Paraná | p. 7
Ciclone deixa pessoas feridas e sem luz
Profissional luta contra contaminação em aldeias
PARANÁ
Divulgação
Médica indígena
Arquivo Pessoal
Paraná | p. 5
Tempestade afetou 30 cidades no Estado
Ano 4
Edição 173
distribuição gratuita
www.brasildefatopr.com.br
Quarentena no mundo da exploração
Paraná beira o colapso Governo espera situação chegar ao limite para tomar medidas contra pandemia Paraná | p. 5
2 a 8 de julho de 2020
Giorgia Prates
Entregadores fazem greve nacional contra péssimas condições de trabalho Cidades | p. 6
Giorgia Prates
Brasil | p. Opinião | p.62
Editorial | p. 2
Cultura | p. 8
A vida dos presos importa
É o poder público, estúpido!
Artistas pedem socorro
Famílias protestam contra falta de informações sobre a vida de parentes
Medidas tardias de Ratinho Jr. reafirmam necessidade de planejamento estatal
Um dos setores mais afetados pela crise quer medidas concretas
Brasil de Fato PR 2 Opinião
Coronavírus: Paraná à beira do colapso EDITORIAL
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ão mais de 20 mil pessoas contaminadas com Covid-19 e 600 mortes notificadas no Paraná. O número de óbitos diários tem batido recordes. Alguns hospitais da Região Metropolitana de Curitiba estão sem leitos de UTI para pacientes com coronavírus. Cidades como Francisco Beltrão e Cascavel também encontram-se em uma situação dramática. O relaxamento das medidas de isolamento mostrou um lamentável resultado. Afirmando “equilibrar a economia e a saúde”, o governo estadual reabriu atividades não essenciais em maio, e a consequência foi o aumento das mortes. Agora, o governo é pressionado, inclusive pelo MP estadual, a decretar medidas,
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em sete regionais de saúde do Estado, que fecham os serviços não essenciais, impedem circulação de pessoas entre 22h e 5h, e limitam a entrada a supermercados com senhas, entre outras medidas. O papel do poder público, se de fato preocupado com a saúde e com a economia, e não com a pressão dos patrões, é dar condições para que todos tenham renda e moradia dignas durante e depois da pandemia. Ressaltando que os trabalhadores das atividades essenciais, que não podem parar, estão enfrentando transporte público lotado e condições de trabalho inseguras. Sem políticas públicas com planejamento e medidas efetivas de prevenção, nossa vida está em risco.
SEMANA
A vida dos presos importa OPINIÃO
Giorgia Prates,
Fotojornalista, ativista e integrante do Brasil de Fato Paraná
T
ão invisibilizados quanto as pessoas que estão privadas de liberdade, estão os que visitam os parentes presos. A insalubridade e problemas estruturais são fatores conhecidos sobre o espaço carcerário. Porém, hoje, a questão que traz uma problemática ainda maior é a superlotação. E diante disso familiares vão às ruas exigir o direito de ter notícias dos detentos e outros posicionamentos. As visitas estão suspensas devido à pandemia e alguns encontros são feitos por videoconferência, mas a maior parte não sabe qual é a real situação de seu parente. “Devido à pandemia, não é para ter aglomeração, mas por que no sistema carcerário tem? As famílias estão sem notícias. Outros estão sendo presos e eles estão fazendo exames antes de entrar?”, relata Carina Correia, esposa de um dos detentos durante a manifestação no Centro Cívico em Curitiba. Existem prerrogativas legais para o tempo de execução penal que, assim
como os direitos humanos do preso, estão registradas em estatutos e convenções legais. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, a Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem e a Resolução da ONU preveem as normas de proteção aos presos. O necessário mutirão visa à transferência de apenados para o regime semiaberto ou para colônias, permitindo a abertura de vagas nas cadeias e, assim, o desafogamento. Outra questão levantada pelos familiares se refere à “sacola”. O Departamento Penitenciário do Paraná tem uma lista do que pode entrar na sacola das visitas. Isso se refere aos tipos de alimentos, itens de higiene pessoal e vestuário. Com a pandemia, os familiares teriam que enviar as sacolas por sedex, mas para essas famílias o serviço é caro e muitos estão sem mais essa assistência ofertada pelos seus. Em outros estados do país, os familiares também vão às ruas exigir respeito aos direitos dos detentos revelando a dupla penalidade que sofrem os encarcerados no Brasil. Em Curitiba, o próximo ato está marcado para o dia 6 de julho
EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 173 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.
Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Giorgia Prates ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com
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Geral | 3
QUE DIREITO
FRASE DA SEMANA
O surgimento da pandemia de coronavírus veio para agravar a contaminação dos direitos e a precarização do trabalho no Brasil. Dados da Pnad revelam que o país tem 12,7 milhões de desempregados e 30,4 milhões de trabalhadores subutilizados, quando a sua força de trabalho não é utilizada na totalidade. Os números mostram que o Brasil tem, atualmente, 75 milhões de pessoas fora da força de trabalho e que a população de desalentados (aqueles que desistiram de procurar emprego) aumentou 15,3%, em mais um recorde histórico negativo, chegando a 5,3 milhões de brasileiros. Segundo o IBGE, o “número de empregadores (4 milhões de pessoas) recuou 8,8% em relação ao mesmo trimestre de 2019 (-388 mil)”. Na era Bolsonaro, o Brasil está sem ministro da Saúde, da Educação e nunca teve ministro do Trabalho. O antigo ministério foi rebaixado a Secretaria sob subordinação da Economia. À época do anúncio, as centrais sindicais alertavam que isso seria um retrocesso que vai resultar em enormes prejuízos aos trabalhadores da ativa, a aposentados e aos pensionistas.
Marcello Casal Jr. | Agência Brasil
“Você sabe a tortura que é um motoboy com fome e tendo de carregar comida nas costas?”
Naiara Bittencourt
Água, direito ou mercadoria?
Paulo Lima, motoboy que trabalha com os aplicativos Uber, Rappi e IFood, ao ser entrevistado. Movimento BrequedosApps, na quarta, 1º, evidencia as péssimas condições de trabalho de pessoas que ganham de R$ 2 a R$ 3 por entrega sem nenhum direito trabalhista.
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Brasil perde empregos e empregadores
É ESSE?
NOTAS BDF
Por Frédi Vasconcelos
Eleições adiadas
Evaristo Sá | AFP
Até o fechamento desta edição, a Câmara dos Deputados tinha aprovado em primeiro turno o projeto que já passara pelo Senado adiando as eleições municipais deste ano: o primeiro turno ficaria para 15 de novembro e, o segundo, para 29 de novembro. Nova votação estava marcada para o final da noite de quarta, 1º de julho. Caso aprovada a emenda à Constituição irá à sanção de Bolsonaro.
Mais desempregados que empregados Segundo dados do IBGE, no trimestre encerrado em maio, a população ocupada, em que estão empregados, empregadores, conta própria, servidores foi de 85,9 milhões. Com perda de 7,8 milhões de vagas em relação ao trimestre anterior. Pela primeira vez há mais pessoas em idade de trabalhar desempregadas que empregadas. É o pior resultado da série histórica, iniciada em 2012.
Melhor ou pior que Weintraub? Seria difícil o governo Bolsonaro achar alguém pior que o pior ministro da educação que o Brasil já teve, Abraham Weintraub. Porém, Carlos Decotelli caiu poucos dias após ter sido escolhido por conta de mentir sobre um doutorado que não tinha, um pós-doutorado que não tinha, um cargo de professor da FGV que não tinha. Justamente no ministério que tem de normatizar e fiscalizar os títulos acadêmicos no Brasil. Mas há quem diga que nesses poucos dias no governo ele não conseguiu ser pior que Weintraub.
Queimado? Outro ministro entre os piores que o Brasil já teve é o do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que também já esteve enrolado com acusações que vão de mandar “passar a boiada na pandemia” a depósitos milionários em suas contas. Agora, pode comemorar um recorde. Em junho, sob sua “administração”, o Brasil teve o maior índice de queimadas desde 2007, segundo monitoramento feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Salles pode ser o próximo ministro a deixar o governo.
O Marco Legal do Saneamento foi aprovado no Senado em meio à pandemia, mesmo não sendo matéria de urgência. De iniciativa do governo federal e sem o debate necessário, a nova legislação pode violar o nosso direito à água e ao tratamento de esgoto. O novo marco exige que os municípios façam licitações públicas, o que acirra a competição entre empresas públicas e privadas, tornando o que é direito – a água – uma disputa de mercado. O que pode levar à privatização ou falência das empresas públicas. Nesse caso, como ficaria a imensa quantidade de munícipios em que não há lucro? Hoje, muitas empresas públicas balanceiam municípios que dão mais ou menos lucros para viabilizar o serviço em estados e regiões, o que não deve ocorrer com a mudança. Se o Brasil já sofre com a ausência de saneamento quem passará a dizer quais comunidades terão ou não acesso e qual o preço? A legislação já estabelecia uma série de participações privadas, mas o novo marco indica maior controle e apropriação. As empresas públicas de água suspenderam a cobrança de tarifas durante a pandemia. Iniciativa que não se verifica no setor privado. A crise nos mostra que precisamos de ampliação de serviços e equipamentos públicos, não o que faz a nova lei, que transforma direitos em mercadorias. Naiara Bittencourt é da Rede de Advogados e Advogadas Populares
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A água que irriga uma comunidade
CAMPANHA
Na Cidade Industrial, em tempos de seca, uma fonte natural reduz a dificuldade de acesso à água dos moradores Giorgia Prates
Pedro Carrano, com ensaio fotográfico de Giorgia Prates
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ma água que abasteceu a construção de casas. Que abastece vidas. E que ainda abastece todos os dias uma comunidade sempre em luta pela regularização fundiária. Desde o começo da ocupação que resultou nas vilas Jardim Eldorado, Vila Cruzeiro, Esperança e Nova Conquista, na área do Sabará, Cidade Industrial de Curitiba, uma fonte natural de água permitiu a construção das casas e segue indispensável à comunidade em tempos de crise econômica, racionamento e pior seca de água no estado desde os anos 1980. Em tempos de aprovação nacional para privatização da água e saneamento, a crônica dessa fonte jorrando para milhares de pessoas ganha mais importância ainda. Os integrantes da associação de moradores Esperança e Nova Conquista recordam que a bica, como chamam, acompanhou o passo a passo da ocupação da área, no começo dos anos 1980. Sem ela, não teria sido possível cozinhar, misturar o cimento, viver. “Não entrava caminhão-pipa na
Eu cheguei e já havia encanamento da vila, usei para construção, para não gastar muito com água. As pessoas usam até hoje, para lavar carro, é uma fonte que nunca secou Sebastião Sampaio vila, foi a salvação de muita gente, o saneamento veio muito depois, foi uma luta muito grande de todos os moradores aqui”, relata Élio dos Santos, aposentado, ex-conferente de cargas. Giorgia Prates
“Ali era uma terra bem acidentada antes que a Cohab fizesse a medição dos lotes e nós usávamos a bica. Meu primeiro barraco foi ali, a uns seis metros para baixo, hoje eu moro em lugar mais central na vila”, completa Élio. Marco zero Já o presidente da associação de moradores, Sebastião Sampaio, teve contato pouco depois, em 1989, quando chegou por lá e já havia uma mínima rede de encanamento. O acesso à água por parte dos moradores sempre foi ou precário ou então caro. “Eu cheguei e já havia encanamento da vila, usei para construção, para não gastar muito com água. As pessoas usam até hoje, para lavar carro, é uma fonte que nunca secou”, conta. Por tudo isso, Sebastião defende que ali se torne um marco da vila e chegou a sugerir a medida para vereador local. Água de qualidade Olga de Souza, diretora da associação de moradores, afirma que a fonte é útil em tempos de rodízio e “cortes constantes, dia sim, dia não, de água por parte da Sanepar. Já passamos quase três dias sem água”, critica. Por coincidência, na condição de vendedora de filtros de água purificada, ela confirma que a qualidade da água da bica do Sabará é ótima. “O PH da água é sete e meio, então é bem alcalina, boa para a saúde”, atesta.
Participe da campanha “SindijusPR contra a fome” O Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário do Estado do Paraná (Sindijus-PR) lançou no dia 1º de junho a campanha “Sindijus-PR contra a fome”’, uma iniciativa para ajudar as pessoas em situação de vulnerabilidade social durante a pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Com o aparecimento da pandemia de covid-19, os números em relação à pobreza aumentaram. O sindicato cita que a síntese de Indicadores Sociais (SIS), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontou que a população no Paraná em condições de extrema pobreza somava, em 2017, 350.579 pessoas, ou 3,1% do total de habitantes do estado, de um total de 11,3 milhões. A Síntese usa como critério para definir extrema pobreza o indicador do Banco Mundial, que define pessoas com renda inferior a US$ 1,90 por dia, ou R$ 145 por mês. Em 2016, o número era até então de 258.310 pessoas nessas mesmas condições, demonstrando um crescimento de 34,7%. A entidade convoca a participação na campanha solidária do Sindijus-PR, doando qualquer valor, junto à Caixa Econômica Federal, Agência: 0997, OP: 003, Conta: 00015314 e CNPJ: 75.061.762/0001-05. A prestação de contas será feita de forma exclusiva e paralela, e ficará à disposição no site do Sindijus-PR. Agência Pública
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Ratinho espera piora de casos de coronavírus para “fechar” regiões “Esperávamos mais rigor e mais proteção à vida das pessoas”, diz o deputado Lemos Ana Carolina Caldas
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o dia em que houve o recorde de casos de coronavírus no Paraná, 1.500 confirmados na terça (30), o governador Ratinho Júnior anunciou medidas restritivas em sete regionais de saúde. Ao todo, são 134 municípios, que respondem por 75% das infecções
pelo coronavírus no Paraná. As determinações valem por 14 dias nas regionais Curitiba e Região Metropolitana, Cascavel, Londrina, Foz do Iguaçu, Toledo, Cianorte e Cornélio Procópio. O motivo alegado foi a falta de insumos, de profissionais intensivistas nas unidades de saúde e baixo índice de isolamento social. Arquivo Pessoal
Entre as principais medidas estão o fechamento total de atividades não essenciais como comércio, shoppings, academias, salões de beleza e estética, suspensão do funcionamento presencial de lanchonetes e restaurantes, supermercados devem funcionar até sábado e com 30% da capacidade total, fica proibida a circulação de pessoas das 22h às 5h, o transporte público poderá atender apenas trabalhadores de serviços essenciais e é suspenso o funcionamento de bares e casas noturnas. Devido à escassez de medicamentos ficam também suspensas as cirurgias eletivas. Decreto insuficiente O deputado estadual Professor Lemos (PT) considerou, em entrevista ao Brasil de Fato Paraná, o decreto insuficiente. “Esperávamos mais rigor e mais proteção à vida das pessoas. E, por outro lado o governo não tem investido na ajuda para que as pessoas possam ficar em quarentena.”
LOCKDOWN
Ministério Público ajuíza ação para “lockdown” em regiões mais afetadas Promotores de Justiça responsáveis pela área de Proteção à Saúde Pública nas quatro macrorregiões do Paraná ajuizaram na segunda-feira, 29, ação civil pública para invalidar atos do estado que autorizaram o funcionamento de atividades comerciais não essenciais. O Ministério Público requer ainda que, em função do agravamento do quadro de contaminação e do número de mortes decorrentes da Covid-19, o Estado do Paraná adote medidas restritivas, entre elas o “lockdown”, nas regiões que apresentam quadros mais preocupantes.
“Nosso trabalho é não deixar o vírus entrar na aldeia”, diz médica indígena Ana Carolina Caldas
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odos os dias a médica indígena Miriam Alessandra de Moraes Viegas percorre mais de 100 quilômetros com sua equipe para atender nove aldeias no interior de São Paulo. O dia começa cedo na cidade de Miracatu, onde carregam remédios para atender a população indígena. A falta de estrutura nas aldeias não é empecilho para a médica, que improvisa um local para atendimento. Miriam, que em guarani quer dizer “mulher que cura”, diz que a decisão de enfrentar todas as dificuldades que uma indígena encontra para cursar Medicina foi por-
que queria fazer a diferença. “Não foi fácil entrar na faculdade. Mas sempre soube que minha profissão é fundamental, pois consigo trabalhar respeitando os limites e costumes do meu povo.” E, no meio do caminho dos três anos como médica, veio a pandemia. “Por ser um atendimento primário, trabalhamos com prevenção a todas as doenças. Nossa preocupação, neste momento, é não deixar o vírus entrar na aldeia. Pois o isolamento indígena é diferente por ser uma vivência coletiva. Se alguém se contamina, contaminará a aldeia toda.” Miriam diz que além dos sentimentos de insegurança e medo
pessoal por se preocupar com seu povo, sua família e equipe, teme o futuro da população indígena. “Este pode ser mais um fator, entre tantos, para o genocídio da população indígena.” Por isso, ela tem insistido para que não saiam das aldeias e façam todos os protocolos de prevenção. “E quando tiverem sintomas, que nos avisem imediatamente”, diz, com esperança de que tudo passe logo. Subnotificação Segundo a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) os números de indígenas infectados são superiores aos notificados pelo governo. Pelo levantamento feito pela associação
junto com outras entidades já são 378 mortes entre indígenas e, em 27/6, eram 9.166 infectados. Arquivo Pessoal
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Em Curitiba, entregadores de aplicativo aderem à greve nacional Trabalhadores ganham menos e têm piora nas condições de trabalho durante a pandemia Ana Carolina Caldas
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tualmente, precisamos rodar 10 a 12 horas para fazer 70 reais no dia. A remuneração caiu justamente no momento em que temos mais trabalho”, conta Douglas, entregador de aplicativo em Curitiba que aderiu ao movimento grevista nacional desta quarta, 1º de julho. A greve nacional dos entregadores de aplicativos acontece em todo o Brasil por melhores condições de trabalho. Entre as principais reivindicações estão o aumento do valor mínimo das corridas e da remuneração por quilômetro rodado, seguro de vida que inclua cobertura de roubos e acidentes, sala de apoio para aguardar os chamados dos aplicativos, além do fornecimento de itens de proteção individual contra o coronavírus pelas empresas. Durante a paralisação na capital do Paraná, houve manifesPUBLICIDADE
tação de motoboys e cicloentregadores pelas ruas centrais de Curitiba. O movimento pede apoio da população para que nesse dia não peçam entregas via aplicativos. O objetivo é que as empresas, tendo menor número de pedidos, se sensibilizem com o movimento e as reivindicações. Quarta sindical Em entrevista ao programa “Quarta Sindical”, promovido pela CUT Paraná e Brasil de Fato, Douglas e Lucas, ambos entregadores que participam e apoiam a greve, descreveram a dura realidade de trabalho, cada vez mais precarizado. Se o trabalhador sofrer um acidente, a empresa não paga os custos do atendimento médico. O entregador não achou endereço por falta de internet? Ele terá que pagar a entrega não feita. Peso nas costas e fome o dia inteiro? São problemas que as empresas também não se envol-
vem. Estes são alguns dos vários fatos relatados. “Em 2018, durante uma entrega, sofri um acidente e minha bicicleta quebrou. Acionei o suporte da empresa e eles falaram que não podiam fazer nada e bloquearam meus pedidos. Ou seja, o empregado que resolva,” relata Lucas, que se tornou entregador aos 17 anos para pagar a faculdade. Já Douglas relata outro episódio que ficou sem internet e teve que pagar pela entrega. “As empresas não pagam serviço de internet para nós. Eu fiquei sem e não achei o endereço. Tive que pagar a entrega não feita.” Lucas diz que há um discurso que são autônomos e sócios da empresa para esconder a condição de subemprego. “Fazem este discurso, mas a verdade é que não temos vínculo empregatício e nenhum suporte. Com as empresas lucrando em cima da gente.”
MST doa mais de 12 toneladas de alimentos no Noroeste do Paraná Redação Cerca de 250 famílias em situação de vulnerabilidade das cidades de Maringá e Sarandi receberam, no final se semana, cestas com cerca de 20 quilos de alimentos doados por camponeses integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e por agricultores familiares. Foram distribuídas 5 toneladas de produtos agroecológicos, como arroz, feijão, fubá, açúcar mascavo, melado, mandioca, coco, batata doce, milho, hortaliças, limão, abacate, abacaxi, laranja, mamão, leite, chuchu, maracujá, pães e ovos. Mais 7 toneladas de produtos também foram doadas por 12 assentamentos do MST a famílias de Loanda e Santa Isabel do Ivaí. No total, foram 340 cestas com alimentos frescos e alimentos in-
dustrializados, como arroz, açúcar mascavo, melado e derivados de leite, frutos da reforma agrária e da organização das famílias assentadas por mais de duas décadas na região. Parte das cestas também recebeu sabão caseiro produzido pelas comunidades, item importante para a prevenção da covid-19. Pedro Faustino, integrante da coordenação do MST, reafirma a solidariedade como um valor cultivado pelo movimento neste contexto de extrema dificuldade. “Por outro lado, pedimos, exigimos que a reforma agrária seja efetivada, que os acampamentos sejam transformados em assentamentos, porque os resultados nós estamos vendo, são nítidos e claros nessas ações que estamos fazendo de oferecer alimentos saudáveis à população”, disse.
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Pessoas ficam feridas, casas danificadas e milhões sem luz por conta de ciclone no Paraná Até às 11h da manhã de quarta, 1º, casas permaneciam sem luz em Curitiba e no litoral Redação
Reprodução
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egundo informes da Defesa Civil do Paraná, o ciclone que atingiu a Região Sul na terça, 30 de junho, causou estragos em 30 cidades do estado e afetou mais de 30 mil pessoas. Com ventos que chegaram a até 120 quilômetros por hora, houve ferimentos em 10 pessoas nas cidades de Santa Lúcia e Ubiratã. Pelo menos 1,2 milhão de consumidores da Copel ficaram sem energia elétrica, a maior parte em Curitiba, Região Metropolitana e no litoral. Até a manhã da quarta, 1º de julho, cerca de 200 mil unidades ainda estavam sem luz nes-
sas regiões. O abastecimento de água foi interrompido para 1 milhão de pessoas e a Sanepar suspendeu o rodízio. Houve também diversas quedas de árvore, o que levou os bombeiros a trabalhar a noite inteira para desobstruir vias. Ocorrências no interior O boletim da Defesa Civil também informa que em Foz do Iguaçu e em Nova Prata do Iguaçu, 100 imóveis foram danificados, afetando 800 e 400 pessoas em cada cidade. Também há pessoas desalojadas em General Carneiro (30), Contenda (7), Fazenda Rio Grande (4) e Pinhais (3).
Chuvas não amenizam seca histórica Lia Bianchini
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esmos com as tempestades do final de junho, o Paraná passa por um longo período de estiagem desde junho de 2019. Em 7 de maio, o governador decretou emergência hídrica no estado, permitindo o rodízio de abastecimento em várias cidades, inclusive na capital. Mas a previsão de volta à normalidade é apenas para setembro. “Felizmente, tivemos algumas frentes frias que provocaram chuvas significativas em junho e que aliviaram um pouco a situação, todavia é importante ressaltar que não resolvem o problema como um todo”, analisa Pedro Augusto Breda Fontão, professor adjunto do Departamento de Geografia do Setor de Ciências da Terra da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e coordenador do Laboratório de Climatologia (Laboclima/UFPR). Na avalia-
ção do professor, apenas “o retorno das chuvas volumosas irão resolver a situação por completo”. A previsão do Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar) para este inverno, no entanto, é de pouca chuva e grandes oscilações de temperaturas em curtos intervalos de tempo. “As chuvas devem ficar abaixo ou dentro da média histórica, sem chance de recuperação do déficit hídrico observado desde o ano passado”, diz o meteorologista Marco Jusevicius, coordenador de Operação do Simepar. A atual estiagem no Paraná é a pior desde que o órgão começou a monitorar condições do tempo, em 1997. Fenômenos como uma seca tão prolongada são de difícil previsão, explica Fontão. No entanto, segundo o professor, a análise e observação de registros de dados pluviométricos podem ajudar a fazer um
CICLONE
Destelhamento em Curitiba Várias casas na região sul de Curitiba foram impactadas pelo ciclone. Moradores dos bairros Fazendinha, Novo Mundo e Portão tiveram perda de telhas das casas. No Novo Mundo, associações de moradores acionaram a Defesa Civil, que atuou na região e deu auxílio às famílias no período da manhã no bairro.
Agência Senado
planejamento para situações como essa. “O grande problema das secas no Brasil é a falta de uma cultura de gestão de riscos, onde em geral [...] o planejamento para este fenômeno acaba não sendo o ideal e, quando aparece, é feita uma gestão de crise episódica, muitas vezes afetando a população em diversos setores”, explica Fontão. Como fatores que podem influenciar períodos de seca estão o desmatamento e a degradação ambiental. “A destruição de florestas e
áreas de nascentes de rios influenciam na absorção e na entrada de água num sistema de bacias hidrográficas, além de ter o potencial de influenciar na umidade do ar e nas precipitações em nível local”, aponta Fontão. A degradação ambiental, por sua vez, pode inviabilizar o aproveitamento das águas para o abastecimento urbano. “Em Curitiba ocorre uma situação paradoxal: está faltando água, ao mesmo tempo em que temos o Rio Iguaçu e seus principais afluentes inviabilizados devido à poluição”, conta o professor.
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Artistas enviam carta a governador e pedem mais atenção à cultura do Paraná
Gibran Mendes
Cayo Vieira
Por Andréia Carvalho Gavita
Amniótica em macro a palavra alheia não é ameaça interior venham a mim as palavras alheias tenho fortaleza interior a ideia alheia não é ameaça interior venham a mim as ideias alheias tenho fé interior
Setor foi o primeiro a parar e prevê retomada possível apenas para 2021 Ana Carolina Caldas O setor artístico cultural foi um dos primeiros a interromper suas atividades com o início da pandemia. Já são três meses desta grave crise sanitária e os artistas têm cobrado dos governos apoios e socorro emergencial. O Paraná é um dos poucos estados que não efetivou um plano para dar suporte aos espaços culturais e aos trabalhadores da área. Para pedir mais atenção à cultura e diálogo, mais de 100 coletivos e artistas enviaram uma Carta Aberta ao governador Ratinho Júnior.
Nela, destaca-se que a retomada do trabalho pela maioria dos artistas que depende do público de forma presencial se dará somente em 2021. E também a importância do setor artístico para o desenvolvimento econômico do Paraná e do Brasil, que emprega 5% da mão de obra do país e responde por mais de 2% do PIB Nacional. “Portanto, entendemos que o repasse e o investimento do governo do Estado no setor artístico cultural podem e devem ser considerados um investimento na própria economia do Paraná”, diz a carta.
No documento também é questionado o governo estadual sobre o que tem sido feito e quais as perspectivas de trabalho pensadas para esse setor produtivo. E pedem abertura do diálogo para que esses questionamentos sejam respondidos e alternativas construídas coletivamente entre artistas e o governo. Ainda no pedido de socorro emergencial reivindicam ao governador Ratinho Jr. que os profissionais da cultura possam ser incluídos nos programas Luz Fraterna e Tarifa Social da Sanepar até o fim da pandemia.
cantam em mim as palavras alheias brilham em mim as ideias alheias tenho palco interior meu interior me ultrapassa estou interno, estou reino, estou asa, estou alheio, me nutre me estranha me ateia e não me caça o interior o meu nome é alheio i-n-t-e-r-i-o-r alheio, me chama, me inflama, me abraça nosso nome é o que grita na água nosso nome: amor
DICAS MASTIGADAS | Por Lourdes Marchi
Bolo de mexerica A cada semana, publicamos receitas com produtos agroecológicos da rede colaborativa Produtos da Terra, da Sinergia Alimentos Saudáveis e da Rede Mandala. Parte dos ingredientes pode ser encontrada no site produtosdaterrapr.com.br Ingredientes 4 mexericas orgânicas (se forem pequenas, usar 5). 2 xícaras de açúcar. 2 xícaras de farinha. 3 ovos orgânicos. 1/2 xícara de óleo. 1 colher sopa de fermento.
ão uç rod p Re
Modo de Preparo Pré-aqueça o forno em temperatura máxima. Prepare as mexericas: retire as sementes de todas e a casca de uma. Use as demais com casca. No liquidificador, vá batendo as mexericas com duas xícaras de açúcar. Acrescente ovos, óleo, bata sempre e acrescente aos poucos a farinha de trigo e, por fim, o fermento. Deixe bater mais um pouco e leve para assar em forma bem untada. O tempo de forno é de 25 a 30 minutos. Sempre olhe para ver se está com aparência e cheiro de bem assado.