Brasil de Fato PR - Edição 202

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PARANÁ

Ano 5

Edição 202

11 a 17 de março de 2021

distribuição gratuita

www.brasildefatopr.com.br

UM ANO DE PANDEMIA E SÓ PIORA Governos batem cabeça, Brasil, Paraná e Curitiba têm recordes de casos e mortes Brasil | p. 4 e 5 Giorgia Prates

Editorial | p. 2

Anula lá! Justiça parcial para Lula, mas necessidade de suspeição de Moro

Brasil | |p.p.66 Direitos

Ameaça de despejo Empresa exige retirada de duas famílias no Campo Comprido

Professoras morrem

Geral | p. 3

Óbitos ocorrem após exigência de volta de atividades presenciais Brasil | p. 4 e 5

Discurso denuncia falta de governo e “injustiça” em condenação

Lula bate forte


Brasil de Fato PR 2 Opinião

EDITORIAL

A

Brasil de Fato PR

Paraná, 11 a 17 de março de 2021

Anula lá!

necessária anulação das condenações de Lula pega o Brasil de surpresa. O ministro Fachin realizou uma questionável manobra jurídica que tentou salvar Sérgio Moro. Ao invés de reconhecer que Moro não poderia julgar Lula por ter interesse em sua condenação, declarou a nulidade por incompetência territorial, deslocando os processos para o Distrito Federal. Foram vários questionamentos da defesa de Lula ao longo dos anos sobre a incompetência da tramitação do processo em Curitiba, bem como da suspeição do então juiz. O ex-presidente

Trata-se de uma parcial conquista jurídica, e uma vitória das lutas do povo contra os desmandos autoritários da Lava Jato ficou 580 dias preso, foi impedido de disputar a eleição de 2018 e, no momento em que deveria enfrentar a suspeição de Moro, Fachin fala em incompetência territorial. Mas, ao contrário dos interesses de Fachin, a 2ª Tur-

ma do STF decidiu, no dia 9 (terça), por apreciar a suspeição do ex-juiz. A decisão, junto à anulação das condenações, é motivo de comemoração. Abusos cometidos na condução dos processos tornam-se evidentes pelos votos já pronunciados e, mais, fica explícita a ausência de ligação entre as acusações e os desvios na Petrobras. Trata-se de uma parcial conquista jurídica, e uma vitória das lutas do povo contra os desmandos autoritários da Lava Jato. Além disso, recoloca-se no horizonte a possibilidade da superação do protofascismo, instaurado no poder desde 2018.

SEMANA

Bolsonaro dobra a aposta no confronto OPINIÃO

Milton Alves,

Colunista do Brasil de Fato Paraná, autor dos livros ‘A Política Além da Notícia e a Guerra Declarada contra Lula e o PT’ (2019) e ‘A Saída é pela Esquerda’ (2020)

O

governo Bolsonaro é o centro da crise. Sobretudo, faz uma aposta na ampliação do confronto político na crise em curso – de natureza múltipla e combinada: institucional, econômica, social e sanitária. Uma situação que aponta para uma evolução do impasse político nos próximos meses. Diante do tamanho da crise, ele faz movimentos no sentido de abrir caminho para um regime de força, autoritário. Busca reunir forças para atingir os seus objetivos, operando um conflito permanente com outras instituições de Estado – desmoralizadas – e a oposição política, a velha direita liberal e a esquerda, que no geral adotam uma conduta política tímida e vacilante frente aos arroubos “bonapartistas” do bolsonarismo. O governo da extrema direita, apesar de contar ainda com um apoio de cerca de 30% da população, perde, a cada dia, substância política e sofre uma constante erosão no plano simbólico. Pressionado pelas crescentes dificuldades oriundas da crise, Bolsonaro sinaliza o desejo de romper com as amarras institucionais e impor medidas duras, de concentração de poder. Resta saber se contará com a ancoragem das Forças Armadas para enveredar na direção de um regime de exceção escancarado. De toda forma, a situação é perigosa, requer vigilância e mobilização das forças democráticas e populares. Todos indicadores sanitários e econômicos tendem a piorar nas próximas semanas, prolongando ainda mais as agruras da população trabalhadora e pobre, que ainda não se movimenta na direção de uma revolta generalizada ou de intenso protesto provocado pelo desespero. O que pode ser uma questão de tempo. Já para a esquerda, uma aposta política efetiva na rebelião popular é o caminho mais eficaz, seguro e rápido para pôr fim ao governo genocida de Bolsonaro. Os exemplos do Chile, Equador, Bolívia, Guatemala, Peru, Haiti e agora do Paraguai indicam um rumo para enfrentar e derrotar a extrema direita neoliberal na América Latina.

EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 202 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Anna Keil, Fernan Silva, Milton Alves ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Douglas Gasparin Arruda REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com


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Brasil de Fato PR

Paraná, 11 a 17 de março de 2021

Geral | 3

FRASE DA SEMANA

A Petrobras sofre intervenção do mercado financeiro? Não adianta trocar o presidente e não trocar a política de preços. Essa é a percepção que vai se construindo após o sexto aumento do diesel (5,5% agora) e gasolina (8,8%) autorizado pela Petrobras e o segundo desde que o presidente Jair Bolsonaro anunciou a troca na presidência. Segundo a empresa, o aumento se deve ao “alinhamento dos preços ao mercado internacional [que] é fundamental para garantir que o mercado brasileiro siga sendo suprido, sem riscos de desabastecimento”. Com o novo aumento, o questionamento que surge é: a Petrobras sofre intervenção do mercado financeiro que define a política de ganhos? Para o Dieese, “o brasileiro passou a conviver com instabilidade e escalada nos preços desses derivados, resultado da decisão da gestão da Petrobras em acompanhar a variação do preço internacional do barril de petróleo e a variação do câmbio nos preços praticados nas refinarias da petrolífera”. Este é o ponto central a ser debatido e que está na nota técnica “O necessário debate sobre os preços dos combustíveis no Brasil”. Para o Dieese, a Petrobras poderia recuar da política de paridade internacional nos preços dos derivados e levar em consideração outros fatores, como a produção de petróleo e refino no país.

COLUNA DA

“Não se combate crime cometendo crime”

JUVENTUDE Mas não era só tirar o PT que as coisas melhoravam?

Disse o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes no julgamento de ação que analisou a suspeição do ex-juiz Sergio Moro em ação contra o ex-presidente Lula no caso do apartamento triplex.

Nelson Junior | STF

NOTAS BDF

Por Frédi Vasconcelos

Lula fala Na quarta, 10, o ex-presidente Lula fez no Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo do Campo, seu primeiro pronunciamento após a decisão do ministro do STF Edson Fachin que cancelou os processos julgados por Sérgio Moro em Curitiba por entender que ele não era o juiz competente para analisar os casos.

Discurso de candidato Na fala, Lula fez questão de dizer que no momento o “Brasil não tem governo”, criticando o negacionismo de Bolsonaro na pandemia. Para o ex -presidente, deveria existir um comitê de crise, coordenando as ações em todo o País, não o caos atual em que cada um atira para um lado. Lembrou que na época da pandemia de H1N1, em três meses, 80 milhões de pessoas foram vacinadas. E disse que no governo atual demitiram até o “Zé Gotinha” por acharem que ele era “petista”.

Maior mentira jurídica Lula disse que foi vítima “da maior mentira jurídica contada em 500 anos de história. Eu sei que a minha mulher, a Marisa, morreu por conta da pressão e o AVC se apressou. Eu fui proibido até de visitar o meu irmão dentro de um caixão”, disse o ex-presidente. “Eu tinha tanta consciência do que estava acontecendo no Brasil, que eu sabia que esse dia (de absolvição) chegaria. E ele chegou”, disse.

Vigília e apoios Lula também disse que a prisão não foi tão insuportável como imaginava por conta da solidariedade. Lembrou que todo dia, nos 580 dias em que passou preso em Curitiba, acordava ouvindo o “bom dia, presidente”, almoçava com as pessoas mandando saudações e no fim da tarde ouvia novamente aqueles que estavam na Vigília Lula Livre. Lembrou também que era visitado todos os dias por advogados de Curitiba, que levavam suas refeições e ajudavam a suportar o cárcere. Instituto Lula

A juventude que agora está sem perspectiva, há uma década sonhava com pós-graduação e emprego de qualidade. Essa mesma juventude lutou para garantir recursos do pré-sal e por cotas no ensino superior para que este direito fosse acessível para mais jovens brasileiros. Mas quando chega o tempo de colheita, Temer impõe à Petrobras uma política de valores internacional, e Bolsonaro nomeia outro presidente à grande estatal, gerando uma reação em cadeia de aumento de custo dos produtos cotidianos (ligados ao petróleo) do povo brasileiro: gasolina, gás e comida. Não há fartura, nem o básico, na mesa de um povo que tem em sua formação social muita luta e resistência. E isso só nos mostra que é tempo de cultivar e semear novos frutos, com zelo e sempre atentos/as para que a Petrobrás volte a responder aos interesses nacionais, objetivando soberania energética ao povo e estabilidade do custo de produtos, e não com 49% das ações nas mãos de acionistas internacionais com interesses próprios. Com a pandemia, o terreno que vem se apontando como mais fértil e geminável é o da solidariedade, como a Campanha Periferia Viva em que o povo se enfileira para a grande e farta colheita que nos espera. Anna Keil e Fernan Silva, militantes do Levante Popular da Juventude


4 | Saúde

Brasil de Fato PR

Paraná, 11 a 17 de março de 2021

Paraná, 11 a 17 de março de 2021

Paraná tem o maior número de novos casos de coronavírus em todo o país Em número de mortes, dados mostram que o estado está entre os primeiros Ana Carolina Caldas

A

Secretaria de Estado da Saúde, Sesa, divulgou na terça (9), 5.349 novos casos confirmados e 212 mortes por Covid-19. É o maior número de óbitos divulgados diariamente desde o início da pandemia. Nesta semana, o Paraná aparece com a maior média móvel de casos novos em todo o Brasil. Dados do Farol Covid, da plataforma CoronaCidades, apresenta o Paraná com a maior média móvel de contaminações pelo novo vírus

em todo o Brasil, além de ser também um dos estados com maior crescimento de mortes. Na última semana, foram registrados 98,41 novos casos de Covid para cada 100 mil habitantes. A média móvel de mortes ficou em 1,15, a sexta maior do país. Na semana passada, o secretário de Saúde Beto Preto e o governador Ratinho Jr. anunciaram medidas restritivas. Porém, novo decreto foi anunciado na sexta (5), em que o governo volta a flexibilizar a abertura de atividades a partir do dia 10, autorizando

a volta do comércio e de aulas presenciais. O Brasil de Fato Paraná entrou em contato com a Sesa para saber se mesmo com o recorde de casos o decreto continuaria valendo e quais as medidas para conter o crescimento da pandemia. A secretaria respondeu: “assim como ocorre há um ano, o governo do Estado e a Secretaria de Estado da Saúde seguem ativando leitos, equipando hospitais, viabilizando aquisição de medicamentos, EPIs e outros insumos pa-

Giorgia Prates

ra o enfrentamento à doença. Além disso, atua de forma massiva na comunicação por meio de campanhas educativas e orientativas para buscar a conscientização das pessoas sobre os cuidados para evitar a transmissão do vírus. A decisão anunciada pelo governador na sexta-feira (5) foi em acordo com o secretário de Saúde, Beto Preto. As medidas são determinadas por meio de Decretos assinados pelo governador e caso ocorra alguma alteração, será anunciada pela assessoria do Governo do Estado.”

2020

OMS declara pandemia mundial de Covid-19

Curitiba chegou em 2021 a mais de 3 mil mortes por coronavírus e voltou a apresentar crescimento acelerado de contaminados. No pior momento da pandemia na cidade, os trabalhadores da educação da rede municipal de ensino de Curitiba foram convocados, em fevereiro, para reuniões presenciais com equipe pedagógica e pais, além de uma primeira semana de aula presencial. Tanto o Sindicato dos

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Paraná confirma primeiros casos: 5 em Curitiba e 1 em Cianorte

23 casos confirmados / 146 suspeitos. Governador decreta estado de emergência

Primeiros óbitos registrados: 2 na cidade de Maringá

8.705 casos confirmados / 294 óbitos

22.623 casos confirmados / 636 óbitos. Decreto estadual suspende funcionamento de atividades não essenciais, restringe o comércio, autoriza barreiras sanitárias

Ocupação de leitos de UTI para Covid-19 chega a níveis preocupantes: 75%

Flexibilização das atividades econômicas: secretarias de Fazenda e Planejamento indicam que 97% das empresas haviam retomado as atividades

A linha do tempo da pandemia no Brasil mostra, no primeiro momento, medo da infecção. O sentimento é substituído por aceitação injustificada, sofrimento e mortes que poderiam ter sido evitadas. Segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde, o Paraná registra um total de 728.333 casos confirmados e 12.711 óbitos. Em todo o Brasil, são 11,1 milhões de infectados e mais de 260 mil mortes.

2021

“Estamos muito preocupados com os níveis alarmantes de contaminação e de falta de ação [dos governos]”. Em 11 de março de 2020, o diretor geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom, usava essas palavras para decretar a pandemia mundial da Covid-19. Disse que “pandemia” era uma palavra usada com muito cuidado, pois poderia causar “medo ou uma aceitação injustificada de que a luta acabou, levando a sofrimento e mortes desnecessárias”.

Após encontros presenciais, professoras de Curitiba morrem por Covid-19 Sindicato e categoria são contra o retorno das escolas no início do ano

1 ANO DE PANDEMIA 11/3

Saúde | 5

Jan

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Em janeiro Brasil recebe as primeiras doses de vacinas contra a Covid-19. No Paraná, ato simbólico no dia 18 marca o início da campanha de vacinação

Primeiro mês do ano se encerra como o pior desde o início da pandemia. Taxa de ocupação de leitos em UTI vai a 81%

722.990 casos confirmados / 12.505 óbitos. Paraná à beira do colapso: taxa de ocupação de leitos de 97%, restando apenas 40 leitos livres em todo o Estado

Paraná recebeu até o começo de março 853 mil doses, com 394.448 vacinados. Desses, 123.072 receberam as duas doses recomendadas

Prefeitura de Curitiba reorganiza atendimento de unidades de saúde Em coletiva de imprensa na terça (9), a secretária de Saúde de Curitiba, Márcia Huçulak, anunciou reorganização do sistema de saúde, dando prioridade para casos de Covid-19. Diante da gravidade e da falta de leitos de UTIs, optou por deixar algumas Unidades de Pronto Atendimento, UPAs, especificamente para casos de Covid-19 que precisam de internação. “A hora é de concentrarmos totalmente o atendimento na Covid-19 e demais casos graves de saúde”, explica a secretária. Mudanças As UPAs Cajuru, Boa Vista, Sítio Cercado, Campo Comprido, Pinheiri-

nho e CIC passam a partir da quarta (10) para um sistema híbrido – funcionando como centros de internamento para casos de Covid-19 e pronto -atendimento para casos graves de outras doenças. Casos leves e moderados serão redirecionados para unidades básicas de saúde. As UPAs Boqueirão e Fazendinha continuam como unidades hospitalares, para internamento de pacientes de Covid-19. Outras 42 unidades de saúde passam a funcionar como pronto-atendimento para casos leves e moderados de urgência e emergência médica. Não serão realizados exames de rotina nem check-ups.

Reprodução

SUSPENSÃO DE AULAS Após a pressão dos trabalhadores da educação e o avanço da pandemia em Curitiba, a Prefeitura da cidade suspendeu as aulas presenciais até 6 de abril. A categoria vem reivindicando desde o início de fevereiro que o ensino permaneça no formato remoto até que os trabalhadores da educação sejam vacinados e que as unidades sejam adaptadas para receber os alunos. Entretanto, a gestão de Rafael Greca insistiu no retorno presencial, mesmo com um protocolo insuficiente.

Servidores do Magistério Municipal –Sismmac – como a categoria de professores e funcionários chegaram a pedir à Secretaria Municipal de Saúde que estas atividades fossem realizadas de forma remota. Quinze dias após, comunicados informando casos de contaminação entre professores e alunos começaram a ser divulgados. E, pior, com a morte de professoras. Em uma semana, três professoras vieram a óbito devido ao coronavírus. Todas estiveram nas atividades presenciais de fevereiro. A professora Noêmia Martins Coimbra, de 41 anos, morreu na segunda-feira (1º/3), Maria Aparecida das Graças Mega, 52 anos, faleceu no sábado (6) e a professora

Reprodução

Francelize Ramalho de Oliveira, de 36 anos, morreu na terça-feira (2). Em nota, o Sindicato dos Servidores Municipais de Curitiba – Sismuc – lamentou as mortes e cobrou medidas. “Enquanto não houver medidas efetivas por parte dos governos para restringir a circulação de pessoas e garantir condições de subsistência às famílias, esses números vão seguir crescendo mais e mais a cada dia”, afirma.

ESCOLAS SEM PROTEÇÃO A professora da rede municipal e doutora em Educação, Diana Abreu, relata que a Prefeitura de Curitiba vendeu uma imagem de segurança nas escolas que não condiz com a realidade. “Tivemos cinco dias de reuniões presenciais antes do Carnaval, depois mais dois dias e ainda uma semana de aula em formato híbrido. Logo depois, começaram a aparecer servidores contaminados pelo coronavírus. Todas estas atividades poderiam ter sido feitas de forma remota. Além disso, a Prefei-

tura vendeu uma imagem para a população de protocolos seguros nas escolas. Mas, assim que as aulas voltaram, começaram os relatos de professores com inúmeras situações como impossibilidade de fazer distanciamento entre as crianças, distribuição de máscaras de baixa qualidade, EPIs insuficientes para professores,” conta. O Brasil de Fato Paraná entrou em contato com a Secretaria Municipal de Educação. que até o fechamento da edição não enviou resposta.


Brasil de Fato PR 6 Direitos

Paraná, 11 a 17 de março de 2021 Pedro Carrano

Brasil de Fato PR

Dia da Mulher é marcado por ações solidárias, intervenções e protestos

Giorgia Prates

Em Curitiba, cidade acordou com diferentes intervenções sobre a luta feminista

P

ceu em viadutos e ruas que receberam faixas com reflexões sobre os direitos ainda não garantidos às mulheres.

Lenços e faixas pela cidade A Praça 19 de Dezembro, mais conhecida como a Praça da Mulher Nua, em Curitiba, símbolo de resistência e local de manifestações políticas na capital recebeu logo cedo uma intervenção com faixas e lenços da luta feminista. O mesmo aconte-

Protestos A Frente Feminista de Curitiba e Região Metropolitana realizou atos simbólicos reivindicando políticas públicas para as mulheres, com destaque à vacina para todos e auxílio emergencial para as mulheres. Pela manhã, mulheres de Curitiba realizaram um protesto em frente à Casa da Mulher Brasileira para exigir mais políticas públicas para as mulheres. Foi destacada a importância da Casa e pedidas mais políticas para uma vida digna e sem violência. Logo cedo, entregaram uma carta à Prefeitura de Curitiba, com reivindicações como o fortalecimento do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, a garantia por moradia, especialmente àquelas que estão em situação de rua e/

Redação

Duas famílias ameaçadas de despejo no Campo Comprido Pedro Carrano A família de Fabiano dos Santos, filho de Neri Terezinha da Silva, marido e neto, estão arrumando as malas e pensando como se desfazer da casa, no Campo Comprido, em terreno pertencente à Kikomar Empreendimentos, também responsável pela ação de reintegração da ocupação Nova Guaporé 2. “Vamos para Fazenda Rio Grande, já estamos com as coisas prontas, tenho neto de 16 anos e 14 criados aqui. O oficial de justiça disse que iam passar com polícia, com tudo”, lamenta Terezinha, enquanto mostra à reportagem comprovantes de contas no endereço. As duas famílias e cinco pessoas têm agora apenas duas semanas para abandonar o local. A empresa nunca teria molestado a família em trinta anos instalada ali. A relação com a vizinhança é boa. “A cada dois anos,

um funcionário passava na frente”, resume Fabiano. Contrassenso Para a advogada Alice Correia, da Rede Nacional de Advogados Populares, a medida diverge da orientação do Conselho Nacional de Justiça e dos tribunais estaduais de não fazer despejo forçado em período de pandemia. “Agrava-se a informação o fato de se tratar de uma família que ali residia há mais de vinte anos. O Tribunal de Justiça, no último dia 5, publicou decreto que estabelece orientações para a solução de conflitos fundiários em desocupações coletivas. Contudo essa orientação deveria ser expandida para os casos de reintegração e despejos individuais, uma vez que agravar a desigualdade social e a exposição de mais famílias à impossibilidade de isolamento social não é o papel do sistema de justiça”, defende.

ara marcar o Dia Internacional da Mulher e respeitando o momento crítico da pandemia, mulheres curitibanas fizeram intervenções logo cedo com faixas, lenços e cartazes espalhados por ruas, viadutos e praças em Curitiba. Durante a manhã, a Frente Feminista do Paraná se uniu com o Movimento Sem Terra para uma ação solidária na montagem e distribuição de mais de mil marmitas por bairros da periferia da capital do Paraná. Outras cidades paranaenses também tiveram intervenções semelhantes.

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ou são vítimas de violência, o fortalecimento do Programa da Casa da Mulher Brasileira, a Patrulha Maria da Penha e a Delegacia da Mulher de Curitiba dentre outras pautas. Mais de mil marmitas Em uma ação conjunta que reuniu o Coletivo Colméia, a Frente Feminista de Curitiba e Região Metropolitana e o Coletivo Marmitas da Terra, do MST, montaram e distribuíram 1.100 marmitas em ocupações nos bairros de Curitiba, como Parolin e Tatuquara. A distribuição também aconteceu nas Praças Tiradentes e Rui Barbosa para as pessoas em situação de rua, na Casa de Acolhida do Migrante e do Refugiado.


Brasil de Fato PR 7 | Cultura

Inscrições abertas e gratuitas para projetos audiovisuais de Curitiba

Por Pedro Carrano

Um silêncio e um grito da Guaporé

Roteiristas de séries, longas e curtas poderão inscrever seus projetos até 26 de março Redação

A

pesar dos desafios, em 2020 houve expansão do Núcleo de Projetos Audiovisuais de Curitiba, NPA. Os encontros foram on-line e o alcance da internet possibilitou não só um maior número de pessoas como a participação de diversos estados do Brasil e do exterior. Na edição 2021, que seguirá on-line, além de receber projetos de séries e longas, abrirá também grupo para roteiristas de curtas, com 50% das vagas voltadas para realizadores periféricos. Serão selecionados 36 projetos de roteiro, 12 para cada grupo de trabalho. As inscrições são gratuitas e abertas

Brasil de Fato PR

Arquivo Pessoal

Paraná, 11 a 17 de março de 2021

até 26 de março. Os selecionados de longas e séries terão encontros mensais, de abril a setembro. Os de curtas, encontros quinzenais, de abril a junho, com os orientadores dos projetos, Daniel Tavares, roteirista e professor da escola de cinema latino-americana, EICTV-Cuba; Laís Melo, roteirista, diretora, diretora de arte e educadora em cinema, e

Renata Sofia, autora e roteirista da TV Globo. Masterclasses O NPA também disponibiliza, abertas ao público, masterclasses sobre o fazer do audiovisual. A primeira será de Roteiro para Curtas-Metragens, com Laís Melo (foto), no dia 13 de março. As inscrições estão abertas com vagas limitadas.

Para ficar por dentro O quê: Lançamento do NPA e inscrição para oficinas Quando: de 2 a 26 de março Informações e inscrições: www.tambormultiartes.com

Cinco da manhã de sábado, busco Ivan na Ferrovila e vamos pra ocupação Guaporé, as árvores respiram calmas, as tirivas com canto de algazarra, paira no ar uma ameaça, dona Rosicler ainda não teve a casa desmontada, mas disse a guarda: retira tudo! Até seis horas da manhã em ponto, senão o telhado na cabeça dela seria quebrado, sem razão, liminar ou qualquer desconto, ameaçou o homem de escudo e armadura armado, contra a ex-carrinheira de braço inviabilizado, mulher negra, a fi lha, neta, cunhado, eles não recolhiam lenha em terreno cercado, como na época de Marx, mas da lenha fizaram a própria casa, agora proibida, ameaçada. A comunidade então acudiu passo a passo, revoada que se achega, almas em compasso, cada pessoa se viu pelo globo dos olhos, histórias que atravessariam uma cidade inteira. Fazer a única mala, largar o colchão, Rosicler não havia dormido com medo daquele chão, tranquilidade palavra irreal no dicionário, a injustiça impõe seus lobos arbitrários, mas naquela manhã de silêncio, pássaros de asa quebrada gritaram, foi um sonoro não na fronteira entre o que se aceita – e o que é inaceitável.

DICAS MASTIGADAS

Bolo de banana A cada semana, publicamos receitas com produtos agroecológicos da rede colaborativa Produtos da Terra, da Sinergia Alimentos Saudáveis e da Rede Mandala. Parte dos ingredientes pode ser encontrada no site produtosdaterrapr.com.br Ingredientes 4 ovos orgânicos. 2 xícaras (chá) de açúcar. 4 colheres (sopa) de margarina. 2 xícaras (chá) de farinha de trigo. 1 colher (café) de bicarbonato de sódio. 1 colher (chá) de fermento em pó. 4 bananas orgânicas amassadas. Açúcar e canela para polvilhar.

Modo de Preparo Misture os ovos com o açúcar e a margarina até ficar bem cremoso. Acrescente a farinha e incorpore bem. Adicione o bicarbonato, o fermento e as bananas amassadas e misture. Despeje numa fôrma de sua preferência untada com margarina e polvilhada com açúcar e canela (se desejar, distribua fatias de banana por cima). Leve ao forno médio preaquecido (200 ºC) por cerca de 40 minutos ou até dourar. Desenforme morno. Getty Images


Brasil de Fato PR 8 Esportes

Tomada inicial reveladora Por Cesar Caldas

Para o alviverde do Alto da Glória, o retorno do Campeonato Paranaense, com o seguimento das rodadas, é sua “tomada” na competição – dado que não se pode retomar o que para si não teve sequer o início. A estreia no Estadual está marcada para as 17h15 do sábado, 13/3, diante do Operário, no Estádio Germano Krüger, em Ponta Grossa. Servirá para o paraguaio Gustavo Morínigo, novo técnico coxa-branca, aferir se o atual elenco já começou a assimilar as táticas de sua preferência, experimentadas nos treinos que comandou nas últimas semanas no CT da Graciosa. Será ocasião, também, para analisar se as peças de que dispõe podem se adequar ao estilo de jogo que pretende imprimir na difícil temporada de 2021. Essa revelação primeira dará o tom da escalação das próximas partidas. Está ainda em andamento a contratação de jogadores para titularidade e há um longo caminho a percorrer.

Brasil de Fato PR

Paraná, 11 a 17 de março de 2021

O Paranaense começa, para, e volta quando? Decreto do governo que paralisou atividade acaba dia 10. Mas Prefeitura proíbe jogos em Curitiba Divulgação

Novo normal Por Marcio Mittelbach

A temporada 2021 começou como terminou a de 2020 para a torcida paranista. Com desilusão. As expectativas eram baixas, mas havia a esperança de que a Camisa falasse mais alto no duelo regional com o Cianorte pela Copa do Brasil. Não foi o que aconteceu. O Tricolor perdeu por um a zero e deu adeus aos R$ 675 mil em premiação. Depois de muito esforço da Federação Paranaense de Futebol para que o duelo ocorresse em meio ao pior momento da pandemia no Estado, algo simbólico marcou o início da partida. No horário marcado, às 18h, não havia ambulância no estádio para que o jogo começasse. Depois de 10 minutos de atraso, a viatura e equipe médica apareceram e o jogo começou. Se tudo ocorrer como o previsto, o próximo jogo do tricolor será neste domingo, 14/3, às 16h, diante do Cascavel F.C. no Estádio Olímpico Regional.

Athletico joga Paranaense com time “alternativo” e teve derrota na estreia para o Cianorte

Frédi Vasconcelos

O

campeonato Paranaense começou com apenas dois jogos na primeira rodada, no fi nal de fevereiro, a vitória do Cianorte sobre o Athletico por 1 a 0 e o empate por 1 a 1 entre Operário e Azuriz. E foi interrompido por decreto do governo do estado que paralisou as atividades consideradas não essenciais. O decreto valeu até a última quarta, dia 10, o que em tese traria o retorno dos

times ao gramado. Porém, a Prefeitura de Curitiba, na terça, 9, voltou a proibir jogos na cidade, pelo menos até o dia 16 de março. A questão é saber se outras cidades também seguirão essa proibição ou se os times da capital terão suas partidas remarcadas para a Região Metropolitana ou o interior. No site da Federação Paranaense está confirmada pelo menos uma partida, entre Operário e Coritiba, válida pela 5ª rodada. O jogo será no Estádio Germano Krüger, com transmissão da Rede Massa, curiosamente a emissora é da família do governador que paralisou o campeonato. Não é preciso ser nenhum adivinho para notar que haverá bastante confusão até o fi nal da disputa, com jogos da quinta rodada disputados quando não se concluiu nem a primeira. Lembrando que os estaduais têm a data-limite de 23 de maio para seu encerramento. Depois, já vem o Brasileirão 2021. No Brasil Em reunião nesta semana na CBF com clubes das Séries A até a D foi decidido que o futebol continua nos estaduais e na Copa do Brasil, apesar dos recordes de mortes na pandemia.

ELAS POR ELA Fernanda Haag

Comando (in)definido Por Douglas Gasparin Arruda

Pelo andar da carruagem, tudo indica que o Athletico vai fazer mais uma aposta para o comando técnico, mantendo o português Antonio Oliveira na equipe de aspirantes e principal. Autuori não quer mais exercer a função, a possibilidade de contratar Tiago Nunes esfriou e as opções do mercado são poucas e com custos que não agradam o clube. A equipe principal só volta em abril, mas é importante ressaltar que os erros cometidos nas indefinições do comando técnico custaram caro no ano passado. Parte da torcida se mostra resistente a técnicos inexperientes, muito por conta dos resultados ruins de Eduardo Barros. Cabe lembrar, contudo, que o problema não começou com ele, mas sim quando a direção buscou um técnico pela “experiência”, ainda que distante da filosofia do time, trazendo Dorival Jr.

Libertadores Começou na última sexta-feira, 5 de março, a 11ª edição da Libertadores da América de Futebol Feminino. A competição, que é o sonho dourado dos times latino-americanos, conta com 20 clubes participantes, dos quais três são brasileiros: Avaí/Kindermann, Corinthians e Ferroviária. A hegemonia brasileira é visível nos títulos, pois 8 das 11 edições foram vencidas por times do Brasil. Importante lembrar que essa edição de março se refere ao torneio de 2020. A Conmebol apertou o calendário para ter dois campeonatos no mesmo ano. Corinthians e Avaí/Kindermann já estrearam com go-

leadas. As corintianas, atuais campeãs, venceram o Nacional por 16x0. As catarinenses balançaram as redes do Deportivo Trópico oito vezes e não levaram gol algum. A Ferrinha, na estreia da técnica Lindsay Camila, acabou levando quatro gols do Libertad Limpeño, a pior derrota de um time brasileiro na competição. Na segunda rodada, o Corinthians goleou novamente, garantindo a vaga para próxima fase. Avaí/Kindermann empatou sem gols e levou a decisão para o terceiro jogo. A Ferroviária também saiu do segundo jogo com um empate e amarga o último lugar do seu grupo.


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