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Flaviane Carvalho

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Eu na Suncoast

Eu na Suncoast

Moradora de Orlando, a goiana Flaviane Carvalho ganhou reconhecimento internacional após fazer uma denúncia de maus-tratos infantil no restaurante Mrs Potato onde é gerente, e acabou se tornando uma celebridade na comunidade local. A repercussão do caso foi tão grande, que além de aparecer nos maiores canais de jornais do país como CNN e Fox News, a brasileira foi convidada a participar do programa de TV do Dr Phil e do Dr Oz. Mas o reconhecimento não parou por aí; Flaviane foi homenageada pelo governo da Flórida com um dia com seu nome: o dia 28 de janeiro será lembrado como “Flaviane Carvalho Child Advocacy Day”, um dia com a finalidade da conscientização da luta contra maus-tratos infantil no Estado.

Nós fomos até Orlando, mais precisamente ao Mrs Potato, para comer uma deliciosa batata recheada, e para conhecer um pouquinho mais da brasileira que teve um gesto tão impotante que fez a diferença na vida de duas crianças.

Em um bate papo muito legal e descontraído, a goiana, que a princípio estava bem tímida, foi se soltando, e contou um pouco sobre sua vida, sobre a família e o orgulho que sente das filhas. E também sobre o ocorrido, e quais os planos daqui pra frente. Então confira abaixo a entrevista com Flaviane Carvalho! Quem é a Flaviane? A Flaviane é mãe, é esposa, é amiga. É tão difícil falar de mim, nem sei o que falar de mim! Eu sou uma mulher de fé, creio muito em Deus e nos propósitos que ele tem para a vida da gente. Gosto muito de ajudar as pessoas, estou sempre envolvida em trabalhos sociais. Aonde precisar de mim estarei lá! Por que você resolveu deixar o Brasil? Foi um conjunto de coisas. Busca de uma oportunidade melhor, principalmente para minhas filhas crescerem. Estávamos em uma época de resgate familiar, e a decisão foi pensando no bem estar da família!

Há quanto tempo você trabalha no Mrs Potato? Há 1 ano e meio. Antes disso, eu trabalhava em um outro restaurante que infelizmente fechou. Aí uma amiga me indicou a falar com a Rafaela, a dona no restaurante.

Conta pra gente, qual é o prato que você mais gosta e recomenda no Mrs Potato?

O meu prato favorito é a batata assada recheada com camarrão.

No dia que você fez a denúncia, o que fez você pensar, eu preciso ajudar essa criança?

Tudo começou muito estranho, desde a hora que eles chegaram eu já comecei a sentir que alguma coisa não estava certa naquela família. A partir do momento em que eu comecei a perceber os sinais no comportamento deles, as primeiras lesões que eu consegui ver no menino, a forma que eles tratavam a crianças, foi me gerando uma angústia e uma sensação de aperto no peito, e eu só pensava: Eu preciso saber o que está acontecendo, e eu preciso fazer alguma coisa.

Eu acho que foi Deus me mostrando e me colocando naquela posição, me instigando a fazer algo. Acredito também que o meu instinto materno ajudou também a perceber tudo. Na minha cabeça só vinha: Eu tenho que fazer alguma coisa!

Você ficou com medo de alguma forma de retaliação?

Não. O único medo que eu senti em tudo isso, foi na hora que eu comecei a me comunicar com o menino, fiquei com medo de que os pais vissem, e pudesse prejudicar ainda mais a criança. E, por isso, eu tomei todo o cuidado de fazer tudo com muita cautela.

Eu prefiro correr o risco de virar para uma pessoa e pedir desculpas por ter exagerado e julgado errado, do que depois ficar com a minha consciência me julgando, que eu deveria ter feito alguma coisa, e eu não fiz. Você se tornou uma heroína na mídia internacional. Em algum momento você imaginou que esse caso ganharia essa proporção de divulgação?

Não, nunca passou pela minha cabeça que algo assim um dia viesse acontecer na minha vida, por qualquer motivo. Isso é uma surpresa muito grande, parece que a ficha não caiu ainda!

Eu sou uma pessoa super reservada, eu não costumo postar foto nas minhas mídias sociais, que eram fechadas somente para família e amigos próximos. E agora tem fotos minhas por todo canto!

Como está sendo o assédio das pessoas?

Tem sido bom, pois eu estou recebendo muitas mensagens positivas e de carinho. Estou recebendo muito amor da comunidade em geral, e isso é gostoso. Mas eu não sou acostumada com isso, e estou tendo que me adaptar. Quando vem gente no restaurante tirar foto, fico morrendo de vergonha, mas acho legal o carinho da pessoa!

by Tati Demozzi Photography

Como foi sua reação ao saber que agora existe um dia no calendário oficial da Florida com o seu nome?

Isso foi uma surpresa muito grande pra mim. Eu havia sido comunicada que no dia 28 de janeiro eu receberia um reconhecimento, achava que seria uma medalha ou um diploma de agradecimento. No dia vieram algumas autoridades do Estado e toda imprensa, e quando a Nicole Fried – Comissioner of Agriculture, começou a ler o documento de proclamação, que falava que o dia 28 de janeiro será conhecido como “Flaviane Carvalho Child Advocacy Day”, eu entrei em transe e demorei a acordar. Eu só fui entender mesmo o que estava acontecendo muito tempo depois. Eu nem sabia que isso existia, e eu fico muito feliz e agradecida!

by Tati Demozzi Photography

O que você planeja daqui para frente?

Hoje eu entendo que, desde o dia anterior ao acontecido, Deus programou tudinho, nos mínimos detalhes, e estava nos planos dele acontecer daquela forma. Eu sempre tive muita vontade de trabalhar com assistência social, e já fiz muitos trabalhos voluntários. Quando morava em San Francisco, eu comecei um projeto de ajuda a moradores de rua, onde a fazíamos doação de roupas e comidas duas vezes por mês. Eu sempre tive um desejo no coração, desde muito nova, de fazer algo específico para ajudar crianças e idosos, e eu creio que Deus me deu um empurrão, e acabou criando uma semente para que eu colocasse as mãos na obra.

A minha intenção em estar falando com o pessoal da mídia é aproveitar a exposição para transmitir a mensagem de conscientização. Vamos parar e olhar para o próximo, e ficar mais atento as necessidades dos outros. Cada dia que passa estamos nos tornando cada vez mais egoístas, e olhando somente para nós mesmos. Às vezes, a pessoa está do nosso lado pedindo ajuda, mas a gente não vê porque estamos ocupados com coisas banais. Sonho talvez montar um

fundação sem fins lucrativos, para ajudar o maior número possível de pessoas, educar e conscientizar as pessoas a diagnosticarem situações como essa, e poderem ajudar. Como está sendo a reação da sua família no Brasil com tudo isso que está acontecendo? É claro que eles estão super orgulhosos, mas uma coisa que me chama atenção é que todos falam pra mim que eles não se surpreenderam com minha atitude, pois essa sou eu!

Qual mensagem você gostaria de deixar para a comunidade?

A mensagem que eu quero deixar é: Não tema em ajudar quem precisa! Preste atenção em quem está do seu lado, quem você está vendo na rua, no seu vizinho. Se você ver que alguma coisa está errada, e passa a ser uma coisa séria onde uma pessoa pode perder a vida, é sua responsabilidade, principalmente se envolve crianças ou idosos. Então faça, só faça! Entenda o caso

No início do ano, Flaviane atendeu no restaurante onde trabalha uma família que mantinha um comportamento estranho. O casal não permitiu que o menino de 11 anos comesse, e isso chamou a atenção da gerente, que começou a se comunicar escondido com a criança através de mensagens escritas em folhas de papel sulfite, perguntando se ela precisava de ajuda. Ao perceber que a criança tinha alguns hematomas visíveis, ela decidiu chamar a polícia. O padastro foi preso, o menino foi encaminhado ao hospital devido aos machucados, e por estar muito abaixo do peso de uma criança na sua idade. O serviço de proteção a criança foi acionado para investigar o caso. A mãe acabou sendo presa na mesma semana devido as denúncias de maus tratos. Hoje, as crianças encontram-se bem, e sob a custódia e os cuidados do governo.

by Tati Demozzi Photography

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