Brasil de Fato PR - Edição 186

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PARANÁ

Ano 4

Edição 186

1 a 7 de outubro de 2020

distribuição gratuita

Luta por moradia e alimento

A COBERTURA DO BRASIL DE FATO PARANÁ E AS ELEIÇÕES

Campanhas de solidariedade e contra despejos se unem na pandemia Movimento | p.4 Giorgia Prates

Federal muda candidatos a reitor Votação interna inclui novos nomes em lista tríplice Educação | p.5 Giorgia Prates

www.brasildefatopr.com.br

Educação | p. 5

Formação militar Projeto de Ratinho tira dinheiro de outras áreas da educação

Editorial | p. 2

Salles extermina o futuro Ministro não toma medidas de proteção ambiental

As eleições municipais de 2020 representam a tentativa de Bolsonaro enraizar seu projeto nas cidades, com a sua pauta marcada pelo favorecimento aos mais ricos, retirada de direitos dos trabalhadores, pela dependência da economia, prioridade ao agronegócio exportador, e não à qualidade de vida do povo brasileiro. Os riscos à democracia, os ataques contra a imprensa, contra grupos sociais e contra os trabalhadores representam ameaças seríssimas ao futuro. O governo Bolsonaro, na realidade, é a completa ausência de futuro para toda uma geração de brasileiros. Diante de uma oposição ainda fragmentada, o posicionamento do Brasil de Fato Paraná, neste ano, será amplo, aberto às propostas das diferentes candidaturas comprometidas com a pauta progressista, de esquerda. Por esquerda entendemos a defesa dos direitos dos trabalhadores; o combate a qualquer forma de opressão e preconceito; defesa do patrimônio público, das empresas estatais e do investimento na economia; defesa da soberania nacional, do meio ambiente e da vida acima dos interesses de lucro; defesa da educação e da saúde pública. Ao mesmo tempo, denunciaremos os projetos que fortalecem a pauta autoritária de Bolsonaro. Tudo isso a partir de informação de qualidade e de combate às fake news. Queremos o debate de projetos, a partir dos problemas verificados na realidade brasileira. Como sempre, apresentando saídas concretas, coletivas, da classe trabalhadora organizada. Este é o nosso compromisso.


E

Boiadas seguem passando

m maio deste ano, Ricardo Salles foi desmascarado com a ampla divulgação das gravações em vídeo de uma reunião ministerial. O ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro afirmava aos seus pares que a devastadora crise sanitária da Covid-19 era uma oportunidade para “ir passando a boiada” da desregulamentação da proteção ambiental. Mesmo com as críticas vindas de diversos setores da sociedade brasileira e da comu-

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Paraná, 1 a 7 de outubro de 2020

nidade internacional, Salles não apenas permaneceu no cargo, tornando ineficiente os mecanismos de fiscalização das normas ambientais e sendo omisso em relação ao fogo e às cinzas de destruição dos biomas que deveria preservar. Em novo ataque, promoveu agora um “revogaço” de normas protetivas dos rios, dos lagos, das restingas e dos manguezais. As práticas deste governo colocam a sobrevivência das

populações mais pobres em risco e não enxergam os resultados nefastos a longo prazo da devastação das matas e dos rios para a economia nacional. O escritor uruguaio Eduardo Galeano escreveu uma vez que, se a natureza fosse um banco, já teria sido salva. Salles e Bolsonaro assinariam embaixo, tocando o berrante para agradar o agronegócio da soja e a demanda de mercado de outros países, em lugar do nosso povo.

SEMANA

Volta às aulas é bom para quem?

OPINIÃO

EDITORIAL

Brasil de Fato PR 2 Opinião

Paula Zarth Padilha

Jornalista em Curitiba, diretora executiva da FENAJ e do SindijorPR, Mestre em Linguagens pela UTFPR

U

ma incerteza potencializa a angústia de mães trabalhadoras com filhos em idade escolar nesse contexto de pandemia: após mais de seis meses de isolamento social, com a presença das crianças em casa, avançam tratativas para reabertura das escolas. O incômodo surgiu no início do mês de agosto, quando começou-se a estudar, por parte do poder público aqui no Paraná, pretensos protocolos sanitários de retorno às aulas a partir de setembro. Não existe um binarismo sobre de um lado estarem os proprietários de escolas particulares e de outro as mães e responsáveis pelos estudantes, pois existem todos os funcionários e professores de escolas, as esferas públicas e privadas, as diversas faixas educacionais, o acesso ou não virtual aos conteúdos, as ferramentas utilizadas, a disponibilidade dos responsáveis em

permanecer em casa e dar suporte escolar etc. Não é simples, mas podemos partir de dados. No início de setembro, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) divulgou uma pesquisa ampla, com respostas de mais de 600 mães jornalistas de todo o País, sobre as condições de trabalho na pandemia. Dos resultados, ainda que quase 60% estejam em home-office e que 85,8% declararem se sentirem sobrecarregadas, 88,39% não concordam com o retorno das aulas presenciais. Podemos trazer a discussão para nosso estado e ampliar o diagnóstico para outras mães trabalhadoras, para além da categoria das jornalistas profissionais. De acordo com pesquisa encampada pela CUT Paraná, divulgada no Encontro Estadual de Mulheres da Central Única das Trabalhadoras, em que 80% das respondentes trabalham com carteira assinada, mas apenas 38,5% estejam trabalhando em home-office, 86,1% não concordam com o retorno das aulas presenciais.

EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 186 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Paula Zarth Padilha, Anna Sandri e Letícia Freitas ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Douglas Gasparin Arruda REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com


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FRASE DA SEMANA

CUIDADO! IRRESPONSÁVEIS TRABALHANDO!

Curitiba é a capital com mais candidaturas a prefeito no país No Paraná, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-PR) contabilizou mais de 36 mil pedidos de registro de candidaturas. São 1.340 candidatos a prefeito e 338.111 concorrem ao cargo legislativo. Curitiba é a capital brasileira com mais candidaturas ao cargo de prefeito. São 16 postulantes. Devido ao Covid-19, a votação, presencial, foi transferida para 15 de novembro, em primeiro turno, e 29 de novembro, se houver a necessidade de segundo turno. Em todo o Brasil, constam 545 mil pedidos de registro no sistema. São seis mulheres e dez homens postulantes ao cargo de prefeito da capital. A quantidade se deve a dois fatores: cláusula de barreira para 2022, que pauta um número mínimo de partidos com representação, e maior vitrine das candidaturas a vereador ou vereadora. Confira as candidaturas na capital: Camila Lanes (PCdoB), Carol Arns (Podemos), Christiane Yared (PL), Diogo Furtado (PCO), Dr João Guilherme (Novo), Eloy Casagrande (Rede), Fernando Francischini (PSL), Goura (PDT), João Arruda (MDB), Letícia Lanz (Psol), Marisa Lobo (Avante), Paulo Opuszka (PT), Professora Samara (PSTU), Professor Mocellin (PV), Rafael Greca (DEM) e Zé Boni (PTC).

Essa é uma das charges da personagem argentina de quadrinho mais famosa, Mafalda, cujo criador, Quino, morreu na quarta, 30, aos 88 anos

NOTAS BDF

Por Frédi Vasconcelos

Guedes desequilibrado

Massacre aos índios

Depois de ser acusado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, de que estaria fazendo acordo com a esquerda para travar as privatizações no Congresso, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, declarou à jornalista Andréia Sadi, da GloboNews, que: “Paulo Guedes quer desviar o foco do debate do teto de gastos. Ele não tem base, não tem voto para aprovar privatização nem CPMF. E a culpa é dos outros?”. Ele chegou a dizer que o ministro está “desequilibrado”.

Dados do “Relatório Violência Contra os Povos Indígenas do Brasil” – sobre 2019, publicado pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), mostra que, no primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro, houve “a intensificação das expropriações de terras indígenas, forjadas na invasão, na grilagem e no loteamento... causando uma destruição inestimável.”

Imposto zero para Trump O jornal “The New York Times” publicou, na semana do primeiro debate para as eleições presidenciais, que o bilionário, Donald Trump, não pagou impostos em 10 dos 15 anos antes de chegar à Presidência. Em 2016 e 2017, pagou apenas 750 dólares anuais. A estratégia foi usar brechas na lei para compensar “prejuízos” de determinadas empresas de seu grupo. A defesa do presidente disse que ele “pagou milhões de dólares em impostos”, mas se nega a mostrar as declarações.

Terra em chamas Segundo o relatório: A “explosão” de incêndios criminosos que devastaram a Amazônia e o Cerrado, em 2019, deve ser inserida na perspectiva de esbulho dos territórios indígenas. “As queimadas são parte essencial de um esquema criminoso de grilagem, em que a ‘limpeza’ de extensas áreas de mata é feita para possibilitar a implantação de empreendimentos agropecuários... Os invasores desmatam, vendem as madeiras, tocam fogo na mata, iniciam as pastagens, cercam a área e, finalmente, colocam gado e, posteriormente, plantam soja ou milho.”

COLUNA DA

JUVENTUDE Aborto legal e seguro para não morrer No mês de agosto deste ano, uma menina de 10 anos, que foi estuprada, viajou de São Mateus (Espírito Santo) até Recife (Pernambuco) para conseguir fazer um aborto, que é permitido pela lei nos casos de estupro. A gestação para uma criança dessa idade pode acarretar, ainda, inúmeros prejuízos para sua saúde. Além de todas essas dificuldades para realização do procedimento médico, a menina enfrentou grupos conservadores, que divulgaram seus dados pessoais e tentaram impedir o aborto. Estima-se que o aborto seja a quarta causa de morte materna no Brasil. Os riscos para a saúde das pessoas que abortam são agravados com a criminalização, já que não impede a realização dessa prática, que é feita em condições extremamente precárias, ampliando o risco de morte. A criminalização do aborto é ainda mais nociva para as mulheres negras, que possuem duas vezes e meia mais chances de falecimento em decorrência de aborto do que as mulheres brancas, conforme dados da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Em razão da importância dessa questão para a preservação da vida, o dia 28 de setembro é marcado como o dia de luta pela descriminalização do aborto na América Latina e Caribe. Anna Sandri, é advogada, militante do Levante Popular da Juventude e da Consulta Popular. Letícia Freitas, é militante do Levante Popular da Juventude e estudante de Ciências Sociais


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Contra despejos e por soberania alimentar

Pedro Carrano

Hilma de Loudes Santos atua há 25 anos nos movimentos de moradia Pedro Carrano

A

s primeiras lutas de Hilma de Loudes Santos por moradia foram em Almirante Tamandaré, região metropolitana de Curitiba, em 1995. Moradora da Vila União, comunidade que luta até hoje por regularização fundiária, Hilma sabe a importância do direito à moradia. Dirigente do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM), ressalta a importância da atual campanha Despejo Zero, da qual participou em 2005 e que, neste momento de pandemia, é reeditada como forma de denunciar despejos força-

dos que têm acontecido nos territórios urbanos e rurais. “Não temos acesso a esse direito e há muita dificuldade para a regularização. A questão do despejo voltou com tudo. O despejo é só mais uma desculpa para tirar a população que constrói a estrutura do bairro. Depois de tudo feito, vem o poder público dizer quem é o dono. O cartório, os advogados, arrumam documentos falsos e as nossas famílias passam a ser despejadas. Nós, que estamos perdendo nossas casas, temos que nos unir”, critica. Participando como visitante para conhecer a experiência de cozinha comuni-

tária da União de Moradores e Trabalhadores (UMT), que atende todas às quintas-feiras, às 11h30, no chamado bolsão Formosa, no bairro Novo Mundo, Hilma ressalta a importância da preocupação com a produção de

alimentos saudáveis e com a soberania alimentar. “Eu acho que só quando nós formos capazes de saber que alimento é direito, e não pode ser só comércio, a coisa vai mudar. O alimento é um direito humano, toda

pessoa tem que se alimentar. Através dos produtores, caso do MST, exigindo que as prefeituras doem terras e incentivem que as pessoas plantem. A fome no mundo será maior se depender do agronegócio”, afirma.

Seguir lutando contra a privatização dos Correios Pedro Carrano

I

van Carlos Pinheiro mora em Curitiba, já atuou em todos os setores da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) e atuou também como secretário-geral no sindicato local (Sinticom) e na Federação Nacional dos Trabalhadores dos Correios (Fentect). O governo Bolsonaro retirou uma série de direitos desses trabalhadores, mesmo após 35 dias de greve. Para Pinheiro, a mobilização envolveu a categoria e a luta deve seguir contra a privatização da empresa, já sinalizada pelo governo.

Brasil de Fato – Qual é o balanço dos 35 dias de greve em um período de difícil mobilização social? Ivan Pinheiro – Foi um momento importante, até porque muitas pessoas que não víamos antes participaram. Neste momento o trabalhador sentiu a questão do bolso, a proposta da empresa junto com o governo realmente afetou a remuneração dos trabalhadores, tanto salarial quanto benefícios. Foi uma das maiores greves da categoria, até comparando à década de 1980, na ditadura, não foi tão massivo. Todos

os estados aderiram, ao longo de 35 dias de greve. Com o fim da greve, a tentativa de privatização dos Correios é um risco? Risco forte porque, desde o período de 2016, quando Temer assumiu, os serviços vêm sofrendo precarização forte. A própria Lei de Terceirização (Nº 13.429/2017) precarizou muito a distribuição domiciliar. Além das campanhas que colocam a sociedade contra a empresa, a gente vê risco grande da privatização. A esperança é que a privatização de uma empresa-mãe teria que passar pe-

lo Congresso Nacional. Foi formada também a Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Correios, com partidos de centro e direita, que não veem o caminho da privatização. Agora, o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) e (proposta do governo Bolsonaro) de marco legal para serviços postais é uma forma mais fácil de quebrar as garantias constitucionais, a universalização, o governo quer quebrar isso. O governo critica os Correios, mas a empresa é usada para todas as atividades de logística, devido à nossa eficiência para chegar a qualquer local do Brasil.


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UFPR define lista tríplice, com eleição via colégio eleitoral para reitor

Novos nomes foram inscritos depois do resultado da consulta aberta Ana Carolina Caldas

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consulta aberta à comunidade para escolher os candidatos à Reitoria da Universidade Federal do Paraná (UFPR) ocorreu nos dias 1 e 2 de setembro de 2020, dando a vitória à chapa encabeçada pelo atual reitor, Ricardo Marcelo. Mas o resultado não foi consolidado devido a divergências

sobre a composição da lista tríplice e a negativa do segundo colocado, o professor Horácio Tertuliano Filho, em retirar seu nome. Após reunião do Conselho Universitário, definiu-se por abrir nova consulta interna, que aconteceu na quarta, 30/9. As chapas escolhidas para compor a lista tríplice foram: o atual reitor, Ricardo Marcelo, e a atual

vice, Graciela Bolzon. A pró-reitora de Assuntos Estudantis, Maria Rita de Assis, e a diretora de Comunicação, Regiane Ribeiro. A outra chapa foi do diretor de Educação, Marcos Ferraz, e o diretor de Ciências da Saúde, Nelson Rebellato. O professor Horácio Tertuliano, que concorreu na consulta aberta, não teve votos suficientes nessa eleição interna. Divugação

Professores e funcionários fizeram manifestações por eleições na Federal

OUTRAS VOZES

O que dizem técnicos e professores Por conta do processo conturbado vivido na Federal, o Brasil de Fato Paraná conversou com representantes de técnicos e professores. Para o presidente da Associação dos Professores da Universidade Federal do Paraná (Apufpr), Paulo Vieira Neto, a escolha de outro nome que não seja o mais votado é uma afronta. “As pressuposições democráticas que sempre seguimos foram destruídas por Horácio e Bolsonaro. O primeiro, ao não retirar seu nome, e o segundo indicando sistematicamente qualquer oportunista que prometa adesão ao seu programa”, disse. Representante dos técnicos, a coordenadora geral do Sindtest, Mariane Siqueira, é taxativa ao defender a autonomia do Conselho Universitário. “Defendemos a autonomia do COUN, assim como sempre foi em outras eleições. Nossa reivindicação é de que o nome mais votado na consulta esteja em primeiro nessa lista”, diz. Em assembleia realizada na terça, 29, os técnicos votaram por unanimidade pelo respeito à tradição democrática.

Governistas aprovam desviar R$ 65 milhões para militarizar escolas Projeto enviado por Ratinho Jr. prevê gastos com uniformes e diárias de militares Ana Carolina Caldas

A

pesar da posição contrária de professores e alunos da rede estadual de ensino e da bancada de oposição ao governo na Assembleia Legislativa do Paraná, os deputados da base aliada aprovaram o projeto de lei do governador Ratinho Jr. que prevê destinar 65 milhões de reais das verbas da educação para militarizar 200 escolas estaduais.

Pelo texto, recursos antes destinados ao atendimento de toda e rede estadual serão divididos para a implantação de colégios sob o modelo militar. Segundo relatório do deputado Arilson Chiorato (PT) serão reduzidas verbas de áreas como a formação continuada dos profissionais da educação, o Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) e a realização dos jogos escolares. De acordo com o parlamentar, a Secre-

taria da Educação (Seed) informou que dos R$ 65 milhões por ano gastos, R$ 40,3 milhões irão para a aquisição de uniformes e R$ 25,5 milhões para o pagamento de diárias aos militares. Sem diálogo Segundo o presidente da APP Sindicato, Hermes Leão, “Ratinho Jr. e seu secretário da Educação estão aproveitando da pandemia que assola o estado para promover uma polí-

tica autoritária. Com o apoio de deputados aliados, há um verdadeiro ‘tratoraço’ em projetos de lei que afetam diretamente a educação pública.” Durante a votação, a APP Sindicato e a União Paranaense dos Estudantes (UPES) promoveram ato simbólico em frente à Assembleia, repudiando a proposta. Em nota, o Conselho Estadual da Juventude também divulgou sua posi-

ção contrária ao projeto. “O Conselho Estadual da Juventude do Paraná (Cejuv) vem a público manifestar o repúdio ao ato do envio à Assembleia Legislativa do Estado do Paraná do Projeto de Lei que autoriza o funcionamento de até 200 colégios cívico-militares, sem realizar amplo debate dessa questão com o nosso Conselho, ferindo a participação social das crianças, adolescentes e jovens,” diz a nota.


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Começa a corrida eleitoral para vereadores e prefeitos Toda semana, o Brasil de Fato Paraná entrevista candidatos em programa ao vivo de Cascavel e Terra Roxa. Desse total, 10 foram mulheres, das mais variadas origens e atuações: passaram pelo programa mulheres negras, LGBT, servidoras públicas, militantes populares. Agora, com a formalização das candidaturas, o programa continua e irá abranger também candidaturas à Prefeitura. O compromisso, sempre, é mos-

Lia Bianchini

N

o dia 21 de agosto, ainda no período de pré-campanha, o Brasil de Fato Paraná iniciou uma série de entrevistas com pré-candidatos a vereador no Paraná, no programa BdF Onze e Meia. De lá até agora, já foram 12 entrevistados, de Curitiba e do interior do estado, das cidades

trar nomes do campo progressista e popular. O programa vai ao ar às sextas-feiras, às 11h30, na página de Facebook e no canal no Youtube do Brasil de Fato Paraná. No programa da última sexta (25), as entrevistadas foram Vanda de Assis, candidata pelo PT, e Elza Campos, do PCdoB, ambas candidatas em Curitiba.

CONHEÇA AS CANDIDATAS E O QUE FALARAM

Vanda de Assis - PT

Divugação

Assistente social, secretária de formação do PT-Curitiba, integrante do Centro de Formação Urbano Rural Irmã Araújo (Cefuria) e militante do movimento de Economia Solidária. Esta é a primeira vez que Vanda de Assis se candidata a vereadora. O motivo, segundo ela, é a necessidade de que as demandas populares tenham voz nos espaços de representação. “A população vem sendo usada, colocada em segundo, terceiro planos. Vivemos uma política que não escuta as pessoas. Nós estamos defendendo que a população precisa retomar esses espaços, para avançarmos para a democracia participativa”, diz. Para Vanda, sua candidatura surge também da necessidade de tornar a Câmara de Vereadores um local mais representativo para as mulheres. “Nós vemos uma sociedade toda construída por mulheres. Onde tem política com qualidade coletiva, tem ação de mulheres. Quem defende a transformação social, precisa reconhecer o papel das mulheres”, afirma Vanda.

Elza Campos - PCdoB

Divugação

Também assistente social, professora e mestre em Educação e Trabalho, Elza é membro da Secretaria Estadual de Mulheres do PCdoB/PR e dirigente da União Brasileira de Mulheres (UBM). Para ela, um dos papeis fundamentais de uma vereadora é ouvir a população e incentivar a participação popular na política. Sua candidatura tem a intenção de atender às demandas invisibilizadas. “Ocupar um espaço de representação é colocar voz coletiva nesse espaço político. Curitiba foi batizada como cidade modelo, mas carrega uma profunda segregação social, racial, desigualdades enormes. Queremos que os recursos possam ser distribuídos igualmente”, diz. Para Elza, a pandemia tem mostrado que a atual gestão de Curitiba reproduz o modelo Bolsonaro de governar, priorizando interesses econômicos. “Existe uma orientação simbólica do governo Bolsonaro, que é reproduzida nos governos estadual e municipal. Os interesses econômicos falam mais alto que a vida”, pontua.

ELEIÇÕES

Conheça candidatas (os) no programa BDF 11h30 Até as eleições, candidatos a vereador e a prefeito do campo progressista no Estado do Paraná serão entrevistados pelo programa BDF 11h30, toda sexta-feira, às 11h30, pelo Facebook e canal do BDF-PR no Youtube. Acompanhe e compartilhe. PUBLICIDADE


Brasil de Fato PR 7 | Cultura

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Paraná, 1 a 7 de outubro de 2020

Projeto “Zig Zag” quer publicar trabalhos e ajudar profissionais das artes Proposta é reunir diversas manifestações e publicar com financiamento coletivo Redação

A

s idealizadoras do Espaço Cultural Alfaiataria, as artistas Janaina Matter e Luana Navarro, criaram o projeto “Zig Zag – publicação de artistas”, que tem como objetivo publicar trabalhos de artistas paranaenses e arrecadar recursos para a manutenção do espaço e ajudar profissionais que tiveram seus trabalhos interrompidos na pandemia. Para o projeto se tornar realidade, existe uma campanha na plataforma de financiamento coletivo “Benfeitoria”, em que é possível contribuir com valores de 20 a mil reais. Em troca, quem ajuda recebe produ-

tos artísticos e garante horas para participar de eventos e cursos. O Zig Zag é uma publicação de artistas proposta pela Alfaiataria para seguir conectando artistas e público, enquanto não é possível fazer encontros. Serão cinco edições (divididas em metas), cada uma com o trabalho de dois artistas, que poderão ser desenhos, ilustrações, fotografias, reflexões, ficções ou não ficções e o que mais estiver acontecendo, como forma de registrar artisticamente impressões sobre o mundo atual. As cinco edições serão feitas em formato tabloide revista e em papel jornal com oito páginas, com tiragem de 500 exemplares. Os

exemplares ficarão disponíveis para venda e parte será distribuída gratuitamente para bibliotecas e universidades públicas e apoiadoras e apoiadores do projeto.

Para ficar por dentro Para participar da campanha, acesse https:// benfeitoria.com/zigzag Saiba mais sobre o Alfaiataria aqui https://www. alfaiataria.art/ Divugação

Mulherio das Letras faz encontro virtual

D

e 6 a 12 de outubro acontece o I Encontro Nacional Virtual do Mulherio das Letras. O evento reúne escritoras e artistas, terá oficinas, rodas de conversa e mesas de discussão e será transmitido pelo Facebook e o YouTube. Esta edição, a primeira em plataformas virtuais, terá como autoras homenageadas quatro escritoReprodução

Encontro Nacional Mulherio das Letras, João Pessoa, 2017

ras gaúchas: Eliane Brum, Lara de Lemos, Lilian Rocha e Maria Helena Vargas da Silveira. As autoras foram escolhidas pelo grupo Mulherio das Letras Rio Grande do Sul, que organiza o evento virtual. As oficinas acontecem de 6 a 9 de outubro e as rodas de conversa e mesas, de 10 a 12 de outubro. As oficinas abordam ficção, poesia, crítica e as obras de Maria Valéria Rezende e Clarice Lispector. Os temas das rodas são grupos de leitura, lugar de fala, a profissão de escritora, racismo e políticas culturais. O Mulherio das Letras é um movimento feminista que reúne mais de sete mil escritoras, editoras, ilustradoras, pesquisadoras e livreiras, entre outras mulheres ligadas à rede criativa e produtiva do livro, no Brasil e no exterior, a fim de dar visibilidade, questionar e ampliar a participação de mulheres no cenário literário.

Ratatouille A cada semana, publicamos receitas com produtos agroecológicos da rede colaborativa Produtos da Terra, da Sinergia Alimentos Saudáveis e da Rede Mandala. Parte dos ingredientes pode ser encontrada no site produtosdaterrapr.com.br Ingredientes 2 abobrinhas orgânicas. 2 berinjelas orgânicas. 2 cebolas orgânicas. 3 tomates orgânicos. 1 pimentão verde orgânico. 1 pimentão amarelo orgânico. 1 pimentão vermelho orgânico. Azeite a gosto. Alecrim a gosto. Manjericão a gosto. Alho a gosto. Sal a gosto. Louro a gosto. Molho de tomate. Divugação

Redação

DICAS MASTIGADAS

Modo de Preparo Corte os vegetais em rodelas finas. Cubra o fundo de uma forma com o molho de tomate. Em uma fôrma, faça a montagem, intercalando os vegetais. Amasse o alho e espalhe por cima, acrescentando sal e alecrim. Regue com um pouco de azeite e cubra com papel-manteiga ou alumínio. Asse por 40 minutos, com temperatura entre 180° e 200°.


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8 Esportes

Futebol aos trancos e barrancos

ELAS POR ELA Fernanda Haag

Explodem casos de Covid-19 em times, mas CBF e Conmebol mantêm partidas Frédi Vasconcelos

U

ma cena que parece já repetida. Às 15h do domingo, 27, ninguém sabia se a partida programada para as 16h daquele dia entre Palmeiras e Flamengo aconteceria. Tudo porque um dos funcionários do clube carioca, que é também presidente do sindicato dos funcionários de clubes de futebol, entrou com ação na Justiça

do Trabalho para impedir o jogo, já que o Flamengo estava com quase dois times de jogadores infectados pelo coronavírus ou contundidos. A lembrança do jogo entre São Paulo e Goiás, no começo do Brasileirão, só não foi completa porque a medida foi cassada na Justiça, em Brasília, 40 minutos antes do horário programado e o jogo aconteceu. Em Goiânia, com o Divulgação

São Paulo em campo, acabou sendo adiado. No gramado, o time carioca, com a maioria de garotos, arrancou um empate do time titular e na casa de Vanderlei Luxemburgo, o vice-líder de resultados iguais no Brasileirão, com 7. Só perdendo nesse quesito para o Botafogo, que tem 8 empates e está na zona do rebaixamento. Mas a infecção por Covid-19 fez outra vítima na última rodada do Brasileirão, com o Fluminense entrando em campo com o Coritiba com nove baixas. Mesmo assim ganhou de 4 a 0. Porém, além da disputa dos jogos, que continua equilibrada, o desafio dos times é como garantir que seus jogadores não sejam infectados. Não saíram, até o fechamento deste texto, resultados de jogadores do Palmeiras com a doença. Na Libertadores, o Independiente Dell Vale, que venceu os cariocas por 5 a 0 há uma semana, tem oito desfalques pela doença na partida de volta, no Rio, no dia 30.

A pergunta se repete: até quando? Na coluna de 14/11/2019, relatei a violência racista sofrida pela assistente de arbitragem Paola Rodrigues, quando uma torcedora a chamou de “macaca” na semifinal do campeonato carioca. Infelizmente, houve outra violência semelhante. Na partida entre Vilhenense x Ji-Paraná, na série D do Brasileiro, Wederson empurrou a assistente Márcia Caetano e a ofendeu: “sapatão, vagabunda dessa, tem que parar mesmo, vai se lascar sua p***”, conforme a súmula da partida e relato do site do Globo Esporte. É absurdo que tais situações continuem acontecendo. Essa violência é multidimensional, começa pelo fato de que elas são trabalhadoras, violentadas em seu ambiente de trabalho; no caso de Paola, o viés racista ficou explícito e também precisa ser combatido; e, óbvio, o componente de violência contra a mulher está muito presente. Já batemos nessa tecla — o esporte não pode ser espaço de propagação de opressões e abusos, mas para combatê-los! Ações concretas e de conscientização precisam ser feitas, partindo de todos os envolvidos: federações, clubes, imprensa, torcedores/as etc. Calar, jamais.

2021 começa sábado, sócio

Força, Alisson

Do inferno ao céu

Por Cesar Caldas

Por Marcio Mittelbach

Por Douglas Gasparin Arruda

Os rumos do Coritiba no Brasileiro, a condução de seu futebol, da gestão de pessoas e finanças, a administração, o marketing e a relação institucional dependem da decisão a ser tomada pelos sócios no sábado, 3 de outubro, entre 10 e 14 horas. Pela internet, seus clicks definirão quem conduzirá o clube nas últimas 14 rodadas, quando estarão em disputa 42 pontos cruciais. Uma opção é manter a agenda estatutária vigente: eleições em 12 de dezembro. A outra é estender o mandato do presidente Samir Namur até 6/3/2021, 10 dias após o fim da competição. Não me parece adequado que um calendário de embate político interno guarde coincidência com a reta final da Série A, quando a pressão emocional incidente sobre atletas e comissão técnica já tende a ser elevada. Na fé: a tensão será bem menor se a nova diretoria já estiver definida no período.

Tem torcedor que não sabe lidar com o festival de emoções que é o futebol. Quando o time perde, corre para encontrar um culpado. É incapaz de reconhecer os méritos do adversário. A vítima da vez é o goleiro Alisson. Depois de duas partidas em que o time cedeu o empate por meio de chutes despretensiosos de fora da área, parte da torcida quer atribuir a culpa ao arqueiro. Além da existência das falhas ser questionável, o Alisson era o dono da quinta melhor média de notas em toda a série B até a décima rodada. Não cometeu nenhum erro que resultou em gol e já pegou pênalti. Organizar movimentos para ridicularizá-lo ou tirá-lo do time agora é um tremendo tiro no pé. A falha contra o Coritiba trouxe frustação? Trouxe. Mas essa é uma página virada. É preferível estender a mão e dizer “força, Alisson, nós chegaremos lá!”

O futebol tem dessas: poucas semanas atrás a torcida atleticana estava vivendo um péssimo momento. Os mais exaltados pediam a demissão imediata de uma dezena de profissionais, passando por jogadores, comissão técnica e diretores. Chegaram a fazer listas, inclusive, mas o único a cair foi o técnico Dorival Jr. Depois de quatro vitórias seguidas, classificação na Libertadores e um futebol cada vez mais arrumado nas mãos de Eduardo Barros, a situação mudou completamente. Do inferno ao céu em um mês. Na última terça, apesar do empate contra o Jorge Wilstermann, o que se viu em campo foi um domínio completo do Athletico durante toda a partida. A melhora é nítida a cada jogo. Domingo o rubro-negro tem mais uma decisão pelo Brasileiro: jogo contra o Flamengo no Maracanã. Que os bons ventos continuem soprando.


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