Brasil de Fato Paraná - Edição 189

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Cultura | p. 7

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Literatura virtual

O melhor técnico brasileiro?

PUC-PR faz 1ª edição de sua semana literária on-line.

PARANÁ

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Esportes | p. 8

Em campeonato dominado por estrangeiros, Ceni se destaca

Ano 4

Edição 189

23 a 28 de outubro de 2020

distribuição gratuita

www.brasildefatopr.com.br

Comida para quem precisa

Giorgia Prates

Movimentos entregam 3 mil marmitas em área a ser regularizada Paraná | p. 5 Brasil | p. 6

Lucro só pra banco Setor tem lucros bilionários e demite trabalhadores

ELEIÇÕES NO INTERIOR

Editorial | p. 2

Golpe perde eleição Bolivianos vão às urnas e elegem volta da democracia

Opinião | p. 2

Alimentos furtados Desespero leva a aumento de 40% nesse tipo de delito

BDF entrevista candidatos de Cascavel e Guarapuava Paraná | p. 5


Brasil de Fato PR 2 Opinião

Paraná, 23 a 28 de outubro de 2020

Brasil de Fato PR

Crescem os furtos de alimentos As durante a pandemia no Paraná eleições na Bolívia e a resistência na América N Latina

EDITORIAL

OPINIÃO

Raíssa Melo,

Jornalista, documentarista e fotógrafa. Atua com educomunição em oficinas com conteúdo étnico racial, gênero e políticas públicas

A

Bolívia tem um novo presidente eleito. O economista Lucho Arce, do partido Movimiento Al Socialismo (MAS), venceu em primeiro turno com mais de 50% dos votos. A vitória do ex-ministro da fazenda de Evo Morales representa um alento às forças progressistas da América Latina. Em novembro de 2019, a Bolívia viveu um golpe de estado. Os militares obrigaram Morales, grande líder popular do país por sua trajetória como dirigente sindical indígena, a renunciar. A Organização dos Estados Americanos fez acusações de fraudes em sua reeleição. O que foi desmentido por institutos internacionais. O episódio marcou o auge do golpismo no continente, tomado por uma onda conservadora. No entanto, a ascensão da direita, seja por via de golpes ou por meio de algumas vitórias eleitorais, encontra resistência. O triunfo de Arce na Bolívia é uma prova disso, assim como as comemorações de um ano dos fortes protestos no Chile por justiça social. Enquanto Cuba, Nicarágua e Venezuela resistem; enquanto Argentina e México reencontram seu caminho; e o Chile promove suas reivindicações; a Bolívia tem a chance de retomar as transformações estruturais em um dos países mais pobres do continente. O recado do povo boliviano está dado e que ele sirva de lição para nós, no Brasil!

os últimos cinco meses, foram registradas 5.289 ocorrências de furtos de alimentos ocorridos no Paraná , excluindo o furto de cargas. Esse número representa um crescimento de 38% se comparado ao período de maio a outubro do ano anterior. Os produtos alimentícios mais furtados foram carne bovina (55%), leite e derivados (25%), alimentos infantis (12%), sorvetes e doces (5%), outros (3%). Desses delitos, 71,7% foram cometidos por mulheres, mães e desempregadas. Os números, obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), ajudam a revelar o retrato da fome durante a

pandemia no Paraná. De acordo com o artigo 24 do Código Penal, se alguém praticou um delito para “se salvar de perigo atual que não poderia ser evitado de outra forma”, fica “excluída sua ilicitude”, ou seja, os famintos não praticam crime ao furtar alimentos se for para saciar a fome. A concepção de fome, com base na lei, está ligada diretamente ao risco emergencial à vida. O acusado deve oferecer provas consistentes de que se encontra nessa situação. O tipo de alimento furtado implica diretamente no juízo de valor. Juízes analisam se houve escolha de maior valor ou que represente preferência por gosto e, nesses casos, os crimes passam a não ser considerados famélicos. Advogados e advogadas progressistas costumam usar o princípio da insignificância nesses casos,

em que pelo pouco valor e dano não deveriam ser julgados na Justiça penal. Mesmo com o grande esforço desses profissionais, muitos dos casos chegam à terceira instância do Judiciário, causando uma superlotação, lentidão da Justiça e principalmente a criminalização da fome. Não há sentido em criminalizar a pobreza nem do ponto de vista econômico, já que é custoso para o estado a manutenção desses processos, nem do ponto de visto jurídico. Na pandemia, essa situação piorou. Os órgãos públicos responsáveis por monitorar a fome, como o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) e a Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sesan), vêm sofrendo diversos desmontes do governo federal.

SEMANA

EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 189 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Raíssa Melo e Natasha Tinet ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Douglas Gasparin Arruda REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com


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Geral | 3

FRASE DA SEMANA

Dossiê: leilão da Copel Telecom vai trazer prejuízos ao Paraná O Fórum Contra a Venda das Estatais, o Senge-PR e o Dieese-PR vão fazer uma transmissão ao vivo no dia 28 de outubro para contestar o leilão da Copel Telecom, empresa de banda larga que pertence ao povo paranaense. A privataria está marcada para 9 de novembro e sequer precisa do aval da Assembleia Legislativa do Paraná para acontecer. Com lance inicial de R$ 1,4 bilhão, a Copel Telecom já investiu mais de R$ 1,7 bilhão em 10 anos. Mostrando que o valor de venda é baixo e prejudicial aos interesses dos paranaenses. O governo do estado diz que a privatização é necessária para que a Copel possa investir em um só segmento. Mas os relatórios da empresa mostram forte investimento e lucro na última década, como mostra o estudo técnico do DIEESE. Na live, as entidades pretendem mostrar que “a privatização da Copel Telecom pode resultar somente em mais dividendos para os acionistas”. De 2011 a 2019, a Copel distribuiu R$ 5 bilhões em proventos. Deste montante, R$ 1,7 bilhão foram a mais do que o mínimo determinado pela lei. Resultado de uma política que encarece a tarifa para os paranaenses. Se o leilão ocorrer, 13 grupos que compraram acesso ao Data Roome estão habilitados a oferecer lance. Anote https://www.facebook. com/EmDefesaDoParana

“A única coisa permanente é a mudança”

Soberania O programa “Quarta Sindical”, do BDF-PR e CUT-PR, entrevistou no dia 21, o ex-governador do Paraná Roberto Requião e o ex-ministro dos governos Lula e Dilma Patrus Ananias para tratar de temas como privatização e soberania nacional. Os dois fazem parte da frente parlamentar em defesa da soberania nacional.

Disse o ex-presidente do Uruguai José Mujica, ao renunciar a seu mandato no Senado na terça, 20. Para ele: “Na política existem causas. Homens e mulheres passam. Algumas causas sobrevivem e precisam ser transformadas.”

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NOTAS DA REDAÇÃO Cadê o Greca?

Maternidades reabertas O candidato a prefeito de Curitiba Goura (PDT) propôs nesta semana a reativação de maternidades fechadas durante a pandemia pela administração Greca (DEM). Além do estímulo ao parto humanizado nos hospitais e maternidades. “Seguiremos no combate à violência obstétrica, e seguindo as recomendações da OMS para uma experiência positiva de parto, apoiando a inserção de doulas no acompanhamento à gestante e vamos estudar a implementação de uma Casa de Parto”, disse.

Sem despejo

Segundo dados levantados pelo candidato Paulo Opuszka (PT), Curitiba tem 50.499 domicílios em assentamentos irregulares. E questiona: “O que o governo municipal tem feito para melhorar a vida dessas pessoas? Uma coisa é certa, na nossa gestão não vai ter despejo”, diz. Ele destaca que a atual gestão municipal dedicou nos últimos quatro anos apenas 0,1% do orçamento municipal para sanar problemas relacionados à habitação.

No debate entre candidatos em frente à casa do prefeito Greca (veja à pág.4), Camila Lanes (PCdoB) questionou. “Onde esteve Greca nos últimos quatro anos? Onde estiveram os investimentos no município nos últimos quatro anos? É lamentável que eu, como cidadã, mulher e estudante, precise vir aqui na porta da casa do gestor para conseguir ouvir o mínimo de respostas. E nós vemos aqui que não existem respostas, o atual gestor se esconde em sua casa, em sua chácara”, afirmou.

E a mídia? Professora Samara (PSTU) também esteve no debate em frente à casa de Greca. Ela criticou não só a atual gestão, mas também a mídia, que, segundo ela, não mostra ao público todos os candidatos à Prefeitura. “Não representam uma real democracia, porque as pessoas que têm dinheiro, têm nome, têm espaço na mídia, são vistos nas suas campanhas, e os pobres e trabalhadores são marginalizados”.

Banco Central “privatizado” Além dos riscos de desmonte e venda de estatais como Petrobras e Correios, Requião destacou que neste momento há um risco maior. “Tive a notícia de que senadores estão viabilizando um projeto que dá autonomia ao BC a partir do terceiro ano do governo Bolsonaro. Ele começaria a valer com mandato de 4 anos. Não adiantará mais eleger presidente da República. Se este projeto passar, o Brasil estará entregue oficialmente ao comando do capital financeiro”, alertou.

Minas “privada” Entre outros pontos, no “Quarta Sindical”, Patrus descreveu a situação de Minas Gerais, em que o governador Romeu Zema, aliado de Jair Bolsonaro, planeja a venda de estatais estratégicas como a Cemig, companhia de energia do estado. As entrevistas completas podem ser assistidas no Facebook e YouTube do Brasil de Fato Paraná e também nas redes sociais da CUT-PR.


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Eleitos terão que ser governantes “pós-pandêmicos”, avaliam candidatos a prefeituras Paulo Porto, de Cascavel, e Dr. Antenor, de Guarapuava, foram os entrevistados do BdF Onze e Meia Lia Bianchini e Frédi Vasconcelos

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oda semana, o Brasil de Fato Paraná apresenta nomes de candidatas e candidatos das eleições 2020 que fazem parte do campo progressista. As entrevistas são feitas às sextas, no programa BdF Onze e Meia, veiculado ao vivo, às 11h30, na página de Facebook e no canal do Youtube do Brasil de Fato Paraná. Na última sexta (16), os entrevistados foram Paulo Porto, candidato à Prefeitura de Cascavel pelo Partido dos Trabalhadores (PT), e Dr. Antenor, candidato à prefeitura de Guarapuava, pelo mesmo partido.

Dr. Antenor - Guarapuava Médico formado pela Universidade Evangélica do Paraná, foi vereador por três mandatos em Guarapuava. Dr. Antenor defende uma gestão participativa para o município, que coloque o “controle social nas mãos da população”. “Eu não acredito em política se nós enxergarmos apenas o lado institucional. Nós precisamos do social. Eu acredito na revolução silenciosa, na capilaridade. A revolução vem pela presença junto à sociedade, entra primeiro no coração das pessoas e depois na alma”, diz. Para o candidato, as pessoas eleitas em 2020 terão que ser “governantes pós-pandêmicos”, que trabalharão com a recuperação dos municípios dentro das crises ampliadas pela pandemia da Covid-19. “Nós vamos ter que juntar a sociedade. Criar um conselho de desenvolvimento econômico, social e ambiental, que coloque na mesma mesa os interesses da economia e da sociedade. Venho para a política para cuidar de gente. E governar é cuidar principalmente dos mais necessitados. O primeiro passo é tirar muita gente de perigo e da vulnerabilidade social”, afirma.

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Paulo Porto - Cascavel

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Professor na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) e doutor em Educação, foi eleito vereador em Cascavel por duas vezes. Porto é o único candidato progressista disputando a Prefeitura em Cascavel. Em suas palavras, sua candidatura pretende “romper a panelinha das elites e o ciclo vicioso” das eleições na cidade. “Nós vamos fazer uma gestão democrática, transparente, em que o povo se sinta representado pelos seus gestores. A população está esperando um debate de propostas que modifique a vida dela”, afirma. Dentre suas propostas, uma das principais é colocar a população como protagonista da gestão. “Pensamos na possibilidade de implantar o orçamento participativo. Criar conselhos comunitários nos bairros da cidade, trazer a população para ser protagonista. Quando se faz orçamento participativo, trabalha-se também a formação política da população. Criar também conselhos municipais de saúde, cultura. Vamos ter que gerar emprego e renda também. Nós temos que cuidar das pessoas”, diz.

GRECA, O FUJÃO Na terça, 20, oito candidatos à Prefeitura de Curitiba fizeram “debate” na praça da Espanha, lugar próximo de onde mora o prefeito Rafael Greca (DEM). Participaram Paulo Opuszka (PT), Letícia Lanz (PSOL), Eloy Casagrande (Rede), Camila Lanes (PC do B), Professora Samara (PSTU), Fernando Francischini (PSL), João Arruda (MDB) e professor Mocellin (PV). O “debate” foi um protesto pela não participação de Greca, líder nas pesquisas, no único debate feito até agora na capital paranaense e porque outras emissoras resolveram não fazer programas para que os candidatos possam discutir suas ideias.


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Combater a fome e nutrir a resistência: movimentos doam 3 mil marmitas no Paraná Ação marcou o Dia Mundial da Alimentação, na sexta (16) Redação, com fotos de Giorgia Prates

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as mãos calejadas de camponeses assentados e acampados da Reforma Agrária, passando pelos mutirões de dezenas de voluntários e militantes de cozinhas comunitárias, até chegar a quem está na luta por moradia e vida digna na cidade. Esse foi o caminho percorrido pelos alimentos que rechearam as 3 mil marmitas e mil pães caseiros distribuídos na comunidade Nova Esperança, em Campo Magro (PR), na sexta-feira (16). Na data, que marca o Dia Mundial da Alimentação, a mobilização buscou saciar a fome e também nutrir a resistência e a solidariedade entre campo e cidade. A iniciativa partiu do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Sindicato dos Petroleiros do Paraná e Santa Catarina (Sindipetro-PR/SC), Movimento Popular por Moradia (MPM) e da ação Marmitas da Terra. A maior parte dos ingredientes do cardápio veio de comunidades do MST com produção orgânica, especialmente da região sul. São elas o acampamentos Maria Rosa do Contestado e Padre Roque Zimmermann, de Castro; acampamento Emiliano Zapata, de Ponta Grossa; e acampamento Reduto de Caraguatá, de Paula Freitas; e assentamento Contestado. “Isso aqui não é mercadoria, isso aqui não é negócio e não pode ser um bem só dos ricos do mundo. Tudo que existe no universo, a terra, a água, as árvores, são bens comuns de todos os povos do mundo, também não podem ser propriedades só dos ricos”, enfatizou Roberto Baggio, da direção nacional do MST, referindo-se aos alimentos e às marmitas produzidas com produtos da Reforma Agrária. A ação integrou uma jornada nacional de mobilizações para denunciar a volta da fome, o aumento no preço dos alimentos, a política genocida e os vetos do governo Bolsonaro à Lei Assis Carvalho (PL 735), que busca garantir a produção de alimentos pela agricultura familiar e camponesa.

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Bradesco faz demissões em massa, mesmo com lucro bilionário Banco lucrou mais de R$ 7 bi no 1º semestre de 2020. E segundo trimestre foi melhor que o primeiro

Reinaldo Reginato | SEEB Curitiba

Dieese faz campanha de arrecadação para garantir sua sobrevivência

Redação Ana Carolina Caldas

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m 2020, os bancos são um dos únicos setores que mantêm lucros bilionários, enquanto praticamente todo o Brasil sofre prejuízos. O Bradesco, por exemplo, lucrou R$ 7,626 bilhões no 1º semestre de 2020. E ganhou mais nos piores meses da pandemia. Seu lucro, no segundo trimestre, foi 3,2% maior que nos primeiros três meses do ano. Mesmo assim, sindicatos acusam o banco de quebrar um compromisso com seus funcionários e promover demissões em massa, por teleconferência e por telefone, após o encerramento da campanha salarial. “Não podemos deixar que neste momento de pandemia o Bradesco ou qualquer outro banco descumpra o acordo feito há alguns meses, de não demissão. Não há justificativa para o sistema financeiro demitir ou afastar pessoas do seu PUBLICIDADE

quadro, pessoas que estão contribuindo, fazendo o seu papel, mesmo que em home office. Não é admissível, até porque o sistema financeiro continua lucrando”, afirma Antonio Luiz Fermino, presidente do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Bancários, Financiários e Empresas do Ramo Financeiro de Curitiba e região. Os bancários não sofreram os impactos da MP 936, que autorizou empresas a promoverem cortes de salário entre

25% e 75%, ou ainda suspensão de contratos de trabalho, com subsídios governamentais. A articulação funcionou, em maior ou menor medida, até a data-base da categoria, em 1º de setembro. Desde então, o Bradesco vem quebrando seu compromisso ao promover demissões em massa durante a pandemia. Apenas em outubro, o sindicato foi notificado de 60 demissões em Curitiba e região. Há denúncias de que os números, no entanto, podem chegar a 150.

Desde o golpe de 2016, o movimento sindical vem sendo perseguido e enfraquecido dentro de um projeto de precarização das condições de trabalho. O que acabou fragilizando também o Departamento Intersindical de Estatística e Estudo Socioeconômico (Dieese), que faz, desde 1955, pesquisas, assessoria e cursos para sindicatos e outras entidades de trabalhadores. Em entrevista para o programa “Quarta Sindical”, parceria do Brasil de Fato Paraná e CUT-PR, o coordenador do Dieese no Estado, Pablo Diaz, e o economista Sandro Silva falaram sobre a campanha de financiamento que vem sendo feita para garantir a continuidade de seus trabalhos. Diaz destacou a importância da instituição. “Governos sempre tendem, por interesses próprios, a manipular dados. Como falar em inflação de 3% com a ampliação do preço do arroz no supermercado? Em fun-

ção da necessidade de ter contraponto técnico, baseado em estudos estatísticos, o movimento sindical viu que era imprescindível criar uma instituição para atender o trabalhador. Ele precisa saber o quanto custa a cesta básica. Um salário digno representa uma vida digna. O Dieese foi criado, justamente, para produzir essas pesquisas”, afirmou Diaz. Além de pesquisas e estudos, o Dieese também atua na área de formação. “Foi criada recentemente a Escola Dieese, em que ofertamos cursos de graduação, pós-graduação na área de economia, sindicalismo e trabalho. Além disso, há diversos cursos de extensão”, explica Sandro Silva. Na campanha de financiamento voluntária, às entidades filiadas é solicitado aporte de “uma 13ª mensalidade e a divulgação da campanha, e, aos não sócios, uma contribuição, que dará acesso a diversos serviços. Também aceitamos colaborações de pessoas físicas”, diz o Dieese em seu material de divulgação.

Para contribuir com o Dieese Depósito identificado por CNPJ ou CPF Banco do Brasil Agência 3320-0 Conta corrente 6333-9 CNPJ 60.964.996/0001-87


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PUCPR promove 1ª Semana Literária on-line Redação

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ntre os dias 26 e 30 de outubro, a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) realiza a 1ª edição da Semana Literária. A programação do evento, aberto à comunidade e gratuito, será totalmente on-line, com transmissão ao vivo e exclusiva aos participantes. Os inscritos terão a oportunidade de participar de conferências e bate-papos com representantes da literatura nacional e internacional. Os encontros contarão com as presenças de Conceição Evaristo, Mia Couto, Eliane Brum, Milton Hatoum, Eliane Potiguara, Ana Maria Machado, Nádia Battella, Juliana Souza, Cris Gouveia, Clóvis Ultramari, Robson Cruz, Isabel Lopes Coelho, entre outros. Serão abordados temas como a literatura e o feminino, as raízes mitológicas da literatura, literatura inclusiva, literatu-

Conceição Evaristo (foto), Mia Couto, Eliane Brum e Ana Maria Machado são alguns dos participantes

LUZES DA CIDADE

Feira de livros A PUC-PR também realiza, entre os dias 19 e 31 de outubro, a edição de 2020 da Lombada - a feira de livros da Universidade, uma parceria entre as editoras PUCPRESS e Arte & Letra. Assim como a Semana Literária, a feira será 100% on-line e tem como objetivo promover o hábito de leitura e divulgar a produção editorial acadêmica e literária.

DICAS MASTIGADAS

Suco verde A cada semana, publicamos receitas com produtos agroecológicos da rede colaborativa Produtos da Terra, da Sinergia Alimentos Saudáveis e da Rede Mandala. Parte dos ingredientes pode ser encontrada no site produtosdaterrapr.com.br

Por Natasha Tinet

Mulher,

Ingredientes 2 fatias de abacaxi orgânico congelado. 1 laranja orgânica descascada e sem sementes. 2 folhas de couve orgânica. 1 fatia pequena de gengibre. 1 água de coco verde ou água mineral. Adoce como preferir.

Gibran Mendes

por que reclama, mulher, o que te falta? Já conquistaste tantas coisas, mulher o que mais você quer? … espere, não terminei, deixa eu te explicar por que você reclama, deixa eu dizer o que você tem, o que te falta e do que precisa deixa eu falar, mulher depois você fala. *Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Alagoas e autora do livro Veludo Violento. O poema selecionado é do livro, na página 41.

ra indígena, 100 anos do nascimento de Clarice Lispector, entre outros temas. “A Semana Literária PUC-PR será uma experiência única aos participantes que, de forma remota, terão a oportunidade de ouvir e interagir com escritores em Língua Portuguesa que são referência e inspiração. Mesmo com a pandemia do novo coronavírus não poderíamos deixar de realizar esse evento, que agrega tanto à comunidade”, afirma Fabiano Incerti, Diretor de Identidade Institucional PUC-PR.

Modo de Preparo Bata todos os ingredientes no liquidificador. De preferência, beba sem coar.

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Rogério Ceni e a miséria no futebol brasileiro

ELAS POR ELA Fernanda Haag

O comandante do Fortaleza é o melhor técnico brasileiro em atividade hoje Pedro Silva*, de Fortaleza

H

aja paciência para assistir um jogo de futebol no Brasil. Chutões, lançamentos diretos, chuveirinho na área, passes errados, jogadas previsíveis e placares tímidos lamentavelmente dominam as quatro linhas dos campos brasileiros. Neste cenário, Rogério Ceni está à frente de um clube com um dos elencos mais limitados tecnica-

mente e com uma das menores folhas de pagamento dentre os times da série A. Mesmo assim, tem feito um trabalho com reconhecimento quase unânime pela crítica e especialistas na área. Acumula uma série de conquistas que o alçaram ao patamar de maior técnico da história do Fortaleza, dentre elas: o título do Brasileirão da série B de 2018 e o consequente acesso à elite do futebol Divulgação

nacional; o campeonato estadual e a copa do Nordeste em 2019 e a participação do Fortaleza, pela primeira vez, numa competição internacional (Copa Sul-americana, em 2020). Com mais de 1000 dias à frente do Leão do Pici, é o segundo técnico com maior tempo de trabalho em andamento num mesmo clube no Brasil, atrás apenas de Renato Gaúcho, no Grêmio. O fato de Rogério “tirar leite de pedra”, mantendo o Fortaleza numa boa colocação no campeonato brasileiro deste ano, enfrentando de igual pra igual equipes que disputam a parte de cima da tabela (inclusive vencendo os líderes Internacional e Atlético Mineiro), consolidando um padrão de jogo moderno, ofensivo e dinâmico, potencializando as qualidades técnicas de jogadores medianos, mesmo com recursos escassos, demonstra que é possível aliar resultado com jogo bem jogado. *Sociólogo, professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e militante da Consulta Popular.

Estaduais Nem só de competições nacionais se faz o futebol. Por isso a coluna desta semana traz alguns dos estaduais. Começamos pelo Paulista, que conta com doze times, divididos em dois grupos. A bola começou a rolar no último final de semana e a segunda rodada está em desenvolvimento. A federação fechou uma parceria inédita com o Facebook e o campeonato terá 38 partidas transmitidas pelo Facebook Watch, e a equipe de transmissão é composta inteiramente por mulheres. Mais ao sul, a edição 2020 do gaúcho foi confirmada, contará com seis equipes. A ideia é adotar um modelo regionalizado, em três estádios e fechar em 15 dias. Já em terras mineiras, a federação confirmou seu estadual com apenas cinco times, já que Araguari e Contagem desistiram por não conseguirem arcar com os custos. Enquanto não temos notícias do Paranaense, vale lembrar que na sexta-feira, 23, há o confronto estadual entre Athletico e Toledo-Coritiba. A partida ocorrerá no CAT Caju e é válida pelo Brasileirão A2. O Foz Cataratas enfrenta o América-MG fora de casa dia 25.

Ficou assim: nada combinado

Dignidade na bagagem

Somos todos parte da crise

Por Cesar Caldas

Por Marcio Mittelbach

Por Douglas Gasparin Arruda

Nada no futebol alviverde guarda similitude com algum planejamento, programação ou organização prévia. Parece inexistir qualquer estruturação articulada para cumprimento de um calendário minimamente programado. Não se trata do ano pandêmico, mas de todo o triênio desastroso da presidência de Samir Namur, seu vice Jorge Durao e diretores de futebol do período. Esta coluna já citou muitos exemplos disso e, faltando 50 dias para findar o mandato, cabe escancarar mais um: jogadores separados da bola que chegam para recuperar sua intimidade com ela. É o caso de Matheus “Filho do Bebeto”, que retornou recentemente aos gramados após 1 ano e 5 meses. Outros: Ricardo Oliveira (40 anos de idade) e o argentino Cerutti, que em 20/10 completou 1 ano desde a última vez que disputou um jogo de futebol. Não se faz isso em meio a um Campeonato Brasileiro.

Dia desses comentamos por aqui uma vitória que nos rendeu muito mais que os três pontos. Pois o empate por 3 a 3 em Maceió na quarta-feira, 21, valeu muito mais que um mísero ponto. Excesso de otimismo? Talvez, mas, jogar de igual para igual contra um dos líderes, depois de ver um time apático há tanto tempo, precisa ser valorizado. Já no primeiro gol, marcado pelo Bruno Gomes, o tricolor quebrou duas marcas que estavam incomodando demais. Lá se foi um tabu de quatro jogos sem marcar gols e oito jogos sem que os atacantes do Paraná fossem para as redes. O gol do Jean foi um afago para quem aprecia o bom futebol e uma boa motivação para o Bressan. Já o gol do Biteco foi o gol da esperança, da perseverança. Se tiver condições de jogo, ele pode fazer a diferença.

Alguns erros podem ser listados para ajudar a compreender um pouco da crise rubro-negra. O Athletico errou ao trazer Dorival Jr que, apesar de bom técnico, não tinha o perfi l de jogo mais próximo com o elenco recém-formado e o tal Jogo-CAP. Errou também ao não colocar o time para jogar o paranaense. Óbvio que não tinha como prever uma pandemia, mas o fato é que isso pesou. Errou ao contratar jogadores que não encaixaram, sendo Carlos Eduardo o caso mais emblemático e insistente. Errou Petraglia ao seguir com uma péssima comunicação com os torcedores, acreditando que futebol se faz apenas com dinheiro. Errou também a torcida ao reclamar apenas nos momentos de crise, aplaudindo todo gesto autoritário em épocas vitoriosas. Assim como as glórias são sempre coletivas, as derrotas também o são.


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