Brasil de Fato PR - Edição 178

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Cultura | p. 8

Videoclipe interativo

MST e Sindipetro doam alimentos e gás para comunidades

PARANÁ

Ano 4

Divulgação

Comida para quem precisa

Giorgia Prates

Cidades | p. 6

Música de Janine Mathias é lançada em formato inovador

Edição 178

6 a 12 de agosto de 2020

distribuição gratuita

Prefeitura não fornece água e comida à população de rua

www.brasildefatopr.com.br Giorgia Prates

Defensoria Pública é obrigada a entrar na Justiça para garantir direitos básicos Brasil | p. 4

Opinião | p. 2

Brasil | p. Cidades | p.66

Opinião | p. 2

Greve da Renault

Perda para a comunidade

Interesses políticos e financeiros

Demissões são resultado de escolhas de Bolsonaro e Guedes

Liderança indígena morre por Covid-19

Governo fala em “liberdade”, mas paga rede de fake news

PAIS SE RECUSAM A MANDAR FILHOS DE VOLTA ÀS AULAS No pior momento da pandemia, Estado e escola particulares pressionam por retomada Paraná | p. 5


Brasil de Fato PR 2 Opinião EDITORIAL

Brasil de Fato PR

Paraná, 6 a 12 de agosto de 2020

A liberdade enganada

P

or decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), dezesseis apoiadores de Bolsonaro tiveram suas páginas bloqueadas nas redes sociais Facebook, Instagram e Twitter. São parlamentares, empresários, assessores políticos e influenciadores digitais que impulsionavam publicações mentirosas e mobilizadoras de discursos de

ódio. O próprio Facebook, em investigação interna, apurou também a existência de uma rede bolsonarista que atinge milhares de seguidores desde a eleição de 2018. Esta rede funciona com perfis anônimos ou falsos, simulando também veículos jornalísticos. O objetivo é promover a imagem política de Bolsonaro e destruir a reputação dos

adversários. Por trás desta máquina de mentiras, estão assessores pagos com dinheiro público, ligados aos gabinetes do próprio presidente e de seus filhos. Bolsonaro sentiu o golpe e, agora, argumenta no STF que as medidas de bloqueio violam a liberdade de expressão. Também defendemos liberdade de expressão e somos críticos do

Poder Judiciário, mas neste caso estamos falando de uma rede com interesses econômicos e eleitoriais, sujeita à regulamentação. Bolsonaro é inimigo da verdade. O seu governo tem perseguido servidores públicos e jornalistas que o criticam, proibindo a possibilidade de que estes discordem do governo federal em espaços públicos.

EXPEDIENTE

SEMANA

Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 178 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Milton Alves ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Douglas Gasparin Arruda REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@ gmail.com

A greve na Renault e a política do desemprego de Bolsonaro e Guedes OPINIÃO

Milton Alves,

ativista político e social. Autor do livro ‘A Política Além da Notícia e a Guerra Declarada Contra Lula e o PT’ (Kotter Editorial)

O

s trabalhadores da Renault ultrapassam duas semanas de greve na planta da montadora localizada em São José dos Pinhais, região da grande Curitiba. O movimento exige a imediata readmissão de 747 metalúrgicos demitidos no curso da negociação entre a empresa e a direção do sindicato. Além das assembleias diárias na

entrada da montadora e de piquetes nas concessionárias da Renault em Curitiba, os metalúrgicos têm se mobilizado nas ruas do centro de São José dos Pinhais (PR) para conscientizar a população dos efeitos das demissões na economia da cidade. A direção do Sindicato dos Metalúrgicos de Curitiba cobra do governo Ratinho Jr. medidas efetivas para reverter as demissões, já que a montadora francesa é beneficiária de bilionárias isenções fiscais e tributárias e de um conjunto de facilidades operadas pelo estado durante a sua instalação.

Atualmente, montadoras no Nordeste do país já anunciaram cortes de trabalhadores. A Embraer, com fracasso de sua aquisição pela Boeing, também fala em reduzir, portanto demitir, o quadro de trabalhadores. A Petrobras, esquartejada, também prossegue com planos de demissões. A ofensiva patronal, estimulada pelo governo Bolsonaro, quer atirar toda a carga da crise no lombo do trabalhadores, com mais desemprego, redução de salários e intensa precarização. Enquanto isso, 42 bilionários brasileiros aumentaram

seu patrimônio líquido de US$ 123, 1 bilhões em março para US$ 157,1 bilhões em junho, segundo dados revelados pela ONG Oxfam. O governo Bolsonaro não tem e não terá um plano de conjunto para a retomada da economia. O que Guedes promete é desonerar a folha para agradar o empresariado e mais arrocho e retirada de direitos dos trabalhadores – e uma reforma tributária regressiva. O próximo período vai exigir das direções sindicais a unificação das greves contra o desemprego. A retomada da palavra de ordem: demitiu, parou!


Brasil de Fato PR

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Paraná, 6 a 12 de agosto de 2020

Geral | 3

FRASE DA SEMANA

“O fascismo precisa do solo fértil da estupidez para frutificar”

Vida dos trabalhadores piorou após o impeachment Um dos motivos alardeados para a derrubada da presidente Dilma (PT) é de que a vida ia melhorar para os brasileiros. Mas não foi o que aconteceu para os trabalhadores. Dados do IBGE mostram que o número de desempregados cresceu 90% de 2014 para 2019: saltou de 6,7 para 12,6 milhões. Já os desocupados saltaram de 6,8%, em 2014, para 11,9%, em 2019, alta de 75%. O País ainda viu crescer as pessoas que trabalham por conta própria. Mas ser “empreendedor” não trouxe a “independência” vendida pelo discurso neoliberal. Dos 24,2 milhões de autônomos, 80% “não tinham CNPJ, proteção trabalhista ou ainda, em muitos casos, não contribuíam com a Previdência”. Se, em cinco anos, as coisas ficaram mais caras, o mesmo não aconteceu com a renda dos trabalhadores. Ela cresceu apenas R$ 10 em cinco anos, chegando a R$ 2.371,00 por mês. Pior do que isso: 105 milhões tinham renda de 1,4 mil enquanto que 2 milhões, o extrato mais rico do país, faturava R$ 17,3 mil mensais em 2019. As medidas de Jair Bolsonaro (sem partido) refletiram em 19 milhões de trabalhadores afastados, sendo 9,7 milhões que deixaram de receber remuneração.

Disse a escritora, filósofa e professora Marcia Tiburi em seu Facebook

Divulgação

Por Frédi Vasconcelos

A revista “Piauí” divulgou na quarta, 5, matéria da jornalista Monica Gugliano que afirma que, no dia 22 de maio, o presidente Jair Bolsonaro fez reunião no Palácio do Planalto com generais de seu gabinete em que afirmou: “Vou Intervir”. A decisão era mandar tropas para o Supremo porque “os magistrados, na sua opinião, estavam passando dos limites em suas decisões e achincalhando sua autoridade.”

A ditadura bem perto 2 Pelo relatado na matéria, que ouviu fontes que participaram da reunião, na cabeça de Bolsonaro os militares iriam ao STF e “destituiriam os atuais onze ministros. Os substitutos, militares ou civis, seriam então nomeados por ele e ficariam no cargo ‘até que aquilo esteja em ordem’, segundo as palavras do presidente.” A decisão era por conta, principalmente, da possibilidade de ter seu celular apreendido por ordem do Supremo numa investigação e outras decisões da corte suprema.

Ascom | Prefeitura de Maceió

A ditadura bem perto 3 Segundo a “Piauí”, o general Luiz Eduardo Ramos ”recebeu bem a intenção do presidente de partir para um confronto.” Braga Netto e Augusto Heleno tinham dúvidas sobre as consequências da intervenção. “A certa altura, o general Heleno tentou contemporizar e disse ao presidente: – Não é o momento para isso.” Foi combinado que o general soltaria uma nota pesada contra o Supremo no dia, o que acabou acontecendo. E a “intervenção” segue esperando seu momento.

Além de não participar de audiência com Ministério Público do Trabalho sobre as 747 demissões, efetuadas no dia 21 de julho, de metalúrgicos da Renault, a transnacional busca enfraquecer a mobilização dos trabalhadores com o desconto dos dias dos ativos. Como resposta, o Sindicato dos Metalúrgicos de Curitiba disponibiliza o fundo de greve aos trabalhadores que sofreram o desconto.

Fora Bolsonaro em Curitiba

NOTAS BDF

A ditadura bem perto

Renault tenta desmobilizar grevistas

R$ 32 milhões para empresas de ônibus O governador Ratinho Jr. mandou para a Assembleia Legislativa projeto em que pretende subsidiar com mais de R$ 32 milhões empresas de ônibus no Estado durante a pandemia. Vai na mesma linha da “bondade” do prefeito Greca, de também repassar milhões para empresários que estão entre os maiores contribuintes de campanhas eleitorais. A justificativa de Ratinho, entre outras, é subsidiar o programa “Cartão Social”.

Dia 7, a campanha nacional Fora Bolsonaro prepara atividades com cartazes, uso de faixas em locais públicos e ações de agitação em torno da crítica ao governo responsável pela chegada do Brasil ao número de 100 mil mortes por Covid-19. Na capital, haverá ato simbólico com cruzes diante do palácio do governo do Paraná, em crítica à flexibilização de Ratinho Jr. (PSD).

Cozinha comunitária no Novo Mundo

AEN

Inicia hoje (6) a experiência da cozinha comunitária da União de Moradores (as) e Trabalhadores (as) do Bolsão Formosa, no bairro Novo Mundo, em Curitiba, a partir dos alimentos fornecidos pelo MST e do gás pelo Sindicato dos petroleiros do Paraná e Santa Catarina (Sindipetro PR-SC).


Brasil de Fato PR 4 Brasil

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Paraná, 6 a 12 de agosto de 2020

Decisão judicial obriga Curitiba a garantir direitos à população em situação de rua Defensoria Pública teve de entrar na Justiça para que Prefeitura forneça água, banheiro e comida Lia Bianchini

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esde o início da pandemia de coronavírus, a Prefeitura de Curitiba e a Defensoria Pública do Paraná (DPE-PR) têm travado uma “queda de braço”. De um lado, a DPE-PR pede a garantia de direitos básicos à população em situação de rua, como acesso gratuito a banheiros públicos, pontos de água nas ruas, alimentação gratuita em restaurantes populares e equipamentos de proteção, que a Prefeitura vem negando. A primeira ação da DPE-PR, em parceria com a Defensoria Pública da União, foi em maio. Com parecer favorável do Tribunal de Justiça do Paraná, a Prefeitura entrou com recurso para não cumprir a decisão. Argumenta que existem banheiros públicos em praças de Curitiba, e que onde existe cobrança, ela se dá por força de lei. Diz também que a disponibilização de pontos de água “contraria a política pública municipal, que visa a convencer o indivíduo

a sair da rua.” A defensora pública e coordenadora do Núcleo da Cidadania e Direitos Humanos (Nucidh), Mariana Gonzaga Amorim, que participou do programa BDF 11h30, expli-

ca que tais argumentos expõem uma falta de diálogo com a população. “Tem que ver se aquilo que é oferecido é útil ao que se propõe. Caso contrário, é inócuo e não atinge o público. A gente tem visto a necesGiorgia Prates

População de rua vem dependendo da solidariedade e doações da sociedade para sobreviver

sidade de diálogo com os movimentos sociais. Só a partir desse diálogo é que se pode entender o que é realmente necessário. A ação leva para o Judiciário essas pautas dos movimentos”, explica. No último dia 24, a Justiça do Paraná deu mais um parecer favorável às defensorias, ordenando que seja garantido acesso imediato aos banheiros públicos no Centro e que as refeições oferecidas pelo município a esse grupo sejam gratuitas. Para Leonildo Monteiro, do Movimento Nacional da População em Situação de Rua (MNPR), “é vergonhoso” o modo como a Prefeitura de Curitiba tem tratado a situação neste período de pandemia. “É triste a gente ouvir isso, que precisa de uma liminar na Justiça e a Prefeitura ainda fica recorrendo, para que essas pessoas consigam acessar o básico pra se manter vivas. Nós não estamos falando de luxo. Estamos falando de água, banheiro. A rua está com sede, está com fome e frio”, diz.

Torcidas organizadas antifascistas: “Não era a hora de voltar o futebol” Redação

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ntre os segmentos da classe trabalhadora que enfrentaram o governo Bolsonaro nos meses recentes, está o das torcidas antifascistas. No Paraná, agrupamentos como CoxaComunas (Coritiba), Gralha Marx (Paraná) e Atleticanhotxs (Athletico Paranaense) convocaram atos contra o autoritarismo e ataque contra as instituições do governo. Mais que isso. Em busca de driblar o senso comum de que não se debate política no meio futebolísti-

co, apresentam pautas no interior das torcidas, com crítica à ausência de distanciamento social efetivo; à proposta do governo estadual de retomar as aulas; o combate ao racismo, a defesa da pauta do segmento LGBTQI+, além da solidariedade na classe trabalhadora. Apontam, inclusive, que não era a hora de voltar o futebol. “O motivo da volta é o dinheiro, pão e circo, o governo conta que, com o futebol, as pessoas vão deixar de criticá-lo. Achamos que não era a hora da volta ao futebol, cientistas ainda estão buscando vacinas, para que nossa

saúde não seja prejudicada”, declarou Luiz Ricardo Simon, da CoxaComunas, no programa Brasil de Fato Paraná 11h30. Os três entrevistados reconheceram também que a ida às ruas respondeu à necessidade dos trabalhadores e à ausência de condições para o distanciamento social. Sabem que o tema é polêmico, entre ocupar ou não as ruas neste momento. “Queremos aproximar pessoas descontentes com o governo, quem enxerga que a democracia está sendo atacada”, afirma o paranista Tiago Marcílio, do Gralha Marx.

ROMPENDO O PRECONCEITO Gladson Rafael, do Atleticanhotxs, aponta também que existe preconceito com as torcidas organizadas, retratadas muitas vezes como violentas por parte dos meios de comunicação empresariais. “A própria torcida organizada já é criminalizada por esse tipo de comunicação. De certa forma, o movimento sempre foi politizado”, afirma.


Brasil de Fato PR

Famílias defendem que ensino presencial volte quando houver segurança Ana Carolina Caldas Secretaria Estadual de Educação anunciou que as aulas poderão retornar de forma

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Volta às aulas não tem protocolo de proteção à saúde dos professores

Para mães, é irresponsabilidade obrigar crianças a voltarem com a curva de contágio crescendo

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Brasil de Fato PR

Paraná, 6 a 12 de agosto de 2020

presencial no Paraná em setembro. Em entrevista ao Brasil de Fato, mães que têm filhos na rede pública e privada foram contrárias à volta agora. Arquivo Pessoal

“Não há prejuízo em aguardar. O importante é ter segurança,” diz Ângela A rotina da família da professora de História da rede pública Ângela Alvez Machado é, segundo ela, caótica. “Somos cinco em casa e com uma rotina voltada toda para as aulas. Tivemos de sair emprestando computadores e dispor de mais recursos para melhorar a internet”, diz ela, que mora com o marido e três filhos entre 10 e 17 anos. A mais velha estuda no Instituto Federal, o de 13 anos na rede particular e, o mais novo, na rede pública. Mesmo com todas as dificuldades, acha precipitado reabrir as escolas. “O Paraná está num pico elevado de casos de Covid-19, e a principal preocupação deveria ser salvar vidas com investimento na saúde e a retomada da economia para que famílias não percam os empregos.” Para Ângela, “é impossível assegurar que crianças e adolescentes guardem medidas de biossegurança. Sou contra o retorno das aulas até que haja comprovação científica de segurança sanitária para todos os alunos e professores. Não há prejuízo aguardar. O importante é ter segurança.” Arquivo Pessoal

“É melhor aguardar do que viver a ausência de um ente querido”, diz Miliandre Segundo a professora universitária Miliandre Garcia de Souza, mãe de dois filhos que estudam na rede privada, a rotina diária é de trabalho sem interrupção. “Eu e meu marido somos professores universitários e dependemos do trabalho remoto. Trabalhamos três turnos e nos dividimos entre as nossas aulas, a ajuda ao filho menor em suas aulas on-line e as tarefas domésticas.” Sobre o retorno às aulas, considera uma irresponsabilidade. “Sem vacina, sem número adequado de leitos, de profissionais da saúde e sem política pública voltada à proteção da população, votar às aulas é mais uma irresponsabilidades dos governos,” defende. Miliandre diz não se sentir segura em levar os filhos à escola. “Já acompanhamos casos de crianças que morreram de Covid-19. Argumentam que o número é menor entre elas, mas se for seu filho?”. Para ela, “é melhor aguardar até que a vacina seja eficiente e a população esteja protegida que viver a ausência de um ente querido.”

Ana Carolina Caldas

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se um professor testar positivo para Covid-19? Será substituído? Seus alunos serão testados? Terá atendimento médico pelo governo? O governo garantirá os testes? Essas perguntas não têm ainda respostas nas propostas de volta às aulas no ensino privado ou na rede pública no Paraná Em 30 de julho, a Secretaria Estadual de Educação anunciou que as aulas presenciais, suspensas em março, poderão voltar em setembro. Com o anúncio, o Comitê de “Volta às Aulas”, que reúne representantes do governo e da sociedade civil, apresentou protocolo com medidas para o retorno. Porém, não há item relacionado à saúde dos professores. O protocolo trata de itens como orientação pedagógica, distanciamento dentro da sala de aula e no pátio, escalonamento de alunos e professores, higienização de ambientes e transporte escolar, uso de álcool gel e EPIs, triagem de temperatura, entre outros. Sobre a possibilidade de contaminação de alunos e professores, limita-se a dizer que “caso ocorra contaminação entre estudantes, a instituição deverá ser interditada por 14 dias.” Em entrevista para o Brasil de Fato Paraná, a presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Estado do Paraná (Sinepe), Esther Cristina Pereira, que defende o retorno das aulas, aos ser indagada sobre o que se propõe em relação aos professores disse que “há protocolos como troca de sapatos e de roupas.” Sobre o risco de contágio disse que “a doença está em todos os lugares. A escola não pode carregar sozinha o fardo da responsabilidade.”

ADIAMENTO

Sindicato quer suspensão do calendário 2020 Para o presidente da APP Sindicato, que representa os professores da rede pública do Paraná, professor Hermes Leão, “é completamente desastroso e desnecessário o debate de volta às aulas em setembro quando a curva de contágio do coronavírus está alta e com tendência a continuar crescendo. Defendemos que o governo suspenda o calendário de 2020 e a retomada deste debate aconteça quando houver segurança para a vida das pessoas envolvidas na comunidade escolar“.


Brasil de Fato PR 6 Cidades

Paraná, 6 a 12 de agosto de 2020

MST e Sindipetro doam 28 toneladas de alimentos e gás em Curitiba e Região Metropolitana

Brasil de Fato PR Wellington Lenon

Doações foram entregues em seis comunidades de Curitiba, Araucária e Campo Magro Redação

C

om a pandemia, aumenta o número de pessoas que enfrentam dificuldades econômicas e falta de comida na mesa. Por isso, o MST e o Sindicato dos Petroleiros do Paraná e Santa Catarina (Sindipetro-PR/SC) se uniram para doar alimentos e gás a famílias em situação de vulnerabilidade de Curitiba e Região Metropolitana, no sábado (1). Arroz, feijão, mandioca, batata doce, frutas, legumes, verduras e pães somaram 28 toneladas de alimentos doados por famílias da Reforma Agrária e da Agricultura Familiar de 7 municípios. Já as 400 cargas de gás foram adquiridas numa campanha junto aos petroleiros da refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), de Araucária.

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Em Curitiba as doações chegaram às famílias do Jardim Santos Andrade, no Campo Comprido; Vila Sabará, na Cidade Industrial de Curitiba; e União de Moradores, no Novo Mundo. Em Araucária, foram as Vilas Santa Cruz e Portelinha. Já em Campo Magro o gás e os alimentos chegaram aos moradores do acampamento Nova Esperança, no centro do município. “Nossa comunidade é carente, precisa bastante de ajuda. E hoje a gente fica imensamente feliz, fica até sem palavras pra agradecer”, disse emocionada Rosenilda de Paula, conhecida como Nenê da Santos Andrade, presidenta da associação de moradores do Jardim Santos Andrade. Lá foram distribuídas 400 cestas e 200 cargas de gás. Alexandro Guilherme Jorge,

presidente do Sindipetro, resume o dia como uma ação de trabalhador para trabalhador. “É uma forma de a gente se ajudar neste momento difícil. Ao mesmo tempo é uma forma de protesto por termos grande produção de gás e alimentos no Brasil e muita gente não ter acesso, devido aos altos custos”. Essa é a segunda vez que o MST e o Sindipetro-PR/SC se juntam para garantir alimentação em casa - a primeira ocorreu no dia 13 de junho. “Estamos fazendo uma aliança entre os trabalhadores do campo e os da cidade”, explica Joabe Mendes, da direção estadual do MST. “A solidariedade não pode permanecer só em tempo de pandemia. Ela tem de ser uma prática permanente e aliada na resistência contra o vírus e as injustiças, e por vida digna para todos e todas”, concluiu.

“A gente perdeu nosso grande líder espiritual”, diz cacique Lia Bianchini No dia 25 de julho, o Paraná registrou a primeira morte de indígena vítima da Covid-19. Gregório Venega, de 105 anos, Avá-Guarani, pajé da aldeia Ocoy, em São Miguel do Iguaçu. O ancião ficou internado desde o dia 7 de julho, mas não resistiu. “Era um dos pioneiros da aldeia, um dos mais importantes que a gente tinha para contar a nossa história. A gente aprendeu muito com ele, que presenciou todos os alagamentos, viveu toda a nossa luta. Infelizmente, a gente perdeu nosso grande líder espiritual”, conta Celso Japoty Alves, cacique da aldeia Ocoy. Os alagamentos mencionados pelo cacique contam a luta histórica dos Avá-Guarani do Oeste do Paraná pelo direito originário à terra. Com a construção da Usina de Itaipu, as comunidades indígenas que viviam às margens do Rio Paraná foram, ano a ano, perdendo terras. Em 1982, em Foz do Iguaçu, a comunidade Jacutinga foi uma das que ficaram submersas em razão do alagamento para a criação do lago da usina. Gregório era um dos indígenas atingidos. A despedida do ancião, segundo o cacique Celso, foi atípica, sem os rituais tradicionais. “A gente tem mais uns quatro com 80, 90, 100 anos. Eles são os líderes da nossa aldeia, principalmente da espiritualidade. Então a gente está orientando bastante. Mudou bastante a rotina, até na casa de reza teve que parar aglomeração. Pra não contaminar principalmente os mais velhos. A gente já perdeu um e não quer que aconteça com outros”, diz o cacique. A aldeia Ocoy foi uma das primeiras no Paraná a ter foco de contaminação. O primeiro caso confirmado, em 17 de junho, foi seguido por aumento massivo de infecções. Boa parte dos infectados eram trabalhadores de frigoríficos da empresa Lar Cooperativa Agroindustrial. Até o momento, foram 77 indígenas infectados na Ocoy.


Brasil de Fato PR

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Paraná, 6 a 12 de agosto de 2020

Cultura | 7

Janine Mathias lança videoclipe em formato inovador Código em uma caneca dá acesso para baixar aplicativo e fazer interação com a música Ana Carolina Caldas

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cantora e compositora Janine Mathias lançou o videoclipe da canção “Bom Dia” apostando num formato inovador e que contou com a ajuda dos fãs. O material é exibido quando o espectador escaneia um QR Code disponível numa caneca personalizada, vendida exclusivamente pela ÍFÊ Personalizados. Janine conta que já vendia canecas nos shows presenciais. “Sempre foi uma forma de manter a proximi-

Divulgação

dade com os fãs, que levavam algo para casa. Com a quarentena, seguimos com esse modelo, inserindo o QR Code que fiz para que haja interação com o clipe”, explica. A arte da caneca foi desenvolvida pela ilustradora Nila Carneiro e baseada numa foto de Renato Nascimento e André Sanches. O item também está presente nos kits do Clube da Preta, de assinatura mensal, que entrega produtos de moda, literatura e cultura criados por afroempreendedores.

Como assistir?

Por Pedro Carrano

O que não se mostra A última luz no topo do céu rela o último andar de um prédio vizinho. Caminho pelo Largo da Ordem, depois de cem dias. O vazio quase completo no domingo traz um tom de irrealidade, protegida por força policial. Observo vizinhos. Tento notá-los e compreendê-los por trás das janelas e portas inermes. A amiga de um prédio ao lado colocou na sacada o cartaz “E se fosse o fi lho da patroa?”. Outro vizinho da esquina da Riachuelo arrisca algumas canções incompletas no órgão. Um piá bate o skate contra as pedras do chão do

Largo, que agora são a boca escancarada cheia de dentes mostrando a ausência e os buracos por onde passa o canal de nossas certezas inertes. Sartre, Simone, Camus e Genet poderiam sentar ali para uma cerveja e, insatisfeitos, perceber que tudo o que escreveram, a grande náusea, realiza-se. O vazio então já temos. Sabemos como lidar com as feras, adaptar nossos corpos de carapaças, demônios e bichos, e nos reinventar. Resta agora destruir todo o resto que nos fere, nos limita mas que, cretinamente, não se mostra.

DICAS MASTIGADAS

Massa de pizza com inhame A cada semana, publicamos receitas com produtos agroecológicos da rede colaborativa Produtos da Terra, da Sinergia Alimentos Saudáveis e da Rede Mandala. Parte dos ingredientes pode ser encontrada no site produtosdaterrapr.com.br Ingredientes 3 copos de inhame orgânico com casca; 1 copo de leite; 1 ovo orgânico; 1 cebola orgânica picada; 1 dente de alho orgânico; 3 tomates orgânicos; 2 colheres de sopa de queijo ralado; 2 colheres de sopa de tempero verde a sua escolha; 1 colher de sopa de fermento químico.

PIXNIO

Gibran Mendes

Gibran Mendes

Ao adquirir a caneca personalizada (R$35 + frete), pelo link: http:// twixar.me/HgtT, um passo a passo é enviado com as informações necessárias para baixar o aplicativo exclusivo que dá acesso ao videoclipe. A música “Bom Dia” faz parte do primeiro disco da cantora. “Ela não é um lançamento, mas por causa da quarentena, os fãs começaram a trazer a música em uma menção de dar bom dia para o mundo lá fora com desejo de que as coisas melhorem. Este bom dia acabou ganhando outro significado”, explica Janine. A partir de 14 de agosto, o clipe estará disponível também para o público no Youtube.

Modo de Preparo Lave, cozinhe e amasse o inhame com as cascas. Junte todos os ingredientes e, por último, o fermento. Bata bem. Derrame em uma assadeira untada e leve ao forno médio até corar. Retire do forno e coloque a cobertura que desejar, voltando novamente ao forno por 5 a 10 minutos.


Brasil de Fato PR 8 Esportes

Brasil de Fato PR

Paraná, 6 a 12 de agosto de 2020

Para cronistas, volta do campeonato paranaense foi “desrespeito com a sociedade”

ELAS POR ELA Fernanda Haag

Como foi a volta do futebol do Estado durante recordes de casos na pandemia Gabriel Carriconde

N

o programa sobre a volta do futebol paranaense, transmitida nas páginas do BDF Paraná, Capitão Hidalgo, radialista a ex-jogador do Coritiba, Marcelo Ortiz, um dos principais nomes da narração esportiva do País, Mauro Mueller, apresentador de TV, e Henry Xavier, comentarista e radialista, sobre a volta do futebol no Paraná criticaram o retor-

no apressado do Campeonato Paranaense, no momento em que havia mais de mil óbitos no Estado e mais de 90 mil vítimas em todo o Brasil. Por pedido do presidente da Federação Paranaense de Futebol (FPF), Hélio Cury, a Secretaria de Estado da Saúde liberou o retorno dos jogos mesmo com a taxa de leitos de UTI-Covid passando dos 90% em todo o Estado e o número de óbitos triplicando em Curitiba. Reprodução

Para o narrador Marcelo Ortiz, a volta ocorreu por conta de caprichos do presidente da federação. Com a voz embargada por conta de ter sido acometido pela Covid-19, criticou também a gestão do governo federal em relação à pandemia. “É um desrespeito com atletas, profissionais e com a própria sociedade. Ainda mais com a situação do jeito que está em todo o Brasil, com um presidente minimizando a pandemia”, criticou. Para o apresentador Mauro Mueller o retorno coloca os próprios torcedores em risco, mesmo com os jogos de portões fechados. “São esses torcedores que acabam se reunindo pra acompanhar os jogos e correm o risco de se infectarem”, relata. Com mais oito Copas do Mundo na bagagem, para o veteraníssimo José Hidalgo Neto, o Capitão, o retorno foi atropelado. Ele atualmente é diretor de esportes da Rádio Cidade e decidiu não transmitir os jogos finais. “Tomamos essa decisão para proteger nossos profissionais”, afirma.

É hora de voltar? O questionamento sobre o retorno do futebol em meio à pandemia de Covid-19 é a famosa “pergunta que não quer calar”. Para responder, podemos recordar a tragédia que é perder mais de 90 mil pessoas nos últimos meses. A lembrança da bola rolando no Maracanã com o hospital de campanha ao lado ainda ecoa em nossas memórias. Sem falar no perigo de expor atletas a uma doença e a possíveis sequelas. Mas também não podemos nos eximir do debate e vislumbrar caminhos, caso contrário, apenas os interesses econômicos terão voz nas decisões e os apaixonados por futebol seremos alijados novamente. O futebol de mulheres já tem suas datas de retorno. A CBF, no último dia 24, divulgou o documento com as diretrizes para a retomada das competições nacionais. A série A1 retorna a partir de 26 de agosto, finalizando a 5ª rodada, a A2 em 18 de outubro, com a obrigatoriedade de seguir todos os protocolos de segurança.

O Estadual e as eleições

Dúvidas de sempre

O jogo durava uma semana

Por Cesar Caldas

Por Marcio Mittelbach

Por Douglas Gasparin Arruda

Vencer o campeonato estadual tornou-se, nos últimos seis anos, a única pretensão verossímil para o Coritiba, capaz de orgulhar a sua torcida e, em certa medida, repercutir além fronteiras por algum tempo. As chances de chegar à semifinal de uma Copa do Brasil ou Sul-Americana, ou alcançar pela terceira vez uma vaga na Copa Libertadores, esvaiu-se por completo após o quinquênio 2010-2014. Repetir aquela performance de duas finais consecutivas da Copa do Brasil, o recorde de vitórias seguidas das três américas e obter seu segundo tetra local é algo longe do horizonte visível do torcedor nas duas últimas gestões do clube. Sequer a obrigação do título da Série B, cumprida em 2010, mostrou-se factível, com direito a duas tentativas. Mudar a gestão de um mesmo grupo político do clube tornou-se imperioso em dezembro próximo.

Torcer para o Paraná Clube é um eterno recomeço. Cada campeonato um elenco diferente. Um cenário político diferente. O que não muda é a paixão e a falta de paciência da torcida. É difícil fazer uma projeção. Planejamentos da diretoria à parte, o certo é que a linha entre brigar para não cair e disputar o acesso é muito tênue. Em 2019, quando o orçamento era um dos menores da Série B, conquistamos uma honrosa 6ª posição. Aliás, existem outras questões que nos assolam todos os anos. Teremos como garantir o salário dos jogadores até o final? Quem vai aparecer antes, a torcida ou os resultados. E o Guilherme Biteco este ano desencanta? Dúvidas à parte, nesta sexta (7) a odisseia em busca da primeira divisão será retomada. Diante do Confiança, em Aracaju, o Paraná tenta estrear com o pé direito. Algo que não ocorre desde 2015.

Chegamos à semana decisiva do Atletiba, o jogo que durava uma semana completa: da segunda, com as apostas contra os torcedores rivais, ao domingo decisivo com a cidade tomada pela ansiedade do clássico. Os 22 jogadores correndo atrás da bola eram apenas uma parte de um todo. Ao pensar nessa decisão, vazia em todos os sentidos, vejo que esse jogo já não tem mais aquilo que me fez amar os Atletibas. O time já não se chama mais Atlético. Parte da nova torcida se orgulha do ingresso na nova Arena ser caro e tira sarro das promoções de ingresso do rival. A torcida que eu aprendi a amar jamais se orgulharia de uma origem elitista. “Maloqueiro atleticano e sofredor”, era o que cantávamos. Quando este texto for ao ar já teremos um campeão. Eu, infelizmente, não terei apostas para me preocupar.


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