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Esportes
Maradona e a arte de perceber o outro
Num programa de TV sobre Batistuta, Maradona em nenhum momento falou de si mesmo
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Pedro Carrano
Eu morava em San Cristobal de las Casas, no sul do México, abrigado de passagem na casa de uma amiga. Depois de muito tempo de estrada, finalmente tinha contato com uma televisão e canais por assinatura. O aparelho brilhava na sala como um animal estranho. Estava num daqueles domingos com o corpo e mente pedindo inércia, o olhar baixo atraído pelo sinal da tevê que, hoje sabemos, foi feito pra relaxar soldados tensos. Sem mais, o zap do controle remoto passou por um canal esportivo argentino que entrevistava e contava a história do Gabriel Batistuta, o “Batgol”, já em final de carreira naquele ano de 2005.
A surpresa do programa foi que, de repente, a produção convidou e Diego Maradona entra no estúdio, jeito amigo, bonachão, abraça todo mundo, tira sarro de si mesmo e toma parte no debate.
O que mais me impressionou naquele episódio, e vez ou outra me vem à memória, foi o fato de que Maradona em nenhum momento sequer do programa falou de si mesmo, de sua carreira, de seus feitos – o que seria esperado para um gênio reconhecido da bola, símbolo da resistência de um país. Ele ficou analisando a carreira de Batistuta - “Este animal” -, como o chamava. Debateu, riu, valorizou o amigo. Deixou-o até constrangido com os elogios. “No, Diego, pará!”.
Não sei se o craque sempre tem essa postura. Todos nós, de alguma forma, somos inconstantes, contraditórios, vacilantes. Porém, num mundo rápido onde perceber o outro é uma capacidade que perdemos, quando penso em Maradona, recordo sempre este episódio.
ELAS POR ELA
Fernanda Haag
Hasta siempre
A América Latina cou mais triste neste 25 de novembro. Diego Armando Maradona faleceu após uma parada cardiorrespiratória. O “pibe” de ouro tem muitas façanhas, histórias, gols memoráveis, marcou seu nome e sua genialidade na história do futebol mundial. Tudo isso será (e deve ser) devidamente contado e rememorado por todos nós. Aqui quero guardar algumas linhas para lembrar da sua relação com as Avós da Praça de Maio. Diego não se furtava de se posicionar politicamente e sempre apoiou a luta das avós. Quando Estela de Carlotto encontrou, em 2014, seu neto, depois de uma busca de 36 anos, Maradona festejou e lembrou aos argentinos: “Não é só o futebol que pode nos unir”. A mesma Estela, presidenta da associação, foi recebida na concentração da seleção argentina em 2010, quando Maradona era técnico e rea rmou seu apoio a elas. Uma camisa autografada do ídolo era um dos objetos mais representativos quando as avós inauguraram, em 2012, o bar El Revolucionario. Como elas, nos despedimos tristemente de Diego, mas que viverá para sempre em nossas memórias. Hasta siempre.
O futuro se fez presente – parte I
Por Cesar Caldas
O presidente Samir Namur iniciou o segundo mandato do mesmo grupo político prometendo o “Coritiba do Futuro”. Em 15 dias este estará cumprido. Se o triênio anterior (2015-2017) foi retumbante fracasso sob os mesmos auspícios da autodenominada “Ala Jovem”, este último se revela catastró co. Levará anos para o frequentador do Couto Pereira esquecer vexames como as derrotas para Maringá (0x3), Foz (1x3), Oeste (0x2), CRB (0x2), Guarani (0x2) e Toledo, por exemplo – todas em casa. Ainda no Alto da Glória, entristeceu a incapacidade de vencer “rivais” como Prudentópolis, Rio Branco, Vila Nova e Sampaio Correia. Pela TV, o torcedor sentiu o amargor de reveses vergonhosos contra clubes do “quilate” de São Bento (2x5), União de Patos (2x3), Cascavel CR (2x3 e 0x1), Manaus (0x1) e os mesmos Sampaio Corrêa (0x2) e CRB (0x1). A saudade será zero.
Procura-se
Por Marcio Mittelbach
O futebol do Paraná Clube sumiu. Não foi de uma hora para outra, é verdade. Mas basta ver o nervosismo dos jogadores pra notar que agora a vaca foi para o brejo. As grandes jogadas do Bressan viraram raros lampejos. Os gols do Bruno Gomes minguaram e a zaga, que já foi destaque, tem protagonizado um festival de vacilos.
E o pior é que o apagão impera em campo e fora dele. A pressa pela estreia das novas contratações demonstra o desespero da comissão técnica e dos cartolas. Rafael Lima e Bruno Lopes mal chegaram e já foram para o jogo. Se o primeiro foi apenas razoável, deixando dúvidas se tem condições de assumir a titularidade ao lado do Fabrício, o segundo deu sinais de que não está em boa forma. Resta ao Paraná se encontrar o quanto antes. Um novo tropeço na sexta, dia 27, diante do Operário, pode nos fazer aparecer de vez na luta contra o rebaixamento.
Adiós, Pibe
Por Douglas Gasparin Arruda Gostaria de comentar sobre outros argentinos e dos detalhes de uma das partidas mais incríveis do Furacão em sua história. Mas agora as palavras me escaparam. Sinto que todos os amantes do futebol compartilham essa dor. Maradona foi o maior de todos os tempos. Transcendeu os gramados e se tornou um símbolo não só argentino, mas latino-americano.
Numa época em que o marketing esportivo cresceu a passos galopantes, gerando um processo de silenciamento através da pressão dos investidores, Maradona ousou se posicionar politicamente. Ganhou, com isso, muitos inimigos.
Cerca de 15 anos atrás, Maradona entrevistou a si mesmo. Em dado momento, perguntando-se sobre a morte, afirmou que, em sua lápide, escreveria “Gracias a la pelota.” O mundo, hoje mais triste depois de sua morte, agradece também. Adiós, Pibe.