Giorgia Prates
Brasil | p. 6
Carrinheiros enfrentam riscos
Cultura | p. 8
Entrevistas com dançarinos
Pela necessidade de continuar trabalhando
Artistas falam sobre seu trabalho
Divulgação
PARANÁ
Ano 4
Edição 162
16 a 22 de abril de 2020
distribuição gratuita
www.brasildefatopr.com.br
A solidariedade necessária
Giorgia Prates
MST, organizações, associações de moradores e pessoas físicas fazem doações e trabalham em apoio a populações vulneráveis. Auxílios de governos não chegam para quem precisa. A fome já ameaça muitas famílias. Entre as quais, trabalhadores da coleta de material reciclável, que sofrem com queda nos preços, falta de compradores e ausência de políticas públicas. Brasil | p. 5, 6 e 7 Lia Bianchini
Brasil | p. 4
Educação pública Proposta de EaD do governo Ratinho erra feio
Geral | p. 3
Violência contra a mulher Como denunciar situação que se agrava
Geral | p. 3
Itaipulândia Assassinato de indígena revela descaso de autoridades
Brasil de Fato PR 2 Opinião
Mais redução de direitos em plena crise? EDITORIAL
V
ivemos mais um ano que não terminou. Começou com a posse de Jair Bolsonaro na Presidência e foi até o primeiro alerta sobre a pandemia recebido pela OMS, em dezembro. Poucos poderiam imaginar a crise prestes a chegar. No Brasil, desde que assumiu, como verdadeiro messias, só que do caos, Bolsonaro liderou um governo que implementou uma guerra contra os pobres, camuflada de projeto de recuperação econômica. A tentativa da presidência em negar a gravidade da COVID-19 levou o “Washington Post”, um dos mais importantes jornais dos EUA, país idolatrado pelo bolsonarismo, a eleger o presidente brasileiro como o pior líder do mundo. Em vez de criar condições políticas e
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sociais para a sobrevivência do povo, inclusive no combate à fome e ao desemprego, Bolsonaro, com apoio do Legislativo, erra mais uma vez. Em plena crise pandêmica, a Câmara dos Deputados aprovou a Medida Provisória 905 – editada por Bolsonaro em novembro de 2019, que cria o precário Contrato de Trabalho Verde e Amarelo. A MP seguiu para análise do Senado, onde a tendência é de que também seja aprovada. Para especialistas, trata-se de uma “bolsa-patrão”, cheia de maldades contra os trabalhadores. Assim como na reforma trabalhista de 2017, a nova legislação dificilmente criará postos de trabalho, mas deixará os trabalhadores com menos proteção ainda. Na crise, não é a vida do povo que essas medidas pretendem melhorar.
SEMANA
De que tipo de solidariedade estamos falando? OPINIÃO
Movimento de Trabalhadores e Trabalhadoras por Direitos (MTD), de Londrina,
Movimento nacional criado em 2016 em Londrina e atuando na ocupação Flores do Campo
E
m tempos de pandemia há muitas incertezas, mas uma coisa é certa: só vamos conseguir sair dessa com muita solidariedade. Não se trata, porém, de qualquer ação solidária. Junto com a doação é necessário ouvir a população, entender suas demandas e criar espaços de fala; diferentemente do que bancos e grandes empresas vêm fazendo em todas as esferas. Junto à ação tem que chegar também uma mensagem de responsabilidade coletiva de um povo que não pode mais apenas assistir à própria história. A solidariedade deve conter um objetivo claro: a organização, autonomia e emancipação da população. Essa é a diferença chave para entender o trabalho que está sendo realizado pelos movimentos populares que lutam por um Projeto Popular para o Brasil. É neste espírito, por exemplo, que o Movimento dos Trabalhadores por Direitos (MTD) articulou a campanha nacional “Periferia Viva! Solidariedade para combater o coronavírus”. Organizada em âmbito federal, estadual e municipal, a ação projeta ou-
tras atividades além de arrecadar alimentos e materiais: assistência social e jurídica; e articulação com profissionais da saúde, por meio de diálogo com a Rede de Médicos e Médicas Populares, buscando orientar, cuidar e produzir materiais sobre o novo coronavírus. Em Londrina (situada no norte do Paraná), uma série de atividades está sendo pensadas. A primeira delas é desenvolvida junto aos moradores da ocupação Flores do Campo, localizada na extrema região norte da cidade. O caráter da campanha é impulsionar territorialmente essa solidariedade e contribuir a partir de demandas trazidas pelos próprios moradores. É nesses parâmetros que se pretende avançar neste cenário de pandemia: em defesa da vida, da garantia do isolamento social, de comunicação popular, e da saúde dos trabalhadores e trabalhadoras, fortalecendo a organização popular.
A campanha visa a impulsionar essa solidariedade e contribuir a partir de demandas trazidas pelos próprios moradores
EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 162 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.
Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Ana Santos, Lizely Borges, Paula Cozero e Renato de Almeida Freitas ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com
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Geral | 3
QUE DIREITO
FRASE DA SEMANA
Ratinho Júnior cria privilégios para aposentadoria de militares O governo estadual de Ratinho Júnior enviou a mensagem 22/2020 para a Assembleia Legislativa do Paraná em meio à pandemia de coronavírus. O texto trata do regime de previdência dos servidores públicos estaduais. Nessa mensagem, o governo confirma o aumento de alíquota para os funcionários do Executivo, Legislativo, Judiciário e Ministério Público de 11% para 14%. Por outro lado, a mensagem determina que não será aplicado o mesmo índice para os militares, seguindo os privilégios de tarifa menor que foram concedidos pelo governo Jair Bolsonaro (sem partido) às Forças Armadas. A alíquota será de 9,5% (nove e meio por cento), a partir de 1º de janeiro de 2020 e de 10,5% (dez e meio por cento), a partir de 1º de janeiro de 2021. “O governo continua usando o artifício de que há deficit na previdência. No entanto, o déficit que existe está apenas nos fundos militar e financeiro por culpa única e exclusiva dos governos anteriores e atual que deixaram de fazer a poupança necessária para esses pagamentos”, critica o Fórum das Entidades Sindicais (FES).
“Pra combater o que alarma, só tenho mesmo uma arma, que é a minha caneta”
Sidney Rocharte | Secretaria de Cultura do Estado da Bahia
Paula Cozero
Como enfrentar a violência contra a mulher?
Disse o cantor e compositor Moraes Moreira em sua última postagem no Instagram, num cordel em que falava do temor do coronavírus e cobrava respostas sobre a morte de Marielle Franco. Moraes morreu na terça, dia 13 de abril.
Indígenas guarani denunciam descaso em solução de assassinato no Oeste do Paraná Lia Bianchini Há mais de um mês, indígenas guarani de Itaipulândia, região Oeste do Paraná, cobram respostas sobre o assassinato de Cristian Martins Peres, de 20 anos. O jovem, morador da aldeia Aty Mirim, foi assassinado a facadas no dia 13 de março. O cacique Natalino de Almeida, tio de Cristian, relata que o suposto assassino é conhecido na cidade, mas continua em liberdade. Na noite do crime, Cristian foi chamado até a quitinete onde vivia uma mulher com quem se relacionava, em Itaipulândia. O jovem foi encontrado morto nesse mesmo local. Há suspeita de que o ex-marido da mulher teria cometido o crime. Para o cacique Natalino, a demora na solução do caso envolve discriminação em relação à população indígena. “Quando um índio morre, parece um cachorro que foi morto. A gente sente muito essas coisas na pele. Uma discriminação total da parte judiciária. Está fazendo quase um mês e está todo mundo quieto, ninguém faz nada”, diz. Segundo o cacique, a polícia tratou com descaso as reivindicações por rapidez na resolução do caso. “Não sei por que um de-
É ESSE?
legado precisa que a gente tenha que fazer manifestação pra correr atrás do cara que matou”, comenta. O caso está sob jurisdição da delegacia de polícia de São Miguel do Iguaçu. A assessoria de imprensa da Polícia Civil do Paraná informou, nesta terça (14), que o inquérito policial foi finalizado e encaminhado ao Ministério Público e Poder Judiciário. O suspeito foi indiciado por homicídio, com crime por motivação passional. Arquivo Pessoal
O registro de agressões e assassinatos de mulheres dentro de casa tem aumentado desde o início da quarentena. Para enfrentar essa grave situação, denuncie e procure ajuda. O “disque 180” serve para obter orientações sobre como proceder em caso de violência. O 190 é para os casos de emergência, quando a situação de violência está ocorrendo, deve ser usado tanto pela vítima quanto por quem estiver testemunhando a agressão, como vizinhos. No caso de condomínios, no Paraná, a Lei Estadual nº 20.145/2020 obriga que comuniquem a delegacia quando houver ocorrência ou indícios de violência. Assim que possível, é importante que a vítima registre a denúncia e faça o pedido de medida protetiva em delegacia, levando, se tiver condições, provas (gravações, fotos, mensagens, testemunhas). É recomendado buscar a Delegacia da Mulher, mas as delegacias comuns também têm obrigação de atender. Para quem já tem medida protetiva, caso haja descumprimento, deve-se ligar para a Patrulha Maria da Penha. Em Curitiba, o número é 153. Se não houver esse serviço em sua cidade, use o 190. Devemos exigir que esses serviços sejam adequados e denunciar caso o atendimento não seja satisfatório. É direito das mulheres viver uma vida sem violência. Paula Cozero é integrante da Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares
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“O que o governo do Paraná está fazendo não é EaD”, diz pesquisadora Erros nas plataformas e dificuldades de acesso para professores e alunos têm feito parte do cotidiano de aulas não presenciais Ana Carolina Caldas
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em diálogo com professores e equipes pedagógicas das escolas, o governo do Paraná, diante da paralisação das aulas pelo coronavírus, optou por educação a distância (EaD). Iniciativa que vem sendo contestada por especialistas e professores entrevistados pelo Brasil de Fato Paraná. Foram ouvidos também relatos de erros, dificuldades de acesso e desgaste para os profissionais da educação. Para a professora e pesquisadora da área de tecnologias educacionais na Federal do Paraná (UFPR),
Glaucia Britto (foto), o que está sendo feito na rede estadual nem pode ser considerado EaD. Para ela, uma boa educação a distância demora para ser planejada. “Uma disciplina que eu planeje demora, pelo menos, seis meses para todos os materiais, recursos e as aulas estarem disponíveis. Não dá para ser no improviso, como vem sendo feito pela Secretaria”, diz. Há relatos de alunos e famílias
que nem sequer conseguiram acesso à internet, professores que passam o dia inteiro tentando orientar famílias que não conseguem acompanhar e outras práticas que têm gerado revolta. Da direção da APP Sindicato, a professora Walkiria Mazzeto conta que o governo, inicialmente, suspendeu as aulas. Mas, com pressão, especialmente das escolas privadas, voltou atrás. “Houve uma presDivulgação
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Professores relatam erros Ana Carolina Caldas Segundo a dirigente sindical Walkiria Mazzeto, a Secretaria de Educação do Paraná tem feito ameaças aos professores e alunos. “Eles dizem que os professores que não entrarem na plataforma para colocar suas aulas serão descontados. E os alunos levarão falta. Uma plataforma que em celulares e computadores antigos simplesmente não funciona.” Uma professora de história do ensino fundamental (que não quis ser identificada) relatou ao
Brasil de Fato Paraná que, dos seus 27 alunos, apenas um entrou e acessou suas aulas. “Estou ali no sistema como foi pedido, mas até agora um aluno entrou. Tenho outros colegas narrando o mesmo.” Outra professora, da área de biologia, conta que ao entrar em sua plataforma para deixar as aulas, se deparou com um link para aulas de artes. “Fiquei o dia inteiro orientando os alunos, que ficaram me perguntando se era para fazer atividades de artes na minha aula de biologia.”
De acordo com relatos também recebidos pela APP-Sindicato, o governo estaria usando, sem autorização, a conta vinculada ao e-mail institucional dos professores em uma plataforma virtual de ensino para postar conteúdos e os estudantes estariam recebendo e-mails como se tivessem sido enviados pelos professores da turma. A APP abriu um canal de denúncias no e-mail app@app. com.br e também encaminhou denúncia ao Ministério Público do Trabalho e para professores, alunos e pais.
são para cima do Conselho Estadual de Educação para que regulamentasse como válidas as aulas não presenciais.” A partir disso, o Conselho normatizou que deveria ser feita uma avaliação caso a caso. “As direções de escolas, junto com sua mantenedora, deveriam avaliar se teriam condições de executar as aulas não presenciais. Mas isso não foi feito. A Secretaria impôs para a rede inteira as aulas não presenciais, independentemente das condições”, explica Walkiria. Além do início das aulas ter ocorrido sem consulta aos professores, a Secretaria contratou uma empresa de tecnologias educacionais e a TV Record (para teleaulas), cuja rede de transmissão cobre apenas 28% dos municípios do Paraná. Para a professora Glaucia, não seria necessário inventar a roda. “Além de não terem ouvido especialistas da própria Secretaria, não validaram o que já existia por lá, como a “TV Paulo Freire”, hoje chamada de “Educaplay”, o portal “Dia a Dia”, entre outros.” A proposta ideal, segundo Glaucia, seria trabalhar com experiências que já existem.
À DISTÂNCIA As aulas de EaD do Paraná não vêm sendo acompanhadas de intérpretes de libras, violando assim o direito de alunos surdos. A FEBRALPIS, entidade que representa os intérpretes, encaminhou oficio ao governo do estado denunciando e solicitando, com urgência, a adequação. Divulgação
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Solidariedade | 5
MST doa alimentos para ocupações urbanas do Paraná
Joka Madruga
Ações fazem parte de campanha de solidariedade à população urbana que sofre com pandemia Redação
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urante toda a semana, comunidades do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) do Paraná colheram parte de suas produções em acampamentos e assentamentos e doaram 35 toneladas à populações urbanas que sofrem os impactos econômicos gerados pela pandemia de coronavírus. As ações fazem parte de campanha de solidariedade que o MST tem feito em todo o Brasil. No Paraná, 10 mil famílias vivem em 70 acampamentos do MST e cerca de 25 deles enfrentam o risco do despejo. O estado tem 24 mil famílias assentadas, que moram em 369 assentamentos da reforma agrária.
5 toneladas para Castro e Ponta Grossa Três acampamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) doaram 5 toneladas de alimentos em Castro e Ponta Grossa (PR), na terça-feira (7). Os alimentos são resultado do cultivo totalmente orgânico nos acampamentos Maria Rosa do Contestado e Padre Roque Zimmermann, em Castro, e no pré-assentamento Emiliano Zapata, em Ponta Grossa. Em Castro, a doação de 3 toneladas de alimentos foi feita ao Centro de Referência de Assistência Social (CRAS). Entre os alimentos estão hortaliças, batata-doce, mandioca, milho verde e feijão, cultivados por 150 famílias dos dois acampamentos. Já em Ponta Grossa, 2 toneladas de produtos foram doadas ao Banco de Alimentos do Serviço de Obras Sociais (SOS) da prefeitura. Havia arroz, feijão, mandioca, pepino e folhas, cultivados por 50 famílias da comunidade Emiliano Zapata. Joka Madruga
14 toneladas para ocupações na CIC De uma ocupação rural, os alimentos do acampamento Maila Sabrina, em Ortigueira (região central do PR), viajaram por mais de 300 quilômetros até as ocupações urbanas 29 de Março, Tiradentes, Dona Cida e Nova Primavera, em Curitiba, às vésperas da Páscoa, no sábado (11). No total, foram doadas 14 toneladas de arroz, feijão, outros tipos de grãos, mel, pães, legumes e frutas. Além dos alimentos, a comunidade enviou 300 máscaras de tecido produzidas por costureiras da ocupação.
Doações para comunidades indígenas e urbanas O avanço da pandemia afeta principalmente populações das periferias de grandes cidades, mas também comunidades indígenas, que estão entre os que precisam de maior atenção para a garantia de alimento na mesa. Cerca de 5 toneladas de alimentos de comunidades sem Terra foram doadas a estes dois públicos na segunda-feira (13), em Curitiba e Piraquara. Cerca de 3 toneladas foram divididas entre famílias indígenas das aldeias Kakané Porã, de Curitiba, e Araçaí, de Piraquara. A aldeia Kakané Porã está localizada no bairro Campo do Santana, região sul de Curitiba. Lá vivem 40 famílias das etnias guarani, xetá e caingangue, somando ao todo 168 pessoas. Já a aldeia Araçaí, de Piraquara, é formada por 30 famílias da etnia Mbyá Guarani. Comunidades indígenas de Terra Roxa e Guaíra, Oeste do estado, também receberam doações de alimentos de assentamentos e acampamentos do MST. Ao todos foram 2 toneladas, entregues na última sexta-feira (10).
SOLIDARIEDADE ENTRE TRABALHADORES
7,5 toneladas para Londrina Também no sábado de Aleluia, as famílias do Assentamento Eli Vive doaram 7,5 toneladas de alimentos para cerca de 500 famílias moradoras da região sul de Londrina, norte do Paraná. Mandioca, batata-doce, leite, chuchu, quiabo, abóbora, abacate, mamão, banana, arroz e fubá são alguns dos alimentos produzidos e doados pelos camponeses.
No bairro Novo Mundo, mais de 80 famílias das associações de moradores Vila Formosa, Vila Leão, Vila Maria e Uberlândia e Ferrovila, ao lado de trabalhadores dos barracões Carpel e Bom Jesus, receberam 2 toneladas de alimentos do MST. São associações localizadas no bairro Novo Mundo, em região chamada Formosa que, historicamente, luta pela regularização dos lotes há cerca de 40 anos. Neste período de crise, as associações têm se apoiado mais, apontando de forma conjunta a necessidade urgente de apoio às famílias de coletores de material reciclável. Marcio perdeu o emprego em um estacionamento que fechou e sobrevive com cerca de 250 reais semanalmente no trabalho como carrinheiro. Ele afirma que ações como a da associação de moradores são fundamentais. “Ser comunitário é isso, é ver a situação do próximo”, comenta.
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Carrinheiros sem vínculo trabalhista enfrentam riscos durante crise Crise econômica, social e sanitária impede circulação, coloca riscos no contato com material, e estado não fornece garantias para essa população Pedro Carrano
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rabalhadores da coleta de material reciclável, em Curitiba, têm sido impactados com a queda no preço de materiais, caso do alumínio. Ao lado dessa situação difícil, sobretudo para aqueles sem proteção trabalhista, alguns produtos não encontram comprador nos barracões. E o comércio, fonte de descartáveis, encontra-se parcialmente fechado em Curitiba. Entre os mais impactados, estão os trabalhadores que não estão em associações de carrinheiros ou no limitado programa municipal Eco Cidadão (veja ao lado). Em um dos barracões privados visitados pela reportagem, em região de ocupação no bairro Novo Mundo, com média no local de 30 carrinheiros todos os dias, cada trabalhador relata uma dificuldade particular devido à ausência de políticas públicas amplas. Muitos estocam o produto com risco de contágio em suas casas. “Material se consegue, mas nas lojas está mais difícil, o preço da latinha caiu”, afirma Israel, 50, carrinheiro há seis anos. Ele relata falta de acesso à alimentação necessária, situação vista na região em conversa com cerca de vinte famílias, ao lado do desemprego recente, e a impossibilidade de irem às ruas.
Prefeitura não atende carrinheiros autônomos A assessoria de comunicação da prefeitura de Curitiba, questionada pela reportagem sobre quais são as medidas tomadas em benefício desse segmento de trabalhadores, afirmou que atende 32 associações no momento, parte do programa Ecocidadão, com acesso ao material do “Lixo que não é lixo”. Recebem doações e dão orientação sobre uso dos materiais em tempos de quarentena. Porém, é fato que associações, como a Sociedade Barracão, ficam ausentes da contratação municipal (veja matéria na página 7) Sobre os catadores autônomos, principal tema desta reportagem, a prefeitura diz que “devem buscar auxílio do governo federal, como é orientado aos demais trabalhadores autônomos do país”.
***reportagem realizada com uso de máscara e distanciamento necessário em tempos de isolamento social. O nome dos trabalhadores foi alterado como forma de não exposição, pelos vínculos de trabalho já frágeis. PUBLICIDADE
Prefeito de Cascavel cede a pressões e reabre comércio Vereador Paulo Porto fala da situação na cidade e dos riscos que a população corre Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano Em entrevista ao Brasil de Fato 11h30, o professor universitário, militante social e vereador de Cascavel Paulo Porto (PT) falou sobre o coronavírus na região. Relatou que nas primeiras fases de combate à pandemia, de isolamento social e de preparar o sistema de saúde, a administração da cidade até se saiu bem. Mas que, nesta semana, o prefeito Leonardo Paranhos (PSC), não resistiu à pressão de empresários e da imprensa local e acabou reabrindo o comércio na segunda-feira, 13. “Ao contrário de Foz do Iguaçu, em que o prefeito resistiu, aqui em Cascavel acabou reabrindo. E abrir neste momento, em que não sabemos em que ponto estamos na nossa curva epidêmica, é de uma absoluta irres-
ponsabilidade e falta de coragem.” Porto afirma que foi perguntado pela imprensa local se era contrário à reabertura e disse que essa resposta já foi dada pela Itália, Espanha e Estados Unidos, que não tomaram medidas mais duras no início e hoje contam dezenas de milhares de mortos. “Não é meu desejo, é uma questão matemática. O mundo inteiro mostrou que isso dá errado e a gente aqui quer fazer o errado e torcer para dar certo. Quero estar errado, mas tem tudo para ser uma tragédia.” Demissão de trabalhadores Na cidade, esta semana, também serão discutidas as propostas de empresas de transporte coletivo. Elas querem reduzir o salário dos trabalhadores à metade ou demitir 50 pessoas, por conta de alegadas dificuldades econômicas com a pandemia.
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Riscos à vida: pelo material reciclado e pela falta de apoio de governos Problemas se devem ao não estabelecimento de uma relação direta, pela via do trabalho, entre poder público e sociedade Giorgia Prates
Lizely Borges,
Terra de Direitos
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ão fossem o recurso do bolsa-família e a doação de cesta básica por campanha de solidariedade, a catadora de materiais recicláveis da “Sociedade Barracão”, Leila, de 47 anos, estaria em situação ainda maior de vulnerabilidade. O trabalho diário de coleta e seleção de materiais recicláveis em Curitiba lhe gerou renda por mais de 24 anos. Mas se apresenta, neste momento, como fonte de medo e insegurança. Sem equipamentos de proteção e sem políticas públicas do Estado, o material descartado por pessoas, mercado e instituições e que serve aos trabalhadores para construir suas vidas pode conter o vírus da Covid-19. “A gente não tem ido para a rua por conta de medo de pegar esse negócio. Quando a gente sai vamos buscar material em
todo lugar e você não sabe o que pode estar contaminado”, relata Leila. Primeira comunidade do Paraná a ter o direito de moradia reconhecido por meio de usucapião coletivo, em 2013, a Sociedade Barracão é formada, em sua maioria, por pessoas que trabalham com coleta e separação de matérias recicláveis. São trabalhadores que saem logo cedo para trazer à noite o provimento para aquele dia. Como não conseguiram su-
perar as barreiras burocráticas para acesso à política de resíduos sólidos da capital, o Programa EcoCidadão (que abrange apenas 32 associações), os catadores avulsos do barracão dependem da circulação diária, da separação e seleção dos materiais e da negociação com compradores. Outra dimensão dos impactos dos problemas burocráticos e da não inclusão do Barracão no programa de coleta seletiva do município
se deve ao não estabelecimento de uma relação direta, pela via do trabalho, entre poder público e a sociedade: as 14 famílias do barracão dependem de auxílios individualizados quando o exercício do ofício é afetado, auxílio que tarda a chegar. Renda emergencial Inscrita no cadastro para recebimento do auxílio emergencial (R$600), a trabalhadora Rucélia aguarda a chegada do recurso. “Fui ver hoje e não veio nada [do auxílio]. Tem comida até o final da semana, está acabando”, manifesta, com preocupação. Têm sido ações de solidariedade, como a campanha realizada pelo Instituto Lixo e Cidadania, Ordem dos Advogados (PR) e Centro de Formação Urbano Rural Irmã Araújo (Cefuria) que têm garantido o mínimo essencial aos catadores. Além do alimento, outra necessidade essencial para catadores não tem chega-
do ao Barracão, pelo menos pela via adequada: equipamentos de proteção individual (EPI) para manuseio dos materiais pelos trabalhadores. De acordo com Recomendação da Defensoria Pública da União (DPU) cabe ao poder público municipal fornecer máscaras, luvas e espaços de higienização constante para esta categoria. O material tem chegado, mas pelo descarte por outras pessoas. “Tem aparecido bastante material como luva, máscara, seringa”, conta Rucélia.
FUNDAMENTAIS A coleta de cerca de 90% do material reciclável na capital (estimado em 720 toneladas diárias) é feita por catadores. Apenas 10% são recolhidos por caminhões da coleta seletiva municipal (Dados Secretaria Municipal de Meio Ambiente).
Responsabilidade do poder público Lizely Borges,
Terra de Direitos
Em alinhamento à manifestação do DPU e Defensorias Públicas dos estados, o Ministério Público do Trabalho do Paraná (MPT-PR) emitiu, no dia 24 de março, antes do aumento progressivo de casos da Covid-19 no país, uma recomendação dirigida às cidades, contendo obrigações voltadas para a contenção da proliferação do vírus e proteção da saúde de catadoras e catadores. No documento, o órgão des-
taca a responsabilidade do poder público municipal no desenvolvimento de ações voltadas a catadores conveniados ou não, como realização de visitas técnicas às cooperativas e associações (sempre que possível) para informar e orientar sobre a adoção de condutas pelos trabalhadores, disponibilização de materiais de higiene e kits de proteção, a manutenção de pagamentos de conveniados, independentemente da entrega de material pelos catadores, e remuneração mínima para não conveniados, entre outras ações.
Giorgia Prates
Passado quase um mês da recomendação, o MPT tem buscado acompanhar o cumprimento das obrigações pelo poder público municipal. “As famílias vulneráveis, que não possuem contrato com a prefeitura, são as primeiras que devem ser observadas”, aponta a procuradora-chefe do Ministério Público do Trabalho no Paraná, Margaret Matos de Carvalho. Ela relata que a gestão pública da capital tem mantido a coleta seletiva e pagamento dos trabalhadores, independentemente do volume de materiais coletados e selecionados.
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“Sujeitos dançantes” reúne série de entrevistas com artistas da dança Divulgação
Gibran Mendes
Por Renato Almeida de Freitas
Trombetas da vaidade Lavo o rosto nas águas sagradas da pia, combino com o resto do time a entrega das cestas-básicas que arrecadamos em campanha durante a semana. Ligo para o representante do sindicato que iria reforçar as doações. - Quantas famílias são? Temos algumas cestas aqui. - Vamos atender umas 50, se tiverem mais umas 30 cestas, já fortaleceria. - Podemos dar umas 10, dessas cestas de 30/35 reais... a única coisa é que a gente exige é o cadastro das famílias e as fotos delas recebendo. - Cadastro?
- Sim, depois a gente entra em contato com elas para ver se precisam de mais alguma coisa. - E a foto? Eu não sou muito partidário de tirar foto das pessoas recebendo comida, elas não se sentem bem, é meio constrangedor... - Foto tem que ter, porque quem tá conseguindo essas cestas é o Fulano (já conhecido candidato na Capital), e as fotos alimentam a rede social dele. - Ah, entendi. Beleza, qualquer coisa a gente vai se falando então... As trombetas da vaidade são as mesmas que anunciam nossa decadência.
DICAS MASTIGADAS
Torta agroecológica de abobrinha Por Ana Santos Redação A partir desta semana, a Casa Hoff mann – Centros de Estudos do Movimento apresentará na página da Fundação Cultural de Curitiba no Facebook uma série de entrevistas com artistas paranaenses da dança. As entrevistas fazem parte do projeto “Sujeitos Dançantes”, realizado entre 2012 e 2013 pela coreógrafa e professora Gladis dos Santos. Um projeto de extensão realizado pelo Curso de Dança da Faculdade de Artes do Paraná/ Unespar em parceria com o Colégio Nossa Senhora Medianei-
ra e a Entretantas Conexão em Dança. Teve como inspiração o projeto de entrevistas em vídeo chamado “Sujeitos Leitores”, desenvolvido pelo escritor e tradutor Cezar Tridapalli no contexto da criação literária. “O que te Move a Mover”? A partir dessa pergunta, Gladis entrevistou 19 artistas de Curitiba que falaram sobre suas experiências artísticas, suas pesquisas e seus modos de criar. O projeto, além de mapear artistas e pesquisadores em Curitiba, fomentou uma discussão sobre os processos de criação.
Para conferir, acesse: facebook.com/fundacaoculturaldecuritiba
A cada semana, publicamos aqui receitas enviadas por consumidores de produtos agroecológicos da rede colaborativa Produtos da Terra, da Sinergia Alimentos Saudáveis e da Rede Mandala. Parte dos ingredientes pode ser encontrada no site produtosdaterrapr.com.br Ana Santos
Ingredientes 1 abobrinha (500g) orgânica 1 ovo caipira 1 cenoura orgânica 2 tomates orgânicos grandes e bem maduros 1/2 colher de manteiga extra com sal Campo Vivo Farinha de trigo ou farinha de arroz a gosto Queijo mussarela ou parmesão Campo Vivo a gosto 1 colher de fermento em pó Como fazer Rale a abobrinha, misture com o ovo batido e, aos poucos, acrescente os tomates e a cenoura picados em cubo e a manteiga. Acrescente aos poucos a farinha escolhida até dar o ponto desejado de consistência (usei 3 colheres de sopa). Acrescente o fermento em pó e depois coloque em uma assadeira previamente untada. Por fim, adicione a mussarela ou parmesão ralado e leve ao forno pré-aquecido.