Brasil | p. 7
Terra distante
Artistas vendem imagens para ajudar pessoas vulneráveis do setor audiovisual
PARANÁ
Paulo Porto
Fotos da solidariedade
Cris Conceição
Cultura | p. 8
Tribunal mantém anulação de demarcação de áreas indígenas no Paraná
Ano 4
Edição 175
16 a 22 de julho de 2020
Ratinho “lava as mãos” Paraná bate recordes de contaminação e mortes na pandemia, mas governador cancela medidas de isolamento social Paraná | p. 5 Divulgação
distribuição gratuita
www.brasildefatopr.com.br Giorgia Prates
O IMPACTO NAS COMUNIDADES Estudos acadêmicos e relatos de lideranças mostram que, na ausência de urbanismo, falta de assistência social, informação e apoio do poder público, a Covid-19 se espalha nas periferias da capital, litoral e Região Metropolitana Comunidade | p. 4
Editorial | p. 2
Brasil ||p. Artigo p.62
Eleições municipais
Bancos comunitários
Explode pandemia em presídios
Esquerda precisa pautar um programa popular
Existem formas populares de financiamento e geração de renda
Em uma semana, número de policiais penais infectados passa de 49 para 77
Paraná | p. 6
Brasil de Fato PR 2 Opinião
A luta contra Bolsonaro e as eleições municipais EDITORIAL
A
s eleições municipais, neste ano de incerteza diante da pandemia de Covid-19, estão adiadas para novembro. Trata-se de um termômetro para verificar a influência do bolsonarismo no país. É fato que a esquerda, desde o golpe de Temer (2016), está sob efeito de ataque da mídia empresarial e em momento de recuo dos trabalhadores, verificado na redução do número de greves desde então. Para combater um governo federal neofascista, que busca consolidar sua base social, seria hora de formação de candidaturas unitárias, de acordo com a realidade de cada capital e cidade. Não se tratam de nomes, mas das ações necessárias para o momento. Por
SEMANA
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isso, fortalecer os espaços organizativos, o trabalho de base e a discussão de um programa popular é urgente. Além de reforçar essas ideias, as candidaturas da esquerda precisam também ouvir e dar voz às organizações populares que fazem as lutas atuais: as Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, os movimentos negro, feminista, de diversidade, entre outros. Para o Legislativo, é fato que, diante da precarização de serviços públicos, da ausência de moradia, da crise econômica, a esquerda pode, pouco a pouco, retomar o diálogo com os trabalhadores. A experiência de candidaturas jovens, forjadas na resistência, e de mandatos populares coletivos, pode ser um fator importante.
Bancos comunitários e desenvolvimento municipal
OPINIÃO
Venâncio de Oliveira,
Economista, militante em Londrina (PR), doutor em economia pela Universidade Autônoma do México (UNAM)
A
evolução da lógica do renda básica instiga a necessidade de discutir a gestão comunitária de orientação dos recursos produtivos, uma vez que ela se torna um subsídio com potencial de estímulo da economia popular local. Nesse sentido, está o interessante caso dos bancos comunitários, que deveria vir acompanhado dessa reflexão, se entender-
A linha comunitária e a política de distribuição de renda geram desenvolvimento
mos a renda básica como elaboração de uma política com impacto estrutural, e não apenas com efeito compensatório. Os bancos comunitários devem envolver na sua organização a comunidade, os bairros e os espaços de organização coletiva, ao mesmo tempo em que sua função é menos a satisfação e realização dos juros, das rendas financeiras e mais o desenvolvimento e geração de renda e oportunidade em toda a comunidade. Há experiências no Brasil e no mundo que buscam encampar diversas ofertas de microcrédito, concessão e cobrança dos empréstimos, baseados nas relações de vizinhança e confiança, com um controle mais social do que econômico, buscando incentivar o consumo local. Uma experiência interessante, que se vincula ainda mais com o debate de renda básica, é a parce-
ria com o poder público, e um dos casos é a Prefeitura de Maricá, no Rio de Janeiro. Ali, há uma parceria entre o Banco comunitário de Palmas e a Prefeitura na gestão de vários programas sociais, por meio da criação de uma moeda social, o Mumbuca. Assim, o programa de renda básica é gasto nos estabelecimentos comerciais da cidade, ao mesmo tempo em que o banco administra a relação com o comércio e a gestão dos fundos públicos. Essa linha comunitária da política municipal está permitindo a ampliação do escopo do banco no financiamento de programas sociais junto com a Prefeitura. Hoje, há até a possibilidade de ter linhas de crédito para construção de moradia. Dessa forma, a linha comunitária e política de distribuição de renda são geradoras de desenvolvimento.
EXPEDIENTE Brasil de Fato PR Desde fevereiro de 2016 O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 175 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Giorgia Prates e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Venâncio de Oliveira e Renato Almeida de Freitas ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com
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FRASE DA SEMANA
“No Brasil tem um George Floyd a cada 23 minutos”
Ratinho liberou geral No mesmo dia em que o Paraná bateu recordes de contaminação e de mortes confirmadas, o governador bolsonarista Ratinho Junior (PSD) resolveu “tocar o foda-se”¨com relação às medidas restritivas de isolamento social que fecharam comércio e serviços não essenciais. O Brasil registrou 1341 mortes, chegando a 74 mil óbitos. Foram confirmados mais de 43 mil novos casos e o país chegou a 1,9 milhões de contaminados. O Paraná entra para o destaque negativo, totalizando 57 mortes, sendo 20 apenas em Curitiba. Uma alta de 109%. Curitiba, aliás, foi a 5ª cidade brasileira com maior número de mortes provocadas por Covid-19, conforme o balanço divulgado pelo Ministério da Saúde. Com 23 mortes, a capital do Paraná ficou atrás apenas de São Paulo (105 óbitos), Rio de Janeiro (77), Brasília (30) e Campinas (26). Para se ter uma ideia da escalada dos números, em 1º de julho, quando o governo adotou a “quarentena restritiva”, eram 650 óbitos e 23.965 casos confirmados. Agora, encerrando o período previsto no decreto, são 1.129 mortes e 44.870 contaminados. Os números dobraram e Ratinho quer adotar o “liberou geral”. Segundo o Boletim In Loco, durante o período do decreto, o isolamento
Greves em 2019
Disse a militante social Preta Ferreira ao postar em seu Twitter a imagem de uma mulher negra que, já dominada, teve o pescoço pisado por um policial militar em São Paulo Marcelo Cruz
NOTAS BDF
Por Frédi Vasconcelos
Genocídio sim
Mais STF
O comando militar soltou nota de protesto e enviou reclamação à Procuradoria Geral da República para processar o ministro do STF Gilmar Mendes por declarações no sábado, 10, ligando as Forças Armadas ao genocídio que ocorre no País com a pandemia. O problema, parece, é que Gilmar tocou na ferida. O Brasil enfrenta a maior crise de saúde da história com um general que não entende nada de medicina no comando.
Avança outro processo que pode causar dores de cabeça ao governo Bolsonaro. O ministro Alexandre de Moraes, do STF, autorizou a Polícia Federal a acessar dados do Facebook sobre perfis nas redes sociais ligados ao PSL e a gabinetes da família Bolsonaro. Essa apuração resultou na remoção de uma série de contas.
O que disse Gilmar “Não podemos mais tolerar essa situação que se passa no Ministério da Saúde. Não é aceitável que se tenha esse vazio. Pode até se dizer: a estratégia é tirar o protagonismo do governo federal, é atribuir a responsabilidade a estados e municípios. Se for essa a intenção é preciso se fazer alguma coisa. Isso é péssimo para a imagem das Forças Armadas. É preciso dizer isso de maneira muito clara: o Exército está se associando a esse genocídio, não é razoável. É preciso pôr fim a isso”, em transcrição feita pelo site G1.
60 mil mortos nas costas Desde que o general Pazuello assumiu o Ministério da Saúde, há dois meses, os mortos por Covid-19 passaram de 14 mil para mais de 75 mil. A culpa não pode ser colocada nas costas do general, mas não ajuda em nada ter num ministério essencial uma pessoa sem formação médica. Num governo que não toma nenhuma medida efetiva contra a crise e parece mais interessado em culpar governadores e prefeitos que adotar ações de um governo central. E com um presidente infectado que parece mais interessado em fazer propaganda de remédio.
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Estudo do Dieese levantou o número de greves de 2019, na iniciativa privada e no serviço público e apontou que em todo o país ocorreram 1.118 greves, menos que as 1.453 lutas de 2018 com leve maioria no serviço público. A maioria das greves, 82%, teve caráter defensivo, contra a retirada de direitos, enquanto 33% tiveram desfecho no poder Judiciário.
Quarta Sindical A situação dos trabalhadores de frigoríficos no Paraná na pandemia foi o tema do programa Quarta Sindical no dia 15. Participaram o Dr. Roberto Ruiz, médico do trabalho, e o presidente da FTIA, Ernani Garcia Ferreira. Para o Dr. Ruiz, a “Covid-19 encontra nos frigoríficos um local propício para sua disseminação por duas principais características: uma é a infectividade do vírus, muito alta, e a quantidade de pessoas a e umidade do local.
Frigoríficos Para Ernani, o risco em frigoríficos é grande: “pois os trabalhadores ficam em turno com mais 300/400 pessoas e dependem de transporte público. Além do que “esse trabalhador tem uma tendência assintomática maior, pois as condições insalubres o levam a sempre tomar medicamento contra resfriados e gripes, aumentando o tempo para perceber os sintomas.” O Quarta Sindical é uma iniciativa da CUT-PR e do Brasil de Fato-PR e vai ao ar todas as quartas pelo Facebook.
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Lideranças e pesquisadora mostram relação entre aumento do contágio de Covid-19 e ausência de políticas públicas Ausência de regularização fundiária, falta de atuação dos órgãos públicos de urbanismo e assistência social estão entre os atuais problemas nas periferias Giorgia Prates e Pedro Carrano
A
Plataforma “Paraná contra a Covid-19” reúne estudos, notas técnicas e coletas de dados de um grupo interdisciplinar com profissionais da sociologia, assistência social, saúde, das universidades UFPR, UTFPR, IFPR, Ministério Público, pesquisadores, entre outros. Ao longo dos mais de cem dias de alastramento do vírus Covid-19, os estudos desse agrupamento identificam aumento da incidência da pandemia nas periferias de Curitiba e Região. Ao lado disso, também ocorrem mudanças das áreas de maior contágio, que já tiveram foco em bairros como Cajuru, em junho, e alcançam recentemente bairros como Sítio Cercado, Umbará, Tatuquara, chegando a 133 casos a cada 100 mil habitantes. “Também ali na plataforma há a informação dos dados de cartório, com os óbitos registrados nesses cartórios e os anunciados pela Secretaria Estadual de Saúde. E você vai ver que esses números nos cartórios são muito maiores”, aponta Simone Polli, professora em Planejamento e Governança Pública na UTFPR e integrante do grupo gestor da plataforma. Polli sugere relação direta entre disseminação do vírus, ausência de regu-
SOLIDARIEDADE Na plataforma temos também o Mapa da Solidariedade, que ajuda a identificar as ações de organizações nos bairros da capital. Para quem quiser fortalecer as campanhas, em meio à urgência de demandas, basta acessar o site: https://sites.google.com/ view/prcontracovid/ apresenta%C3%A7%C3%A3o
larização fundiária, falta de atuação dos órgãos públicos de urbanismo e assistência social. De acordo com o estudo, há o agravamento da doença na região sul da cidade, chegando a onze vezes mais que em outras regiões. Percepção do problema A cabeleireira e militante social, Andréia de Lima, liderança do bairro Parolin e Promotora Legal Popular, analisa como este cenário impacta os moradores da periferia. Andréia é crítica à ausência de informação e políticas públicas. Diante disso, na live Brasil de Fato Onze e Meia, dia 13, ela apontou a solidariedade popular e a retomada da empatia pelo próximo. Indica também a pressão de uma crise que é econômica, sanitária e social ao mesmo tempo. “A prioridade, neste momento, é alimentar os seus. Porque ninguém fica em paz com os seus passando fome. E o bom de quem mora nas periferias, na favela, é saber que se ba-
ter na casa da vizinha, sempre vai ter um arroz, um açúcar, para dar suporte emergencial. Mas a dificuldade é porque tem uma boa parte do bairro que trabalha com reciclagem e, com o comércio fechado, que é onde produz a maior parte do material, isso reduziu muito. E por mais que a gente mobilize projetos, nunca vai conseguir atender todos dentro da comunidade”, reflete. Neste cenário, Andréia de Lima reflete também sobre a pressão que recai sobre as mulheres trabalhadoras, o que aponta a necessidade de assistência nesta área da saúde mental. “E a preocupação das mães vem também porque estão diminuindo as doações, então como vou alimentar meu filho? Falo com muitas pessoas dentro do Parolin que a doença pode não acabar este ano, ir até o ano que vem, e há outras doenças que podem vir, e isso adoece a mente da comunidade, da população periférica que já tem milhares de demandas”, critica.
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Claudia Roberto: comunidade Figueiras sem apoio A área de ocupação Figueiras, localiza em Pontal do Paraná, apresenta problemas semelhantes aos apontados pela liderança do Parolin. O medo diante da pandemia que chega à comunidade, a falta de assistência social por parte do poder público e, no caso do litoral, apenas um hospital de referência na região. O litoral é a quarta região com maior incidência no estado. “O primeiro óbito que teve em Pontal foi aqui, hoje somos 146 casos em Pontal do Paraná, já com sete óbitos, nós não estamos sendo assistidos, só as famílias que já tinham cadastros do CRAS estão sendo assistidas, aquelas outras que trabalhavam de maneira intermitente, autônomos, hoje não são assistidos”, denuncia Claudia Antonio Roberto, uma das lideranças locais. Giorgia Prates
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Ratinho Jr. abre mão de isolamento social mesmo com recorde de mortes Decreto do governador deixa de valer e prefeituras terão de tomar medidas sozinhas Giorgia Prates
“A flexibilização das regras restritivas no Paraná é prematura”, diz especialista da Federal Ana Carolina Caldas
Frédi Vasconcelos
O
Paraná teve, da segunda (13) a quarta-feira (15), recorde de mortos e de confirmação de novos casos de coronavírus. Foram 153 mortes e 4.566 novos casos, segundo informações oficiais da Secretaria de Saúde do Estado. Em lugar de manter ou aumentar as medidas de restrição para evitar o contágio, o governador Ratinho Jr. resolver lavar as mãos e deixar tudo por conta dos municípios ao não prorrogar o decreto que havia editado há 14 dias, que fechava atividades não essenciais e endurecia medidas contra a circulação de pessoas. Em nota, o governo não explicou por que tomou a decisão, apenas afirmou que as medidas do decreto “...perdem efeito a partir desta terça-feira (14)...” Serão mantidas por mais alguns dias apenas da região do Litoral. Com sua ação, o governador, na prática, deixou o isolamento social a cargo dos prefeitos, que te-
rão de editar medidas em cada cidade. A Prefeitura de Curitiba já publicou em sua página na Internet que deverá adotar novas regras de circulação e restrição de pessoas nos próximos dias. A capital chegou na quarta (15) a 299 mortes e 11.390 casos confirmados. Com os números recordes batidos também nos últimos dias, o dado mais preocupante é que a lotação das UTIs para Covid-19 chegou a 91%, restando 28 leitos livres.
Ratinho parceiro de Bolsonaro O Brasil atingiu na quarta (15) quase 2 milhões de casos confirmados de infectados pelo coronavírus, com mais de 75 mil mortes. Mesmo com toda essa tragédia, o governo Bolsonaro abriu mão de qualquer política integrada com estados e municípios para combater a pandemia. Mesma atitude que é tomada agora pelo governador, deixando as ações de isolamento social nas costas dos prefeitos. Giorgia Prates
Em entrevista ao Brasil de Fato Paraná, o coordenador da Comissão de Enfrentamento e Combate à Covid-19 da Universidade Federal do Paraná, professor Emanuel Tempi, diz que a flexibilização neste momento poderá trazer expansão dos casos de infecção por coronavírus no Estado. Brasil de Fato – Como o Paraná está no que se refere à curva de contágio do coronavírus neste momento? Emanuel Tempi – Na minha visão, não houve uma redução da aceleração da Covid-19 no Paraná. Ainda não obtive as últimas previsões, mas a doença ainda se encontra crescendo exponencialmente. Mesmo que não ocorra expansão exponencial, não há sinais de regressão. O governador Ratinho Jr. resolveu não renovar a quarentena restritiva. Como o senhor vê essa decisão? Cerca de 15 dias atrás tínhamos uma clara expansão exponencial da doença, que justificava plenamente a restrição de atividades, provavelmente já muito tarde. O aumento do distanciamento social levou à redução da aceleração. Mas
até o dia 8/7 modelos matemáticos implementados por professores da UFPR mostravam ainda expansão exponencial, embora menor. As medidas foram então acertadas. Em minha opinião, olhando do lado epidemiológico, o afrouxamento agora é prematuro. Será bem possível que na semana que vem já vejamos uma aceleração da expansão porque há grande número de pessoas contaminadas e espalhando a doença. Qual seria um cenário ideal para a flexibilização? Para reiniciar as atividades de forma segura é necessário bloquear a expansão exponencial consistentemente com pelo menos 2 ou 3 semanas com regressão, um número maior de pacientes saindo do hospital do que entrando, número de leitos de UTI e hospitalares disponíveis com ocupação máxima de 70% e testar a população pelo teste molecular exaustivamente para identificar oligossintomáticos e assintomáticos, colocá-los em quarentena e bloquear o contágio. Na situação atual, temos de implementar medidas de distanciamento social. É a única medida (não farmacológica) para conter a Covid-19.
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Aumenta número de contaminados em presídios no Paraná Sindicato realiza monitoramento em tempo real e pede medidas urgentes do governo estadual Ana Carolina Caldas
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m uma semana, o número de policiais penais (antigos agentes penitenciários) contaminados com o coronavírus no Paraná passou de 49 para 77. Ainda sem testagem em massa, o número vem preocupando os servidores que temem a disseminação da doença, já que o governo do Paraná não tem política que garanta a saúde dos trabalhadores. Esses números foram divulgados pelo Mapa de Monitoramento e Prevenção ao coronavírus nas unidades penais do Paraná criado pelo Sindicato dos Policiais Penais do Paraná (Sindarspen), lançado em 8 de julho. Na primeira sondagem, foram contabilizados 236 presos confirmados com Covid-19. Em uma semana, o PUBLICIDADE
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número aumentou para 247. Já entre os servidores, na primeira sondagem eram 49 e, na quarta (15), o número passou para 77 confirmados. Afastados em Piraquara No último fim de semana, 15 servidores de uma mesma equipe da Penitenciária Estadual de Piraquara foram afastados por exame positivo para a doença. Além disso, dois presos também foram confirmados e outros seis apresentaram sintomas. “Estamos próximos de presenciar uma tragédia humanitária”, afirma o presidente do Sindicato dos Policiais Penais do Paraná, Ricardo de Carvalho Miranda. Segundo ele, as atuais condições da penitenciária, que abriga em média nove presos em cada cela, impossibilita o isolamento so-
cial e facilita a propagação da doença. “Ficam nove presos em cada cubículo, numa galeria com 10 cubículos, num total de 90 presos na galeria”, explica. Na terça-feira, 14, mais de 30 servidores estavam com a suspeita da doença e 15 agentes penitenciários foram afastados por receber a confirmação do coronavírus. “A escala de trabalho foi feita no sábado, com 13 servidores, mas hoje de manhã dois não compareceram após apresentarem sintomas na folga do plantão”, explica Miranda. Com equipes de trabalho reduzidas, o sindicato fez apelo ao governo do estado para a contratação emergencial de novos servidores, testagem em massa, além de outras medidas para conter a disseminação da doença nos presídios.
A cada semana dobra quantidade de moradores em situação de rua que necessitam de alimentação Entidades necessitam de doações para combater a fome nas ruas de Curitiba Giorgia Prates Em um momento marcado por incertezas e dificuldades, a pandemia tem exposto grande parte da população a situações de vulnerabilidade. Para as pessoas que vivem em situação de rua, a situação é ainda mais grave. Desde o início da pandemia alguns grupos de voluntários levam comidas e itens de higiene para quem está nessa situação, mas a demanda está cada vez maior. Muitos dos que estão somando nessas ações são pessoas que já estiveram em situação de rua e entendem bem dos sentimentos das pessoas que hoje não têm condições de se esconder das enormes possibilidades de contágio pelo Covid-19 e muito menos da fome. O Movimento Nacional de Popula-
ção de Rua (MNPR), com apoio do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios (Sintcom-PR) e voluntários, prepara 350 marmitas diariamente, porém esse número não é suficiente para auxiliar toda a população em situação de rua, seja embaixo de viadutos ou nas praças do centro da cidade. O diretor de comunicação do Sintcom-PR, Antonio Orlando (Kiko), relata a situação. “Quando começamos a ajudar na distribuição de marmitas, eram praticamente os mesmos rostos, todos os dias. De repente, vimos a fila dobrar a cada semana, com mulheres, crianças e idosos. A gente enxerga neles a cara da fome e isso é estarrecedor”, afirmou. Para continuar com o trabalho durante a pandemia, os voluntários estão precisando de novas doações.
COMO AJUDAR Há a necessidade de doação de arroz, feijão, óleo, gás, embalagens descartáveis (vasilhames com tampa para marmita e colheres plásticas), proteínas (carnes e ovos) e copos de água mineral. As doações podem ser entregues na sede do Sintcom-PR, em Curitiba. Rua Engenheiro Rebouças, 1.595, Rebouças. De segunda a sexta-feira, das 8h às 17h.
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“O governo atual se declarou inimigo dos povos indígenas”, diz cacique Tribunal mantém portaria da Funai que anulou processo de demarcação de terras no Paraná Lia Bianchini
O
Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) decidiu manter a anulação do processo de demarcação da Terra Indígena (TI) Tekoha Guasu Guavirá, localizada nos municípios paranaenses de Guaíra, Altônia e Terra Roxa. Em março, o presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Marcelo Augusto Xavier da Silva, editou portaria declarando a nulidade do processo de demarcação da TI do Oeste paranaense. Em resposta, o Ministério Público Federal (MPF) ajuizou reclamação pedindo a suspensão da portaria da Funai. O julgamento da reclamação aconteceu no último dia 9, com decisão contrária ao MPF.
“Voltamos à estaca zero”, afirma Ilson Soares, cacique da aldeia Tekoha Yhovy, que é uma das 14 que compõem a TI Guasu Guavirá. O processo de demarcação, agora, segue em disputas judiciais. Segundo informações do Conselho Indigenista Mis-
RISCOS MORTAIS Além das violências e do preconceito, os indígenas Guarani da Guasu Guavirá estão à mercê da própria sorte para se proteger do novo coronavírus. O médico que atendia às aldeias pediu antecipação de férias há cerca de duas semanas e não foi substituído. Como medida protetiva autogestionária, os indígenas estão com as porteiras da aldeias fechadas, impedindo a entrada de pessoas de fora e evitando sair das aldeias. “A gente tem o risco de ser contaminado, só que a gente tem outro risco mais mortal que é esse preconceito vindo da chamada sociedade civilizada. Antes de morrer pela Covid-19, a gente corre o risco de ser assassinado”, diz o cacique Ilson. Para sobreviver e manter a esperança apesar de todos os ataques e ameaças, o cacique conta que a saída tem sido manter a fé no poder ancestral de seu povo. “As margens do Rio Paraná eram todas habitadas por Guarani. O que a gente faz é continuar na aldeia, fazendo a reza, cantando e dançando pra Nhanderú”, afirma.
sionário - regional Sul (Cimi-Sul), há a possibilidade de entrar com mandado de segurança no Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1), em Brasília, contra a decisão do TRF4 e da Funai. Para o cacique Ilson, apesar de existir esperan-
ça na retomada do processo de demarcação, a realidade tem mostrado que os direitos indígenas estão sendo “cada vez mais restringidos”. “O governo atual se declarou inimigo dos povos indígenas e isso tem se refletido nas decisões judiPaulo Porto
ciais. Devido às forças políticas, a gente tem menos força na Justiça. Não tem uma justiça que funcione de fato sem estar baseada na política. A gente sabe que o presidente atual se elegeu no discurso de não demarcar nem um centímetro de terra indígena”, diz. Segundo o cacique, o discurso se transforma também em ódio aos indígenas do local. Nos últimos meses, aldeias da Guasu Guavirá têm sofrido atentados. Só na Tekoha Yhovy foram três ataques com tiros de arma de fogo em menos de um mês. “Com a anulação [do processo de demarcação], já teve comentário em redes sociais dizendo ‘agora a gente pode tirar esses vagabundos daí’”, conta cacique Ilson.
Câmara adia projeto de auxílio a agricultores PL 735 prevê medidas emergenciais para trabalhadores rurais durante pandemia Cristiane Sampaio, de Brasília
O
intenso jogo político em torno da liberação de verbas durante a pandemia gerou um novo adiamento da votação do Projeto de Lei (PL) 735/2020, que prevê medidas de auxílio a agricultores familiares. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), anunciou, na noite desta terça-feira (14), o adiamento da
apreciação da pauta para a próxima semana. “A pedido do governo”, informou, sem dar detalhes. Horas antes, o deputado Nilto Tatto (PT-SP) havia feito um apelo para que o plenário apreciasse o texto, após os seguidos adiamentos. A proposta é o carro-chefe de um grupo de 26 PLs que pedem iniciativas voltadas a trabalhadores rurais. Entre eles, está, por exemplo, o PL 886/2020, da bancada do PT
na Casa, que foi produzido a partir de demandas apontadas por movimentos populares do campo. O texto que está em discussão na Câmara é o parecer do relator do PL 735, deputado Zé Silva (Solidariedade-MG), cuja votação vem sendo adiada há pelo menos três semanas. A proposta prevê medidas como a renegociação de dívidas rurais e a concessão de crédito para incentivar a produção no campo.
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Paraná, 16 a 22 de julho de 2020 Lua Voigt
Gibran Mendes
Por Renato Almeida de Freitas
Seguindo o script
Artistas da fotografia vendem imagens para ajudar profissionais em vulnerabilidade Galeria virtual pode ser acessada para a compra de impressões de alta qualidade Redação Em meio à pandemia de coronavírus e com impacto da crise sobre o setor audiovisual, diretores e diretoras de fotografia uniram-se para lançar a ONG Plano Sequência e ajudar profissionais desse mercado em situação de vulnerabilidade. A entidade organizou uma galeria virtual de fotografias para a venda de impressões em alta qualidade. Cada artista colabora doando três fotografias. O valor captado será 100% doado para programas de ajuda aos profissionais do audiovisual. Segundo Azul Serra, diretor de fotografia
e um dos fundadores da ONG, a ideia é, também, a partir da galeria, mostrar o audiovisual que se deseja para o Brasil. “Já tivemos uma primeira edição e conseguimos arrecadar 240 mil reais. Nessa segunda, estamos conseguindo trazer uma pluralidade nos trabalhos expostos para venda. Temos mais mulheres, artistas negros e negras, indígenas etc. Assim, podemos mostrar o que queremos como audiovisual para um país cada vez mais diverso e igualitário.” A integrante da redação do Brasil de Fato Paraná, fotojornalista curitibana e que faz parte do conselho de curadoria da galeria virtual, Gior-
gia Prates, destaca que por meio da galeria é possível também repensar construções imagéticas. “Pensar que o olhar do colonizador está instaurado e anda de mãos dadas com o racismo estrutural para poder recriar a arte para além do capitalismo.” Na galeria, é possível encontrar trabalhos de diretores como Andrucha Waddington, Bob Wolfenson, Daniela Thomas e Walter Salles. Para acessar a galeria https:// planosequencia. ong.br/collections/ galeria-dois
Eu na loja, comprando umas paradinhas para instalar o chuveiro: - Dae, beleza? Tem veda rosca? - Sim, claro. Quer que eu coloque na conta da dona Laura ou vai pagar agora? Eu, sem entender muito bem a pergunta: - Vou pagar agora mesmo. Tem “T”? - Tem sim, cinco reais, mas serve para as novas tomadas também. - Que bom, exatamente isso que procuro. - Faz tempo que você trabalha no ramo? - Que ramo? - Instalar chuveiros, essas coisas. Trabalha sozinho ou com seu pai?
- Trabalho com meu tio. Disse eu, me rendendo ao script do vendedor. - Mas tem que estudar piá, você já terminou o fundamental pelo menos? - Ainda não, mas pretendo terminar esse ano ainda. - Esse trabalho de serviços gerais dá dinheiro, mas não tem aposentadoria. Catorze reais, quer mais alguma coisa? - Não, só isso. - Onde é o apartamento que você vai instalar? - Na Rua 24 de Maio. - Compre sempre com a gente, temos um desconto pra quem trabalha na área, podemos até fazer umas notas com o valor acima da compra pra você tirar o seu também, fica bom pra todo mundo. - Beleza, vou comprar aqui sim, certeza. Até!
DICAS MASTIGADAS
Suflê de chuchu
Ingredientes A cada semana, publicamos receitas com produtos agroecológicos da rede colaborativa Produtos da Terra, da Sinergia Alimentos Saudáveis e da Rede Mandala. Parte dos ingredientes pode ser encontrada no site Reprodução produtosdaterrapr.com.br Ingredientes 4 chuchus orgânicos com casca (cozidos e picados). ½ xícara de leite. ½ colher de sopa de margarina. ½ colher de sopa de farinha de trigo. 2 colheres de sopa de queijo ralado. 2 ovos orgânicos. sal a gosto. Como preparar Misture o leite e a farinha muito bem e junte as gemas, o queijo e a margarina. Continue mexendo até obter um creme. Acrescente o chuchu e misture. Bata as claras em neve e acrescente à mistura, mexendo levemente, de baixo para cima, até incorporar. Unte uma forma com margarina e farinha e leve ao forno médio por 10 minutos.