PARANÁ
Cultura | p. 8
Curtas de graça Cine Passeio disponibiliza pela internet ciclo de filmes sobre mulheres
Ano 4
Edição 174
9 a 15 de julho de 2020
distribuição gratuita
www.brasildefatopr.com.br Giorgia Prates
MST inaugura centro de produção onde usineiros destruíram lavoura
Divulgação
Reconstrução no campo
Alan Bruno Ferreira | MST-PR
Paraná | p. 7
Despejo não! Moradia e renda sim! Ocupação Nova Esperança, em Campo Magro, reúne centenas de famílias pelo direito à moradia. O terreno estava abandonado, o local tem infraestrutura e é central. Advogados analisam que decisão política geraria regularização
Cidades | p. 4
Editorial | p. 2
Opinião | p. 2
Quem com ferro fere
Julho das Pretas
Preconceito no interior
Irresponsável, Bolsonaro afirma estar infectado com Covid
Mulheres negras reforçam sua organização
Indígenas são impedidos de entrar em supermercado
Paraná | p. 7
Eleições em movimento Requião nega, mas pode disputar prefeitura “se povo quiser” Eleição | p. 6
Brasil de Fato PR 2 Opinião
Brasil de Fato PR
Paraná, 9 a 15 de julho de 2020
O presidente do “E daí?” está com Covid
EDITORIAL
M
esmo ao contrair Covid-19, Jair Bolsonaro insiste em proferir notícias falsas sobre a doença que já matou quase 70 mil brasileiros e contaminou outro 1,7 milhão. Mesmo admitindo que o remédio hidroxicloroquina não tem eficácia comprovada no tratamento, o presidente grava vídeos estimulando o consumo do remédio até de forma “preventiva”, o que não é recomendado pelas autoridades em saúde e especialistas,
podendo gerar graves complicações e até óbito. Bolsonaro também admitiu que acreditava já ter contraído o vírus no passado e mesmo assim se recusava a publicizar os testes realizados, medida que só foi garantida mediante decisão judicial. Já infectado pelo coronavírus, Bolsonaro concedeu entrevistas e retirou a máscara para conversar com jornalistas. O ato pode até ser considerado crime, conforme os arti-
gos 131 e 132 do Código Penal, por expor outras pessoas à doença e facilitar seu contágio. Além de ser um risco para a população brasileira pelo descaso com que trata a pandemia no país, Bolsonaro é um perigo também para aqueles que estão ao seu lado. Ao invés de cumprir medidas de isolamento e distanciamento social, permanece, agora literalmente, espalhando vírus e desinformações por onde passa.
SEMANA
OPINIÃO
Brasil de Fato PR Desde fevereiro de 2016 O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 174 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Alaerte Leandro Martins e Isadora Stentzler ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www. facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com
Julho das Pretas 2020
Alaerte Leandro Martins,
Integrante da Rede de Mulheres Negras, enfermeira, especialista em obstetrícia, doutora em saúde pública, fundadora da Associação Pelourinho da Lapa
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EXPEDIENTE
o Brasil, todas as organizações do movimento de mulheres e em especial o de mulheres negras estão desenvolvendo atividades do Julho das Pretas. No Paraná é organizado desde 2017. Este ano a programação iniciou dia 3 de julho. Devido ao contexto da pandemia, todas as atividades estão sendo online, podendo ser prestigiadas nas
plataformas das redes sociais. No Brasil, o Dia 25 de Julho homenageia Tereza de Benguela, líder do Quilombo de Quariterê – MT; por meio da Lei 12.987/2014 a data tornou-se o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. O Julho das Pretas é um movimento criado pelo Odara (Instituto da Mulher Negra, de Salvador), em 2013, voltado especialmente para o fortalecimento das organizações de mulheres negras. Em 2020, para além do motivo que foi criado o Julho das Pretas, es-
pecialmente nos últimos meses sobram assuntos a serem debatidos relacionados ao racismo: a morte do adolescente João Pedro dentro de casa pela polícia no Rio de Janeiro; de Miguel, de 5 anos, após ser abandonado no elevador e cair de prédio no Recife; de George Floyd, asfixiado por policiais nos Estados Unidos e todas as manifestações consequentes, inclusive em Curitiba. Somam-se a isso as condições de vida e saúde que a população negra vem enfrentando com a Covid-19, maior percentual de acome-
tidos pela doença e número de óbitos. As mulheres com subemprego e agora muitas desempregadas continuam a trabalhar enfrentando ônibus lotados e, quando voltam para casa, na periferia, é um lugar que não permite isolamento social. É mais que evidente neste momento o quanto é necessário que o Sistema Único de Saúde (SUS) seja fortalecido, bem como todas as demais políticas públicas incluindo as universidades, pois a população negra, SUSdependente, mais do que nunca precisa de assistência.
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COLUNA DA
FRASE DA SEMANA
JUVENTUDE
“Quem muito se expõe tem muita chance de contrair”
Custo da cesta básica cai em Curitiba durante a pandemia O custo da cesta básica diminuiu em 10 capitais pesquisadas pelo Dieese no mês de junho, incluindo Curitiba. Em outras sete cidades, os custos apresentaram alta em relação a maio. As reduções sofrem o impacto da crise econômica brasileira. A jornada necessária de um trabalhador para comprar a cesta básica foi de 115 horas e 10 minutos. O percentual do salário mínimo líquido gasto para compra dos produtos da cesta para uma pessoa adulta: 56,59%. O Dieese estima que o salário mínimo necessário deveria ser de R$ 4.595,60 em junho, o equivalente a 4,40 vezes o mínimo vigente de R$ 1.045,00. A cesta em Curitiba está custando R$ 506 na média. Uma queda de 4,75% em relação a maio. Por outro lado, nos últimos 12 meses, a cesta subiu 13,32% na capital paranaense. Salvador registrou o menor custo entre as capitais: R$ 419. Já os paulistanos pagam mais pelos itens: R$ 547. O feijão apresentou aumento de preço em 16 capitais. Já o preço médio do arroz agulhinha ficou mais alto em 15 capitais. O leite integral também aumentou em 15 capitais pesquisadas, assim como a carne bovina, que teve reajuste em 14 capitais.
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Disse o ex-ministro da Saúde de Bolsonaro Luiz Henrique Mandetta após a revelação de que o presidente está com o coronavírus Rodrigues Pozzebom | Agência Brasil
RADAR DA LUTA
Por Frédi Vanconcelos
Enem 2020 só em 2021
Covid afeta a compreensão
O Ministério da Educação sem ministro anunciou na quarta, 8, que o Enem de 2020 só acontecerá no começo de 2021. As provas impressas estão previstas para 17 e 24 de janeiro. A versão digital está marcada para 31 de janeiro e 7 de fevereiro. A reaplicação do Enem foi agendada para 24 e 25 de fevereiro. E os resultados estão previstos para 29 de março. Precisa ver se até lá já terá sido nomeado novo ministro depois do falsificador de currículo e do quase-ministro Renato Feder.
Na quarta, 8, apesar de o Brasil passar de 67 mil mortos pela pandemia e bater recorde diários de contaminados, Bolsonaro fez postagem no Twitter dizendo que “nenhum país do mundo fez como o Brasil. Preservamos vidas e empregos sem propagar o pânico, que também leva à depressão (SIC) e mortes”. Realmente, não se tem notícia de nenhum país no mundo em que o presidente aja da maneira como Bolsonaro vem fazendo. Não à toa, o Brasil está virando um pária na comunidade internacional.
Recorde de mortos
Candidatos a prefeito
Os números adoram contrariar os negacionistas. Pesquisa feita pelo BDF-PR no site dos cartórios que registra óbitos em todo o Brasil mostra que até junho deste ano houve aumento de 56.529 mortes no país em comparação com os mesmos seis meses de 2019. Foram 664.038. Acréscimo de mais de 9% em 180 dias ou o equivalente ao número de homicídios registrados em um ano no Brasil. A principal causa é a pandemia chamada de “gripezinha” pelo presidente.
Em prévias realizadas no domingo (5), o PT confirmou o nome de Paulo Opuszka para a disputa da Prefeitura de Curitiba. Na sexta-feira (3), o deputado estadual Tadeu Veneri retirou sua pré-candidatura por divergências com o diretório municipal. Foram 80 votos a favor de Opuszka e 10 contrários. Outro partido que definiu candidatura na capital foi o Partido Verde (PV), que escolheu Renato Mocellin para tentar a Prefeitura.
Festival expressa cultura e solidariedade Entre os dias 25 e 30 de junho, o Levante Popular da Juventude realizou o Festival da Resistência, transmitido no Youtube. A programação buscou envolver mesas de debate, com militantes de movimentos populares, partidos políticos e artistas, assim como a realização de atividades culturais. Em período de pandemia, o festival permitiu conectar pessoas do Norte ao Sul do País, vislumbrando a importância de democratizar o acesso à internet, pois o 4G permitiu que o festival se espalhasse pelas telas, de modo que um projeto popular de país deve necessariamente democratizar a mídia, permitindo que o povo tenha acesso à informação e consiga ser sujeito na produção de informações. Ao mesmo tempo em que acompanhamos o festival, persistimos na campanha Periferia Viva, que busca ajudar o povo brasileiro a vencer o vírus e a fome, tornando a solidariedade nossa maior arma. Acompanhamos o festival enquanto higienizamos alimentos, montamos kits, fizemos distribuições e cozinhamos junto com o povo para resolver nossos problemas concretos, ouvindo e assistindo ao festival. Para acompanhar os debates do festival acesse o canal do Levante Popular da Juventude no YouTube. Anna Sandri, advogada, militante do Levante Popular da Juventude e da Consulta Popular Letícia Freitas, militante do Levante Popular da Juventude e estudante de Ciências Sociais
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Ocupação Nova Esperança apresenta condições para posse, falta apenas vontade política Risco de despejo, solicitado por governo do estado, contrasta com apoio da sociedade civil e protocolos internacionais Pedro Carrano, com reportagem fotográfica de Giorgia Prates
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tarde de sábado (4) parecia tranquila na ocupação Nova Primavera, em Campo Magro, na Região Metropolitana de Curitiba. Mais de 900 famílias estão há mais de um mês em terrenos espaçados, planos, perto do centro da pequena cidade, a menos de 500 metros da Prefeitura. A ocupação é organizada pelo Movimento Popular por Moradia (MPM). A maioria dos ocupantes já traçou o espaço de uma horta individual que começa a dar as primeiras mudas. No entorno, há placas avisando que as árvores e a mata não podem ser tocadas. “Eles dão a entender que a população não tem condição nenhuma de manter uma área preservada, o que não é verdade”, explica Val Ferreira, uma das lideranças do movimento. “Sou de Tijucas do Sul, pago R$ 500 de aluguel, não tinha mais con-
dições”, avisa uma senhora, animada com a organização popular. Ela compartilha a mesma situação de trabalhadores, desempregados, imigrantes haitianos. O risco, porém, está na ausência de diálogo por parte das autoridades e na ameaça de despejo. A reintegração de posse foi emitida pelo juiz Alexandre Moreira Van der Broocke, da segunda vara civil da regional de Almirante Tamandaré. Integrantes do MPM receiam que possa acontecer nos próximos dias. Ocupantes mostram à reportagem as pedras colocadas pela Prefeitura local numa das vias de entrada da ocupação. Sem função social desde 2009, a fazenda pertence à Prefeitura de Curitiba, foi cedida à Fundação de Ação Social (FAS) de Curitiba e abrigava uma clínica para dependentes químicos e abrigo para pessoas em situação de rua. Em 2009, a clínica foi fechada. Desde então, foi cedida ao governo do Paraná.
“Se tiver despejo forçado, o juiz deu 15 dias para sair da área, a população disse que vai resistir. Nós não vamos sair. Em nosso acordo com a FAS, o Estado, não houve nenhum tipo de proposta alternativa a esses órgãos. Já estamos na fila da Cohab e Cohapar há cinco, dez anos, e nada”, denuncia Val. Basta vontade política Para a advogada na Comissão de Direitos Humanos e da Cidadania da Assembleia Legislativa do Paraná, Thaís Diniz, há sentido em as famílias ficarem na área. “No momento a gente tem o Ministério Público que abriu procedimento diante da Prefeitura de Curitiba para desenvolver algum projeto de regularização fundiária. Precisamos de vontade política para viabilizar. O município de Campo Magro é de pequeno porte, mas temos a responsabilidade de Curitiba e do governo estadual”, afirmou em entre-
vista ao programa Brasil de Fato 11h30. O despejo violento, de acordo com protocolos internacionais, adverte a jurista, “seria um abuso”. Para o advogado popular Felipe Mongruel, que defende as famílias neste caso, “direitos e garantias fundamentais estão ameaçadas desde 2016, essas garantias constitucionais que poderiam nos salvaguardar estão ameaçadas. Não existe compromisso com essa pauta”, denuncia.
RESPOSTA DO GOVERNO Procurada, a Secretaria da Justiça, Família e Trabalho, até o fechamento da edição, não respondeu sobre a situação das famílias, canais de diálogo e o risco de despejo forçado. Caso venha na sequência, publicaremos a versão do governo na matéria no site do Brasil de Fato Paraná.
PM agride manifestantes em ato de familiares pelo direito da população carcerária Pedro Carrano Ocorria na parte da tarde do dia 6 manifestação pelas condições da população carcerária em tempos de crise da pandemia de Covid-19, em Curitiba. É o segundo ato de apoio. No primeiro, as famílias denunciavam que as visitas estão suspensas devido à pandemia e alguns encon-
tros são feitos por videoconferência, mas a maior parte das famílias não sabe qual a real situação de seu parente. Durante o ato, o advogado popular e colunista do BDF Paraná, Renato Almeida de Freitas foi agredido, bem como o coordenador da Pastoral Carcerária. Vídeos e fotos do momento confirmam a denúncia dos manifestantes.
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Mortes por Covid podem passar de 1.600 por dia, revela modelo da Federal do Paraná Pesquisador alerta que este não é o momento para relaxar regras de isolamento social Ana Carolina Caldas
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m modelo matemático baseado em inteligência artificial desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) aponta que, daqui a duas semanas, o Brasil poderá atingir mais de 1.600 mortes diárias. Na última terça, 7, foram 656 mortes. No total, já são mais de 66 mil mortes e mais de 1,6 milhão de casos confirmados. O objetivo do projeto é auxiliar as autoridades públicas na tomada de decisões e na definição de medidas preventivas. O modelo, criado por membros do Grupo de Inteligência Artificial Aplicado à Bioinformática do Programa de Pós-Graduação em Bioinformática da UFPR, utiliza algoritmos evolutivos, uma das vertentes da inteligência artificial, para analisar os dados públicos disponibilizados e ajustar as curvas. No site em que o sistema está disponível, é possível visualizar a quantidade esperada de casos ou óbitos diários para duas semanas futuras. “Fornecemos uma visão completa da pandemia no Brasil. Cada município com casos notificados pode realizar consultas relativas a sua tendência. Os gestores também podem observar a sua situação, comparar com outras análogas e procurar soluções observando casos de sucesso. Além disso, podem observar o efeito de medidas tomadas sobre seu próprio município, verificando o êxito destas com relação à tendência anterior”, explica o coordenador do projeto, professor Roberto Tadeu Raittz. De acordo com as observações dos pesquisadores, a tendência ainda é de crescimento no número de casos no Brasil e no mundo. Pelas análises, este é o pior momento para que medidas de cuidado sejam relaxadas. “Não atingimos o pico da epidemia. Pelo contrário, a curva está em um crescimento muito preocupante. Infelizmente a cada relaxamento nas medidas de contenção, mais longe vai ficar o fim”, alerta o coordenador do projeto.
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Governo muda próprio decreto e abranda normas de quarentena restritiva Ana Carolina Caldas
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CENÁRIO NO PARANÁ No Estado, o sistema calcula que poderão aparecer, em duas semanas, mais de 3.300 novos casos por dia. Recentemente, a Secreta-
ria de Estado da Saúde divulgou que o Paraná ultrapassou a marca de 34 mil casos, com recorde de mortes registradas em 24 horas, até agora, de 44.
governo do Paraná emitiu no começo de julho decreto impondo medidas restritivas para sete regionais de saúde pelo crescimento dos casos de coronavírus no Estado. Porém, um dia após a publicação, o governador Ratinho Jr. tornou algumas medidas mais brandas. A principal mudança é em relação ao transporte público. O sistema deverá atender com prioridade os passageiros que trabalham em serviços essenciais e com até 65% de capacidade das 5h às 8h e das 15h30 às 19h30, os horários de pico, e até 55% da capacidade nos demais períodos. No decreto inicial, a regra era de 50% de lotação. As outras duas mudanças são a retirada das feiras livres da lista de atividades suspensas e autorização de abertura das lojas de conveniência em postos de combustíveis. As atividades estavam suspensas na primeira publicação. Para o deputado estadual Goura (PDT), as mudanças atrapalham o entendimento da população. “Esperamos mais firmeza por parte do governo. Essas idas e vindas comprometem o entendimento da população” diz. Ele destaca que a maior preocupação fica no que se refere à fiscalização. “Por exemplo, considero que as feiras livres sejam importantes. Mas é preciso ter fiscalização para que se efetivem medidas de distanciamento. Da mesma forma com o transporte público. Quanto o Estado está de fato fiscalizando e tendo coerência em suas ações?”
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Requião nega candidatura, mas admite concorrer se população quiser que “seja prefeito de novo” Ex-senador deu entrevista exclusiva ao programa “Quarta Sindical” do BdF e CUT-PR Reprodução
Frédi Vasconcelos
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programa “Quarta Sindical” desta semana, transmitido pelo Facebook do Brasil de Fato Paraná e pela CUT-PR, entrevistou o ex-senador, ex-governador do Paraná e ex-prefeito de Curitiba, Roberto Requião. Diante da pergunta sobre sua candidatura a prefeito da capital neste ano, Requião negou e foi duro: “Perdi a eleição para o Senado em Curitiba de maneira vergonhosa. Fiz 150 mil votos. O (Flávio) Arns, que é um zero à esquerda, fez 240 mil. O Oriovisto (Guimarães), que estava morando na Alemanha, fez 500 mil. O Bolsonaro fez 75% dos votos PUBLICIDADE
aqui”, disse. Outro motivo apontado foi ter saído agora da presidência do Parlamento Europeu Latino-Americano e estar sintonizado em macroeconomia e na geopolítica do mundo. Porém, ao analisar a administração do atual prefeito Rafael Greca, Requião disse que ele tem defeitos e qualidades como todo mundo. Mas que Greca tem uma “visão estética da cidade”, que quer fazer uma cidade para quem mora no centro e nas regiões mais ricas, mas que é “frio em relação aos direitos e necessidades da população trabalhadora”. Sobre outras possibilidades, afirma que gostaria de apoiar um candidato de verdade para a prefeitura, “mas parece que está todo mundo brincando, daí acaba o Greca ganhando a eleição. Agora escolher entre Greca e Francischini , o que eles sabem disso? A cidade é uma máquina de morar, tem de ser construída pela população com uma administração centralizada, que sente as necessidades do povo”. Ao dizer que não vê hoje nenhum candidato com perfil para vencer e resolver os problemas da população mais vulnerável, Requião abre uma brecha para sua candidatura. “Nós precisamos ter um candidato decente. Se você dissesse para mim, ‘Requião temos uma pesquisa aqui, a população de Curitiba acha que você pode ser um excelente prefeito depois de tudo que fez e quer que você seja prefeito de novo’, eu toparia. Mas não existe isso...”, disse.
Coronavírus causa impactos em eleições municipais Lia Bianchini A pandemia do novo coronavírus fez de 2020 um ano atípico. Em um contexto “normal”, julho seria mês definir candidaturas para a eleição municipal. Neste ano, porém, o calendário eleitoral foi alterado. O primeiro turno das eleições foi adiado de 4 de outubro para 15 de novembro. O segundo turno será em 29 de novembro. As propagandas eleitorais, que começariam em 16 de agosto, só serão permitidas a partir de 26 de setembro. Pré-candidata a vereadora pelo PT de Curitiba, Ana Carolina Dartora conta que, além das datas em si, a pandemia fez com que todo o planejamento de sua campanha fosse alterado. Historiadora, professora da rede pública estadual, militante da Marcha Mundial das Mulheres e do Movimento negro, Dartora relata que um dos
objetivos da sua campanha é atingir a população negra, pobre e periférica. “A gente teve de repensar tudo. Na pré-campanha, pensávamos em fazer mobilização na rua, visitar bairros, conversar com as pessoas. A quarentena acabou com todos esses planos. A gente teve que pensar numa visibilidade no contexto digital. E no contexto digital quem está é a classe média”, avalia. Pré-candidato a vereador pelo mandato coletivo Ekoa, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), Thiago Bagattin avalia que a restrição das campanhas ao meio digital pode restringir também o acesso ao debate. “A pandemia traz a dificuldade de ‘sair da bolha’. A rede social é uma grande bolha e se a gente ficar preso a ela durante a campanha, a gente vai manter o status quo, quem já está no poder, vai diminuir muito nosso poder de influência”, afirma.
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MST inaugura centro de produção agroecológica em lavoura destruída por usineiros Acampamento existe desde 2015, formado por 50 famílias que vivem do cultivo da terra Redação
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a tarde de sábado (4), um dia após terem lavouras destruídas por um grupo de homens armados, famílias sem-terra do acampamento Valdair Roque, de Quinta do Sol (PR), inauguraram no local o Centro de Produção Agroecológica Pinheiro Machado. Além das 50 famílias, estiveram no local moradores da cidade, religiosos, entidades e outros movimentos sociais. O nome do espaço homenageia o professor Luiz Carlos Pinheiro Machado, que faleceu na quinta-feira (2), aos 91 anos. Na área, com cerca de 1 alqueire (24 mil metros quadrados), os camponeses plantaram pés de banana e utilizaram plantadeiras manuais para semear feijão crioulo. Segundo a coordenação da co-
munidade, a continuidade da produção agroecológica será uma ação coletiva e permanente das famílias e servirá para garantir o autossustento e somar nas ações de solidariedade na região.
A Fazenda Catarina, onde está localizada a comunidade, é de propriedade da Usina Sabarálcool, que acumula grande passivo na Justiça, com 964 ações trabalhistas somente na Comarca de Campo Mourão. O desAlan Bruno Ferreira | MST-PR
cumprimento da função social das relações de trabalho levou o Incra a manifestar interesse na área para destinação à reforma agrária. Existe ainda recomendação do Ministério Público Federal desde 2018 para que o Incra intervenha junto a esse conjunto de ações e execuções trabalhistas para adquirir e destinar a famílias acampadas. “A nossa reivindicação é que o juiz trabalhista autorize o Incra a fazer o assentamento e a União pague as ações trabalhistas dos trabalhadores”, diz José Damasceno, da direção estadual do MST. No ataque ocorrido na sexta-feira (3), pelo menos 14 homens foram até o local, entre eles um dos proprietários da área, Víctor Vicari Rezende, e capangas armados - alguns encapuzados, segundo relatos de moradores da comunidade.
Indígenas denunciam racismo após serem impedidos de comprar em mercado Isadora Stentzler
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elo menos dois guaranis da Reserva Indígena Tekoha Anhetete, em Diamante d’Oeste, no Paraná, foram impedidos de comprar no Supermercado Paulista, na sexta-feira (3). Segundo os indígenas, a responsável pelo estabelecimento disse que foi orientada por uma fiscal da Prefeitura a não atendê-los devido a um decreto que limitava a circulação de pessoas do grupo de risco da Covid-19 na cidade. Um dos indígenas também disse ter ouvido que “todo mundo tem doença na aldeia” e, por isso, não poderia entrar. O caso já foi
denunciado ao Ministério Público do Estado (MPE), e à Procuradoria Geral da República (PGR) instaurou procedimento para apuração de possível crime de racismo. “Eu fui na sexta-feira pagar as continhas que estava devendo. Entrei na fila. Eu estava de máscara. E quando ia entrar eu coloquei [álcool em] gel nas mãos, mas a moça [atendente] veio para mim e falou que ‘diz que não é para atender os índios, que chegou um decreto’. Ela me mostrou um papel que estava nas paredes e disse que não podia mais atender os índios porque teve aqui dois casos de Co-
vid. E acho que foi por causa disso que ela não deixou mais. Acho que ela pensou que eu também tinha”, conta Marcelo Kupju Alvez, dizendo que ficou com vergonha da situação. Em outro supermercado, ouviu também sobre o decreto, mas conseguiu atendimento. Segundo o cacique da aldeia Anhetete, João Jetauy Miri Alvez, é a primeira vez que indígenas foram impedidos de comprar em estabelecimento da cidade. Desde o início da pandemia, apenas dois casos positivos de Covid-19 foram registrados na reserva. Ambos são funcionários da LAR Cooperativa Agroindustrial.
Isadora Stentzler
INTERVENÇÃO O promotor Pedro Pires Domingues Wanderley, do MPE, diz que foi solicitado ao prefeito Guilherme Pivatto Junior (PPL) que orientasse a associação comercial a atender os indígenas normalmente. Ele também entrou em contato com a Comissão Jurídica Guarani para dar suporte jurídico à aldeia em um pedido de indenização e para ajuizar ação pelo crime de racismo.
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Mostra de cinema gratuita exibe filme sobre mulheres feitos por diretoras Programação de curtas do Cine Passeio pode ser acessada pela internet Divulgação
Redação
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a sala Cine Vitória, do Cine Passeio, na qual filmes podem ser vistos gratuitamente pela internet, será exibida mostra de curtas chamada “Histórias de Mulheres”. Em parceria com a Associação de Vídeo e Cinema do Paraná, a seleção vai oferecer, a cada semana de julho, três curtas que compõem uma sessão temática. A primeira é ‘Histórias de Mulheres’, com curtas de temática feminina feitos por diretoras. Veja programação ao lado O tema “mulheres” vem bem a propósito, pois nesta semana que passou o Brasil perdeu uma de suas mais importantes cineastas, a diretora Suzana Amaral, que também está sendo homenageada com a programação de seu primeiro filme: ”A Hora da Estrela”.
Serviço A Mulher que Sou Nacional | 12 anos | Curta-metragem, Drama | 15min | Brasil | 2019 | Direção: Nathália Tereza.Sinopse: Marta quer se dar a chance de viver uma nova vida em uma nova cidade. Primavera de Fernanda Nacional | 12 anos | Curta-metragem, Ficção | 19min | Brasil | 2018 | Direção: Débora Zanatta, Estevan de la Fuente. Sinopse: Abre-se, na vida de Fernanda, uma possibilidade de reconstrução da sua própria imagem. E isso acontece a partir de uma oferta de emprego que reativa nela toda a relação de afeto que havia sido construída com sua mãe. Ninguém Lembrará Nacional | 12 anos | Curta-metragem, Ficção | 16min | Brasil | 2019 | Direção: Marja Calafange. Sinopse: Uma idosa, permeada pela sensação inexplicável da iminência de sua morte, abandona sua casa e família para se isolar numa floresta. Acesse os filmes pelo http://www.cinepasseio.org/ Gibran Mendes
DICAS MASTIGADAS
Bolinho de vegetais A cada semana, publicamos receitas com produtos agroecológicos da rede colaborativa Produtos da Terra, da Sinergia Alimentos Saudáveis e da Rede Mandala. Parte dos ingredientes pode ser encontrada no site produtosdaterrapr.com.br Ingredientes 1 xícara de polpa, talos, folhas e/ou cascas bem lavadas e picadas de qualquer vegetal. 5 colheres (sopa) de farinha de trigo. Reprodução 2 colheres (sopa) de água. ½ cebola orgânica picada. 2 ovos orgânicos. sal a gosto. óleo para fritar. Como fazer Bata bem o ovo e misture o restante dos ingredientes. Molde os bolinhos em uma colher e frite em óleo quente. Escorra bem em papel toalha. Sugestão de vegetais: couve, agrião, acelga, brócolis, couve-flor, cenoura, beterraba, nabo, rabanete ou chuchu.
Por Pedro Carrano
Roedores Como um animal abatido e sangrando sem qualquer palpitação, recebo o ar gelado e breve vento de serenidade em minha pele eriçada antes dos combates que devem se dar no dia seguinte. Mesmo parados, nunca sentimos o mundo tão em movimento, tão em degradação, no movimento rápido de uma casca de poncã se decompondo. Como se num observatório abandonado na sala de um colégio, telescópio em ponto fixo mirando um universo de movi-
mentos e constelações, conseguíssemos nos contentar sendo apenas a ponta seca de um compasso sem o traço correto. Qual a continuidade dessa linha, até onde crescerá este novo animal sem nome? Onde deve desaguar o rio caudaloso que está nos revirando o peito? Não deixaremos de postar interrogações, até o momento quando a volta de um mundo distraído nos permita sair às ruas como animais orgulhosos da manada, e não como pequenos roedores deixando a toca.