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Brasil | p. 6 Editorial

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Esportes

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EDITORIAL O povo nas ruas, nosso artilheiro

Mesmo com a pandemia do coronavírus, centenas de milhares de brasileiros tomaram as ruas para se opor à política irracional de Bolsonaro. A conclusão de quem estava na rua: quando o governo é mais perigoso que o vírus, apenas a resposta do povo pode virar o jogo. Os primeiros sinais da derrota bolsonarista, nessa partida, foram dados pela brutal repressão em capitais, como no Recife. Em outras, houve prisão de manifestantes que exercitavam sua liberdade de expressão. Foi o que ocorreu, dois dias após, em Goiânia. Nestes casos, a revisão do lance

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A informação foi muito mal recebida pela opinião pública e já se alcunha o evento como Cepa ou Cova América

deu razão ao time do povo. Outra estratégia diversionista foi a Copa América de futebol no Brasil, após a recusa de Colômbia e Argentina. A informação foi muito mal recebida pela opinião pública e já se alcunha o evento como Cepa ou Cova América. Mais um campeonato que o bolsonarismo corre o risco de perder.

O ápice da confusão imposta pelo governo foi derrotada no vergonhoso depoimento da médica Nise Yamaguchi, na CPI da Covid. Demonstrando nada saber sobre infectologia ou saúde pública, parece ter sido expulsa sem nem ter entrado em campo.

Mas, mesmo com todas as estratégias diversionistas que o governo tentou, nada pode anular o gol de placa nas manifestações em mais de 200 cidades. O povo nas ruas é que é nosso artilheiro.

SEMANA

OPINIÃO Eleições no Peru: um sopro de esperança popular no coração dos Andes

Soniamara Maranho,

integrante da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens

Pedro Carrano,

integrante da direção nacional da Consulta Popular

Em 6 de junho, o povo peruano vai às urnas, no segundo turno de uma eleição polarizada entre a esquerda, com o professor, sindicalista e filho das greves de 2017 do magistério, Pedro Castillo, à frente nas pesquisas, com um programa democrático, nacional e popular, contra a candidatura de extrema-direita de Keyko Fujimori, filha de Alberto Fujimori, preso neste momento por crimes contra a humanidade.

A aplicação do programa neoliberal, do Tratado de Livre Comércio com os EUA e mais 20 diferentes acordos com outros países, cobra o seu preço. Hoje, no Peru, 21,8% das crianças e adolescentes são obrigados a trabalhar. Não há um patamar de leis trabalhistas consistente. Existem 2,7 milhões de analfabetos, numa população de 32,5 milhões, 84% das vítimas de analfabetismo são mulheres.

Neste momento, a esquerda peruana se aglutina em torno da chance de vitória de Castillo, do partido Peru Libre, que tem como uma das bases sociais as Rondas Camponesas, comunidades camponesas, organizadas com jurisdição própria, críticas ao limite e caráter de classe do Estado, porém conscientes do papel que Castillo pode cumprir ao chegar ao governo – ainda que tenha pela frente o mesmo desafio dos governos bolivarianos na Venezuela, Equador e Bolívia: avançar na direção do poder e combater um Estado com pesada herança colonial.

Depois de uma onda de golpes e retomada de governos de direita, desde 2015, a atual crise econômica, política e sanitária que se agrava na América Latina tem movido as peças do xadrez e produzido revoltas e movimentos de massa, caso da Guatemala, Haiti, Colômbia, Equador, Chile e Paraguai.

Ao lado da retomada do governo na Bolívia, da Constituinte chilena, uma vitória de Castillo significaria mais uma situação em que a luta de massas conflui para a chegada da esquerda ao governo. Contribui também para um cenário necessário de isolamento do governo neofascista de Bolsonaro.

O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 214 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

EXPEDIENTE

Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016

EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Gabriel Carriconde e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Soniamara Maranho e Rubens Bordinhão Neto ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Douglas Gasparin Arruda REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com

PR ainda recomenda Cloroquina

O uso de Cloroquina em pacientes com coronavírus tem sido questionado pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 no Senado e por médicos que atuam no combate à pandemia. O próprio Ministério da Saúde recuou e já retirou da página oficial as orientações sobre a aplicação do medicamento para o tratamento. No entanto, o governo do Paraná segue com a recomendação de uso da Cloroquina em seu site oficial.

Se você entrar no site do governo do Paraná, a nota “Uso da Cloroquina como Terapia Adjuvante no Tratamento de Formas Graves da Covid-19 (versão 1) ainda está lá, orientando, “a critério médico, o medicamento Cloroquina como terapia adjuvante no tratamento de formas graves da Covid-19, em pacientes hospitalizados, sem que outras medidas de suporte sejam preteridas em seu favor”.

A recomendação “não recomendável” é criticada pelo deputado estadual Requião Filho (MDB). Para ele, o estado atua com incompetência, negligência, imprudência e/ou imperícia. “Quando o uso da Cloroquina é refutado pela OMS, pela ciência e até mesmo pelo seu maior garoto propaganda, o governo federal, manter as recomendações para seu uso no site do estado do Paraná só pode ser por incompetência, negligência, imperícia ou imprudência”, destaca o deputado.

FRASE DA SEMANA

“É uma vergonha... É um tapa na cara dos brasileiros”

Divulgação

Disse o narrador de futebol da Globo

Luis Roberto sobre o Brasil sediar a

Copa América de futebol, depois de Colômbia e Argentina se negarem a fazer a competição por causa da Covid-19. E complementou: “O país que demorou 9 meses para responder a carta da P zer (oferecendo vacinas) responder em 10 minutos que vamos fazer a Copa América é inaceitável...

NOTAS BDF

Por Frédi Vasconcelos

Discussão delirante

A médica Luana Araújo (foto), que seria nomeada chefe da Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19 e acabou sendo “desnomeada” pelo governo Bolsonaro, disse em depoimento à CPI: “Todos nós somos favoráveis a uma terapia precoce que exista. Quando ela não existe, não pode ser uma política de saúde pública. Essa é uma discussão delirante, esdrúxula, anacrônica e contraproducente”, afirmou, referindo-se ao “tratamento precoce” com Cloroquina e outras drogas.

Borda da Terra plana

Para ela, é inadmissível que ainda exista uma discussão sobre esse assunto. “Quando eu disse, há um ano, que nós estávamos na vanguarda da estupidez mundial, infelizmente, eu ainda mantenho isso em vários aspectos. Nós ainda estamos aqui discutindo uma coisa que não tem cabimento”, a rmou. Ela ainda fez ironia com aqueles que acreditam na teoria de que a Terra é plana. “É como se estivéssemos discutindo de que borda da terra plana Agência Senado vamos pular. Não tem lógica”, disse.

Contradições de Nise

Na CPI também foi ouvida a médica bolsonarista e defensora do tratamento precoce Nise Yamaguchi. Ela negou que fosse conselheira do Bolsonaro ou que fizesse parte de um comitê de aconselhamento paralelo, embora a agenda do presidente relate encontros pessoais com a médica. Ela também negou que tenha participado da tentativa de alterar a bula da Cloroquina por decreto presidencial, embora o fato tenha sido confirmado pelo presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres. A CPI deve fazer uma acareação entre eles.

Quem mandou atirar?

Passados dias do ataque da Polícia Militar de Pernambuco a manifestantes do 29M no Recife, o governo do Estado não disse ainda quem mandou atirar bombas e dar tiros de borracha que feriram várias pessoas, algumas com perda de visão. O governador suspendeu militares e houve a renúncia do chefe da corporação, coronel Vanildo Maranhão, mas a questão de quem deu a ordem ainda não foi respondida.

QUE DIREITO É ESSE?

Rubens Bordinhão Neto A CPI da Covid vai acabar em pizza?

Em abril foi instalada CPI para apurar ações e omissões do governo federal na pandemia. Trata-se de uma importante iniciativa do Legislativo no exercício do seu dever constitucional de scalizar o Poder Executivo. Mas uma CPI apenas pode apurar e investigar, não imputar responsabilidade ou julgar. Contudo, isso não quer dizer que vai acabar em pizza. Tudo depende do seu relatório nal.

Se o relatório apontar que o presidente cometeu crimes de responsabilidade, caberá ao presidente da Câmara dos Deputados abrir processo de impeachment. É possível ainda que se conclua pelo cometimento de crime comum, aí o relatório será enviado à Procuradoria-Geral da República para inquérito e denúncia no Supremo.

Além desses trâmites, a CPI tem também efeitos políticos importantes, porque compila e coloca em evidência os erros governamentais que nos trouxeram à crise sanitária e recessão econômica. Prova disso são as reiteradas pesquisas que demonstram insatisfação com o governo federal, além das manifestações do último 29 de maio, que reuniram centenas de milhares de brasileiros.

Ainda é cedo para dizer se acabará em pizza ou não, certo é que a CPI pode ser mais uma peça no quebracabeça do impeachment de Bolsonaro, ou, ao menos, da sua deposição pela via eleitoral.

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