam. O Senge representa cerca de 8% dos profissionais. Há mais de 10 anos, com raras exceções, as negociações ocorrem em conjunto. Tanto o Senge quanto os demais sindicatos possuem bons advogados. Na maioria das vezes, as estratégias e ações judiciais são conjuntas. O que observamos no relacionamento com a Copel é que a sinergia obtida pelo alinhamento prévio dos sindicatos proporciona resultados favoráveis para os empregados. BDF – A engenharia brasileira viveu um momento de ouro até a Lava Jato. Depois sofreu com a crise econômica e o noticiário policial/ político. Como colaborar na retomada de confiança?

Tenho minhas dúvidas se a engenharia chegou a ser efetivamente considerada estratégica para o desenvolvimento nacional nos últimos 50 anos. Quando a economia vai bem, tudo bem. Mas, nos momentos em que a atividade econômica decai, sem políticas adequadas que ‘mirem’ o futuro, o país fica sem rumo. A Lava Jato foi uma ‘pá de cal’. Desmantelou empresas, sob o pretexto de serem ‘corruptas’. Ainda não vivemos todos os desdobramentos e consequências da Lava Jato. A melhora de confiança do setor passa pela adoção de um ‘rumo’ desenvolvimentista pelos governos. É indispensável olhar para a engenharia como um investimento, não despesa. Aliado a isso, é necessário valorizar a profissão e os profissionais de engenharia e geociências.

Lia Bianchini A Prefeitura de Campo Magro entrou com ação contra o município de Curitiba e a Fundação de Ação Social (FAS) pedindo urgência em medidas para acabar com a ocupação do Movimento Popular por Moradia (MPM) em Campo Magro. O imóvel ocupado é de Curitiba e foi cedido ao governo do Estado. Desde 2009, não possui função social. A Prefeitura de Campo Magro diz que os ocupantes estão erguendo edificações e desmatando. Acusa, ainda, os ocupantes de contribuírem para o aumento da criminalidade. Sem comprovação, diz que “vem recebendo inúmeras ocorrências de delitos no município desde o final da semana passada, tais como furtos, roubos e homicídios.” Para um militante do MPM ouvido pelo BDF-PR, o que a Prefeitura faz é uma atitude racista e discriminatória. “Estão tentando nos sufocar com mentiras. Estamos aqui há poucos dias e dizem que a criminalidade aumentou porque aqui tem pobres e ‘pessoas de cor.’ ” Na segunda, a ação teve liminar favorável, determinando à Prefeitura de Curitiba e à FAS que tomem medidas para interromper obras de loteamento.


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Ato contra racismo reúne mais de mil pessoas. Polícia atira bombas. Novo ato no domingo Manifestantes protestam em Curitiba contra extermínio da população negra Fotos da página: Giorgia Prates

Giorgia Prates, Ana Carolina Caldas, Pedro Carrano

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anifestação antirracista reuniu mais de mil pessoas, em sua maioria jovens, no centro de Curitiba, no 1ºde junho. O protesto aconteceu em apoio às manifestações nos Estados Unidos e na Europa após o assassinato de George Floyd pela polícia dos EUA. E também contra o racismo presente na sociedade brasileira e a política de extermínio da população negra. Centenas de jovens se concentraram na Praça Santos Andrade e alternando discursos, poesia e música protestaram contra o extermínio da população negra no mundo, sob a bandeira de “Vidas negras importam”. “Na luta antirracista, negros e brancos estão se unindo e se somam nas ruas na intenção de dar um basta ao racismo estrutural que assassina por ano milhares de pessoas negras pelo mundo”, afirma uma das integrantes do ato. “Meus amigos pretos na favela da Rocinha estão sendo mortos. E, resolvemos fazer algo”, afirma um dos responsáveis pela convocação do ato. Várias entidades, organizações e coletivos organizaram a manifestação.

Polícia atira contra manifestantes A passeata ocorreu de forma pacifica, com jovens entoando palavras de ordem até o Palácio Iguaçu, no Centro Cívico. A manifestação começou a retornar para o ponto de origem, quando houve certo tumulto e, quando já acontecia a dispersão, na altura do Largo da Ordem, centro da cidade, dezenas de policiais fortemente armados começaram a cercar os manifestantes e atiraram balas de borracha e soltaram bombas de efeito moral. Registros fotográficos e vídeos mostram atos de truculência da polícia batendo com cacetetes em jovens que já se dispersavam. Mesmo após a dispersão, a polícia seguiu coagindo os grupos que ainda estavam nas ruas. Em nota, a organização do ato condenou ações de quebradeira e reafirmou a centralidade da luta antirracista. Nova manifestação está sendo convocada para o próximo domingo, 7.

Seis manifestantes com tornozeleira eletrônica Após a repressão ao final do ato, sete pessoas foram detidas arbitrariamente, seis permaneceram presas até a tarde do dia 3. Os processos continuarão sobre o grupo, que deve responder em liberdade, porém com tornozeleira eletrônica e recolhimento de celulares, além de processo por associação criminosa, desacato e dano qualificado. Organizações denunciam que trata-se de criminalização do direito à manifestação, além dos abusos cometidos

no ato e na delegacia. De acordo com o CWB Resiste: “uma pessoa foi detida com a acusação de possuir álcool 70 no carro, o que é inaceitável já que estamos em tempos de pandemia e o uso deste material é uma das principais recomendações dos órgãos oficiais de saúde. Em outra abordagem a PM demonstrou mais uma vez sua transfobia ameaçando bater duas vezes mais em uma das manifestantes abordadas, por esta ser uma mulher trans”, denuncia.


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Brincando de roleta-russa

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Prefeituras reabrem shoppings quando casos de Covid-19 batem Giorgia Prates recordes no Paraná Ana Carolina Caldas

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ntre o final de abril e o início de maio, o Paraná tinha de 40 a 50 novos casos de coronavírus por dia. Na última semana chegou a 200, o maior número desde o início da pandemia. E foi neste momento que prefeituras como a de Curitiba autorizaram a reabertura de shoppings. O que pode piorar ainda mais a situação. Países como Alemanha e Nova Zelândia seguiram protocolos rígidos e declararam isolamento obrigatório, com fechamento do comércio. Reabertura só quando os casos diminuíram. No Brasil e no Paraná, foi o contrário, vem no momento em que os números não param de crescer. Ao todo, o estado tem 5.163 casos confirmados da Covid-19 e 199 mortes causadas pela doença. Para a professora de epidemiologia da Universidade federal do Paraná (UFPR) e coordenadora do Núcleo de Epidemiologia do Hospital do Trabalhador, Maria Esther Graf, “o correto é estudar as experiências exitosas de países que já passaram por isso, como a Alemanha.” Para ela, a reabertura deve vir acompanha-

Reabertura do comércio já levou a aumento de casos em Curitiba

da da análise do sistema de saúde. “Precisamos entender a abertura gradual de acordo com a ocupação de leitos”, explica. Já o coordenador da Comissão de Acompanhamento e Controle de Propagação do coronavírus da UFPR, Emanuel Maltempi, considera que o aumento de casos diários pode vir a colapsar o sistema de saúde. “Temos um valor de 1,44 de reprodução da doença. Quando passamos de 1, significa crescimento exponencial. O número de doentes está dobrando a cada 12 dias. Como o tempo de hospitalização é de 2 a 3 semanas, o sistema chegará rapidamente à ocupação total”, diz. Para ele,

“com a reabertura de shoppings é bem provável que, daqui 7 a 10 dias, a reprodução da doença seja ainda maior.” O secretário estadual de Saúde, Beto Pretto, reconheceu, em audiência na Assembleia Legislativa, que o aumento de casos se deu devido à diminuição do isolamento social. “Houve, de forma restrita, a flexibilização da abertura do comércio. O distanciamento e o isolamento também caíram e o fluxo de pessoas cresceu, fazendo com que o vírus circulasse mais”, disse. Segundo o secretário, daqui duas ou três semanas serão analisadas as novas medidas de flexibilização para saber como proceder.

Cascavel tem maior crescimento da pandemia no estado, segundo pesquisa Ana Carolina Caldas A Covid-19 já atingiu 232 cidades no Paraná. Curitiba e Região Metropolitana têm 1.453 casos confirmados e 60 óbitos. A segunda região com maior incidência é a de Cascavel, com 468 casos e 9 óbitos. Em estudo feito pelo Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública (Coesp), da Universidade Estadual de Londrina (UEL), de 14 de março a 26 de maio, Cascavel surge com a maior curva ascendente do Estado. Em 16 de maio, a prefeitura de Cascavel informou que a cidade já estava com 90% dos leitos de UTI para tratamento de Covid-19 ocupados. Segundo o vereador Paulo Porto (PCdoB), um dos fatores do aumento de casos é a flexibilização

do isolamento social. “O isolamento inicial garantiu certo fôlego. Mas, agora, Cascavel tem 98% do comércio funcionando. Com testes sendo aplicados, estamos nos tornando a cidade com maior número de casos de Covid-19 e na iminência do colapso do sistema de saúde.” Outro problema apontado pelo vereador são os frigoríficos. “Somente a Coopavel possui hoje 53 funcionários contaminados”, conta. Enquadrados como serviços essenciais, empresas que processam carnes mantêm o funcionamento durante a quarentena e seus ambientes são propícios à disseminação do vírus por serem fechados, com baixas temperaturas, umidade e diversos postos de trabalho sem o distanciamento mínimo de segurança.

MÉDICOS ALERTAM Em manifesto, médicos que atuam no Hospital Universitário Oeste do Paraná alertaram a população sobre os rumos preocupantes da epidemia. “Somos testemunhas do heroico esforço que nossa equipe tem feito para promover uma assistência de qualidade e com a segurança que a situação exige. No entanto, nos últimos dias claramente nossa batalha tem ficado mais difícil, já que o número de casos vem aumentando de maneira impressionante. Temos um temor de chegarmos a níveis caóticos como os que devastam o sistema de saúde das grandes cidades brasileiras atingidas pela pandemia”, afirmam.


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“Aqui não é a nossa casa”, diz brasileira que pede repatriação do México

Reprodução

Cerca de 200 brasileiros tentam, há meses, voltar ao Brasil sem resposta do governo Lia Bianchini

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milhares de quilômetros de casa, cerca de 200 brasileiros tentam, há meses, sair do México e voltar ao Brasil. Desde o início da pandemia, empresas aéreas têm cancelado voos e eles vêm pedindo ajuda ao governo federal para a repatriação. Dentro desse grupo está Andreza Santana, estudante de Economia na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), em Foz do Iguaçu. Ela chegou à Cidade do México em janeiro para cursar disciplinas na Universidad Nacional Autónoma de México (Unam), em intercâmbio estudantil. A previsão era que Andreza voltasse ao Brasil em 7 de junho. O voo já estava comprado pela Latam. Na semana passada, foi remarcado para o dia 17 de julho. A empresa informou que não descarta a possibilidade de cancelamento, uma vez que a previsão de voltar às operações normais é para agosto. “Se eu não tiver como voltar, vou ter que ficar aqui, na casa de alguém, ‘de favor’, até conseguir ir embora. Também tenho medo de ficar doente. Aqui não tem um sistema público de saúde que eu possa recorrer”, diz Andreza. O governo brasileiro fez um voo de repatriação em abril e outro em maio. Andreza conta que não existiram informações claras sobre os critérios para seleção de quem entraria neles. No último, foi informada que estava numa lista de espera e poderia ir até o aeroporto, sem a certeza de que embarcaria. A assessoria de imprensa do Itamaraty informou que “o Ministério das Relações Exteriores tem estudado, com sentido de urgência, soluções que possibilitem o pronto retorno dos cidadãos que não puderam embarcar nos outros voos ao Brasil”. No site do Consulado brasileiro no México, há a informação de que não existe previsão de novo voo de repatriação. O órgão “ofereceu” um voo privado aos brasileiros que quisessem voltar pelo custo de 850 dólares (pouco mais de R$ 4 mil). No México, são mais de 93 mil casos confirmados de infectados pelo coronavírus e mais de 10 mil mortes.“Eu quero voltar o mais rápido. Não porque o Brasil está melhor, mas porque minhas condições financeiras e minha família estão aí. A gente precisa ir embora, sabe? Aqui não é a nossa casa”, diz Andreza.

Reconstruída após despejo, comunidade doa alimentos a famílias carentes Lia Bianchini

“P

ra quem não tinha esperança nenhuma, agora já estamos bem esperançosos”. A fala é de Eferson dos Santos, morador da comunidade de posseiros Alecrim, no município de Pinhão-PR. A falta de esperança de que fala se abateu sobre as 20 famílias do Alecrim em 1º de dezembro de 2017, com um despejo violento que destruiu mais de 20 anos de construção coletiva da comunidade. Casas, igreja, posto de saúde, padaria comunitária e espaços de lazer vieram abaixo, Wellington Lenon | MST-PR

em favor das Indústrias João José Zattar S.A., empresa madeireira que está entre as maiores devedoras da União. Cerca de duas semanas depois, os posseiros decidiram voltar para a área. Passados quase três anos, as famílias do Alecrim se somaram a outros posseiros, faxinalenses e acampados e assentados do MST para doar mais de 50 toneladas de alimentos para famílias das periferias de Guarapuava e Pinhão, que têm sofrido com os impactos econômicos da pandemia. “O pessoal [do Alecrim] ainda está um pouco traumatizado [com o despejo], mas tocando suas vidas. Estamos sensibilizados com essa nova realidade que chegou agora no país e no mundo, que é o Covid-19. Estamos fazendo o pouquinho que podemos para ajudar o pessoal da cidade que está mais necessitado”, conta Eferson. No último sábado (30) foram doados arroz, feijão, pinhão, erva-mate, quirera, fubá, farinha de milho, batata-doce, mandioca, moranga, abóbora, derivados de leite, hortaliças, batata, limão, laranja, banana, sabão caseiro. Cerca de quatro mil famílias carentes receberam os alimentos. A ação envolveu 15 acampamentos e 10 assentamentos do MST, além de quatro comunidades de posseiros.


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Artistas mandam carta a Greca pedindo ações emergenciais para o setor Principal reivindicação é a liberação de recursos do Fundo Municipal de Cultura Divulgação

Gibran Mendes

Por Pedro Carrano

Os componentes de um cometa Halley é um nome de cometa, mas este é inédito na astronomia. É um cometa lento, bonachão. Disponível a todo momento, quase um animal protetor, grande e alerta, atento a cada pessoa. Aparece sempre pelas ruas estreitas da Vila Leão, bairro de Curitiba, traçando sua órbita de casa em casa, de pessoa em pessoa. Frequenta a associação de moradores. Vai até diante da calçada de uma casa perguntando “O vizinho precisa de apoio?”, e Halley limpa calçadas, atravessa mundos para além de si mesmo. Ajuda a descarregar frutas e os mamões suculen-

tos do Ceasa no trabalho de solidariedade. Halley não pede nada em troca, e hoje vai acumulando em silêncio – como astro que se preze -, o momento em que possa receber um abraço. Ele tem essa luz lá dentro do núcleo, quando miramos, a olho nu, e logo o consideramos uma boa pessoa. Cometas como esse são periódico, não estão extintos, são a realidade de nosso povo, muitas vezes oculta pelo lucro e individualismo imposto pela ideologia que aprisiona tanto. Quem tem, afinal de contas, a coragem de fazer esse trajeto de Halley?

DICAS MASTIGADAS

Suflê de espinafre Uma carta aberta foi enviada ao prefeito de Curitiba, Rafael Greca, por mais de 100 entidades, coletivos e artistas de Curitiba pedindo ações emergenciais para o setor cultural. A principal reinvindicação é a liberação do Fundo Municipal de Cultura, que chega a R$ 14 bilhões, e já está previsto na lei orçamentária de 2020. Além do descontigenciamento do Fundo, artistas pedem também a criação de um programa de renda emergencial para trabalhadores de cultura e a elaboração de editais e prêmios já prevendo a recuperação pós-pandemia. Segundo o músico Téo Ruiz, um dos organizadores do movimento, “somos um setor que muito provavelmente terá dificuldades de retornar até o final de 2020.” Apesar da flexibilização de al-

gumas regras do isolamento social, que incluem, por exemplo, reabertura de bares e restaurantes, não existe nada que sinalize a volta de teatros, shows e eventos. “O estado é fundamental para fomentar a cultura, e neste momento mais ainda. Principalmente para nós que não temos como trabalhar. A perspectiva para 2020 é zero”, explica Ruiz. Reunião com o prefeito Na sexta-feira, 29, Greca convocou os signatários da carta para uma reunião. O prefeito não apareceu, mas o encontro contou com a presença de representantes das fi nanças e da cultura da Prefeitura, que sinalizaram algumas respostas. “Será formado um grupo para estudar ações que respondam nossas reivindicações. Mas insistimos que sem o descontigenciamento do Fundo não há como realizar muita coisa,” diz Ruiz.

Ingredientes 4 colheres (sopa) de margarina, 4 colheres (sopa) farinha de trigo, 1 xícara de leite, 2 colheres (sopa) de queijo cremoso, 3 xícaras de espinafre cozido e picado, 2 ovos, sal, pimenta-do-reino e noz-moscada a gosto Modo de preparo Em uma panela, derreta a margarina e adicione a farinha de trigo dissolvida no leite. Mexa sem parar até engrossar. Tempere com a pimenta-do-reino e a noz-moscada. Acrescente o queijo cremoso e o espinafre. Cozinhe até o queijo derreter. Acrescente as gemas e cozinhe por alguns minutos. Desligue o fogo. Bata as claras em neve e adicione à mistura da panela. Coloque em uma fôrma untada (própria para suflê) e leve ao forno médio até ficar consistente e dourar.

Divulgação

Ana Carolina Caldas

A cada semana, publicamos receitas com produtos agroecológicos da rede colaborativa Produtos da Terra, da Sinergia Alimentos Saudáveis e da Rede Mandala. Parte dos ingredientes pode ser encontrada no site produtosdaterrapr.com.br


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