Brasil de Fato PR - Edição 179

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Direitos | p. 6

Brasileirão contaminado pelo Covid

Arquivo Pessoal

Esportes | p. 8

“Parece que indígena não vale nada”

Mais de 150 jogadores já testaram positivo na Série A.

Mãe de Guarani assassinado denuncia descaso em investigações

Divulgação | Flamengo

PARANÁ

Ano 4

Edição 179

13 a 19 de agosto de 2020

distribuição gratuita

www.brasildefatopr.com.br

COZINHAS SOLIDÁRIAS

Comunidades criam alternativas para enfrentar crise sanitária, econômica e ausência de políticas públicas. Associações de moradores e organizações nas periferias criam cozinhas comunitárias, que recebem alimentação solidária do MST e da agricultura familiar Cidades | p. 4 Giorgia Prates

PREFEITURA NÃO OFERECE O BÁSICO Mesmo com decisão da Justiça, administração de Curitiba se nega a garantir água, comida e banheiro para população em situação de rua Cidades | p.4

Notas BDF | p. 3

Brasil | p. Editorial | p.6 2

Porém | p. 3

747 metalúrgicos readmitidos

Dossiê de Bolsonaro persegue servidores

Desinvestir na Copel Telecom?

Após greve, Renault volta atrás em demissões

Cada vez mais autoritário, governo investiga vida de cidadãos

Incrível! Em plena crise, é esta a proposta de Ratinho Jr.


Brasil de Fato PR 2 Opinião

Paraná, 13 a 19 de agosto de 2020

Quebra da democracia e venda do Brasil EDITORIAL

R

elatório revelado pelo portal Uol mostra ação do Ministério da Justiça identificando 579 servidores, na maioria ligados às áreas de segurança e professores universitários. Essas pessoas, que tiveram seus nomes e outros dados expostos em dossiê, monitoradas pela Secretaria de Operações Integradas (SEOPI), têm em comum a defesa da democracia e a postura antifascista. O caso revela mais uma vez a instrumentalização das instituições pelo governo federal. O uso de uma área de inteligência da segurança pública para fins políticos, de vigilância ideológica contra opositores do governo, é gravíssimo e pode ser usado como ferramenta de perseguição

Arquivo Pessoal

OPINIÃO

política dentro dos órgãos públicos. O Ministério Público Federal (MPF) exigiu que o governo explique essa investigação, sem inquérito em andamento ou determinação do Judiciário, e apresente o dossiê. Essa solicitação foi rechaçada sob a justificativa de que o requerimento deveria ser feito pelo Procurador Geral da República, Augusto Aras, que está sob pressão direta de Bolsonaro. Em gesto patético, Eduardo Bolsonaro ainda entregou dossiê para a embaixada dos EUA! Com isso, o governo Bolsonaro ataca a democracia e vende nosso país. O antifascismo não pode ser criminalizado. E, hoje, é bandeira fundamental.

SEMANA

A dimensão invisível na pandemia de jornalistas que são mães

Brasil de Fato PR

Paula Zarth Padilha,

Jornalista em Curitiba, diretora executiva da FENAJ e do SindijorPR, Mestre em Linguagens pela UTFPR

E

u situo essa proposta de reflexão a partir de uma categoria específica das trabalhadoras, as jornalistas, mas ser mãe é condição estruturante em diversas outras atividades também decretadas essenciais na pandemia. Daqui desse meu lugar de fala, de ser mãe há sete anos, de minha condição de jornalista solo, de mãe em home office, de criar filha numa família de duas e ter que sempre arranjar alguma estratégia nova para ir ao mercado, fui pega no final de julho por um vulcão em erupção chamado “outras pessoas estão decidindo sobre a volta às aulas ainda com a pandemia em alta e ninguém me pergunta nada sobre o que eu acho disso”. Eu poderia aqui listar as diversas condições (veja bem, em situação de privilégio) que nós duas, filha com aula em vídeo e mãe em teletrabalho, estamos compartilhando enquanto almejamos um cancelamento do ano letivo em 2020 que não vem, mas entre uma leitura e

outra sobre contras e contras de retomarem as aulas presenciais, eu buscava dados. Quem é o responsável pelo cuidado dessas crianças durante a pandemia? Quantas mães têm direito ao home office? O que essas pessoas pensam sobre volta às aulas num contexto de pandemia ainda crescente? Quantas jornalistas mães são as únicas responsáveis pelas crianças? Quantas compartilham cuidados? Quantas estão trabalhando nas ruas e quantas em casa? Nós que somos parte de lutas coletivas ainda temos muito latente a sensação de impotência na atual conjuntura. Mas é preciso fazer esse registro histórico. Diante desse apagão de dados e da importância de se tratar da perspectiva de gênero ao olhar para as condições de trabalho na pandemia, a Comissão de Mulheres da Federação Nacional dos Jornalistas convoca as mães jornalistas a responderem uma pesquisa que aborda esses diversos elementos.

A pesquisa direcionada às mães jornalistas pode ser encontrada no site da FENAJ e está disponível até o dia 17 de agosto.

EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 179 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Paula Zarth Padilha, Lizely Borges, Edimara Osachuki, Leopoldo Winck e Guilherme Uchimura ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates, Lian Voigt e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com


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Paraná, 13 a 19 de agosto de 2020

Geral | 3

QUE DIREITO

FRASE DA SEMANA

Governo do Paraná segue com a sua intenção de privatizar já no ano que vem a sua empresa de banda Larga, Copel Telecom. A decisão já foi referendada pelo Conselho de Administração da Copel (CAD), que aprovou, por unanimidade, a proposta de a Copel se desfazer da Telecom que é avaliada como a de melhor serviço do país. Após isso, o Conselho, cujos membros são ou foram ligados aos interesses do mercado e não à população paranaense, iniciou os preparativos para entregar a empresa ao mercado com “a abertura de um Virtual Data-Room, envio do processo completo para análise pelo Tribunal de Contas do Estado do Paraná e agendamento e realização de uma audiência pública virtual sobre o Desinvestimento, a ser operacionalizada em conjunto com a B3 S.A. – Brasil, Bolsa, Balcão. Esse outro passo foi dado no último dia 7 de agosto. Em comunicado ao mercado, a empresa anunciou que vai realizar uma “audiência pública fechada e com participação restritiva”. De acordo com o aviso, o evento no próximo dia 19 será virtual e a interação só poderá ser feita com perguntas enviadas previamente por e-mail.

“Malditas sejam todas as cercas! Malditas todas as propriedades privadas que nos privam de viver e de amar!” Escreveu Dom Pedro Casaldáliga, poeta e bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia, que faleceu no sábado, 8. Dom Pedro dedicou sua vida a defender pobres, indígenas e a natureza...

Guilherme Uchimura

Demitir em massa é direito das empresas?

VaticanNews

Audiência Pública sobre privatização da Copel Telecom terá audiência com participação restritiva

É ESSE?

NOTAS BDF

Por Frédi Vasconcelos

Demissões canceladas na Renault

Rachadinha presidencial

Em assembleia virtual na terça, 11, o Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba aceitou acordo com a montadora Renault que prevê o cancelamento das 747 demissões na planta de São José dos Pinhais-PR após 21 dias de greve. A proposta também mantém a data-base da categoria, com abono neste ano e reajuste pela inflação nos próximos períodos.

Empregada no gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro, Nathália Queiroz, a filha do Queiroz da “rachadinha”, repassava a maior parte de seu salário ao pai, ex-assessor de Flávio Bolsonaro. Cerca de 77% do que recebia ia para as contas dele. Não deve ser coincidência que a atual esposa e a ex de Bolsonaro recebiam depósitos do ex-fugitivo Queiroz.

Meia vitória As demissões foram suspensas, mas a empresa abriu programa de demissão voluntária até 20 de agosto. Os trabalhadores que tinham sido dispensados receberão salários integrais até o fim do período do PDV. Se a empresa não atingir seu objetivo com o plano, ficarão de licença, no chamado “lay-off”, por cinco meses, recebendo 85% do salário e fazendo cursos de “requalificação”.

Racismo por escrito A advogada Thayse C. Pozzobon denunciou que a juíza Inês Marchalek Zarpelon, da 1ª Vara Criminal de Curitiba, condenou um cliente seu, Natan Vieira da Paz, escrevendo na sentença que o suspeito é: “seguramente integrante do grupo criminoso, em razão da sua raça”. Embora não negue ter escrito o que foi denunciado, a juíza emitiu nota em que afirma: “Em nenhum momento a cor foi utilizada -- e nem poderia -- como fator para concluir, como base da fundamentação da sentença, que o acusado pertence a uma organização criminosa. A avaliação é sempre feita com base em provas”.

Agência Senado

Há algumas semanas, a Renault demitiu 747 trabalhadores, cerca de 10% dos empregados da fábrica de São José dos Pinhais/PR. Sob pretexto da crise desencadeada pela Covid-19, demissões em massa têm ocorrido também em outros setores. Afinal, essas empresas têm o direito de desligar centenas de trabalhadoras e trabalhadores? Quando se trata de demissão em massa, a grande questão é que o assunto se torna social e coletivo. O patrão, nesse caso, é obrigado a negociar com o sindicato. No caso da Renault, em um primeiro momento, a empresa atropelou essa etapa. E ainda rompeu o dever de manter o nível de emprego, um dos compromissos legais que lhe assegurava isenção fiscal junto ao Estado do Paraná. Ou seja, durante anos, a montadora francesa contou com a ajuda do Estado e lucrou bilhões explorando mão de obra brasileira. Na hora do marasmo, abandona a tripulação. Após justa greve dos metalúrgicos, o Poder Judiciário reconheceu o caráter abusivo da demissão. A Renault acabou reintegrando os demitidos e, finalmente, realizou negociação coletiva com o sindicato. Com uma grande lição, declararam os metalúrgicos solidários no fim da greve: sem resistência organizada, não há direito que não seja banguela. Guilherme Uchimura, é advogado e membro da Rede de Advogados e Advogadas Populares


Brasil de Fato PR 4 Cidades

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Paraná, 13 a 19 de agosto de 2020

Cozinhas comunitárias se fortalecem em período de pandemia O momento de crise econômica, política e sanitária pauta novas ações nas periferias das capitais Giorgia Prates

O QUE É PERIFERIA VIVA?

Pedro Carrano

U

ma das ações organizativas em comunidades de Curitiba e região são as cozinhas comunitárias. Em Curitiba, um incentivador dessas realizações, a partir do fornecimento de alimentos da agricultura familiar, é o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que toda quarta-feira prepara cerca de mil marmitas, entregues gratuitamente para a população em situação de rua no centro da cidade e também em comunidades organizadas na capital, Campo Magro e Araucária. Um desses exemplos de solidariedade é a recente União de Moradores/as e Trabalhadores/as (UMT), surgida no bairro Novo Mundo, no Bolsão Formosa, onde cinco associações de moradores se apoiam. Até o momento foram entregues duas mil marmitas na região. O planejamento aponta para a construção de três cozinhas nesses locais.

Campanha de solidariedade nacional. Envolve organizações como MST, MPA, Levante Popular da Juventude, Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD), Consulta Popular, entre outros.

PÃO COMUNITÁRIO

A moradora Juliana Santos é participante e divulgadora da experiência, que beneficia famílias locais, carrinheiros de passagem e moradores em situação de rua. “Achei muito bom por ter sido a primeira experiência. Independentemente de o governo estar ajudando ou

não, mostra para as pessoas que estamos tentando ajudar”, avalia. A experiência de solidariedade incentivada pelo MST e pela campanha Periferia Viva acontece em todo o país. Notícias podem ser encontradas de Florianópolis (SC) a João Pessoa (PB).

A partir das doações comunitárias, na Vila Pantanal, no bairro Boqueirão, na Região Sul de Curitiba, a cozinha comunitária surgiu no final de março, e seis mulheres realizam duas vezes na semana, ao final do dia, a produção de pães e marmitas para a comunidade. “Todas as pessoas que recebem e que produzem criaram uma relação muito boa”, avalia Vanda de Assis, assistente social e militante popular.

Em ato na Prefeitura de Curitiba, população de rua reivindica medidas de proteção à Covid-19 Lizely Borges

O

rganizações sociais e movimentos de defesa dos direitos da população em situação de rua realizaram, na terça-feira (11), ato em frente à Prefeitura de Curitiba (PR) para que o poder público adote medidas emergenciais para proteção dessa população diante da Covid-19. “O objetivo é garantir direitos básicos à população em situação de rua, como água, alimentação, banheiros e acolhimento, em respeito ao que determina a Organização Mundial da Saúde para conten-

ção da pandemia”, destaca o membro do Movimento Nacional da População de Rua (MNPR) Leonildo Monteiro. Com mais de cinco meses da confirmação da Covid-19 na capital, o poder público ainda não formulou políticas efetivas para abrandar os impactos para populações vulneráveis. Questões como acesso à alimentação e local para higiene e acolhimento não têm sido atendidas na totalidade. Ação da defensoria A Justiça do Paraná acatou, em 24 de julho, pedidos das defensorias públicas do Es-

tado e da União em uma Ação Civil Pública (ACP) e determinou que o município garanta à população o acesso gratuito imediato a banheiros e alimentação, inclusive nos restaurantes populares, mas as demandas não foram implementadas. “Este ato assume um tom de denúncia do que não está sendo feito, para escancarar o que vem acontecendo com a população em situação de rua, que continua exposta, desprotegida e sem fornecimento de alimentação e acesso a banheiro”, destaca a coordenadora da organização Mãos Invisíveis, Vanessa Dalberto.

Giorgia Prates


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Brasil | 5

Pandemias estão ligadas à destruição de habitats naturais, diz ambientalista Para especialista, ser humano precisa rever sua relação com a natureza Divulgação

Ana Carolina Caldas

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Sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) emitiu, no primeiro trimestre deste ano, 28,7 mil alertas de supressão da cobertura vegetal na Amazônia Legal. A pandemia deveria diminuir a atividade humana na natureza, mas ocorreu o contrário, a destruição da floresta aumentou 55% em relação ao mesmo período do ano passado. Para o ambientalista Mauricio Savi, esse desequilíbrio no meio ambien-

te é um dos causadores das pandemias. Quando se destroem os habitats naturais das espécies, elas procuram novas formas de sobreviver. E entre essas espécies, os vírus têm alto poder de adaptação. Confira os principais trechos da entrevista:

Mas governos e empresários aproveitam o momento em que todos estão focados no problema e veem uma oportunidade de fazer ou se omitir em verdadeiros holocaustos da biodiversidade e de agravamento das condições do clima.

Brasil de Fato Paraná – Qual é a relação entre desmatamento e pandemias? Mauricio Savi – Uma pandemia por vírus está diretamente ligada à contaminação e destruição de habitats naturais. Este é um gatilho apontado por artigos e revistas científicas.

BDF – O que fazer para evitar futuras pandemias? A pandemia que vivemos agora traz algo coletivo. É uma doença coletiva e tem de ser tratada dessa forma. Quando há interrupção de processos econômicos vemos a melhora em ambientes naturais, atmosféricos e hídri-

cos. Porque é uma ação coletiva. Vivemos a maior crise da humanidade, a crise da biodiversidade. Quando dizimamos espécies e ambientes, favorecemos outras espécies oportunistas surgirem. Sem o ciclo natural, sem os devidos predadores, os vírus chegarão até outras espécies, como os seres humanos. Quando a humanidade toda para, é uma oportunidade de rever padrões, das formas de relação com a natureza. Se ficarmos esperando um milagre com a vacina e não fizermos essa reflexão, será impossível evitar outras pandemias.

Moradores da Ilha do Mel defendem reabertura só quando houver estrutura Ana Carolina Caldas

C

om o agravamento da pandemia no estado, o governo do Paraná anuncia a intenção de reabrir unidades de conservação para turistas, como a Ilha do Mel, fechada desde março e que não registra casos de Covid-19. Em 6 de agosto, Márcio Nunes, secretário estadual de Turismo, informou que está dialogando com o governador Ratinho Jr. sobre a retomada do turismo nesses locais no dia 15. A notícia gerou debates entre moradores e empreendedores da área.

Atualmente, a Ilha possui mais de mil moradores. Há habitantes que possuem pousadas e defendem a reabertura, porém com as condições adequadas. Já a Associação de Nativos da Ilha do Mel (Animpo) diz que, neste momento, não existe estrutura nem segurança para moradores e turistas. Em reunião, a comunidade debateu a reabertura e elaborou carta e abaixo-assinado, encaminhados à Prefeitura, governo do estado e ao Ministério Público defendendo a reabertura quando houver estrutura sanitária e médica, de triagem

e fiscalização. Para Felipe Andrews, secretário da Animpo, é preciso garantir estrutura digna a moradores e turistas. “Temos dois postos de saúde sem condições de atender casos de coronavírus, pois não têm UTI nem respirador. A fis-

calização aqui é feita pela Guarda Municipal e estamos com o carro elétrico que usam estragado. Temos uma triagem simples nos terminais de embarque e ainda nenhuma proposta de readequação para a recepção de pessoas de fora.” Lian Voigt

REABERTURA

Dona de pousada quer reabertura, mas com fiscalização Susi Albino, proprietária da Pousada das Meninas, está na Ilha há 28 anos e faz 5 meses que sua propriedade está fechada. “Estamos parados e o recurso que ganhamos no verão já acabou. Como não temos o termo de propriedade, ficou impossível conseguir linhas de crédito. E não tem até agora política pública para nos ajudar”, relata. Ela defende a reabertura, mas quer que os governos garantam estrutura adequada e fiscalização. “Nós, comerciantes, já enviamos propostas de protocolo para receber os turistas. Mas até agora não tivemos nenhum retorno e nem proposta de como será feita a fiscalização”, conta.


Brasil de Fato PR 6 Direitos

“Parece que indígena não vale nada”, diz mãe de guarani assassinado no Oeste do Paraná Lia Bianchini

E

m abril, o Brasil de Fato Paraná noticiou o assassinato de Cristian Tupã Pepo Martins, de 20 anos, em Itaipulândia, Oeste do Paraná. À época, indígenas guaranis da aldeia Aty Mirim, onde vivia, denunciaram descaso na solução do crime. Cinco meses depois, sua família relata omissão e falhas na investigação. Cristian foi assassinado a facadas. O acusado do crime é o ex-marido da mulher com quem estaria envolvido amorosamente. O crime está sendo tratado como homicídio simples, com motivação passional. Para dona Maria Lucia Tacua Peres, mãe de Cristian, os últimos cinco meses foram perdidos em busca de respostas. Ela relata que a investigação está recheada de inconsistências e omissões. No dia do crime, Cristian saiu da aldeia rumo à casa de sua irmã, em Itaipulândia, e voltaria no dia seguinte. Levou uma mochila com uma muda de roupa. Às 20h46 dona Maria conseguiu o último contato. Depois, as mensagens já não tinham confirmação de recebimento. Por volta das 23h, seu pai recebeu ligação do Hospital informando a morte. Na casa da irmã, o pai encontrou a mochila que ele levara, com parte das roupas, além de uma panela com a comida que estava preparando. O corpo de Cristian foi encontra-

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do a cerca de 2 quilômetros dali, próximo à casa da mulher com quem estaria envolvido. O depoimento do acusado relata uma “luta corporal”, na qual teria desferido uma facada em Cristian. O laudo pericial, porém, informa cinco facadas no peito e uma no pescoço. O local do crime não foi isolado e a perícia aconteceu um mês após, já tendo lá um novo morador. Segundo a Polícia Civil, “não há câmeras de segurança” e a única testemunha presencial, a mulher com quem Cristian estaria envolvido, “fugiu do local e mudou-se da cidade para lugar incerto e não sabido”. Dona Maria Lúcia conta que na região tem sido comum crimes contra indígenas sem soluPUBLICIDADE

ção. Em 2015, um sobrinho seu foi morto. Sem investigações e sem culpados. Em 2018, um parente guarani da Aty Mirim foi esfaqueado por um não indígena. Também sem punição. “Agora mataram meu filho e ninguém investiga”, diz. A mãe acredita que, se o crime tivesse sido cometido contra um não-indígena, seria diferente. “Com certeza iam vir correndo. Como é indígena eles não estão nem aí pra investigar. Parece que só porque é indígena a gente não vale nada”, afirma. O acusado do assassinato confessou o crime, mas continua em liberdade. A audiência para oitiva das testemunhas de acusação está marcada para 29 de março de 2021.

Parada LGBTI de Apucarana traz democracia como tema Divulgação

Lia Bianchini “Já que não podemos sair fisicamente, a gente tem que ocupar os espaços virtualmente”. A fala é de Renata Borges, uma das organizadoras da Parada LGBTI de Apucarana. Para seguir as orientações de prevenção ao coronavírus e evitar aglomerações, este ano a parada será realizada em formato “on-line”, no domingo (16). Com o tema “democracia”, a Parada LGBTI de Apucarana pretende levantar o debate sobre as diferentes formas de opressão que atravessam a comunidade de pessoas lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transsexuais e interssexo (LGBTI). A programação envolve apresentações culturais e debates sobre pautas LGBTI em discussão no Superior Tribunal Federal, democracia e empregabilidade. “Quando a gente fala de democracia, de que todos são iguais perante a lei, isso não se estende a nós [LGBTI]. E quando a gente faz esses eventos para debater, as pessoas falam que é ‘mimimi’. Mas não é, a gente está falando de corpos excluídos do processo democrático. Ainda por cima, esse corpo pode sofrer muito mais se PUBLICIDADE

for um corpo negro, periférico. A gente tem o problema da LGBTfobia estrutural aliada ao racismo estrutural”, explica Renata. Segundo a organizadora, um dos maiores desafios em produzir um evento on-line é conseguir “romper a bolha” e falar para pessoas que não têm intimidade com os debates da comunidade LGBTI. Por isso, uma das estratégias foi convidar para a programação pessoas de fora da comunidade, como, por exemplo, o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT-PR), Márcio Kieller, e o deputado estadual Arilson Chiorato (PT). O evento vai ser transmitido pela página de Facebook “Parada LGBTI Apucarana”, das 16h às 20h.


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Brasil de Fato PR 7 | Cultura

Paraná, 13 a 19 de agosto de 2020

Espaço cultural promove minicurso sobre cobertura jornalística da pauta indígena Redação

O

Espaço Cultural Alfaiataria promoverá neste mês de agosto uma série de minicursos on-line de diferentes linguagens e temas ligados à arte, cultura e comunicação. Cada semana terá um tema, e a inscrição pode ser feita no site www.alfaiataria.art Na primeira série de cursos, a jornalista Letícia Leite fará uma introdução ao Jornalismo e Povos Indígenas, respondendo e orientando alunos a partir das seguintes questões: Onde

Leticia Leite

estão os povos indígenas no Brasil e quais os grandes desafios destes povos diante de um governo declaradamente antiindígena? Quais os erros mais comuns que a imprensa comete ao falar sobre povos indígenas? Como localizar as melhores fontes para falar com e sobre povos indígenas em todas as regiões do Brasil. Serão apresentados durante a oficina cinco podcast feitos para povos indígenas: Copiô, Parente, Wayuri, Áudio do Beiradão, Coiab Informa e Áudio mebêngôkre da rede Xingu+

Letícia Leite É jornalista e mestra em Sustentabilidade Junto a Povos e Terras Tradicionais pela Universidade de Brasília (UNB). Criou, produz e apresenta o Copiô, Parente - o primeiro podcast feito para povos indígenas e povos da floresta no Brasil. O podcast traz um resumo da pauta de Brasília, que afeta a vida dessas populações. Durante a pandemia, o podcast está dedicado às questões de prevenção e enfrentamento da Covid-19 nesses territórios.

DICAS MASTIGADAS Por Edimara Osachuki

Cogumelo Paris cremoso Tempos O tempo não é uma linha contínua, mas um cruzamentos de fios, uma rede que nos enreda, uma trama que nos reclama. Num desses fios ainda sou uma criança. Olho os adultos e não os entendo. Por que tanta pressa, tanta correria? Em outra linha sou um ancião. Sábio. Apaziguado. No entanto, mais ao lado, este mesmo ancião é um velho amargurado, praguejando contra a vida que poderia ter sido e que não foi. Em outra parte do tecido, sou um jovem - ora afoito ora melancólico. Conversando numa festa. Voltando para casa sozinho. Chutando pedras no caminho. Ali eu estou ainda nascendo. Mais adiante estou escrevendo, concentrado, o olhar perdido. Aproximo-me para ver o que ele (eu) está escrevendo. Ora, é este texto. O tempo não é uma linha contínua. Mas uma rede, uma trama, um sudário. Como um texto. Como este texto.

Ingredientes Uma bandeja de cogumelos paris orgânicos. Uma cebola orgânica média. Dois dentes grandes de alho orgânico. Aceto balsâmico. Óleo de girassol. Uma caixa de creme de leite. Sal a gosto. Tempero a gosto.

Edimara Osachuk

Por Otto Leopoldo Winck

A cada semana, publicamos receitas com produtos agroecológicos da rede colaborativa Produtos da Terra, da Sinergia Alimentos Saudáveis e da Rede Mandala. Parte dos ingredientes pode ser encontrada no site produtosdaterrapr.com.br

Modo de Preparo Lave e corte os cogumelos em fatias finas e reserve. Prepare o alho picadinho e a cebola em tiras. Numa frigideira alta, coloque o óleo para aquecer e nele o alho para dourar. Acrescente a cebola, frite até ficar transparente. Acrescente os cogumelos, sal e temperos. Na sequência, o aceto balsâmico. Vá mexendo e, depois de dar uma fritadinha, acrescente um fundo de copo de água e feche a panela, deixando o cogumelo cozinhar por mais ou menos 5 minutos. Estando tudo cozido, acrescente o creme de leite, mexa para incorporar, desligue e coloque sobre arroz ou massa.


Brasil de Fato PR 8 Esportes

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Paraná, 13 a 19 de agosto de 2020

Covid-19 contamina com incerteza o campeonato brasileiro Cerca de 150 jogadores já foram diagnosticados com o vírus. Partidas podem ser adiadas em cima da hora Frédi Vasconcelos

A

partida entre Goiás e São Paulo, no último domingo, foi a prova de que o campeonato Brasileiro deste ano está contaminado pela incerteza. O time paulista foi até Goiás, entrou em campo, aqueceu e, minutos antes do horário do jogo, 16h, foi informado de que a partida não ocorreria porque o Goiás tivera nove jogadores “sus-

pensos” por contaminação pela Covid-19 e não tinha como colocar um time em campo. Mas não é só. Levantamento feito pelo “Globo Esporte” apurou que, até o fechamento desta edição, havia 151 casos confirmados de atletas que tiveram contato com o vírus nos vinte times da Série A. Pelo estudo, no Corinthians são 23 jogadores. No Goiás, 22. Há um caso interessante tamDivulgação

Com jogadores do São Paulo já em campo, partida contra o Goiás foi adiada

bém relatado nesta semana com outro time goiano, o Atlético. Na rodada do meio de semana enfrenta o Flamengo e, em princípio, teria quatro jogadores “suspensos” pelo contato com o vírus. O time recorreu à CBF com o argumento de que os atletas estavam testando positivo, mas tinham sido contaminados há mais de dez dias, estavam assintomáticos e não corriam mais o risco de transmitir a doença. A CBF aceitou o argumento e, em princípio, esses jogadores poderão entrar em campo. O Flamengo, por meio de sua direção, diz que “não tem o que fazer” e entrará em campo mesmo com essa preocupação. Mudança de protocolo Com toda essa confusão, a CBF anunciou mudanças no protocolo de testagem. Todos os jogadores do elenco serão testados, não mais só os relacionados para a partida. Serão também utilizados laboratórios nos locais das sedes dos times, além do Hospital Albert Einstein, em São Paulo.

ELAS POR ELA Fernanda Haag

O que será que será Na coluna da semana passada informei as datas de retorno das competições nacionais do futebol feminino, anunciadas pela CBF, o que dá impressão de que há alguma normalidade ou até garantia para a modalidade. Mas como falar de normalidade com a chance de termos jogadores atuando em campo após terem testado positivo para Covid? Assim, incerteza talvez seja a palavra que melhor define a conjuntura atual, ainda mais forte quando falamos do futebol de mulheres, mais precarizado e muitas vezes invisibilizado. Durante a pandemia, testemunhamos clubes não repassarem verbas da CBF destinadas ao salário (ou ajuda de custo) das jogadoras. Em entrevista recente ao “Huffpost Brasil” a artilheira Cris Rozeira fez a seguinte pergunta: “Quem é que eles vão cortar primeiro?” Revelando o medo atual das atletas dos clubes encerrarem as atividades de seus times femininos. É preciso estarmos atentos e fortes, pois o futebol de mulheres não pode retroceder e deve ter garantias concretas de continuidade e segurança, sobretudo na pandemia.

30 dias de diálogo

Nos deixem sonhar

Era hora de voltar?

Por Cesar Caldas

Por Marcio Mittelbach

Por Douglas Gasparin Arruda

Há quatro correntes políticas internas no Coritiba. A autodenominada ala jovem (que ora rejeita a titulação) elegeu os presidentes Bacellar e Samir. Seu núcleo-duro (que buscou votos nas duas campanhas) usa o velho expediente de aguardar o desastre para, de última hora, alegar ser oposição “desde criancinha”. Há os que tentam convencer o ex-presidente Vilson a promover um segundo reerguimento do clube. Os descrentes nisso querem a assunção da tarefa por Renato Follador. João Buffara “Jango” Lopes tem raio-X do Coxa e o apoio de Betenheuser Jr. Especulam-se, além dos quatro, o sempre lembrado João Vialle e o novato Paulo “Mago”. Disposição para se sentar à mesa, transformando fragmentação em algum consenso, exige iniciativa, calendário, propostas escritas e abertas até o aniversário do clube (12/10). Quem não o fizer, trabalha contra o Coritiba.

A série B mal começou, mas já mostrou a que veio. Mesmo com tantas limitações financeiras, o Paraná Clube precisou de duas rodadas para provar que pode ser um time competitivo. Em Aracajú, na sexta passada (6), o tricolor sofreu da “síndrome do 2 a 0”, tomou o gol de empate aos 48 minutos do segundo tempo depois de estar ganhando por dois a zero fora de casa. Já contra o Avaí, na terça (11), fomos ameaçados na maior parte do tempo, mas nos saímos bem. Os primeiros três pontos foram conquistados através de um gol contra aos 39 minutos da segunda etapa. Independentemente se as atuações foram convincentes, o fato é que na sexta (14), às 21h30, o Paraná enfrenta o Juventude em um confronto direto pelo G4. Não estaremos presentes fisicamente, mas a nossa paixão e as nossas energias positivas estarão no gramado da Vila, como sempre.

Talvez o fato que mais tenha chamado a atenção na estreia do Athletico no Brasileirão tenha sido a polêmica envolvendo os direitos de transmissão televisiva. Diante dos impasses envolvendo os times que não fecharam acordo com a Globo, acabou que a partida contra o Fortaleza só foi transmitida via rádio. Tirando as pessoas que trabalharam no dia, ninguém viu a boa vitória atleticana no Castelão. Pelo Twitter, Petraglia chegou a anunciar a transmissão por “streaming” da próxima partida, contra o Goiás, mas logo teve que voltar atrás. Por conta da guerra entre Turner, clube e a Globo, a segunda partida também não será transmitida. Para o time goiano, o problema é outro: 12 desfalques por conta do coranavírus. Estádio sem torcida, jogo sem transmissão e um time quase sem jogadores. Era hora de voltar?


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