PARANÁ
Ano 5
Edição 208
23 a 27 de abril de 2021
distribuição gratuita
www.brasildefatopr.com.br Reprodução | Embrapa
Giorgia Prates
TANTA GENTE COM FOME TANTA TERRA SEM COMIDA
Brasil tem 116 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar e 19 milhões passando fome No Paraná, mais da metade do solo é ocupado pelo agronegócio, gerando produtos para exportação ao invés de alimentos p. 5
Reprodução
p. 4
p. 6
Entrevista
Vacina paranaense
Padre Joaquim Parron fala sobre organização popular em iniciativas de solidariedade
UFPR e governo do Paraná assinam convênio para desenvolver imunizante contra Covid-19
Brasil de Fato PR 2 Opinião
Notícias da América Latina EDITORIAL
A
América Latina vive dias de lutas sociais. Desde 2020, a crise econômica aprofundou-se em vários países. O resultado foi o aumento do desemprego, redução de horas trabalhadas, aumento do subemprego e da dívida pública dos países. Desde então, muitos governos não fizeram as medidas corretas no combate à Covid-19, ampliando a crise sanitária, entre os quais Brasil, Peru, Chile, Equador e México (cujo governo reviu posições iniciais). Com isso, as lutas nas ruas se intensificaram em países como Haiti, Guatemala, Equador, Peru, Chile e Paraguai.
Brasil de Fato PR
Paraná, 23 a 27 de abril de 2021
Um projeto nacional e popular surge no horizonte de vários países No Peru, onde dois presidentes caíram em 2020, o segundo turno das eleições (junho) está polarizado entre o professor e sindicalista Pedro Castillo, com 42% das intenções de voto, cuja base social é marcada pela população camponesa, e Keyko Fujimori, com 31%, com um projeto conservador. Seu pai, o ex-presidente Alberto
Fujimori, promoveu massacres contra os movimentos populares e hoje está preso por crimes contra a humanidade. No Chile, um ano de luta nas ruas conquistou a Constituinte com participação popular, adiada por conta da pandemia. Na Bolívia, a esquerda retomou o poder após um golpe de Estado e, no Equador, chegou ao segundo turno. Como se vê, os povos estão em resistência. Como contraposição a uma onda conservadora, hoje um projeto nacional e popular surge no horizonte de vários países latinoamericanos.
SEMANA
Correios: quem pagará a privatização?
OPINIÃO
Cinthia Alves
jornalista SINTCOM-PR
Alexsander Menezes,
Secretário de Formação e Estudos do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Comunicaçôes Postais, Telegráficas e Similares do Paraná (SINTCOM-PR)
N
esta semana, Bolsonaro incluiu os Correios no rol de empresas estratégicas que serão entregues aos grupos privados que ainda o apoiam – com o Decreto nº 10.674, publicado dia 13 de abril no Diário Oficial da União. Ele tenta “passar a boiada” em meio ao caos do país assolado pela miséria extrema e pelo recorde de mortes. Nada justifica a privatização dos Correios. Os Correios nunca dependeram de dinheiro do governo e repassam 25% do lucro líquido que deveria ser para programas sociais. Quando publicou prejuízo, foi por farsa contábil porque o governo retirou mais do que devia e colocou na conta do “prejuízo” multas por distratos comerciais, entre outros. É a única empresa que atua como integradora do território nacional, levando cartas, encomendas, vacinas, remédios e livros didáticos em lugares que
nenhuma empresa privada tem interesse em chegar, ou porque não gera lucro, ou porque o acesso é, muitas vezes, feito de barco. Em um terço das cidades brasileiras não há agências bancárias, são as agências dos Correios a ofertar esses serviços, incluindo o pagamento de benefícios como Bolsa Família, FGTS e aposentadoria, também o auxílio emergencial. Os Correios funcionam no sistema de subsídio cruzado, ou seja, o lucro obtido nos cerca de 365 municípios concentrados na região sudeste são divididos para sustentar a operação logística nos outros 5.220 municípios, onde as entregas são feitas em trajetos de difícil acesso. Ainda assim, os Correios conseguem garantir 97% das entregas no prazo. O lucro projetado dos Correios é de R$ 1,5 bilhão em 2021, despertando a ganância dos exploradores privados. As empresas interessadas em se apropriar do patrimônio público são as favorecidas pelas generosas linhas de crédito do BNDES (banco público) com juros baixos e a exigência de poucas garantias. Aliás, as garantias são: as próprias empresas que estão sendo compradas!
EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 208 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.
Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Lia Bianchini e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Alexsander Menezes , Cinthia Alves, Paulo Venturelli e Thea Tavares ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Douglas Gasparin Arruda REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com
Brasil de Fato PR
Brasil de Fato PR
Paraná, 23 a 27 de abril de 2021
Geral
3
FRASE DA SEMANA
“Enquanto não houver a consciência de que é a Mãe Terra a responsável pela nosssa existência, é difícil pensar um futuro”
Greca gasta mais por UPA terceirizada
Sônia Guajajara, em entrevista ao Brasil de Fato Paraná, fala sobre a necessidade de lutar por um modelo econômico que respeite a natureza e a vida Divulgação
NOTAS BDF
Por Pedro Carrano
Bolsonaro corta pesquisas
Greca pressionado
No dia 15 de abril, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) havia aprovado 3.080 projetos. O CNPq, cujo orçamento vem do Ministério da Ciência e Tecnologia, é responsável pelo financiamento de bolsas de pesquisa. Mas somente 13% (396) terão bolsas. Os 2.684 projetos restantes, que tiveram o mérito reconhecido, não terão financiamento para a execução de seus trabalhos.
O Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) solicitou nesta segunda-feira (19) informações a Rafael Greca e ao presidente da Câmara dos Vereadores, Tico Kuzma (PROS), sobre projeto de lei em tramitação na casa legislativa, desde 29 de março, que institui a Mesa Solidária, e estipula controle da Prefeitura sobre ações de solidariedade. O CNDH já havia expedido recomendações ao município após missão realizada em outubro de 2019, sendo que nunca recebeu resposta (com Terra de Direitos).
Luta na Caximba O projeto de regularização Bairro Novo Caximba é coordenado pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC) em conjunto com Prefeitura. Nele, a Cohab tem cadastradas 1.693 famílias desde 2017. Mas o número de casas desde então se ampliou. Por isso, moradores se mobilizam contra a destruição de casas, negociação coletiva e por um cadastro on-line de acordo com a realidade das famílias.
Pe dr oC arr an o
O Coletivo Sismuc Somos teve acesso a um documento oficial que questiona o desperdício de dinheiro público. Trata-se do valor gasto pelo prefeito Rafael Greca (DEM) com a terceirização da UPA CIC no ano de 2020. Para o coletivo, a terceirização transfere recursos públicos para interesses privados, burla a lei de responsabilidade fiscal e ainda dificulta a fiscalização e a transparência na gestão. Os gastos com serviços na UPA administrada pela Organização Social desde 2019 é 12 vezes maior quando comparada com a UPA Tatuquara, que é administrada pela FEAS, controlada pela Prefeitura. Já a despesa com insumos é 2,5 vezes maior. Enquanto o pagamento dos profissionais é três vezes menor em comparação às UPAs não terceirizadas, aponta o relatório. Enquanto a UPA Tatuquara destinou apenas R$ 976 mil para insumos, a UPA CIC saltou para R$ 2,3 milhões. Os gastos com pessoal chamam a atenção. A UPA Tatuquara anotou R$ 17,3 milhões enquanto a UPA administrada pela OS só contabilizou R$ 5,4 milhões. A prestação de contas foi feita à Comissão de Orçamento e Finanças do Conselho Municipal de Saúde de Curitiba e demonstra qual é o objetivo da terceirização: economizar com pessoal e arrecadar com produtos, derrubando a qualidade do atendimento.
Abril indígena No Dia da Resistência Indígena (19), a capital federal, Brasília, foi palco de atos simbólicos. Uma faixa ocupou o gramado da Esplanada dos Ministérios dizendo “Justiça aos Povos Indígenas/Demarcação Já/Nossa luta é pela vida/Fora Bolsonaro”. À noite, o Congresso Nacional teve projeções de imagens com a frase “A mãe do Brasil é indígena”. Ao longo de todo o mês de abril, os povos indígenas estão em intensa mobilização, com atividades do Acampamento Terra Livre (ATL). A programação pode ser conferida nas redes sociais da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil.
Cotas para negros e indígenas em Curitiba Na terça (20), foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Muncipal de Curitiba o projeto de lei que reserva 20% das vagas dos concursos públicos da Prefeitura para negros e povos indígenas. O projeto é de autoria da vereadora Carol Dartora (PT). Com decisão unânime dos membros da comissão, a proposta segue, agora, para análise das comissões de Direitos Humanos, de Serviço Público e de Educação. Concluída essa fase, o texto vai para votação em plenário.
Brasil de Fato PR 4 Entrevista
Brasil de Fato PR
Solidariedade exige luta e organização
Pedro Carrano
Paraná, 23 a 27 de abril de 2021
“Se não fosse a união e a organização comunitária estaríamos com muitas outras desvantagens”, afirma padre redentorista Joaquim Parron padre Joaquim Parron, doutor em ciências sociais e teologia pela Catholic University of America, (Washington/EUA) pertence à Congregação Redentorista e tem se destacado, ao lado de outros segmentos, na capacidade de solidariedade, mobilização e apoio às periferias de Curitiba na mais grave crise social do século 21. Atuante na Vila Torres, com reconhecimento da sociedade, para o teólogo, muito além da imagem de oferecer “a vara e o peixe” é preciso “conquistar também o lago para que todos tenham trabalho, teto e terra, ou seja, vida digna”. BrdF-PR - Sua trajetória como religioso coincide com a Teologia da Libertação? Joaquim Parron Sim, a minha trajetória religiosa está intimamente ligada ao Evangelho de Jesus Cristo que foi ao encontro dos pobres e marginalizados da sociedade. Quando ele diz: “tive fome e me deste de comer” (Mt 25, 35) é a expressão da religião e do cuidado das pessoas e, de modo especial, às menos favorecidas. Quando diz: “Ame a Deus e ao próximo”, então o fariseu pergunta a Jesus: “Quem é o meu próximo?”, assim ele conta a parábola do Bom Samaritano que encontrou uma pessoa jogada na rua e essa pessoa de bom coração socorreu esse homem ferido. A igreja trabalha com os movimentos populares para levar a mensa-
O senhor sempre ressalta a necessidade das doações, mas que também é preciso a organização popular e avanço na geração de renda. Como não ficar apenas no dito assistencialismo? Eu uso três figuras: “o peixe”, “a vara de pescar” e o “lago”. Com as doações de alimentos estamos dando ‘o peixe para matar a fome’. Damos também pelo nosso movimento SOS Cursos Profissionalizantes, que chamo de “ensinar a pescar”. Mas as trabalhadoras e o trabalhadores vão ‘pescar e encontram o lago fechado - já com donos: capitalismo’. Por isso, é preciso formar consciência, despertar
para a cidadania e lutar pelos direitos básicos para a vida digna. Assim, podemos conquistar também o lago para que todos tenham trabalho, teto e terra, ou seja, vida digna. Nesse contexto, faz necessário a organização por luta por direitos, moradia e trabalho. A organização supera o assistencialismo – ‘que é dar o peixe”. Nesse sentido, quais são as experiências de organização em bairros que o senhor acompanha? Desde muito jovem, dos 17 anos de idade participo de movimentos populares – lutando por moradia, por terra e por salários justos. Os meus cinco primeiros anos da vida religiosa acompanharam e apoiaram a Pastoral da Terra - na luta por terra e reforma agrária no Mato Grosso do Sul. Graças a Deus temos mais de mil famílias assen-
MAIS EXPERIÊNCIAS ORGANIZATIVAS Em área ocupada por 2 mil famílias em Campo Magro, região metropolitana, o Movimento Popular por Moradia (MPM) realiza projetos como biblioteca, reciclagem e oficinas de produção de materiais de construção, entre outras iniciativas para envolvimento e renda da população local. A União de Moradores/as e Trabalhadores/as (UMT), no bairro Novo Mundo, em Curitiba, realiza cozinha comunitária com 200 refeições semanais, a partir de doações do MST. A cozinha é organizada pelos moradores. A UMT avança no projeto de padaria comunitária com oito mulheres do chamado Bolsão Formosa.
tadas até hoje que participaram dessa luta nos anos 80. Também tive participação decisiva no Xapinhal, região que tornou-se a referência de moradia nos anos 80 e 90. Hoje acompanhamos o SOS Vila Torres que ajuda na organização em várias periferias de Curitiba. A Vila Torres há décadas é símbolo da desigualdade. Faz parte do projeto de urbanismo desigual de Curitiba. Nesses anos todos o que mudou na região? O que tem ajudado na
Vila Torres é a luta constante das lideranças nessa região. Tivemos muitas promessas do poder público em trinta anos, mas com muito pouca realização. Se não fosse a união e a organização comunitária estaríamos com muitas outras desvantagens. Uma luta que caminha paralela é a revitalização do rio Belém, que corta toda a Vila Torres, uma luta ecológica. Lembramos que lutamos por uma ‘ecologia integral’, que salve o planeta mas também os pobres dessa terra. Pedro Carrano
O
gem de esperança e também a edificação de um mundo justo e fraterno. A igreja sempre vai defender a dignidade da vida e especialmente dos marginalizados.
Giorgia Prates
Pedro Carrano
Organizado por jovens, o projeto @hortas_ cwb incentiva, promove e articula hortas comunitárias em diferentes regiões da capital, incluindo a Cidade Industrial de Curitiba (CIC).
Brasil de Fato PR
Paraná, 23 a 27 de abril de 2021
Brasil de Fato PR Brasil
5
Reforma agrária aponta caminhos para combate à fome No Paraná, assentamentos e acampamentos do MST são exemplos de produção de alimentos Ana Carolina Caldas
O
sistema de monocultura, implantado no Brasil desde o século 16, traz consequências desastrosas para o povo e o território brasileiros. O modelo vem provocando destruição da biodiversidade e esgotamento dos solos, além de contribuir com a fome, já que sua produção é primária, restrita a poucos alimentos e destinada, quase que exclusivamente, para exportação. No Paraná, segundo o Censo Agropecuário de 2019, cerca de 200 mil propriedades são usadas para monocultura. O inventário da cobertura vegetal do Paraná, elaborado pelo Serviço Florestal Brasileiro, mostra que o agronegócio ocupa 50,3% do território estadual. Estão nessas áreas, segundo o estudo, os maiores trechos de erosão do solo. “O monocultivo no Paraná ocupa grandes extensões de terra, tem alto investimento em tecnologia para produzir apenas quatro alimentos: soja, trigo, milho e cana de açúcar. Essa produção é revertida para o mercado, não chegando à mesa do paranaense. Ou, se chega, é com preço bastante alto,” explica José Damasceno, coordenador estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O dirigente conta que a produ-
Terras que geram fartura Desde o início da pandemia, acampamentos e assentamentos do MST se tornaram exemplos de solidariedade. O Movimento iniciou uma campanha nacional de doação de alimentos em abril de 2020. De lá pra cá, só no Paraná já foram doadas mais de 600 toneladas de alimentos a famílias que enfrentam a fome e a insegurança alimentar. Em todo o Brasil, as famílias Sem Terra partilharam mais de quatro mil toneladas de alimentos. “A Reforma Agrária é o nosso norte para tornar esses exemplos uma alternativa para toda a população”, afirma Damasceno.
UM PÁIS COM FOME
55,2% da população brasileira convive com algum grau de insegurança alimentar - equivalente a 116,8 milhões de pessoas
19 milhões
de brasileiros passam fome Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan)
Giorgia Prates
ção via agricultura familiar e agroecologia, praticada pelo MST, que ainda ocupa menos espaço que o agronegócio, traz exemplos concretos de sustentabilidade e geração de alimentos. Atualmente, no Paraná, são 320 assentamentos consolidados com 22 mil famílias assentadas produzindo alimentos saudáveis para venda direta, autossustento e doação. “O que os assentamentos fazem é o contrário da monocultura. Produzimos vários alimentos sem agrotóxicos e os disponibilizamos para venda direta para população”, conta Damasceno.
34,7% é a proporção de domicílios em situação de insegurança alimentar leve em 2020. Em 2018 era 20,7%
ACESSO À TERRA
320
assentamentos consolidados no Paraná
22 mil
famílias assentadas produzem alimentos saudáveis no estado
600 toneladas de alimentos foram doadas pelo MST só no Paraná de abril de 2020 a abril de 2021
TRANSFORMAR A DOR EM PROMOÇÃO DA VIDA Apenas em abril, o MST doou 67 toneladas de alimentos no Paraná, durante a Jornada Abril Vermelho. As mobilizações neste mês lembram os 25 anos do Massacre de Eldorado dos Carajás, quando a Polícia Militar do estado do Pará assassinou 21 trabalhadores rurais Sem Terra e mutilou outros 69, no dia 17 de abril de 1996. A violência ainda é uma ameaça constante àqueles que lutam pela terra no Brasil. Relatório da Comissão Pastoral da Terra (CPT) lançado em abril de 2020 mostrou que o número de conflitos no campo no primeiro ano de gestão de Jair Bolsonaro foi o maior dos últimos 10 anos, com um total de 1.833 ocorrências registradas em 2019. No Paraná, apenas em 2019, nove comunidades rurais foram despejadas. Atualmente, 70 acampamentos e sete mil famílias camponesas sofrem com ameaças de reintegração de posse. “A gente transforma o nosso luto, a nossa dor, o nosso pesar pelos nossos mártires em luta, em produção de comida, em promo-
ção da vida e da solidariedade. E pra nós, solidariedade é partilhar aquilo que a gente tem, que é fruto do nosso trabalho”, diz Ceres Hadich, assentada no norte do Paraná e da direção nacional do MST. Giorgia Prates
Paraná, 23 a 27 de abril de 2021
Brasil de Fato PR
MP-PR recomenda às prefeituras a emissão do Cadastro de Produtor Rural para acampados e posseiros
UFPR e governo do Paraná assinam convênio para desenvolvimento da vacina paranaense
Brasil de Fato PR 6 Cidades
Thea Tavares*
E
m nota técnica, o Ministério Público do Paraná orienta prefeituras a incluírem famílias acampadas, que vivem em pré-assentamentos, posseiros e filhos de assentados no Cadastro de Produtor Rural (CAD/ PRO) para reconhecimento da atividade agropecuária e para assegurar o direito de venderem formalmente os alimentos que produzem e de pagarem tributos ao município. “O produtor rural, ainda que se encontre em área de ocupação ou de pré-assentamento, poderá, então, emitir a nota fiscal dos produtos que comercializa, recolhendo o imposto devido e contribuindo, com tais recursos, para a efetivação de políticas públicas necessárias à coletividade”, informa o documento, que é assinado por integrantes dos Centros de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de ProPUBLICIDADE
teção aos Direitos Humanos e de Proteção ao Patrimônio Público e à Ordem Tributária. Para o procurador Olympio de Sá Sotto Maior Neto, coordenador do CAOP de Direitos Humanos, “não tem lógica não fazer isso, pois aumenta a arrecadação municipal e auxilia no custeio de obras públicas e serviços à comunidade”. “O que nos impulsiona é o
Marcello Casal Jr. | EBC
reconhecimento do direito, é fazer justiça para o produtor rural, ainda que ele esteja em condição de acampamento ou de pré-assentamento. Estamos diante de uma atividade econômica que é tributável. Há um dever, por parte do estado, de cobrar esses tributos”, completa. *Matéria originalmente publicada no Viomundo Lia Bianchini
Redação CUT Paraná e Brasil de Fato Paraná Uma vacina paranaense contra a Covid-19 desenvolvida pela Universidade Federal do Paraná. Esse foi o tema do Quarta Sindical desta semana, que recebeu o reitor da UFPR, Professor Ricardo Marcelo Fonseca, e o professor, pesquisador e Coordenador do Comitê de Combate à Covid da instituição, Emanuel Maltempi de Souza. Souza explicou que os resultados estão surpreendendo de forma positiva. “Quando foi injetada em camundongos, a resposta foi fenomenal, maior que o nível da AstraZeneca/Oxford no mesmo estágio de desenvolvimento”, explicou. Segundo ele, a tecnologia utilizada é diferente das vacinas mais conhecidas no
mercado. “A vantagem da nossa é que é simples de ser produzida, todos os insumos são produzidos no Brasil e é barata. Pelos nossos cálculos, o valor de cada dose seria uma fração da dose destas outras vacinas”, completou o professor. A vacina da UFPR está ainda no início das fases de testes. A estimativa é que daqui a um ano ela fique pronta. Financiamento Ricardo Marcelo contou que a UFPR assinou convênio com o governo do Paraná, via SETI, Fundação Araucária e Tecpar para obter recursos e estrutura para avançar na atual fase de pesquisa da vacina. “Neste ponto o estado foi parceiro. Mas vamos precisar de muitos outros. Quando chegar nas outras fases fica muito mais pesado. A fase 3, clínica, pode chegar a custar de R$ 30 a R$ 50 milhões”, alertou.
Brasil de Fato PR
Paraná, 23 a 27 de abril de 2021
Cultura 7
Sem trabalho nem apoio na pandemia, artistas criam movimentos solidários Cestas básicas são arrecadadas via vaquinhas virtuais e lives multiculturais
Paulo Pinto | Fotos Públicas
Ana Carolina Caldas
J
á dizia a música de Milton Nascimento: “Todo artista tem de ir onde o povo está.” Com a pandemia, porém, o setor artístico cultural foi um dos primeiros a parar e, provavelmente, será um dos últimos a retornar. No Paraná, com pouco apoio do poder público e irregularidades na distribuição dos recursos da lei Aldir Blanc, movimentos solidários foram criados, principalmente para arrecadar cestas básicas para ajudar aqueles já sem renda. A atriz, cantora e produtora Débora Celeste é coordenadora do Movimento Cultural Solidário, que foi formado em março de 2020. “Começamos pedindo ajuda para a Prefeitura de Curitiba. Disseram que era para gente pedir cesta básica na Fundação de Assistência Social. Muitos artistas fo-
SALVE A GRAXA Outra área que passa por um momento bastante crítico é a da técnica. “Nossa área foi uma das mais afetadas.Tivemos a Lei Aldir Blanc, mas ela não atende esses profissionais,” diz Lauro Oliveira, presidente da Associação Paranaense de Profissionais e Técnicos do Paraná. Os técnicos criaram o Movimento Salve a Graxa para arrecadação de cestas básicas via vaquinha virtual.
ADOTE UM CIRCO
ram lá e não conseguiram nem ser atendidos”, conta. Sem apoio do poder público, o jeito foi a mobilização entre os artistas. “Começamos a fazer lives multiculturais para arrecadação de cestas básicas, via vaquinha virtual.” O
movimento ajuda, por mês, 60 famílias de artistas. A ação também promove campanha de arrecadação de cestas básicas e produtos de higiene e limpeza para auxiliar artistas da região que estão em vulnerabilidade social.
Os circos estão parados e proibidos de abrir para evitar aglomerações. São famílias inteiras que dependem da renda das apresentações semanais. De acordo com Márcio Francisco Cabral, presidente do Fórum Setorial do Circo no Paraná, a maioria dos circos já perdeu parte de suas estruturas e os artistas estão vendendo seus instrumentos de trabalho para sobreviver. “Estamos em risco de extinção, perdendo tudo.” Para suprir a falta de apoio do poder público, artistas circenses lançaram a campanha Não deixe o Circo Morrer: adote um circo.
Ana Carolina Caldas
Por Paulo Venturelli
Gibran Mendes
Brasil de Fato PR
Cena de bar Todo fi nal de tarde, Lourdete, após o trabalho, passa no bar e toma uma cervejinha. Alberto a vê inclinada no balcão. Mulher sozinha bebendo? Esta vai ser fácil. Achega-se devagar. Toca as nádegas da moça – e aí, gostou, tá a fim de uma festinha? Sem pensar, ela se vira e lança o copo na cara do intruso. Ele bambeia, mas avança. O que foi? Não gosta de macho? Lourdete lança-lhe uma joe-
lhada nas partes de baixo. Ele geme e se contorce – que foi, putinha. Tá achando que vai me fazer desistir? Ela – É pra aprender a não ser besta. Te ensino que mulher se respeita. Uma cerveja não faz de mim a sirigaita que você pensa. Ele se levanta com dificuldade. Os outros homens do recinto caem na gargalhada – o babaca nunca mais vai se meter com quem não deve. Lourdete sai assobiando.
Brasil de Fato PR 8 Esportes
Brasil de Fato PR
Paraná, 23 a 27 de abril de 2021
Liga dos clubes super ricos naufraga na Europa
Reprodução
Principais equipes da Inglaterra, Itália e Espanha tentam criar torneio para concorrer com Liga dos Campeões Gabriel Carriconde
O
futebol mundial, mais especificamente o europeu, passou dias de forte crise nas últimas semanas, por conta da tentativa de criação da Superliga Europeia, que reuniria, a princípio, os 12 times mais ricos do continente, com exceção de clubes da Alemanha e França. Chelsea, Tottenham, Arsenal, Manchester City, United, Liverpool, Barcelona, Real Madrid, Atlético de Madrid, Milan, Internazionale e Juventus entrariam na primeira edição do torneio, que seria presidido pelo presidente do Real, Florentino Pérez, e concorreria com o principal torneio de clubes da região, a Liga dos Campeões. Contudo, a reação contrária após o anúncio foi grande. Isso porque o modelo proposto pela competição recém-criada eliminava a possibilidade de rebaixamento, clubes fundadores teriam vaga vitalícia e um aporte na casa dos 420 milhões de euros apenas para participarem. Ou seja, mais dinheiro e cotas publicitárias para os clubes mais ricos.
Não demorou 24 horas após o anúncio, e a Uefa, entidade máxima do futebol europeu, anunciou várias sanções contra as equipes fundadoras, como exclusão das ligas nacionais e torneios continentais, e proibição que seus jogadores disputassem jogos oficiais pelas suas seleções, incluindo Copa do Mundo. A Fifa apoiou as decisões da entidade europeia. A reação negativa também veio dos torcedores das equipes. Torcedores do Chelsea foram para as portas do estádio Stamford Bridge para protestar contra a decisão do clube em participar da liga, criticando a elitização do futebol e a concentração de recursos nas mãos de poucos clubes. Para o bem do futebol, a megalomania da Superliga demorou pouco, na terça-feira (20), oito clubes anunciaram se retirar do torneio.
Avidez ofensiva? Funciona, sim Por Cesar Caldas
Não se tem mais visto no Coritiba a “ataquefobia” onipresente nos vários times formados e desmontados na gestão de Samir Namur e sua “Ala Jovem” – continuidade de Bacellar e seus “surfistas”. Já sob a presidência de Renato Follador, o empate bastava para o Coxa se classificar no Mato Grosso à segunda etapa da Copa do Brasil 2021. Jogou proativamente, ávido pela vitória que veio (1x0) e, na segunda jornada da competição, atuou outra vez com ímpeto ofensivo. Mesmo tomando o empate duas vezes, ganhou do Operário por 3x2. O alviverde atua com a mesma disposição de ataque no Estadual. Não se retraiu após passar à frente do placar diante do Toledo (15’ do segundo tempo): continuou com a iniciativa das jogadas e chegou a uma sonora goleada de 5x1. Diante do Azuriz, perseguindo o gol antes e depois do adversário marcar o dele, alcançou o empate. É de um espírito de jogo assim que a torcida gosta. Pacto de sangue Por Marcio Mittelbach
Querido Paraná Clube, de agora em diante eu prometo ser um torcedor exemplar. Daqueles que não perdem um jogo, sim, mas também que acompanham e debatem as notícias do nosso Tricolor. As receitas, as dívidas, quero entender um pouco de tudo. No final do ano tem eleições e, se Deus quiser, esse ano a gente vai ter uma disputa de ideias. Comprar e usar os produtos é pouco. Os presentes que eu vou dar a familiares e amigos vão ser todos da sua loja. Falar em comprar. Já decorei o seu CNPJ pra colocar nas notas 81 907 446 / 0001-04. Em troca, eu só peço um time que jogue com amor à camisa e um programa de sócio torcedor que me valorize. Com a pandemia tá difícil, eu sei, mas eu tenho certeza de que, assim como eu, muitos farão o mesmo e juntos vamos voltar a surpreender e encantar o país do futebol. Assinado, Guerreiro Valente.
ELAS POR ELA Fernanda Haag
Semana intensa Por Douglas Gasparin Arruda
Tóquio é logo ali Na quarta-feira, 21, foi realizado o sorteio que definiu os grupos e os adversários do Brasil nos Jogos Olímpicos de Tóquio. As seleções feminina e masculina já sabem quem irão enfrentar na primeira fase. As nossas Guerreiras do Brasil estreiam na madrugada do dia 21 de julho contra a China, repetindo o jogo de estreia das Olímpiadas do Rio 2016 (torcemos para que repitam também os 3 gols). A segunda partida é contra as holandesas. No papel, é o jogo mais desafiador, pois a Holanda foi finalista da Copa de 2019 e é terceira no ranking de seleções da FIFA.
Em 27 de julho, ocorre o último confronto, contra a Zâmbia, em jogo inédito nas Olimpíadas. Na busca pela primeira medalha de ouro, o Brasil conta com a experiência de Pia Sundhage. A sueca esteve presente nas seis edições, seja como jogadora ou integrante da comissão técnica. Em 2008 e 2012, foi bicampeão olímpica com a seleção dos EUA e em 2016 eliminou o Brasil na semifinal com a Suécia. Além disso, a Seleção vem se preparando, ajustando o que é necessário e tem grandes jogadoras para entrar firme na disputa.
Utilizando parte do elenco principal, o Athletico disputou nesta quinta (22) sua quarta partida pelo Paranaense contra o Cascavel CR. Foi o melhor jogo do elenco no ano e a única vitória no regional. Depois do susto no primeiro tempo com a falha do goleiro Santos, que resultou no gol de Ramon, o Athletico logo em seguida empatou com Aguilar e virou a partida com Jadson, fazendo seu primeiro gol no retorno ao rubro-negro. Nos acréscimos, Reinaldo fechou a conta. É um alento para um time que vinha de uma goleada sofrida no sábado contra o Operário e de um jogo de baixíssimo nível técnico contra o Aucas, pela Sulamericana, na terça. Sem chances para respiros, o Athletico já volta a campo contra o Rio Branco no domingo (25), às 16 horas, novamente na Arena da Baixada. Que os bons ventos continuem soprando.