Brasil de Fato PR - Edição 205

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Esportes | p. 8

Memória de cura

Fim da dança das cadeiras

Livro resgata saberes de curandeiras do litoral do Paraná Ano 5

CBF limita troca de técnicos em campeonatos

Edição 205

1 a 7 de abril de 2021

distribuição gratuita

www.brasildefatopr.com.br

Giorgia Prates

PARANÁ

Divulgação | Palmeiras

Cultura | p. 7

“AME-O OU DEIXE-O”

Alexandre Manfrim

Cada vez mais autoritário, colocando em risco a democracia, com ameaças e recuos, Bolsonaro encarna slogan da ditadura e demite ministros que não seguem sua linha golpista Brasil | p. 5

Editorial | p. 2

Brasil | p. Cidades | p.64

Direitos | p. 6

Ditadura nunca mais!

Abandono

Desumano

Depurando Forças Armadas e pressionado pelo Centrão, Bolsonaro aprofunda crise

Trabalhadores do transporte coletivo sofrem alto risco de contágio pela Covid-19

Prefeito de Curitiba, Rafael Greca tenta acabar com doação de comida à população de rua


Brasil de Fato PR 2 Opinião

Ditadura nunca mais! Fora Bolsonaro! EDITORIAL

N

a última semana de março estourou uma grave crise política dentro do governo Bolsonaro. O Senado vinha exigindo a saída de Ernesto Araújo, ex-ministro de Relações Exteriores, função que ele destruiu e na qual ele isolou ainda mais o Brasil no cenário internacional. O que ocorreu desde o dia 29 de março mostrou as intenções autoritárias de Bolsonaro. Uma reforma ministerial foi feita para ceder às pressões do centrão que, por sua vez, responde a um setor empresarial que ainda não quer derrubar Bolsonaro, apenas quer o cão domesticado. Já o comando das Forças Armadas, se recusou a aventuras golpistas, retirando-se do governo, um sinal importante. Ainda assim não cabe o raciocínio de que Bolsonaro estaria enfraquecido, pois maneja e depura seu gabinete conforme seus interesses. O capitão recua atirando e, com isso, a crise

Brasil de Fato PR

Paraná, 1 a 7 de abril de 2021

se agrava, uma vez que os assuntos essenciais (vacina, auxílio emergencial, empregos e custo de vida) não são debatidos. Num cenário de calamidade institucional, sanitária e econômica, no marco de 57 anos do golpe militar, denunciamos a constante ameaça dos golpistas, inclusive por meio da proposta de “estado de mobilização nacional”, feita pela liderança do governo no Congresso. Seguiremos denunciando: Bolsonaro é um genocida e precisa ser retirado do poder.

Uma reforma ministerial foi feita para ceder às pressões do centrão que, por sua vez, responde a um setor empresarial SEMANA

“Água pro morro”: A história e a identidade da artista brasileira que foi escondida OPINIÃO

Eliana Brasil,

artista visual, pesquisadora, performancer caminhante da cidade

“O que está guardando está guardado em minha gente em mim dorme um leve sono”, Conceição Evaristo

A

escultura “Água pro morro”(1944) de Erbo Stenzel, localizada na Praça José Borges de Macedo, em Curitiba, abriga muito bem guardada em seu cerne a identificação da mulher que a inspirou. Resgatar sua história por meio das poéticas visuais tem sido uma incubência que recebi ao caminhar pela cidade e ouvir os ruídos que ecoam das diversas fissuras presentes na construção das estruturas da capital paranaense. Conhecida na cidade por “Maria lata d’água”, Emerenciana Cardoso Neves é o seu verdadeiro nome. Mulher negra, formada em Escultura no ano de 1959, na antiga Esco-

la Nacional de Belas Artes, mesma instituição onde conheceu e inspirou Erbo Stenzel. Emerenciana, conhecida artisticamente por “Anita Cardoso Neves”, nasceu no Rio de Janeiro, em 14 de março de 1918. Se viva, completaria, em 2021, 103 anos do seu nascimento. Foi uma grande artista e aqui na cidade de Curitiba tem sua rica história de vida apagada do conhecimento do povo do Paraná. Considerando que esculturas projetadas ou transferidas para espaços públicos tendem a assumir o caráter de unidade de representação, seja ele por ideal ou por quaisquer modelos de valores dentro de uma sociedade diversa, é vital abolir todos os significados fantasiosos, para não dizer racistas, que permeiam tão importante monumento representado pela figura de uma mulher negra, que nasceu e viveu, assim como seu autor, em terra brasileira. A invisibilização da história de Emerenciana Cardoso Neves é reflexo dos apagamentos das nossas identidades negras, das nossas memórias e das nossas contribuições para a construção do país. Ao tecer fragmentos que recompõe a história de Emerenciana, recomponho a minha própria história.

EXPEDIENTE Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 205 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EDIÇÃO Lia Bianchini e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Andréia Carvalho Gavita, Eliana Brasil e Eloísa Dias Gonçalves ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Douglas Gasparin Arruda REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www. facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com


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Paraná, 1 a 7 de abril de 2021

“É hora de reunirmos todas as chamadas Forças Democráticas em um esforço urgente para derrubar Bolsonaro, estamos em vias de vivermos processos antidemocráticos graves” Mônica Francisco, deputada estadual pelo PSOL-RJ, em comentário no Twitter sobre mudanças ministeriais do governo Bolsonaro. Reprodução

NOTAS BDF

Por Pedro Carrano

Solidariedade ao Haiti

Acesso à terra

No dia 29 de março, diante de um governo autoritário de Jovenel Moïse, no Haiti, que já passou do tempo estipulado de mandato, e tem reprimido a população mobilizada nas ruas, organizações, partidos, sindicatos, movimentos populares, fizeram mobilizações para expressar sua solidariedade, em lugares simbólicos ao redor do mundo. Desde a intervenção estrangeira e o golpe contra Aristide em 2004, infelizmente aprofundado com participação do Brasil, o Haiti segue em grave crise política.

Val Ferreira, integrante da coordenação do Movimento Popular de Moradia (MPM), que desde 2012 organiza cinco ocupações em Curitiba e Região Metropolitana, afirma que a base de uma política pública deve ser hoje o acesso da população à terra. “O povo só precisa de um pedaço de terra. Se as terras forem distribuídas adequadamente, a questão da moradia vai ser resolvida rapidamente”, afirmou.

Terra, moradia e dignidade já!

Ato no interior “desmemora” 57 anos da ditadura

Movimentos populares, entidades de defesa de direitos humanos e acesso à cidade, ao lado de mandatos progressistas, organizaram aula pública para debater os principais desafios, lacunas e urgências para o acesso à moradia, com participação de lideranças populares, militantes de movimentos e especialistas no tema. Foi um primeiro passo para a realização de uma conferência popular de habitação no Paraná.

Giorgia Prates

Um dos setores mais incentivados pelo poder público durante a pandemia, os empresários do transporte público não pouparam os empregos de cobradores e motoristas de ônibus. Segundo o Dieese, em 2020, o Brasil fechou quase 50 mil postos de trabalho para motoristas e cobradores de transportes coletivos. No Paraná não foi diferente. O governo fez um repasse de R$ 32,7 milhões para as empresas de transporte coletivo da Região Metropolitana de Curitiba. Para a capital, responsável por um terço das demissões, o valor já destinado ao transporte passa dos R$ 190 milhões. Segundo o secretário de Finanças de Curitiba, Vitor Puppi, em prestação de contas na Câmara Municipal, a cidade teve um acréscimo das despesas ao longo da pandemia para socorrer as empresas de transporte coletivo. Tais aportes não garantiram os empregos desses profissionais. Levantamento do Dieese mostra que foram demitidos 2.654 profissionais do transporte coletivo durante a pandemia. Apenas na capital, foram contratados 209 motoristas e demitidos 646, tendo saldo negativo de 437 postos de trabalho. Com relação aos cobradores, ocorreram apenas 80 admissões e 774 demissões. Com isso, o saldo é negativo em 842 empregos. Praticamente um terço das demissões.

Geral | 3

QUE DIREITO

FRASE DA SEMANA

Mesmo com incentivos milionários, empresários do transporte demitem

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Juventude do Partido dos Trabalhadores (PT) realiza ações em Francisco Beltrão e Marmeleiro, no Sudoeste do Paraná, na madrugada do dia 31 de março, para denunciar os 57 anos de quando foi dado o golpe e instalada ditadura militar no país, combatendo o discurso do governo que relativiza o golpe, denunciando também o golpismo do atual governo. Ações de propaganda aconteceram noutras partes do país, caso de São Luís (MA), com uso de outdoors.

É ESSE? Eloísa Dias Gonçalves

É possível discutir o valor do aluguel na pandemia As despesas com habitação comprometem quase 40% do rendimento das famílias brasileiras, segundo a última Pesquisa de Orçamentos Familiares. Com a pandemia, a situação se agravou. Muitas famílias tiveram a renda comprometida pelas medidas restritivas impostas pelo governo e pela falta de uma política consistente de auxílio financeiro. Não bastasse isso, famílias que moram de aluguel têm mais um desafio: o aumento significativo do IGP-M, índice de preços que costuma ser utilizado para reajuste de contratos de aluguel. Em 2020, esse índice teve aumento de 23,14%, a maior alta desde 2002. Isso significa que um aluguel de R$ 1.000 seria reajustado para R$ 1.231,40. O que o locatário pode fazer? A primeira recomendação é tentar negociar diretamente com o locador ou imobiliária, para que não se aplique o reajuste, seja dado desconto ou até se utilize outro índice. Como se trata de um contrato, as partes envolvidas podem alterá-lo. Caso não seja possível rever isso “amigavelmente”, deve-se recorrer ao Judiciário. Se o juiz considerar que esse reajuste implica um ônus excessivo para o locatário, pode afastá-lo. Muitas decisões têm reconhecido esse direito, seja em casos de locação residencial ou comercial. Eloísa Dias Gonçalves, advogada, da Rede de Advogadas e Advogados Populares


Brasil de Fato PR 4 Brasil

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Paraná, 1 a 7 de abril de 2021

“Esquecem que somos pessoas dentro dos ônibus superlotados” Trabalhadores do transporte coletivo denunciam condições precárias de proteção, superlotação e falta de EPIs Giorgia Prates

Empresas recebem milhões da Prefeitura

Ana Carolina Caldas

“R

ecebemos uma única máscara desde o início da pandemia e um frasquinho de álcool em gel. Trabalhamos com superlotação e voltamos para casa com o risco de contaminar nossos familiares.” Essa é a rotina dos trabalhadores de transporte coletivo em Curitiba, segundo contou um cobrador de ônibus, que atua na função há mais de 30 anos e não quis ser identificado. As condições precárias de proteção contra o coronavírus vêm sendo denunciadas pela categoria desde o início da pandemia. A principal reivindicação desses profissionais é que a vacinação seja antecipada. “Alegam que somos essenciais para a economia da cidade, esquecem que somos pessoas dentro dos ônibus superlotados”, disse o cobrador. Segundo a Secretaria Municipal da Saúde, a categoria do transporte coletivo está no Grupo 4 de vacinação. Atualmente, estão sendo vacinados idosos com mais de 60 anos (Grupo 2). O Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba (Setransp) informou, na terça-feira (23), que 21 trabalhadores morreram por Covid-19 desde março de 2020. Já o Sindicato dos Motoristas e Cobradores nas Empresas de Transporte de Passageiros de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc) apontou que o número chega a 100 vidas perdidas para a Covid.

Giorgia Prates

RESPOSTA OFICIAL Segundo a Prefeitura, a frota, de cerca de 20 mil veículos, está organizada para atender número superior à atual demanda. Durante a bandeira vermelha, informa a Prefeitura, o movimento diário é de 242 mil passageiros. A frota está configurada para atender 450 mil. A Prefeitura informou que suspendeu, nesse período, a remuneração das empresas e os repasses de custos de amortização da frota. Há também a garantia de manutenção dos empregos.

Em 2020, as empresas que operam o transporte em Curitiba receberam repasse de mais de R$ 203 milhões da Prefeitura. O valor, no entanto, não se reflete na qualidade da prestação de serviços. “O prefeito repassou mais de 200 milhões aos empresários de transporte coletivo porque alegaram diminuição de usuários na pandemia. Porém, o que estamos vendo é que eles tiraram ônibus, o que tem culminado em superlotação. É a sanha do lucro em detrimento da vida”, aponta o integrante do Fórum do Transporte Público de Curitiba, Lafaiete Neves. Diante da superlotação, o presidente do Tribunal de Contas do Estado do Paraná (TCE-PR), Fabio Camargo, emitiu medida cautelar restringindo a circulação de ônibus na capital. O descumprimento do patamar máximo de ocupação dos ônibus foi confirmado em inspeção pelo TCE-PR, na última sexta-feira (19). A pedido da Prefeitura, porém, a liminar foi derrubada pelo Tribunal de Justiça do Paraná na mesma sexta. Com base em relatório técnico, o TCE-PR, junto à Procuradoria Geral do Estado, vai solicitar ao TJ-PR que reconsidere sua posição e permita a implantação efetiva da restrição de circulação do transporte coletivo.


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Paraná, 1 a 7 de abril de 2021

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Como fica o tabuleiro após as mudanças no alto escalão Especialistas analisam as substituições no Ministério da Defesa e no comando das Forças Armadas Giorgia Prates

Daniel Giovanaz

A

semana do 57º aniversário do golpe militar de 1964 mal começou e já é, de longe, a mais conturbada no alto escalão do governo Bolsonaro. Só na segunda-feira (29), foram seis mudanças no comando de ministérios, com impactos diretos na relação entre o Planalto e as Forças Armadas. Logo após a demissão do general Fernando Azevedo e Silva, então ministro da Defesa, os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica colocaram seus cargos à disposição. As saídas de Edson Pujol (Exército), Ilques Barbosa (Marinha) e Antônio Carlos Moretti Bermudez (Aeronáutica) foram confirmadas no início da tarde de terçafeira (30). “É um sinal muito negativo. Isso nunca aconteceu na história republicana do Brasil e indica que a cúpula das Forças Armadas está em discordância com os pedidos feitos pelo comandante-em-chefe”, ressalta Lucas

Rezende, professor adjunto do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O perfil do general Braga Netto, escolhido para substituir Azevedo, confirma a hipótese levantada por Rezende. “Braga Netto está em uma categoria muito específica, que é a dos generais palacianos – aqueles que não vão abandonar Bolsonaro nunca. O problema é saber se ele vai arriscar um conflito

com seus colegas de farda”, analisa João Roberto Martins Filho, doutor em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e ex-presidente da Associação Brasileira de Estudos de Defesa (2005-2008). Além de abraçar o bolsonarismo, Braga Netto, escolhido para assumir a Defesa, representa uma ala saudosista da ditadura militar dentro das Forças Armadas. Azevedo, por outro lado, já foi assessor do ministro Dias Toffoli, do STF, e possui um conjunto mais amplo de re-

lações que lhe confere certa autonomia em relação ao presidente. “Bolsonaro quer colocar mais um fantoche que aceite cegamente seus comandos, e isso é muito preocupante”, acrescenta Rezende. O professor avalia que o cenário está cada vez mais grave. Para ele, as interferências de Bolsonaro são mais uma razão para o impeachment. “Podemos esperar, certamente, um maior radicalismo e uma maior associação entre militares e política. O que já é absolutamente danoso pode se tornar ainda mais desastroso se as Forças Armadas obedecerem ao presidente da República em desacordo com a Constituição Federal”, alerta. Rezende conclui lembrando que “os dois lados estão errados”, e que as movimentações observadas esta semana são de natureza política. “A única forma de corrigir esse erro é os militares saírem dos cargos políticos e voltarem urgentemente para os quartéis”, finaliza.

GOVERNO MILITARIZADO Levantamento do Tribunal de Contas da União identificou 6.157 militares da ativa e da reserva em cargos civis no governo Bolsonaro, um número sem paralelo até mesmo na comparação com governos militares durante a ditadura. Veja os ministros militares em exercício: Casa Civil Luiz Eduardo Ramos, general da reserva do Exército Defesa Walter Souza Braga Netto, general da reserva do Exército Gabinete de Segurança Institucional Augusto Heleno, general da reserva do Exército Ciência e Tecnologia Marcos Pontes, tenentecoronel da reserva da Aeronáutica Minas e Energia Bento Albuquerque, almirante da reserva da Marinha Infraestrutura Tarcísio de Freitas, capitão da reserva do Exército Controladoria-Geral da União Wagner Rosário, capitão da reserva do Exército

Ministério das Relações Exteriores sai Ernesto Araújo, entra o diplomata de carreira Carlos Alberto Franco França, que estava na assessoria especial da Presidência da República

Casa Civil da Presidência da República sai Walter Braga Netto, entra Luiz Eduardo Ramos, atual ministro da Secretaria de Governo

Ministério da Justiça e Segurança Pública sai André Mendonça, entra o delegado da Polícia Federal Anderson Torres, atual secretário de Segurança Pública do Distrito Federal

Ministério da Defesa sai o general Fernando Azevedo e Silva, entra o general Walter Souza Braga Netto, atual chefe da Casa Civil

Secretaria de Governo da Presidência da República sai o general Luiz Eduardo Ramos, entra a deputada federal Flávia Arruda (PL-DF)

Imagens: Reprodução

AS NOVAS PEÇAS DO JOGO BOLSONARISTA

Advocacia-Geral da União sai José Levi e entra André Mendonça, atual ministro da Justiça, mas que já foi da Advocacia Geral da União


Brasil de Fato PR 6 Cidades

Brasil de Fato PR

Paraná, 1 a 7 de abril de 2021

Redprodução

Greca tenta barrar distribuição de alimentos à população de rua Projeto de lei prevê multa a entidades que façam doações sem aprovação da prefeitura Redação

O

prefeito de Curitiba, Rafael Greca (DEM), enviou à Câmara de Vereadores um projeto de lei que dificulta a doação de alimentos a pessoas em situação de rua e tenta impedir movimentos e organizações de fazerem ações solidárias. O projeto tem como justificativa a instituição do “Programa Mesa Solidária”, tornando exclusividade da Prefeitura as iniciativas e organização de ações solidárias. Na mensagem de Greca, enviada à Câmara, argumenta-se que a distribuição de alimentos “atualmente vem sendo exercida por instituições de caridade [...] com ausência de parâmetros organizacionais. Desta forma, se observou em certas ocasiões divergências entre oferta exacerbada/carência relacionadas à procura, acarretando em desperdício de alimentos”. A ideia do prefeito é exigir PUBLICIDADE

que movimentos e organizações tenham autorização da prefeitura para realizar ações solidárias. Além disso, a Secretaria Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional deverá organizar datas, locais e horários de atendimento pelo autorizado. Em caso de descumprimento das exigências, o projeto prevê, entre as punições, multa que varia entre R$ 150 e R$ 550. Em carta, o Movimento Na-

cional da População de Rua (MNPR) repudiou a atitude do prefeito. O documento é assinado por cerca de 60 outros movimentos populares, organizações sociais e partidos. “Em meio a tantos problemas, tantas demandas não cumpridas, tantas possibilidades efetivas de resolver de forma eficaz o problema, a atitude é esta: proibir e penalizar quem faz”, diz trecho do documento. Giorgia Prates

O prefeito de Curitiba Rafael Greca fez o anúncio em vídeo divulgado nas redes sociais

Aulas presenciais só voltam com professores vacinados, diz Greca Ana Carolina Caldas Em pronunciamento feito na segunda (29), o prefeito Rafael Greca (DEM) afirmou que as aulas presenciais na rede municipal de ensino só voltarão depois que todos os professores forem vacinados contra a Covid-19. Essa é uma reivindicação feita pela categoria de profissionais da educação desde o início de 2021. “As aulas só serão retomadas depois que os professores estiverem vacinados. Nós jamais colocaríamos em risco os ‘curitibinhas’”, afirmou Greca. Com o agravamento da pandemia na cidade, o formato de ensino híbrido – on-line e presencial – está suspenso na rede municipal desde 1º de março. Os estudantes estão assistindo às aulas em formato remoto. Para a

professora da rede municipal e integrante do Coletivo Enfrente, Diana Abreu, o anúncio veio como um alento. “O retorno presencial, no início de fevereiro, fez com que muitos profissionais se contaminassem. Esperamos que o prefeito cumpra o que está falando”, disse. O Brasil de Fato Paraná entrou em contato com a Secretaria Municipal de Educação e com a Secretaria Municipal de Saúde para saber sobre a previsão de vacinação da categoria. Ambas as assessorias informaram que não há data prevista. A Secretaria Municipal de Saúde informou que, por enquanto, seguirá o plano nacional de imunização, em que os professores estão previstos no Grupo 4. Atualmente, Curitiba está vacinando o Grupo 2: idosos acima de 60 anos.


Brasil de Fato PR 7 | Cultura

Brasil de Fato PR

Saberes de curandeiras do litoral do Paraná são registrados em livro “Eu mais velha - cura, fé e ancestralidade” mapeia conhecimentos tradicionais caiçara e Guarani M’bya Giorgia Prates

Gibran Mendes

Paraná, 1 a 7 de abril de 2021

Por Andréia Carvalho Gavita

Meu rosto Asperge no espaço vultos em covas, ventres nos cubículos. Entraves nos relicários, as ventosas de teus dedos espículos. Trevas o que suga, cuspindo luminosos vermífugos. Nas veias, nas rugas, o néctar de elixires melífluos. Corta no ar meu movimento, como quem esquarteja víveres. Dentro dos meus dizeres vicejam teus fi lamentos, afiadas antíteses. Tuas mãos de fibras sanguíneas enlaçam meus dígitos. Den-

tro da vênula pacífica, tuas sementes de dardos assassinos me plantam mortíferos fi ltros. Beira uma estrofe de viva cal, silenciada por leitor maldito. Teu esporo é astro, isca. Perambula na pineal teu pênsil perispirítico. Para o pólen suspenso no umbral, oscilo contigo, entre a ceifeira e a sabeísta. Olheira tão falsa, tão roxa, boca de tingida cortiça. Invoco tua flor leprosa, reproduzo a violeta tísica.

DICAS MASTIGADAS

Escondidinho de mandioca Delci, agricultora agroecologista, moradora do assentamento 8 de Junho, de Laranjeiras do Sul A cada semana, publicamos receitas com produtos agroecológicos da rede colaborativa Produtos da Terra, da Sinergia Alimentos Saudáveis e da Rede Mandala. Parte dos ingredientes pode ser encontrada no site produtosdaterrapr.com.br

Redação

C

ontemplado pelo Rumos Itaú Cultural, “Eu mais velha – cura, fé e ancestralidade”, de Bianca Sevciuc e Lais Araújo, mapeia conhecimentos tradicionais das culturas caiçara e dos Guaranis M’bya. Sete senhoras compartilharam com a equipe do projeto saberes sobre benzimentos, orações, simpatias, batismo, defumações, dietas, remédios. “‘Eu mais velha’ foi sentido como um meio de manter vivos os saberes, as pessoas e a memória, como um espaço para que a história seja contada por outros protagonistas”, explica Bianca. As autoras circularam por quase dois anos em comunidades do litoral do Paraná, na região do Parque Na-

cional do Superagui e Área de Proteção Ambiental de Guaraqueçaba, um dos mais importantes ecossistemas costeiros do mundo. Encontraram, em seis dessas comunidades, as personagens do livro: Joventina Wariju, Mariquinha, Leontina, Nilse, Cesarina, Cleonice e Alzira. “[O livro é uma] possibilidade de resgate e de algum modo perpetuação dos saberes tradicionais, passados de geração a geração nesse local por centenas de anos, mas que vêm sendo apagados em função de diversos desafios da contemporaneidade”, explica uma das autoras.

Para mais informações, acesse facebook.com/ eumaisvelha

Purê 1Kg de mandioca orgânica; 2 colheres de manteiga; 2 Xícaras de leite Modo de preparo Cozinhe a mandioca, esmague e misture a manteiga e o leite e cozinhe até formar o purê. Montagem Em uma fôrma untada com manteiga (pode usar banha) faça uma camada com metade da massa de purê, uma camada de recheio, faça mais uma camada com o purê e finalize com queijo colonial ralado. Leve ao forno por 10 min. ou até derreter o queijo e está pronto!

Recheio (refogado) Use a sua criatividade: Brócolis orgânico; Couve Flor orgânica; Orégano; Cebola; Tomate Modo de preparo: coloque todos os ingredientes em uma panela e cozinhe com um pouco de água até formar o refogado.

Reprodução


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Paraná, 1 a 7 de abril de 2021

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Fim da dança das cadeiras no futebol brasileiro? Conselho técnico da Confederação Brasileira de Futebol limita troca de técnicos para clubes das séries A e B Gabriel Carriconde

E

ntra temporada e sai temporada, e a dança de cadeiras entre técnicos e clubes no futebol brasileiro continua. Visando mudar essa alta rotatividade, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) aprovou, no último dia 24, uma alteração no regulamento para o Campeonato Brasileiro de 2021, das séries A e B. A proposta aprovada nos conselhos técnicos

das competições limita, pela primeira vez, a troca de técnicos durante os torneios organizados pela entidade. De acordo com a nova regra, cada clube poderá demitir apenas duas vezes um treinador durante o Campeonato Brasileiro, e, a partir da segunda demissão, o cargo precisará ser ocupado por um profissional da casa, que esteja há seis meses na instituição. A nova norma também é válida para os César Greco

Luxemburgo é um dos críticos da medida que limita troca de técnicos

treinadores, que poderão pedir demissão apenas uma vez do cargo. Caso haja uma segunda demissão, o técnico em questão não poderá mais assumir uma terceira equipe. Para o presidente da CBF, Rogério Caboclo, a medida visa incentivar uma relação mais profissional entre clubes e técnicos. “Vai implicar em uma relação mais madura e profissional e permitir trabalhos mais longos e consistentes. É o fim da dança das cadeiras dos técnicos no futebol brasileiro”, comentou. Já o ex-técnico da Seleção Brasileira e maior vencedor do Brasileirão, com cinco títulos, Vanderlei Luxemburgo criticou a decisão, em vídeo publicado em sua conta no Instagram. ‘‘De repente você tem um treinador, manda embora, vai ter que escolher precocemente se ele é competente ou não, aí vem o segundo. Aí ele por destino adoeceu. O que vai ser feito com o terceiro? Vai poder entrar?’’ questionou Luxa.

Às origens, em dose dupla

É só futebol?

Por Cesar Caldas

Por Marcio Mittelbach

Brasil de Fato PR

ELAS POR ELA Fernanda Haag

Memória, verdade e justiça Esta semana, completaram-se 57 anos do golpe civil-militar. Em tempos como os de hoje, é preciso disputar essa memória. Reafirmar que foi golpe e foi uma ditadura, sim! Aliás, a ideia de “ditabranda” traz a noção de que apenas os opositores da luta armada foram perseguidos e torturados. As pesquisas históricas mais recentes têm se empenhado em mostrar que não. Na verdade, a sanha autoritária invadiu os mais distintos espaços, e o esporte não ficou de lado, o futebol de mulheres muito menos. Em 1965, aproveitando-se de uma prerrogativa do governo Vargas, o Conselho Nacional de Desportos deliberou a proibição específica da prática do futebol pelas mulheres. A tentativa de controlar seus corpos seguindo uma lógica conservadora atrasou e muito o desenvolvimento profissional da modalidade. Porém, as mulheres continuaram jogando, e no contexto de abertura política, no final dos anos 1970 e meados dos 1980, tiveram papel fundamental para pressionar pela regulamentação da modalidade, compondo o caldo social que se opunha às ações autoritárias do período. Da mesma forma que elas lutaram pelo direito de jogar, seguimos na luta por Memória, Verdade e Justiça.

O recado social de uma contratação Por Douglas Gasparin Arruda

O operário é o grande heroi, “vencedor diário das demandas do capitalismo selvagem que amedrontam os fracos de convicção”. Quem o diz é o mais respeitado conhecedor e avaliador de arte brasileiro, Ricardo Barradas, laureado em Genebra como Embaixador Universal da Paz. O Coritiba, campeão do povo, é clube de trabalhadores que tem por adversário histórico o Operário de Ponta Grossa. A gênese do futebol paranaense foi um jogo naquela cidade diante de operários da American South Brazilian Engineering Co., que construíram a Rede Viação Ferroviária Paraná - Santa Catarina. Muitos deles deram origem ao clube ponta-grossense. Os times têm encontros marcados para o curto período de três dias, entre 3 (sábado) e 6 (terça-feira) de abril. Primeiro nos Campos Gerais, pelo Estadual; depois em Curitiba, valendo vaga à 3ª Fase da Copa do Brasil. Se a pandemia o permitir.

Essa semana o presidente interino do Paraná Clube, Sérgio Molleta, pediu afastamento do cargo para cuidar da saúde depois que foi infectado pela Covid-19. É como se a vida real estivesse falando para o futebol: pessoal, a crise nos hospitais está grave, ou todo mundo se cuida ou não teremos futebol como antigamente tão cedo. Não deveríamos estar discutindo o adiamento de uma partida ou uma rodada. É necessário cancelar os estaduais, repensar o calendário e aprender com os erros de 2020. Mais do que proteger os atletas e os demais profissionais envolvidos nas partidas, parar as competições agora seria reforçar para a população que a situação é grave e que esforços precisam ser feitos. Ao invés de pensar apenas nos prejuízos imediatos, as federações de futebol deveriam pensar no que o futebol brasileiro tem a perder caso fique mais um ano sem torcida nos estádios.

Logo após a comemoração de aniversário do clube, a diretoria rubro-negra anunciou a polêmica contratação de Marcinho. Apenas três meses atrás, o jogador atropelou e matou um casal de professores no Rio, sem prestar qualquer socorro às vítimas. A direção sabia que causaria reações fortes na internet. A estratégia do “falem bem ou mal, mas falem de mim” não é novidade no universo bolsonarista, e não por acaso Petraglia foi um de seus apoiadores declarados na época das eleições. Não quero aqui defender nenhuma forma de punitivismo. Mas considero que cabe uma reflexão: em um país onde tantos vão para a cadeia por delitos não violentos e outros tantos estão presos sem julgamento (racismo estrutural explica), qual é o recado ético e social que este tipo de contratação evidencia?


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