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Críticas de Cinema

O IRLANDÊS

É a primeira vez que discordo frontalmente do IMDB. 94 é uma pontuação muito alta para “O Irlandês”. Por mais que eu seja fã do Al Pacino e do Robert de Niro, estamos falando de uma história baseada em fatos reais. Personagens reais. Hoffa existiu e não uma aparentava 80 anos em 1975! Parece que os produtores exageraram em querer economizar salários de atores! Tudo bem fazer isso no teatro, mas no cinema não cola muito bem. Por isso minha nota seria 75. O que já estaria ótimo em se tratando de “metascore”. Claro que a interpretação de ambos é excelente. De fato, não é fácil um ator de 79 anos fazer um papel de 40 ou 45. São gênios, mesmo assim.

Agora vamos à trama. Scorsese consegue surpreender com um roteiro, assinado por Steven Zaillian (conhecido, nada mais, nada menos que por “A Lista de Schindler”) que precisa ser mais preciso e exigente do que “Os Bons Companheiros”, por exemplo. Conspiração, poder político, agiotagem, corrupção, usurpação, no melhor estilo “E se isso tudo for verdade?”. A história da bandidagem oculta por detrás da fama de um líder sindicalista é algo inédito para os americanos. Apesar de o filme se chamar “O Irlandês”, por conta da personagem de De Niro, e ainda apesar de mostrar um figura pública, interpretada por Al Pacino, acho que o foco central aqui, e devo ser justo, fica por conta de Russ. Ele é o articulador astuto e extremamente inteligente, vivido por Joe Pesci, o melhor ator no filme, em minha opinião. Tenho quase certeza que a Academia não concordará comigo, mas como diretor e ator, preciso reconhecer.

Pesci transmite uma tranquilidade assustadora em seu papel que faria qualquer mafioso real sentir um frio na espinha. Outro grande destaque também fica para Stephen Graham, que está impagável como o “Tony Pro” Provenzano. Excelente! Parece algum novo-rico que conheci em Brasília! São mais de três horas de um filme que vai prender o telespectador (ou seria melhor, dizer “Netflixtador”?) com no máximo uma pausa para um cachorro quente! A imaginação dos bandidos já não via

limites nos anos 70. A imaginação dos produtores também não viu, para a nossa sorte! Não diria que é o melhor filme do ano, mas o bom e velho Scorsese acertou de novo!

Boa diversão.

1917

Apesar do excelente currículo do diretor Sam Mendes, com filmes como Skyfall (2012), aqui ele assina também como produtor e co-roteirista. A trama, baseada em uma história contada pelo avô de Mendes, é em si mesma edificante e inspiradora. Conta a saga heroica de dois soldados destacados para uma missão quase impossível: Atravessar as linhas inimigas (em território francês) durante a Primeira Guerra Mundial, para alcançar um regimento que estava prestes a realizar um ataque às forças alemãs. A ordem era entregar uma mensagem ao comandante desse regimento para não atacar, pois era uma armadilha onde os inimigos já os esperavam para um massacre. Isso coincide com o período da “retirada de Alberich”, um recuo estratégico do exército alemão para uma posição mais próxima da fronteira com a Alemanha.

Os traumas da primeira guerra mundial ainda não haviam esfriado quando começou a segunda, tanto que para muitos europeus não existe “primeira” e “segunda”. Foi tudo uma Grande Guerra. Eram tempos difíceis, mas marcados por muita coragem, lealdade e determinação. Assim são apresentadas as personalidades dos personagens principais. O Lance Corporal (equivalente a cabo) Blake, vivido por Dean-Charles Chapman em seu melhor papel no cinema depois de participar do GOT e fazer o Thomas em The King (2019); e o Lance Corporal Will Schofield, interpretado por George MacKay (muito bom como o Bodevan, da família esquisita do Capitão Fantástico (2016).

A trama é excelente, em um roteiro bem estruturado e com excelentes atuações e direção. Merece as indicações e espera-se que seja bastante premiado. Mas há algo que chama muito a atenção não pelo ineditismo da técnica, mas por sua intensidade. A câmera posicionada em ângulo de primeira-pessoa, como nos games de guerra, é apresentada em pelo menos 80% da edição final do filme. O efeito é impressionante e o conjunto traz novas sensações na sala de cinema. Proporciona um grau de cumplicidade que nos faz sentir parte da missão. Existem excelentes doses de tensão, ação e drama, na medida certa. Confira enquanto está nas grandes telas!

Ed Kovaleski Ator, diretor de teatro e escritor.

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