Demissões em massa
Cultura | p. 8
Divulgação
Paraná | p. 7
Identidade negra
Centenas de professores e metalúrgicos vão para a rua
Para Eliana Brasil, arte pode ser instrumento para a reconstrução da identidade
Arquivo Pessoal
PARANÁ
Ano 4
Edição 176
23 a 29 de julho de 2020
distribuição gratuita
Curitiba, mais de 400 mortes Prefeito abre a maioria das atividades na cidade, mesmo com recordes de infectados e óbitos Brasil | p. 5
www.brasildefatopr.com.br
Solidariedade faz a diferença Mil marmitas foram distribuídas a moradores em situação de rua e comunidades periféricas Cidades | p. 4 Giorgia Prates
Giorgia Prates
Editorial | p. 2
Brasil | |p.p.63 Coluna
Opinião | p. 2
Solidariedade e organização
Pensão alimentícia na pandemia
Julho das Pretas
Campanha constrói redes comunitárias
Como fica pagamento e o que tem de ser garantido
Como a pandemia atinge a saúde da mulher negra
Brasil de Fato PR 2 Opinião
Paraná, 23 a 29 de julho de 2020
Brasil de Fato PR
A solidariedade OPINIÃO Julho das Pretas e a organização 2020: a mulher negra e popular o impacto da Covid-19 EDITORIAL
A
tágio. E é neste momento que as s medidas para amenizar a criorganizações que compõem e atuse do coronavírus, como auxíam na Campanha Periferia Viva lio emergencial e programa comicomprovam, na prática, que a soda boa, não chegaram a todos que lidariedade constitui uma saída de precisam. Não ter um smartfone ou organização popular. uma rede de internet, É com as comunimuitas vezes, pode ser É com as dades que se consolidefinitivo para conseda o trabalho de disguir ou não os bene- comunidades tribuição de alimentos fícios. Por isso, mui- que se consolida para quem precisa, de tas pessoas ficaram de o trabalho de melhorias estruturais fora. O prazo de inspara dar continuidacrição acabou em 2 distribuição de de a ações que já exisde julho e ainda tem alimentos para tem, como hortas ou gente que vai comejantas comunitárias, çar a receber a primei- quem precisa é por onde construra parcela. Enquanto ímos redes de consisso, as pessoas batacientização e prevenção ao coronalham todos os dias para garantir o vírus. Cada comunidade organizada teto onde moram e comida na mesa demonstra na prática o exemplo da em muitas periferias. força popular. Como dizem por lá, Chegamos a mais de 80 mil mor“se o governo não faz nada, é nós tes por Covid-19 e não temos, ainpor nós por aqui.” da, previsão da diminuição do con-
SEMANA
Alaerte Leandro Martins,
Integrante da Rede de Mulheres Negras, enfermeira, especialista em obstetrícia, doutora em saúde pública pela USP, fundadora da Associação Pelourinho da Lapa
56
% da população brasileira é negra, aproximadamente o mesmo percentual entre as mulheres. Então neste contexto de pandemia de Covid-19 e Julho da Pretas, se faz necessário falar sobre a Saúde das Mulheres Negras. O estado brasileiro ainda não assumiu de fato o combate ao racismo estrutural, apesar de muitos avanços, inclusive com o advento das cotas raciais, Estatuto da Igualdade Racial e, na área de Saúde, a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da População Negra. Entretanto, estamos enfrentando muitos retrocessos e desafios para que a Saúde das Mulheres Negras seja atendida em excelência, para citar alguns exemplos: - Não temos sequer Ministro da Saúde; - Exoneração da equipe da Área Técnica de Saúde da Mulher, após reiteração da Norma Técnica de Atenção ao Abortamento; leia-se que as mulheres negras são as que
mais sofrem morbidade e mortalidade por abortamento; - Estudo recente evidencia que 70% das mortes maternas ocorridas durante a pandemia são de brasileiras, em comparativo mundial; várias denúncias são apontadas em todos os estados sobre antecipação de partos, dificuldade de vaga em UTI quando necessárias e presença de acompanhante; - Há um agravamento da violação dos direitos das mulheres, da violência doméstica; segundo Atlas da Violência de 2019, 65% dos feminicídios ocorrem em negras e atualmente só aumentou; - Dentre os profissionais na linha de frente do combate à pandemia, majoritariamente mulheres e entre estas a maioria da enfermagem, que segundo estudos apresenta elevado percentual de negras. São muitos pontos a analisar, para além das especificidades de gênero, raça/cor e classe, como as condições de vida de cada uma das mulheres, como, por exemplo, as que estão privadas de liberdade, as que já se encontram na informalidade e perderam recursos com a pandemia... Precisamos lutar para garantir a saúde de todas essas mulheres.
Para ficar por dentro A Rede de Mulheres Negras do Paraná está na programação do Julho das Pretas - PR 2020 com a atividade Roda de Conversa sobre Saúde da Mulher Negra, que será realizada no dia 25 de julho de 2020, das 14h às 17h, por meio da plataforma Skype. Confira a programação completa do Julho das Pretas - PR 2020 no https://rmnpr.org.br/artigo/chegou-o-julho-das-pretas-pr-2020
EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 176 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.
Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Alaerte Leandro Martins, Eloisa Dias e Venâncio de Oliveira ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com
Brasil de Fato PR
Brasil de Fato PR
Paraná, 23 a 29 de julho de 2020
Geral | 3
QUE DIREITO
FRASE DA SEMANA
“Militares foram longe demais no governo Bolsonaro”
Greca libera quase tudo Não olhem a cor da bandeira em Curitiba. Ela é o que menos importa. A Prefeitura de Curitiba decidiu ignorar os números da Covid-19 e os protocolos de saúde e as recomendações médicas e editou o Decreto 940, que adota praticamente o liberou geral. Por coincidência, ou não, a transparência foi sacrificada pela gestão municipal desde o domingo. O site com números de leitos disponíveis por hospitais e regiões estava dando erro. Para reabrir quase tudo, “escritórios em geral, salões de beleza, barbearias, atividades de estética, academias de ginástica, serviços de banho e tosa de animais”, a secretária municipal de Saúde, Márcia Huculak, agora diz que “buscamos o equilíbrio, para que a cidade possa seguir funcionando, com todos os cuidados com a saúde da população e com o controle do vírus”. Nas redes sociais, o prefeito bolsonarista Rafael Greca (DEM) agradeceu brindes com 6,8 mil kits de higiene pessoal que recebeu de empresários em vez de comentar a situação caótica do município. Quando adotou a cor laranja, Curitiba tinha 1.777 casos confirmados e 78 óbitos, em 13 de junho. Nessa época, shoppings, academias e comércios não essenciais não poderiam abrir. Agora, 39 dias depois, na mesma cor laranja, são 15 mil casos oficialmente confirmados e 404 mortes.
É ESSE?
Diz o ex-chanceler e ex-ministro da Defesa Celso Amorim. Em entrevista à “Carta Capital” ele diz ainda que a organização se deixou atrair pelo bolsonarismo – que não é propriamente sua ideologia – e hoje amarga uma fase de “desmoralização” com os desdobramentos políticos do atual governo e a grande participação de militares nas pastas governamentais.
Divulgação
NOTAS BDF
Por Frédi Vasconcelos
Vitória da educação
Apoio à Bolsa Família
Foi aprovada na Câmara dos Deputados, na terça (21), a continuidade do Fundeb, Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação. O fundo é essencial para o financiamento do setor educacional público, principalmente em estados e cidades mais pobres, e corria o risco de acabar no final deste ano se a emenda constitucional não fosse votada.
O tal de Renda Brasil é um projeto de Bolsonaro e de seu ministro da Economia, Paulo Guedes, para substituir o Bolsa Família, uma das políticas sociais de maior sucesso no Brasil e aprovada pela maioria da população. Pesquisa da “Revista Fórum”, publicada nesta semana, mostra que 80% da população quer a continuidade do programa, e apenas 20% quer o fim do programa. O Bolsa Família foi criado no governo Lula e é responsável por milhares de pessoas pararem de passar fome no País.
Derrota de Bolsonaro Na votação, o Congresso passou por cima da base bolsonarista, que tentou obstruir a votação, adiar o fundo para 2022, evitar a ampliação das verbas nos próximos anos, passar parte do dinheiro para financiar um “voucher-creche” no programa Renda Brasil, que pretende criar, entre outras manobras. Ao final, Bolsonaro e seus aliados foram derrotados em todas as votações. Em agosto, a emenda deve ser analisada no Senado. Após a derrota, o governo tentou mudar a narrativa e vender como uma vitória sua a aprovação do Fundeb.
Contra a privatização A mesma pesquisa, realizada no campo entre os dias 14 e 17 de julho, mostra que a maior parte da população é contrária à privatização de empresas brasileiras, como a Caixa Econômica Federal, o Banco do Brasil e a Petrobras. Na Caixa, 60,6% são contra. No Banco do Brasil, a rejeição à venda é de 57,8%. Na Petrobras, mesmo com toda a campanha negativa que sofreu nos últimos anos, a rejeição à privatização é de 57%.
Eloisa Dias
Como fica a pensão alimentícia na pandemia? É inegável que a pandemia do coronavírus afetou a renda de muitas famílias brasileiras. Infelizmente, inúmeras pessoas perderam seus empregos ou viram seus negócios fecharem. Esse contexto de incertezas gera dúvidas e, uma delas, é sobre como fica o pagamento de pensão alimentícia. Primeiro, é importante esclarecer que não há na lei uma previsão específica sobre essa questão. Contudo, uma coisa é certa: o dever de pagar alimentos se mantém e, se não cumprido, podem ser adotadas as medidas judiciais cabíveis, como a execução e até a prisão civil em caso de não pagamento há mais de três meses. Assim, a pessoa que tem o dever de pagar alimentos (pai, mãe, ex-marido, filho/a) não pode simplesmente parar de pagar ou diminuir o valor. Caso não tenha mais as mesmas condições financeiras, a pessoa deve pedir ao juiz uma revisão do valor da pensão. Para definir o valor, será levado em conta não só a alteração de sua renda, mas também as necessidades da pessoa que recebe a pensão, que não necessariamente se modificaram. Assim, se você recebe ou paga alimentos, saiba que a pandemia não garante uma redução automática da pensão. Eloisa Dias Integrante da Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares
Brasil de Fato PR 4 Cidades
Brasil de Fato PR
Paraná, 23 a 29 de julho de 2020
Edivaldo Luiz Leite | APP-Sindicato
Agricultores familiares e da reforma agrária distribuem mil marmitas em Curitiba Alimentos foram doados a moradores em situação de rua e de comunidades periféricas
Giorgia Prates
MST doa 10 toneladas de alimentos a 500 famílias de Cornélio Procópio Redação
“É Redação
C
erca de mil marmitas de alimentos da reforma agrária e agricultura familiar foram distribuídas gratuitamente na quarta (22) a moradores de comunidades periféricas e população em situação de rua de Curitiba. A ação marca o Dia Internacional da Agricultora e do Agricultor Familiar, comemorado em 25 de julho, e é fruto de doações de alimentos vindas de diversas regiões do Estado. A maior parte dos ingredientes da marmita tem origem orgânica. Do arroz até a carne, todo o cardápio veio das lavouras, Giorgia Prates
hortas, pomares e cooperativas da agricultura familiar e da reforma agrária do Paraná. Junto de cada uma das marmitas foram entregues frascos com composto de mel com açafrão, produzidos no assentamento Contestado pelo Setor de Saúde do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), para melhorar a imunidade; além de máscaras doadas pela Campanha 1 Milhão de 1 Real, frascos de álcool em gel doados pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e pelo mandato do deputado estadual Goura; além de copos de água da Sanepar para atender especialmente à demanda das pessoas em situação de rua por água potável. “Essa ação busca demarcar a produção diversa e saudável dos acampamento e assentamentos e da agricultura familiar do Paraná e tem o intuito de ajudar as famílias que estão na cidade neste momento da pandemia no combate à fome”, explica Adriana Oliveira, integrante do MST e da coordenação da ação de produção das marmitas em Curitiba. A produção das refeições ocorre toda semana por iniciativa do MST e organizações parceiras, com o nome Marmitas da Terra. Desde maio, já foram produzidas e disponibilizadas cerca de 7.800 refeições.
muito amor, muita humanidade da parte deles repartirem o que eles têm com a gente”. As palavras foram da Isabel, moradora do Jardim Progresso, periferia de Cornélio Procópio (PR). Ela recebeu uma das 500 cestas de alimentos partilhados por agricultores e agricultoras do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), no sábado (18). As 10 toneladas de alimentos vieram das roças, hortas e pomares de 22 assentamentos e acampamentos do MST, de 7 municípios do norte pioneiro paranaense. A ação integra a campanha nacional do Movimento em solidariedade a quem enfrenta a angústia da fome neste período de pandemia do coronavírus. No Paraná, as doações chegaram a 258 toneladas de alimentos partilhados. “Essa pandemia vem provocando desemprego, fome, e acreditamos que só
a reforma agrária, com políticas públicas para a pequena agricultura, para a agricultura familiar, pode nos fazer sair da crise. Nosso lado é o da solidariedade, o combate à fome e à desigualdade social”, disse Vilmar Ferreira, integrante da coordenação do MST e morador do assentamento Companheiro Keno, de Jacarezinho. Arroz, feijão, mandioca, abóbora, abacate, limão, maracujá, mamão, banana, tomate, farinha de mandioca e hortaliças. Direto das famílias produtoras da reforma agrária para a cidade, nos lares de quem mais precisa. As famílias sem terra também arrecadaram produtos industrializados, que complementaram as doações. As cestas, com cerca de 20 quilos cada, foram entregues no Jardim Progresso, na Vila Nova, na Vila Nossa Senhora Aparecida e na Vila Santa Terezinha. A Casa da Criança e o Abrigo Bom Pastor também receberam os alimentos.
Brasil de Fato PR
Brasil de Fato PR
Paraná, 23 a 29 de julho de 2020
Brasil | 5
Curitiba chega a 404 mortos e 15 mil infectados, mas Greca “abre a cidade”
Giorgia Prates
Em um mês foram cerca de 300 mortos a mais, com mais de 500 casos novos por dia Redação
N
a quarta, 22 de julho, Curitiba chegou a 404 mortos, com mais de 15 mil infectados e com cerca de 90% dos leitos de UTI para a Covid-19 ocupados. Apesar disso, na terça, 21, o prefeito editou decreto, permitindo a abertura, com restrições de horários, de atividades como comércio de rua não essencial, shopping centers, restaurantes, feiras livres, salões de beleza, atividades de estética, academias de ginástica, serviços de banho e tosa de animais etc. Nas palavras de sua secretária de Saúde, Márcia
Huçulak, “buscamos o equilíbrio, para que a cidade possa seguir funcionando, com todos os cuidados com a saúde da população e com o controle do vírus”, afirma em texto no site da Prefeitura. Postura bem diferente da declaração do prefeito, um mês antes, quando em junho decretou luto na cidade e medidas mais restritivas. À época Greca chegou a dizer: “É hora de orarmos e chorarmos os nossos mortos... Joelhos dobrados, que possamos todos orar com fé. Precisamos de força e sabedoria para enfrentar um dos momentos mais graves da nossa história.” À épo-
ca Curitiba tinha 114 óbitos. Trinta dias depois, com recorde de mortos e de contaminados, a postura mudou e o prefeito resolveu “abrir a cidade”. Olhando para a eleição Segundo o deputado esta-
dual Tadeu Veneri, em sua página na Internet, o que explica a mudança de postura do prefeito são os olhos na eleição que ocorre no final deste ano. “Esse jeito de fazer as coisas pensando apenas na próxima eleição é uma tra-
gédia para a nossa cidade e região metropolitana... O que o prefeito está esperando que aconteça? Um milagre? Basta dizer para as pessoas tomarem cuidado? E a responsabilidade dele como gestor público?”, questiona Veneri.
ENTREVISTA
“Não são os empresários que devem ditar medidas de flexibilização”, diz líder do movimento Ana Carolina Caldas “Fechados pela vida” é um movimento criado por donos de bares e restaurantes de Curitiba que defendem o fechamento de estabelecimentos comerciais enquanto os dados da saúde não mostrarem que o cenário é propício para a reabertura. Para que possam se manter fechados, operando apenas no sistema “delivery”, pedem socorro econômico do poder público e um planejamento mais claro para o combate à pandemia. Em entrevista ao Brasil de Fato Paraná, Janaina Santos, empresária do ramo da gastronomia e uma das líderes do movimento, explica as principais reivindicações feitas aos governos estadual e municipal.
Brasil de Fato – Como e por que vocês formaram este movimento? Janaína Santos – É porque a gente não se via representado pelas falas de alguns grandes empresários paranaenses e até mesmo de entidades que representam a nossa categoria. Pois eles estavam lá, em abril, brigando para abrir. E, do nosso lado, víamos que não existiam dados de órgãos da saúde que balizassem esse pedido. Tínhamos um pensamento em comum: que não era hora de flexibilizar e defendíamos manter a quarentena. Mas também precisávamos de recursos para conseguir nos mantermos fechados. Nossa existência é também para cobrar dos governos uma política de apoio aos empresários que desejam contribuir com o distanciamento social, mas que precisam sobreviver.
Não somos nós, empresários, que temos que ditar medidas de flexibilização. Isso deve ser feito por especialistas da Saúde. BDF - Quais são as principais reivindicações do movimento? Nossa pauta é ampla. Vai desde exigir que o poder público cumpra os seis critérios para permitir a flexibilização determinados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a nosso pedido de socorro econômico para que possamos continuar contribuindo com o distanciamento social. Tentamos de várias maneiras diálogo com os governos estadual e municipal. Porém, aqueles que defendem e pressionam pela reabertura foram atendidos e, nós, não. Importante destacar que também enviamos ofício para o Ministério Público pedindo que a Pre-
feitura de Curitiba mostrasse dados técnicos que embasassem a reabertura e pedido de fiscalização. Nossa última ação foi um abaixo-assinado que conseguiu 15 mil assinaturas em apoio às nossas pautas. Arquivo Pessoal
Brasil de Fato PR 6 Serviços
Brasil de Fato PR
Paraná, 23 a 29 de julho de 2020
Edital de Convocação - Assembleia Geral Ordinária e Extraordinária A Cooperativa dos Produtores Familiares do Vale- PROVALE, CNPJ 26.163.104/0001-00, NIRE 41400222578, na sede social, Rua Gaivotas, 115, Jardim Albarana, Rio Branco do Sul-PR.na forma de seu Estatuto Social, convoca a todos os cooperados em situação regular junto a Cooperativa até a presente data, para fazerem-se presentes à Assembleia Geral Ordinária e Extraordinária digital através do link ZOOM https://us02web.zoom.
us/j/84996499109 ID da reunião: 84996499109, que se realizará no dia 07 de agosto de 2020. Primeira convocação: as 07h30min, com a presença de 2/3 (dois terços) dos cooperados em condições de votar; b) Segunda convocação: as 08h30min, com a presença de metade mais um (50% + 1) dos cooperados em condições de votar; c) Terceira e última Convocação: as 09h30min, com a presença de no mínimo de 10 (dez) cooperados em condições de votar;
Ordem do Dia; Assembleia Ordinária 1- Apresentação dos novos cooperados e comunicação dos que saíram; 2- Apresentação, discussão e aprovação do Relatório da Diretoria, referente à Prestação de Contas do Exercício Social encerrado em 31 de dezembro de 2019: incluindo: Relatório da gestão; - Balanço das atividades; - Balanço Geral; - Demonstrativo das sobras e ou perdas. - Parecer do conselho fiscal; - Deliberação sobra as sobras ou perdas PUBLICIDADE
Nota de repúdio ao fim da quarentena restritiva no Paraná As Centrais Sindicais do Estado do Paraná, que juntas representam milhões de trabalhadoras e trabalhadores paranaenses, vêm a público manifestar sua indignação e repúdio à decisão do governador Carlos Ratinho Massa, de retirar o decreto de quarentena restritiva em diversas regiões do estado. O governador toma essa decisão exatamente no momento em que os próprios dados oficiais apontam para um aumento considerável de mortes decorrentes do Coronavirus. No dia em que foi tomada tal decisão, 1.181 paranaenses já haviam perdido suas vidas e mais de 47 mil estavam infectados. Analisando os gráficos da evolução da doença, o cenário é mais trágico, apontando para um aumento considerável de infectados e mortos. E diante desse quadro era de se esperar decisões que preservassem a vida e em vez disso o governo cede à pressão de setores do empresariado e prefeitos, preocupados com suas reeleições, deixando o interesse público, à vida das pessoas em segundo plano. Colocando o CNPJ dos grandes empresários à frente da vida das pessoas. Onde estão os créditos para as medias e pequenas empresas? Onde está a garantia efetiva para os trabalhadores e trabalhadoras, principalmente para os que atuam no chamado mercado informal, realizarem o isolamento social? Numa democracia, os governos têm a obrigação de ouvir a sociedade. Afinal de contas, foram eleitos para governar para todas e todos. Isso significa ouvir, dialogar e tomar decisões que beneficiem a sociedade como um todo. Não pode ouvir apenas uma parte, cujo único interesse é preservar e ou aumentar seu patrimônio. O governador e os prefeitos precisam entender que estamos diante de uma decisão humanitária e não meramente econômica. Esta decisão pode ser a diferença entre a vida e a morte. Neste sentido, queremos reafirmar que o momento é de aprofundar as medidas e orientações sanitárias e de isolamento social de proteção a vida das trabalhadoras e trabalhadores, com a contenção da disseminação do vírus e ao mesmo
tempo, gerar ações propositivas e solidárias para garantir manutenção dos empregos, renda e direitos trabalhistas garantidos, para que possam enfrentar o isolamento com o mínimo de dignidade e segurança. O momento é de solidariedade e não de garantia ou ampliação de lucro. As Centrais Sindicais consideram lamentável que o governo do Paraná ouça e atenda somente os interesses eleitorais de prefeitos e setores comerciais e empresariais do Estado, ignorando totalmente os representantes das Centrais Sindicais, Federações e Sindicatos, que foram eleitos democraticamente para ser a voz de milhões de trabalhadoras e trabalhadores. Vozes essas que tem, através de diagnósticos constantes e atualizados, em todos os setores da saúde, comércio, indústria, bancos, dentre outros, sistematicamente denunciado o aumento considerável do número de casos e principalmente de óbitos. Ao contrário de outras autoridades, nós não estamos nos omitindo. Portanto, reafirmamos que neste momento que acabar com a quarentena restritiva no Estado significa ir na contramão da proteção à vida das trabalhadoras e trabalhadores e da população em geral. Nesse sentido clamamos ao Governo do Estado que reveja esta decisão. CSB - CENTRAL DE SINDICATOS DO BRASIL PARANÁ CSP - CONLUTAS - PARANÁ CTB - CENTRAL DE TRABALHADORAS E TRABALHADORAS DO BRASIL - PARANÁ CUT - CENTRAL ÚNICA DOS TRABALHADORES DO PARANÁ FORÇA - FORÇA SINDICAL DO PARANÁ INTERSINDICAL - CENTRAL DA CLASSE TRABALHADORA - PARANÁ INTERSINDICAL - INSTRUMENTO DE LUTA PARANÁ NCST - NOVA CENTRAL SINDICAL DOS TRABALHADORES DO PARANÁ PÚBLICA - CENTRAL DO SERVIDOR PARANÁ
do exercício. 3- Eleições e posse do conselho fiscal; 4- Fixação do porcentual da Taxa de Administração/ antecipação de rateio de despesas; e Ordem do Dia da Assembleia geral extraordinária: 1- Alteração e consolidação do estatuto e 2- Informes Gerais. OBS: Sócios ativos até a presente data é de 76 (setenta e seis). Rio Branco do Sul – PR, 23 de junho de 2020. Alcemir José Portes Presidente
Brasil de Fato PR
Brasil de Fato PR
Paraná, 23 a 29 de julho de 2020
Paraná | 7
Trabalhadores entram em greve por 747 demissões na Renault Montadora demite mesmo recebendo incentivos fiscais de governos Giorgia Prates
APOIO
Ana Carolina Caldas
A
montadora de automóveis Renault anunciou, na terça (21), o fechamento do terceiro turno de produção na fábrica de São José dos Pinhais (PR). Com isso, 747 trabalhadores foram demitidos. No mesmo dia, os trabalhadores se reuniram em assembleia do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba e decretaram greve por tempo indeterminado. A Renault afirmou, em nota, que o corte dos funcionários no Paraná faz parte da estratégia de enxugamento da estrutura. Na sexta (17), os trabalhadores reprovaram uma proposta de plano de demissão voluntária (PDV) e foi dado prazo de 72h para negociações com o sindicato. O aviso das demissões aconteceu antes de acabar o prazo das negociações. Diante da postura da montadora, em assembleia na porta de fábrica foi apro-
vada por unanimidade proposta de greve por tempo indeterminado. “Queremos deixar nosso repúdio pela forma que a empresa está agindo, mesmo recebendo incentivos fiscais do governo do
Estado para gerar e também manter empregos. Infelizmente, não é o que a direção atual desta planta está pensando”, ressalta o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Sérgio Butka.
Na tarde da quarta feira, 22, o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba Nelson de Souza foi à Assembleia Legislativa buscar apoio de parlamentares para reverter as demissões. Foi conversar com representantes das lideranças da oposição e do governo para que intermedeiem uma solução junto ao governo do Estado. “Queremos um posicionamento do governador, que os deputados peçam a readmissão desses trabalhadores”, diz Souza.
“Universidade pegou esforço de professores e jogou no lixo”, diz demitido da Positivo Lia Bianchini
“A
gente estava envolvido pensando no aluno, na disciplina, em projeto de pesquisa, em produção acadêmica. E nada disso importa. A universidade pegou todo esse esforço e pôs no lixo”. A afirmação é de um dos 160 professores demitidos pela Universidade Positivo (UP) na última semana. Preferindo manter a identidade preservada, o professor conta que trabalhava na instituição há mais de um ano, com aulas na graduação e no mestrado. O desligamento foi informado pela coordenação de sua
área, em reunião que durou alguns minutos, na quinta (16), um dia após ter lançado as notas finais para fechamento do semestre. A justificativa para as demissões em massa foi a crise econômica causada pela pandemia de coronavírus. “Só que a gente não sabe se realmente é uma crise ou se já era uma postura da Cruzeiro do Sul, porque tem essa fama de querer migrar tudo para o EaD [Ensino a Distância]”, conta a professora. O Grupo Cruzeiro do Sul Educacional comprou a UP no final de 2019. Além dessa universidade, o grupo tem ainda, na sua “cartei-
ra de investimentos”, outras 12 instituições de ensino superior e colégios particulares de ensino infantil, fundamental, médio e técnico. Em release divulgado à imprensa em junho, havia a informação de que a Po-
sitivo registrou aumento de 68% em matrículas para cursos EaD ou semipresenciais entre março e maio. E, ainda, lançou 50 novos cursos de graduação a distância. Em abril deste ano, a UP iniciou as atividades de seu Divugaçaõ
polo de Ensino a Distância em Takaoka, no Japão. Para Paula Cozero, advogada, professora e dirigente do Sindicato dos Professores de Ensino Superior de Curitiba e Região Metropolitana (Sinpes), esses grandes grupos da educação particular têm implementado uma “lógica muito mais mercadológica” da educação, “tornando mais patente a questão da educação como mercadoria, o que implica um desmonte do próprio ensino e da qualidade da educação”. Procurada pela reportagem, a Universidade Positivo não respondeu às questões até o fechamento da matéria.
Brasil de Fato PR 8 | Cultura
Brasil de Fato PR
Paraná, 23 a 29 de julho de 2020
Gibran Mendes
Arquivo Pessoal
Crédito
Por Venâncio de Oliveira
Agora ele estava cego
Artista defende arte para reconstrução da identidade da mulher negra No Julho da Pretas, exposição homenageia a escritora Conceição Evaristo Ana Carolina Caldas Eliana Brasil é mineira e mora desde 1997 em Curitiba. Começou como artesã, mas seu interesse em história da arte e como instrumento de transformação da realidade a levou, aos 40 anos, a cursar Artes Visuais na UFPR. “Ali me aprofundei em pintura e escultura. E descobri a performance como linguagem artística. Uma ferramenta muito importante para mim, mulher negra dentro de uma universidade.” Em 2019, pesquisou a presença das mulheres negras artistas no Paraná. E a partir daí formou o Coletivo “Eró Erê”, que reúne mulheres negras artistas visuais. Em yorubá, “Eró Erê”, significa “salve a gamaleira”, árvore de raízes fortes, símbolo religioso de matriz afro-brasileira. As exposições do coletivo começaram em 2018, com coletânea de 23 trabalhos de sete artistas negras fotó-
grafas e artistas plásticas. Em 2019, integraram a programação do Julho das Pretas, inaugurando a exposição “Negras Conexões”, no Museu de Arte Contemporânea do Paraná. Para o Julho das Pretas de 2020, o coletivo está com a Exposição Virtual “Sobrevivências”, que homenageia a escritora Conceição Evaristo e fala sobre a identidade das mulheres negras. A exposição está disponível para visitas no site https://eroere2018.wixsite.com/coletivo-eroere/ julho-das-pretas-2020 “Acredito que meu trabalho possa ser instrumento para a reconstrução da identidade da mulher negra, perdida com todo o processo de escravização e massacre do povo negro. Uma possibilidade também de reconstruir narrativas para criarmos uma história positiva para nossas mulheres, meninas, filhas e em memória de nossas ancestrais, que nos deixaram este legado de força, luta e resistência”, diz Eliana.
Agora ele estava cego. O desgraçado. Onde chegamos com ele? Cavamos nossa própria cova? Decrépito. Ah... um brilho de algo ouro de tolo? Realidade inescapável? Todos ao seu redor, querendo saber algo que poderia nos dar. Mas a cada dia ele piorava. Aos poucos nós também caíamos na sua decrepitude. Quanta angústia havíamos padecidos por acreditar nele? Ele ainda era nosso Deus. Havia caído sim e agora éramos uns poucos que estavam ali a adorá-lo em meio à fogueira. Ele ainda choramingava suas sandices. Era estúpido como sempre fora. Mas nós acreditamos nele e pouco a pouco fomos pegando sua doença e perdendo parte de nossa capacidade de amar.
Mas agora era tarde, alguns já haviam morrido, pois ele também sugava nossa alma e padecíamos. Isso é o que acreditávamos, pois não voltavam mais e sabíamos que era impossível sair. Como alguém poderia deixar de amá-lo? Na verdade, só restava eu e a máscara mortífera de uma lembrança triste de quando eu acreditei numa mentira. Mas não tinha a mínima vontade de ceder o que era mais valioso para mim: esse cálice de vinho doloroso que martiriza minha bile. Há um mito que se eu jogar essa taça na fogueira, o velho desaparece e estarei livre novamente para pensar em justiça. Mas não quero, o amo e ficarei cego com ele.
DICAS MASTIGADAS
Bolo de mandioca com casca A cada semana, publicamos receitas com produtos agroecológicos da rede colaborativa Produtos da Terra, da Sinergia Alimentos Saudáveis e da Rede Mandala. Parte dos ingredientes pode ser encontrada no site produtosdaterrapr.com.br Ingredientes ¾ de xícara de chá de mandioca orgânica cozida com casca. 2 xícaras de açúcar. 3 ovos orgânicos. 1 xícara de queijo ralado. 1 colher de sopa de manteiga. 1 colher de sopa de fermento em pó. Modo de Preparo Triture a mandioca no liquidificador. Bata a manteiga com o açúcar e junte os demais ingredientes, deixando o fermento por último. Coloque em uma forma untada e asse em forno médio, préaquecido, por 40 minutos.
Reprodução