Brasil de Fato PR - Edição 209

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Fraude no teste de Covid Cascavel pode ser suspenso do Paranaense

PARANÁ

Ano 5

Edição 209

29 de abril a 5 de maio de 2021

Entrevista | p. 4

Editorial | p. 2

Piora situação de trabalhadores

Bolsonaro é a crise

Para supervisor do Dieese-PR, condições já não eram boas antes da pandemia

A unidade de ação é fundamental para derrotar este governo autoritário

distribuição gratuita

www.brasildefatopr.com.br

O DESAFIO DE SER TRABALHADORA E MÃE SOLO NA PANDEMIA Desemprego, queda de renda, tripla jornada... As dificuldades ficaram ainda maiores para sobreviver e criar os filhos CAPA | p. 5

Giorgia Prates

Esportes | p. 8


Brasil de Fato PR 2 Opinião

Paraná, 29 de abril a 5 de maio de 2021

Brasil de Fato PR

A crise só passa se Bolsonaro sair EDITORIAL

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esde que assumiu o mandato, Bolsonaro trabalha para se reeleger em 2022. Porém, sempre que acuado, ele ameaça as garantias democráticas, atiçando a base fascista. Agora que uma CPI da Covid-19 é aberta, Bolsonaro se escora na complexa inserção das Forças Armadas dentro do seu governo, e, com isso, faz suas ameaças, embora as FFAA ainda não tenham sinalizado uma aventura golpista.

Por ora, sustenta-se o programa neoliberal, com objetivo de diminuir o valor da força de trabalho, o fatiamento das empresas estatais, a venda dos recursos naturais e o alinhamento à política dos EUA. É isso, inclusive, que garante certa unidade no andar de cima, entre mídia, elite, Congresso, governadores e Bolsonaro - em que pese a troca de farpas. Precisamos então nos preparar para um longo período de resistência. As ini-

ciativas de solidariedade ativa se mantêm e a unidade de ação é fundamental para derrotar o governo autoritário, assim como defender os direitos dos trabalhadores no dia 1º de Maio (sábado). O Dia dos Trabalhadores e das Trabalhadoras apresenta a denúncia da fome, fruto da ineficiência do combate à pandemia, junto ao desemprego e ao alto custo de vida, o que é parte do projeto de Bolsonaro, o genocida.

SEMANA

EXPEDIENTE Brasil de Fato PR Desde fevereiro de 2016 O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 209 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

Convocatória: memória e luta do dia 29 de abril de 2015 OPINIÃO

Hermes Silva Leão,

Educador e presidente do sindicato dos trabalhadores em educação pública do Paraná (APP-Sindicato)

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oje, quinta-feira (29), completam seis anos do massacre sobre servidoras(es) públicos no Centro Cívico de Curitiba. Aquela violência do dia 30 de agosto de 1988, sob o comando do governador Álvaro Dias (Podemos), foi superada pelo governador Beto Richa (PSDB), no 29 de abril de 2015. Com paralisação das ati-

vidades na rede estadual de educação e mobilização do conjunto dos servidores, a data será marcada por carreatas na capital e nas maiores cidades do estado. Será um dia para lembrar a violência que projetou o Paraná nos noticiários do mundo inteiro, quando até uma equipe da TV Al Jazeera foi deslocada para cobrir a violência com que a Polícia Militar foi usada para aniquilar uma manifestação legítima. Além da tarefa de fazer memória para que a História das lutas não seja apagada,

será um dia para denunciar a violência que prossegue em diferentes formas. A chegada da pandemia no Paraná serviu de pretexto para Ratinho Jr., covarde, atacar direitos dos profissionais da educação e se valer da tecnologia para implementar negócios e criar novas atribuições que geram desgaste funcional sem reconhecimento financeiro ou pedagógico dos professores, funcionários, diretores e equipes pedagógicas das escolas. Hoje também será dia

para registrar o primeiro aniversário da votação da lei 20.199/20, quando a maioria parlamentar governista aprovou a destruição dos cargos de funcionários da educação. Esta foi mais uma medida para beneficiar, com lucro fácil, a demissão de milhares de trabalhadores, a ampla maioria mulheres. Neste dia (29) convocamos nossa categoria a participar das atividades e convidamos a sociedade a refletir e apoiar a defesa da escola pública e a qualidade dos serviços públicos no Paraná.

EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Guilherme Uchimura, Hermes Silva Leão, Otto Leopoldo Winck ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Douglas Gasparin Arruda REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www. facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com


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Paraná, 29 de abril a 5 de maio de 2021

Geral

QUE DIREITO

FRASE DA SEMANA

Pesquisa mostra apoio à “manutenção da ordem” entre classes abastadas Pesquisa idealizada por pesquisadores da World Values Survey Association e aplicada no Brasil em meio à pandemia de Covid-19 pelo Instituto Sivis, em parceria com o Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP), mostrou que 40,8% dos brasileiros disseram preferir a “manutenção da ordem” no país em relação à garantia da liberdade de expressão, apontada como prioritária somente por 17,9% dos respondentes. Foram obtidas respostas de 1.929 indivíduos na Onda 2 da pesquisa Valores em Crise aplicada em janeiro e fevereiro de 2021, os quais também responderam à Onda 1 da pesquisa em maio e junho de 2020. Os indivíduos que permaneceram no painel na Onda 2 são desproporcionalmente mais velhos, mais escolarizados e de classes sociais mais altas em comparação com o agregado dos indivíduos da Onda 1 e a população brasileira como um todo. Isso revela que o perfil dessas pessoas foram eleitores de Bolsonaro e tem ido às ruas defender intervenção militar e perda de direitos políticos. Na primeira fase da pesquisa, os índices foram de 47,1% e 18,9%, respectivamente, o que sinaliza uma aceitação da população quanto à possibilidade de o governo passar por cima das leis, do congresso e das instituições.

É ESSE?

“É uma liminar cloroquina. Tratamento precoce sem eficácia comprovada e com efeitos colaterais gravíssimos”

Guilherme Uchimura

Contraí Covid-19 no trabalho, quais meus direitos?

Disse o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), proponente da CPI da Pandemia, da liminar concedida na segunda-feira, 26, para impedir o senador Renan Calheiros de ser o relator da comissão. A decisão, tomada numa ação proposta pela bancada bolsonarista, foi cassada no dia seguinte por tribunais superiores. Lula Marques

EDITAL DE CONVOCAÇÃO PARA ASSEMBLEIA GERAL EXTRAORDINÁRIA SEMIPRESENCIAL A Cooperativa de Comercialização de Produtos da Reforma Agrária do Contestado – COOPERCONTESTADO, vem através de seu/sua Diretor/a Presidente/a Bronilde Rauvendal Vergopolan, no uso de suas atribuições que lhe são conferidas pelo Estatuto Social desta entidade e as leis vigentes, CONVOCAR os/as seus/ suas cooperados/as, para participar da ASSEMBLEIA GERAL EXTRAORDINÁRIA SEMIPRESENCIAL na modalidade online, para os cooperados que tiverem condições de acesso à internet plataforma zoom https://us02web.zoom. us/j/81987229752?pwd=WDg1WVplK0xEVnkyYkpZaHNRbkVjQT09 ID da reunião: 819 8722 9752 Senha de acesso: 123456 e participarem, e também através de boletim de voto disponibiliza-

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dos aos cooperados até 7 dias antes da realização da assembleia, a ser realizada no dia 10 de Maio de 2021, na sede do Sindicato dos Trabalhadores/ as na Agricultura Familiar de Bituruna, localizado na Av. Itália, 79 – Centro, Bituruna-PR, com a primeira convocação às 07:00 horas com a presença de no mínimo 2/3 (dois terços) dos Cooperados, em segunda convocação às 08:00 horas com a presença mínima de metade mais 01 dos cooperados, e se necessário a terceira convocação às 09:00 horas, com a presença de no mínimo 10 (dez) Cooperados, aptos a voto presentes respectivamente, tanto de maneira online através do link da plataforma Google Meet, disponibilizado em até 2 dias antecedentes à assembleia, e através do boletim de voto, disponibilizado em

até 7 dias anterior à realização da mesma. Para deliberarem da seguinte ordem do dia: 1- Prestação de Contas do ano de 2020; 2- Cumprimento do Plano gestor de 2019 e 2020; 3- Plano Gestor para o ano de 2021; 4- Eleições e posse de Nova Direção para o período de 2021 a 2024; 5Composição do Conselho Fiscal para o Ano de 2021 a 2022; 6- Apreciação de Novos Cooperados; 7- Alteração e consolidação Estatutária. Todos os cooperados devem estar, obrigatoriamente, utilizando máscara facial. Sócios para fins de quórum 204. Bituruna-PR, 27 de abril de 2021. Bronilde Rauvendal Vergopolan Coordenadora Geral Presidenta da COOPERCONTESTADO

Contrair Covid-19, em decorrência do exercício da função profissional, é um tipo de acidente de trabalho. Para exemplificar, um dos casos recentemente decididos pela Justiça do Trabalho foi de um motorista de caminhão que veio a óbito em decorrência da doença. Reconhecendo que a infecção ocorreu no ambiente de trabalho, a sentença condenou a empresa transportadora ao pagamento de indenização por danos morais à família da vítima. A mesma lógica se aplica a qualquer trabalho que envolva exposição ao vírus. Identificar a Covid-19 como acidente de trabalho vale também para a garantia de direitos em caso de necessidade de afastamento para tratamento. Nesses casos, é responsabilidade da empresa empregadora emitir Comunicação de Acidente de Trabalho, a CAT. Em caso de necessidade de afastamento temporário por mais de 15 dias, a trabalhadora ou o trabalhador deve receber o auxílio-doença acidentário do INSS, tendo direito à estabilidade provisória por 12 meses após o retorno ao trabalho. É responsabilidade da empresa, ainda, pagar indenização em caso de existência de sequelas pela doença. Guilherme Uchimura Advogado e membro da Rede de Advogadas e Advogados Populares


Brasil de Fato PR 4 Entrevista

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Joka Madruga

“A condição dos trabalhadores formais já não era boa antes da pandemia” Economista aponta impactos na condição de trabalho e negociação salarial no atual momento Pedro Carrano

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e acordo com estudo recente do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em 2019 apenas 1,2% das negociações salariais fazia menção ao home-office, número que, com a pandemia, cresceu para 13,7%. Na indústria, o percentual foi menor (9,7%). Em um contexto de precarização e subemprego, Sandro Silva, economista e supervisor técnico do Dieese-PR, afirma que a pandemia acentua dificuldades, como aumento da jornada de trabalho e ausência de limite para o uso do celular como instrumento de trabalho. Ambos os setores, informal e formal, sofrem dificuldades. Brasil de Fato Paraná – Hoje, o trabalho remoto e a consequente proteção contra a pandemia acaba sendo possível a apenas uma parcela da classe trabalhadora?

veem de forma concreta essa garantia, ficaram mais focadas em autorizar o home-office e usar as políticas criadas pelo governo (redução da jornada de trabalho e suspensão do contrato de trabalho), sendo que algumas preveem o fim do pagamento de alguns benefícios, como valetransporte e auxílio-alimentação. Como fica a jornada de trabalho em tempos de trabalho flexível, em casa, com o trabalhador conectado a todo momento via celular. O trabalho aumentou? Antes mesmo do aumento do homeoffice com a pandemia, já estava difícil para alguns trabalhadores limitar a jornada de trabalho em virtude do uso do celular como instrumen-

to de trabalho. Com a pandemia isso ficou ainda mais difícil, aumentando a jornada, e também a intensidade do trabalho, gerando problemas no convívio familiar e prejudicando a saúde dos trabalhadores. Neste momento de crise, o Dieese afirma que 70% das unidades de negociação sindical não repuseram a inflação. A crise piora também as condições dos trabalhadores formais? Infelizmente, piora e muito a condição dos trabalhadores formais, que já não era boa antes da pandemia, consequência do baixo crescimento econômico, que pressiona os trabalhadores em função do medo da perda do emprego, e a reforma trabalhista aprova-

PROGRAMAÇÃO DO 1º. DE MAIO EM CURITIBA

Giorgia Prates

Sandro Silva – O home-office na pandemia acaba atingindo uma parcela pequena dos trabalhadores, principalmente os formais dos setores de serviços e comércio, que executam atividades que permitem esse tipo de trabalho. No trabalho remoto, em algumas profissões, como fica a garantia de estrutura. Internet, luz, telefone e mobiliário? Infelizmente, grande parte das negociações que analisamos sobre o tema não garantem a estrutura, as que avançam não pre-

da em 2017, que diminuiu o poder de atuação das entidades sindicais e precarizou as relações de trabalho. Analisando as negociações coletivas, observamos que no início da pandemia elas focaram em garantir os empregos e adotar medidas de proteção à saúde e segurança dos trabalhadores, deixando a questão econômica de lado. Desde o segundo semestre de 2020, vemos uma piora significava das negociações para garantir a manutenção do poder de compra dos trabalhadores, consequência da forte aceleração da inflação. O acumulado em 12 meses do INPC chegou a ser de apenas 2,05% em junho de 2020, em março de 2021 já está em 6,94%, e com tendência de alta.

As centrais sindicais farão, neste 1º de Maio, carreata solidária para reivindicar vacinação contra a Covid-19 para todos, a defesa do auxílio emergencial e a luta por empregos. Serão dois pontos de concentração, a partir das 9h30. No terminal do Pinheirinho e no terminal do Santa Cândida. Desses locais, sairão em direção à Praça Nossa Senhora de Salete, onde acontecerá o encerramento da manifestação. Lá também haverá um posto de coleta de alimentos e produtos de higiene para distribuição para comunidades carentes. No sábado acontece também ação solidária de trabalhadores no Sabará, em Curitiba. Cerca de 500 cestas de alimentos e 100 cargas de gás serão doadas a famílias em situação de vulnerabilidade do bairro da região sul da capital (veja mais à pág. 6). Às 14h acontecerá também o lançamento do atelier de costura das mulheres da comunidade Nova Guaporé 2.


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Desemprego, medo e sobrecarga, a dura realidade de mãe solo na pandemia Em 2020, mais de 8,5 milhões de mulheres saíram do mercado de trabalho Ana Carolina Caldas

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ão mais de 11 milhões de mães solo no Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Ser mãe solo é ser responsável por cuidar dos filhos, além de ter que conciliar trabalho e a garantia da parte financeira da família. Se essa realidade já era difícil, com a pandemia piorou e muito. Filhos assistindo aulas em casa, desemprego, tripla jornada são alguns dos problemas enfrentados por estas mulheres que no Brasil ainda são invisibilizadas na formulação de políticas públicas. A professora da rede municipal de ensino de Curitiba Ana Paula da Cruz é mãe solo de dois filhos: um de 15 anos e outro de 8, este último adotado porque sua irmã faleceu após o parto. Ana trabalha o dia inteiro e se divide entre as responsabilidades da casa, profissão e filhos. “Sou mãe e pai deles. Sou a única pro-

11 milhões é o número de mães solo no Brasil

8,5 milhões de mulheres deixaram o mercado de trabalho no 3º. tri de 2020

63% das casas chefiadas por mulheres estão abaixo da linha da pobreza

Giorgia Prates

vedora de ambos. Os pais não participam financeiramente nem presencialmente. Não é nada fácil. Isso piorou muito com a crise da pandemia tanto economicamente, como para dar conta das demandas deles misturadas às da minha profissão”, relata a professora. “Faço malabarismo financeiro e ainda enfrento o machismo da sociedade. Eu gostaria de proporcionar muito mais para eles, mas não consigo.” Desemprego Outro agravante que já existia no universo das mães solo trabalhadoras é o desemprego, seja por terem que ficar com os filhos, seja por preconceito do mundo do trabalho. Pelos dados da Pnad Contínua, do IBGE, no terceiro trimestre de 2020, 8,5 milhões de mulheres tinham deixado o mercado de trabalho em comparação ao mesmo período anterior. À época, mais da metade da população feminina com 14 anos ou mais estava fora do mercado de trabalho. Esta é a realidade vivida pela jornalista Juana Profundo, que sempre enfrentou dificuldades em sua área por ser mulher, porém diz que o pior cenário foi com a pandemia. “Estou desempregada e chego a vomitar de nervoso porque não quero que minha filha perca o que já conquistamos. Minha instabilidade financeira nunca foi tão terrível quanto agora. Isso reflete no emocional e no físico. Sinto muito medo.

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Estou desempregada e chego a vomitar de nervoso porque não quero que minha filha perca o que já conquistamos.” Juana Profumo jornalista

Não tenho ajuda alguma do pai, sou mãe solteira desde que engravidei. Minhas maiores dificuldades foram conseguir comprar comida e fraldas para minha filha.” Brenda Prestes diarista

Por sorte, agora, ela com 14 anos tem uma bolsa atleta da escola,” conta. Juana destaca que sabe dos seus privilégios como mulher branca e de classe média. “Ainda com todas essas dificuldades, mas sei que estou melhor que muitas mães solos que convivo. Eu venho de uma família de classe média, moro em uma cidade pequena, sou branca. Digo isso porque sei que se fosse negra, pobre, LGBTI, a dificuldade seria maior,” conclui. Sem dinheiro para comida e fraldas No Brasil, 63% das casas chefiadas por mulheres estão abaixo da linha da pobreza, segundo a Síntese dos Indicadores Sociais do IBGE. Brenda Prestes, 21 anos, mãe solo de uma menina de 2 anos, faz parte desta estatística. Ela vive na periferia de Curitiba e chegou a ter dificuldades para levar comida para casa neste momento. Trabalhando como diarista, viu o trabalho diminuir para apenas duas ve-

zes por semana, a 100 reais a diária. “Não tenho ajuda alguma do pai, sou mãe solteira desde que engravidei. Minhas maiores dificuldades foram conseguir comprar comida e fraldas para minha filha. Sou só eu por ela”, conta. Assim como Brenda, no Brasil 45% das empregadas domésticas (diaristas e mensalistas) foram dispensadas do trabalho nesse período sem nenhuma remuneração, segundo pesquisa do Instituto Locomotiva.

Faço malabarismo financeiro e ainda enfrento o machismo da sociedade. Eu gostaria de proporcionar muito mais para eles, mas não consigo.” Ana Paula da Cruz professora

OMISSÃO Para Ana Carolina Franzon, coordenadora da Rede Nacional Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos- Regional Paraná, diante do estado omisso, as mulheres se viram como podem. “A omissão acontece quando não há planejamento reprodutivo, ou seja, a mulher não tem direito de decidir quando terá filhos. E, num momento de crise, es-

tas lacunas se agravam,” diz. Ana Carolina defende que é preciso que os governos garantam uma renda permanente para as mulheres trabalhadoras enquanto durar a pandemia. “Em um momento que, por exemplo, as escolas não oferecem condições seguras para serem reabertas e são sim um suporte social importante para as mães solo, o subsídio financeiro é essencial.”


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Reprodução

Entidades fazem doação de alimentos, gás e mutirão de agrofloresta no 1º de maio Ação será no sábado , das 7h às 13h, no Sabará, região sul da capital Giorgia Prates

Redação

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ma ação solidária de trabalhadores para trabalhadores no Dia Internacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras, 1º de maio. Cerca de 500 cestas de alimentos e 100 cargas de gás serão doadas a famílias em situação de vulnerabilidade no Sabará, em Curitiba. No mesmo dia, um mutirão de plantio vai marcar a inauguração da agrofloresta Papa Francisco, no Centro de Integração Social Divina Misericórdia (CISDIMI). PUBLICIDADE

Batizada como “Plantar solidariedade para defender a vida”, a atividade une entidades, movimentos sociais e sindicatos em solidariedade a quem mais precisa neste período de crise econômica e de saúde pública. Participam da ação o Centro de Assistência Social Divina Misericórdia (CASDM), MST, Sindicatos dos Petroleiros do Paraná e Santa Catarina (PR/ SC); APP Sindicato; PT do Paraná; Coletivo Marmitas da Terra; CUT-PR, Comissão da Dimen-

são Social da Arquidiocese de Curitiba e Produtos da Terra. As cargas de gás serão doadas pelos petroleiros membros do Sindipetro que trabalham na Refinaria Presidente Getúlio Vargas, a Repar, em Araucária. Os alimentos in natura vêm de cinco comunidades do MST da região sul do estado. Já os produtos industrializados serão doados pelas demais entidades que compõem a ação. Os alimentos partilhados por famílias do MST virão dos acampamentos Emiliano Zapata, de Ponta Grossa; Maria Rosa do Contestado, de Castro; Reduto de Caraguatá, de Paula Freitas; José Lutzenberger, de Antonina; e assentamento Contestado, da Lapa. A montagem das cestas e a preparação da área da agrofloresta serão na quinta e sextafeira, no CISDIMI. Toda a ação seguirá os protocolos de proteção contra a Covid-19, com uso de máscara, álcool em gel e sem aglomeração.

Audiência pública na Câmara de Curitiba expõe realidade da crise hídrica Pedro Carrano Nesta quinta-feira, dia 29, a Câmara Municipal de Vereadores de Curitiba faz uma audiência pública sobre a crise hídrica em Curitiba e região. A atividade proposta pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e realizada pela Comissão de Meio Ambiente, em parceria com a bancada do PT na Câmara, pode ser acompanhada em transmissão ao vivo pelas redes sociais da Câmara e também pela página do MAB Paraná, no Facebook. O objetivo é discutir a crise hídrica no Paraná, o papel privado que a Sanepar vem adquirindo, e o papel social que a água tem para as comunidades periféricas, divididas entre as que sofrem com a falta de água – caso da Nova

Guaporé 2, no Campo Comprido -, e as que sofrem com enchentes, na região sul da capital. “A chamada “Crise Hídrica” apenas escancarou outra crise que é muito maior. Em dez anos, a Sanepar tem priorizado distribuir lucros e dividendos aos seus acionista, em vez de fazer os investimentos e obras necessários para garantir água na torneira do povo. E como isso ocorre? Por meio de aumentos sistemáticos nas tarifas, muito acima da inflação, não realização de obras e investimentos e maior exploração sobre os trabalhadores”, denuncia Robson Formica, integrante da direção estadual do MAB. “A Sanepar está deixando de ser uma prestadora de serviço de água e saneamento, virando uma empresa que explora o povo por meio da água”, finaliza Formica.


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Livro traz versão de acusadas sobre rapto e morte de menino Evandro

Cultura 7

DICAS MASTIGADAS

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esta semana começa a pré-venda do livro “Malleus: relatos de tortura, injustiça e erro judiciário”, de Celina e Beatriz Abagge, que será lançado oficialmente em maio. Segundo informações da editora, a obra trará revelações de Celina e Beatriz Abagge - mãe e filha - sobre as torturas que afirmam ter sofrido para confessarem um crime que dizem não ter cometido. O caso, que ficou famoso com o nome de as bruxas de Guaratuba, aconteceu em 1992. As duas autoras e mais cinco pessoas foram acusadas de sequestrarem e assassinarem o menino Evandro Ramos Caetano, na cidade do litoral. Beatriz e Celina afirmam que à época foram torturadas por membros da Polícia Militar, e posteriormente presas, por cinco anos e nove meses, até o

julgamento em 1998, considerado o mais longo da história, que as inocentou. Em 2020, o jornalista Ivan Mizanzuk teve acesso a fitas - sem cortes - das confissões feitas sob tortura. Em “Malleus’’, contarão sua versão da história. “A tortura que eu sofri nunca quis contar porque foi tão terrível o que fizeram com a Beatriz, que o que ocorreu comigo minha família não precisava saber. O meu esposo já estava sabendo da tortura da filha dele, e por esse motivo eu nunca contei para ninguém’’, relata Celina Abagge. O nome da obra é uma alusão a um manual usado durante a Idade Média denominado Malleus Maleficarum, ou “Martelo das Bruxas”, em tradução livre do latim, escrito pelos dominicanos alemães Heinrich Kraemer e James Sprenger. O escrito tornou-se um guia para inquisidores do século XV, que ensinava téc-

nicas de tortura contra mulheres acusadas de “bruxaria” pela Igreja Católica. À luz da história, Celina e Beatriz relatam o que chamam de “injustiças sofridas durante todo o processo que teve o júri mais longo da história do judiciário brasileiro, e os enormes erros cometidos contra elas.” Reprodução

Caldo verde A cada semana, publicamos receitas com produtos agroecológicos da rede colaborativa Produtos da Terra, da Sinergia Alimentos Saudáveis e da Rede Mandala. Parte dos ingredientes pode ser encontrada no site produtosdaterrapr.com.br Ingredientes Meio quilo de batata orgânica. 1,5 litro de água. 4 dentes de alho orgânicos. 1 cubo de caldo de legumes. 5 folhas de couve orgânica fatiada fina. Azeite ou óleo. Sal e pimenta a gosto. Modo de Preparo Cozinhe as batatas com a água, dois dos dentes de alho e o caldo de legumes por cerca de 10 minutos em panela de pressão. Enquanto isso, refogue a couve com os outros dois dentes de alho amassados e o azeite. Salgue a gosto. Bata no liquidificador o cozido de batatas e leve para ferver. Junte a couve e acrescente sal a gosto.

LUZES DA CIDADE

Gibran Mendes

Redação

Reprodução

Celina e Beatriz Abagge afirmam na obra que sofreram torturas para confessarem o crime

Por Otto Leopoldo Winck

No bosque das veredas que não se bifurcam Então ele saiu de casa rumo ao Bosque, um livro de capa vermelha num braço, uma corda ordinária comprada dia desses no bolso do casaco. Sentou-se à beira do rio - um riozinho mequetrefe, mais esgoto que rio - e leu alguns dos poemas do livro. Sorriu algumas vezes, talvez diante do efeito de um verso ou outro. Depois - o sol estava caindo e logo o Bosque seria fechado - ele saiu andando pelas alamedas sombrias do Bosque. Não foi fácil

encontrar uma árvore apropriada. No dia seguinte, um guarda municipal achou o corpo dele dependurado do galho de um plátano. Embaixo, jazia um exemplar das Flores do mal, aberto de borco. No seu bolso acharam um bilhete, apenas com uma frase de Homero: “Entre todas as criaturas que se arrastam e respiram sobre a Terra, não há nenhuma outra mais infeliz que a criatura humana.” Logo que sua morte foi anun-

ciada nas redes sociais, começou a chover frases de condolências e consternação no seu perfil do Facebook. Perdemos uma grande promessa da poesia. Uma pessoa de rara sensibilidade. Um mago das palavras. No entanto, no seu enterro, e mais ainda no seu velório, compareceu muito pouca gente. Com efeito, de todas as criaturas que se arrastam e respiram sobre a Terra, não há nenhuma mais infeliz que o poeta.


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And the Oscar goes to... Por Cesar Caldas

“Grandes Esperanças”! O fi lme do diretor David Lean levou dois prêmios da Academia em 1946. Pode o torcedor do Coritiba alimentá-las para esta temporada “temporã” de 2021, iniciada com atraso? São boas as chances de alcançar o acesso à Série A do Brasileiro, competindo com três integrantes do G-12 do nosso futebol (Cruzeiro, Vasco e Botafogo), dentre outros times de tradição? Como no romance de Charles Dickens, que originou essa e outras nove adaptações para o cinema, será preciso percorrer passo a passo a trajetória do personagem Pip, retratado em dois tempos (juventude e maturidade). Estadual e Copa do Brasil são os primeiros desafios. Nos próximos 40 dias, o alviverde terá o clássico Athletiba e dois jogos contra o Flamengo, atual bicampeão brasileiro. Pelejas que oferecerão os indícios preliminares da possibilidade de concretizar seu desejo. Sem tempo Por Marcio Mittelbach

Não se trata de esquecer a vexatória apresentação no Couto Pereira, quando sofremos nosso pior revés em 30 anos da história dos Paratibas, os erros precisam ser corrigidos. Mas, na nossa situação, não há tempo para ficar lambendo as feridas. Mesmo diante de uma maratona de jogos - serão quatro jogos em 10 dias -, o Paraná Clube tem é que comemorar o fato de ter enfrentado o Cianorte na terça-feira, dia 27. A vitória por uma zero diante dos nossos algozes na Copa do Brasil deu a dignidade necessária para enfrentar o Athlético na sexta, dia 29, de cabeça em pé. Não é sempre que se tem duas chances de vencer um clássico em uma semana. É hora de mostrar que o baque foi assimilado e provar que, mesmo com todas as dificuldades, o Paraná vai honrar a sua história no paranaense e chegar à série C com condições de disputar o acesso.

Cascavel é acusado de falsificar testes covid Gabriel Carriconde

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Cascavel poderá ser processado criminalmente e suspenso do Campeonato Paranaense. O clube do oeste do estado é acusado de falsificar e fraudar cerca de 14 testes de Covid-19 de atletas, dirigentes, e membros da comissão técnica na partida contra o Athletico Paranaense, no último dia 22, na Arena da Baixada. A Federação Paranaense de Futebol exige que qualquer pessoa que esteja nas praças desportivas no dia de jogos organizados por ela apresente teste de covid negativo, de no máximo 72 horas anteriores à partida. A Polícia Civil abriu investigação após a Federação alegar que os exames foram falsificados. De acordo com o delegado Luiz Carlos de Oliveira, o inquérito também irá apurar se houve falsificações em outros jogos envolvendo o Cascavel ou outros clubes. No último dia 23, o laboratório contratado pela equipe para os exames confirmou a falsificação de seus laudos e documentos apresentados para a partida contra o Athletico. A empresa ainda revelou que 14 laudos do clube tinham sido adulterados.

gadores Lapa, Castro, o meia Gabriel Oliveira, além do volante Enzzo, não poderiam entrar em campo em razão da suspeita de adulteração, conversou com os atletas, que afi rmaram não terem feito o exame. Ao indagar o presidente do clube, Tony Almeida, sobre a situação, ele teria negado conhecer a situação, mas o técnico pediu demissão. ‘’Isso é gravíssimo, então entreguei meu cargo. É uma página lamentável na minha vida profissional’’, contou ao Globoesporte.com. Na última quarta-feira, o Tribunal de Justiça Desportiva do Paraná anunciou que denunciou as 14 pessoas envolvidas na falsificação e o clube. Caso seja punido, o Cascavel pode pagar multa e até ser suspenso, enquanto os demais envolvidos podem ficar um ano fora do futebol profissional. Até o fechamento desta matéria, o clube não se manifestou oficialmente. Reprodução

Técnico pede demissão e TJD denuncia O técnico Luiz Carlos Cruz confi rmou que os atletas do Cascavel não haviam realizado os testes contra o Athletico. De acordo com ele, após saber que jo-

ELAS POR ELA “Los Violetas”: o caçula da Sul-Americana Por Douglas Gasparin Arruda

Tentando emplacar a segunda vitória seguida na Copa Sul-Americana, o Furacão vem para o confronto contra o Metropolitanos-VEN com o elenco principal, contando com o retorno do goleiro Santos, que ficou de fora da estreia por testar positivo para Covid, e do zagueiro Thiago Heleno. O time venezuelano chega em momento delicado no ano: perdeu o primeiro jogo da Sul-Americana em casa para a equipe peruana do Melgar e também seu único jogo pelo campeonato nacional para o Atlético Venezuela. Apesar dos resultados não serem animadores, é importante ressaltar que “Los Violetas”, como são conhecidos, não completaram uma década de fundação, sendo o título da segunda divisão venezuelana sua maior conquista até aqui. A missão do rubro-negro, portanto, é garantir o bom momento e os três pontos na tabela.

Fernanda Haag

As paranaenses em campo Vai ter bola rolando nos gramados do Paraná nos próximos dias. Começando com o Campeonato Paranaense de 2020. Pois é. Após algumas confusões, desistências de times e da própria Federação, o torneio vai acontecer. Athletico e Imperial serão os participantes e o campeão será decidido em duas partidas. A primeira, com mando de campo do Imperial, no Estádio Octávio Silvio Nicco, será no próximo sábado, 1º de maio. A volta será no dia 5 de maio no CT de Caju com mando das atleticanas. Ambas as equipes também

disputarão o Brasileirão série A2, que começará no próximo mês. O Imperial pegou a vaga pelo Paranaense, pois o Athletico já estava garantido graças ao Ranking de Clubes da CBF. A tabela da competição foi divulgada na segunda-feira, 26. O Athletico está no grupo F, junto com América-MG, Vasco, Ponte Preta, Chapecoense e Brasil de Farroupilha. O Imperial compõe o grupo D, ao lado de Atlético-GO, Vila Nova-ES, Fluminense, Criciúma e Bragantino. Ficamos na torcida por bons jogos!


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