Brasil de Fato PR - Edição 160

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Envie suas informações, pedidos de apoio e denúncias Neste momento difícil de quarentena e enfrentamento ao coronavírus, o programa Brasil de Fato Onze e Meia, todas as segundas e terças-feiras, às 11h30, recebe informações, denúncias e pedidos de divulgação de apoio sobre situação de associações de trabalhadores, organizações e comunidades da periferia.

PARANÁ

Ano 4

Giorgia Prates

Envie a informação você também www.facebook.com/BDFPR/ bdfparana@gmail.com

Edição 160

2 a 8 de abril de 2020

distribuição gratuita

www.brasildefatopr.com.br

QUEM TEM FOME TEM PRESSA Giorgia Prates

Hora de medidas concretas e rápidas Movimentos populares pressionam por políticas públicas mais amplas para o povo Sociedade civil faz diversas ações de solidariedade, voltada a associações, carrinheiros, moradores de rua, entre outros setores Veja como contribuir

Brasil | p. 3 e 7

6 Brasil | p. 4

Direitos | p. 5 e 6

Renda emergencial

Ciência e produção

Solidariedade fundamental

Entenda o que foi aprovado até agora aos mais carentes

Iniciativas de universidades públicas ajudam no combate ao Covid-19

Diante da falta de políticas, organizações sociais vão à luta


Brasil de Fato PR 2 Opinião

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Paraná, 2 a 8 de abril de 2020

Uma saída democrática para a crise EDITORIAL

A

pesar do discurso do dia 31 de tes as condições básicas de vida dos março um pouco mais conti- milhões de brasileiros ameaçados do, fato é que, diante da pandemia de cair na miséria e de perderem a mundial provocada pelo corona- vida nesse cenário aterrador. Trabavírus (Covid-19), Bolsonaro adota lho, assistência social, moradia digna, serviços de água, uma postura irresponluz e gás gratuitos são sável que ameaça ainurgentes e constam na da mais a população, O governo pauta dos movimendesrespeitando as escolhe salvar tos populares. orientações de espeÀ postura incomcialistas e órgãos de os mais ricos, petente do governo saúde. A crise política bancos e se somam a cada dia e econômica já exis- empresários, mais críticas. tente foi aprofundada usando o BNDES Redes de solidariepela crise sanitária. dade, garantia de reO vírus não esco- a serviço dos cursos para a saúde lhe os infectados, mas “de cima” pública e para a rensabemos que a clasda básica dos trabase trabalhadora é a que mais sofre neste momento. O lhadores são prioridades máximas. governo escolhe salvar os mais ri- Defender a vida é defender uma saícos, bancos e empresários, usando da democrática e popular para a o BNDES a serviço dos “de cima”, crise e dar um basta no projeto de quando deve assegurar o quanto an- Bolsonaro.

SEMANA

A juventude quer viver

OPINIÃO

Ana Keil,

secretária geral da UPE

Fernan Silva,

estudante de Ciências Sociais na UEL

N

adando contra a maré de um vírus altamente transmissível, Bolsonaro se autoproclama salvador da pátria anti-histeria e como num Grito do Ipiranga esbraveja: o lucro ou a vida! Como de praxe, o povo brasileiro resiste. Mesmo com desigualdades cotidianas e com a necessidade do distanciamento físico, outros meios são resgatados pelas mãos e bocas que gritam e batem panelas em suas janelas em rechaço ao discurso de morte do governante do país. Nas redes sociais também pipocam respostas quase que instantaneamente. Em forma de vídeos e edições de imagens, os “memes” são a expressão da opinião e da linguagem da juventude. Como diz Bakhtin, filósofo e linguista, as “contrapalavras” são formas de protesto. Por incrível que pareça, é possível medir a sensatez de nossa geração a partir das sátiras incontáveis, replicadas na velocidade de um clique. Nossa esperança é que a juventude seja sensata também fora das redes, assumindo para si a responsabilidade do distanciamento social na medida do possível na condição de cada sujeito, sabendo que

os jovens são a parcela mais vulnerável economicamente, em trabalhos autônomos ou informais. Ações de solidariedade têm sido construídas, a exemplo do Levante Popular da Juventude, que tem arrecadado e distribuído itens essenciais e de higiene pessoal, a produção de álcool em gel, a impressão em 3D de máscaras para trabalhadores da saúde nas universidades e o projeto de produção alternativa de respirador mecânico (UFRJ) demonstram, além da eficiência da educação pública, que o jovem pode ser a ponte entre quem quer ajudar e quem precisa de ajuda. A juventude pode apresentar muito mais que somente “memes” engraçados, desejamos mudanças e não hesitaremos em arregaçar as mangas para fazer o que for possível.

Nossa esperança é que a juventude seja sensata também fora das redes, assumindo para si a responsabilidade do distanciamento social

EXPEDIENTE Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 160 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Ana Keil, Fernan Silva e Mariana Auler ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian TIRAGEM SEMANAL 10 mil exemplares REDES SOCIAIS www. facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com


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Geral | 3

FRASE DA SEMANA

Sob pressão, governo do Paraná edita decretos para enfrentar o coronavírus No Paraná, as medidas adotadas pelo poder público vão desde o confinamento social à aprovação de normas para ajudar o comércio paralisado e a população mais pobre. O governo do estado publicou 23 decretos e 9 resoluções neste período. Os últimos decretos prorrogam o prazo de pagamento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), suspendem as promoções e progressões do funcionalismo público, decretam estado de calamidade pública no Paraná e definem quais serviços são considerados essenciais no estado. Um decreto, por exemplo, garante que as crianças e adolescentes sigam recebendo a merenda escolar. Entre os pontos polêmicos dos decretos de Ratinho Junior está a autorização de “atividades religiosas de qualquer natureza”. O texto é semelhante ao que o presidente Jair Bolsonaro tentou aprovar e foi cassado pela Justiça Federal. O governador também recuou e disse que cultos não estão permitidos. Também coube à oposição uma importante medida de ajuda aos mais pobres. O Projeto de Lei 167/2020, do deputado Arilson Chiorato (PT), proíbe corte de água e luz durante enfrentamento a pandemias.

“A vida é dura, mas tem que ter alegria, tem que ter essa felicidade que é o samba”

Renda cidadã

Dizia o sambista baiano Riachão, falecido nesta semana. Ele é autor de clássicos como “Cada Macaco no seu Galho”, gravada por Gilberto Gil e Caetano Veloso, e “Vá Morar Com o Diabo”, famosa na voz de Cássia Eller. Divulgação

Movimentos populares se unem em defesa da vida Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo propõem ações “para proteger a saúde, a renda e o emprego” Marina Duarte de Souza, redação São Paulo A Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo lançaram, na terça (31), uma plataforma emergencial para Enfrentamento da Pandemia do Coronavírus e da Crise Brasileira, com mais de 60 propostas. “Essa plataforma expressa uma força política muito grande, quer dizer que nós estamos avançando na unidade popular e na organização de um campo, que representa a maioria do povo brasileiro”, diz Carmen Foro, da direção nacional da CUT, ao destacar que mais de 40 movimentos sociais estão envolvidos na produção da plataforma. “O movimento social optou em lutar pela vida, ao con-

trário do governo Bolsonaro, que optou pela morte ao ir na contramão de tudo aquilo que o mundo está implantando e orientando diante da pandemia.” João Pedro Stedile, do MST, endossa que o projeto representa a união das forças populares e aponta que o objetivo é dialogar com a sociedade, com a base social e movimentos sociais um sentido único de atuação para enfrentar as crises. “Não é uma tarefa para os médicos e hospitais, depois que o cara vai para o hospital já é numa situação de risco. Nós temos que prevenir a população para evitar que ela necessite ir para o hospital“, afirma o dirigente do MST. Entre as medidas propostas estão a suspensão

da Emenda Constitucional 95, que congela os recursos da saúde e educação. Para a população mais vulnerável , há a proposta de implementação imediata da renda básica emergencial aprovada no Congresso. Outros pontos são a inclusão de todas as famílias que estão na fila do Bolsa Família e a suspensão de cobrança de tarifas de serviços básicos de energia elétrica. Outra proposta é que leitos privados de hospitais sejam disponibilizados para o setor público de saúde. Para ler as medidas na íntegra, acesse: https://drive. google.com/file/d/1ZAONzVMQclpoHCfCqMA4Bft1gJ1q_-J-/view

Depois de ser aprovada no Congresso Nacional a toque de caixa, a renda emergencial de R$600 para os mais pobres parou na mesa do presidente Jair Bolsonaro. A medida só foi assinada na noite da quarta-feira, dia 1º, segundo informação do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira. O benefício é para cidadãos maiores de 18 anos que não têm emprego formal; não recebem benefício previdenciário ou assistencial, seguro-desemprego ou de programa de transferência de renda, exceto o Bolsa Família.

Sem detalhes Até o fechamento desta edição não estavam confirmadas as alterações feitas pelo governo no projeto aprovado no Congresso nem os detalhes de sua regulamentação. De qualquer forma, o dinheiro ainda deve demorar, pelo menos, duas semanas para chegar às mãos de quem já está sem renda e passando fome.

Só banqueiro Em entrevista pela internet na quarta (1), o ex-presidente Lula criticou a demora de Bolsonaro em assinar o auxílio. “O dinheiro não chega. O único dinheiro que chegou rapidinho foi o dinheiro para ajudar os banqueiros brasileiros. Esse é o dilema. Você tem um governo que não quer assumir como governo”, afirmou. A demora do presidente já tinha sido criticada também pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia.


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Universidades trabalham para ajudar sistema de saúde Álcool gel, equipamentos de proteção e outros produtos estão sendo fabricados e entregues a hospitais, mas pesquisadores dependem de doações Divulgação

Ana Carolina Caldas

C

om a escassez de materiais de higiene, proteção e de equipamentos para auxiliar o tratamento de pacientes infectados, a resposta tem sido solidariedade e conhecimento científico. Consórcio de pesquisadores da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, UTFPR, do Instituto Federal, IFPR, e da PUC-PR, entre outros, vem desenvolvendo produtos para auxiliar o sistema de saúde. Entre esses produtos estão álcool gel, protetores faciais, máscaras para profissionais da saúde e para a população, capas e máscaras de descontaminação e outros itens. O professor Fernando Molin, do departamento de Química da UTFPR, junto com alunos da graduação e pós-graduação, produziu mais de 300 litros de álcool gel. Que foram distribuídos para o Hospital Erasto Gaertner, de Clínicas, Cajuru, para a prefeitura de Campo Magro, a Santa Casa de Curitiba e para o Hospital do Trabalha-

dor. “Usamos todo o álcool etílico que tínhamos no departamento. Para dar continuidade, agora precisamos de doação de álcool etílico com mais de 70%”, diz Molin.

Máscaras Já o Professor Aguiomar Foggiato, do curso de Engenharia Mecatrônica, da UTFPR, coordena uma equipe para fabricação de máscaras do tipo “face

shild”. Ele diz que ainda são necessários materiais como rolo de filamento, elásticos com furo de regulagem e acetato. “Já foram entregues mais de mil máscaras para o Hospital do Trabalhador e outros de Curitiba. Agora, queremos nos voltar para outras regiões”, explica. Máscaras para uso da população também vêm sendo produzidas por outro grupo de pesquisadores. Devido à falta desse material no mercado, a produção de uma máscara tripla descartável está sendo testada, com a supervisão de dentistas, médicos e radiologistas. Segundo a professora Carla Estorilo, do departamento de Química da UTFPR, “não é direcionada para hospitais, mas para ajudar que as pessoas não se contaminem no dia a dia”. É bem-vinda a doação de TNT branco com gramatura 40 ou 50, elástico retangular branco de 3 mm, arame plastificado de 10 a 12 cm. e aparelho de solda para fechar embalagens de 20 a 30 cm. Divulgação

Capas e câmaras de descontaminação Ana Carolina Caldas Para auxiliar na descontaminação dos profissionais da saúde, outro grupo vem desenvolvendo projeto de capas e câmaras esterilizadoras. Segundo o professor da UTFPR Rubens Alexandre de Faria, “a ideia surgiu ao nos conscientizarmos sobre os riscos que estes profissionais sofrem de levar infecção

para suas casas.” Utilizando ozônio e ultravioleta serão produzidas capas que possam vestir antes de chegar em casa. A outra parte do projeto é criar câmaras com os mesmos produtos para desinfetar equipamentos e EPIs. Porém, são necessárias parcerias com empresas privadas para garantir os produtos necessários.

Outros inúmeros projetos vêm sendo desenvolvidos. Para doações ou fazer parcerias acesse: https://www.facebook.com/quarentenasolidariaBR/


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Catadores temem contágio por covid-19 e desamparo do poder público Com atividades paradas pelo alto risco de contágio, trabalhadoras relatam dificuldades para comprar itens básicos Lia Bianchini

“A

gente está meio assustada com esse vírus, parece que está vivendo num mundo de guerra”. A fala é de Natalina Cândido Rodrigues, de 45 anos, catadora de materiais recicláveis da Associação de Catadores Ilha, em Almirante Tamandaré. O “mundo de guerra” de Natalina é um lugar onde faltam os itens básicos para a manutenção da vida, como alimentos e produtos de limpeza e higiene. Desde o dia 20, o barracão da associação está fechado e as 18 pessoas que lá trabalham estão sem nenhum tipo de renda. O material da reciclagem era vendido semanalmente, gerando de R$ 200 a R$ 300 para cada trabalhador. A atividade, no entanto, tem grande risco de contágio pelo coronavírus. No barracão, são manipulados todo tipo de material: pa-

pelão, plástico, ferro, materiais hospitalares. Pesquisas apontam que o vírus pode sobreviver nesses materiais por horas ou até dias (no plástico, por exemplo,

ele sobrevive por até 3 dias). Natalina conta que é a arrimo de família, mãe de seis filhos. Em sua casa, moram ela, um filho de 16 anos e outro de 3. Hiper-

tensa, a catadora faz parte do grupo de risco. Dentro desse cenário de crise, teme pela própria saúde e também pela possibilidade de não colocar comida na Arquivo Associação Ilha

mesa. “Minha preocupação maior é o pequeno, que só tem 3 anos, ele não tem noção. Chegou a hora de comer, ele vai querer comer. Essa é a preocupação que está me deixando de cabelo em pé”, diz. A prefeitura de Almirante Tamandaré informou que disponibiliza cestas básicas para trabalhadores da reciclagem e que está elaborando um plano de contingência para atender a demandas específicas. Coletivamente, trabalhadores da Associação Ilha reivindicam renda mínima que possibilite garantir itens como materiais de limpeza e higiene e pagar contas básicas. Além disso, pedem que a prefeitura disponibilize um local em que os materiais que serão entregues à reciclagem possam ser armazenados por, pelo menos, sete dias. Assim, os riscos de contágio diminuem e o barracão pode ser reaberto.

Arquivo Associação Ilha

RISCOS

CONTRIBUA

Cuidado com o que você descarta

Ajude a Associação da Ilha

Em outros municípios, muitos catadores de material reciclável continuam em atividade. Para diminuir os riscos de exposição desses trabalhadores ao coronavírus, você pode tomar os seguintes cuidados com o material que você descarta: * Não colocar máscaras, luvas e lenços umedecidos no material reciclável. * Após o uso, reservar o material reciclável em casa de 3 a 5 dias e só depois descartar.

O projeto de extensão da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) “Atentar-se à exclusão para contribuir com a inclusão”, em parceria com o Centro de Formação Urbano Rural Irmã Araújo (Cefuria), está organizando doações para ajudar catadores de materiais recicláveis de Almirante Tamandaré. Doe: Banco do Brasil Agência 1622-5 Conta 8874-9 CNPJ 76660844/0001-20


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População em situação de rua sobrevive graças a apoio civil Joka Madruga

Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano

N

a entrevista do Brasil de Fato Onze e Meia, no dia 30, o antropólogo Tomás Melo, que trabalha na ONG INRua, relatou sua experiência no atendimento à população em situação de rua

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em Curitiba em tempos de pandemia. Ele lembra que o problema, que já é grave, se complica ainda mais porque essas pessoas não têm como se isolar, não possuem moradia permanente e se encontram empobrecidas. O que se agrava com a dificuldade das entidades da sociedade civil ajudarem. “Quando as organizações filantrópicas foram orientadas a não fazer doações, não fazerem aglomerações nas ruas, as pessoas em situação de rua ficaram jogadas à própria sorte, até por estarem desinformadas do que vem acontecendo”, diz Tomás. E está faltando de tudo, água, alimentação, produtos de higiene. E, de acordo com ele, faltam políticas públicas para o setor. Para ele, já existe um problema em Curitiba, e no Brasil todo, de que o número de vagas de acolhimento é muito menor que a demanda. “Esse é um problema duradouro e que num momento de crise fica mais evidente (…) É necessário fazer algo para que não haja um extermínio, uma mortalidade muito grande dessas pessoas”, conclui Tomás.

Guarda Municipal ameaça população em situação de rua Redação Leonildo Humberto, liderança nacional do Movimento Nacional de População de Rua (MNPR), confirma denúncias que têm circulado pelas redes sociais. No entorno da rodoviária de Curitiba, a Guarda Municipal tem ameaçado moradores instalados em barracas, muitas das quais fornecidas de forma voluntária para que essas pessoas não durmam em contato direto com o chão. “Infelizmente, temos sim recebido denúncias de pessoas em barraca, de que a Guarda Muni-

DOAÇÕES NA COLMEIA CULTURAL Várias organizações, entre elas o Projeto Mãos Invisíveis, estão se reunindo na Colmeia Cultural para receber doações, cozinhar e distribuir alimentos e outros itens para a população em situação de rua e para trabalhadores em dificuldades no bairro. Mais de 400 refeições são feitas e distribuídas por dia. Quem quiser doar ou contribuir com trabalho pode ir até a Rua Padre Isaías de Andrade, 409, no Parolin, Curitiba. Ou entrar em contato pelo face: https://www.facebook.com/pg/colmeiaculturalcuritiba/

cipal vem assediar eles direto, alegando que se continuasse com a barraca, um caminhão da Cavo retiraria as barracas É um ato cruel neste momento”, afirma o dirigente. Barracas que seriam o único pertence dessas famílias. Mais que isso, o gesto da guarda contraria decisão, em caráter liminar, expedida pela 5ª Vara da Fazenda Pública de Curitiba em resposta à ação civil pública ajuizada pela Defensoria Pública do Estado do Paraná, de que órgãos da Prefeitura e Guarda Municipal não podem coletar pertences pessoais da população em situação de rua. Giorgia Prates

A VERSÃO DA PREFEITURA Por meio de nota, a Fundação de Ação Social (FAS) justifica que tem solicitado doações à população e empresários para distribuição à população vulnerável, por meio do Disque Solidariedade, argumentando que os estoques estão vazios. Já no fechamento da edição, a FAS listou pontos de fornecimento de alimentação, a ser veiculados no site. Sobre a Guarda Municipal, respondeu: “As ações são complementares à abordagem social da FAS, inclusive para verificação de riscos à própria população em situação de rua, com prisão de indivíduos com mandado de prisão em aberto”.


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Entenda a renda básica e outras medidas assistenciais na pandemia Recursos federais ainda precisam de regulamentação. No Paraná, há também iniciativas de governos

Giorgia Prates

Mariana Auler*

A

pandemia do coronavírus afeta a vida de todos por conta do risco à saúde e à vida e por seus impactos econômicos. Por isso os governos precisam planejar-se para garantir medidas emergenciais de renda básica e assistência para a população. As iniciativas são ainda insuficientes, especialmente para aqueles inseridos em circuitos informais da economia, trabalhadores que não possuem vínculo de emprego e em muitos casos vivem na “viração diária”. Esse cenário revela, no pior momento, a precariedade das relações de trabalho no Brasil, em que cerca de 40% das pessoas ocupadas estão justamente nos circuitos informais, sem garantias de seguridade social. Além do aspecto humanitário, a garantia de renda básica também é importante para manter o consumo das famílias e o próprio funcionamento da economia. Aqui apontamos as principais medidas anunciadas até o momento:

Prefeitura de Curitiba Os municípios também podem adotar medidas de auxílio. Em Curitiba, por exemplo, a prefeitura fará a distribuição de cestas básicas nas regionais da cidade a partir de 2 de abril. Terão direito famílias beneficiárias do bolsa família e com filhos na rede pública de ensino fundamental ou CMEI’s, como forma de compensar a ausência de merenda escolar no período. Para acessar o benefício é preciso ir às regionais com documentos pessoais do responsável pela criança e retirar diretamente a cesta básica.

No governo federal A maioria das medidas foi proposta, mas elas ainda não entraram em vigor. De todo modo, além das propostas voltadas às empresas, como adiamento de pagamentos de impostos e crédito subsidiado para garantia do pagamento de salários (limite de 2 salários mínimos), as principais iniciativas que afetam diretamente os trabalhadores são: * Antecipação do 13º salário de aposentados e pensionistas do INSS. * Antecipação do abono salarial do PIS/ PASEP. * Novas inclusões do Bolsa Família, com destinação de R$ 3 bilhões para o programa. * Novas possibilidades de saque do FGTS.

Projeto de Renda Básica de Cidadania Emergencial A de maior relevância até o momento foi a de renda básica proposta pela Câmara de Deputados, que prevê: * Todas as pessoas que estejam no Cadastro Único de Programas Sociais (CadÚnico), MEI’s ou Contribuintes do Regime Geral de Previdência, com renda familiar de até três salários mínimos, poderão receber o benefício. * Aposentadorias ou benefícios de até um salário mínimo de idosos com mais de 65 anos e pessoas com deficiência não serão computados para o cálculo da renda familiar. * Rendimentos provenientes de programas federais de transferência de renda, como o Bolsa Família, também não serão computados no cálculo da renda familiar. * Aqueles que não possuem o cadastro único também poderão receber o benefício, para esses provavelmente se abrirá um período de autodeclaração da renda. * O valor mínimo é de R$ 600 e o máximo a ser recebido por família de R$ 1.200,00. * O pagamento será feito via bancos públicos (Banco do Brasil e Caixa) em contas criadas com essa finalidade.

No governo do Paraná * Instituição de renda suplementar de R$ 50 a 200 para beneficiários dos programas Nossa Gente (estadual) e Bolsa Família. Outros paranaenses cadastrados no CADúnico, como em situação de vulnerabilidade, mas que não recebem benefícios de assistência social, poderão receber o benefício. * Suspensão por 3 meses das tarifas de água e esgoto para famílias cadastradas no Tarifa Social. * Ampliação por três meses do programa Luz Fraterna (aumento do consumo custeado para 120kWh por mês). Podem ser beneficiárias as famílias com renda mensal de até R$ 520 por pessoa. Também é preciso estar cadastrado no programa do governo federal Tarifa Social Baixa Renda para acessar o benefício estadual. * Suspensão das cobranças da Cohapar por três meses, sem multa ou juros. * Distribuição dos alimentos adquiridos para merenda escolar da rede pública estadual para famílias de estudantes beneficiários do Bolsa Família. * Programa Paraná Recupera, por meio do qual foi aberta linha de crédito subsidiado para microempresas, MEI’s e empreendedores informais de valores de R$ 1,5 mil a 6 mil. Para acessar é preciso estar em dia no Cadin – Cadastro de Inadimplentes do Paraná. *Mariana Auler é integrante da Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares


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Quarentena cultural: ninguém perde a live de ninguém Acompanhe programação com diversos artistas e colabore no financiamento coletivo Ana Carolina Caldas

Programação até 10 de abril

Diante da necessidade de se prevenir contra a propagação do coronavírus, artistas, produtores e vários profissionais da arte foram impactados já no início da quarentena, pois dependem do público para suas apresentações. Assim, a Itupava 1299, Terraço Verde e Propulsão Local, com apoio da Effex Tecnologia e Criação e Cultivarte, tomaram a iniciativa de criar programação cultural digital com financiamento coletivo para dividir entre artistas das mais de 60 apresentações programadas. Cada live acontece no canal do Instagram do artista e dura em média 20 minutos. A programação vai até dia 21 de abril. Para apoiar essa plataforma colaborativa entre em catarse.me/quarentenacultural. E acesse a programação completa pelo Instagram no perfil @itupava1299.

Dia 2 • música: Siamese/ 17h • música: Jay Ferreira/ 17h30 Dia 3 • música: Dowraiz/ 18h Dia 4, classificação indicativa 18 anos • performance cabaré/ Missg/ 22h30 • performance cabaré: Rubia Romani/ 23h Dia 5 • teatro: Carolina Meinerz/ 17h30 • música: Itaércio Rocha/ 18h Dia 6 • música: Thais Morel/ 17h • teatro: Amanda Leal/ 17h30 Dia 7 • teatro e canto: Taciane Vieira: 17h30 • música: Nave Drassa/18h

Dia 8 • música: Rafolks: 17h • música: Fábio Elias/17h30 Dia 9 • música: Rachel Autran/20h30 Dia 10 • música: Schë/17h • música: Ângela Soul/17h30

Divulgação

Gibran Mendes

DICAS MASTIGADAS

Salmão fácil Por Pedro Carrano

O que nos machuca Nos machuca o silêncio noturno do centro. Rompido pelos grupos que vagam pelas praças de abandonos. Nos machucam os gritos. Os confl itos ensurdecedores na madrugada sem tímpanos. Nos machucam os milhares de planos que fazemos, em meio ao pouco movimento, touros em círculo. Me machuca a manhã inédita de sol em Curitiba. Me machucam as mensagens de amigos. Nos machucam os que não compreendem o óbvio: o resguardo, o bem coletivo. Nos machucam as cicatrizes dos que foram sempre desprezados e agora são totalmente necessários. Nos machuca o germe do fascismo. Nos

machuca a vela que busca a dança do vírus. Nos machuca o voo cego deste barco raso. A falta de acolhimento. Nos machuca a cegueira do nosso inimigo. Nos machucam a queda e a agonia de um modo de produção. Nos machuca a ausência de pão e pescado nas cestas. Nos machuca o anúncio do povo em parto sangrento. Nos machucam o capitão inverso no comando do país, a morte da tripulação no seu descaso. Nos machuca menos quando grito coletivo. Nos machucam as questões todas de nossa geração. Nos machuca o ovo da esperança que virá ainda: linda, viva e na forma de ferida.

Ingredientes 500 g de filé de salmão, Azeitonas fatiadas sem caroço, Orégano, 3 colheres de sopa de molho de soja (shoyu), Sal a gosto, Azeite a gosto, Limão, Papel alumínio, 1/2 cebola fatiada.

Divulgação

Modo de preparo Lave o salmão com suco de limão. Aqueça o azeite e adicione a cebola fatiada, deixando no fogo até que fique transparente. Reserve. Cubra uma assadeira com papel alumínio de maneira que a sobra dê para forrar todo o peixe. Sobre o papel alumínio na assadeira, coloque o peixe já temperado com sal, regue com azeite e shoyu. Decore com fatias de azeitonas e um pouco de orégano. Despeje a cebola por cima. Embrulhe com o papel alumínio, de maneira que o líquido não derrame quando começar a esquentar. Leve ao forno médio para assar por cerca de 30 minutos. Sirva com legumes e salada verde.


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