Esportes | p. 8
Histórias pelo YouTube Atividades de contação são feitas para aprendizado de alunos do litoral
PARANÁ
Ano 4
Edição 199
CBF
Cultura | p. 7
Futebol desigual “Meritocracia” e diferença de orçamentos aumentam fosso entre times 11 a 17 de fevereiro de 2021
distribuição gratuita
www.brasildefatopr.com.br
Lucas Rachinski
Sobrevivência em risco Milhões entram na pobreza e na fome sem auxílio emergencial Brasil | p. 5 Giorgia Prates
Divulgação
Greve contra a pandemia Para professores e funcionários, aulas presenciais só com vacina Paraná | p. 4 Direitos | p. 6
Brasil | p. 6| p. 3 Nosso Direito
Editorial | p. 3
A violência de não ter casa
Vísceras da Lava Jato expostas
Mais ataques a trabalhadores
Déficit de moradia era acentuado no início da crise, e tende a crescer.
STF dá acesso a mensagens com irregularidades de Moro e da LJ
Nova direção do Congresso apronta. Países vizinhos mostram caminho
Brasil de Fato PR 2 Opinião EDITORIAL
Brasil de Fato PR
Paraná, 11 a 17 de fevereiro de 2021
Do lado de baixo do Equador
M
al deu tempo de esquentar a cadeira da presidência da Câmara dos Deputados e Arthur Lira (PP-AL) – representante da aliança entre o bolsonarismo e o Centrão – anunciou a transferência da imprensa para o subsolo do Congresso. E apressou-se em colocar em marcha uma agenda de votações extremamente dura para o povo brasileiro. Entre as medidas
estão a reforma administrativa e a autonomia do Banco Central. Caso aprovadas, trabalhadores do setor público sofrerão gravíssimos cortes de direitos, e os interesses dos mais ricos terão ainda mais proteção do Estado. O resultado será o aprofundamento da gangorra da desigualdade: a qualidade dos serviços públicos e as condições de vida do povo tendem a
piorar; os lucros de quem já tem muito tendem a subir. E a imprensa terá de acompanhar tudo isso a partir de uma sala sem janelas nos porões de Brasília: um sarcasmo cruel no mesmo mês em que o Brasil pode chegar a 250 mil mortes pela sufocante Covid-19. Mas, se Brasília está do lado de baixo do Equador, talvez a sombra de nosso vizinho andino possa tra-
zer algum alívio à falta de ar. Por lá, a rejeição à continuidade do projeto neoliberal se mostrou em eleições presidenciais, que ainda precisam ter os resultados confirmados, mas apontam que três dos quatro primeiros colocados são de esquerda; somaram 58% de votos contra 19% de Guillermo Lasso, o candidato representante dos bancos.
EXPEDIENTE
SEMANA
Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 199 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Naiara Bittencourt e Soraya Cristina ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Douglas Gasparin Arruda REVISÃO Lea Okseanberg ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com
O que você acha do retorno às aulas presenciais em Curitiba? OPINIÃO
Soraya Cristina,
professora de educação infantil da rede municipal. Exdiretora do Sismuc sindicato
E
m meio a tantas críticas de que “somos desocupados”, me pego durante dias e dias estudando um protocolo de volta às aulas que não garante a segurança de todas as crianças que hoje estão matriculadas na rede municipal nem dos profissionais que vão atendê -las neste tempo tão difícil.
Chegamos nas unidades hoje cheios de dúvidas, que as 42 páginas do protocolo oficial não foram capazes de responder, e eram perguntas simples como: de qual maneira vamos garantir o distanciamento? Como dimensionar quantas pessoas podem ficar em cada espaço? Qual é a metragem correta? Mas, assim como eu, outros quase 20 mil profissionais saíram das suas unidades sem respostas. Olho para
nossa realidade e não vejo o cumprimento do protocolo de volta às aulas e mais uma vez teremos que “dar um jeitinho” de atender as crianças e também o vírus que circulará entre nós o tempo todo. Não é seguro voltar, não há possibilidade de na educação infantil haver o cumprimento dos protocolos, desassociados da nossa realidade do cuidar e educar. Qual professor/a deixará de abraçar o seu aluno com
menos de cinco anos quando ele chorar sentindo falta da familia para cumprir distanciamento? Qual professor deixará seu aluno limpar sozinho seu nariz? A marca da educação infantil é a ludicidade e a interação entre o adulto e a criança e entre a criança e seus colegas. Além de todo o esforço para manter este distanciamento social dentro de sala, estaremos também lidando com a condição psicológica das crianças
causada justamente pela falta de interação social. Se o prefeito fosse um pouco mais humano e parasse de ver a educação como uma mercadoria, entenderia que o retorno presencial aumentará o contágio e também a circulação do vírus. Na campanha eleitoral, ele dizia que não mandaria seus “curitibinhas” para a escola sem vacina. E depois de eleito em primeiro turno esqueceu de suas promessas.
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Paraná, 11 a 17 de fevereiro de 2021
Geral | 3
QUE DIREITO
FRASE DA SEMANA
Em 2020, minoria teve reajuste acima da inflação O ano de 2020 não foi de ganhos para a classe trabalhadora brasileira. Além dos cortes salariais e suspensões de contrato por conta da pandemia, os reajustes salariais não ultrapassaram a inflação, que ficou em 4,52%. 34,3% dos acordos pelo menos repuseram a inflação, 27,2% foram abaixo e apenas 38,5% trouxeram ganhos reais. No entanto, a variação real média geral dos reajustes foi de -0,11%. A indústria e a região Sul do país registraram os melhores números. Serviços e região Centro Oeste as maiores perdas. Os dados integram o “Boletim De Olho nas Negociações” do DIEESE e revelam que as negociações sindicais garantiram alguns ganhos em datas base. A análise já havia mostrado que as propostas patronais no ano passado atacavam direitos e a renda dos trabalhadores e que as campanhas promovidas por sindicatos foram defensivas. No Sul, onde a pandemia sofreu menos efeitos, os acordos foram 45% acima da inflação, 40,8% pelo menos garantiram a inflação e apenas 14% das negociações registraram perdas. Reprodução | FGV
“(A Lava Jato) se tornou o maior escândalo judicial da história brasileira”
Reprodução | Facebook
Naiara Bittencourt
Moro e o esquecimento
Escreveu no “New York Times”, o mais respeitado jornal dos Estados Unidos, o cientista político Gaspard Estrada, diretor executivo do Observatório Político da América Latina e Caribe (OPALC) de Ciências Políticas. Ele diz que a operação se vendia “como a maior operação anticorrupção do mundo”, mas se tornou esse escândalo.
NOTAS BDF
Por Frédi Vasconcelos
Plenária da Frente Brasil Popular
Calendário de lutas
Em janeiro, foi organizada nacionalmente a Plenária Nacional de Lutas, momento “online” que reuniu 500 militantes de organizações, movimentos e partidos de esquerda de todo o País – unificados com a bandeira de Fora, Bolsonaro, por um plano amplo de vacinação em todo o país e pelo auxílio emergencial, sem corte de direitos ou venda de empresas públicas.
Nos dias 15 e 16 de fevereiro será feita uma agitação nas redes sociais com a hashtag “Fora Bolsonaro”. Em 20 e 21 de fevereiro serão realizadas carreatas em todo o Brasil pedindo o impeachment do presidente. Além dessas datas, no dia 24 de março haverá grande paralisação nacional da educação, que pedirá, entre outras coisas, vacinação de todos os profissionais do setor.
Encontro no Paraná
Como desdobramento dessa plenária, a FBP Paraná organizará um momento estadual, com a participação de militantes de todas as regiões do Estado. A data é 12 de fevereiro (sexta), às 19h, no formato “online”. Entre os anos de 2017 a 2019, a FBP Paraná esteve bastante focada na capital Curitiba, devido à resistência contra a criminalização e prisão do ex-presidente Lula. Um dos objetivos agora é unificar as lutas das organizações e aproximar a militância de cidades do interior.
Fora, Bolsonaro Em participação no programa “Quarta Sindical”, parceria entre o BDF-PR e a CUT-PR, o bancário Milton Rezende, diretor executivo da CUT Brasil e representante da Frente Brasil Popular, também falou do movimento “Fora, Bolsonaro” e destacou que a intensificação das manifestações de rua é essencial para fortalecer o movimento. Nos próximos dias, haverá importante calendário de lutas organizado pelos movimentos sociais articulados nas Frentes Brasil Popular e a Povo Sem Medo.
É ESSE?
Isac Nóbrega
Na terça-feira, 9, a segunda turma do Supremo Tribunal Federal deu um passo importante no reconhecimento das arbitrariedades da 13ª Vara Federal de Curitiba na Lava Jato, em especial nos processos que condenaram o ex -presidente Lula. Por 4 votos a 1, os ministros autorizaram o acesso integral da defesa às mensagens entre procuradores e o ex-juiz Sérgio Moro. O que se discutiu no STF foi o acesso pelos advogados de defesa, e não seu conteúdo. Contudo, na linha do que já foi disponibilizado pela mídia e pelo jornalismo investigativo, é provável que o conteúdo corrobore a suspeição do ex-juiz e traga evidências que acarretem a nulidade da condenação. Ainda que o material tenha sido fruto de hackeamento, atividade ilícita, há aberturas jurídicas para que seu conteúdo possa ser utilizado pela defesa. A veracidade dos textos também não foi apreciada, mas, na sessão, o ministro Gilmar Mendes aproveitou para indicar a improbabilidade de adulteração, considerando os detalhes das incontáveis mensagens. Na semana em que o STF discute a constitucionalidade do “direito ao esquecimento”, a exposição da verdade e a revelação para reconstruir os fragmentos históricos são expressões diretas da democracia e da memória. Que a censura não seja sequer cogitada. Naiara Bittencourt é advogada, membro da Rede de Advogadas e Advogados Populares
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Professores entram em greve contra o retorno de aulas presenciais Um dos principais pedidos é que funcionários sejam prioridade na vacinação Ana Carolina Caldas
M
ais de mil trabalhadores da educação, em assembleia da APP-Sindicato, aprovaram greve geral a partir da data marcada pelo governo de Ratinho Jr. para reinício das aulas presenciais. Os profissionais da educação defendem que, neste momento, não há garantia à saúde e que professores e funcionários sejam prioridade na fila de vacinação, com a volta só após a imunização. Em princípio, o governo tinha programado a volta das aulas presenciais para o dia 18 de fevereiro, depois mudou para 1º de março. A APP Sindicato também denunciou que o governo emitiu resolução convocando professores do grupo de risco a voltar às aulas, entre eles gestantes, pessoas com mais de 60 anos e com comorbidades. Só os funcionários concursados em 40 horas poderiam manter o trabalho remoto. Os que têm apenas uma matrícula e os PSS do grupo de risco não teriam esse direito. O presidente da APP Sindicato, Hermes Leão, explica que a decisão pelo não retorno é em defesa da vida. “Estamos num período grave da pandemia. Não há segurança e garantias de que as vidas serão preservadas.” Hermes complementa que o sindicato consultou especialistas da área médica e se pauta por experiências de países que tiveram de fechar escolas após a reabertura. “É olhar para o que já aconteceu na Europa. Aqui, no Paraná, vamos colocar, por dia, na rua, mais de 500 mil
pessoas. Haverá aglomeração e não há protocolo de segurança para professores, funcionários. O sentimento é de medo. É preciso defender a vida e que as escolas abram após a vacinação.” Apoio de pais Na quinta-feira (4), a APP-Sindicato, junto com estudantes, pais, mães e responsáveis debateram o retorno das atividades presenciais. No encontro, que reuniu mais de 200 pessoas de forma virtual, ficou clara a preocupação. Para Terezinha Maciel, mãe e representante da Fepamef-PR, que representa os pais, aponta que mesmo que os protocolos sejam aplicados, existe o risco fora das unidades. “Haverá aglomeração nos terminais rodoviários, nos ônibus. Não podemos terceirizar essa responsabilidade para os pais, o governo deve ter a responsabilidade de gerenciar esse retorno com segurança”. A APP-Sindicato manterá mobilização contra o retorno das atividades presenciais e também recorrerá ao Ministério Público do Paraná e ao Ministério Público do Trabalho.
DENÚNCIA
Divulgação | Instituto de Educação
Governo esconde falta de estrutura nas escolas Na volta às aulas que o governo do Estado quer fazer, protocolos sanitários são prometidos, mas a situação de muitos colégios é de abandono. O Colégio Estadual São Pedro Apóstolo, por exemplo, teve salas de aula fortemente danificadas em junho de 2020. Após fazer a denúncia nas redes sociais, a professora Sonia Terezinha Dalpissol foi chamada pela direção do colégio e acusada de infringir o Estatuto do Servidor. Foi pedido que apagasse a denúncia no Facebook.
As fotos mostram parte do piso solto e com buracos, infiltrações e mofo no forro e nas paredes e um ambiente totalmente inadequado para receber estudantes. “Além de saber que eu não fiz nada errado, que eu estou no meu direito legal, que a Constituição Federal me garante esse papel de poder denunciar aquilo que eu vejo que está errado, eu tenho a dizer que quem está infringindo a lei é o governo do Estado, que não cuidou do patrimônio público”, disse a professora.
Sandro Nascimento | Alep
AULAS APÓS VACINAÇÃO O deputado Tadeu Veneri (PT) apresentou projeto para garantir a proteção dos trabalhadores da educação. O texto inclui professores e funcionários das escolas no grupo de trabalhadores prioritários para receber a vacina na primeira fase. “O governo tem de investir na compra de vacinas para estender o programa. Esta é uma condição básica para o retorno seguro das atividades presenciais“, ressaltou o deputado.
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“Nos negaram ter um futuro” População brasileira entra 2021 sem perspectiva, com desemprego, pobreza e fim do auxílio emergencial Giorgia Prates
Lia Bianchini
A
o falar de sua história, Kixirá Jamamadi conta também a de milhões de brasileiros. Migrante, saiu de Rio Branco, no Acre, para morar em Curitiba. O sonho era cursar uma universidade. Hoje formada em Gestão Pública pelo Instituto Federal do Paraná, Kixirá é a primeira de seu povo - Jamamadi - com graduação em curso superior. Em 2020, virou uma entre os 12,9 milhões de desempregados do Brasil. Em sua casa, no Bairro Novo Mundo, moram ela, o marido, um filho de 12 anos, a mãe, de 73 anos, uma irmã e um sobrinho, de 4 anos. “Estamos vivendo como a maioria dos brasileiros, de ‘bico’. É uma luta diária”, conta Kixirá. Na metade de 2020, ela conseguiu acesso ao auxílio emergencial, de R$ 600. “Pensei, ‘com isso a gente vai poder contar’. Bela pegadinha, porque eles davam quando queriam. Não podia contar com aquele dinheiro. Às vezes passava um mês, um mês e meio sem receber. Então resolvia e não resolvia porque as pendengas das contas não esperam”.
Relatório “O vírus da desigualdade”, lançado pela Oxfam em janeiro de 2021, aponta que “foram necessários apenas nove meses para os 1000 maiores bilionários [do mundo] reaverem suas fortunas para os níveis pré-pandêmicos, mas para as pessoas mais pobres a recuperação pode ser 14 vezes maior; mais que uma década”. O dado mais recente, de 2019, do IBGE,c aponta que o Brasil tem mais de 51 milhões de pessoas vivendo na linha da pobreza, isto é, com renda de US$ 5,50 por dia (R$ 436 por mês). Abaixo da linha da pobreza, vivendo com menos de US$ 1,90 por dia (R$ 151 por mês), são 13,7 milhões de brasileiros.
O auxílio emergencial, cortado no final de 2020, chegou a mais de 126 milhões de pessoas, o que representa 60% da população brasileira. De acordo com a Fundação Getúlio Vargas, de maio a dezembro, 15 milhões de brasileiros deixaram a extrema pobreza por causa do benefício. Resistente em retomar o auxílio da forma anterior, o governo federal ensaia proposta de R$ 200 por mês, durante três meses, com foco em trabalhadores informais não atendidos pelo Bolsa Família e exigência de curso de qualificação profissional para acessar o benefício.
A TRAGÉDIA BRASILEIRA NO GOVERNO BOLSONARO
64,7 milhões
$
vivem na linha da pobreza ou abaixo dela
e
As dificuldades em números
Para conseguir uma renda fixa todo mês, Kixirá e o marido, também desempregado, têm buscado formas alternativas. Ele, italiano, dá aulas particulares do idioma natal. Atualmente, tem cinco alunos e essa é a principal renda fixa da família. Além disso, juntos, Kixirá e o marido produzem e comercializam pizzas caseiras. O empreendimento faz parte de uma rede de economia solidária. “Mas ainda não dá pra contar com o dinheiro de maneira fixa”, diz. No quintal de casa, sua mãe planta ervas medicinais, vendidas para a vizinhança. Kixirá começa 2021 com a certeza de que o auxílio emergencial, que antes era inconstante, agora deixa de existir. Ela não vê muitas possibilidades de mudança neste ano. O único futuro possível de vislumbrar é um dia de cada vez. “Você se sente em um beco sem saída. Nos negaram ter um futuro. A gente fica insegura, sem saber o que vai comer amanhã. Está complicado comer, vestir, ter saúde no Brasil. Estou sendo pessimista porque sei a minha realidade e a realidade à minha volta”, afirma.
126 milhões
9 meses
X
tempo em que os mais ricos já recuperaram o que tinham antes da pandemia
ficaram sem o auxílio emergencial
10 anos ou mais é o tempo para mais pobres recuperarem o que tinham antes da pandemia
Brasil de Fato PR 6 Cidades
Um direito básico e urgente: a moradia Olenka destaca o papel, por exemplo, do Tribunal de Justiça do Paraná e muito em Curitiba. Na região metropolitana e na capital, são 80 mil domicílios. Quando falamos em déficit habitacional e número de domicílio, incorporamos a categoria de habitações precárias, habitações familiares, que reúnem vários núcleos familiares, e ônus excessivo com aluguel”, explica.
Pedro Carrano, com fotografias de Giorgia Prates
A
expectativa de famílias ocupantes de áreas de ocupação irregular. A ausência de políticas habitacionais. O problema da ausência de secretarias de habitação municipal. A violência. Estes foram alguns dos eixos do debate da live Brasil de Fato Paraná Entrevista, com a presença de Olenka Lins e Silva, defensora pública da Defensoria Pública do Estado
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do Paraná desde 2016. O debate contou também com Ivan Carlos Pinheiro, integrante da União de Moradores/as e Trabalhadores/as (UMT). Olenka reafirma que, em 2015, no início da crise política e econômica brasileira, o déficit de moradia no Brasil e em Curitiba já era acentuado, o que agora tende apenas a crescer. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta 7,9 milhões de domicílios, “Número que aumentou
Criminalização e falta de diálogo No cenário em que a luta por moradia é criminalizada, tanto Olenka como Pinheiro apontam que, entre os três poderes, no caso do Paraná, o poder judiciário tem de alguma forma conseguido ponderar e chamar a atenção para o risco de despejos forçados. Olenka destaca o papel, por exemplo, do Tribunal de Justiça do Paraná, que emitiu decreto suspendendo reintegrações de posse em meio ao período de pandemia no território do Paraná – evitando aglomerações e também colocar as famílias nas ruas neste período. “Tenho que falar sobre a criação da Comissão de Conflitos Fundiários, do Tribunal, presidida pelo desembargador Fernando Prazeres, que tem feito um trabalho de extrema importância. A visita da comissão recentemente à ocupação do Tatuquara (Britanite), onde havia ordem de reintegração de posse já emitida, foi constatada a situação dos moradores e foi feito um relatório minucioso, de responsabilidade e de potencial de transformação social”, avalia Olenka. No dia 10 (quarta), Olenka participaria ainda de coletiva de imprensa na própria comunidade Nova Guaporé, em Curitiba. O Brasil de Fato Paraná foi um dos organizadores e transmitiu o evento.
DESPEJO
Vinte famílias despejadas em dois dias No espaço de dois dias, cerca de 20 famílias chegaram à situação extrema de terem sido despejadas de um terreno ocupado por duas vezes, reflexo da atual necessidade e, por outro lado, ausência de políticas públicas para moradia. A primeira ocupação aconteceu na madrugada do dia 6 de fevereiro, no bairro Tatuquara, em frente à BR 476 (rodovia do Xisto). Na manhã seguinte, a guarda municipal retirou cerca de 200 pessoas que passaram a madrugada no local. Dentre elas, 20 famílias não tinham para onde ir. Logo após o despejo, as famílias partiram para a ocupação Nova Guaporé 2. Porém, no dia 8, o efetivo da Guarda Municipal não permitiu a estadia do grupo, alegando projeto da Prefeitura de Curitiba que prevê o traçado de uma rua no local onde haviam se instalado. PUBLICIDADE
Brasil de Fato PR 7 | Cultura
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Projeto de contação de histórias terá canal no YouTube para alunos do litoral Lucas Rachinski
Por Venâncio de Oliveira
As azaleias espantavam as más memórias Três anos! Passado terrível. O cheiro dela cativava. Eram 19h30 e ainda fazia sol. Tinham todo o tempo do mundo. E, ele se desafiaria. - Não vai ficar com medo? - Não...! Como prometi, vou com você. Ele não gostava de ser julgado assim. - É por aqui – ela arrombava a porta e os passarinhos revoavam, espantando fantasmas. A casa era linda e velha, parecendo esconder tesouros. Quando criança sempre estavam lá com o Artífice, o velhinho bonzinho que fazia fantasias, ventríloquos e
máscaras. Ele morrera sem ninguém. Especulavam sobre os filhos. Mas eles dois sempre achavam que eram os verdadeiros herdeiros. - Olha esse quarto! Ainda maravilhoso! – ela vestia uma máscara de elefante. Os rancores passavam e de alguma forma a via diferente. Suas inseguranças se desvaneciam. Ela era honestamente triste. E, nisso tomava o chapéu verde de Peter Pan e tocava a flauta doce. - Quem é você? – ela gritava regozija, como se um encanto fora renovado. E, o terrível e o gozo saudavam a fina película do algoritmo do humano.
DICAS MASTIGADAS
Programa de incentivo à leitura nas escolas públicas teve início em 2019 Redação
O
programa “Onde Canta o Sabiá”, de incentivo à leitura, é direcionado para os alunos das escolas públicas do litoral do Paraná. Teve início em 2019 e seria concluído em 2020, mas foi suspenso por conta da pandemia. As ações presenciais já tinham acontecido em Morretes, Guaratuba e Matinhos, mas tiveram que ser interrompidas em Antonina, Guaraqueçaba e Pontal do Paraná. Para dar sequência às atividades, a maneira encontrada foi utilizar vídeos. Michelle Peixoto e Vinícius
Mazzon, os idealizadores, empreendedores e mediadores do projeto, gravaram 16 programas de 20 minutos cada, com contação de histórias e rodas de leitura, divididos por faixas etárias. Assim, desde a pré-escola até o 5º ano do fundamental, todos terão conteúdo literário criado para sua idade. “A ação a distância é limitada, não substitui a experiência de uma apresentação ao vivo, mas, por outro lado, o conteúdo pode ser visto mais de uma vez e por uma quantidade maior de crianças”, comenta Mazzon. O repertório envolve
questões ligadas à natureza, poemas e contos com animais silvestres, principalmente os pássaros, além, é claro, de assuntos da cultura popular. Mário Quintana, Alice Ruiz, Zé Bernadinho e outros autores consagrados como Ana Maria Machado, Figueiredo Pimentel, Ricardo Azevedo, Ruth Rocha, Monteiro Lobato, Câmara Cascudo, Mário de Andrade, Silvio Romero e Franklin Cascaes são fontes do projeto. Em parceria com as secretarias municipais de educação, o projeto também vai oferecer, nesta nova versão digital, oficina voltada aos professores.
Bolo de banana A cada semana, publicamos receitas com produtos agroecológicos da rede colaborativa Produtos da Terra, da Sinergia Alimentos Saudáveis e da Rede Mandala. Parte dos ingredientes pode ser encontrada no site produtosdaterrapr.com.br
Pixabay
Ingredientes 4 bananas orgânicas maduras; 4 ovos orgânicos; ½ xícara de óleo; 2 xícaras de farinha de aveia; 2 colheres (de sopa) de fermento em pó e 1 colher (de chá) de canela Modo de preparo Bata no liquidificador bananas, ovos e óleo. Coloque a mistura em uma tigela, adicione a farinha e a canela e misture bem. Por último adicione o fermento e misture sem bater muito. Coloque toda a mistura em uma forma untada. Leve ao forno 180º por cerca de 35 minutos.
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Falei das flores. E dos jacarés. Por Cesar Caldas
Neste início de gestão administrativa do Coritiba, o caminho é de pedras. Onde quer que se mexa, se encontra um problema criado pelos últimos seis anos de frustrações. Com a temporada de 2020 no fim (sim, já estamos em 2021), usarei como inspiração o maior hino de resistência do movimento civil e estudantil contra o regime militar. Também conhecida como “Caminhando”, a canção de Geraldo Vandré “Para não Dizer que não Falei das Flores” remete às promissoras atletas do time feminino do clube, ainda chamado “Toledo Coritiba”. Jhonson, a tulipa negra artilheira do time, foi convocada para a Seleção. E nestes tempos em que incautos acreditam que a vacina nos torna jacarés, é bom lembrar do já glorioso time de futebol americano Coritiba Crocodiles, que obtém o patrocínio máster de uma “big player” da telefonia móvel do País. Falei. Das flores e dos jacarés. Fica, presidente! Por Marcio Mittelbach
A renúncia no mês passado do ex-presidente do Paraná Clube, Leonardo Oliveira, trouxe à tona um mau no Paraná Clube. Desde 2003, quando os sócios do clube passaram a votar, esse já é o quarto presidente que não encerra o mandato por motivo de crise política. Na hora do “vamos ver”, eles pedem o boné ou ganham um pé na bunda e tudo bem, vida que segue. Tão importante quanto afastar o presidente, caso ele não esteja dando conta do recado, é pontuar os erros e investigar possíveis desvios de conduta. Com sucessivas gestões inacabadas, será tão difícil projetar o futuro quanto revisitar o passado. Antes de aceitar a pressão e sair, o ex-presidente deveria responder a uma série de questões. Da forma como aconteceu, corremos o risco de mais uma vez ter feito a troca pela troca, sem qualquer evolução enquanto instituição. Copa Sul-Americana x Libertadores Por Douglas Gasparin Arruda
Um dos debates desta semana sobre o jogo entre Athletico e Corinthians se deu a partir de uma questão: seria mais interessante para estas equipes disputarem a Libertadores ou a Copa Sul-Americana? Pode parecer absurdo que alguns torcedores não deem preferência para a maior competição do continente, mas existe um ponto importante no debate: ambos os times chegam neste momento da competição com problemas na formação do elenco e na qualidade técnica apresentada, e, por isso, a chance de uma queda na fase preliminar da Libertadores seria grande. Mas é importante diferenciar as situações: no Corinthians, uma queda precoce pode gerar crises, como já ocorreu em outros contextos. No Furacão, uma 3° classificação seguida para a Libertadores valorizaria ainda mais a equipe e suas conquistas recentes.
No futebol, pobres cada vez mais pobres Arrecadação e premiações distanciam clubes com maior orçamento do “resto” Frédi Vasconcelos
A
s duas vitórias do Flamengo contra o Coritiba no Brasileirão 2020, por 1 a 0 e 3 a 1, foram até por pouco se comparado o poderio financeiro dos times. O Flamengo é quem mais arrecada no Brasil, quase 1 bilhão de reais por ano, número que deve se reproduzir em 2021 (veja tabela abaixo), e enfrenta os times que têm orçamentos próximos ou abaixo de R$ 100 milhões/ano, cerca de 10% do que arrecada, como o Coxa. E a “meritocracia” vai aumentar ainda mais esse fosso. Analisando apenas o Brasileirão, o campeão levará para casa R$ 33 milhões em premiação. Os quatro rebaixados não levarão nada. Não à toa, entre os seis times mais bem colocados no campeonato, Internacional, Flamengo, Atlético -MG, São Paulo, Fluminense e Grêmio, todos têm previsão de faturar mais de R$ 300 milhões em 2021. A exceção, neste ano, é o Corinthians, que tem um dos maiores faturamentos do futebol brasileiro, mas não passa da oitava posição na tabela. Mas luta contra dívida de mais de R$ 1 bilhão da construção de seu estádio, além de falta de um projeto esportivo claro nos últimos anos. Óbvio que não é apenas dinheiro que determina os resultados, há times que revelam jogadores, fazem bons projetos, conquistam resultados acima de sua capacidade financeira. E tem também quem
gasta mais do que pode para ter resultados num ano, mas acaba pagando um preço bem caro na sequência, como Cruzeiro, Vasco, Botafogo. Times com grande passado e, atualmente, grandes dívidas. No Paraná, atualmente, o único que tem arrecadação e administração para encarar os grandes fora do Estado é o Athletico, que em 2019 teve o maior faturamento e alguns dos melhores resultados de sua história. Fato que não se repetiu na temporada 2020, principalmente pela venda de jogadores e reposições que não foram à altura. ARRECADAÇÃO 2021 (previsão em R$/milhões)
Flamengo
953,9
Palmeiras
607,7
São Paulo
460
Internacional
450
Atlético MG
401
Vasco
365,5
Grêmio
362
Santos
310,3
Fluminense
302
Corinthians
Não informado
ELAS POR ELA Fernanda Haag
Brasileirão Sub-18 Começou em 26 de janeiro o Campeonato Brasileiro Feminino Sub-18. O Brasileirão conta com 24 equipes e está dividido em quatro fases. A primeira ocorreu entre 26/1 e 6/2, em Sorocaba, interior paulista. Os times estavam divididos em seis grupos, os primeiros se classificaram, assim como os dois melhores segundos. A segunda fase começou a ser disputada esta semana em Criciúma e irá até o dia 13/2. Os oito classificados estão divididos agora em dois gru-
pos. Os times se enfrentam entre si e os dois melhores de cada grupo irão disputar o mata-mata, com semifi nal e fi nal em jogos de ida e volta, nas suas respectivas “casas”. A previsão é que o campeonato se encerre no dia 21/3. Avançaram na competição Flamengo, Internacional, Palmeiras, Santos (primeiro grupo); Ferroviária; Fluminense; Avaí/Kindermann e São Paulo (segundo grupo). Se quiser acompanhar os jogos, a transmissão ocorre pela CBF TV.