Divulgação
Cultura | p. 7
Esportes | p. 8
E a grana da cultura?
Contratação controversa Condenado, Robinho volta para o Santos
Orçamento do Estado não cumpre lei
PARANÁ
Ano 4
Edição 188
CONTRA O PRECONCEITO A dificuldade de uma candidatura progressista e “trans” em Curitiba Eleições | p. 4
15 a 21 de outubro de 2020
distribuição gratuita
www.brasildefatopr.com.br
Sobrevivência em risco
Giorgia Prates
Mães não sabem o que fazer com fim de auxílio emergencial Brasil | p. 5
Paraná | p. 6
Alimentação e renda
Ação cobra políticas de combate à fome em dia de solidariedade
Paraná | p. 6
Desmonte no transporte
Desde 2017, conselho que deveria regular área não se reúne
Brasil | p. Editorial | p.6 2 O vírus Bolsonaro Divulgação
Pandemia causa mais estragos em cidades que apoiam o presidente
Brasil de Fato PR 2 Opinião EDITORIAL
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Efeito Bolsonaro
ma pesquisa, resultado da parceria entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro e o Instituto Francês de Pesquisa e Desenvolvimento (IFD), mapeou o “Efeito Bolsonaro”, mostrando que a Covid-19 causa mais estragos nas cidades favoráveis ao presidente Bolsonaro. Isso porque, sob influência do discurso presidencial, seus apoiadores tendem a minimizar os efeitos do novo coronavírus, atenuando as medidas de proteção e aumentando a exposição das pessoas. O discurso anticientífico do governo e de vários ministros ignora a morte de 150 mil pessoas.
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Paraná, 15 a 21 de outubro de 2020
{O presidente} Ignora que a economia se salva com medidas de indução e desenvolvimento, e não com as privatizações das principais empresas públicas como ele tem feito O consenso sobre a Covid-19 entre os seguidores do governo é confuso, certa ideia de que o povo se con-
SEMANA
Derrotar Bolsonaro nas ruas, nas redes e nas urnas OPINIÃO
tamine para chegar à “imunidade de rebanho”. Desta forma, o presidente também lava as mãos dizendo que tentou salvar a economia. Ignora que a economia se salva com medidas de indução e desenvolvimento, e não com as privatizações das principais empresas públiJessy Daiane cas como ele tem feito. é militante e membro da Atentos a isso, movimencoordenação nacional do tos do campo e da cidade Levante Popular da Juventude. constroem uma jornada de Sergipana e ex-vice presidente da UNE, atualmente estuda luta afirmando que a AméDireito em São Paulo rica Latina e o Brasil não devem ser quintal desses interesses do governo dos EUA, ste ano de crise econôcomo o Bolsonaro está quemica e pandemia de Corendo fazer, com seu discur- vid-19 foi ainda mais sofriso anticientífico, baseado em do para o povo trabalhador, fakenews e desinformação. e ficou evidente a importância de termos governos e parlamentares progressistas na defesa dos interesses da maioria da população, que é pobre, e sofreu triplamente as consequências dessa crise. Estamos nos aproximando de mais um momento decisivo para a política brasileira com a chegada das eleições 2020, na qual não cabem vacilações. É preciso derrotar o bolsonarismo nas ruas, nas redes e nas urnas! Temos afirmado que Bolsonaro é liderança de um movimento neofascista na sociedade brasileira, que temos chamado de bolsonarismo. O movimento neofascista na sociedade por si só é um risco para a democracia e para as forças populares, combinado com a condução do governo federal e a penetração nos aparelhos estatais
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representam um risco ainda mais grave. Só ao longo deste ano pudemos observar o descaso com a vida da população diante da pandemia e a política genocida do governo liderado por esse setor neofascista. Além disso, inúmeros crimes ambientais devido à política de desmonte dos órgãos ambientais. E agora, em novembro de 2020, o grande objetivo do bolsonarismo é se enraizar nas câmaras municipais e prefeituras Brasil a dentro. Por outro lado, ficou evidente a relevância do papel dos parlamentares de esquerda na luta para ampliar o auxílio emergencial de R$200, que era a proposta do governo federal, para R$600 e R$1200. Além de batalhar também pela continuidade do auxílio além das três parcelas que o governo queria oferecer. As eleições 2020 serão, portanto, uma arena da luta de classes, na qual os nossos inimigos vão lutar para alcançar seus objetivos. Da nossa parte, cabe materializar no terreno da luta eleitoral a nossa tática: combater, isolar e derrotar o bolsonarismo.
EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 188 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.
Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Jessy Daiane, Fernan Silva e Otto Leopoldo Winck ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Douglas Gasparin Arruda REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com
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FRASE DA SEMANA
Negociações coletivas pioram com Bolsonaro e pandemia A pandemia, a crise financeira e o governo Bolsonaro fizerm as negociações coletivas piorarem nos dois anos recentes. É o que aponta o Boletim “De olho nas negociações” do Dieese, com base na análise dos reajustes registrados no mediador, do Ministério da Economia. A pesquisa analisou 4.938 reajustes salariais de categorias com data-base entre janeiro e agosto de 2020, registrados até a primeira quinzena de setembro. Se, em 2018, 9,3% das negociações ocorreram com reajustes abaixo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), esses números cresceram para 23,9% em 2019 e para 28,1% em 2020 em um cenário em que a inflação diminuiu no país. Pelo menos a reposição do INPC ocorreu em 28,9% das negociações deste ano. Os ganhos acima da inflação estão presentes em 43% das negociações. Queda expressiva em relação a 2018, quando 74,8% das negociações trouxeram reajustes acima do INPC. “As dificuldades em negociar reajustes salariais durante a pandemia são grandes. Vários acordos ou convenções coletivas explicitaram a crise gerada pela Covid-19 como motivo para o adiamento da negociação”, explica o Boletim. Outra consequência da crise foi o aumento do número de categorias que definiram reajustes de 0% em 2020. Ao todo, somam 373 até 31 de agosto (8,4% do total considerado).
“Deixa a profissão pela porta dos fundos...”
COLUNA DA
JUVENTUDE
Da janela da Cohab
Disse, em seu Twitter, o jornalista e ex-diretor da ESPN Brasil José Trajano sobre o comentarista Márcio Guedes que, junto com o narrador André Marques, ficou bajulando Jair Bolsonaro na transmissão de Brasil e Peru, em transmissão da TV Brasil.
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NOTAS DA REDAÇÃO
Lixo zero
Debate
O candidato a prefeito pelo PDT, o deputado estadual Goura, assinou nesta semana compromisso com o movimento Curitiba Lixo Zero. Para Goura, é possível reduzir pela metade a produção de resíduos sólidos na cidade e, consequentemente, os altos custos financeiros e ambientais. “ Uma Curitiba Lixo Zero, que valorize os catadores de resíduos recicláveis e com uma política de compostagem por toda a cidade é possível”, diz.
Em 8 de outubro, a candidata pelo PSTU, Professora Samara, fez transmissão em seu Facebook sobre o “programa do PSTU para Transporte Coletivo”, em que debateu os problemas, os desafios e as soluções para a mobilidade urbana na cidade. Na quarta (14), Samara participou de debate eleitoral na Band, o último veiculado por canais de TV neste período eleitoral.
Renda Curitibana O candidato a prefeito pelo PT, Paulo Opuszka, está propondo em seu programa de governo a criação do Renda Curitibana, um programa nas linhas do Bolsa Família e da renda básica, sob a perspectiva da realidade local. “O Renda Curitibana vai garantir uma vida melhor para milhares de pessoas inscritas no Cadastro Único. É renda na mão de quem precisa, dinheiro circulando no bairro, comida na mesa de que tem fome e garantia de vida digna para as famílias de Curitiba”, declara.
Encontro com Requião A candidata à prefeita, Camila Lanes, do PCdoB, passou o feriado do dia 12 recebendo apoiadores e militantes. Ela participou ainda de um “adesivaço” de carros de pessoas que apoiam sua candidatura. Na terça (13), Lanes gravou seu programa eleitoral e se encontrou com o ex-governador e ex-senador Roberto Requião.
Maus políticos Em entrevista, o candidato professor Eloy Casagrande (Rede) – disse que a política é mal vista porque: “A democracia se tornou refém de grupos oligárquicos, de famílias de políticos que você pode estudar a genealogia do Paraná e vai ver que são sempre os mesmos”.
Viver numa área inferior a 70 m2, sem sacada, com centenas de famílias na mesma condição, é a expressão da vida num conjunto habitacional brasileiro. O que eu moro fica em Londrina, mas existem condomínios como este em vários estados do país. Exatamente iguais, no projeto, no formato e até na pintura. Outra coisa que tem bastante aqui é jovens. Eles ocupam a área comum, geralmente à noite. Semana passada a resenha virou baile, 150bpm, “bregafunk”, o som “torando” até 2 da manhã. Cheguei do trabalho e não consegui dormir, também não consegui sentir raiva do incômodo que o baile estava me causando. Da janela da Cohab, eu conseguia contemplar o momento de lazer, de cultura periférica que a juventude produzia logo ali. A gente fala dos problemas estruturais do Brasil, mas será que notamos isso no momento em que eles estão escancarados? Não dava para ficar bravo com o som alto porque eu sei que a juventude aqui não tem espaço para lazer, nem estrutura para saciar o que é mais humano: se conectar através de momentos de encontro. No fim das contas, mesmo com tantas contradições, é nesses momentos que a Cohab pulsa com o desejo de não querer só comida, mas também, cultura, lazer e viver bem. Fernan Silva é militante do Levante Popular da Juventude e pesquisador na área de antropologia da arte
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“Não nasci no corpo errado, nasci na sociedade errada” A psicanalista Letícia Lanz, candidata a prefeita, fala sobre conservadorismo e dos desafios de ser uma candidata trans Veja a entrevista na íntegra no Facebook do BDF-PR Lia Bianchini e Frédi Vasconcelos
Brasil de Fato Paraná – Em pesquisa recente, o atual prefeito, Rafael Greca, tem 47% das intenções de voto. A senhora não pontuou, mas teve rejeição de 4%. Como analisa isso? Letícia Lanz – Não é surpresa nenhuma. Lido com isso de janeiro a dezembro, a vida inteira, mentiras, estatísticas e coisa e tal... Nas últimas eleições, é bom lembrar que quem hoje ocupa o cargo de presi-
dente da República era um dos últimos colocados. Havia gente muito melhor que ele, e hoje ele se encontra lá. Duvido muito dessas pesquisas feitas assim, em que uma pessoa não tem nenhuma predileção e ainda tem rejeição. Com todos os problemas na Prefeitura, o atual prefeito pode ser eleito no primeiro turno. Por que há tanto conservadorismo em Curitiba? Isso não é conservadorismo, são posições reacionárias. Pessoas que simplesmente reagem a uma situação sem nem saber o que está acon-
tecendo. Elas confundem socialismo com formas de intervenção que hoje estão acontecendo embaixo do que elas chamam de liberalismo. Socialismo, para quem não sabe, é o contrário de individualismo. É o contrário de egoísmo. Então, socialismo é estar voltado para os interesses da coletividade, essa mesma coletividade que na atual pandemia se revelou necessária. A senhora é a única candidata a prefeita transgênero nestas eleições. Há muito preconceito? Minha vida é de uma pessoa que trans-
gride as normas de gênero, porque eu nasci macho, então tinha que ser enquadrada como homem... Eu tinha que ser, mas eu não era. Eu tive que viver assim muito tempo, até que tive um infarto. Aí eu falei: “agora chega, eles que se danem”. Mas quando eu falei “se danem”, perdi todos os meus clientes, todos os serviços que eu tinha. Eu gosto muito de uma passagem do apóstolo Paulo, que o povo lê tanto, mas nunca leu essa. “Eu pequei porque tinha a norma, muda norma que eu paro de pecar”. Eu não nasci no corpo errado não, eu nasci na sociedade errada...
Saúde, Educação e direito à vida serão pautas para Câmara de Vereadores em 2021 Candidatas Carol Dartora (PT) e Roberta Cibin (PDT) foram as entrevistadas do BdF Onze e Meia Lia Bianchini e Frédi Vasconcelos
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oda sexta-feira, às 11h30, o Brasil de Fato Paraná apresenta nomes que concorrem às câmaras de vereadores no Paraná, no programa “BDF Onze e Meia.” Na sexta (9), as entrevistadas foram Carol Dartora (PT) e Roberta Cibin (PDT). Conheça um pouco mais sobre as candidatas.
Carol Dartora - PT Professora da rede pública estadual, historiadora, especialista em Ensino de Filosofia, é feminista negra, militante da Marcha Mundial das Mulheres. Dartora conta que sua candidatura tem a intenção de levar aos espaços de poder um nome que represente a diversidade. “Curitiba nunca teve uma vereadora negra, e isso é o símbolo da exclusão, da invisibilidade e da falta de políticas públicas que Divulgação atendam de fato o todo da população”, afirma. Para ela, as eleitas neste 2020 irão enfrentar ainda crises e problemas ampliados pela pandemia. O compromisso principal da Câmara, nesse contexto, deve ser “o direito à vida e à dignidade”. “O pós-pandemia é desemprego, desemprego das mulheres, tudo precarizado. O eixo norteador deveria ser o direito à vida e à dignidade. A gente pensar no incentivo a emprego, geração de renda. O trabalhador se reerguer com dignidade”, diz.
Roberta Cibin - PDT Ativista pelos direitos das mulheres e da infância, é formada em Comunicação e especialista em Gestão Cultural. Cibin conta que sua candidatura nasceu pós-golpe de 2016 e póseleição de Jair Bolsonaro, em 2018. “A partir do medo de que a nossa cidade fosse dominada pelo conservadorismo. É o momento de ter mais mulheres na Câmara, e mais mulheres progressistas. A gente Divulgação vai precisar de muita coragem, garra, para fazer uma política diferente, olhando para classe, raça e gênero”, diz. Para Cibin, as candidaturas devem pensar, especialmente, políticas para a saúde e a educação. “É preciso pensar em pessoas que não tiveram acesso à saúde devido ao coronavírus. Outra preocupação é a volta às aulas. A gente está falando sobre quando vão voltar, mas não sobre como ou se nossos professores estão preparados. Muitos estão com medo, com problemas de saúde”, questiona.
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Auxílio emergencial não pode acabar Mães trabalhadoras terão ainda mais dificuldades com a queda brusca de renda com fim do auxílio
Giorgia Prates e Pedro Carrano Reportagem fotográfica: Giorgia Prates
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ncertezas marcam a vida de mulheres e mães trabalhadoras. No meio de uma crise sem comparação, que afeta renda e trabalho, elas apontam que o programa de auxílio-emergencial, aprovado pela Câmara Federal, não é o suficiente, mas faz diferença e não pode ser extinto. O programa, voltado a
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trabalhadores informalizados, desempregados, autônomos e microempreendedores, alcançou 29,4 milhões de lares brasileiros (43%), de acordo com o IBGE, com cinco parcelas iniciais de R$ 600 e de R$ 1.200 (no caso de mulheres chefes de família). Beneficiou mais de 65 milhões de pessoas a partir do enraizamento de um banco público eficaz, a Caixa Econômica Federal. Porém, desde agosto ficou mantido apenas R$ 300 do auxílio residual até o final
de 2020. Estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) revelou que, com a redução do auxílio, 13 milhões de pessoas poderão voltar para a faixa mais pobre do país. Por isso, movimentos populares lançaram a campanha #600contraaFome para pressionar a Câmara e o presidente Bolsonaro a manter o auxílio-emergencial. Como os relatos abaixo mostram, se o auxílio acabar, a queda na renda para muitas famílias será brutal, tornando a realidade do País ainda mais instável.
Juliana Moradora da Ocupação Tiradentes, na CIC, vive em uma casa com 12 pessoas, dentre as quais seis são menores de idade. Entre os adultos, nenhum tem emprego fixo. Como um dos filhos acabou de completar 18 anos, ela vai ter uma diminuição do valor do Bolsa Família. Durante a pandemia, a soma dos auxilios era de 1.800. Agora, o valor vai cair para R$ 292 e esse será o único valor recebido para a família toda. Juliana fala sobre a questão do aumento do arroz e que essa quantia “serviria para comprar alguns quilos, que não duraria nem mesmo um mês completo”, lamenta.
Lilian Feliz Graciano Mãe de dois filhos, moradora da Ocupação Tiradentes, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC). Recebia o Bolsa Família, porém, quando a filha mais velha teve um acidente doméstico e ficou afastada da escola, devido a queimaduras pelo corpo, o médico deu atestado de afastamento, mas a escola não aceitou. O CRAS foi notificado sobre a baixa frequência escolar e Lilian perdeu o direito a receber o benefício. Com a pandemia, Lilian teve direito a receber o auxílio emergencial no valor de R$ 1.000, sendo que valor de auxilio para mães sozinha é de R$ 1.200. Como era um grande auxilio, não foi atrás de entender a diferença do valor. Agora, Lilian espera receber o Bolsa Família no próximo mês, novamente, e o valor de sua única renda será de R$ 290. Na área de ocupação, Lilian tem um pequeno ponto de vendas de alimentos e desse comércio é que ela tira a sua renda complementar, mas, devido à diminuição brusca de sua renda, não tem conseguido abastecer o comércio e afirma que está vivendo um período de grandes ausências.
Priscila Ribeiro Moradora do bairro Parolin, tem seis filhos, sendo três crianças, um bebê e dois filhos maiores de 18 anos. Recebeu este mês R$ 300 e, a partir do próximo mês, sua renda será de R$ 160 apenas. Durante a pandemia, com o auxílio emergencial, Priscila recebia R$ 1.200. Mas no último mês recebeu o aviso de que não vai mais receber nenhuma parcela do auxílio. Vai contar apenas com o valor do Bolsa Família. “Vai ser dificil conseguir comprar alguma coisa em casa com esse valor, pagar alguma conta, de R$1.200 passar a receber só R$ 160. Não sei como vai ser”, afirma.
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Movimentos populares promovem semana em defesa da alimentação e renda Ação entre MST, Sindipetro e MPM ocorre na sexta (16) e cobra políticas de combate à fome Redação
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sexta-feira (16), Dia Mundial da Alimentação, será marcada por ações de solidariedade e de protesto contra o aumento da fome em todo o Brasil. Na grande Curitiba, a mobilização será com distribuição gratuita de 3 mil marmitas e mil pães caseiros a pessoas em situação de vulnerabilidade na comunidade Nova Esperança, em Campo Magro. A atividade é realizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Sindicato dos Petroleiros do Paraná e Santa Catarina (Sindipetro-PR/SC), Movimento Popular por Moradia (MPM) e ação Marmitas da Terra, que envolve 100 voluntários na produção semanal de marmitas para doação. Ao longo da semana, ações dos movimentos populares trazem ainda a reflexão sobre a PUBLICIDADE
necessidade de alimento saudável e manutenção de direitos para a população na pandemia. No dia 15, a União de Moradores e Trabalhadores (UMT), no Bolsão Formosa, no bairro Novo Mundo, em Curitiba, mantém sua cozinha comunitária, com distribuição de marmitas para mais de 200 famílias. Reflexo da situação econômica Os ingredientes do cardápio virão de assentamentos e acampamentos do MST do Estado, entre eles comunidades localizadas na Lapa, Castro, Ponta Grossa e Paula Freitas, na região sul do Paraná. Uma horta com plantas medicinais também será iniciada nesta sexta, a partir de mudas doadas pelo Assentamento Contestado, da Lapa. O aumento no número de famílias na ocupação Nova Esperança acompanhou o cres-
cimento da crise econômica. A área começou a ser ocupada no dia 22 de março, por 400 famílias. Cerca de seis meses depois, está com 1.200 famílias. Valdecir Ferreira, morador da comunidade e integrante da coordenação do MPM, relata que se tornou rotina famílias chegarem com uma pequena mudança por terem sido despejadas após não conseguirem arcar com o aluguel. “Tem casos de famílias que chegam aqui porque não têm mais para onde ir. Ou fica aqui ou vai morar na rua”, conta. Em levantamento feito pela coordenação da comunidade, 1.650 crianças vivem no local. Imigrantes haitianos, venezuelanos e cubanos também fazem parte. A coleta e separação de materiais recicláveis tem sido uma das alternativas para geração de renda e uma horta comunitária contribui para o complemento da alimentação.
Oposição denuncia desmonte de Conselho Municipal de Transporte de Curitiba Redação A bancada da oposição da Câmara Municipal de Curitiba denunciou ao Ministério Público a falta de funcionamento do Conselho Municipal de Transporte. Instituído por decreto municipal e por lei, o conselho é um meio de garantir a participação da sociedade civil no planejamento, fiscalização e avaliação do transporte coletivo. Ele está paralisado, no entanto, desde 2017. A alegação da URBS é que a pandemia tem dificultado as reuniões. “Observando que as reuniões não ocorreram nos anos de 2017, 2018, 2019 e 2020 observa-se que não foi a pandemia o motivo principal para sua paralisação”, alega a bancada da oposição em documento, complementando que na pandemia seu funcionamento seria mais importante. “A negati-
va sobre as reuniões de 2020 não se justificam, tendo em vista que com a nova configuração de reuniões, existem vários exemplos de diversos encontros que vêm ocorrendo, inclusive da própria administração pública, por meio virtual”, reafirma o documento. Representada pelos vereadores Professora Josete (PT), Noêmia Rocha (MDB) e Professor Silberto (MDB), a oposição lembra também que, na pandemia, a Prefeitura aprovou “o aporte mensal de R$ 20 milhões para as concessionárias do transporte coletivo, repasse que foi alvo de investigação da Promotoria de Patrimônio Público”. A lei que sancionou o montante, junto a outras discussões, como qualidade no oferecimento do transporte coletivo e fiscalização dos protocolos de segurança diante da pandemia, seriam pautas a ser discutidas no conselho.
Brasil de Fato PR 7 | Cultura
Em audiência, artistas reivindicam aumento do orçamento para cultura Para 2021, o valor cairá de 0,29% para 0,20% dos recursos do Estado Divulgação | Secretaria de Cultura
Ana Carolina Caldas
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rtistas, técnicos do setor artístico e produtores culturais estão entre os profissionais mais afetados pela pandemia. Buscando caminhos para combater os impactos negativos no setor, a Comissão de Cultura da Assembleia Legislativa do Paraná promoveu, a pedido da classe artística, na sexta, 9, a audiência pública remota “O Orçamento Anual para a Cultura no Paraná”. O aumento do orçamento foi a principal pauta trazida pelos representantes da cultura. A maioria das falas voltou-se para a recomposição do orçamento da cultura, que nos últimos anos tem sido dos mais afetados. O professor da Belas Ar-
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tes, compositor e diretor de teatro, Octavio Camargo, destacou a importância de se respeitar a PEC 150, que estabelece 1,5% do orçamento para a cultura. “Representou um marco, mas o percentual destinado à cultura em 2020 no Paraná foi de apenas 0,29% e, para 2021, será de 0,20%. Só 20% desses recursos são voltados para as atividades culturais”, declarou. Ele disse que o percentual poderia ser aumentado de forma escalonada nos próximos quatro anos. Para Adriano Esturilho, vice-presidente do Conselho Municipal de Cultura de Curitiba, o Fundo Estadual de Cultura é a principal ferramenta para o fomento do setor. “É inaceitável que o Estado não tenha recursos
para o fundo. Precisamos colocar em prática o nosso plano estadual de cultura. Não tem nem como meta cumprir o que está na lei, de investir, no mínimo, 1,5%. Não adianta audiência se não houver escuta da sociedade civil”, criticou. Já para o deputado Tadeu Veneri (PT), os editais de estatais como Copel e Sanepar deveria ser voltados para municípios e espaços menores. “Hoje se investe em espaços que não precisam desse investimento, como o Museu Oscar Niemeyer, Biblioteca Pública, que já são consagrados. É necessário olhar o pequeno museu, o pequeno espaço, como um local para onde seriam destinados os investimentos”, disse o deputado.
Por Otto Leopoldo Winck
Sonhos não envelhecem Arqueado pelo peso dos anos e desenganos, ele entrou naquele bar onde um garoto franzino, de violão surrado, tocava velhas e novas canções. Aí ele pensou na vida, isto é, se valera a pena a sua vida. Nenhum de seus sonhos se realizara: não se tornara escritor, não mudara o mundo, nem mesmo o seu mundo, que afi nal se tornara tão parecido com o de seus pais... Além disso nem sequer gozara de um simulacro de felicidade, muitas vezes trabalhando em ofícios detestáveis, aguentando pessoas mesquinhas, sendo mesquinho também... Vai ver a vida é isso mesmo: no fi nal a gente sempre perde. Então, de repente, o garoto franzino começou a tocar “Clube da esquina nº 2” e ele se lembrou que tinha cerca de 18 anos quando ouviu aquela canção pela primeira vez, justamente quando, com uma mochila nas costas cheia de livros e sonhos, caiu na estrada. “Porque se chamava homem / também se chamavam sonhos / e sonhos não envelhecem...” Pediu mais uma cerveja, com uma dosezinha de conhaque ordinário. Sorriu e meio besta se viu enxugando uma lágrima furtiva. Pensou: se escrevo isso não vai passar de uma narrativazinha piegas. Mas dane-se, a vida é piegas e sonhos não envelhecem.
DICAS MASTIGADAS
Falafel A cada semana, publicamos receitas com produtos agroecológicos da rede colaborativa Produtos da Terra, da Sinergia Alimentos Saudáveis e da Rede Mandala. Parte dos ingredientes pode ser encontrada no site produtosdaterrapr.com.br Reprodução
Ingredientes 500 gramas de grão de bico. 1 cebola orgânica picada. 1 dente de alho orgânico. ½ xícara de salsinha. 1 colher de chá de sal. ½ colher chá de cominho. ½ colher de chá de pimenta caiena ou síria. ½ colher de chá fermento químico. Modo de Preparo Deixe o grão de bico de molho durante 12h (o grão de bico não pode ser cozido). Coloque todos os ingredientes em um processador e bata até formar uma massa homogênea. O mesmo processo pode ser feito no liquidificador, colocando os ingredientes aos poucos. Com a massa pronta, faça bolinhos com duas colheres e frite-os até dourar.
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No jogo de espelhos, 4 são 1 Por Cesar Caldas
O quadro que antecede a inscrição das chapas às eleições do Coritiba do próximo 12/12 pode dar ao eleitor a falsa impressão de que há cinco correntes distintas de pensamento político no clube. São, em verdade, apenas duas. É fictícia e enganosa a alegada ruptura de última hora do grupo que está no poder há seis anos. Há um bloco de 49 conselheiros, “núcleo duro” de sustentação à desastrada administração de Samir Namur, que segue tão hermeticamente fechado em si mesmo quanto o era no início do triênio, em janeiro de 2018. Continuidade do não menos danoso período Bacellar (2015-2017), a chamada “Ala Jovem” tenta outra vez se fantasiar de “oposição” a si mesma, tal qual o fez há três anos. Não será surpresa sua união total com Vialle e Jango até 15/11, quando se encerra o prazo para as candidaturas se efetivarem. Seu único adversário, assim, seria Follador.
Quanto vale uma vida? Robinho, condenado na Itália por estupro, volta ao Santos e levanta debate sobre violência contra a mulher
Reprodução
Cadê o futebol? Por Marcio Mittelbach
Se a gente perguntasse ao torcedor paranista antes de começar a Série B em que lugar o time estaria na décima-quinta rodada, pouca gente diria que estaríamos tão perto do G4. O campeonato começou, o tricolor foi ganhando seus jogos e logo a confiança foi aparecendo. Chegamos à liderança. Era a volta da pandemia e o Paraná tirou vantagem de estar organizado. Dois meses após a estreia, aqui estamos nós. Sem vencer há cinco jogos, o ataque sem marcar há sete e ainda fomos goleados por 4 a 0 pelo ‘todo poderoso’ CSA numa partida para ser esquecida. Nem temos bala na agulha para liderar a competição e nem temos um time tão fraco para ser goleado dessa maneira. O Paraná precisa, urgentemente, se reencontrar na competição. Uma boa oportunidade será no próximo domingo, às 18h30, na Vila Capanema.
Técnico de Schrodinger Por Douglas Gasparin Arruda
No momento em que escrevo esta coluna o Furacão se prepara para uma disputa direta pela fuga do Z4 contra um Corinthians em crise. Isso torna o processo de escrita um grande mistério, digno do famoso Gato de Schrodinger, que até agora ninguém sabe se está morto ou vivo. Explico: o Athletico vive uma daquelas fases difíceis de se descrever, e caso vença hoje, se afasta da zona de rebaixamento e alivia a pressão para a sequência do campeonato. Nesse caso, Eduardo Barros voltará a ser chamado de “promissor” pela imprensa e torcida. Uma derrota pode colocar o rubro-negro atrás do Coritiba na tabela, e aí o técnico se torna, num passe de mágica, “inexperiente” para o comando de um time da série A. Aos olhos de quem ler essa coluna amanhã, o técnico revelará sua condição. O gato, ainda não.
Fernanda Haag
“O
último capítulo de uma das maiores histórias do Santos. O Pedalada está de volta”. Foi com essas palavras que o Santos anunciou a contratação de Robinho, no último dia 10. Normalmente, o retorno de um ídolo seria motivo para comemoração. Mas você idolatraria alguém condenado (em primeira instância) por estupro? Pois foi exatamente o que clube fez — e com apoio de torcedores. Em 2017, o jogador recebeu a condenação por estupro coletivo pela corte de Milão por um caso ocorrido em 2013, com uma mulher albanesa. Para os que afi rmam que “a denúncia encerra a carreira do jogador”, notamos que não é assim que a banda toca. Claro, a naturalização da violência contra a mulher não é exclusividade santista, mas sim um problema do futebol. Só para ficar nos casos mais recentes, basta lembrar do goleiro Jean ou do atacante Dudu. O futebol não é só reflexo da sociedade — ele também constrói essa sociedade. E aí vem a pergunta: qual
a mensagem que os clubes passam quando acolhem esses jogadores, sem problematizar a violência? Fica evidente que, para eles, a vida das mulheres não tem valor. Vale menos do que uma pedalada. Não estamos aqui para julgar ou reforçar uma sanha punitivista, mas para debater o caráter social dessa contratação e o machismo no esporte. Essa lógica machista que impera também dificulta a denúncia por parte das vítimas, pois as consequências geralmente pesam sobre elas. Assim, mais do que fazer posts em redes sociais, os clubes e federações precisam enfrentar de fato a violência contra as mulheres, e não compactuar com ela. Fica o chamado também para os homens se posicionarem neste momento e cobrarem, como muitos torcedores fizeram. Em um país onde a cada 4 minutos uma mulher é agredida, isso é obrigação. Aliás, nesse mesmo país, esses jogadores são tratados como ídolos enquanto uma atleta, Carol Solberg, é censurada por gritar “Fora Bolsonaro”. Perguntamos novamente: quanto valem a vida e as palavras das mulheres?