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Brasil | p. 6Artigo | p. 2 Editorial
editorial A agenda do povo
Desde 2018 o país encontra-se amarrado à agenda política do caos. O que parece bárbaro, piada, polêmica ou absurdo toma conta do debate nos afogando num mar de escândalos e fake news. E, assim, nos ilusionismos da política, o bolsonarismo domina a arena. Reativamente, na “espiral dos absurdos”, seguimos na contestação, absorvidos pela agenda do inimigo e fortalecendo o algoritmo das redes contra nós mesmos. Por um momento, com a CPI da Covid dominando a pauta, Bolsonaro perdeu o controle da agenda e viu sua populari-
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dade derreter. Recuperou, em partes, e agora busca dominar a narrativa eleitoral.
Seu cálculo é pautar qualquer tema, contanto que não seja o desemprego, a fome, a miséria, a desigualdade e a inflação, desastres de seu desgoverno. Lula, por sua vez, tem um desafio: se desvencilhar das amarras desse jogo e conversar, com uma agenda propositiva, diretamente com o povo brasileiro. Nesta semana o indulto a Daniel Silveira dominou a imprensa e as redes. Lula não alimentou a agenda bolsonarista e, com conteúdos mirando a juventude, ampliou seu engajamento. Estrategicamente, o ideal é manter a construção da agenda que importa ao futuro do povo: com esperança e dignidade.
SEMANA
opinião 1º de maio internacional e de solidariedade
Marcio Kieller,
Presidente da CUT/PR e mestre em Sociologia Política pela UFPR
ACentral Única dos Trabalhadores do Paraná, CUT-PR, pela importância política do ano de 2022 para a classe trabalhadora, com eleições em diversos países da América Latina, inclusive no Brasil, tomou a inciativa do diálogo e de construir em Foz do Iguaçu, tríplice fronteira do Brasil com a Argentina e o Paraguai, o 1º de maio - Dia Internacional das Trabalhadoras e Trabalhadores com foco na solidariedade e no internacionalismo de classe.
A primeira atividade será um seminário sobre a situação da classe trabalhadora na América Latina, em 30 de abril. Contará com representantes dos três países e da Confederação Sindical das Américas (CSA). Já o 1º de Maio reunirá trabalhadoras e trabalhadores dos três países, de centrais sindicais, movimentos populares, movimento estudantil e movimentos sociais, como o MAB e o MST.
Não é a primeira vez que a CUT Paraná realiza o 1º de maio na Tríplice Fronteira. Isso aconteceu nos governos democráticos e populares de Lula, em que existia outra compreensão sobre a consciência e a luta de classes, a necessidade de solidarieda-
Divulgação
de internacional entre os povos e maior integração entre trabalhadores do Cone Sul.
O atual momento é totalmente diferente, enfrentamos a ofensiva da extrema direita raivosa que procura atacar sindicalistas e sindicatos e desmontar a estrutura sindical. O momento é fundamental para o exercício da solidariedade de classe, pois em diversos países teremos processos eleitorais com a possibilidade real da volta de governos democráticos e populares.
O Dia do Trabalho é marco simbólico de solidariedade e de internacionalismo classista, com o alerta de que as trabalhadoras e trabalhadores precisam saber de que lado estão.
Reafirmamos a importância do 1º de maio numa região que pode destacar a solidariedade internacionalista e classista! Viva as trabalhadoras e trabalhadoras da Argentina, Brasil, Paraguai e do mundo!
O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 254 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.
EXPEDIENTE
Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016
EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Gabriel Carriconde e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Bruno Soares e Marcio Kieller ARTICULISTAS Cesar Caldas, Douglas Gasparin Arruda, Fernanda Haag, Marcio Mittelbach e Manoel Ramires REVISÃO Lea Okseanberg ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio, Robson Sebastian CONTATO pautabdfpr@gmail.com REDES SOCIAIS /bdfpr @brasildefatopr
Eleições não devem ter surpresas
Uma eleição “surpreendentemente previsível”. Essa é a previsão de Emerson Urizzi Cervi, professor associado do Departamento de Ciências Políticas da Federal do Paraná. Para ele, a disputa nacional se restringe a dois candidatos, à pauta econômica e de costumes.
O atual presidente e o líder das pesquisas, Lula, devem levar a disputa até o m e sem espaço para outro nome. “Juntos, somam 90% de votos. Por outro lado, o uso do termo terceira via é equivocado. Estamos falando de terceiro, quarto ou quinto colocados nas pesquisas. Terceira via é outra coisa. É quem aparece ao longo da campanha e cresce tomando votos de um dos mais bem colocados. Surge pelo meio, não pelos extremos”, contextualiza.
Avalia, ainda, que o debate será centrado em dois temas em que os candidatos têm vantagem. Bolsonaro, nos costumes, Lula, nos temas econômicos e sociais pelo retrospecto de seu governo. Falta saber o que será mais importante para o eleitor”, pondera.
No Paraná, a avaliação é de reeleição de Ratinho Júnior, com ele compondo tanto com Lula quanto com Bolsonaro. “Se houver um governo nacional de oposição, o mais comum é se aproximar. O partido de Ratinho, PSD, é nacionalmente mais próximo a Lula do que a Bolsonaro. Se Ratinho precisar, o pulo será pequeno”.
FRASE DA SEMANA
Desmoralizado internacionalmente... Moro, juiz ladrão!
Disse a deputada federal Natália Bonavides (PT-SE), em seu Twitter, porque, segundo ela, o Comitê de Direitos Humanos da ONU considerou que o ex-ministrojuiz foi parcial nos processos contra Lula. “Ou seja, uma grande armação para tirar o líder das pesquisas das eleições 2018.”
Divulgação
O Presidente da Cooperativa de Processamento Alimentar e Agricultura Familiar Solidária de Antonina – Copasol Cachoeira, com sede na Comunidade do Cachoeira, s/n, Zona Rural, Antonina/PR CNPJ: 26.504.099/000152 – IE 9076499621, no uso das atribuições que lhe confere o Estatuto Social, convoca os Senhores associados, cujo número para efeito de quórum é de 147 (Cento e quarenta e sete) nesta data , para reunirem-se em Assembleia Geral Extraordinária, a realizar-se no dia 13/05/2022 (treze de maio de dois mil e vinte e dois), no salão da Igreja Católica da Cachoeira, localizado na comunidade do Cachoeira, s/n, Zona Rural, Município de Antonina, em primeira convocação, às 12:00 horas, com a presença de dois terços dos associados; em segunda convocação, às 13:00 horas, com a metade mais um (50%+1) dos associados; ou ainda, em terceira e última convocação, às 14 horas, com a presença de no mínimo dez (10) associados aptos para deliberar a seguinte ordem do dia: 1- Alteração e consolidação do Estatuto; 2: - Alteração do nome empresarial e fantasia da cooperativa; Antonina, 18 de abril de 2022 EDMAR FERRON / CPF:715.736.749-15, presidente
O Presidente da Cooperativa de Processamento Alimentar e Agricultura Familiar Solidária de Antonina – Copasol Cachoeira, com sede na Comunidade do Cachoeira, s/n, Zona Rural, Antonina/PR CNPJ: 26.504.099/0001-52 – IE 9076499621, no uso das atribuições que lhe confere o Estatuto Social, convoca os Senhores associados, cujo número para efeito de quórum é de 147 (Cento e quarenta e sete) nesta data , para reunirem-se em Assembleia Geral Extraordinária, a realizar-se no dia 13/05/2022 (treze de maio de dois mil e vinte e dois) no salão da Igreja Católica da Cachoeira, localizado na comunidade do Cachoeira, s/n, Zona Rural, Município de Antonina, em primeira convocação, às 13:00 horas, com a presença de dois terços dos associados; em segunda convocação, às 14:00 horas, com a metade mais um (50%+1) dos associados; ou ainda, em terceira e última convocação, às 15:00 horas, com a presença de no mínimo dez (10) associados aptos para deliberar a seguinte ordem do dia: 1- Informe da filiação e desfiliação de sócios; 2- Apresentação, discussão e aprovação do Relatório da Diretoria, referente à Prestação de Contas dos Exercícios Sociais encerrados em 31 de dezembro do ano de 2019 a 2021; a) Relatório de Gestão; b) Balanço Geral; c) Demonstrativos de Sobras e Perdas; d) Parecer do Conselho Fiscal; e) Plano de Atividade para o Exercício seguinte; 3- Destinação das sobras apuradas ou rateio das perdas do exercício; 4- Eleição e posse da nova Diretoria; 5- Eleição e posse do novo Conselho Fiscal; 6- Definição do percentual da taxa de administração para 2022; 7- Projeto SEAB: 8- Encaminhamento Copasol Central e FECAFES; 9 -Apresentação de outras formas para capitalizar a cooperativa; 10 - Assuntos Gerais. Antonina, 18 de abril de 2022. EDMAR FERRON / CPF:715.736.749-15 Presidente
Cooperativa Agroindustrial do Litoral Paranaense -Cooativa CNPJ: 08814.270/000148, NIRE: 41.400.018.351 Edital de convocação de assembleia geral extraordinária
O Presidente da Cooperativa Agroindustrial do Litoral Paranaense - Cooativa - no uso das atribuições que lhe confere o Estatuto Social, convoca os senhores associados, cujo número para efeito de quórum, nesta data, é de 39 (trinta e nove), para reunirem-se em Assembleia Geral extraordinária a realizar-se no dia 13 de maio de 2022, nas dependências do Centro Pastoral Santo Antônio, ao lado da Igreja Matriz, na cidade de Morretes, Estado do Paraná, em primeira convocação às 13:00 horas, com a presença de 2/3 (dois terços) dos associados; em segunda convocação às 14:00 horas, com a metade mais um (50%+1) dos associados; ou, ainda, em terceira e última convocação às 15:00 horas, com a presença de, no mínimo, 10 (dez) associados, para deliberar sobre a seguinte ORDEM DO DIA: 1) Informe da filiação e desfiliação de sócios; 2) Apresentação, discussão e aprovação do Relatório da Diretoria, referente à Prestação de Contas dos Exercícios Sociais encerrados em 31 de dezembro de 2011, respectivamente incluindo: Relatório da Gestão, Balanço Geral, Demonstrativo de Sobras e Perdas, Parecer do Conselho Fiscal, Plano de atividades para o exercício seguinte. 3) Destinação das sobras apuradas ou rateio das perdas do exercício;4) Eleição e posse dos membros da diretoria; 5) Eleição e posse do Conselho Fiscal; 6) Assuntos Gerais. Morretes, 28 de abril de 2022
Ezequiel Petenusso, presidente
Vereadora de Foz do Iguaçu é investigada por suposta “rachadinha”
Bruno Soares
Menos de um mês após a maioria dos vereadores da Câmara Municipal de Foz do Iguaçu (CMFI) arquivarem pedido de investigação sobre suposta “rachadinha” dentro da Casa, a prática caracterizada pela transferência de salários de assessores para agentes públicos volta ao centro das discussões na cidade.
Em entrevista, duas ex-servidoras indicadas pela vereadora Carol Dedonatti (PP) para cargos comissionados na Diretoria de Bem Estar Social (Diba), órgão vinculado à Prefeitura Municipal, confirmam a suspeita.
De acordo com as protetoras de animais que atuaram em 2020 pela eleição de Carol Dedonatti, além de pedir a devolução de parte dos salários, a vereadora justificaria a necessidade do dinheiro para “manutenção de projetos, em benefício da causa animal”. O caso é alvo de inquérito tocado pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR), por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Em nota enviada à reportagem, a vereadora afirmou que as acusações são perseguição política.
Leia o texto na íntegra em brasildefatopr.com.br.
Reprodução
Áudios vazados causam dúvidas em processo contra vereador Renato Freitas
Reprodução
Membro do Conselho de Ética da Câmara, Márcio Barros faz lobby por cassação
Gabriel Carriconde
“Tem quatro vereadores que já sinalizaram pela cassação e eu faço parte. (...) Tem que meter uma pressão nela (vereadora Noemia Rocha)”. Com essas declarações, num áudio vazado, o vereador Márcio Barros (PSD) tentou articular para que a vereadora Noemia Rocha (MDB-PR) votasse a favor do prosseguimento do pedido de cassação do colega de casa, vereador Renato Freitas (PT), por quebra de decoro parlamentar, por conta de sua participação em ato na Igreja Nossa Senhora do Rosário, durante manifestação contra o racismo realizada em fevereiro deste ano.
Barros fazia, até então, parte do Conselho de Ética da Câmara de Vereadores de Curitiba, que analisa o processo contra Renato, e teve que pedir para se desligar do conselho por conta dos áudios. Para a defesa de Freitas, o caso demonstra parcialidade e perseguição política contra o petista, que teve o pedido de suspeição do julgamento negado, e ainda terá que apresentar sua defesa no conselho até a sexta-feira, 29.
Os áudios De acordo com o próprio vereador, os áudios teriam sido vazados, após uma conversa particular feita com um membro da igreja da qual faz parte. Durante a conversa, Márcio Barros cita para seu amigo, que dos membros do conselho de ética, quatro estariam a favor da cassação, incluso ele, três contra, e outros dois parlamentares em dúvida, como a vereadora Indiara Barbosa (Novo). Noêmia Rocha estaria pendendo em votar a favor do petista, o que segundo Barros, por se tratar de uma representante de segmentos religiosos, seria algo incoerente. “Pior de tudo é a Noêmia, que é da Assembleia de Deus. Tem que meter pressão nela”, diz ele.
Em outro áudio, ao saber que a conversa com seu colega de igreja citando a parlamentar havia vazado, Barros pede desculpas para a vereadora, justificando que não sabia qual o posicionamento real da mesma, mas apenas pelo que teria lido em veículos de comunicação.
CONSELHO DE ÉTICA
A defesa do vereador Renato Freitas, após o vazamento, entrou com pedido de suspeição no conselho alegando “a falta de discrição do vereador, é possível concluir, ainda, parcialidade no exercício da função de membro do Conselho de Ética”. Barros, posteriormente, afastou-se.
Em nota à imprensa, afirmou que teria sido vítima de um “vazamento de áudios particulares encaminhados para um amigo o qual falava de minha opinião sobre o processo”, e que somente deixou “claro que após todo o desdobramento do processo havia indícios da gravidade da conduta.” Mesmo com os indícios de parcialidade apontados pela defesa de Renato Freitas, o Conselho da Câmara votou na quarta-feira, 27, pelo prosseguimento do julgamento.
Relator do processo contra o petista, o vereador Sidnei Toaldo (Patriota), julgou improcedentes os argumentos de defesa, já que, segundo ele, Barros desistiu da vaga no colegiado, o que acarretaria na retirada “do objeto de suspeição”.
“A decretação de nulidade depende da demonstração do efetivo prejuízo e da cristalina demonstração de ocorrência de dano ao representado, o que inexistiu”, disse Toaldo. O advogado de Renato Freitas, Guilherme Gonçalves, durante julgamento do pedido de nulidade, afirmou respeitar a decisão do colegiado, mas que via que os elementos de nulidade continuavam a existir, já que havia antecipação de voto antes da apreciação dos argumentos da defesa. Renato Freitas agora tem até sexta-feira, 29, de apresentar nova defesa no caso, que prossegue até julgamento final no plenário da Câmara.
Por que o massacre do 29 de abril de 2015 continua até hoje
À época, mais de 200 feridos; ninguém do estado foi responsabilizado até hoje
Ana Carolina Caldas
Um ato para reivindicar direitos em 29 de abril de 2015 se transformou em cena de guerra. Era uma manhã com concentração de servidores públicos do Paraná, na maioria profissionais da educação, que acompanhavam em frente à Assembleia Legislativa a votação de projeto que alterava o custeio da Paraná Previdência. Sob ordens do governador Beto Richa (PSDB) e coordenação do então secretário de Segurança, Fernando Francischini (PSL), policiais militares atacaram os manifestantes com bombas, balas de borracha, cachorros e gás de pimenta. O episódio ficou conhecido como o Massacre de 29 de Abril ou a Batalha do Centro Cívico, por conta de mais de 200 pessoas feridas, episódio pelo qual nenhum agente do Estado foi responsabilizado. Triste memória para quem estava lá. Para a professora Angela Castro (abaixo) que atua na rede há 24 anos, é impossível esquecer. “Durante bom tempo daquele bombardeio fiquei dentro do tubo do Ligeirinho para tentar me proteger.
Arquivo Pessoal
Até que fiquei sozinha com um estudante, e as próprias tropas da polícia nos tiraram ali de dentro, me soltaram e me mandaram correr. Acabei na frente das tropas e vi que tinha muita gente filmando e eu, ingenuamente, achei que por isso não seria agredida. Mostrei que estava desarmada, comecei a falar que era professora, mãe e que não era inimiga deles, e logo depois corri em direção aos manifestantes.”
Para o professor de História, Fabiano Stoiev (dir.) o momento mais dramático foi quando os servidores tentavam dialogar com os policiais. “A gente tentava se aproximar e fomos agredidos com muita bomba o tempo todo. O que mais me espantou foi a crueldade daquelas fileiras de policiais.
Vi um jovem, servidor da saúde, se aproximar, deitar de costas e, apesar de estar deitado, levar mais de dez tiros de balas de borracha”, relembra.
Cirurgia e afastamento da sala de
aula O professor de Sociologia do Colégio Estadual, Affonso Cardoso (esq.), foi um dos feridos naquela manhã. “Havia quantidade incontável de bombas estourando, com grande quantidade de gás, o que impedia que conseguisse me dispersar para longe. Quando subi o meio-fio para correr em direção ao gramado da praça, ao me virar, senti que havia sido atingido por algo em meu rosto. A camiseta branca que vestia estava com sangue e percebi, então, que tinha sido atingido por um tiro de bala de borracha no rosto. Consegui sair, muito desorientado, e me dirigir ao caminhão de som onde estavam dirigentes sindicais. Nesse momento, senti outro tiro, na altura da panturrilha esquerda. Encontrei, ao lado do caminhão, uma dirigente da APP-Sindicato que me conduziu até uma ambulância próxima”, relata.
Conta também que, na ambulância, havia várias pessoas sendo atendidas e ele acabou pedindo ajuda em outro caminhão de som, chegando a ser socorrido dentro do prédio da Prefeitura, e logo mais levado ao Hospital Cajuru. “O médico que prestou atendimento, chefe do setor de politraumatismo, afirmou que os disparos foram realizados diretamente da espingarda do policial, sem ricochete. O disparo no rosto teria sido feito a curta distância. Permaneci por um mês afastado do trabalho por orientação médica. Em 2017, passei por cirurgia plástica reparadora para concluir o processo de cicatrização. Todo o procedimento foi pago com recursos próprios, pois a ação judicial contra o Estado em momento algum ofereceu respostas práticas à violência daquele dia”, diz.
Continuamos
massacrados Para professores, além do massacre de 2015, os ataques a direitos, motivo do protesto, continuam. “Nós continuamos sendo desrespeitados com a falta de apoio nas escolas, calote nas promoções e progressões, omissão quanto à sobrecarga de trabalho. Continuamos sendo, portanto, massacrados agora pelo governo Ratinho Jr”, diz a professora Angela. “O 29 de abril de 2015 foi um movimento muito grande e o ápice da luta sindical de várias categorias. A greve tinha quase 100% de adesão. A partir daquele ano, vamos assistindo a um movimento de retirada de direitos e desenvestimento na educação. O governo do Paraná conseguiu também o recuo das mobilizações com uma repressão policial inédita”, diz Fabiano.
Henri Milleo
COM GREVE, PROFESSORES BUSCAM PAGAMENTO DA DATA-BASE E OUTROS DIREITOS
Na sexta, 29 de abril, professores da rede estadual de ensino fazem ato e greve por um dia em memória do massacre de 2015 e pelo pagamento da data-base, melhores condições de trabalho e o m do assédio, das terceirizações e do con sco da previdência de aposentados.
Em entrevista ao Brasil de Fato Paraná, a professora e presidente da APP Sindicato, Walkiria Olegário Mazeto, fala sobre as atuais reivindicações da categoria.
BDF-PR – Neste 29 de abril, quais as reivindicações dos professores?
Walkiria Mazeto – Faremos greve por tempo determinado. O chamado é de paralisação das atividades nas diversas categorias do serviço público. Levaremos para as ruas a memória da violência vivenciada em 2015, para que nunca mais se repita, e também pelas nossas pautas: a reposição da data-base, acumulada em mais de 34%; implantação de vários itens das carreiras; alteração na base do desconto previdenciário para aposentados/as; revogação da lei que permite a terceirização de funcionários de escola, entre outras da organização da escola e da defesa de uma educação pública de qualidade.
Reforma Previdenciária de Curitiba é perversa e ataca os direitos dos servidores ativos e aposentados
A Emenda na Lei Orgânica do Município de Curitiba e a Lei Complementar 133/2021, de autoria do prefeito Rafael Greca, promoveu mudanças cruéis para os servidores públicos municipais
Informe Institucional | SISMUC
“Eu preciso morar de aluguel. Com esse desconto de 14% do meu salário, eu não tenho como pagar. Por isso, eu gostaria que o prefeito [Rafael Greca] colocasse a mão na consciência e revisse esse desconto. Eu, por exemplo, tenho problemas de saúde e tomo muitos remédios. E assim como eu, outros aposentados gastam com moradia e com medicamentos. Esse desconto vai afetar muito, porque ou a pessoa paga o aluguel ou compra os remédios, os dois não vai dar.” Marina Leardini, servidora aposentada da área da educação, evidencia como o desconto de 14% na aposentadoria impacta o dia a dia dos aposentados do município.
É isso o que a Reforma da Previdência municipal — projeto de autoria do prefeito Rafael Greca, aprovada em dezembro de 2021, está causando aos servidores aposentados. Desde o mês de abril deste ano, a alíquota já está sendo descontada dos salários acima de R$ 2.424. “É um desconto considerável, principalmente nesse momento de inflação, em que as coisas estão aumentando exageradamente. Então, [esse valor] vai fazer falta pro aposentado e pra aposentada. A preocupação também é que muitos nem sabem desse desconto”, conta Solange da Silva, aposentada da educação.
Mônica Giovannetti, aposentada filiada do Sindicato
SISMUC
dos Servidores Municipais de Curitiba (SISMUC), reforça que a votação para aprovação da Reforma da Previdência ocorreu em regime de urgência, sem que houvesse debate público necessário. “A categoria não foi informada de maneira clara sobre o desconto de 14%. No momento da aprovação da reforma, muitos aposentados não se deram conta do impacto que o projeto traria”.
Impacto da Reforma da Previdência nos servidores ativos
A Reforma da Previdência do município é um reflexo da Reforma da Previdência proposta pelo governo Bolsonaro e decretada pelo Congresso Nacional em 2019, prejudicando milhões de brasileiros. Para fins de comparação, o texto de ambas as reformas estabelece uma idade mínima de 65 anos para os homens e 62 anos para as mulheres. Porém, quando analisamos o tempo mínimo de contribuição, a Reforma aprovada em Curitiba ainda é mais cruel: o servidor precisará comprovar 25 anos de contribuição previdenciária, sendo pelo menos 10 anos no serviço público e os últimos 5 anos no cargo para o qual será concedida a aposentadoria. Enquanto a lei federal exige contribuição de 20 anos para homens e 15 anos para mulheres.
O pacote de medidas também inclui outras mudanças que atacam os direitos fundamentais e colocam em risco a saúde física e mental dos trabalhadores, como: alteração nos critérios para pagamento de pensões, de servidores com deficiência, nas regras de transição, de desligamentos por invalidez, entre outros.
O SISMUC, sindicato que luta ativamente pela revogação da Reforma da Previdência, mobilizou os servidores em dois atos em frente à Prefeitura de Curitiba no mês de março. A exigência é por uma audiência com o prefeito Rafael Greca para revisão do desconto de 14% na aposentadoria.