LONDRES
www.brasilobserver.co.uk
ISSN 2055-4826
ABRIL/2016
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C O N T E Ú D O
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LONDON EDITION
EDITORIAL Respire fundo para entender o que se passa no Brasil hoje
É uma publicação mensal da ANAGU UK UN LIMITED fundada por:
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Ana Toledo Diretora de Operações ana@brasilobserver.co.uk
OBSERVAÇÕES Protesto contra o impeachment em Londres e outras coisas mais
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COLUNISTAS CONVIDADOS Silvio Caccia Bava sobre a crise de poder no Brasil Dennis de Oliveira sobre a crise e os meios de comunicação Rafael Custódio sobre a lei antiterrorismo
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ENTREVISTA Luiza Negri, nova embaixadora do Ciência sem Fronteiras
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COPYLEFT Barack Obama, Timochenko e Rolling Stones em Cuba
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REPORTAGEM Wagner de Alcântara de Aragão sobre o retrocesso social no Brasil Márcio Apolinário sobre a eleição para prefeito de Londres
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CONECTANDO Conheça o projeto ‘Inspire’, da organização Quilombo UK
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CULT Do Fado ao Rap: Ana Moura e Criolo em Londres
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COLUNISTAS Franko Figueiredo sobre nosso comportamento online Aquiles Reis sobre o disco Miramari, André Mehmari e Gabriele Mirabassi
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LONDON BY Carla Monsora indica restaurantes veganos em Londres
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BR TRIP Shaun Cumming conta sua experiência na Amazônia
Guilherme Reis Diretor Editorial guilherme@brasilobserver.co.uk Roberta Schwambach Diretora Financeira roberta@brasilobserver.co.uk Editor em Inglês Shaun Cumming shaun@investwrite.co.uk Design e Diagramação Jean Peixe ultrapeixe@gmail.com Colaboradores Aquiles Reis Franko Figueiredo Gabriela Lobianco Márcio Apolinário Wagner de Alcântara Aragão IMPRESSÃO St Clements press (1988 ) Ltd, Stratford, London mohammed.faqir@stclementspress.com 10.000 cópias Distribuição Emblem Group Ltd. Para anunciar comercial@brasilobserver.co.uk 020 3015 5043 Para assinar contato@brasiloberver.co.uk Para sugerir pauta e colaborar editor@brasilobserver.co.uk Online brasilobserver.co.uk issuu.com/brasilobserver facebook.com/brasilobserver twitter.com/brasilobserver O Brasil Observer, publicação mensal da ANAGU UK MARKETING E JORNAIS UN LIMITED (company number 08621487), não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados. As pessoas que não constarem do expediente não tem autorização para falar em nome desta publicação. Os conteúdos publicados neste jornal podem ser reproduzidos desde que creditados ao autor e ao Brasil Observer.
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Arte da Capa
Tami Hopf www.hopfstudio.com
Diretora de arte e ilustradora de São Paulo, Tami Hopf mora agora na charmosa cidade de Vevey, na Suiça. Sua trajetória como artista começou em 2008, quando ela lançou o Hopf Studio, trabalhando unicamente com ilustração digital. Hoje em dia Tami preferencia desenhos feitos à mão, realização de grandes murais e seu trabalho como tatuadora. Seus desenhos são um misto de alegria e tristeza, euforia e solidão, frequentemente abordando temas como amor, a fragilidade da vida e a paradoxal relação entre o ser humano e a natureza.
A capa desta edição foi produzida por Tami Hopf para a Mostra BO, projeto desenvolvido pelo Brasil Observer em parceria com a Pigment e com apoio da Embaixada do Brasil em Londres. Cada uma das 11 edições deste jornal em 2016 contará com uma arte em sua capa produzida por artistas brasileiros selecionados através de uma chamada pública. Em dezembro, os trabalhos serão expostos na Sala Brasil.
APOIO:
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O brasileiro é um sujeito orgulhoso até de seus defeitos. Não raro parece se vangloriar da complexidade de seu país. “O Brasil não é para principiantes”, adora repetir parafraseando um de seus mais ilustres conterrâneos, o maestro Antônio Carlos Jobim. Está sempre disposto a pregar a inviabilidade de sua nação, fadada a sucumbir ao mormaço tropical, ao caminho mais fácil ainda que errado, ao passa moleque deseducador, ao jeitinho constrangedor. Mas não aceitamos opinião de gringo, que afinal nada entende disso aqui, da nossa peculiar miséria. Para entender o que se passa hoje no país e como será o dia seguinte de nossa história é preciso respirar fundo para não perder o fio da meada. E uma dose cavalar de desassombro – pois se trata de tragédia espetacular. A encruzilhada atual se dá na junção de uma crise econômica sem precedentes e um sistema político falido, elaborado de modo a perpetuar a secular divisão entre comandantes e comandados, a satisfazer os donos do poder em todas as esferas nacionais, públicas e privadas. Não é necessária profunda análise para identificar as estruturas intactas de casa-grande e senzala, ou de sobrados e mocambos, ou de condomínios e favelas. Cento e tantos anos de independência ainda não foram suficientes para enterrar trezentos e tantos anos de uma colonização violenta, exploradora e vergonhosamente escravocrata. Trinta e poucos anos de uma jovem democracia ainda não foram suficientes para enterrar vinte e poucos de uma ditadura que serviu àqueles que hoje, em nome da moral e dos bons costumes, invocam o impeachment da presidente eleita, Dilma Rousseff, que, aliás, desceu às masmorras do regime civil-militar. Mas voltemos ao hoje. A crise econômica atual, para começar, é resultado de fatores internacionais (queda da demanda chinesa, fim do “boom” das commodities, diminuição do preço do petróleo etc.) e nacionais (escalada da dívida pública, desequilíbrio fiscal, falta de investimentos, colapso da arrecadação de impostos etc.). Nos anos de bonança, os governos petistas de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff fizeram o suficiente para aquecer a demanda interna e impulsionar o consumo (Bolsa Família, valorização do salário mínimo, facilitação do crédito etc.) e o insuficiente para que o crescimento econômico com diminuição das desigualdades fosse sustentável em longo prazo (reforma tributária, diversificação das exportações, aumento da produtividade industrial etc.). Avançamos, afinal, graças a políticas setoriais específicas e a condições externas favoráveis – e não por conta de mudanças estruturais profundas. Não foi pouco, diga-se. O mundo testemunhou e aplaudiu a ascensão social de mais de 30 milhões de brasileiros; a quase erradicação da miséria; a saída do país do mapa da fome; a ampliação sem igual do acesso ao ensino (do fundamental ao superior); o “empoderamento” das camadas populares. Tudo isso aliado a uma nova e independente atuação do Brasil no cenário internacional. Lula se tornou “o cara” do presidente estadunidense Barack Obama; o Cristo Redentor decolou na capa da The Economist. Até os liberais se renderam à democracia social encabeçada pelo PT, à frente de uma ampla e sólida base progressista e de esquerda. O que deu errado? Uma vez no poder, é sabido, o PT se portou como os demais. Lambuzou-se na rota da corrupção em nome de um projeto de poder. Optou por uma falsa conciliação de classes em vez de politizar sua base entorpecida por avanços superficiais. Aliou-se às correntes mais retrógradas da nação em troca de apoio evidentemente oportunista (veja o recente “desembarque” do PMDB do governo...). Relegou questões fundamentais para a inauguração de um novo ciclo de desenvolvimento para garantir vitórias eleitorais cada vez mais magras, mais publicitárias. Traiu, afinal, quem no partido depositou suas esperanças – e votos.
Chega a ser cômico ver políticos governistas reclamarem do tratamento recebido pela mídia nativa, por exemplo. Quando pôde, os governos petistas preferiram não tocar no assunto da democratização dos meios de comunicação – essencial em qualquer país minimamente civilizado. Irrigaram, ano após ano, a chamada grande mídia com dinheiro público através de anúncios de empresas estatais – em vez de apostar na pluralidade narrativa, na diversificação das vozes no debate público. Não nos enganemos, porém. Desde sempre o PT sofre com o que podemos chamar sem medo de ódio de classe por parte das elites nacionais – representadas pela grande mídia, porta-voz da casa-grande também desde sempre. É fundamental, para entender o momento atual, levar em conta a atuação dos meios de comunicação hegemônicos em consonância com a elite financeira – e setores do judiciário, formando uma trinca policial-financeiro-midiática. E entender o ressentimento alimentado por uma classe dominante que nunca aceitou de bom grado a ascensão e o protagonismo das camadas populares. São apenas fatos. Por outro lado, novamente, não é o caso de entender o PT e seus governos como meras vítimas. Lula sempre se vangloriou por ter sido o presidente que fez os bancos e os empresários lucrarem como nunca – ou seria sempre? Faria sentido se os ganhos graúdos do capital tivessem sido mais bem democratizados, fomentado os investimentos produtivos e não especulativos. Não foi o que ocorreu. “Campeões nacionais” foram eleitos e tocaram um capitalismo à brasileira que não respeita o meio ambiente, muito menos as regras elementares das competições justas, cometendo toda sorte de ilícitos em troca de dinheiro e fama. Do sucesso à lama. Aqui chegamos à operação Lava Jato, a desnudar as relações promíscuas entre empresários e políticos dos mais altos escalões da República e de todos os naipes. E ao ponto crucial da falência do sistema político: que chance tem de prevalecer o desejo popular em um Congresso onde 70% de seus representantes foram eleitos com o dinheiro de dez empresas? A quem esses parlamentares respondem, ao eleitor ou ao doador de campanha? Não é a toa que quase metade dos parlamentares brasileiros está envolvida em casos de corrupção. Não é a toa que se diga que o sistema financeiro tem papel crucial na encruzilhada política em que o país se encontra. O conceito básico de “uma pessoa, um voto” está completamente deturpado e a democracia brasileira, aos cacos. O que fazer? Parte considerável da população, principalmente as camadas mais ricas (mas não apenas, é verdade), crê que a solução passa pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff – o que pode acontecer em breve. Creem esses que o PT é o principal responsável pela crise nacional e deve ser punido exemplarmente, inclusive com a prisão de Lula. Para atender a essa demanda, articulam-se o PMDB do vice-presidente Michel Temer e os principais líderes do PSDB, Aécio Neves e José Serra à frente. Além desses, apoiam essa solução parte considerável do empresariado nacional (representado principalmente pela Fiesp, que faz campanha desavergonhada pelo impeachment) e os grandes meios de comunicação, por mais que estes se escondam na falsa cortina da imparcialidade. Esse novo bloco de poder em formação pouco tem a ver com a fumaça anticorrupção que emana da mídia hegemônica e, consequentemente, dos protestos a favor do impeachment. PMDB e PSDB também estão envolvidos até o pescoço em escândalos que, diferentemente daqueles protagonizados pelo PT, recebem menos atenção da mídia “isenta”. O que querem? Basicamente colocar em prática o
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projeto de “modernização” do Brasil derrotado nas últimas quatro eleições presidenciais, de caráter liberal-conservador: reforma da previdência social; flexibilização das leis trabalhistas; alteração das regras de exploração do petróleo da camada pré-sal; autonomia do Banco Central; ajuste fiscal para produção de superávits primários robustos; adequação aos ditames do Fundo Monetário Internacional; alinhamento à política externa dos Estados Unidos; distanciamento dos chamados governos progressistas da América Latina; acordos de livre comércio aos moldes dos realizados pela Aliança do Pacífico; supressão dos movimentos sociais, especialmente aqueles ligados ao direito à terra (MST) e à moradia (MTST); diminuição do papel do Estado como indutor do crescimento econômico; nova rodada de privatizações dos bens públicos; reforma política em busca de algo que se assemelhe ao voto distrital; vitória na eleição presidencial em 2018. O que oferece o PT em resposta? Muito pouco. Após a vitória nas urnas de Dilma Rousseff em 2014, estava claro que o governo precisaria fazer uma escolha: aprofundar as conquistas do campo progressista pelo embate político com as forças conservadoras ou sucumbir às leis do mercado para agradar aqueles que não depositaram seu voto no PT. Optou-se pela segunda saída – algo que, é verdade, vem sendo feito desde o primeiro mandato de Lula “paz e amor”. Ao fazer isso, ao adotar o discurso que havia combatido na campanha eleitoral, a presidente Dilma perdeu seu capital político. Enfraqueceu-se diante dos adversários, que passaram a confabular processo de impeachment aberta e diariamente, e diante de sua base social, cansada de esperar pela anedótica “guinada à esquerda”. Mas há um problema básico: impeachment não é solução para governo ruim. Previsto na Constituição de 1988, o procedimento é resultado de duas variáveis, uma política e outra, essencial, jurídica. Não faltam motivos políticos para tirar Dilma Rousseff do poder. Falta, porém, prova de crime cabal. Não há base jurídica para o pedido de impedimento por conta das chamadas “pedaladas fiscais”, procedimento financeiro adotado em larga escala por prefeituras e governos estaduais em todo o Brasil, inclusive pelos ex-presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso. Já o pedido de impeachment baseado na suposta obstrução da justiça cometida por Dilma Rousseff segundo delação premiada do senador encarcerado Delcídio do Amaral – fortalecido pela indicação de Lula à Casa Civil – não encontra provas suficientes para ser irrefutável. Contra Dilma Rousseff não pesa nenhuma acusação formal por conduta ilegal no cargo de Presidente da República. O mesmo não pode ser dito a respeito de duas figuras centrais da política nacional, os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, Eduardo Cunha e Renan Calheiros, ambos do PMDB, partido mais interessado no impeachment da presidente. Aécio Neves, presidente do PSDB e candidato à presidência na última eleição, já foi citado em pelo menos seis delações premiadas no âmbito da Lava Jato. Mais da metade da comissão criada no Congresso para julgar o impeachment está sendo investigada pela justiça. É por isso que partidários do governo de Dilma Rousseff e defensores da democracia não necessariamente alinhados ao PT têm se manifestado contra o que chamam de golpe. “Não vai ter golpe” é o que esses manifestantes gritam nas ruas do Brasil, nas redes sociais e até em Londres. Temem que um impeachment sem base legal abra um perigoso precedente em um país marcado por golpes e cuja democracia encontra-se ainda em sua primeira metade de século. E que as conquistas sociais, ainda que mínimas, estarão em risco em um governo PMDB-PSDB.
Partidários do impeachment rechaçam a ideia de golpe argumentando que o mesmo está previsto na Constituição. Sim, isso é óbvio. Para que seja legítimo, porém, é preciso haver a caracterização de crime por parte do mandatário da nação – o que não é o caso. Que legitimidade haverá um governo empossado sem o voto da população e que chegou ao poder através de manobras políticas em conluio com setores da mídia e do empresariado que estiveram, em sua maioria, do lado da ditadura civil-militar que condenou, uma vez mais, após a colonização/escravidão, a história do país? Que legitimidade haverá um processo de impeachment aberto por alguém como Eduardo Cunha, com extensa lista de mal feitos? Que futuro terá o combate à corrupção, tão alardeada pelos apoiadores do impeachment, uma vez que a turma PMDB-PSDB assumir o país? O espetáculo é trágico, afinal. E não há mocinhos. Vale lembrar: foi o PT que escolheu se aliar ao PMDB em primeiro lugar; que escolheu dar a vice-presidência a Michel Temer; que buscou se aliar a Eduardo Cunha e Renan Calheiros até o último momento; que apertou a mão de figuras como Paulo Maluf, José Sarney, Fernando Collor, entre tantos outros. Foi o PT que se aliou às grandes empreiteiras do país, por vontade própria, engendrando acordos escusos em nome de um desenvolvimento capenga, desrespeitando o meio ambiente e as populações indígenas, por exemplo, questões caras à esquerda que o apoiou. Foi o PT, afinal, que se sentiu parte do clube da elite e virou as costas ao projeto de país que um dia julgou representar para encenar um projeto de poder que agora cai de forma melancólica, deixando um vácuo de representatividade das camadas populares que ninguém sabe ainda como será preenchido. O decorrer dos dias, e das horas, traz à baila novos fatos em velocidade tão grande que fazer previsões e tomar posições tornam-se exercícios de extrema delicadeza. Certo é que o que cada lado da polarização julga como ideal dificilmente acontecerá: Dilma Rousseff não irá renunciar, nem encontrará ambiente para governar caso se salve do impeachment. Em caso de impedimento da presidente, o Brasil passará a ser governado por uma corja sem legitimidade. A mídia nativa, certamente, noticiará um possível impeachment como a redenção de um país frente aos desmandos de um governo de “esquerda”, decretando a falência do pensamento progressista. E a animação instantânea do mercado fará com que a população sinta que algo está melhor, quando na verdade estaremos diante do caos. As ruas certamente não ficarão caladas, aumentando a chance de conflitos com as forças repressivas do Estado, que agirão com sua habitual truculência quando se trata de manifestações populares não apoiadas pelo aparato midiático. Em caso de vitória governista, Lula deverá voltar ao centro do poder de facto, ou seja, de uma forma ou de outra, Dilma não mais governará o país – já não governa, aliás. A volta de Lula animará a militância petista, enfurecendo aqueles do outro lado do espectro, elevando igualmente a chance de confrontos. Daqui em diante é impossível prever o desenrolar dos fatos. Há remota chance de novas eleições gerais. A chapa Dilma-Temer ainda pode ser cassada pelo Tribunal Superior Eleitoral, mas isso não ocorrerá tão rapidamente. É preciso desassombro para entender o que se passa no Brasil hoje. Impeachment não é solução. Gritar “não vai ter golpe” não é suficiente. No dia seguinte da história, que país teremos? Crises trazem, em meio à neblina, janelas de oportunidades. Podemos avançar rumo a uma democracia social, mais justa e inclusiva, ou voltar algumas casas em direção ao Brasil das oligarquias, dos poderosos de sempre. Essa história, com Dilma ou sem Dilma, está ainda longe de chegar ao novo normal.
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OBSERVAÇÕES Ana Toledo
Explicando a um inglês por que protestam contra o impeachment de Dilma Rousseff Por Guilherme Reis
Sentado em cima de uma bike do Boris, na praça em frente à Embaixada do Brasil em Londres, observava o desenrolar da manifestação de brasileiros contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff, àquela altura animada pelo violão cadenciado de Gui Tavares, que dedilhava os acordes de “Construção”, de Chico Buarque, quando fui surpreendido por um inglês que retirava, atrás de mim, seu meio de transporte do locker: - Sobre o que se trata este protesto? - É contra o processo de impeachment da presidente do Brasil. - Vocês estão apoiando um governo claramente corrupto? É sério? – ele me indagou com um tom levemente elevado, ainda que educadamente, o que me fez levantar disposto a um papo entre opiniões opostas. - Nem todos aqui apoiam o governo. Particularmente tenho muitas críticas. Quem está aqui é contra o impeachment, a favor da democracia. - E você acha que a indicação de Lula para um ministério foi um ato democrático? Eu acho que não, foi um ato bastante autoritário. - Concordo. Também achei errado. Mas democracia é processo. Nossa democracia é muito jovem. Romper esse processo com um impeachment sem prova cabal de crime contra a presidente eleita me parece perigoso. - Mas esse governo é corrupto, muito ruim pra economia. O dólar disparou. As contas estão fora do lugar, com uma dívida muito grande. - O governo é péssimo, mas impeachment não é solução para governo ruim. Temos eleições regulares para isso. A decisão deve ser no voto. - Sim... O Fernando Henrique Cardoso foi um grande presidente, fez muitas coisas importantes para o país. Agora a economia está muito mal. - Verdade. Ele fez coisas importantes. Lula também mudou o país.
- Mas ele fez isso porque o Cardoso tinha preparado tudo antes. Ele seguiu o que já estava dando certo e o país se beneficiou muito disso. - Sim. E ele colocou em prática coisas novas também, uma política social mais elaborada, uma política externa independente... - As camadas mais pobres, né? Eu acho que o Norte e o Nordeste têm um peso desproporcional. Eles acabam recebendo muito mais. - O que você quer dizer com isso? - Eu amo o Brasil. Faço negócios no Brasil há 20 anos. - Interessante. Não é fácil fazer negócios lá, isso é um fato. - Pois é. Você viu as reações no mercado? Estão animados com a possibilidade de mudança de governo no Brasil. Eles querem mudança. - Sim. O mercado sempre está do lado da direita. Não é novidade. - É (risos). Preciso ir. Obrigado pelo debate. - Eu que agradeço. Acho que está faltando esse tipo de diálogo no Brasil. - Boa tarde. - Boa tarde. * A manifestação contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff aconteceu na quinta-feira dia 31 de março. Organizado através das redes sociais, contou com aproximadamente 150 pessoas. Além de Londres, demonstrações ocorrerem em outras capitais e cidades europeias, como Berlim, Paris, Lisboa, Coimbra e Barcelona, além de mais de 60 cidades no Brasil. Em março do ano passado, daquela vez em apoio às manifestações a favor do impeachment que começavam no Brasil, brasileiros também se reuniram em frente à embaixada em Londres. Em ambos os casos, não houve tumulto e tudo aconteceu de forma pacífica.
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A visão do Embaixador Alex Ellis sobre a crise Em evento organizado pelo Brazil Institute do King’s College London no início de março, o Embaixador do Reino Unido no Brasil, Alex Ellis, ofereceu sua interpretação do momento político e econômico do país. Em tom despojado e com afiado humor inglês, Ellis começou dizendo que a eleição de 2014 ainda não terminou. “A sensação é que a disputa eleitoral ainda está em andamento”, disse. Para ele, a presidente Dilma Rousseff garantiu a reeleição prometendo o oposto do que ela tem tentado fazer: ajuste fiscal com redução dos gastos sociais etc. Sobre a situação econômica, Ellis mostrou-se preocupado com a possibilidade de o país retrair em 7% o valor de seu PIB na somatória de 2015 e 2016. De acordo com ele, não se trata de uma crise em formato de “V”, ou seja, de rápida recuperação. O embaixador chamou atenção ao
aumento da dívida pública e lamentou que o serviço da mesma seja tão elevado, ainda mais com uma taxa básica de juros (Selic) tão alta quanto a atual. Além disso, considerou as dificuldades de se realizar cortes de gastos orçamentários, sujeitos a mudanças na Constituição federal. O problema maior, disse Ellis, é político: Dilma está mais preocupada em se salvar do processo de impeachment do que em resolver a crise econômica. Apesar disso, o embaixador foi otimista ao dizer que o Brasil está “fadado” ao crescimento simplesmente por sua demografia, pois é crescente a relação força de trabalho por total da população. Outro fator mencionado foram os ativos do Brasil, principalmente o pré-sal. Ellis disse ainda que acha mais provável que Dilma permaneça no cargo. E que os protestos pelo impeachment têm sido bons para bloquear o governo, e
não para construir algo. A democracia, seguiu o embaixador, custa muito caro no Brasil. É preciso reduzir o custo das eleições. Ainda sobre os protestos, Ellis argumentou que, desde 2013, as manifestações têm criado problemas para os políticos, cada vez mais desacreditados. Para ele, nenhum partido tem se beneficiado. Quem realmente tira vantagem são os promotores, alçados a heróis nacionais. Na opinião do embaixador, há outras “Lava Jato” pelo país: quando empresas controladas parcialmente pelo Estado agem em busca do lucro, com diretores nomeados politicamente, o resultado final é corrupção. O que virá depois? Não há um líder claro para assumir o país, disse Ellis. Sobre os Jogos Olímpicos Rio 2016, Ellis disse apenas que não será para o Brasil o que Londres 2012 foi para o Reino Unido. Alguém duvida?
O que diz a mídia inglesa sobre o Brasil The Economist – Em editorial publicado na edição lançada em 26 de março, sob o título “Time to go” (Hora de ir) e com direito a chamada de capa, a revista defendeu a renúncia da presidente Dilma Rousseff. A escolha do ex-presidente Lula para a Casa Civil foi uma “tentativa grosseira de impedir o curso da Justiça”, diz o editorial. Por isso, argumenta a revista, Dilma está inapta a permanecer na presidência. A The Economist afirma que segue acreditando que não há base legal para impeachment pelas pedaladas fiscais. Mas nota que há três caminhos para a saída da presidente: 1) mostrar que Dilma obstruiu as investigações da Lava Jato; 2) por decisão do Tribunal Superior Eleitoral que resultaria em novas eleições; e 3) a renúncia da presidente. The Guardian – Para o jornal britâni-
co, “a cada dia que passa o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, possivelmente a figura política mais formidável do país, fica mais perto do status de um ícone em decadência”. O editorial “The Guardian view on Brazil’s scandal: no more heroes any more” foi publicado na edição do dia 17 de março. O The Guardian lembra ainda que a operação Lava Jato tem implicado políticos de todos os partidos. E que o país emergente que enchia os olhos do mundo, em vez de celebrar a chegada dos Jogos Rio 2016, está à beira do colapso, com um governo que mal fica em pé, uma economia em recessão, um judiciário politizado e manifestações constantes. Já o The Observer, em editorial do dia 20 de março (“The Observer view on Brazil”), argumenta que, se Dilma não consegue acalmar o país, ela deveria
chamar novas eleições (função exclusiva do Congresso, porém) ou renunciar. O jornal pontua que os chamados governos de esquerda da América Latina estão em decadência não pela questão ideológica, mas por conta da incompetência e da reiterada ilegalidade de seus governantes. Financial Times – A edição impressa internacional do jornal estampou em sua na capa do dia 18 de março: “Brazil in crisis: Block of Lula stokes street clashes and political turmoil”. Para o Financial Times, o Brasil oscila à beira de uma crise institucional depois que a justiça bloqueou a nomeação de Lula para a Casa Civil do governo da presidente Dilma. Em outra reportagem, o jornal diz que os recentes fatos políticos são surpreendentes “mesmo para os padrões políticos brasileiros”, que seriam mais propensos a desdobramentos inesperados que no resto do mundo.
‘Brasileiras pelo mundo’ se reúnem em Londres Beth Vieira-Kross Ana Toledo
Representando diferentes países, cerca de 30 mulheres que fazem parte da rede Brasileiras Pelo Mundo (BPM) – entre colunistas e leitoras – estiveram em Londres, no início de março, para a segunda edição de um encontro do grupo. O blog está no ar desde junho de 2012 e conta com mais de 90 colunistas, espalhadas por países como China, Rússia, Islândia, Espanha, Dinamarca, Camboja, Nova York e Chile, entre outros. Criado por Ann Moeller, o BPM surgiu da ideia de incorporar em um só lugar experiências de brasileiras na mesma situação: morando fora do Brasil, tendo carreiras, famílias, negócios próprios com sucesso e criando raízes em diferentes par-
tes do globo. Os desafios e conquistas da vida no exterior são relatados através da experiência e vivências das colunistas. “A intenção é informar e inspirar as brasileiras que ainda estão no Brasil pensando ou planejando sair do país e que estejam à procura de informações. E também informar as que já moram fora sobre a vida e experiências de outras mulheres pelo mundo”, explica Ann. E acrescenta outro objetivo do BPM, que é “alterar o estereotipo de mulheres brasileiras no exterior, muitas vezes associado à prostituição”. Com o intuito de celebrar o crescimento do blog, o encontro amplia o networking entre as participantes, possibili-
tando o contato entre mulheres brasileiras que atuam em diferentes áreas em diversas partes do mundo. A programação foi diversificada, contou com palestra sobre desafios e conquistas de Christine Marote, do blog China da Minha Vida; com dicas para a saúde e de como prevenir o envelhecimento precoce da nutricionista Rose Chamberlain; a advogada Vitória Nabas falou sobre mulheres de negócio fora do Brasil; a fundadora do projeto Kids Brasil Charity, Adriana Bell, apresentou o trabalho da OnG; e o encerramento contou com a apresentação da artista Márcia Mar. Além disso, o evento contou a exposição fotográfica assinada pela brasileira Beth Vieira-Kress.
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CONVIDADOS
e A crise de poder no Brasil
Em 2011, o governo brasileiro adotou medidas anticíclicas para enfrentar a desaceleração mundial do crescimento econômico. Seu objetivo foi fortalecer o mercado interno e garantir o valor do salário, o pleno emprego. Acabara o período das vacas gordas e do boom das commodities, o jogo de ganha-ganha em que nenhum setor era punido em benefício de outro.
Por Silvio Caccia Bava
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Silvio Caccia Bava é sociólogo, diretor e editor-chefe do jornal Le Monde Diplomatique Brasil
O governo baixou fortemente a taxa de remuneração dos títulos da divida pública, a Selic; impôs por meio dos bancos públicos uma redução nos juros ao consumidor; congelou preços administrados, ampliou o crédito, impulsionou investimentos públicos etc. Para além da defesa da renda e do emprego das maiorias, no conjunto, essas iniciativas expressavam uma política nacional desenvolvimentista, com um papel destacado para o Estado e especialmente para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDES, no fortalecimento de algumas cadeias produtivas estratégicas como as de óleo e gás, petroquímica, construção naval. Uma política contrária aos interesses do sistema financeiro e do capital internacional. Pela primeira vez, o controle da política econômica não coincidia com os interesses do sistema financeiro e das grandes corporações. As medidas anticíclicas reduziram os ganhos do setor financeiro privado e das grandes corporações, fortaleceram o Estado e colocaram o fator de insegurança para esses empresários. Eles se deram conta de que não controlavam mais as políticas econômicas, e isso foi inaceitável. Em reação a essas medidas, as elites financeiras conseguiram a adesão de todo o grande empresariado, que, a partir do fim de 2012, unido, passou a se colocar contra o governo Dilma, a apoiar a oposição neoliberal e a buscar desestabilizar o novo governo, mesmo depois de sua vitória eleitoral de 2014. Com um novo Congresso em que 70% dos parlamentares foram financiados em suas campanhas eleitorais por dez grandes grupos empresariais, está em andamento uma iniciativa parlamentar de tentar promover o impedimento da presidenta. Os liberais, melhor dizendo, os neoliberais, depois do “ensaio desenvolvimentista” de 2011, querem retomar o controle da política econômica e submeter o Estado a seus interesses privados. Em contraposição a esses interesses ocorrem mobilizações e campanhas populares pela reforma política, por exemplo, que querem um Estado cada vez mais público e orientado para atender aos interesses de todos. Esses termos já expressam a natureza da disputa pela ordem institucional. O fator crucial foi a organização e a politização de importantes setores sociais oprimidos, que recusaram a postura de submissão que o sistema político lhes destina. No Brasil, a riqueza e a diversidade das organizações da sociedade civil que se constituem para a defesa de direitos fizeram a diferença, mobilizando amplos setores e canalizando sua força política para a construção e eleição do PT.
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O fato é que a direita não conseguiu apresentar, no Brasil, um projeto de país para disputar a preferência do eleitor nas eleições de 2014. Os neoliberais perderam, pela quarta vez, as eleições presidenciais. Centraram sua campanha na produção de um terrorismo econômico e na necessidade de evitar uma catástrofe. E atacaram o governo e o PT acusando -os de incompetentes e corruptos. Na impossibilidade de vencerem pelo voto, as elites no Brasil partiram para o jogo pesado, atacando a democracia com sua tentativa de golpe, comprando o Congresso, mobilizando a mídia para uma enorme campanha, iniciando uma guerra aberta contra o governo e o PT. A elite brasileira lançou mão do terrorismo econômico, de análises e projeções catastrofistas para a economia brasileira, distorcendo uma realidade na qual os indicadores macroeconômicos não apontavam a necessidade de um ajuste, muito menos que ele se desse com essa radicalidade. Agora a crise é real, o desemprego bate na casa dos 10%, as perspectivas econômicas sombrias. A oposição que quer derrubar o governo apresenta como solução para a crise a mesma política de austeridade que o FMI, a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu impuseram à Grécia, onde o ajuste levou a uma regressão de 30 anos na questão dos direitos sociais. O sucesso da mobilização da mídia na guerra contra o governo foi uma demonstração do imenso poder dessas empresas de comunicação. Na guerra da comunicação, “a questão central é a escolha da agenda e dos temas em destaque, o leque de opiniões permitidas, as premissas inquestionáveis que orientam a produção da informação e os comentários, a visão de mundo que estrutura esses argumentos” (Chomsky, Noam; “Necessary Illusions: thought control in democratic societies”; South End Press; Boston; 1989). Renomados economistas neoliberais brasileiros afirmam publicamente que é preciso promover a recessão e o desemprego para rebaixar o custo do trabalho. É uma declaração de guerra aos trabalhadores. Com o Congresso controlado pelos grandes empresários e com a deslegitimação do sistema político, aí incluídos os partidos, a democracia brasileira fica em perigo. Grande parte da população não se vê representada em seus interesses, e assim se abre espaço para o surgimento de uma nova onda conservadora e de novas práticas autoritárias na sociedade, como buscar fazer justiça com as próprias mãos e criminalizar os pobres pela violência na sociedade. As versões da direita monopolizam a mídia conservadora, levando grande parte da população a responsabilizar o governo por uma crise que, na verdade, foi engendrada pelo poder econômico. Seus especialistas em trabalhar com a opinião pública criam as ilusões necessárias: simplificações emocionalmente potentes que atribuem ao governo e ao PT a corrupção, o “desgoverno”, os riscos do desemprego, a inflação, a perda de poder aquisitivo por parte da população. “A mídia não cobre mais os acontecimentos. Ela gera versões e tenta transformá-las em verdade”, alertou o sociólogo Laymert Garcia dos Santos.
A CAMPANHA ‘FORA, DILMA’
Fique atento
As denúncias de corrupção, todas elas seletivas, pois ignoram o PSDB e os demais partidos de oposição ao governo, servem para mobilizar a população contra o governo e manipular a opinião pública, especialmente as classes médias que não compreendem por que os bons tempos acabaram. A crise política se radicaliza; as ofensas pessoais e os panelaços mostram a intransigência dessas classes médias e sua revolta com a crise econômica; abre-se campo para o imprevisível. Nesse cenário, novas ONGs de direita, e partidos que tradicionalmente defendem as elites, buscam mobilizar a opinião pública em manifestações contra o governo e o PT. E parte dos trabalhadores se soma agora à oposição, mas por outros motivos, estão descontentes com o desemprego show show O show O mais O show mais show Oexplosivo mais show explosivo Omais show mais explosivo mais explosivo explosivo mais do explosivo do explosivo dodododo d crescente e com o governo, que reduz O as O ano -ano alastra familia ano ano - ano alastra - ano alastra - alastra ano - alastra familia -familia alastra - familia alastra familia familia familia políticas de transferência de renda. Sem a mobilização da sociedade, os opositores avaliam que “não há clima” para a promoção do impedimento da presidenta. Com um respaldo maior das ruas, como nas manifestações de 13 de março que reuniram 3,6 milhões de pessoas, darão continuidade ao processo de articular o golpe branco, isto é, a condenação do governo e do PT por atos ilícitos que, na verdade, não existem. Amplos The JuncTion setores do Congresso, do Judiciário, da Polícia Federal, tradicionalmente ligados 22 Bristol aos interesses das elites, promovem uma The LanTern ofensiva para derrubar o governo, crimi23 Leeds nalizar o PT (apenas o PT) e impedir a BeLgrave Music haLL candidatura de Lula em 2018. As forças neoliberais formaram um 24 London comitê dos partidos que são contra o PT KoKo e o governo e pretendem, coordenada25 Brighton mente, convocar seguidas manifestações The haunT populares em várias capitais do país. 26 Manchester Como uma reação à iniciativa de proBand on The WaLL mover amplas mobilizações em favor do impeachment da presidenta, as forças democráticas e populares também se mobilizam e, por meio da Frente Brasil Popular eM cd e viniL e da Frente Povo Sem Medo, convocam marchas e mobilizações em apoio ao governo, à democracia, e contra o golpe. Milhões de pessoas tem ido às ruas em favor e contra o impedimento da Presidenta. Em curto prazo, o cenário é de De volta confrontos, não de negociação. As elites pela DemanDa brasileiras, com seus sócios internaciopopular nais, se somam à maré conservadora que se abate sobre o continente e jogam seu peso na busca da desestabilização do governo e na queda da presidenta. No Congresso, as bancadas da oposição travam todas as iniciativas de governo e colocam as “pautas-bomba” (votam aumentos no gasto publico sem recursos disponíveis) na estratégia de quanto pior, melhor. É esse confronto que cria o impasse da atual conjuntura, que agudiza a crise econômica e seus efeitos nefastos sobre a população. Como ele vai se desdobrar não sabemos, mas o que vai acontecer nas ruas, nas próximas semanas, pode indicar para onde os ventos sopram. É bom lembrar que há uma grande maioria que neste momento está silenciosa, mas pode também ir comono.co.uk para as ruas, como fez em junho de 2013.
Abril 21 Cambridge
Bixiga 70 The Scala quinta-feira 23 junho
12 brasilobserver.co.uk | Abril 2016
A crise e os meios de comunicação Por Dennis de Oliveira
O momento que o Brasil vive atualmente é produto de um esgotamento do modelo de conciliação de classes que foi tocado pelos governos liderados pelo Partido dos Trabalhadores desde 2003. Este modelo tem como pressuposto possibilitar uma inclusão social com base no desenvolvimento econômico do país, garantido com um protagonismo maior do Estado e, a partir desta inclusão, constituir um mercado consumidor de massas interno que alavancaria um crescimento econômico soberano e autônomo em relação à economia global. Na gestão Lula (2003/2010), este modelo contou com dois fatores favoráveis: o esgotamento do modelo neoliberal imposto pelo presidente Fernando Henrique Cardoso nos anos 1994-2002, que perdeu a sua sustentabilidade com a escassez de capitais internacionais; e um cenário favorável para a abertura de novos mercados internacionais, em particular para as commodities brasileiras. Assim, aproveitando esta situação favorável, o governo Lula, na sua primeira fase, optou por controlar os humores do capital rentista aplicando uma política econômica contracionista (juros altos, superávits fiscais, entre outros) e, ao mesmo tempo, descortinando novas fronteiras para a expansão de mercados internacionais. O ex-presidente viajou para países do Oriente Médio, África, América Latina, teve um papel proativo na geopolítica internacional e, com isso, foi abrindo novos campos para investimentos de empresas brasileiras e também de transnacionais instaladas no país. Com isto, conseguiu acumular divisas necessárias para sustentar programas de inclusão social, dentre os quais o que ficou mais famoso foi o Bolsa Família, embora se destaquem também os aumentos reais do salário mínimo, a ampliação das universidades públicas, entre outros. Esta situação contribuiu para a formação de um novo perfil de classe trabalhadora no país. Integrada ao consumo, estes novos trabalhadores dão base ao que o cientista político brasileiro André Singer chama de “lulismo”, distintos dos setores sociais clássicos que formam a base de sustentação
do PT (operários de setores mais dinâmicos da economia e com tradição sindical). A integração destes trabalhadores à sociedade pela via do acesso ao consumo ao mesmo tempo em que alargou a base de sustentação do PT também gerou fragilidades e instabilidades na mesma, uma vez que o compromisso dela está diretamente vinculado à manutenção e/ou ampliação do poder de consumo. Diante disto, o governo Dilma que inicia em 2011 tem como tarefa central ampliar e dar sustentabilidade ao desenvolvimento da economia do país. A nova presidenta tem uma postura abertamente voluntarista e, junto com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, patrocina uma série de conflitos com setores poderosos do capitalismo brasileiro. O novo governo do PT patrocina a ampliação do crédito e a redução da taxa de juros, a abertura de mercados internacionais para empreiteiras brasileiras, o incentivo por meio de linhas de financiamento públicas e redução de impostos a determinados setores da indústria (em especial a da construção civil e automobilística). Com isto, conflita com o capital rentista e especulativo, com setores da indústria que não foram contemplados com estes apoios, com poderosas empresas prestadoras de serviços privatizadas no governo de Fernando Henrique Cardoso (em especial a da energia elétrica). E opta em financiar a fusão de grandes empresas nacionais com o objetivo de estas disputarem o mercado internacional.
MÍDIA E PODER A grande parte da indústria da comunicação apoiou, entusiasticamente, o projeto neoliberal de Fernando Henrique Cardoso. Tanto por motivações ideológicas como comerciais, pois várias destas empresas de comunicação participaram direta ou indiretamente das privatizações. Casos da Rede Globo, que participou de consórcios empresariais que disputou a compra de telefonias estatais no Rio de Janeiro, e da empresa S/A O Estado de S. Paulo, que edita o tradicional “Estadão”, que foi sócia da empresa BCP, adquirida mais tarde
pela operadora Claro. A Editora Abril, em crise financeira, optou nos últimos anos em ser uma empresa produtora de material educativo, adquirindo editoras que monopolizavam a produção de livros didáticos. As mudanças no sistema educacional e, em particular, na política de compra de livros didáticos por parte do governo atingiram a empresa. O governo federal resolveu descentralizar a compra, possibilitou a participação de pequenas editoras e proibiu que as editoras fizessem marketing direto nas salas de professores das escolas. Daí os colunistas da revista Veja, da Editora Abril, passaram a fazer uma campanha contra a “partidarização da educação”, a “ideologização da escola”, entre outros. Outra zona de pressão econômica decorre dos principais anunciantes da mídia hegemônica que são os bancos. Políticas que desagradam o mercado financeiro costumam ser bombardeadas por colunistas que tem espaço nesta mídia. Quase todos estes colunistas e analistas econômicos têm vínculos diretos ou indiretos com o capital financeiro. Além dos aspectos econômicos, o alinhamento ideológico da mídia hegemônica brasileira é historicamente contra projetos nacionais de capitalismo. Já há tempos que funciona abertamente no Brasil um think tank conservador chamado Instituto Millenium que conta com a participação de diversos dirigentes da indústria midiática e também colunistas. A crise econômica mundial atingiu o Brasil e o governo petista encontra dificuldades de manter o seu projeto de crescimento. Com isto, a base instável de apoio que construiu nos últimos anos se desfaz, pois ela só se mantém na medida em que a sua situação de consumo se mantenha. A base tradicional do PT também se fragiliza na medida em que determinadas ações tomadas pelo governo contrariam bandeiras históricas destes setores, como, por exemplo, o apoio ao agronegócio em detrimento da reforma agrária e a agricultura familiar. E, finalmente, a margem para abertura de novas fronteiras para expansão do capital nacional também se reduz com a crise internacional. E caem os preços das commodities que
durante um tempo foram uma âncora na sustentação do projeto petista. Esta situação objetiva da economia e das dificuldades de manutenção do projeto petista possibilitou um avanço dos setores conservadores, com a mídia à frente, que usa de forma seletiva e oportunista o discurso anticorrupção para ganhar apoio e defender a derrubada da presidenta eleita em 2014. Por que seletivo? Porque as denúncias de corrupção atingem tanto figuras da situação como da oposição, mas é nítido que o espaço dado pela mídia às denúncias de corrupção contra políticos governistas é muito maior. Denúncias de corrupção, inclusive mais graves, contra políticos de oposição sequer chegam a ser noticiadas muitas vezes, como foi o caso do “mensalão tucano”. Por que oportunista? Porque se esconde, atrás desta crise, a proposta real dos que defendem a queda da presidenta. Não é para “moralizar” o país, mas sim para aplicar um projeto político-econômico que tem como centro defender os interesses do capital especulativo, barrar as políticas de inclusão social e impor medidas recessivas, como se costuma receitar para países subdesenvolvidos em crise econômica (como o caso da Grécia). Por ser impopular, o discurso da oposição e reverberado pela mídia é que os problemas no país decorrem porque os “políticos roubam o dinheiro que o trabalhador paga em impostos”. Entretanto, não se propõe fazer uma reforma tributária que acaba com o caráter regressivo dos impostos no Brasil (que onera mais quem recebe até três salários mínimos), reforma política que proíba o financiamento privado das campanhas (uma das principais fontes da corrupção) e, muito menos, uma reforma do sistema de comunicação que acabe com os monopólios que praticamente impõe uma voz única na sociedade civil. Dennis de Oliveira é professor associado da Universidade de São Paulo, coordenador do CELACC (Centro de Estudos LatinoAmericanos sobre Cultura e Comunicação) e membro da Rede Latino-americana QUILOMBAÇÃO g
brasilobserver.co.uk | Abril 2016 13
Os erros da lei antiterror Por Rafael Custódio
Rafael Custódio é advogado e coordena o programa de Justiça da Conectas Direitos Humanos g
Oito meses. Esse foi o tempo que o Congresso brasileiro precisou para decidir sobre um dos mais complexos temas do debate jurídico internacional: como descrever o crime de terrorismo. O resultado é um dos textos penais mais duros da história recente do país, superando, inclusive, normas criadas durante a ditadura civil-militar. Não sobram adjetivos para descrevê-lo. Além de absolutamente inócua para garantir a segurança do país, a nova lei, se sancionada pela presidente Dilma Rousseff (o que ainda não havia sido feito até o fechamento desta edição), é vaga, indeterminada, desproporcional, desnecessária, redundante e inconstitucional – e coloca em grave risco a democracia e as liberdades de expressão, associação e reunião. Não é uma constatação gratuita ou sem fundamentação. No dia 9 de março, um grupo heterogêneo de 15 organizações de direitos humanos e movimentos sociais, entre elas a Conectas, o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), a Artigo 19, o Conic (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil) e a Associação Juízes para a Democracia, publicou uma análise evidenciando os graves problemas técnicos e as ilegalidades da peça aprovada pelo Congresso. Não são poucos. O primeiro diz respeito à descrição dos atos que configurariam terrorismo. Ao todo, são usados 17 verbos ou locuções verbais que, conjugados, resultam em um sem fim de condutas, várias delas já previstas no Código Penal. Chama especial atenção os atos que se referem ao terrorismo contra coisas, que não implicam perigo ou dano à vida, mas, mesmo assim, podem ser punidos com penas de 12 até 30 anos de prisão. Para dar apenas um exemplo, um dos incisos do artigo 2º afirma que são atos terroristas “usar ou ameaçar usar, transportar, guardar, portar ou trazer consigo explosivos, gases tóxicos, venenos, conteúdos biológicos, químicos, nucleares ou outros meios capazes de causar danos ou promover destruição em massa”. Ora, são incontáveis os objetos ou produtos que, em tese, poderiam se enquadrar em “outros meios capazes de causar danos”. A construção é absoluta e perigosamente indeterminada. Outro verbo problemático é usado nesse mesmo artigo para descrever atos contra a vida e a integridade de outras pessoas – o verbo atentar. Primeiro, porque não permite identificar a ação principal que constituiria um crime doloso contra a vida. Em segundo lugar, porque equipara tentativa e ação consumada
violando o princípio da proporcionalidade das penas de acordo com a gravidade do ato. Fica ainda pior. No artigo 4º, a lei prevê o crime de apologia ao terrorismo – uma conduta já prevista no Código Penal e na famigerada Lei de Segurança Nacional, criada durante a ditadura. A redundância é, no entanto, o menor dos problemas. Se a manifestação de uma pessoa é suficiente para incentivar o cometimento de um crime, ela certamente já será responsabilizada como parte dele. Sobram, para o crime de apologia, as opiniões, ainda que não tenham qualquer impacto na realidade. Chama atenção outro fato, ainda sobre o crime de apologia ao terrorismo: a desproporcionalidade das penas, que fariam corar até os algozes da ditadura. Na nova lei, elas podem chegar a 13 anos e quatro meses – três vezes mais altas do que as previstas na Lei de Segurança Nacional. Se esse artigo for sancionado, postar um conteúdo no Facebook poderá render mais anos de prisão que um homicídio culposo. Outro crime criado pela lei antiterrorismo é o de atos preparatórios. Ao todo, 30 verbos descrevem atos que poderiam ser enquadrados como preparatórios ao crime de terrorismo. Juízes na responsabilidade de julgar casos envolvendo essas ações deverão ser capazes de aplicar a técnica da futurologia para chegar a suas sentenças. Como se vê com esses exemplos pontuais, não há salvação possível para o texto aprovado pelo Congresso. Durante todo o processo de tramitação, o governo federal, autor da proposta original, agarrou-se à inclusão de uma salvaguarda que supostamente protegeria organizações e movimentos sociais. Pura ficção. Primeiro, porque ativistas e defensores de direitos humanos teriam de percorrer todo o processo criminal até serem (eventualmente) absolvidos pelo juiz com base nesse artigo – o que, convenhamos, tem um efeito dissuasório evidente sobre o direito à manifestação. Segundo, porque essa suposta cláusula de exceção não engloba os crimes de apologia e atos preparatórios. Dilma Rousseff cometerá um erro histórico, de impactos incalculáveis para a democracia, se sancionar o projeto proposto por seu governo e aprovado pelo Congresso. Ataques terroristas são, sim, uma realidade global, mas, ao contrário do que temos sido levados a acreditar, não serão evitados com o simples endurecimento das leis, sempre às custas de direitos fundamentais.
14 brasilobserver.co.uk | Abril 2016
ENTREVISTA Divulgação
De bolsista a embaixadora Luiza Negri conversa com o Brasil Observer sobre sua trajetória, de bolsista do programa Ciência sem Fronteiras a vencedora do concurso SwB UK Ambassador 2016 Por Ana Toledo Luiza durante a final do concurso SWB UK Ambassador
O
O programa Ciência sem Fronteiras (CsF) tem uma nova embaixadora para o Reino Unido: Luiza Negri, de 25 anos, da cidade de Ouro Fino, em Minas Gerais. Formada em Arquitetura pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), ela passou o ano de 2012 estudando na University of East London (UEL), onde começou sua trajetória para se tornar embaixadora do CsF. Mas como assim embaixadora? Desde a sua criação pelo governo da presidente Dilma Rousseff, em 2012, o CsF tem sido um fator de peso considerável na conexão entre Brasil e Reino Unido – mais de 10 mil estudantes brasileiros já estiveram no país pelo programa. Tão considerável que hoje, quatro anos após o surgimento do CsF, a Embaixada do Reino Unido no Brasil tem fomentado uma rede de ex-alunos, chamada Science without Borders UK Alumni. O objetivo é compartilhar histórias e parcerias de impacto realizadas entre estudantes brasileiros e instituições de ensino britânicas, inclusive elegendo todo ano um SwB UK Ambassador. Para a edição de 2016 foram mais de 70 inscritos na primeira fase. Para a segunda etapa restaram dez. Apenas quatro foram para a final, realizada em uma noite de gala no Centro Brasileiro Britânico em São Paulo. Na ocasião, cada finalista fez um discurso de quatro minutos para plateia e jurados. “Eu realmente acredito que, se queremos mudar o nosso país e até mesmo o mundo para melhor, devemos começar com a educação. Claro, é preciso tempo para educar toda uma nova geração e esperar que os resultados sejam visíveis, mas nós não precisamos começar do zero. Podemos começar agora
mesmo a trabalhar com a nossa própria geração”, disse a arquiteta Luiza Negri em seu discurso vitorioso. Em entrevista ao Brasil Observer, Luiza explicou que “o programa [SwB UK Ambassador] funciona mostrando o que o CsF trouxe de conquistas para os estudantes e para o país”. A rede, aliás, nasceu antes do congelamento do CsF pelo governo brasileiro, então não foi criado como forma de pressão para que o programa seja reativado. “Vejo essa possibilidade como uma forma de promover os benefícios e, quem sabe, também ajudar para que o programa volte”, disse a nova embaixadora. Luiza contou que a experiência com o CsF foi um fator determinante em sua carreira. “Mudou completamente o rumo da minha vida, queria desistir [da arquitetura antes de participar do programa]”, admitiu. O começo não foi fácil, pois além de estar reconsiderando seu curso, Luiza ainda teve que se adaptar com a forma de ensino da instituição escolhida. Em bom inglês, colocando a mão na massa, ou hands on. “Eu não tinha as mesmas habilidades que os meus colegas, pois o que aprendemos é diferente. No Brasil o ensino é mais técnico, já em Londres o ensino é mais focado no lado artístico, privilegiando a forma e a representação gráfica”, comparou. Quando percebeu sua dificuldade, Luiza recorreu aos seus orientadores. “Procurei dois professores que me deram total suporte e terminei o ano entre os melhores da minha turma. O primeiro aprendizado que tive foi: é possível dominar a técnica e conseguir bons resultados a partir disso”. Foi o que Luiza fez. Mas a experiência não acabou ali. Quando chegou a
hora do estágio obrigatório, ela recebeu todas as vagas abertas pela universidade e, como consequência, outro grande aprendizado: não se limite apenas a sua área de estudo. “Os ingleses têm muita abertura para a troca de experiências. Fazer estágio na área de saúde pública foi uma experiência que, talvez, eu não tivesse no Brasil. Com certeza isso acrescentou para o meu curriculum e para minha vida pessoal”. Após o estágio obrigatório, Luiza voltou para o Brasil. “Foi triste, eu não queria voltar”. Contudo, com a certeza de que tinha desenvolvido um bom ano, encarou seu retorno com outros olhos. “Voltei para a faculdade e o esquema antigo trouxe um pouco de frustração. Fui tentando buscar soluções. Dentro da faculdade, por exemplo, não fazíamos maquete. Na primeira oportunidade que tive fiz uma e alguns professores não deram valor. Mas outra professora viu e me convidou para fazer oficinas de maquete para a turma de urbanismo, então comecei a trabalhar com ela. Além disso, depois de tanta frustração, passei a fazer parte do colegiado para discutir melhorias para o curso. Até a minha insatisfação foi importante porque trouxe frutos positivos”. Para Luiza, “fazer intercâmbio hoje já não é um diferencial; a diferença está no que você faz da sua oportunidade de estudar fora”. Esta foi uma reflexão gerada a partir do processo de inscrição para o concurso SwB UK Ambassador 2016. “Um dos objetivos dessa iniciativa é ajudar as pessoas a compreender o que foi o intercâmbio para elas, o que foi a experiência no Reino Unido. Participar do concurso te leva a refletir, olhar para trás e ligar os pontos do que real-
mente você aprendeu e em como isso influenciou sua vida”. Hoje Luiza cumpre o papel de promover a rede, participando de eventos como o Career Day, realizado em todo Brasil, além de fazer parte de encontros de integração e gerar conteúdo para o blog do projeto. Outro prêmio do concurso é uma viagem para o Reino Unido, que aconteceu no mês de março e foi a sua primeira missão no cargo. “A viagem é uma premiação, mas serviu também para conhecer mais sobre a Inglaterra, conhecer outras universidades, fazer contato e trocar experiências. Também tivemos alguns programas culturais. Entre eles, fomos assistir a uma peça de Shakespeare no The Globe”.
FORMEI, E AGORA? Após dúvidas, questionamentos, desafios vencidos e, enfim, a formatura, Luiza Negri e criou seu próprio empreendimento – a plataforma “Formei, e agora?” –, que tem como missão inspirar jovens a sonhar mais alto e mostrar as diferentes possibilidades que existem dentro de cada profissão. O site começou publicando histórias de diferentes profissionais que contam como foi sua experiência no início da carreia. Hoje também oferece outro serviço: coaching para recém-formados. De acordo com Luiza, o intercâmbio foi fundamental para ajudá-la a pensar fora da caixa e perceber que existem outras possibilidades profissionais. “Saber que o diploma não precisa te limitar e a ideia de que você pode aprender tanto quanto ou até mesmo mais fora da sala de aula foram essenciais para minha atuação hoje”.
brasilobserver.co.uk | Abril 2016 15
I M I G R AÇ ÃO NOSSA MISSÃO É AJUDAR AS PESSOAS. COMO PODEMOS AJUDÁ-LO?
Você tem direito à cidadania estrangeira? Descubra aqui Confira se você pode ter o direito ao passaporte italiano e/ou britânico Por motivos pessoais ou profissionais, muitos brasileiros buscam se naturalizar estrangeiros. A regra varia de país para pais. Em alguns países, como Itália e Alemanha, a obtenção de cidadania depende da existência de laços de sangue — se sua família tiver vindo de um desses países, você tem direito a dupla cidadania, mas deve passar por um longo processo. Para alguns outros locais, é necessária a permanência no país onde se quer ser naturalizado por alguns anos antes de dar início ao processo. Cada país tem uma legislação específica sobre o assunto. A LH4U elaborou um guia para informar se você pode aplicar para outra cidadania, indicando quais os documentos necessários para a naturalização italiana ou britânica com informação como documentação e o tempo de espera. Confira se você tem direito!
Italiano
Britânico
Quem tem direito:
Quem tem direito:
Ÿ Descendentes de italianos pela
Ÿ Por nascimento
linha paterna
1. A pessoa nasceu no Reino Unido antes de 1 de janeiro de 1983 2. Pessoas que nasceram no Reino Unido após 1983, tem o direto SE um dos pais já possuem a residência definitiva, o que vale para cidadãos britânicos ou europeus 3. Crianças que nasceram no Reino Unido e viveram 10 anos contínuos desde o nascimento têm direito à cidadania britânica.
Ÿ Descendentes de italianos pela
linha materna aos nascidos após 1948 no Brasil
Ÿ Mulheres casadas com italianos Ÿ Filhos nascidos de união não matrimonial (companheiros)
Documentos necessários:
Ÿ Descendência
Ÿ Certidão de nascimento Ÿ Certidão de casamento dos
Se você é filho de cidadãos ingleses, mas nasceu fora do Reino Unido, a sua naturalização britânica pode ser transferida automaticamente pelos seus pais, desde que você seja a primeira geração nascida fora do Reino Unido. Ou seja, seu pai ou mãe devem ter nascido no Reino
descendentes
Ÿ
Certidão de óbito (em alguns casos)
Ÿ Certidão de Naturalização (só para italianos)
Quanto tempo leva:
Ÿ Pela Itália – de três meses a um ano Ÿ No Brasil – de um a cinco anos Regulamentado pela Office of the Immigration Services Commissioner (OISC)
£1R8MÊ6S!* PO
Fee No WinoNnaomão Seu vist eiro ou seu dinh * de volta*
Ÿ Residência
Indivíduos residentes no Reino Unido e que adquiriram a residência permanente ou o visto definitivo (ILR), seja por família, trabalho, investimento, casamento, longa residência etc., podem, após 12 meses da residência definitiva, solicitar a naturalização britânica.
Ÿ Casamento ou união estável
Cônjuges e/ou parceiros civis de cidadãos europeus também podem solicitar a naturalização britânica, desde que tenham permanecido no país por um período mínimo de 6 anos.
Como funciona o processo
Ÿ
Com a residência definitiva (ILR) ou permanente, cumprindo os requisitos necessários, sendo aprovado no teste Life in the UK e tendo ao menos o nível B1 de inglês, o residente pode finalmente entrar com o processo de naturalização para se tornar de vez um cidadão britânico.
Passaporte/identidade cobrindo os últimos 5 anos
Ÿ Teste Life in UK Ÿ Certidão de casamento Ÿ Título de residência Ÿ Passaporte do cônjuge
Quanto tempo leva: Aproximadamente 3 meses
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Vistos de familiar envolvendo crianças e parceiros do mesmo sexo
E muito mais
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Unido ou se naturalizado britânicos no Reino Unido antes do seu nascimento. Se você for a segunda geração nascida fora do Reino Unido, você não tem esse direito.
Documentos necessários:
Nossos serviços incluem: EM 2016 E TORNE-S O BRITÂNIC CIDADÃO AS POR APEN
Francine Mendonça Diretora da LondonHelp4U com 15 anos de experiência em imigração britânica
Por e-mail: info@londonhelp4u.co.uk Visite-nos: 28A Queensway / Londres - W2 3RX
www.londonhelp4u.co.uk
16 brasilobserver.co.uk | Abril 2016
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Barack Obama, Timochenko e os Rolling Stones, juntos em Cuba Juntar em Cuba Obama e Raul Castro, Kerry e as FARC, e ter Mick Jagger a saltar de alegria, são uma maneira revolucionária de superar a revolução Por Abel Gilbert, no Open Democracy g www.opendemocracy.net
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É como se ilha mais uma vez estivesse no centro da história. Pobre ilha, outra vez: um furacão chega e arrasa as plantações de açúcar, as casas, e tudo precisa ser reconstruído. Mas quem poderia atrever-se a contradizer a sensação de que no Caribe os planetas se alinharam? Barack Obama aterrissou em Cuba para deixar para trás uma história de más relações e enterrar de forma definitiva os últimos restos do teatro de operações da Guerra Fria. As FARC e o governo colombiano reuniram-se em Havana com o Secretário de Estado John Kerry e se depararam com o aval e o encorajamento de Washington para percorrer o último trecho que falta para pôr fim a um sangrento conflito armado que dura há mais de meio século. E, como forma de encerramento musical simbólico, a banda Rolling Stones se apresentou perante a uma multidão na Cidade Desportiva de Havana. “Meio século depois”, diziam os cubanos, impressionados pelo poder da eletricidade e das figuras que passeavam pelo palco. Milhares de smartphones, muitos deles provavelmente adquiridos com dinheiro dos familiares que vivem nos Estados Unidos, registraram as cenas do concerto. Serão seguramente guardadas com a certeza de que aquela foi a noite em que tudo começou realmente a mudar. Tudo parece tão simples... Mas esse “meio século depois” encerra um dos grandes paradoxos do nosso tempo. Quisera eu voltar três semanas no tempo, ao momento em que Mick Jagger esteve em Buenos Aires, porque na capital Argentina se passou uma situação que talvez ajude a compreende melhor o que tem acontecido em Cuba. Jagger deixou-se fotografar no cemitério da Recoleta, onde está enterrada Eva Perón. Era a imagem de um turista impressionado com a arquitetura funerária? Ou era Jagger dizendo, como um Dorian Grey, por entre os túmulos aristocráticos: “estou além do tempo”? Talvez seja essa a desconcertante natureza do jogo em Sympathy for the Devil, uma das músicas mais conhecidas do grupo britânico, com a qual se encerrou o show em Cuba. A canção, que sugere um jogo de permanente e escorregadia ambiguidade, já tem quase “meio século”, tempo que os cubanos acreditaram estar à espera de Jagger e seus amigos. Há 48 anos, Jagger não se definia como um conservador com “c” minúsculo (alguém que rejeita a pressão fiscal do Estado e é tolerante em questões morais ou relativas à liberdade de expressão), nem os Stones eram
uma empresa. Não. Em 1968, ano em que foi composta a música Sympathy for the Devil, Sir Mick emergia como referência dos protestos que começavam a sacudir a Europa. Pelo menos era o que parte da esquerda castrista e até Jean Luc Godard pensavam. O filme One Plus One, aliás, registrou o processo de gravação de Sympathy for the Devil. As primeiras filmagens introduzem a estrutura da canção. Não há instrumentos elétricos. O filme termina com a versão do disco Beggars Banquet. O trabalho em construção, que se alterna com intervenções de membros do Black Panther Party, para Godard, era uma metáfora do processo revolucionário. O que pensava o cineasta? Quais
utilidades teriam aquelas imagens? Jagger tinha se inspirado em The Master and Margarita, sátira contra Stalin de Mijail Bulgakov. A obra permitia interpretações variadas, mas talvez nenhuma delas à altura das expetativas de Godard. O trajeto da canção é tão sinuoso que a National Review, revista estadunidense de direita, elegeu a música entre as 50 mais conservadoras. Não me parece que essas questões tenham sido motivo de preocupação na ilha, tampouco na Argentina ou na Colômbia. Os Stones evitam esses extremos. Mas, the song remains the same? O título daquele filme dos anos 1970 sobre os concertos do Led Zeppelin na Madison Square Garden se refere a algo que
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Abel Gilbert é jornalista, escritor e músico. É autor de vários livros, entre eles Cuba de Vuelta (1993) y Cerca de la Havana (1997).
Ismael Francisco/Cubadebate
ninguém pode evitar: o sentido das canções é sempre contingente, volátil, utilitário. Senão, como entender a trajetória de Stairway to Heaven, hino hippie do Led Zeppelin que chegou a disputar com Ride of the Valkyries, de Richard Wagner, o primeiro lugar nas listas de reprodução dos iPods dos soldados dos Estados Unidos no Iraque entre 2003 e 2013? Em Cuba, os Stones também tocaram Street Fighting Man, canção que de alguma forma se conecta com a “velha Cuba” que costumava transmitir ao mundo uma imagem desafiante e subversiva. Naquele ano, 1968, Jagger conversava em Londres com Tariq Ali, escritor britânico marxista de origem paquistanesa, membro da New Left Re-
view e da revista The Black Dwarf. Ali posteriormente recordou aqueles encontros no livro Street Fighting Years: An Autobiography of the Sixties. Durante a ofensiva estadunidense no Vietnam, o movimento de protesto contra a guerra cresceu exponencialmente na Inglaterra. Milhares de manifestantes enfrentaram a polícia na Governor Square. Entre os manifestantes estava (dessa vez) Jagger. Foi durante a recuperação dos golpes que sofreu que Jagger escreveu Street Fighting Man. A canção é musicalmente rudimentar, mas transmite a energia de uma época vertiginosa: “summer’s here and the time is right for fighting in the street”. Em uma entrevista dada ao International Times, o autor foi ainda mais longe do que a letra da música: “o sistema está podre (…) o momento chegou. A revolução é válida”. Excitado pelas circunstâncias, e no meio dos preparativos para uma segunda mobilização de rua, Jagger ofereceu a letra à The Black Dwarf. A revista imprimiu-a com uma citação de Engels (“um grama de ação vale mais que uma tonelada de teoria”) e o título “Mick Jagger e Fred Engels lutam na rua”. Quando a mixagem de Street Fighting Man foi terminada, em maio daquele ano, no meio dos acontecimentos em Paris, foi tomada a decisão de não distribuir o single na Inglaterra. A gravadora temeu que a mesma fosse interpretada como uma incitação à revolta. Nada disso foi discutido na ilha. Os Stones são uma empresa de entretenimento global. Como tal, espalharam sua música em uma ilha que já não apenas está impossibilitada de promover a mudança revolucionária: aquela revolução há muitos anos não existe (assim como os septuagenários Stones já não são mais aqueles que assustavam os pais de quem os ouvia). A ilha dirige-se inexoravelmente rumo ao capitalismo. Será primeiro um capitalismo com forte presença estatal. Mas, em algum momento, a burguesia emergente reclamará aquilo que Obama foi a Cuba pregar. Jagger e sua banda vieram para a inauguração. Pode ser dito que cantaram aos cubanos que tinham sido expulsos da festa durante décadas. Mas também pode ser dito que concerto celebrou a grande vitória diplomática de Obama, que retomou os vínculos com Cuba e teve um papel relevante no acordo de paz da Colômbia (os Estados Unidos estão convencidos que, quando se realizarem eleições, as FARC, convertidas em partido politico, obterão poucos votos). Mas, além disso, vale lembrar que toda a América Latina está a mudar de rumo em direção à direita. Se 2005 tende a ser recordado como o ano em que George Bush foi derrotado em sua tentativa de converter todo o continente numa grande zona de livre comércio, 2016 ameaça converter-se no ano em que sobrarão poucos vestígios daquele espirito anti-imperialista. A Argentina já virou à direita, o Brasil está prestes a fazê-lo e espera-se que o mesmo aconteça na Venezuela. Obama, ao concluir o seu mandato, poderá dizer que obteve Satisfaction.
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REPORTAGEM Edson Lopes Jr/A2AD
Desenvolvimento social ameaçado
Novo Posto de Atendimento ao Trabalhador na região do Brás, em São Paulo. A taxa de desocupação no país, no trimestre encerrado em janeiro deste ano, ficou em 9,5%, segundo o IBGE, maior taxa de desemprego registrada desde o início da pesquisa, em 2012
A redução da pobreza e a diminuição da desigualdade, conquistas dos últimos anos, estão em risco. Mas há saídas
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Por Wagner de Alcântara Aragão
A recessão econômica enfrentada pelo Brasil hoje – o país caminha para ter, em 2016, o segundo exercício consecutivo com queda do Produto Interno Bruto (PIB), com desemprego em crescimento desde o início de 2015 – representa séria ameaça ao desenvolvimento social experimentado nos últimos anos. A sensação é percebida por milhares de famílias que passaram a ter acesso a bens e serviços antes inimagináveis e que agora veem as dificuldades do passado voltar. O mestre em Ciências Econômicas Rodrigo Luis Comini Curi, que atua como assistente de pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), está estudando justamente os riscos de retrocessos ocasionados pela recessão econômica em curso, em seu doutorado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “O baixo crescimento econômico, ou a retração do PIB, afetam as condições de emprego e renda da população, bem como de arrecadação do governo – ou seja, debilitam
as três frentes que geraram as melhorias sociais [nos anos] anteriores”, explicou ao Brasil Observer. O pesquisador, autor de uma dissertação de mestrado sobre a mobilidade social no Brasil da década de 1950 à de 2010, ressaltou a relevância dos avanços verificados entre 2004 e 2014. Considerou, entretanto, que as melhorias foram “limitadas e insustentáveis”, diante do cenário atual. “Foram limitadas porque, apesar de enfrentar as condições de extrema pobreza – no combate à fome, por exemplo – e também de dar acesso ao consumo de bens duráveis para um grande grupo populacional, não geraram as condições econômicas e sociais para que esse grupo atingisse um padrão de vida verdadeiramente de classe média”, argumentou. Na avaliação dele, o surgimento de uma “nova classe média brasileira” não passou, na realidade, “da constituição de um grupo de remediados, com maior acesso a bens de consumo duráveis” – ao custo de um maior endividamento familiar. Além disso, acrescentou o pes-
quisador, essa “nova classe média” continuou órfã de serviços essenciais – tais como saúde, educação, segurança pública – de melhor qualidade. “A oferta pública desses serviços no Brasil é insuficiente, e a oferta privada é cara, de difícil acesso para a classe média baixa”. Doutora em Ciências Econômicas, a professora Ana Cristina Lima Couto, da Universidade Estadual de Maringá (UEM), também identifica que o cenário atual põe em risco as conquistas sociais recentes. “A redução da pobreza e da desigualdade de renda a partir dos anos 2000 se deu num contexto favorável para a economia brasileira, sendo explicadas por vários fatores como a melhora do mercado de trabalho, a elevação real do salário mínimo, a unificação de programas sociais que ampliou a transferência de renda (dando origem ao Bolsa Família) e a expansão das aposentadorias e pensões, sobretudo no meio rural. Recentemente a situação mudou completamente. O país passa por uma crise econômica e política muito grave”, advertiu.
Para ela, com o atual contexto de “recessão prolongada, queda da produção, redução dos investimentos e elevação da taxa de desemprego”, a probabilidade é grande para um crescimento da pobreza na população, “ao menos conjunturalmente”. “Com mais pessoas desempregadas e a consequente queda da renda, o risco de a família passar para a situação de pobreza aumenta muito. Acredito que é um risco mais conjuntural. Por isso mesmo a relevância da manutenção de programas de distribuição direta de renda, como o Bolsa Família, para minimizar os efeitos da recessão sobre uma parcela da população”, defendeu a professora.
CAMINHOS Cálculos do Ipea corroboram a defesa da docente da UEM. De acordo com o Instituto, cada R$ 1 investido em política social adiciona de R$ 0,76 a R$ 0,78 no Produto Interno Bruto. Além de referendar a importância de programas de distribuição de renda para minimizar
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efeitos da instabilidade econômica e mesmo reaquecer a economia, o Ipea prepara para este ano uma edição do “Brasil em Desenvolvimento”, publicação que terá a finalidade de diagnosticar o quanto a crise tem impactado os avanços sociais e, mais que isso, propor saídas desse labirinto. Tanto a professora Ana Cristina Couto, da UEM, como o pesquisador Rodrigo Curi, da Unicamp e do Ipea, consideram importante a adoção de medidas anticíclicas, como foi feito durante o estouro da crise econômica global em 2008 e 2009. Entretanto, frente às circunstâncias atuais, as soluções então aplicadas dificilmente terão resultados tão efetivos como naquela ocasião. Entre as medidas que o Brasil seguiu à época, esteve uma ampliação do crédito – tanto para o setor produtivo como, principalmente, o microcrédito (para famílias, microempreendedores individuais e trabalhadores rurais, por exemplo). “A política de estimular o crédito é bem-vinda”, observou Ana Cristina, “porque pode contribuir para dar algum fôlego à economia”. A professora se referiu, especialmente, à concessão de crédito para grandes investimentos, como saneamento básico e obras de infraestrutura, e ainda para capital de giro para pequenas e médias empresas. “Mas é importante destacar que essa medida pode ter um efeito aquém do desejado, porque estamos vivendo um momento de expectativas negativas em relação ao crescimento, emprego e renda. Sendo assim, os empresários tendem a segurar seus planos de gastos, e a demanda por crédito pode não se realizar devidamente”, ressalvou. Rodrigo Curi afirmou que esta é a ocasião de o Brasil discutir mudanças radicais em sua economia. “Em termos paliativos, creio que o foco seria na expansão do auxílio-desemprego e do Bolsa-Família, uma vez que os maiores perdedores da crise são as camadas mais baixas da população, que ao mesmo tempo representam o núcleo de transformação do país e que não podem ficar ao relento neste momento. Mas não há política paliativa que se sustente com o baixo crescimento econômico que ocorreu nos últimos cinco anos. Então, para mim, não há saída melhor do que lidar com as questões econômicas estruturais do país, em tentar transformar este momento em oportunidade para retomar questões essenciais, que parecem às vezes esquecidas.” Há, entretanto, um componente a travar ensaios para a recuperação da atividade econômica: a crise política que se instalou principalmente depois das eleições de 2014, agravada mais ainda com o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Na avaliação de Ana Cristina, a economia enfrenta problemas reais, próprios, porém “amplificados” pela turbulência incessante no campo político. “Os dados mostram que a economia brasileira não vai bem: recessão, queda dos investimentos, juros altos, inflação alta, aumento do desemprego. O maior problema de todos é o crescimento. [Mas] tal crise política está impedindo
a aprovação de medidas no Congresso Nacional que poderiam dar confiança aos mercados”, exemplificou. Para Rodrigo Curi, é impossível dissociar economia de política. Assim, a crise desta inviabiliza saídas para a crise econômica. “Não há como encaminhar um projeto de recuperação econômica com o caos político em que está o país. Não há como aprovar medidas de aquecimento econômico e de reestruturação produtiva sem um Estado forte, sem a confiança populacional no governo e principalmente sem a confiança dos investidores na estabilidade econômica e política.” O analista ponderou: “Entendo que, apesar do contexto atual demandar ações emergenciais, é preciso sempre manter na consciência o que se quer no longo prazo para o país. Qual o projeto de nação para o Brasil? Essa pergunta envolve não apenas o governo e os formuladores de política, mas sim abarca a população como um todo”.
VIDA REAL Um exemplo concreto das implicações que a crise política tem causado à economia real é a experiência pela qual tem passado o casal Gênesis Maróstica e Margarete Mendes. Os dois têm uma pequena imobiliária no Tatuquara, popular bairro de Curitiba. A microempresa comercializa imóveis na região, via financiamento da Caixa Econômica Federal, subsidiados pelo programa Minha Casa Minha Vida. O casal conta que são muitos os clientes que procuram a imobiliária dispostos e em condições (renda compatível com a prestação) de fechar negócio. No entanto, preocupados com as incertezas do cenário político e dos efeitos que isso pode ter no emprego e renda da família, acabam adiando a realização do sonho da casa própria. Além disso, o ajuste fiscal colocado em prática no início de 2015 afetou diretamente o negócio de Gênesis e Margarete, e tem restringido o acesso ao financiamento imobiliário por parte das famílias mais pobres. Por conta dos drásticos cortes no orçamento, os valores dos subsídios do Minha Casa Minha Vida aplicados nas simulações de financiamento diminuíram, tornando as prestações mais onerosas e, assim, afastando compradores de imóveis populares. Um alento veio na última semana de março, quando a presidenta Dilma Rousseff lançou a terceira fase do programa habitacional, alterando as faixas de renda atendidas e revendo os subsídios. Neste momento em que a impressão generalizada é a de que o Brasil está travado em razão do embate político, o Minha Casa Minha Vida parece ser a aposta do Governo Dilma para reaquecer a atividade econômica e recolocar o país no caminho dos avanços sociais. No discurso de lançamento da terceira fase do programa, a presidenta ressaltou que, embora históricas, as recentes melhorias de condições de vida da população brasileira ainda estão aquém das reais necessidades. “Inclusão social não é só distribuição de renda. O fim da miséria é só um começo.”
Redução da desigualdade exige tributação justa Em artigo publicado no site da revista Carta Capital, o doutor em Direito Tributário Marcos de Aguiar Villas-Bôas aponta o sistema tributário brasileiro como uma das razões a impedir uma redução mais significativa das discrepâncias sociais. A carga tributária é mais pesada para os assalariados e os mais pobres do que para os detentores de grandes fortunas. Villas-Bôas, para o artigo, analisou dois trabalhos recentes sobre a desigualdade social no Brasil: um realizado por Marc Morgan Milá, na Paris School of Economics, supervisionado pelo economista Thomas Piketty, e outro por Pedro Souza, pesquisador do Ipea que estudou nos Estados Unidos com Emmanuel Saez, um dos principais parceiros de Piketty. “O trabalho de Milá em Paris analisou um período de 1933 a 2013 e concluiu que o 1% mais rico do Brasil detém hoje 27% de toda a renda, tendo havido uma concentração média de 25% da
renda nas mãos desse 1% desde o meio da década de 70. Isso significa que, nos últimos 40 anos apenas 1/100 das pessoas dispõe de 1/4 de toda a renda”, sintetiza o articulista, que continua: “O trabalho de Pedro analisou um período de 1928 a 2012 e concluiu que a queda de desigualdade acontecida nos últimos anos no Brasil se deu apenas na base, ou seja, houve uma positiva melhora da vida dos mais pobres, porém não se concretizou uma queda da desigualdade geral devido à contínua concentração da renda nas mãos dos mais ricos”. Villas-Bôas indica como saída para o problema uma tributação progressiva, isto é, aquela em que os do topo da pirâmide paguem mais impostos que os da base. “A tributação progressiva é capaz de desconcentrar a renda no topo; (…) portanto ela é o início do processo de redução da desigualdade. (…) Quanto mais concentração de renda, mais fraca fica a economia, com menos investimentos e consumo, e mais fraca fica a democracia”.
AVANÇOS EM 10 ANOS g
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ÍNDICE GINI (quanto mais próximo de 1, maior o grau de desigualdade) 2004: 0,570 2014: 0,515 Redução de 9,65% MÉDIA DE RENDA DOMICILIAR PER CAPITA (já com ajuste inflacionário) 2004: R$ 549,83 2014: R$ 861,23 Aumento de 56% POBREZA (renda familiar inferior a R$ 70/mês – critério nacional) 2004: 7,38% 2014: 2,71% Redução de 63% POBREZA (renda familiar inferior a US$ 1,25/dia – critério internacional) 2004: 9,37% 2014: 3,09% Redução de 67% ANOS MÉDIOS DE ESTUDO DA POPULAÇÃO DE 18 A 29 ANOS 2004: 9,3 2014: 10,1 Aumento de 8,6% TAXA DE ALFABETIZAÇÃO DA POPULAÇÃO MAIOR DE 15 ANOS 2004: 88% 2014: 91,7% Aumento de 4,2% TAXA DE DESEMPREGO 2004: 8,9% 2014: 6,9% Redução de 22,5% TAXA DE INFORMALIDADE 2004: 52,88% 2014: 39,93% Redução de 24,5%
EFEITOS DA CRISE ATUAL g
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DESEMPREGO Média em 2015: 8,5% Alta de 23% sobre 2014 RENDA MÉDIA MENSAL DO TRABALHADOR Final de 2015: R$ 1.913 Diminuição de 2% sobre o final de 2014 PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB) 2014: 0,1% 2015: -3,8%
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Londres vai às urnas eleger novo prefeito É a quinta vez que o pleito para a administração municipal será realizado. Brasileiros com cidadania europeia podem votar Prefeitura fica perto da Tower Bridge
Por Márcio Apolinário
Depois de dois mandatos consecutivos do atual prefeito Boris Johnson, do Partido Conservador, a população de Londres vai às urnas no próximo dia 5 de maio para eleger o novo mandatário da cidade. É a quinta vez que o pleito para a administração municipal será realizado. O cargo foi criado em 2000, após um referendo. Na mesma data será eleita também a Assembleia de Londres. Com um orçamento anual de 17 milhões de Libras, equivalente a R$ 84 milhões e 55% maior do que o de São Paulo (R$ 54 milhões), o desafio do novo prefeito será gigante. A capital passa por um momento de transformação, tendo ultrapassado neste ano o recorde histórico de população das últimas sete décadas, de 8,6 milhões de pessoas. A última vez que a cidade atingiu esse índice foi no primeiro ano da Segunda Guerra Mundial, quando foram registrados 8,61 milhões de habitantes na capital. De lá para cá, os índices foram caindo até a década de 1980, quando chegou a 6,6 milhões. A queda começou a ser revertida no início dos anos 2000. O “boom” populacional tem trazido impactos negativos ao trânsito da cidade, ano após ano. Não para menos, a área de transportes é uma das principais bandeiras de campanha dos dois principais candidatos à prefeitura. Neste tema, o candidato do Partido Conservador, Zac Goldsmith, defende maiores investimentos na
TFL (Transport for London). Durante sua campanha, Goldsmith também tem assumido o compromisso de ampliar o plano de expansão da parte sul do London Overground. Além disso, ele também defende uma proibição de veículos pesados no centro da cidade durante o horário de rush, após uma série de mortes de ciclistas, além da expansão de outros sistemas viários da capital. Para efeito de comparação, a medida é parecida com a restrição de caminhões adotada em São Paulo desde 2011. Na capital paulista, a proibição vale das 5h às 9h e entre 17h e 22h, passível de multa de R$ 85,13. Ainda na área de transportes, o representante do Partido Trabalhista, Sadiq Khan, tem adotado uma proposta que mexe diretamente com o bolso do cidadão londrino: a promessa de congelar tarifas até 2020. Pelos cálculos do candidato, o custo do congelamento giraria em torno de 450 milhões de libras nos próximos quatro anos. A TFL, que gerência o sistema de transportes, acredita que o custo do subsídio para manter a tarifa no mesmo valor seria muito maior, chegando a 1,9 bilhão de libras até o fim do mandato. O congelamento da tarifa tem sido motivo de troca de farpas durante a campanha. O candidato Conservador afirmou que o congelamento da tarifa pode acabar sufocando os investimentos na área de transportes da cidade. “Há uma escolha muito clara nesta
eleição, o experimento imprudente de Khan com o futuro de Londres e o meu plano para garantir esse futuro”. Em resposta, Sadiq Khan, que já foi Ministro dos Transportes, disse que os londrinos têm uma decisão cristalina sobre discussão das tarifas: “o valor congelado durante os próximos quatro anos caso eu seja eleito, para que o cidadão não pague nenhum centavo a mais até 2020, ou um aumento de 17% em caso de uma vitória de Zac Goldsmith”.
INTENÇÃO DE VOTO A promessa de uma tarifa congelada até 2020 tem trazido resultado. Pesquisa realizada entre os dias 8 e 10 de março mostra que o candidato trabalhista mantém a liderança na corrida à cadeira de prefeito. Segundo o levantamento feito pela consultoria YouGov, Khan ganharia as eleições com 32%. Ele possui sete pontos percentuais a mais do que Zac Goldsmith, que aparece em segundo lugar com 25% das intenções de voto. Embora o candidato Trabalhista tenha certa vantagem, Goldsmith pode virar o jogo caso foque suas forças nos 23% de indecisos, parcela que vem diminuindo nas últimas sondagens. A pesquisa também perguntou quais as áreas que devem ser priorizadas pelo futuro prefeito, com a maioria dos entrevistados apontando para habitação e transportes como suas
principais preocupações. Saúde, policiamento e desenvolvimento econômico aparecem na sequência. A Câmara de Comércio e Indústria de Londres também divulgou uma pesquisa feita com empresários do setor, para saber a posição deles em relação aos principais postulantes ao cargo de prefeito. A pesquisa realizada pela ComRes mostra que os líderes empresariais da cidade acreditam que o conservador Zac Goldsmith tenha uma visão mais pró-negócios (65%) do que a de Sadiq Khan (39%). O levantamento também mostra a preocupação dos empresários em relação ao setor de transporte. Segundo a pesquisa, 38% deles acreditam que o custo dos transportes em Londres seja um dos maiores desafios para as pequenas empresas, que buscam crescer e expandir seus negócios. O resultado soa como um recado claro aos principais candidatos. Para o presidente do Conselho de Negócios de Londres e CEO da Câmara de Comércio e Indústria, Colin Stanbridge, o resultado da pesquisa colabora para o debate e tomada de decisões do novo prefeito. “Os resultados apontam para a preocupação do setor em relação às áreas de habitação, transporte e investimento em infraestrutura, para garantir o futuro de Londres como uma cidade atraente, produtiva e competitiva”, analisou Stanbridge, durante a apresentação dos resultados.
brasilobserver.co.uk | Abril 2016 21
Reprodução
PRINCIPAIS CANDIDATOS g
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VOTO BRASILEIRO Muitas pessoas não sabem, mas brasileiros com cidadania europeia também podem participar das eleições municipais de Londres. O regulamento é bem simples. O cidadão só precisa se registrar no site www.gov.uk/registerto-vote até o dia 18 de abril. No portal, ele encontra todas as informações necessárias a respeito das eleições. “Acho extremamente importante poder votar no país que vivo, pois, uma vez que decidimos residir aqui, participar na escolha dos nossos representantes pode efetivamente melhorar o nosso bem-estar na cidade. Ainda mais quando se trata do prefeito de Londres”, afirmou o brasileiro Max Candido, que vai votar pela primeira vez em Londres, ao Brasil Observer. Indo contra a maré de candidatos mais bem colocados na pesquisa, Max vê no Partido Verde uma melhor opção. “Até o momento as propostas da Sian Berry são as mais acertadas com o meu modo de enxergar Londres. Diminuir a poluição mudando a forma com que os residentes se locomovem, dando mais espaço para ciclovias e melhorando as vias para pedestres. É claro que isso implica em mais taxas para quem usa carro na cidade, mas como ela mesma diz: ‘there’s no gain without pain’. De qualquer forma, acredito que o bem comum deve vir primeiro, antes de acharmos que as ações devem nos beneficiar individualmente apenas”, disse.
COMO FUNCIONA No dia 5 de maio os moradores de Londres vão às urnas eleger um prefeito e 25 membros da Assembleia de Londres. g
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O que o prefeito faz? As quatro principais áreas controladas pelo prefeito são 1) transporte; 2) segurança; 3) meio ambiente; e 4) habitação e planejamento. O prefeito também é encarregado das áreas cultural e artística, negócio, incêndio, saúde, regeneração, esporte e juventude. O que a Assembleia de Londres faz? A Assembleia de Londres debate as políticas do prefeito. A assembleia também deve ser consultada em relação ao orçamento da cidade, podendo rejeitar ou alterar o mesmo se dois terços da casa concordarem. Votando para o cargo de prefeito Usando a cédula de cor rosa, os eleitores escolhem dois candidatos, em ordem de preferência. Os votos são contados e, se um candidato conseguir mais da metade das primeiras preferências, é eleito prefeito. Se nenhum candidato conseguir esse feito, permanecem na disputa os dois melhores colocados. Todos os votos dados a esses dois candidatos como segunda preferência
são adicionados ao total. Quem tiver mais votos combinados é eleito. Voto de segunda preferência em candidatos que disputam a rodada final com a primeira escolha não são contados. g
Votando para a Assembleia de Londres Eleitores têm duas cédulas para escolher os dois tipos de membro da assembleia. A cédula amarela é usada para escolher o membro do distrito eleitoral. Eleitores escolhem um candidato para representar sua área de Londres. Quem receber mais votos para aquela área ganha. A cédula laranja é usada para escolher um dos 11 membros adicionais da assembleia, que representam toda a cidade de Londres. Neste caso, eleitores escolhem um partido político ou um candidato independente. Os membros adicionais são alocados de forma proporcional, através de uma fórmula matemática conhecida como Modified d’Hondt Formula. Esta fórmula leva em conta o total de votos e o número de cadeiras que cada partido ganhou.
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Zac Goldsmith (Partido Conservador) – Filho do bilionário Sir James Goldsmith, foi educado em Eton e Cambridge antes de se tornar editor da revista Ecologist. Eleito Membro do Parlamento por Richmond Park em 2010 e reeleito em 2015. É conhecido por seu envolvimento em questões ambientais e oposição à expansão do aeroporto de Heathrow. Pretende seguir a tradição de Boris Johnson, com a promessa de não aumentar o imposto municipal e ao mesmo tempo garantir mais investimentos para a modernização do metrô. Diz que vai assegurar que Londres construa 50 mil casas por ano até 2020, respeitando o cinturão verde da cidade. Sadiq Khan (Partido Trabalhista) – Filho de um motorista de ônibus, ele cresceu em um conjunto habitacional no sul de Londres. Formou-se em direito e se tornou especialista em direitos humanos, representando vítimas de racismo por parte da polícia londrina. Eleito Membro do Parlamento por Tooting em 2005, tornou-se um dos primeiro britânicos muçulmanos a assumir cargo de ministro, primeiro no departamento de Comunidades e depois de Transporte. Promete congelar as tarifas do transporte público de Londres por quatro anos. Seu objetivo é construir ao menos 80 mil casas por ano e garantir que 50% dos imóveis construídos em terrenos públicos sejam designados como acessíveis. Sian Berry (Partido Verde) – Única conselheira do Partido Verde no distrito de Camden, controlado pelo Partido Trabalhista, concorreu à prefeitura de Londres em 2008. Trabalhou em empresas farmacêuticas antes de envolver com política. A esperança do Partido Verde é pelo menos repetir o resultado de 2012, quando a candidata Jenny Jones ficou em terceiro lugar, à frente do Partido Liberal Democrata. Sian Berry revelou que pretende reduzir as tarifas de transporte transformando toda a cidade de Londres em uma única zona. Ela também prometeu fechar o City Airport, localizado na zona leste da capital, perto de Canary Wharf. Caroline Pidgeon (Partido Liberal Democrata) – Única concorrente com cadeira na Assembleia de Londres, onde está desde 2008, é líder do partido na casa e ocupa a segunda posição dos comitês de Transporte e Segurança. Promete derrubar as barreiras que impedem que Londres seja uma cidade para todos. Sua principal proposta é reduzir pela metade as tarifas de transporte para viagens realizadas antes das 7.30am. Peter Whittle (Partido da Independência) – Ex-porta-voz do partido para Cultura, argumenta que faltam vozes de direita no debate cultural e tem reclamado constantemente dos efeitos da vinda de imigrantes da União Europeia para Londres, especialmente na questão de habitação. Defende que a polícia adote uma abordagem mais severa, parando cidadãos na rua, para reduzir a criminalidade, principalmente dos jovens.
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CONECTANDO
Transformando a comunidade No próximo verão, a organização Quilombo UK colocará em prática o projeto ‘Inspire’, na região de Kingston upon Thames, sudoeste de Londres. Workshops criativos, em julho e agosto, vão incentivar as pessoas a pensarem de forma diferente a relação com outros grupos étnicos, combatendo preconceitos Por Ioana Costin
SOBRE O QUILOMBO UK Quilombo UK é uma organização de marketing social beneficente ligada à comunidade de Kingston. Foi estabelecida em 2009 para suprir uma necessidade identificada por vários projetos criativos organizados pela escola Axé Capoeira UK, comandada pelo presidente do Quilombo UK, de criação de uma comunidade mais coesa. Promover igualdade e criar inclusão, enquanto inspirando as pessoas a pensarem sobre as diferenças culturais de forma distinta, são os principais objetivos da organização. O nome “Quilombo” deriva da palavra usada para descrever os assentamentos que serviam de refúgio para os escravos – locais onde aqueles que fugiam do cativeiro se juntavam aos corajosos que pensavam de forma diferente e em desacordo com a escravidão. Juntos eles formavam uma comunidade viva, com cultura, música e dança. Encorajar união semelhante em Kingston é o primeiro passo para promover diversidade e inclusão. Em caso de sucesso, a organização pretende promover eventos em escala maior por Londres e pelo Reino Unido.
O PROJETO ‘INSPIRE’ Durante o verão 2016, com financiamento da Loteria Nacional (National Lottery), o Quilombo UK vai promover eventos com o mote
“inspire”. ‘Inspire’ é um projeto com foco comunitário que consiste em uma série de workshops. Seu objetivo é encorajar a mente aberta e a tolerância dos residentes de Kingston e inspirar os participantes a pesarem de forma diferente; isso significa quebrar preconceitos e estereótipos em relação aos membros daquela comunidade que têm outras origens étnicas. Os workshops que acontecerão em julho e agosto são: Desafiando estereótipos – Os participantes vão conhecer a história de um indivíduo sem saber sua idade, origem étnica e aspecto físico. Em seguida, serão instigados a adivinhar a identidade da pessoa descrita. Esse “teste cego” ajuda a revelar preconceitos e a quebrar estereótipos. Caça ao tesouro – Este workshop oferece a oportunidade de se desenvolver um intercâmbio de tesouros culturais entre diferentes grupos de pessoas, através das tradições e crenças de cada um. Entender e celebrar as diferenças ajuda a promover uma comunidade mais coesa. Cena comunitária – Intervenções para gerar debate sobre discriminação. Pequenas cenas vão mostrar situações em que pessoas foram pré-julgadas por conta da aparência, levantando a questão da injustiça social. Para atingir o maior número de pessoas possível, os workshops serão realizados nos quatro bairros de Kingston. g
Isso vai aumentar o nível de união da comunidade. O trabalho com o conselho de Kingston e os eventos específicos para cada bairro vão facilitar a participação de residentes que de outra forma não se engajariam com a proposta do projeto – engajamento civil tenda a gerar mais engajamento civil, algo que seria de extrema importância para a comunidade agora e no futuro.
BENEFÍCIOS À COMUNIDADE Kingston upon Thames é uma região diversa: 26% de seus residentes fazem parte do grupo étnico BAME (Black, Asian and Minority Ethnic); lá está a maior comunidade coreana da Europa. Todavia, uma questão identificada pelo Quilombo UK em discussões com parceiros locais e projetos anteriores é que, apesar dessa diversidade, falta integração entre os grupos, o que pode levar à discriminação e isolamento. O Quilombo UK espera encorajar as pessoas a pensarem sobre essa questão, incentivando mudanças de comportamento através da conscientização de que preconceitos, que surgem pela mídia ou pelo ambiente social, podem terminar em atitudes discriminatórias. O objetivo é atingir ao menos 1.500 residentes com o projeto ‘Inspire’. Além disso, um documentário em curta-metragem será produzido para apresentar as descobertas feitas durante os workshops,
que vão incluir dados sobre a integração local. Através das mídias locais e sociais espera-se atingir um número ainda maior de pessoas. O conteúdo será uma ferramenta informativa, assim como um exemplo para outros projetos.
PROJETOS ANTERIORES Desde 2009, a organização Quilombo UK tem realizado workshops em escolas, universidades e comunidades carentes, inclusive um projeto com moradores de rua, conectando-os com suas comunidades e serviços locais. Mais recentemente, realizou seu primeiro grande projeto, chamado ‘Celebrating Freedom’, que impactou mais de 1.500 pessoas e reuniu figuras importantes, como o conselheiro local Dennis Doe e o chefe do departamento de igualdade racial de Kingston John Azar. Organizações como Kingston Refugee Action e instituições como Kingston College & Kingston University reconheceram o sucesso desses eventos e sinalizaram suporte e desejo de trabalhar em parceria com o Quilombo UK.
PARTICIPE! Quanto mais pessoas participarem, mas fortes e unidas ficarão as comunidades. O Quilombo UK busca apoio de todas as formas, desde vozes influentes a voluntários que possam ajudar na organização.
Para saber mais, entre em contato pelo telefone 0208 6179570 ou pelo email ioanac.quilombouk@gmail.com
Divulgação/Quilombo UK
CONECTANDO é um projeto criado pelo Brasil Observer que busca fomentar experiências de comunicação ‘glocal’. Em parceria com universidades e movimentos sociais, nosso objetivo é fazer com que pautas locais atinjam uma audiência global. Para participar e/ou obter mais informações, escreva para contato@brasilobserver.co.uk
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ANIVERSÁRIO DE 2 ANOS A revista
Apresenta: Produção: INGRESSOS À VENDA EM TODOS OS PONTOS HABITUAIS
PUBLICIDAdE & ENTRETENIMENTO
24 ABRIL 2016
PELA PRIMEIRA VEZ EM LONDRES
ABERTURA DOS PORTÕES 15:00 SHOW PREVISTO PARA 17:00
INFORMAÇÕES:
Local:
O2 FORUM KENTISH TOWN
9 - 17 Highgate Road, Kentish Town, NW5 1JY London
0044 79 8449 6533 Duda
Apoio:
Sharing a Passion for Food & Wine
dasilva hairandbeauty
24 brasilobserver.co.uk | Abril 2016
DO FADO A fadista portuguesa Ana Moura e o rapper brasileiro Criolo representam o idioma português no festival latino La Linea Por Gabriela Lobianco
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De um lado temos o Fado, estilo musical de tônica triste e amargurada que surgiu em Portugal no princípio do século 19. Ostenta o título de patrimônio da humanidade e hoje em dia é interpretado por expoentes da nova geração, como Carminho, o grupo Deolinda e Ana Moura.
Do outro lado, o Rap (abreviação de ritmo e poesia), gênero surgido na década de 1960 que declama em manifesto as lutas das periferias. Consolidado no cenário brasileiro principalmente com o grupo Racionais Mc’s, na década de 1990, nos últimos voltou aos holofotes com a ascensão de novos artistas, como Leandro Roque de Oliveira, o Emicida, e Kleber Cavalcante Gomes, o Criolo. É nessa toada que o festival de música latina de Londres, o La Linea, que ocorre no mês de abril, traz em sua 16º edição dois expoentes representantes do universo da língua portuguesa que, à primeira vista, parecem não ter nada em comum. A fadista Ana Moura, que já está com o espetáculo do dia 19 de abril completamente esgotado, e o brasileiro Criolo, que participa de uma miniturnê pelo Reino Unido, começando em Cambridge no dia 21 de abril e passando por Bristol (22), Leeds (23), Londres (24), Brighton (25) e Manchester (26). Há quem pense que o Rap e o Fado são estilos musicais completamente distintos com suas harmonias e construções melódicas destoantes. Mas ambos trazem versos poéticos para contar histórias. Ana Moura teve a ideia de juntar os dois estilos quando foi ao Brasil. “Lembrei-me logo que poderia ser interessante juntar o Rap ao Fado, estes dois gêneros musicais tão distintos, mas igualmente urbanos, que contam histórias concretas e reais”, disse ao Brasil Observer. Criolo concordou. Para ele, existe uma “fusão de tudo com tudo na música”. E acrescentou: “só os homens têm fronteiras, as artes não”. O produtor do evento, Andy Wood, afirmou que o festival prioriza uma representação abrangente de música latina contemporânea. “Este é o festival que deu ao Seu Jorge sua estreia no Reino Unido. Sempre estamos em busca do que é novo e interessante no Brasil”. Em junho, aliás, a produtora Como No, que organiza o La Linea, traz de volta a Londres o Bixiga 70, banda instrumentalista e dançante de São Paulo que estreou em solo britânico em janeiro passado. Wood acredita que uma audiência que esteja aberta para diferentes tipos de músicas pode se beneficiar com a diversidade do festival. “Esperamos que o público da Ana também confira o show do Criolo e vice-versa”, disse. Apesar de se apresentarem em dias diferentes, tanto a portuguesa quanto o brasileiro estão em um período fértil de suas carreiras. Os dois estão com trabalhos novos.
Ana Moura e Criolo: Portugal e Brasil no La Linea
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Isabel Pinto
AO RAP
Léo Aversa
O novo álbum da fadista, Moura, surgiu, segundo a própria, de “uma vontade nova que tenho de me reinventar em cada disco, dai ter uma borboleta na capa, que simboliza essa ideia de metamorfose”. Embora os compositores e a produção sejam os mesmos do seu último trabalho, a cantora considera que o trabalho é “musicalmente mais arrojado que o anterior”. Não é para menos, pois conta com um dueto com Omara Portuondo, diva da Orquestra Buena Vista Social Club, que inclusive se apresentou em Londres no início de abril. Ana Moura participou de um concerto do grupo cubano há dois anos em Portugal e, ao gravar “Eu entrego”, pensou que tinha semelhanças com os ritmos de Cuba. “Achava que fazia sentido contar esta história de dois pontos de vista diferentes, do meu e do ponto de vista de uma voz mais amadurecida”, explicou. Reinvenção acaba por ser também a temática de Criolo, que relança o seu primeiro e menos conhecido CD, Ainda há Tempo, de 2006, para celebrar a marca de dez anos deste início. A primeira tiragem do trabalho teve apenas 500 cópias, o que motivou o rapper reviver o disco e trazer aos fãs shows inéditos. “Penso que levo um tanto da minha história para o mundo e um tanto trago de volta aos meus”. Nesta concepção, cada faixa é acompanhada da apresentação num telão de LED de algo que remete à sua trajetória como artista. Além dos shows na Inglaterra, o artista se apresentará em varias cidades do Brasil. “Espero que, quem for, vá de coração aberto para dividirmos a boa energia que será gerada no momento e para o além”, contou Criolo ao Brasil Observer. O destaque fica por conta de “Chuva ácida”, que ganhou um videoclipe.
VELHOS CONHECIDOS Os dois artistas já brilharam em um dueto no Festival de Fado do Rio de Janeiro, em 2013. A canção “Amor Afoito” foi o resultado desta parceria. Ana Moura disse que gosta de gêneros como o Rap, R&B e Soul, e que convidou Criolo para cantar com ela porque o acha extraordinário. “Acho que ele é um artista extremamente criativo e completo, raro nos dias de hoje.” O rapper não fica atrás nos elogios. “Ana Moura é uma pessoa espetacular e grande artista, dona de uma voz suprema, e a vida é assim, às vezes nos presenteia com algumas coisas maravilhosas e poder estar junto à amada Ana Moura, viver este momento, é de grande satisfação para mim.” Assim, o La Linea promete agradar os ouvintes da língua portuguesa. O festival conta também com as apresentações de Daymé Arocena, La Yegros e Chico Trujillo, entre outros artistas.
LA LINEA FESTIVAL Quando 17 a 28 de abril Onde vários locais Info www.comono.co.uk/la-linea
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COLUNISTAS FRANKO FIGUEIREDO
Pare Leia Pense Responda
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Estamos só disseminando bobagens em vez de conhecimento?
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Franko Figueiredo é diretor artístico e produtor associado da Companhia de Teatro StoneCrabs
Assisti recentemente a uma produção da peça Love and Information, de Caryl Churchill, que me fez pensar sobre a atual avalanche de informações que circula pelas redes virtuais e como isso tem nos afetado.
Estamos sendo bombardeados por mais notícias, fofocas e trivialidades do que podemos digerir? Estamos sendo forçados a nos entorpecer com a miséria dos outros? A informação está sendo usada principalmente para manipular e dominar? Estamos só disseminando bobagens em vez de conhecimento? Como parte de uma comunidade da era digital, podemos acessar a inteligência mais obscura através de alguns cliques, mas somos totalmente insensatos para saber o que fazer com isso. Tanta informação pode se tornar opressiva e alienante. Lendo comentários postados abaixo de artigos políticos, ou nos fóruns usuais de redes sociais, reparei que a quantidade de críticas cruéis e odiosas está mais frequente do que antes. Então comecei a questionar: estamos usando esses espaços apenas para desabafar nossas frustrações? Responderíamos da mesma forma se estivéssemos conversando cara a cara? Seria a falta de palavras e habilidade para nos expressarmos corretamente o motivo de tantas postagens abusivas? Este é o desafio aqui. A velocidade com que somos exigidos a responder determinada questão está pressionando as pessoas a reagir em vez de pensar. A ausência de consciência social está se tornando a norma nas redes sociais! Respostas de nossa mente animalesca e emocional estão se tornando mais prevalentes do que nunca. Como podemos desenvolver uma maneira mais paciente e inteligente de interagir e dialogar com o que está acontecendo ao nosso redor? Caryl Churchill alude a exatamente isso em sua peça Love and Information, recentemente dirigida por Tanja Pagnuco no Marylebone Theatre, em Londres. Churchill é uma das dramaturgas mais afiadas de nosso tempo e parece analisar, na peça, de que forma essa carga informacional está nos afetando. Ela retrata uma vida contemporânea que, apesar de cheia de opções, parece ser esmagadoramente solitária, geralmente fria e implacável. As 57 cenas curtas de Love and Information são quase um espelho do Facebook e outras plataformas virtuais: breves e aleatórias. Nesse mundo seduzido pelo virtual, a memória e o conhecimento são manipulados na busca pelo poder. Não parece importar o quanto nos envolvemos em debates filosóficos sobre destino e livre arbítrio, entre o bem e o mal; ninguém pode ter toda a informação para resolver este problema ancestral. Quando precisamos responder com velo-
cidade e sem muita reflexão, nos rendemos a opiniões emocionalmente polarizadas e esquecemos quão complexas as questões da vida realmente são. Uma coisa que podemos fazer é tomar responsabilidade. Precisamos colocar em prática todas aquelas citações bonitinhas que circulam pelas redes sociais. Todas soam magníficas, mas podemos agir verdadeiramente de acordo com elas? Podemos seguir nossos próprios conselhos? Devemos tomar as rédeas e dominar nossas mentes, evitando ao máximo sermos conduzidos pelas circunstâncias e pessoas em volta. Toda vez que nos vemos diante de uma nova informação, temos que nos perguntar: de onde vem isso? Quem está escrevendo? Estou absorvendo a informação de uma posição de julgamento? A fonte é confiável? Não é fácil, eu sei, mas toda vez que fazemos isso nos distanciamos da negatividade que nos rodeia. Então toda vez que você tiver que enfrentar esse desafio: Pare. Leia/ ouça. Pense calmamente. Responda. Responder com raiva só leva a mais destruição. Raiva é uma emoção saudável, mas precisa ser usada com sabedoria para que algo positivo seja construído – e não para apenas atacar e destruir. Tomar consciência do ambiente e das emoções que nos cercam sem julgar é p primeiro passo para responder de uma posição humana. Precisamos aprender a viver com essa constante cascata de fatos e opiniões. Escutar respeitosamente e, em caso de discordância, saber responder com pensamentos em vez de emoções. Opiniões precisam ser corretamente formuladas, não despejadas como se estivéssemos comendo um prato de hambúrguer com fritas numa lanchonete. A arte da dialética está morta? Devemos trazê-la de volta ao currículo escolar? Quando alguém discorda de você seu campo social fica inundado de abusos. Poucos parecem capazes de “concordar em discordar” de maneira filosófica. A arte do diálogo precisa ser reconstruída se quisermos construir um mundo (virtual) mais harmonioso. Sinto-me desconfortável em uma sociedade na qual a velocidade da informação substitui as conexões humanas e provoca reações com consequências terríveis. Tenho visto muitas amizades serem destruídas e empregos sendo perdidos por conta de respostas dadas sem pensar. Então façamos isto: Pare. Leia/ouça. Pense calmamente. Responda. Quando Michael Billington revisou a peça de Caryl Churchill em 2012, ele escreveu que Love and Information “é um documento humano... Churchill sugere, com urgente compaixão, que nosso apetite insaciável por conhecimento precisa ser informado pela nossa capacidade de amar”.
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Maristela Martins
AQUILES REIS
Dois gênios desassossegados Miramari reúne o pianista brasileiro André Mehmari e o clarinetista italiano Gabriele Mirabassi Na tentativa de manter acesa a chama da boa música que iluminou o Festival Choro Jazz de Jericoacoara, no Ceará, comentarei o DVD/ CD Miramari (Estúdio Monteverdi), que reúne o pianista brasileiro André Mehmari e o clarinetista italiano Gabriele Mirabassi. Dois gênios.
Talentos díspares, Mirabassi é mais da música clássica e Mehmari, mais popular. Ou seria o contrário? Os dois são pop? Concertistas? Não há resposta errada. No show que fizeram em Jeri, eles tocaram todo o repertório que está no DVD/CD. Piano e clarineta dialogam num turbilhão de conceitos. Cada um deles tem o que dizer, e o fazem com técnica, que, aditivada pela emoção, faz com que o virtuosismo aflore. Nada mais contemporâneo, nada mais exuberante. Produzido por Mehmari, o DVD foi gravado no seu próprio estúdio, o Monteverdi, na Serra da Cantareira, em São Paulo. O repertório é basicamente todo de sua autoria, com exceção de três canções de autoria de Guinga — duas com Mauro Aguiar e uma com Simone Guimarães. Além destas, outras duas são de Mehmari em parceria com Luiz Tatit e Thiago Torres da Silva. Os arranjos parecem gêmeos univitelinos das canções e as variações de dinâmicas as engrandecem. Há momentos em que a genialidade da interpretação se sobrepõe à própria composição: é quando os instrumentistas criam asas e sobrevoam o sublime. “Apenas o Mar” (Mehmari e Thiago da Silva), faixa que abre tanto o DVD quanto o CD, inicia com o sopro delicag
do da clarineta. O piano o ampara, acrescentando ainda mais doçura à melodia. Seguindo, vem o frevo “Brilha o Carnaval” (Mehmari e Luiz Tatit) e o bicho pega geral. Clarineta e piano ensandecem. Uma sola, o outro incendeia. Quanto sentimento! Os improvisos endoidam. Quanta técnica! Quanta emoção! A clarineta e o piano iniciam “O Espelho” (Mehmari). Um tema sereno. A sonoridade dos instrumentos é coisa linda. “Primeiro Choro de Lucas” (Mehmari) une a tradição à modernidade. A interpretação dos instrumentistas é uma aula de bom gosto. “Elogio ao Choro” (Mehmari) é mais dolente do que o anterior, com direito a Mehmari citando alguns dos mais famosos do gênero, como “Apanhei-te Cavaquinho”, de Ernesto Nazareth. “Canção Desnecessária” (Guinga e Mauro Aguiar), “Rasgando Seda” (Guinga e Simone Guimarães) e “Vivo Entre Valsas” (Mehmari) vêm na sequência. Harmoniosos em sua suave beleza, clarineta e piano, em acordo mútuo, tangem o clássico. Assim, numa escalada de suprema musicalidade, tocam os dois gênios desassossegados. As mãos do pianista com a mesma força dadivosa de sua inspiração composicional, e a respiração do clarinetista com a intensidade de um sopro de vida divina. Juntos, a precisão de suas atuações ultrapassa a capacidade que temos para coexistir com algo que desconhecemos. São como o mistério expondo a alma ao desconhecido: ao mesmo tempo em que assusta, enche-nos de orgulho por pertencermos ao mesmo mundo que eles.
Aquiles Reis é músico, vocalista da icônica banda MPB4
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LONDON BY
Vida vegana Carla Monsora indica restaurantes veganos em Londres
Divulgação
V
Você já deve saber: de tudo um pouco acontece em Londres. As coisas mais inusitadas e impensáveis estão disponíveis a qualquer um que esteja disposto a se aventurar sem preconceitos. É isso que faz deste lugar o melhor do mundo! A gastronomia em Londres não é diferente. Coloca inveja em qualquer food truck no Brasil. Posso arriscar a dizer que aqui se encontra a maior diversidade gastronômica da Europa. Como uma boa brasileira que sou, preparei uma lista com os melhores restaurantes veganos para você visitar, porque por incrível que pareça nem todo brazuca é carnívoro, e nem todo vegano se alimenta apenas de mato.
Panqueca com sorvete do 222 Veggie Vegan
Doces do Vantra Vitao
Hambúrguer do Mildreds Café da manhã do Black Cat Cafe
Produtor de comidas veganas e sem glúten, como pães, queijos e proteínas vegetarianas. Comidas saborosas no estilo fast food, mas saudáveis e com produtos da região de Londres e orgânicos, o que é bom para você e para o meio ambiente. (www.youngvegans.co.uk).
Fish and Chips vegano
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MILDREDS Fundado em 1988, provavelmente o restaurante vegetariano mais antigo de Londres, o Mildreds serve comida continental, o que inclui hambúrgueres com queijo vegano (sim, isso existe e é maravilhoso!), tortas tipicamente inglesas, burritos e os drinks mais gloriosos do mundo. Recomendo um drink chamado porn star – além de o nome ser um luxo, ainda vem acompanhado
de um shot de prosecco. Em relação à comida, o curry de batata doce é fenomenal (não é muito picante, pois eles fazem com bastante leite de coco). O chef Marcelo, que é brasileiro, é uma das mentes brilhantes por trás desse restaurante maravilhoso, com unidades em Camden Town, Soho e King’s Cross. (www.mildreds.co.uk).
222 VEGGIE VEGAN A apenas alguns minutos da estação de metro West Kensington, esse restaurante tem um buffet bastante econômico no horário do almoço (daqueles que você paga pouco e repete quantas vezes sua barriga permitir). É no horário do jantar, porém, que eles sevem o menu completo. Com inspirações africanas, eles fazem porções de banana frita e panqueca recheada com ricota vegana e feijão. O restaurante opta por opções
mais saudáveis, então você não encontrara nada de fritura, porque tudo é produzido no forno, além de oferecer comidas cruas no cardápio, como saladas com macarrão de abóbora. As sobremesas são as coisas mais incríveis também. Você precisa experimentar a panqueca com sorvete e calda de chocolate com baunilha, que é dos deuses. (222 North End Rd, W14 9NU - 020 7381 2322 - www.222veggievegan.com)
VANTRA VITAO Você tem uma vida corrida e sem muito tempo para alimentações saudáveis? Seus problemas acabaram, amig@. O restaurante Vantra fica no centro da cidade, a alguns segundos da estação de Tottenham Court Road, logo em frente à Primark. Lá você encontra uma kombucha fresquinha, a bebida fermentada que é o hit do momento, adotada por celebridades como Madonna e
Gwyneth Paltrow. A comida do Vantra é a mais saudável que já consumi. Uma das razões é que eles não usam glúten, nem nozes, tão pouco conservantes. Por lá também é oferecida uma lista enorme daqueles sucos verdes dos mais variados possíveis, além de tortas doces cruas que você vai jurar que foram assadas. (25-27 Oxford St, W1D 2DW - 020 7439 8237 - www.vantra.co.uk)
BLACK CAT CAFE Conhecido por sua vertente político-militante, o restaurante é uma cooperativa e faz trabalhos comunitários, como jantares beneficentes para ajudar a comunidades carentes. Localizado a minutos de Hackney Central, o Black Cat Cafe tem uma atmosfera toda hipster, com um ambiente moderninho e roqueiro.
Em minha opinião, eles servem o melhor café da manha inglês vegano da Inglaterra. Mas daí você deve estar se perguntando que tipo de “fry-up” (gíria para café da manha) não tem ovos ou salsicha? Apenas te imploro para ir e me dizer. (76 Clarence Rd, E5 8HB - 020 8985 7091 - www.blackcatcafe.co.uk).
NORMAN’S COACH AND HORSES SOHO Primeiro pub vegetariano de Londres, localizado no Soho e construído por volta de 1850. Lá você pode pedir sua cerveja preferida e também um maravilhoso fish and chips vegano, que é uma experiência indispensável. O prato é feito de tofu e tem uma crosta crocante de nori, aquela folha de algas marinhas, que dá o gosto de peixe. Esse pub é bastante tradicional e tem muita historia
para contar. O dono, por exemplo, se intitulou o mais grosseiro de Londres, por barrar a entrada de clientes que ele não gosta. Recomendo ir no andar de cima do bar, onde rolam encontros de jornalistas da Private Eye, revista quinzenal britânica que aborda assuntos políticos com muita ironia, e noites de música. (29 Greek St, W1D 5DH - 020 7437 5920 - www.thecoachandhorsessoho.co.uk).
FESTIVAL VEGANO Nos dias 30 de abril e 1º de maio acontece um festival de comidas veganas em Brixton. Haverá barquinhas estilo food truck de comidas caribenhas, padoca italiana, petiscos sem glúten etc., além de camisetas, informativos sobre veganismo e muito mais. Nós, da Young Vegans, estaremos lá
fazendo hambúrgueres com queijo cremoso e temakis que só no Brasil você encontra – tudo vegano, claro! O festival é gratuito e começa ao meio dia, no horário do rango. Mais informações no Facebook: Vegbar Vegan Fest. (45 Tulse Hill, SW2 2TJ - www.vegbar.co.uk).
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BR TRIP
Shaun Alexander comeรงa sua nova coluna mensal explorando os arredores de Manaus
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Arquivo pessoal
Q
Quando não estou editando o lado em inglês deste jornal, tenho aproveitado uma nova paixão: viajar pelo Brasil. O Brasil que eu conheci nos últimos dez anos é basicamente aquele do canto sudeste, mas o que mais me fascina neste país é sua imensa, caótica e bela diversidade. Há muito mais a explorar. Por isso, desafiado pelos fundadores do Brasil Observer a descobrir as maravilhas brasileiras, é exatamente isto que proponho aqui. Todo mês, vou a um novo canto do Brasil para compartilhar minhas experiências com vocês. As fotos que ilustram esta coluna também estão em minha conta no instagram (@ shaunalex) e, em breve, lançarei uma conta específica no YouTube, Um escocês no Brasil. A primeira parada é um lugar que eu sempre sonhei visitar, antes mesmo de saber que ficava no Brasil: a Floresta Amazônica. Fascinado pela natureza e seguidor de pessoas como David Attenborough desde que aprendi a andar (os colegas de escola me chamava de ‘nature boy’), a Amazônia sempre esteve no alto da minha lista de lugares a conhecer. Mas é um lugar difícil de chegar, não importa o lugar do mundo em que você esteja, até mesmo no Brasil. Esta viagem nos daria apenas um gostinho dessa imensa região, por isso decidimos ir direito ao centro: Manaus, capital do Estado do Amazonas.
Ficamos hospedados a 20 minutos de carro do centro, em um enorme hotel colonial à margem do Rio Negro chamado Tropical Hotel. Como se tratava de uma viagem curta, decidimos fazer pequenas viagens de um dia. A primeira envolveu um trajeto de barco subindo o Rio Negro, para visitarmos uma aldeia indígena que fica a cerca de 30 km de Manaus. Na verdade, a aldeia abriga famílias de diferentes tribos que vivem em uma realidade dividida entre a cultura indígena tradicional e o Brasil moderno. A aldeia é real, mas o modo de vida não é como se apresenta. São índios modernos, todas as crianças pegam barcos para a escola onde aprendem português, e muitos aspectos da vida tradicional deles estão perdidos. Estando tão perto de uma cidade como Manaus, é algo inevitável. Ainda assim, é lindo ver que eles conseguem manter algumas tradições vivas. Todos são muito receptivos e eu amei conhecê-los.
BOTOS-COR-DE-ROSA Saindo da aldeia, nosso barco nos levou para o outro lado do rio, onde nadamos com os lendários botos-cor-de-rosa. Ainda que totalmente selvagens, eles são acostu-
mados com os guias que os alimentam com a mão, em um local onde os turistas podem se aproximar e brincar com esses animais incríveis. Eles nadam debaixo de seus pés e dão saltos para agarrar alguns peixes das mãos dos guias, que conhecem a maioria dos animais individualmente. É uma experiência imperdível. A última parada do barco nos apresentou o Encontro das Águas, onde o Rio Amazonas oficialmente começa. Achei a mudança de temperatura entre as águas (Rio Negro é bem quente e o Rio Solimões, mais frio) fascinante. Além disso, demos uma curta caminhada por uma reserva natural e almoçamos em um restaurante flutuante. Preciso dizer, aliás: a comida da região é única. Se você gosta de peixe, a Amazônia é o paraíso. Eu experimentei literalmente um tipo diferente de peixe por dia, e cada um com um preparo especial. As frutas e vegetais locais – exóticos e numerosos demais para listar – também são deliciosos, sem contar as mais variadas formas de se preparar uma tapioca. Outra viagem de um dia foi à cidade de Presidente Figueiredo, a cerca de 100 km de Manaus. Lá existem centenas de cachoeiras no meio da floresta – tivemos tempo de visitar três. Se você for à Amazônia e estiver com dificuldade para lidar
com o calor e a umidade, é o lugar certo, pois as águas são frias como o gelo. Um mergulho em qualquer uma das cachoeiras dá uma sensação revigorante. Não tive muito tempo para explorar Manaus em detalhe, mas caminhei pelo Mercado Municipal e visitei seu mundialmente famoso teatro, com seu design estonteante. Quatro dias não é tempo suficiente para conhecer Manaus, nem se fale na Amazônia como um todo. O que eu tive foi um aperitivo que deixou sabor de quero mais. Quero aprender mais sobre essa incrível floresta, seus animais e o grande corpo d’água que a corta. É possível ficar em hotéis remotos no meio da floresta com toda a infraestrutura necessária para se isolar do mundo com todo o conforto, o que parece perfeito. Descobri que a Floresta Amazônica engloba vários Estados, então terei de pensar onde será minha próxima parada. Dito isso, também tenho mais a aprender sobre Manaus. Um ponto alto da viagem para mim foi caminhar até a praia da Ponte do Rio Negro no final das tardes, nadar em suas águas quentes e observar o por do sol e os trovões mais intensos que eu já vi e ouvi. Se você tem alguma dica de viagem para mim, entre em contato pelas redes sociais.
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