PARQUE DO CAMBEBA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
PARQUE DO CAMBEBA
RESSIGNIFICANDO O CENTRO ADMINISTRATIVO DO CEARÁ
BRENDA ALVES LIMA
ORIENTAÇÃO
RENAN CID VARELA LEITE
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará Biblioteca Universitária
Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)
L696p Lima, Brenda.
Parque do Cambeba : Ressignificando o Centro Administrativo do Ceará / Brenda Lima. –2018.
100 f. : il. color.
Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Centro de Tecnologia, Curso de Arquitetura e Urbanismo, Fortaleza, 2018.
Orientação: Prof. Dr. Renan Cid Varela Leite.
Coorientação: Prof. Me. Bruno Melo Braga.
1. Ressignificação. 2. Parque Urbano. 3. Flexibilidade. 4. Centro Administrativo. 5. Arquitetura Moderna. I. Título.
720
CDD
PARQUE DO CAMBEBA
RESSIGNIFICANDO O CENTRO ADMINISTRATIVO DO CEARÁ
banca examinadora:
prof. dr. renan cid varela leite
orientador . dau ufc
prof. me. bruno melo braga
professor convidado . dau ufc
arq. ricardo henrique muratori de menezes
arquiteto convidado - dau ufc
Brenda Alves Lima
Fortaleza, Dezembro De 2018
agradecimentos
A Deus, por sua infinita graça e amor, manifestados diariamente na minha vida.
Aos arquitetos Ricardo Muratori e Bruno Braga por aceitar de pronto meu convite e pelas conversas sempre ricas e inspiradoras. Ao meu Orientador Renan, pelas paciência, dedicação e conselhos, contribuindo em muito para o meu aprendizado enquanto aluna.
Aos meus pais por toda educação, princípios, amor e cuidado ao longo de toda minha vida. Ao querido Alysson por todo amor e suporte.
A todos os meus colegas de curso, em especial à Bianca Feijão, Carolina Bruno, Maiara Lacerda, Mariana Castro, Isabela Hissa, Andrinne Araújo e Beatriz Albuquerque por todas as noites viradas, momentos compartilhados, risadas, conversas e apoio durante essa trajetória. Às minhas amigas Anna Tereza, Brenda Teixeira, Lívia Dantas, Marília Fialho e Nayara Costa, por sempre estarem ao meu lado em toda e qualquer situação.
Aos meus eternos chefes e colegas de trabalho Anelise Caminha, Márcia Cavalcante, Rafael Bandeira, Regina Fontenele e Roseli Matos por toda paciência e aprendizado, os quais foram determinantes para minha formação profissional.
12 16 32 58 80 01. a inquietação 02. referenciais 03. um olhar sobre o cambeba 04. o centro administrativo 05. o parque do cambeba
SUMÁRIO
10 01
01. a inquietação 02. referenciais 03. um olhar sobre o cambeba 04. o centro administrativo 05. o parque do cambeba
a inquietação
O projeto tem como principal objetivo a do Centro Administrativo Governador Virgílio Távora. A proposta do projeto é transformá-lo em um Parque Urbano para a cidade de Fortaleza.
O rápido processo expansão da região sudeste da Capital cearense resultou em implicações territoriais como a oferta deficiente de espaços e equipamentos públicos. Nesse contexto, no bairro Cambeba, a demanda por espaços livres ocasionou apropriação coletiva e espontânea do Centro Administrativo do Estado como área de esporte e lazer pela população, a qual foi o ponto de partida para a proposição projetual.
A ideia de ressignificar consiste em “dar a algo um novo significado”. Nesse caso, um novo significado histórico, social e urbano a esta peça moderna. Tanto centros administrativos, como campi universitários são exemplos de tipologias urbanas
12
presentes em várias cidades brasileiras, que poderiam manter relações mais amistosas com a cidade.
Configuram-se no território urbano como vastas áreas verdes com potenciais paisagísticos, segurança, iluminação, entre outros fatores atrativos. Contudo, são cercadas por muros e grades sem nenhum estímulo à entrada do cidadão que não tenha relação direta com a instituição.
A proposta acredita que diluir os limites e deixar a cidade “entrar” nesses espaços é um caminho possível e necessário ao entedimento da cidade como local de encontro e oportunidades.
Ao leitor, diante do exposto, pode ocorrer a seguinte pergunta: “mas uso institucional e de parque, ao mesmo tempo, daria certo?”
A reflexão é: por que não?
13
14 02
15 01. a inquietação 02. referenciais 03. um olhar sobre o cambeba 04. o centro administrativo 05. o parque do cambeba
REFERENCIAIS
REFLEXÕES teóricas
“os líquidos, diferentemente dos sólidos, não mantêm sua forma com facilidade.
Os fluidos, por assim dizer, não fixam o espaço nem prendem o tempo.”
(Bauman, 2001, p. 8)
16
Aplicando o conceito de liquidez de Bauman à arquitetura, entende-se a importância da capacidade de adaptação por parte das cidades e de suas estruturas urbanas às novas dinâmicas sociais e tensões urbanas.
Desse modo, a utilização espontânea do centro administrativo como parque verificada atualmente confirma sua potencialidade como tal, bem como revela novas dinâmicas na região, devendo o projeto intervir com o intuito de promover a fluidez do espaço e a conquista do interesse comum.
“A flexibilidade no que se refere ao uso está vinculada a decisões de projeto dos arquitetos e como estas contribuem para a criação de espaços flexíveis que permitam mudanças neste sentido ao longo do tempo. Está relacionada ao combate ao funcionalismo excessivo e aos ambientes que só possam ser utilizados de uma única maneira”
(SCHNEIDER; TILL, 2005 b apud
BRAGA, 2017, p.115)
17
É interessante perceber que os centros administrativos, assim como os campi universitários, são tipologias do urbanismo modernista, disseminados em várias cidades brasileiras, como Salvador, Porto Alegre, Teresina, Natal, Fortaleza, entre outras.
Contudo, mesmo com os preceitos de flexibilidade estando presentes no campo da arquitetura desde o período moderno, percebem-se falhas nas relações dessas tipologias com a cidade.
As zonas de interface desses centros administrativos e campi com a cidade costumam ocorrer de forma categórica e pontual, apresentando rígidos limites entre público e privado, devido principalmente, como aponta Hertzberger (1999, p. 146), ao excessivo funcionalismo, pregado pelo movimento moderno.
“Na ‘cidade funcional’ e no ‘edifício funcional’, eram as diferenças que se manifestavam particularmente. Isto conduziu a uma especificação extremada de requisitos e dos tipos de utilidades, cujo resultado inevitável acabou sendo mais fragmentação que integração, e se houve alguma coisa a que esses conceitos não resistiram foi ao tempo.”
18
Além disso, a hostil relação com a cidade desses grandes equipamentos estatais também possui origens específicas do contexto histórico de autoritarismo político do período moderno brasileiro.
Com o intuido de reestabelecer uma relação amigável com a cidade, entendendo-a como lugar de encontro, o projeto visa intervir principalmente em tais zonas de interface, “liquefazendo-as”.
Hertzberger aponta o conceito de intervalo como uma região de condição espacial propícia ao encontro e diálogo entre áreas de ordens diferentes.
“O conceito de intervalo é a chave para eliminar a divisão rígida entre áreas com diferentes demarcações territoriais. A questão está, portanto, em criar espaços intermediários que, embora do ponto de vista administrativo possam pertencer quer ao domínio público quer ao privado, sejam igualmente acessíveis para ambos os lados, isto é, quando é inteiramente aceitável, para ambos os lados, que o ‘outro’ também possa usá-lo.”
(HERTZBERGER, 1999, p. 40).
19
A importância do estabelecimento dessas zonas de intervalo deve-se ao poder que estas possuem em romper o limite rígido entre o público e o privado, possibilitando o convívio entre diferentes usos.
O trabalho nas interfaces ou bordas entre os limites institucionais e o meio urbano consiste, portanto, no princípio base da ação projetual de reconciliação com a cidade, constituindo intervalos onde o público e o privado se mesclam e dão um novo significado ao conjunto.
20
referências na arquitetura
.parque ibirapuera
.sesc pompéia
.sesc 24 de maio
.high line park
Parque ibirapuera São paulo, brasil
O Parque Ibirapuera é considerado o mais importante parque urbano da capital paulista. Sua extensa área verde mescla vários usos, propiciando um espaço ideal para o desenvolvimento de atividades, como esporte, cultura e lazer.
Assim como o centro administrativo em estudo, a obra também conta com áreas institucionais, consistindo em um bom exemplo de convívio entre estas funções e as demais atividades desenvolvidas no parque. O Ibirapuera conta com espaços arquitetônicos, como museus e auditórios, bem como com infraestruturas importantes para sua apropriação, como ciclovias, quadras, iluminação, pistas de corrida, quiosques, aparelhos de ginástica, entre outros, integrados ao espaço natural.
No Parque Ibirapuera o elemento em destaque é a natureza, sendo portanto, a intervenção urbana e arquitetônica ferramentas de suporte a sua utilização por parte da população, fato este semelhante ao que se propõe para o Centro do Cambeba.
Figura 1. Parque Ibirapuera fonte: acervo pessoal.
sesc pompeia São paulo, brasil
O Sesc Pompeia, projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi, consiste em uma reforma de uma antiga indústria na zona oeste de São Paulo, promovendo, naqueles galpões, um novo significado relacionado à cultura, ao esporte e ao lazer.
Um fato interessante do projeto consiste na criação de espaços plurais, vivos e cheios de significados. No Sesc Pompéia é possível ver desde pessoas idosas até crianças e jovens, todos compartilhando seus diferentes espaços. O Sesc é um edifício de grande riqueza cultural, contando com espaços de exposição, arte, esportes, educação, bem como áreas de convivência como cafés e cantinas.
Mais do que pela sua composição formal, o Sesc Pompeia se mostra como um dos grandes exemplos de boa arquitetura, pela sua relação com a cidade, oferecendo espaços vivos e democráticos.
Figura 2. Sesc Pompeia fonte: acervo pessoal.
sesc 24 de maio São paulo, brasil
O Sesc 24 de meio fica localizado no centro de São Paulo, no edifício da antiga Mesbla.
A edificação tem como entorno o adensado centro de São Paulo. O edifício, desse modo, busca se relacionar de forma direta com a rua por meio de um acesso em forma de galeria de passagem livre. Sobre o programa, o projeto conta com variados espaços de cultura e lazer, como cafés, bibliotecas, salas de aula, teatro, entre outros.
Um fato marcante, nessa edificação, consiste na disposição de seus mobiliários, conformando espaços de livre apropriação pela população. Mobiliários modulares são espalhados e utilizados de diferentes formas e por diferentes grupos sociais. Além disso, diferentes tipologias de mobiliários criam diferentes ambientes, como áreas de estudo e áreas de estar, sem a necessidade de nenhuma demarcação.
Em visita ao edifício, percebe-se a democratização do espaço e o convívio social entre diferentes classes, aspecto que será amplamente incentivado e abordado no presente estudo.
Figura 3. Sesc 24 de maio fonte: acervo pessoal.
high line park nova york, estados unidos
Situado em Nova York, o High Line Park foi projetado a partir de iniciativas públicas e privadas. Com o intuito de oferecer uma nova opção de lazer à população, uma antiga linha férrea elevada foi transformada em um parque.
Através da ressignificação de um objeto construído até então subutilizado, a cidade ganhou um novo espaço para ser vivenciado. Pessoas usufruem diariamente de cultura, esporte e lazer que o High Line Park e seu entorno imediato oferecem.
O sucesso do parque aponta para a necessidade de mais espaços de convivência ao ar livre, sobretudo em cidades onde há uma predominância do edificado em detrimento do verde. Dessa forma, assim como no projeto em estudo, fica evidente a importância de certas estruturas não se cristalizarem no tempo, sendo capazes de se adaptar e adotar novos significados e usos, possibilitando espaços de convivência e melhoria da qualidade de vida da população.
Figura 4. High Line Park
30 03
31 01. a inquietação 02. referenciais 03. um olhar sobre o cambeba 04. o centro administrativo 05. o parque do cambeba
um olhar sobre o cambeba
o contexto da região sudeste de fortaleza
O Cambeba está inserido no contexto do rápido processo de urbanização ocorrido na região sudeste de Fortaleza, decorrente de novas dinâmicas e modelos de produção do espaço.
Durante as últimas décadas, a área metropolitana de Fortaleza tem passado por modificações significativas, como destaca Diógenes, em sua configuração socioespacial:
“O crescimento recente da Metrópole cearense aponta o surgimento de novas espacialidades e formas urbanas; os espaços já não se constituem como no passado, em mancha contínua, contida nos limites político-administrativos do Município, com zonas bem definidas, mas se compõem de uma aglomeração que extrapola esses limites, conformando um tecido urbano bem mais complexo, descontínuo, que se estende além da cidade consolidada.”
(DIÓGENES, 2012, p. 31)
Segundo a autora, até o final da década 1970-1980, o crescimento da Metrópole cearense ocorria conforme o modelo centro-periferia, ou seja, com uma crescente concentração de população, atividades econômicas e
32
investimentos públicos nas áreas centrais, enquanto a periferia era ocupada predominantemente pela população de mais baixa renda e marcada pela precariedade socioambiental.
A partir de tal período, observa-se a alteração desse modelo de ocupação urbana devido a novas dinâmicas espaciais, como a redistribuição da população e das atividades produtivas, acarretando assim em novas conformações do espaço urbano e novas centralidades.
“A Metrópole atual apresenta mudanças visíveis, expressas em suas paisagens, evidentes em suas reconfigurações espaciais, novas morfologias, usos e funções. Surgem periferias urbanas de um tipo distinto daquelas que se formavam até a década de 1970-1980. No âmbito da área metropolitana, verifica-se um processo de realocação da população, de diferentes faixas de renda, que passam a ocupar áreas periféricas de baixa densidade (...). Fortaleza cresce agora sob o influxo de outras dinâmicas e de outras formas de produção do espaço, diferente do padrão “centro-periferia” de crescimento urbano, o que tem acarretado transformações significativas na conformação dos espaços urbano e metropolitano.”
(DIÓGENES, 2012, p. 32)
33
Assim como em outras Metrópoles brasileiras, em Fortaleza, o crescimento urbano ocorre segundo determinados vetores que direcionam seu crescimento. O vetor que abrange a área em estudo é o vetor sudeste de expansão, o qual é caracterizado pela conformação de uma centralidade linear ao longo da Av. Washington Soares.
O Setor sudeste tem início junto ao Parque do Cocó, próximo ao Shopping Iguatemi, no bairro Edson Queiroz e compreende também os bairros da Lagoa da Sapiranga, Cambeba, Alagadiço Novo e Lagoa Redonda.
Para Diógenes, essa área, em parte zona residencial de alta renda, foi considerada a princípio como uma extensão do bairro da Aldeota e eleita como região de elite da Cidade.
“Muitos dos seus moradores são antigos habitantes da Aldeota, que passaram a procurar locais mais aprazíveis para morar, onde havia grande quantidade de terrenos disponíveis para construir suas mansões.”
DIÓGENES (2012, p. 208)
Entretanto, vale ressaltar, a presença de comunidades, ao longo desse vetor, resultado de invasões e ocupações irregulares, como a Comunidade do Dendê, São Miguel, São Benardo, Comunidade do Carrapicho (Novo Cambeba), Conjunto Alvorada, entre outras.
34
Além disso, também em meados dos anos 1970-1980, o Poder Público, juntamente com o setor privado, passou a implantar infraestrutura e construir grandes equipamentos nessa região, como o Shopping Iguatemi (1982), Universidade de Fortaleza (1973), Centro de Convenções (1974), Fórum Clóvis Beviláqua (1997) e a Faculdade 7 de Setembro (2000), entre outros, contribuindo em muito para o êxito do vetor sudeste.
Outro fator que também pode ser apontado como relevante ao sucesso deste vetor, foi a transformação da Av. Washington Soares em rodovia:
“A duplicação da av. Washington Soares, ação empreendida pelo Governo estadual, foi essencial para o processo de ocupação de toda a região. A reformulação da via alterou a acessibilidade a uma grande parte da Metrópole, ocasionando valorização quase imediata do local e, consequentemente,atraindo a atenção do setor imobiliário. Em suma, o deslocamento da população de alta renda, a construção e posterior ampliação do Shopping Iguatemi e a atuação do Estado, ao implantar equipamentos e infraestrutura urbana, foram elementos decisivos que marcaram o início do processo de ocupação e posterior expansão dessa área da Metrópole.”
DIÓGENES (2012, p. 252)
35
Contudo, de acordo com Diógenes mesmo contando com desenvolvimento expressivo, a centralidade linear ligada à Av. Washington Soares quase não possui espaços significativos de convivência, como praças e espaços públicos.
“Trata-se de uma centralidade em que não se percebe interação dos dois lados (...) Não possui, em toda a sua extensão, à exceção do Parque do Cocó, espaços de convivência para a população, como praças e locais públicos, a não ser aqueles inseridos em restaurantes em shoppings. Não se vislumbram lugares coletivos exteriores que possam servir de elo urbano, que confiram caráter (ou identidade) a uma possível definição de “centro”, como pontos de encontro, de reunião. Não possui também elementos simbólicos significativos ou de caráter cívico. da via, já que as atividades desenvolvidas ocorrem preferencialmente em função do automóvel particular.”
DIÓGENES (2012, p. 301)
Além disso, o surgimento e a multiplicação crescente de tipologias residenciais que “negam a cidade”, como condomínios fechados horizontais, os quais buscam recriar as paisagens de cidade, como ruas, praças e áreas de lazer, entre outros, agravam ainda mais a segregação socioespacial e isolamento urbano.
36
A grande oferta de terrenos e preços competitivos da região tem proporcionado o surgimento de grandes empreendimentos verticais de moradia de alto padrão dotados de “área de lazer completa” que conformam verdadeiros clubes privativos.
A propagação dessas tipologias habitacionais, portanto, provoca impactos significativos na estruturação urbana, tornando-a desconexa e fragmentada. Tal fato, atrelado à falta de investimento público em espaços e equipamentos urbanos, na região, acentua problemas urbanos como desigualdade social e violência, resultando em bairros com baixos índices de caminhabilidade e coesão social.
Entre os bairros que herdam tais características urbanas, encontrase o Cambeba, devendo o projeto, nesse contexto, abordar estratégias urbanas a fim de melhorar a relação da população com espaço público e, consequentemente, melhorar sua qualidade de vida.
37
cambeba em camadas
O Centro Administrativo localiza-se no limite sul do bairro Cambeba, possuindo fronteiras também com os bairros Messejana e Parque Iracema. messejana parque iracema alagadiço novo sapiranga cidade dos
Figura 5. esquema de localização do centro administrativo e seu entorno. fonte: elaborado pela autora.
Antigamente, as terras de Água Fria, Colosso, Carrapicho, Alagadiço Novo, Cambeba e Messejana conformavam sítios, os quais posteriormente foram sendo vendidos e loteados. Em 1972, teve início da ocupação do Cambeba e sua incorporação à malha urbana de Fortaleza, por meio do
Plano de Desenvolvimento Integrado da Região Metropolitana de Fortaleza (PLANDIRFN] que possibilitou a instalação de infraestrutura e alguns equipamentos na região.
38
func
O Cambeba, inserido contexto do rápido processo de urbanização ocorrido na região sudeste de Fortaleza, como já discutido anteriormente, também vivencia as novas dinâmicas e modelos de produção do espaço. Até pouco tempo praticamente despovoada, tido como bairro distante e isolado de Fortaleza, a área em estudo tem conhecido ocupação intensa desde a década de 1980-1990, apresentando mudanças relevantes e transformando-se, desde então, em um eixo valorizado de Fortaleza, com forte rebatimento do setor imobiliário.
A grande disponibilidade de terrenos, o clima ameno, a abundância de vegetação, a presença de lagoas e riachos e a infraestrutura instalada constituíam elementos utilizados pelas imobiliárias para atrair compradores.
De acordo com a Proposta da Área de Relevante Interesse Ecológico do Cambeba (CEDIB, 2018), no cenário atual, o mercado imobiliário tem ampliado avidamente seus investimentos no bairro com imóveis de alto padrão buscando atrair o público de renda mais elevada, principalmente no corredor viário representado pelas avenidas Ministro José Américo e Washington Soares.
O centro administrativo, nesse contexto, além de dialogar com essa classe média/alta emergente no bairro Cambeba, também estabelece relações com bairros de periferia mais tradicionais, como Messejana e Parque Iracema.
Com o objetivo de compreender melhor suas relações com o entorno, a área analisada ultrapassa os limites do bairro, onde o centro administrativo se localiza, abrangendo o entorno dentro de um raio de 1,5km.
39
Acerca do uso e ocupação do solo, este é predominantemente residencial, de caráter horizontal. Contudo, a crescente implantação de condomínios verticais na região vem provocando alterações nesse padrão, apresentando pontos de verticalização.
Além disso, percebe-se a quase total concentração dos usos de comércio/ serviços nas proximidades das avenidas de maior porte, como da Av. Washington Soares, Av. José Américo e Av. Viena Weyne, revelando uma monofunicionalidade e dependência das demais zonas da Cidade, para realização de atividades cotidianas como trabalho, estudo e lazer, já que, internamente ao bairro tais ofertas são limitadas.
Outro aspecto perceptível é a pouca oferta de espaços e equipamentos públicos de cultura, esporte e lazer que sirvam à população, como praças, parques e edifícios culturais, a exemplo dos CUCAs, já que a maioria das instituições presentes no entorno são de funções específicas [ver mapa ao lado], como repartições públicas, hospitais, entre outras, as quais não influenciam diretamente na qualidade de vida cotidiana da população.
A rede CUCA consiste atualmente em um importante programa, junto às comunidades, de acesso à cultura e ao esporte na Cidade. Entretanto, a Rede não atende a todo o município, demonstrando a necessidade e escassez de equipamentos semelhantes em Fortaleza.
40
Figura 6. esquema de localização da rede cuca em relação ao eixo sudeste de expansão de Fortaleza. fonte: elaborado pela autora.
residencial horizontal residencial vertical comercial/serviços institucional parques e praças vazios/subutilizados centro administrativo limites bairros
PRINCIPAIS ÓRGÃOS E EQUIPAMENTOS
10. Escola Municipal de Ensino Infantil e Fundamental Professor Clodomir Teófilo Girao
11.Areninha do Conjunto São Bernardo
12.Hospital do Coração de Messejana
13. Detran de Messejana
FRONTEIRAS
10 02 01 11 13 12 09 03 04 06 05 08 07 MAPA DE USO E OCUPAÇÃO
200m
AMC - Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania
COGERH
de
dos Recursos Hídricos
de
de
0
01.
02.
- Companhia
Gestão
03. Casa
José
Alencar 04. RPMON - Regimento de Polícia Montada - Cavalaria 05. COASF/SESA - Coordenadoria de Assistência Farmacêutica/Secretaria da Saúde 06. Hospital Distrital Gonzaga Mota de Messejana - Gonzaguinha 07. Liceu de Messejana
08. Vila Olímpica de Messejana 09.Hospital de Saúde Mental de Messejana
messejana parque iracema alagadiço novo sapiranga cidade dos func. AV.JOSÉAMÉRICO AV.WASHINGTON SOARES AV.WASHINGTON SOARES AV.WASHINGTON SOARES AV.JOSÉAMÉRICO AV.JOSÉAMÉRICO BR-116 BR-116 AV.JOSÉAMÉRICO R. LEONARDO MOTA R. TOMÁS IDELFONSO R. CRISANTO MOREIRA DA ROCHA R. CRISANTO MOREIRA DA ROCHA AV.VIENAWEYNE AV. VIENA WEYNE
Figura 7. concentração de usos comerciais na Av. Viena Weyne. fonte: acervo pessoal.
Figura 8. verticalização da Av. José Américo. fonte: acervo pessoal.
Figura 9. verticalização da R. Crisanto Moreira da Rocha fonte: acervo pessoal.
Nesse contexto, dentre as poucas áreas livres existentes, o Parque Lago Jacarey e o Parque Del Sol merecem destaque.
O Parque Lago Jacarey é a área mais expressiva área de esporte e lazer da região. O Parque teve um rápido desenvolvimento e atualmente se configura como um importante pólo gerador de fluxos pela grande concentração de pessoas, restaurantes e estabelecimentos comerciais. Contudo, sua intensa e constante utilização tem causado transtornos aos moradores, acarretando em uma gradativa substituição do uso residencial pelo de comércio/serviço em suas margens. Além disso, a superlotação do Parque também tem dificultado seu uso para fins esportivos, devido à vasta ocupação de seus passeios com barracas e trailers comerciais.
Além desta, outra área recreativa significativa é o Parque Del Sol, o qual consiste em uma zona de mais de 15 quarteirões, dotada de áreas verdes, porém ladeada por edifícios privados. O acesso aos espaços verdes é considerado livre, entretanto, devido ao padrão médio/alto das edificações e à presença de um portão na entrada, fica evidente o processo de segregação.
Além destas áreas, o projeto do Parque do Cambeba deve buscar relações com outras protegidas, parques urbanos da Lagoa de Messejana e da Lagoa da Sapiranga, por exemplo, bem como com instituições estratégicas de esporte, lazer e cultura..
Outras possibilidades de conexões mais amplas também podem ser estabelecidas, por meio do sistema viário e cicloviário, entre o parque proposto e a região sudeste, chegando até o Parque do Cocó.
44
cultura, esporte e lazer praças e parques existentes espaços de lazer fortaleza 2040 centro administrativo
limites bairros
conexões com equipamentos de esporte, lazer e cultura
04 05 01 03 02 MAPA DE ÁREAS LIVRES 0 200m FRONTEIRAS messejana parque iracema alagadiço novo sapiranga cidade dos func. praça de messejana praça de guajeru praça do iprede praça da OAB parque do cocó praça da ig. da glória praça dos bessas 01. Casa de José de Alencar 02. Liceu de Messejana 03. Vila Olímpica de Messejana 04. Escola Municipal de Ensino Infantil e Fundamental Professor Clodomir Teófilo Girao 05.Areninha do Conjunto São Bernardo 06.Parque Urbano do Lago Jacarey 07.Parque Del Sol 08. Parque Urbano da Lagoa de Messejana
Parque
da Sapiranga.
09.
Urbano da Lagoa
CONEXÕES COM A REGIÃO SUDESTE EQUIPAMENTOS DE ESPORTE, CULTURA E LAZER 06 07 08 AV.JOSÉAMÉRICO AV.WASHINGTON SOARES AV.WASHINGTON SOARES AV.WASHINGTON SOARES AV.JOSÉAMÉRICO AV.JOSÉAMÉRICO BR-116 BR-116 AV.JOSÉAMÉRICO R. LEONARDO MOTA R. TOMÁS IDELFONSO R. CRISANTO MOREIRA DA ROCHA R. CRISANTO MOREIRA DA ROCHA AV.VIENAWEYNE AV. VIENA WEYNE 09
Figura 10. parque urbano do Lago Jacarey. fonte: acervo pessoal.
Figura 11. parque urbano do Lago Jacarey. fonte: acervo pessoal.
Figura 12. parque urbano do Lago Jacarey - mobiliário urbano. fonte: acervo pessoal.
Figura 13. parque urbano do Lago Jacarey. fonte: acervo pessoal.
Figura 14. parque urbano do Lago Jacarey - quiosques alimentação. fonte: acervo pessoal.
Figura 15. parque del sol. fonte: acervo pessoal.
parque
Figura 16.
del sol. fonte: acervo pessoal.
Figura 17. parque del sol. fonte: acervo pessoal.
Quanto à legislação e macrozoneamento, pode-se dizer que a região possui certa homogeneidade. O centro administrativo encontra-se no trecho classificado como Zona de Ocupação Moderada do tipo 2 (ZOM 2), na qual é caracterizada a insuficiência ou ausência de infraestrura e carência de equipamentos públicos.
Além desta, pelo centro administrativo passa um sangradouro proveniente da Lagoa de Messejana, denominado também como Riacho da Levada, o qual estabele a conexão entre as lagoas de Messejana e Sapiranga.
Como aponta o mapa, o riacho se insere dentro de uma Zona de Preservação Ambiental do tipo 1 (ZPA 1], levada em consideração na proposta de intervenção.
Com relação ao entorno, este também se insere na ZOM 2, apresentando outras duas zonas ambientais, uma de recuperação e outra de interesse ambiental, ambas relacionadas à presença de recursos hídricos.
50
03. Lagoa da Sapiranga zona de ocupação moderada 2 zona de preservação ambiental zona de recuperação ambiental zona de interesse ambiental da sabiaguaba
recursos hídricos centro administrativo limites bairros
Índice de aproveitamento básico de 1,0; Índice de aproveitamento máximo até 1,5; Índice de aproveitamento máximo até 1,5. Índice de aproveitamento mínimo de 0,1; Taxa de permeabilidade de 40%; Taxa de Ocupação de 50%; Taxa de ocupação de subsolo de 50%; Altura máxima de edificação até 48m; Área mínima de lote de 150m² ; PARÂMETROS
MAPA DE MACROZONEMENTO E HIDROGRAFIA
0 200m
01. Lagoa de Messejana
02. Lago Jacarey
01 02 FRONTEIRAS messejana parque iracema alagadiço novo sapiranga cidade dos func. AV.JOSÉAMÉRICO AV.WASHINGTON SOARES AV.WASHINGTON SOARES AV.WASHINGTON SOARES
AV.JOSÉAMÉRICO BR-116 BR-116 AV.JOSÉAMÉRICO R. LEONARDO MOTA R. TOMÁS IDELFONSO R. CRISANTO MOREIRA DA ROCHA R. CRISANTO MOREIRA DA ROCHA AV.VIENAWEYNE AV. VIENA WEYNE 03
URBANÍSTICOS ZOM 2:
AV.JOSÉAMÉRICO
Em outubro de 2018 foi assinado o decreto de autorização da criação de uma Unidade de Conservação do Cambeba, em fortaleza, totalizando 11 hectares. Fato este que confirma ainda mais a necessidade e a viabilidade da proposta do parque urbano.
O local, segundo matéria do Jornal O Povo, deve receber investimentos de revitalização urbana, buscando beneficiar os servidores, moradores e usuários do Centro Administrativo. O decreto foi assinado durante uma reunião de Monitoramento de Ações e Programas Prioritários (MAPP).
Conforme Arthur Bruno, em entrevista ao Jornal O Povo, responsável pela Secretaria de Meio Ambiente, a constituição da unidade de conservação dará mais suporte aos usos de esporte e lazer, já encontrados no Centro Administrativo.
De acordo com a Proposta elaborada pela Célula de Conservação de Diversidade Biológica, a Unidade de conservação a ser criada no município de Fortaleza terá o nome de Área de Relevante Interesse Ecológico do Cambeba (ARIE) e está dentro da categoria das Unidades de Conservação de Uso Sustentável, a qual tem por objetivo compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais.
A ARIE do Cambeba, está, portanto, situada dentro do Centro Administrativo Governador Virgílio Távora, e engloba o sangradouro proveniente da Lagoa de Messejana, já mencionado anteriormente. A criação da ARIE é necessária, segundo documento, devido a sua relevância biológica.
52
área de relevante interesse ecológico cambeba
parques urbanos
área de proteção ambiental sabiaguaba recursos hídricos
centro administrativo
limites bairros
MAPA ARIE CAMBEBA 0 200m 01. Parque Urbano da Lagoa de Messejana 02. Parque Urbano Lago Jacarey 03. Parque Urbano Lagoa da Sapiranga
01 02 FRONTEIRAS messejana parque iracema alagadiço novo sapiranga cidade dos func. AV.JOSÉAMÉRICO AV.WASHINGTON SOARES AV.WASHINGTON SOARES AV.WASHINGTON SOARES AV.JOSÉAMÉRICO
BR-116 BR-116 AV.JOSÉAMÉRICO R. LEONARDO MOTA R. TOMÁS IDELFONSO R. CRISANTO MOREIRA DA ROCHA R. CRISANTO MOREIRA DA ROCHA AV.VIENAWEYNE AV. VIENA WEYNE 03
AV.JOSÉAMÉRICO
É interessante perceber que a ARIE do Cambeba está inserida em um contexto de corredor ecológico, compondo um conjunto de áreas protegidas envolvidas no decorrer da drenagem hídrica do Riacho da Levada, como a ARIE Professor Abreu Matos, Área de Proteção Ambiental (APA) da Sabiaguaba, Parque Urbano (PU) da Lagoa da Messejana, PU da Lagoa da Sapiranga e PU do Lago Jacarey. Outra recomendação é a conexão com áreas verdes já consolidadas, como Parque Urbanos.
“A proposta está inserida em ambiente de relevância biológica, com forte apelo para manutenção de remanescentes de ecossistemas naturais, proteção de vegetação nativa diversificada e habitats reprodutivos que ainda resistem em áreas urbanas. Nesse sentido, são destacadas a diversidade fitoecológica e de espécies que integram vegetações do tipo mata ciliares, caatinga e cerrado.”
É interessante perceber que a ARIE do Cambeba está inserida em um contexto de corredor ecológico, compondo um conjunto de áreas protegidas envolvidas no decorrer da drenagem hídrica do Riacho da Levada, como a ARIE Professor Abreu Matos, Área de Proteção Ambiental (APA) da Sabiaguaba, Parque Urbano (PU) da Lagoa da Messejana, PU da Lagoa da Sapiranga e PU do Lago Jacarey. Outra recomendação é a conexão com áreas verdes já consolidadas, como Parque Urbanos.
54
56
04
57 01. a inquietação 02. referenciais 03. um olhar sobre o cambeba 04. o centro administrativo 05. o parque do cambeba
o centro administrativo
o plano piloto
O projeto do Centro Administrativo do Estado do Ceará foi requisitado na gestão do Governador Virgílio Távora, no final da década de 1970, com localização prevista no bairro Cambeba. Segundo Braga (2017, p.97),
“Foram convocados os escritórios dos arquitetos
José Neudson Braga, Francisco e José Nasser
Hissa e Reginaldo Rangel para elaboração do plano diretor do centro, tendo o arquiteto Luiz
Fiúza sido integrado à equipe posteriormente.
Após o início do projeto, o arquiteto Neudson
Braga saiu do grupo, não participando dos créditos finais do projeto, nos quais constam os escritórios Nasser Hissa Arquitetos Associados, Reginaldo Rangel Arquitetura e Consultoria e Luiz Fiúza Arquitetos.”
O caderno de projeto do plano piloto para o Centro Administrativo do Estado do Ceará expõe diretrizes e princípios para o conjunto urbano, estabelecendo seu sistema viário, aspectos urbanisticos, zoneamento, parâmetros para as edificações, entre outros.
58
O caderno inicia apresentando sua principal diretriz, ou seja, os atributos de flexibilidade e dinâmica, a qual consiste na:
“(...) edificação de blocos administrativos dotados de organização espacial flexível e dinâmica, de forma que cada unidade possa sofrer alterações em suas características funcionais, para atender às necessidades do serviço a que é destinada.”
(CEARÁ, 1979, p. 1)
Ainda sobre o Plano Piloto, a escolha do Sítio São José do Cambeba foi em função da tentativa de reequilibrar a malha urbana de Fortaleza, utilizando terras represadas pelo Aeroporto e Base Aérea. O terreno, de aproximadamente 47 hectares, dispõe de topografia pouco acidentada e da presença de um sangradouro, proveniente da Lagoa de Messejana.
59
Figura 18. Caderno do Plano do Centro Administrativo do Estado do Ceará Fonte: Plano Piloto – Centro Administrativo do Estado do Ceará (1979).
Além disso, ao discorrer sobre a integração viária, os arquitetos deixam clara a consciência do impacto de tal equipamento no contexto de expansão urbana de Fortaleza.
“A localização adotada, além de fácil integração com o Sistema Viário Básico de Fortaleza, tornará o Centro Administrativo um elemento regulador das tendências de expansão da cidade.” (CEARÁ, 1979, p. 2).
Sobre o sistema viário, foi adotado um eixo principal, para o qual convergem todas as suas ramificações, sendo este o principal elemento urbanístico da concepção do plano. É notória, dessa forma, a prioridade da escala do automóvel no plano, premissa característica do urbanismo moderno.
Esta avenida principal, de sentido norte-sul, norteia o zoneamento do Plano e destaca elementos fundamentais, como o Palácio Executivo, a Ágora Cívica e os espaços de convivência.
Esta Avenida Central, que contorna a Ágora Cívica, em frente ao Palácio Executivo, permite que se desenvolva ao longo do seu percurso, no canteiro interno, pontos de concentração natural, com equipamentos de lazer, tais como: pequenos quiosques, bancas de jornais e revistas, pontos de reuniões, de maneira a caracterizá-la como corredor de vivência do Centro Administrativo. (CEARÁ, 1979, p.4)
60
Além disso, o Plano estabelece três derivações em sentido leste-oeste, partindo do eixo viário principal, por onde os veículos devem ter acesso aos bolsões de estacionamentos coletivos. Ademais, é prevista a utilização de transporte interno coletivo, devendo, desse modo, o sistema viário dispor de paradas de ônibus, passeios de no mínimo 5 metros de largura e retorno nas ramificações em forma de cul de sac.
Sobre a organização espacial e zoneamento, o plano agrupa todos os diversos órgãos governamentais em sistemas e subsistemas. Vale ressaltar a semelhança dessa organização com a setorização funcional e racional de Brasília, cidade símbolo do urbanismo moderno brasileiro.
61
Figura 19. Implantação do Plano Piloto do Estado do Ceará Fonte: Plano Piloto – Centro Administrativo do Estado do Ceará (1979).
Para as edificações, foram estabelecidas definições acerca do sistema construtivo, bem como diretrizes de implantação. Assim, reduzem-se as movimentações de terra, sem desvirtuar a paisagem natural, e gerar formas espontâneas de acomodação do solo, permitindo diferentes usos em seus níveis térreo e inferior.
Nos projetos, os arquitetos optaram por adotar um sistema modular com o intuito de facilitar possíveis mudanças na ordenação de seus espaços, fato muito frequente em edifícios administrativos. O módulo base adotado foi de 1.25m x 1.25m, o que gerou a modulação estrutural de 7.50m x 7.50m.
Para isso, o plano estabelecia três opções construtivas das lajes, além de prever as menores fachadas para sentido leste-oeste, com proteção da forte incidência solar e estratégias de aproveitamento da ventilação natural.
62
Figura 20. Corte esquemático dos edifícios no Plano Piloto
Fonte: Plano Piloto – Centro Administrativo do Estado do Ceará (1979).
Figura 21. Corte/elevação da modulação dos edifícios do Plano Piloto
Fonte: Plano Piloto – Centro Administrativo do Estado do Ceará (1979).
Por fim, o Plano aborda as questões de drenagem, justificando a atitude de rebaixamento de cotas para o represamento das águas do sangradouro, formando um lago. Entre as justificativas, estavam a possibilidade de drenagem natural do terreno, bem como a melhoria de aspectos paisagísticos e microclimáticos do sítio.
Outro aspecto que merece destaque é a implantação estratégica de um edifício multiuso - lazer, restaurante, centro comercial e exposiçõespróximo à margem de tal lago, servindo como local de convivência dos servidores públicos.
63
Figura 22. Localização privilegiada de edifício multiuso no Plano Piloto Fonte: Plano Piloto – Centro Administrativo do Estado do Ceará (1979).
centro administrativo - situação atual
Ao analisar a situação atual do Centro Administrativo, verifica-se que alguns aspectos anteriormente explanados sobre o Plano Piloto não foram implementados em sua totalidade.
Mesmo assim, podemos identificar alguns aspectos da proposta original, principalmente no que se refere ao sistema viário interno e à proposta urbanística dos eixos norte-sul e leste-oeste, onde ainda se percebe claramente seu eixo central e suas ramificações de acesso aos edifícios.
Quanto às edificações, no entanto, apenas um bloco foi realizado de acordo com as diretrizes do Plano Piloto, onde hoje se localiza o Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará - IPECE.
As demais edificações foram projetadas por diferentes arquitetos, em diferentes épocas, resultando em um conjunto arquitetônico heterogêneo, com áreas vazias ou subutilizadas.
Alguns dos edifícios mais antigos, diferentemente dos mais recentes, apesar de não seguirem o plano original, ainda apresentam uma boa qualidade arquitetônica, como é o caso dos edifícios da Secretaria da Educação, dos arquitetos Neudson Braga e Joaquim Aristides, e da antiga Secretaria da Fazenda do Estado do Ceará, atual Tribunal de Justiça do Ceará, dos arquitetos Roberto Castelo e Nearco Araújo.
64
As edificações mais recentes não seguem as premissas do plano, inclusive algumas ignoram os eixos norteadores de implantação do projeto e recuos, causando perceptíveis alterações na escala e na conformação dos espaços do centro.
Contudo, deve-se atentar que nem todos os orgãos aceitaram se transferir para o Centro Administrativo, que apresenta atualmente setores e espaços ainda vazios. Sobre alguns órgãos e secretarias que funcionam, hoje, efetivamente no Centro, pode-se citar a Secretaria de Educação (SEDUC), a Secretaria de Infraestrutura (SEINFRA), o Tribunal de Contas dos Municípios do Estado do Ceará (TCM), a Secretaria do Planejamento e Gestão, Secretaria das Cidades, Secretaria do Turismo e o Palácio da Justiça.
Sobre seus aspectos urbanísticos, como consequência da premissa viária moderna, é perceptível a priorização da escala do automóvel em relação à escala do pedestre. Estes ficam estacionados ao longo de todos os eixos viários, inclusive o central, não se limitando apenas aos estacionamentos laterais coletivos, causando grande poluição visual e ilegibilidade do espaço.
Outro fator importante é o não estabelecimento dos corredores de vivência e da Ágora Cívica. Os canteiros centrais, antes previstos para receberem mobiliários e equipamentos, conformando espaços de congregação, encontram-se atualmente subutilizados, sem nenhuma estrutura, servindo apenas como caminho alternativo para os pedestres. No local previsto para a Ágora Cívica, existe hoje apenas uma capela, também subutilizada, sem os demais equipamentos previstos no plano.
65
Ademais, aspectos como passeios de 5 metros e a criação do lago não foram atendidos, contando o centro com passeios de apenas 3 metros e com o sangradouro em sua dimensão original.
A edificação multiuso também não foi consolidada como previsto. O plano estabelecia um edifício para uso dos funcionários do centro, com espaços de lazer, restaurante, comércios e exposições. Outro preceito era sua relação com o lago, o qual buscava tirar máximo proveito dos potenciais cênicos e microclimáticos do sítio.
Contudo, o edifício existente, o qual é o mais recente do local, não seguiu exatamente o previsto pelo plano. Apesar de se intitular “Centro de Convivência do Servidor Público” o prédio oferece poucos espaços de estar e lazer, dando prioridade aos usos de serviços, principalmente às agências bancárias. Além disso, a edificação tem sua fachada predominantemente cega voltada para o sangradouro, dotada de máquinas de ar-condicionado, negando seus potenciais paisagísticos.
Fonte:
Fonte:
Vale destacar que o plano discorre sobre sua relação com a cidade de Fortaleza, apenas no que se refere aos aspectos viários de conexão com suas vias importantes, reafirmando a escala do automóvel no plano.
66
Figura 23. fachada centro de convivência do servidor público
Fonte: acervo pessoal
Figura 24. centro de convivência do servidor público - espaço interno
acervo pessoal
Figura 25. centro de convivência do servidor público - relação com natureza
acervo pessoal
LIMITES CENTRO ADMINISTRATIVO
TERRENO PORÇÃO NOROESTE DO CENTRO ADMINISTRATIVO
CANTEIROS CENTRAIS
TERRENO PORÇÃO SUDESTE DO CENTRO ADMINISTRATIVO
Figura 26. mapa esquemático com imagens gerais do centro administrativo Fonte: acervo pessoal
CANTEIROS CENTRAIS GRADIL QUE DELIMITA O CENTRO ADMINISTRATIVO
PASSEIOS E RELAÇÃO COM A NATUREZA
RIACHO DA LEVADA
CAPELA
a apropriação
Como mencionado anteriormente, a falta de espaços de lazer neste setor sudeste, juntamente com a presença de áreas verdes, segurança, iluminação e estacionamentos, entre outros fatores atrativos do Centro Administrativo do Cambeba, fizeram com que a população começasse a utilizar o espaço como parque urbano.
Entre seus frequentadores, estão adultos, jovens e crianças. As atividades realizadas são diversas como corrida, caminhada, exercícios, passeio com amigos e animais, passeio de bicicleta e skatepark.
Este último uso foi destaque em uma matéria de uma importante revista da cidade, intitulada “[Playground] - Skate, o reinado noturno no Cambeba“, sendo uma área de referência na prática de tal esporte, principalmente por conter grandes avenidas asfaltadas e sem tráfego.
“Aos poucos, as ruas asfaltadas do Cambeba ficam mais tranquilas, sem o movimento dos carros. Saem os funcionários das várias secretarias e tribunais, carregando pastas de couro e envelopes pardos nas mãos, entram os rapazes e moças com os skates gastos debaixo dos braços.”
(Revista VÓS, 2016)
68
69
Figura 27. skate no Cambeba Fonte: Revista Vós (2016)
Figura 28. skate no Cambeba Fonte: Revista Vós (2016)
Além do skate, o Centro do Cambeba também é referência para corridas, sendo hoje um local de concentração de várias assessorias esportivas, as quais ficam agrupadas em pontos diferentes, identificadas por meio de tendas, mesas e uniformização.
É comum a utilização dos passeios e elementos do centro como local e ferramentas auxiliares para alongamentos e exercícios físicos. Desse modo, a criação do parque no local visa dar suporte a tal uso, oferecendo mobiliário, estruturas e equipamentos que atendam à tal demanda.
Vale ressaltar que a comunidade costuma também utilizar o centro, pois este conta com um campo de futebol em sua porção sul. Todavia, mesmo existindo esse uso, devido a sua grande extensão, essa convivência entre classes é pouco expressiva, devendo o projeto incentivá-la.
70
Figura 29. assessorias esportivas
Fonte: acervo pessoal
71
Figura 30. corrida no Cambeba Fonte: acervo pessoal
Figura 31. ciclistas no Cambeba Fonte: acervo pessoal
Figura 32. caminhada no Cambeba Fonte: acervo pessoal
Figura 33. apropriação dos passeios para circuito funcional.
acervo pessoal.
Figura 34. ciclistas utilizando a pista de rolamento.
acervo pessoal.
fonte:
fonte:
Figura 35. corredores dividindo pista de rolamento com o fluxo de carros.
acervo pessoal.
Figura 36. alongamento em infraestrutura do centro adm.
acervo pessoal.
Figura 37. tendas montadas para reunião de assessorias esportivas.
acervo pessoal.
fonte:
fonte:
fonte:
Gestão atual
Com a finalidade de compreender melhor a gestão e o funcionamento do centro do Cambeba, foi realizada uma entrevista com o Orientador de Célula da Coordenadoria de Recursos Logísticos e de Patrimônio, Francisco José, o qual esclareceu aspectos como gestão, relação com a apropriação e expectativas para o futuro, bem como forneceu dados sobre o fluxo diário de pessoas e sua demanda.
Segundo Francisco, o último censo registra um volume diário de servidores e terceirizados de 4 a 5 mil pessoas por dia. Contudo, contabilizando todas as pessoas que utilizam o centro, por motivos variados, incluindo o uso como área de lazer, o setor de segurança do centro administrativo afirma que esse número de pessoas sobe para cerca de 20 mil usuários por dia.
Sobre a mobilidade, o transporte dentro do centro administrativo se dá principalmente por meio de ônibus, possuindo o centro 35 rotas para uso de seus servidores e funcionários, já que as duas linhas públicas que passam pelo centro administrativo são insuficientes. Além disso, os horários de pico de utilização do centro administrativo consistem entre 8h da manhã e 18h da noite, sendo este fechado às 22h.
Sobre as demandas, o coordenador afirmou a intenção de dar suporte ao uso que vem ocorrendo do centro administrativo como área de esporte e lazer, com projetos em andamento de urbanização, sinalização e infraestrutura, prevendo melhorias muito similares às do presente projeto, como pavimentação dos canteiros centrais, colocação de mobiliários, ciclofaixas, banheiros públicos, segurança, entre outros.
74
Por fim, sobre a gestão do centro administrativo, esta encontra-se atualmente sob a responsabilidade da Secretaria de Planejamento e Gestão (SEPLAG), contudo, devido a complexidade que vem ganhando ao longo dos anos, a secretaria prevê a criação de uma prefeitura própria para o centro do Cambeba, capaz de atender a todas as suas demandas, principalmente com relação à proteção dos seus recursos naturais.
Conclui-se, portanto, a viabildade da ressignificação do Centro Administrativo do Estado do Ceará em um Parque Urbano para a cidade de Fortaleza, proposta esta que partiu da ação coletiva e espontânea de apropriação do Centro, por parte da população, na busca por espaços de lazer e convívio social. O projeto deve, dessa forma, intervir e estimular a apropriação dos espaços públicos, contribuindo para as noções de vizinhança e pertencimeto dos moradores, reestabelecendo suas relações com a cidade.
75
Figura 38. melhorias no canteiro central do Centro Administrativo. fonte: acervo pessoal.
Figura 39. melhorias no canteiro central do Centro Administrativo. fonte: acervo pessoal.
Figura 40. melhorias no canteiro central do Centro Administrativo. fonte: acervo pessoal.
05
79 01. a inquietação 02. referenciais 03. um olhar sobre o cambeba 04. o centro administrativo 05. o parque do cambeba
o PARQUE DO CAMBEBA
diretrizes e estratégias do projeto
Após tudo que foi visto até aqui, ficam claras a demanda, os príncipios e todas as questões que envolvem a proposta de ressignificação do Centro Administrativo, abrigando um parque urbano para a cidade de Fortaleza.
Para tanto, alguns princípios e diretrizes projetuais foram estabelecidos, a fim de manter a coerência em toda a proposta.
A intervenção se baseia nos princípios de fluidez, flexibilidade e intervalos de Bauman e Hertzberger, já anteriormente mencionados, que encontramse presentes ao longo de toda proposta.
O entendimento do conceito de intervalo de Hertzberger, como elemento responsável por romper a rígida demarcação territorial, foi refletido no projeto por meio de pontos de suavização de borda, promovendo possibilidades de interiorização e diálogo com o entorno.
80
Após análise da implantação e das fronteiras do Centro Administrativo, verificou-se a existência de duas principais tipologias de borda, as quais devem ser analisadas e trabalhadas pelo projeto. A borda concreta e a borda abstrata.
A primeira representa seu limite concreto, enquanto unidade, se trantando, portanto, da divisa física entre a propriedade do Centro Administrativo e a cidade. Já a segunda configura-se entre os limites abstratos dos seus diferentes espaços internos. Atualmente, a conexão entre estes espaços internos resumem-se ao eixo viário e suas adjacências, caracterizando os elementos naturais, presentes no centro, como barreiras e não como possibilidades de percursos.
[bordas concretas]
seguindo o princípio da continuidade da Gestalt, mesmo com interrupções, é possível ainda entender a forma resultante como unitária.
No processo de suavização das borda concretas, optou-se por fazer aberturas estratégicas ao longo do elemento físico que faz a demarcação oficial do Centro Administrativo, promovendo acessos para entrada de pedestres, gerando intervalos que amenizam a monotonia e hostilidade do gradeado verde.
81
Figura 41. esquema de suavização de borda concreta fonte: elaborado pela autora.
Vale ressaltar que tal suavização não elimina por completo a utilização de elementos demarcatórios, como gradis, porém visa flexibilizar e dinamizar essa delimitação, entendendo que algumas pequenas intervenções não prejudicariam a leitura de unidade do conjunto.
Esses acessos se configuram como novos espaços urbanos, como praças, buscando principalmente priorizar a escala do pedestre e as áreas livres do parque, em relação aos elementos que as conformam, no caso, as vias.
Para isso, foram escolhidos lugares estratégicos para a localização desses acessos e praças, levando em consideração aspectos do entorno, do terreno , entre outros, com o intuito de estabecer as ligações sugeridas anteriormente pelo mapa de áreas livres e conexões.
No projeto do parque, buscou-se priorizar a matriz espacial, possibilitando mais fluxos e pontos de contato com a cidade.
No plano moderno, percebese a priorização do traçado viário no desenho urbano, conformando fluxos em função do automóvel, e o estabelecimento de apenas um ponto de contato com cidade. 01 02
82
Figura 42. esquema de priorização fonte: elaborado pela autora.
[bordas abstratas]
após a suavização da borda concreta, estabelecendo mais pontos de contato com a cidade, a suavização das bordas abstratas se propõe com o intuito de aproveitar todos os espaços do parque.
Figura 43. esquema de suavização de borda abstrata
fonte: elaborado pela autora.
Sobre as bordas abstratas, o enfoque se deteve na inter-relação entre as várias partes do parque, visando ampliar as possibilidades de percursos dos pedestres.
Isso porque muitas áreas de potencial recreativo e cênico, dentro do Centro Administrativo, são subutilizadas ou não utilizadas devido à falta de estímulo ao seu usufruto, limitando a vivência do espaço às proximidades do sistema viário e conformando barreiras espaciais abstratas.
A fim de suavizar essas barreiras, estratégias de conexão e interiorização foram estabelecidas ao longo de toda proposta projetual com o objetivo de estreitar a relação tanto entre os novos acessos sugeridos e as áreas institucionais já existentes no Centro Administrativo, como também destes anteriores com a natureza presente no parque.
83
Assim, essas conexões revelam-se no projeto por meio de elementos como passagens elevadas, extensões de passeios, entre outros, fazendo a ligação entre os vários espaços do parque.
Além destes, também foram propostos caminhos de interiorização, com relação aos recursos naturais, que se diferenciam pela materialidade e buscam convidar o pedestre a adentrar o parque, criando novas perspectivas e percursos. Esses caminhos palafitam sobre o terreno natural, podendo, nas proximidades do recurso hídrico, configurar-se como ponte.
Com a diluição, portanto, das bordas abstratas o fluxo de pedestres passa a ocorrer com maior fluidez, desprendendo-se do traçado viário.
Ampliação do fluxo de pedestre para além da malha viária e ligação entre as diversas áreas do parque, por meio de estratégias de conexão e interiorização da área natural.
84
Figura 44. esquema de suavização de borda abstrata fonte: elaborado pela autora.
Os conceitos de fluidez e flexibilidade também influenciaram na decisão de criar e pensar o espaço urbano prioritariamente como área de convívio de usos variáveis, adaptáveis e, por vezes, indetermináveis, incentivando a multifuncionalidade e espontaneidade dos espaços.
Desde o princípio, a apropriação do Centro Administrativo foi natural e espontânea. Dessa forma, esse atributo também foi contemplado nas proposições urbanísticas e arquitetônicas do parque.
Outras diretrizes e estratégias também permearam todo o processo projetual do parque e do edifício e merecem destaque. São estas:
\ garantir o respeito ao patrimônio existente: considerar o papel histórico do Centro Administrativo como elemento urbano moderno e de suas edificações, respeitando e resgatando aspectos relevantes do plano; assim como alterando, quando necessário, aspectos obsoletos a fim de que o conjunto possa se adaptar e permanecer frente às novas dinâmicas sociais e mudanças ao longo do tempo.
\ pensar a cidade a partir da escala humana: compreender a cidade de Fortaleza e o espaço urbano criado como lugar de encontro, proporcionando interfaces vivas, convidativas e com significado.
\ garantir a acessibilidade e inclusão social: tornar os percursos e espaços do parque inclusivos e acessíveis a toda e qualquer pessoa independente de suas condições sociais, físicas e culturais.
85
\ garantir o acesso democrático: Entender os espaços livres do parque como efetivos espaços públicos que garantam expressões culturais, sociais e políticas por diferentes tipos de pessoas e classes sociais.
\ priorizar pedestres, ciclistas e o transporte coletivo: Intervir em passeios e seções viárias a fim de proporcionar conforto, segurança e a adequada fruição entre os diferentes modais.
\ possibilitar a diversidade de usos e dinâmicas: Conceber ruas, espaços públicos e mobiliários plurais que suportem diferentes usos e atividades.
\ dar suporte à permanência: Desenho urbano e mobiliário que criem espaços convidativos à permanência.
\ Uso sustentável e Preservação da natureza: Conciliar a conservação da natureza e do Centro Administrativo com o uso sustentável de parque urbano, buscando conectá-lo com outras áreas livres da cidade de Fortaleza, sempre que possível.
86
proposta urbana
Sobre a proposta urbana para o Parque do Cambeba e seu desenho urbano, foram escolhidos 5 acessos estratégicos de interface do parque com a cidade, seguindo o conceito de suavização das bordas concretas, 2 dos quais serão detalhados neste caderno. Além disso, alguns aspectos do plano original foram também considerados.
O plano, como já mencionado, estabelecia originalmente pontos importantes que não foram efetivamente consolidados. O projeto, desse modo, visou resgatar e potencializar alguns desses pontos, como o edifício multiuso, os corredores de convivência e a Ágora Cívica.
Sobre a edificação, o presente trabalho propõe um novo Centro de Convivência, o Pavilhão Cambeba, o qual deve cumprir seu objetivo de proporcionar um local de convívio e encontro para pessoas, dando suporte à atividades educativas, culturais, comerciais e de serviços do parque, valorizando e tirando proveito, de forma sustentável, da natureza.
A proposta também prevê a transformação dos arborizados canteiros centrais em parques lineares, devendo estes receberem mobiliários que incentivam o uso coletivo de convívio, lazer e contemplação.
A inexistente Ágora Cívica, hoje apenas ocupada pela capela, foi consolidada, por meio da criação de uma área de praça, interligando-a com espaços esportivos e comerciais.
87
Toda a extensão do parque linear deve dispor de mobiliários que estimulem a permanência no local. Já na praça, pode ser estimulado o uso comercial e de feira, por meio de pequenas estruturas, como quiosques.
parque linear praça da igreja
A fim de se relacionar de uma forma amistosa e respeitosa com as edificações e o traçado existente do Centro Administrativo, a pavimentação das áreas de acesso foi orientada por uma malha modular de 5x5 metros, respeitando os eixos norte-sul e leste-oeste, previstos no Plano Piloto.
Dos 5 acessos escolhidos, como mencionados anteriormente, os acessos 01 e 03 serão detalhados neste projeto.
88
01 02 03 04 05
Figura 45. esquema localização parque linear e praça da igreja fonte: elaborado pela autora.
Figura 46. esquema modulação e setorização do parque fonte: elaborado pela autora.
\ Acesso 01: entrada de pedestres pela Av. José Américo, importante via que comunica o parque com outras regiões da cidade. Acesso escolhido devido à proximidade com o Lago Jacarey.
\ Acesso 02: entrada de pedestres pela Av. José Américo em sua interseção com a Av. Crisanto Moreira da Rocha por ser uma via urbanizada que apresenta pontos expressivos de verticalização, além de um polo gastronômico formado por vários restaurantes.
\ Acesso 03: entrada de pedestres pela R. Tomás Idelfonso em sua interseção com a R. Olímpio Leite pela proximidade com a Comunidade do Carrapicho (Novo Cambeba) e Comunidade São Bernardo.
\ Acesso 04: entrada pela R. Leonardo Mota pela proximidade com o Colégio Virgílio Távora e Comunidade São Bernardo, além de outros assentamentos precários como Jardim Violeta e Parque Iracema.
\ Acesso 05: entrada de pedestres pela Av. José Américo, importante via que comunica o parque com outras regiões da cidade. Acesso escolhido devido à proximidade com áreas residenciais e comerciais, apresentando pontos de verticalização importantes, como o Edifício Comercial Quartier Empresarial e grandes empreendimentos residenciais como Parque Del Sol.
89
Esses acessos recebem pavimentação e podem se configurar ora como plataforma (praça), ora como caminho, dependendo da demanda de seu entorno e sua proximidade com elementos relevantes, vegetação, mobiliários urbanos, entre outros.
Para isso, além de seguir os eixos de implantação estabelecidos pelo plano moderno, optou-se por atribuir um caráter linear à pavimentação. Tal atributo fortalece a linguagem dos eixos, bem como possibilita avanços e recuos da paginação sobre o terreno, garantindo assim sua flexibilidade.
Desse modo, por meio de uma pequena variação de cor do piso intertravado, a pavimentação pode ser compreendida como o agrupamento de vários segmentos lineares, os quais se unem de acordo com a necessidade.
variação de cor do piso intertravado conformando a pavimentação como uma disposição de segmentos lineares, os quais podem avançar e recuar sobre o terreno.
90
Figura 47. esquema de pavimentação do parque fonte: elaborado pela autora.
No que se refere à mobilidade urbana dentro parque optou-se por reduzir a pista de rolamento ao mínimo necessário para passagem de veículos.
Segundo Gondim (2010), a largura mínima da faixa de veículo varia em relação à sua classificação, sendo portanto adotada para o parque o valor de 3m para as ramificações (vias secundárias) e de 3,30m para as faixas do eixo principal. Dessa forma, é possível fazer extensões no passeio atual e melhorar as condições de mobilidade no parque.
Devido ao considerável número de pessoas que correm, caminham e andam de bicicleta no centro administrativo, para melhor conciliar essas atividades esportivas com o fluxo de automóveis foram implementadas no passeio ciclofaixas bidirecionais de 2,40m além de um calçadão de 5m.
O calçadão de 5m já é recomendado desde o plano moderno, contudo não executado. A largura foi novamente proposta tendo em vista a possibilidade de reservar uma faixa livre de 2m para pista de corrida, enquanto os outros 3m configurariam a calçada convencional, somando uma faixa livre de circulação e eventuais mobiliários. Vale ressaltar que essa demarcação não é categórica, sendo, portanto, o calçadão compartilhado entre pedestres com velocidades diferentes.
Ainda sobre o passeio, entre o meio fio e o início da ciclofaixa foi designada uma faixa de 1m para serviço e segurança, a qual abriga mobiliários urbanos, como postes de iluminação e papeleiras, e arborização.
Nas esquinas houve a redução do raios de conversão para 5m, uma vez que estes têm impacto direto sobre a velocidade de conversão dos veículos e
91
distâncias de travessia dos pedestres (NACTO, 2018).
Optou-se também por restringir o estacionamento de veículos aos bolsões coletivos existentes e às vagas paralelas (de balizas) criadas ao longo das vias, liberando os visuais do parque lienar. Essas vagas são possíveis devido à redução da seção viária. Dessa forma, as extensões de passeios comentadas anteriormente, podem, quando necessário, ser transformadas em vagas paralelas, melhorando as condições visuais e conexões entre as várias partes do parque.
Por fim, passagens elevadas ao nível do passeio foram implantadas ao longo do parque estabelecendo as conexões das várias áreas do parque, garantindo a acessibilidade e a priorização do pedestre.
CORTE A | VIA COMPATILHADA
0 2,5m
CORTE B | AVENIDA CENTRAL
0 2,5m
92
pavimentação existente pavimentação proposta áreas permeáveis/naturais limite parque urbano áreas ampliadas caminhos de interiorização
posto policial parque linear
banheiros playground infantil pista de cooper
academia ao ar livre anfiteatro
ciclofaixa passagem elevada pólo esportivo - campo de futebol, quadras e skatepark
B B A A
PRELIMINAR PARQUE DO CAMBEBA 0 50m 01. Secretaria de Infraestrutura 02. Tribunal de Contas dos Municípios do Estado do Ceará 03. Secretaria de Educação 04. Pavilhão Cultural Proposto 05. Secretaria do Planejamento e Gestão/Secretaria das Cidades/Secretaria do Turismo/Controladoria e Ouvidoria Geral do Estado/Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica 06. Agência Reguladora dos Serviços Delegados do Estado do Ceará - em construção 07. Tribunal da Justiça 08. Superintendência de Obras Hidráulicas 09. Corregedoria Geral da Justiça 10. Centro de Documentação e Informática do Poder Judiciário do Ceará 11. Capela 12. Biblioteca
Escola de Gestão Pública do Estado do Ceará
MASTERPLAN
13.
AV.JOSÉAMÉRICO R. CRISANTO MOREIRA DA ROCHA R. TOMÁS IDELFONSO R. LEONARDO MOTA 01 02 06 12 13 07 08 10 11 09 04 05 03
ACESSO 01 ACESSO 05 ACESSO 04 ACESSO 03 ACESSO 02
EDIFICAÇÕES
LEGENDA
ampliação parque | acesso 01
Na área 01, devido à proximidade com o monumento de criação, optou-se por destacar esse eixo visual por meio da diferenciação de piso, criando um caminho em madeira no piso intertravado.
Sobre proposições de mobiliários para a área, com a intenção de dar continuidade ao pólo gastronômico do Parque do Lago Jacarey, a praça conta com quiosques comerciais, bem como ganha mobiliários de exercício ao ar livre, playground e estar, sempre próximos a elementos geradores de sombra como pergolados metálicos e árvores. Além disso, é colocado na área um módulo de banheiros públicos e um posto policial, a fim de garantir segurança ao local.
Sobre a topografia, o terreno apresenta um desnível suave, sendo a praça, assim, dividida em dois níveis. Parte do piso de madeira constitui um rampado, garantindo a acessibilidade e conformando nichos elevados. Além do caminho de madeira que corta a praça, alguns caminhos de interiorização foram propostos. Estes são compartilhados entre pedestres e ciclistas, possibilitando rotas alternativas de maior aproximação com natureza. Tais caminhos seguem a topografia do terreno, contando com inclinações, quando necessárias, inferiores à 5%.
94
AMPLIAÇÃO PARQUE | ACESSO 01 01. Quiosque de alimentação 02. Posto Policial 03. Wcs Públicos 04. Módulos de Coberta (Caramanchão metálico) 05. Academia ao ar livre 06. Playground 07. Caminhos de interiorização em madeira. 0 5m 05 06 07 01 01 04 04 03 02
Figura 48. perspectiva das trilhas de interiorização fonte: elaborado por Carolina Bruno, Maiara Lacerda e Mariana Castro
49. perspectiva do caminho de madeira cortando apraça
50. perspectiva dos quiosques de alimentação
Figura
fonte: elaborado por Carolina Bruno, Maiara Lacerda e Mariana Castro.
Figura
fonte: elaborado por Carolina Bruno, Maiara Lacerda e Mariana Castro
ampliação parque | acesso 03
A área 03 situa-se próxima à comunidade do Carrapicho, configura-se como o polo esportivo no parque. A região já era frequentada pela comunidade por conta de um campo de futebol existente, dessa forma, a área esportiva foi ampliada contando com, além do campo de futebol, quadras poliesportivas, skatepark, academia ao ar livre e playground.
Além disso o projeto visou comunicar, por meio da criação de um eixo, a entrada da comunidade com a ágora cívica, convidando-a a entrar no parque e percorrer suas diferentes áreas. Na ágora é proposto um espaço para quiosques e feiras, como forma de incentivar o comércio local. Na praça, foram espalhados pergolados metálicos, mesas de piquenique/jogos e bancos, conformando nichos de estar e lazer, além de um anfiteatro possibilitando eventos e manifestações culturais. Caminhos de madeira também foram propostos, proporcionando novos visuais aos ciclistas e pedestres.
98
AMPLIAÇÃO PARQUE | ACESSO 03 01. Quiosque de comerciais 02. Posto Policial 03. Wcs Públicos 04. Módulos de Coberta (Caramanchão metálico) 05. Academia ao ar livre 06. Playground 07. Caminhos de interiorização em madeira. 08. Campo de Futebol e quadras poliesportivas. 09. Skatepark 10. Mesas de piquenique/jogos 11. Anfiteatro 0 5m 01 02 04 06 05 08 09 01 04 01 04 11 03 01 04 10 07 ÁGORA CÍVICA
Figura 51. perspectiva dos módulos metálicos fonte: elaborado por Carolina Bruno, Maiara Lacerda e Mariana Castro
Figura 52. perspectiva do polo esportivo
fonte:
elaborado por Carolina Bruno, Maiara Lacerda e Mariana Castro
Figura 53. perspectiva das trilhas de interiorização fonte: elaborado por Carolina Bruno, Maiara Lacerda e Mariana Castro
Figura 54. perspectiva do anfiteatro fonte: elaborado por Carolina Bruno, Maiara Lacerda e Mariana Castro
AMPLIAÇÃO
0 5m
Por desfrutar de uma densa arborização, o parque linear foi equipado preferencialmente com mobiliários de estar e lazer como bancos, mesas de piquenique/jogos, a fim de estimular a permanência.
Diagonais em madeira atravessam a paginação do intertravado, dinamizando os caminhos e ligando pontos importantes do Centro Administrativo e do Parque.
O conceito de flexibilidade também foi proposto para os mobiliários. Foram pensando em módulos de pergolados metálicos, seguindo a mesma linguagem dos edifícios, os quais correspondem à modulos de 5x5m os quais são agrupados de forma variadas, criando espaços diferentes de estar e lazer.
O mesmo módulo, foi utilizado para conformar o playground infantil. A disposição dos módulos conforma planos, os quais recebem variadas opções de fechamento, como escaladas, jogo de cordas, balanços, escorregadores, entre outros.
Além destes, foram propostos mobiliários de estar e permanência, como bancos em concreto e
madeira, mesas de café e piquenique. Elementos arquitetônicos como quiosques comerciais, postos de polícia, banheiros públicos e paradas de ônibus também foram espalhados pelo parque a fim de oferecer espaços dinâmicos, confortáveis e seguros.
A estrutura desses elementos foi realizada com uma estrutura leve, em steel frame com revestimento em placas de alumínio.
A parada por configurar um elemento que se repete de forma modular no passeio, foi desenhada conformando barras de alongamento, já que é comum aos frequentadores do Centro Administrativo se alongarem ao longo do percurso.
PARQUE | PARQUE LINEAR
BANCO 1
LAYOUT POLÍCIA
0 1,25m
LAYOUT QUIOSQUE
0 1,25m
ISO | POLÍCIA
ISO | WCS PÚBLICOS
LAYOUT WCS PÚBLICOS
0 1,25m
MÓDULO PARADA
/ALONGAMENTO
BANCO 2
BANCO 3
MESAS
PIQUENIQUE
MESAS
QUIOSQUES
MÓDULO | PLAYGROUND
MÓDULO | PERGOLADO METÁLICO
MOBILIÁRIOS
proposta arquitetônica
Com relação ao edifício multiuso, o projeto propõe a criação de uma nova edificação, demolindo a existente, sob a justificativa de resgatar sua relação com a natureza, principalmente com o riacho, bem como a de dar mais ênfase aos espaços coletivos de convivência e lazer.
Assim como previsto no Plano, a edificação deve ser de caráter flexível e multifuncional, entretanto, propondo novos usos além dos existentes, como programas culturais e educativos, abertos à cidade.
Sobre sua implantação, a edificação situa-se em uma localização privilegiada pela proximidade com a vegetação e com o riacho. Partem do pavilhão, nesse contexto, decks e uma ponte de madeira, cruzando o riacho, aproximando-se, de forma cuidadosa, ao máximo da natureza. Além disso, o edifício segue as orientações do plano piloto quanto à modulação e eixos de implantação, relacionando-se de forma harmônica com as edificações do entorno.
O pavilhão é formado dois blocos longitudinais e um auditório. Entre os blocos é conformada uma praça interna, pela qual cruzam passarelas e rampas que fazem a união entre os blocos. Além das passarelas, uma grande coberta e empenas de tijolo aparente fazem a união dos blocos, fazendo o fechamento do conjunto.
106
DO CAMBEBA 01. SEDUC 02. Deck de madeira e acesso ponte.
5m
IMPLANTAÇÃO PAVILHÃO
0
ACESSO PAVILHÃO ACESSO PAVILHÃO
02 01
ACESSO PAVILHÃO
As empenas funcionam como elemento surpresa, pois devido ao desencontro dos seus tijolos, esta configura-se como um plano translúcido, não relevando de ínicio a totalidade do conjunto, despertando a curiosidade do pedestre.
O pavilhão se configura da forma mais aberta e livre possível. Cada bloco concentra suas partes fixas nas laterais, como banheiros e circulações verticais, liberando sua parte interna para a livre conformação de planos de fechamento.
Sobre os usos, o primeiro bloco conta com a parte educacional de salas multiuso, oficinas, administração e agências bancárias. Já o segundo bloco conta uma com praça de alimentação, café, mirante e loja.
O pavilhão possui estrutura metálica e vedação em tijolo aparente, os quais conformam planos opacos ou translúcidos, dependendo da necessidade. A utilização de tal materialidade partiu do desejo principal de se diferenciar das edificações modernas e de se revelar como uma arquitetura inclusiva, optando, dessa forma, por vedações em tijolo aparente, material bastante comum na arquitetura popular cearense.
Além disso, os dois blocos possuem pavimentos superiores livres, contando apenas com volumes soltos, os quais conformam as oficinas e o café. Optou-se por ocupar o térreo e liberar os pavimentos mais elevados, em função da maior acessibilidade com relação à comunidade, entendendo que quanto mais fácil o acesso, maior a probabilidade da comunidade utilizar. Ademais, o prédio está inserido em um contexto de parque, ou seja, com abundância de áreas livres. Desse modo, preferiu-se utilizar o
108
DO CAMBEBA 01. salas multiuso 02. administração/serviço 03. agências bancárias 04. auditório 05. praça interna 06. praça de alimentação 07. farmácia/loja 08. praça externa 09. deck de madeira e acesso ponte. 10. bloco de wcs e depósito 11. bloco de circulação vertical e depósito. 0 5m 01 10 11 11 10 01 03 06 08 05 09 07 02 04 ACESSO PAVILHÃO ACESSO PAVILHÃO ACESSO PONTE ACESSO PAVILHÃO ACESSO SEDUC PROJ. PASSARELA PROJ. PASSARELA
PLANTA TÉRREO PAVILHÃO
pavimento superior como pavimento de livre apropriação, dotado apenas de mobiliários espalhados, já que este se encontra em cota elevada em relação ao terreno, podendo, portanto, desfrutar dos visuais do parque.
Sobre o auditório, este aproveita-se do desnível natural do terreno e tem seu palco voltado para a praça, possibilitando sua abertura e utilização como anfiteatro do conjunto.
A coberta metálica utiliza telha sanduiche. Nos pavimentos superiores a ventilação natural é possibilitada por painéis em madeira, os quais podem ser movimentados, abertos ou fechados, não prejudicando assim o potencial cênico. Além disso, a fachada poente, além dos painéis, recebe no pavimento térreo fechamentos em cobogó, protegendo as esquadrias internas, bem como possibilitando a criação de jardins voltados para dentro do pavilhão.
Sobre a estrutura, a edificação utiliza vigas e pilares em perfil I, lajes em steel deck e passarelas e rampas com vigas metálicas semi-invertidas vermelhas de 1m de altura, capazes de suportar grandes vãos.
110
de estudo
livre de estudo/
café
livre de estar/
de wcs e depósito 06. bloco de circulação vertical e
0 5m 01 02 01 03 04 05 06 06 05
PLANTA PRIMEIRO PAVIMENTO PAVILHÃO DO CAMBEBA
01. oficinas/salas
02. pavimento
coworking 03.
04. pavimento
mirante 05. bloco
depósito.
LAJE JARDIM AUDITÓRIO
Figura 55. fachada nordeste do Pavilhão Cambeba fonte: elaborado por Carolina Bruno, Maiara Lacerda e Mariana Castro
Figura 56. fachada noroeste do Pavilhão Cambeba fonte: elaborado por Carolina Bruno, Maiara Lacerda e Mariana Castro
Figura 57. fachada sudeste do Pavilhão Cambeba vista da ponte
fonte: elaborado por Carolina Bruno, Maiara Lacerda e Mariana Castro
Figura 58. vista interna do Pavilhão Cambeba
fonte: elaborado por Carolina Bruno, Maiara Lacerda e Mariana Castro
Conclui-se, portanto, que o ato coletivo de apropriação do centro administrativo como área de esporte e lazer tem direta relação com as novas dinâmicas de ocupação urbana presentes na região sudeste da cidade de Fortaleza. Todo o processo estudado do rápido desenvolvimento desta porção da cidade gerou problemas urbanos como carências de espaços livres, segregação socioespacial, entre outros.
A apropriação aponta uma forma da população solucionar por conta própria, a oferta insuficiente de áreas livres por parte do poder público, ocupando, assim, áreas urbanas com potencial e consolidado novos usos e significados, mesmo sem a devida infraestrutura para tal fim.
Desta forma, o projeto visou estruturar e dar suporte ao uso espontâneo e pré-existente de parque, configurando a infraestrutura não como elemento que determina a função do espaço, mas sim como elemento que dá suporte e viabiliza seu uso, reafirmando a vocação natural do sítio. Os conceitos de flexibilidade e intervalos foram, portanto, implementados ao longo de considerações finais
toda a proposta urbana e arquitetônica, suavizando bordas e constituindo novas interfaces com seu entorno, estimulando espaços multifuncionais e democráticos.
A adequação e o surgimento de novos planos de urbanização, apresentados ao longo do trabalho, realizados pela atual gestão do Centro Administrativo, bem como a criação unidade de conservação do Cambeba, instituindo seu uso sustentável, confirmam a viabilidade e potencialidade do espaço para oficialização de um parque urbano.
Por fim, o Parque do Cambeba já era parque, mesmo antes do início do presente estudo, atuando o projeto como meio para seu adequado desempenho, produzindo espaços livres e edificados capazes de absorver as novas demandas da cidade, bem como incentivar a integração e convívio social entre os diferentes segmentos da população, entendendo a cidade como local de encontro e de possibilidades.
bibliografia
ANDRADE, Demétrio; BRUNO, Artur; FARIAS, Aírton de. Os pecados capitais do Cambeba. Fortaleza: Editora Expressão Gráfica, 2002.
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.
BRAGA, B. M. Flexibilidade e permanência: os edifícios públicos modernos de Fortaleza. 2017.
157 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo e Design) - Centro de Tecnologia, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2017.
BRAGA, B. M. ; PAIVA, R. A. Centros administrativos como tipologia urbana moderna: o caso do Cambeba em Fortaleza. In: DOCOMOMO N/NEArquitetura. Tectônica. Lugar, 6., 2016, Teresina: Docomomo N/NE, 2016.
CEARÁ. SEPLAN. II Plano de Metas Governamentais – II PLAMEG. Centro
Administrativo do Estado do Ceará. Governo do Estado do Ceará, Fortaleza, 1979.
120
CÉLULA DE CONSERVAÇÃO DA DIVERSIDADE
BIOLÓGICA - CEDIB (Ceará). Secretaria de Meio
Ambiente - SEMA. Proposta de Criação da Área de Relevante Interesse Ecológico do Cambeba.
Fortaleza: Senac, 2018.
DIÓGENES, B. H. N. Dinâmicas urbanas recentes da área metropolitana de Fortaleza. 2012. 359 p. Tese (Doutorado Interinstitucional em Arquitetura e Urbanismo) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.
GONDIM, Monica Fiuza. Cadernos de Desenho Ciclovias. Fortaleza, 2010.
MACEDO, S. S. ; SAKATA. F. G. Parques urbanos no Brasil. São Paulo: Edusp, 2002. 207 p.
National Association of City Transportation Officials - NACTO. Guia Global de Desenho de Ruas. São Paulo: Senac, 2018.
HERTZBERGER, H. Lições de Arquitetura.
Martins Editora, 2015. 272 p.
121