Girl Gang: Ilustração como discurso de empoderamento de mulheres para mulheres.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ INSTITUTO DE CULTURA E ARTE CURSO DE DESIGN - MODA

BRENDDA DA COSTA DE LIMA

GIRL GANG: Ilustração como discurso de empoderamento de mulheres para mulheres.

FORTALEZA 2015


BRENDDA DA COSTA DE LIMA

GIRL GANG: Ilustração como discurso de empoderamento de mulheres para mulheres.

Trabalho de conclusão de Curso submetido a Coordenação de Graduação em Design-Moda do Instituto de Cultura e Arte da Universidade Federal do Ceará, como requisito para a obtenção do grau de Bacharel em DesignModa Orientador: Profa. Aline Teresinha Basso

FORTALEZA 2015


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Página reservada para ficha catalográfica que deve ser confeccionada após apresentação e alterações sugeridas pela banca examinadora. Para solicitar a ficha catalográfica de seu trabalho, acesse o site: www.biblioteca.ufc.br, clique no banner Catalogação na Publicação (Solicitação de ficha catalográfica) ___________________________________________________________________________


BRENDDA DA COSTA DE LIMA

GIRL GANG: ILUSTRAÇÃO COMO DISCURSO DE EMPODERAMENTO DE MULHERES PARA MULHERES.

Trabalho de conclusão de Curso submetido a Coordenação de Graduação em Design-Moda do Instituto de Cultura e Arte da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em DesignModa Aprovada em: ___/___/______.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________ Prof. Aline Teresinha Basso (Orientador) Universidade Federal do Ceará (UFC) _________________________________________ Prof. Prof. Dr. Maria Dolores Brito Mota Universidade Federal do Ceará (UFC) _________________________________________ Prof. Esp. Liandro Roger Universidade Federal do Ceará (UFC)


A Deus. Aos meus pais e a todas as meninas ilustradoras

que

de

alguma

maneira

colaboraram pra construção deste trabalho


AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a Amanda, Debora e Rute por terem organizado, em novembro de 2014, o Desenquadradas, evento que debateu o papel da mulher na ilustração e nos quadrinhos e que me motivou de vez a escrever este trabalho. A Manuela, pela compania, conversas, risos, finais de semana de conversa e crescimento sobre questões de gênero, e pela amizade que só cresceu nesse processo de graduação. A Suzana, Amanda, Bruna, Julia, Marina, Nathalia, Beatriz, Jessica, Lily, e todas as meninas do coletivo Girl Gang, do coletivo Arminina e do Selfless Portraits das Minas por terem mudado meu modo de ver meu trabalho, por terem me inserido no feminismo e pela construção diária em prol do empoderamento feminino na ilustração. Ao meu namorado, Germain, por continuar sendo meu apoio nesse processo de transição entre adolescência e vida adulta. Por enchugar minhas lágrimas, pelos abraços, e pelas palavras de motivação todas as vezes que eu quis desistir. Te amo. Aos meus chefes, Onofre e Pablo, por permitirem meu crescimento e por lidarem da melhor maneira com todas as minhas inseguranças artísticas. A minha orientadora maravilhosa, Aline Basso, pelas aulas de desenho, pelas dicas de materiais e por ter aceitado construir este trabalho comigo. Minha admiração e respeito se convertem sempre em elogios pra ti. Obrigada mesmo. Por fim, gostaria de agradecer à minha mãe, Jaqueline, por ter acreditado no meu sonho e por ter me insentivado sempre a ser uma mulher forte, independete e obstinada.



RESUMO O presente tabalho faz uma análise da representação do feminino nas histórias em quadrinhos de super herois e na ilustração brasileira feminista contemporânea. Para tal se problematiza a hegemonia do olhar masculino para a mulher na história da arte bem como a objetificação e a sexualização das musas. Constroe-se também um debate sobre a representação da mulher nos quadrinhos contrapondo as abordagens de ilustradores e ilustradoras. Por fim, expõe-se a relevancia do feminismo como mensagem de empoderamento para mulheres presente nas ilustrações e hq´s de algumas artistas brasileiras contemporâneas. Palavras-chave: Ilustração. Histórias em Quadrinhos, Feminismo.


ABSTRACT Tradução do resumo em língua vernácula para outro idioma de propagação internacional (em inglês ABSTRACT, em francês RESUMÉ, em espanhol RESUMEN). Abstract abstract abstract abstract abstract abstract abstract abstract abstract abstract abstract abstract abstract abstract abstract abstract abstract abstract abstract abstract abstract abstract abstract abstract abstract abstract abstract abstract abstract abstract abstract abstract abstract abstract abstract. Keywords: Palavra 1. Palavra 2. Palavra 3.


LISTA DE FIGURAS


Figura 1 - Discóbolo, 460 – 450..................................................................................................................... 17 Figura 2 - Vênus de Cnido, 375-330.............................................................................................................. 17 Figura 3 - Ventos, elementos, temperamentos, em Manuscrito astronomico, Baviera, século XII..................18 Figura 4 - Oferta de um coração e Um amante oferece prata a sua dama. Romance de Alexandre, 1344.......19 Figura 5 - Nascimento da Vênus, 1482.......................................................................................................... 20 Figura 6 - Vênus Adormecida, 1509.............................................................................................................. 22 Figura 7 - Vênus de Urbino, 1538.................................................................................................................. 22 Figura 8 - A Leitora, 1776............................................................................................................................. 23 Figura 9 - Les Demoiseles, 1857.................................................................................................................... 24 Figura 10 - Safo, 1867................................................................................................................................... 24 Figura 11 - Quadro Comparativo Vênus Nua................................................................................................. 27 Figura 12 - Quadro Comparativo Vênus Vestida............................................................................................ 27 Figura 13 wonder woman george perez 1970............................................................................................... 30 Figura 14 - ................................................................................................................................................... 31 Figura 15 sEXUALIZAÇÃO DA FIGURA FEMININA NOS QUADRINHOS.............................................................32 Figura 16 – REPRESENTAÇÃO DO MASCULINO NOS QUADRINHOS................................................................33 Figura 17..................................................................................................................................................... 34 Figura 18..................................................................................................................................................... 34 Figura 19 COMPILADO DE PRODUÇÕES ARTISTICAS FEMINISTAS BRASILEIRAS..............................................39 Figura 20..................................................................................................................................................... 41 Figura 21..................................................................................................................................................... 43 Figura 22..................................................................................................................................................... 44 Figura 23..................................................................................................................................................... 45 Figura 24..................................................................................................................................................... 45 Figura 25..................................................................................................................................................... 47


Figura 26..................................................................................................................................................... 48 Figura 27..................................................................................................................................................... 50 Figura 28..................................................................................................................................................... 51 Figura 29..................................................................................................................................................... 51 Figura 30 sUPER HEROINAS CONTEMPORâNEAS........................................................................................... 53 Figura 31 pRODUÇÕES DE MULHERES BRASILEIRAS EM FORMATO hq..........................................................53


SUMÁRIO

4. A ilustração como discurso....................................................................................................................... 51


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1 INTRODUÇÃO A assimetria entre os papeis destinados a homens e mulheres, na sociedade, é estudada por várias áreas de conhecimento das ciências humanas. A moda, por sua vez, cumpre um papel de analista e agente de mudança nas estruturas sociais ao conseguir disseminar rupturas de padrões vigentes. Assim é comum encontrar estudos sobre gênero e corpo relacionados ao Design de Moda. Quando restringimos o debate de gênero à arte, a diferenciação entre o masculino e o feminino se torna mais evidente. Em grande parte das obras o criador é homem e a criatura é mulher. No cenário contemporâneo, a arte pop das histórias em quadrinhos retrata mulheres super sensualizadas e esteriotipadas em modelos de submissão aos personagens masculinos. A inquietação com representações negativas do feminino na ilustração e nos quadrinhos motiva uma análise retrospectiva da arte para entender como foram construidos os padrões de beleza para a mulher. Por conseguinte, busca-se analisar a relação entre o olhar do artista e a distinção de concepção e comportamentos de personagens femininos e masculinos. Percorrido esse caminho, este trabalho passa a analisar o atual cenário da ilustração feita por mulheres brasileiras como palco para a difusão de ideais feministas que englobam representatividade, aceitação e empoderamento do sexo feminino. Faz-se necessário, por tanto, uma mescla de procedimentos técnicos relacionados a pesquisa bibliográfica de abordagem qualitativa, para entender como o corpo da mulher foi representado ao longo da história da arte. Foi importante também ler artigos, disponíveis na web, que discorrem acerca do belo sob a ótica do feminismo e fundamentar uma discussão a respeito do erotismo sobre o corpo da mulher. Uma vez problematizada a visão masculina sobre o que é ser mulher, este trabalho ganha um novo rumo. Para entender a figura feminina representada na ilustração contemporânea, preferi analisar produtos da cultura pop – revistas em quadrinhos tradicionais e algumas ilustrações feitas por mulheres feministas brasileiras, dispostas na internet. Os quadrinhos de super-heróis foram, especialmente, escolhidos por conterem uma trajetória de representação da mulher idealizada: sempre jovem, bela e detentora de corpos e ações sensuais que enfatizam seus atributos físicos. Dentro desse contexto, proponho uma reflexão acerca dos estereótipos aplicados às personagens femininas de maneira geral, e tomo como exemplo a jornada da heroína Batgirl como espelho de inferiorização do sexo feminino.


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Outro fator decisivo se contrapõe a visão masculina sobre a mulher nos quadrinhos. O aumento de revistas que subvertem o comum e transforma mocinhas em grandes exemplos de heroinas como a própria Batgirl, a Thor, a Spider Gwen, Ms Marvel, dentre outras – abordam temas próximos da vivência de qualquer mulher, que, por conseguinte geram identificação com o público e abrem espaço para que mais garotas se interessem pelo gênero. Ao escolher ilustrações feitas por mulheres brasileiras feministas, para reforçar a análise da representação e representatividade feminina na arte contemporânea, proponho o deslocamento do olhar espectador sobre a mulher-criatura para criadora na história da arte. Em seguida, constitui-se um recorte de espaço e tempo, para caracterizar a produção artística de mulheres ilustradoras e quadrinistas brasileiras que rompem os padrões de representação do feminino. Durante a construção da metodologia pensei em aplicar questionários para identificar como a mulher brasileira enxerga seu corpo e a segunda para constatar se estas mulheres observam representatividade de gênero, biótipos e cores nas ilustrações. No entanto, acabei preferindo listar artistas mulheres feministas e recolher depoimentos sobre suas experiências no mercado de quadrinhos – caso da ilustradora e colorista Cris Peter – e sobre a representação da mulher em projetos de empoderamento – caso da ilustradora Manuela Cunha Soares. Ambas as conversas se encontram no apêndice. Para finalizar este trabalho, fiz uma análise das obras destas artistas atentando para o discurso ideológico não verbal que prega liberdade para ser e usar o que quiser, sororidade, o levante a qualquer forma de assédio, preconceito e machismo bem como a construção social do feminino nos quadrinhos feitos por mulheres.


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2 O CORO DAS MUSAS Ao longo da história da humanidade, os artistas documentaram os ideais de beleza, a cultura e a história de seu período em pinturas, gravuras, esculturas, poesia e etc. A mudança na representação da figura humana reflete preceitos ideologicos que em grande maioria das vezes privilegia o olhar e o poder masculino, sobre o ser mulher. Desta maneira este capítulo destaca períodos específicos da arte para a análise da construção da figura feminina e assim embasar a discussão, futura, acerca dos padrões estéticos vigentes na ilustração contemporânea. Inicialmente Eco (2004) pondera que a representação “clássica” da beleza do passado pode ser considerada interpretações modernas na qual a imagem corporal é moldada por preceitos religiosos, sociais e estéticos para se distanciar da razão e aguçar os sentidos do espectador. Assim, ao remontar à Grécia Antiga, nos deparamos com a subjetividade do indivíduo sendo colocada em primeiro plano, uma vez que o conceito de beleza estava ligado à bondade e às qualidades da alma. Matesco (2009) afirma que no período de ascensão de Atenas como potência cultural, por exemplo, o desenvolvimento das artes – em especial pintura e escultura representam a ideia síntese do sujeito como harmonia entre forma e movimento, assim como pode ser observado na figura 1 e 2. Desta maneira, o desenvolvimento da técnica do escorço1, na pintura, apenas corrobora para legitimar a beleza espiritual.

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Efeito de perspectiva que permite a representação de figuras e objetos em proporções menores que a realidade FONTE : HTTP://WWW.MARQALICANTE.COM/BELLEZADELCUERPO/ DISCOBOLO.PHP


FIGURA 1 - DISCÓBOLO, 460 – 450

FIGURA 2 - VÊNUS DE CNIDO, 375-330

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FONTE: ECO, 2004, P. 47

É interesssante destacar que pouco se fala sobre a representação da figura feminina na arte Grega, mesmo que sua imagem se personifique na forma mítica de deusas, ninfas e musas. Durante o Humanismo e o Renascimento, a beleza como harmonia e proporção entre formas geométricas se tornou regra. O desenho do corpo passou a seguir módulos matemáticos rigorosos (ECO, 2004) relacionados a proporção áurea 2. Um bom exemplo é a representação quadrática do indivíduo baseada no princípio do número “4” existente na natureza – quatro são os elementos, os ventos, as estações... etc (figura 3).

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A proporção áurea é uma igualdade entre razões, que dentre outras coisas, relaciona:

- A altura do corpo humano e a medida do umbigo até o chão. - A altura do crânio e a medida da mandíbula até o alto da cabeça. - A medida da cintura até a cabeça e o tamanho do tórax. - A medida do ombro à ponta do dedo e a medida do cotovelo à ponta do dedo. - Tamanho dos dedos e a medida da dobra central até a ponta. - A medida da dobra central até a ponta dividido e da segunda dobra até a ponta. - A medida do seu quadril ao chão e a medida do seu joelho até o chão. - A medida do pênis humano e a medida da palma de sua mão.


18 FIGURA 3 - VENTOS, ELEMENTOS, TEMPERAMENTOS, EM MANUSCRITO ASTRONOMICO, BAVIERA, SÉCULO XII.

FONTE: ECO 2004, P. 76.


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Durante a Idade Média se estabelece a cultura de submissão do feminino que por sua vez dignifica o comportamento imaculado e hostiliza “desvios de comportamento”. Segundo Lipovetsky (2000), esse período foi marcado pela tradição da hostilidade e da suspeita em relação à mulher. Enquanto no plano espiritual a virgem era santificada e glorificada, no mundo das mortais, as mulheres eram espancadas, torturadas, condenadas, queimadas e também serviam de objeto de troca e negociações para os homens. A figura de Maria enquanto ícone de beatificação e ideal se contrapunha a outra figura enigmática e perigosa, a da bruxa. A feiticeira, segundo Perrot (2007), era a mulher conhecedora de fórmulas e elixires para a cura. Eram mulheres que subvertiam as normas clericais, inclusive, pela forma particular e livre de viverem a sexualidade, ou seja, elas tinham parte com o “diabo”. A única solução: fogueira. (COUTINHO, 2009. p, 24 E 25)

O período medieval se torna intrigante, no entanto, pela dicotomia em relação a repressão de qualquer alusão à sensualidade ao mesmo tempo em que desloca a beleza do masculino para o feminino. De acordo com Eco (2004), o surgimento de um ideal de beleza feminina e da educação relacionada à paixão amorosa, amplifica o desejo do espectador. A fantasia de posse sempre adiada, na qual quanto mais a mulher é vista como inatingível, mais se alimenta o desejo que a dama acende no cavaleiro, e assim a sua beleza se transfigura, como se observa na figura 4. FIGURA 4 - OFERTA DE UM CORAÇÃO E UM AMANTE OFERECE PRATA A SUA DAMA. ROMANCE DE ALEXANDRE, 1344

FONTE: ECO, 2004, P. 164 E 165


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É possível entender, desta maneira, que o mito da mulher inatingível, criada pelo amor cortéz, dá margem ao desenvolvimento do desejo carnal que perdura até os dias atuais na forma de objetificação da figura feminina na arte como um todo. Ainda na Idade Média, o catolicismo se impõe sobre o corpo controlando sua imagem. A doutrina cristã postula inicialmente o afastamento da beleza plástica (MATESCO, 2009). Imitar o Cristo ao copiar sua virtude vale mais do que sua aparência. As distorções e a feiura cabem apenas aos seres impuros, seres lendários, monstros e demônios. Mesmo envolto de proibições e idealizações, o corpo feminino e a beleza da mulher são alguns dos temas mais explorados ao longo da história da arte ocidental. Ao atrelar estes dois elementos, passa a existir uma diversidade de concepções de corpos entre os artistas, que não buscavam representar a beleza física, mas sim a sua representação naturalista (MATESCO, 2009). Mas é na figura da Vênus (figura 5), e nas suas diversas reinterpretações, que a representação idealizada do corpo da mulher ganha destaque na pintura. FIGURA 5 - NASCIMENTO DA VÊNUS, 1482

FONTE: ECO, 2004, P. 16

Ferreira (2009, p. 82) faz a seguinte observação:


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Os nus femininos, de tradição pictórica ocidental, têm origem nas belas estátuas gregas, que esculpiram no mármore não só a arquitetura de uma perfeição de formas pré-concebidas, mas também gestos fundadores de uma estética da ambiguidade feminina, presente na atitude de velamento e desvelamento de sua intimidade física.

Barreto (2013) afirma que a figura da Vênus, dentre outras pinturas de nu feminino, ajudou a construir determinado imaginário da figura feminina, envolto em sensualidade e submetido ao olhar masculino. O corpo feminino desnudo faz alusão à beleza física e material:

A mulher renascentista usa a arte da cosmética e dedica-se com atenção à cabeleira, tingindo-a de um louro que muitas vezes tende ao ruivo. Seu corpo é feito para ser exaltado pelos produtos da arte dos ourives, que também são objetos criados segundo o cânone de harmonia, proporção e decoro [...]. Mais tarde, o corpo da mulher, que se mostra, serve de contraponto à expressão privada, intensa, quase egoísta dos rostos, de decifração psicológica nada fácil e por vezes proporcionalmente misteriosa. (ECO, 2004, p. 196 e 198).

Os nus femininos avançam pelos séculos, repetindo a fórmula da doce passividade (SENNA, 2009). Em infindáveis obras, o corpo da mulher aparece tanto de forma despida, como parcial ou totalmente encoberta (ALMEIDA, 2010). Representadas de maneira submissa, ou erótica, lhes cabia o papel de posar como modelos e se tornar parte da paisagem (figura 6 e 7). A pintura nos séculos XVI e XVII reforça o ideal de beleza sensual, lânguida e entregue, para contrapor à rígida moral da Contra-Reforma, bem como os dramas do século (ECO, 2004). Estas representações se propõem a evocar novas formas de expressão que remetem ao sonho, ao estupor e a inquietude.


22 FIGURA 6 - VÊNUS ADORMECIDA, 1509.

FONTE: ECO, 2004, P. 189

FIGURA 7 - VÊNUS DE URBINO, 1538

FONTE: ECO, 2004, P. 189

No século XVIII, a descrição exata da beleza feminina passa a ser subjetiva. Eco (2004) afirma que cabe ao artista elencar seus critérios e deslocar seu fazer criativo à pesquisa de novos conceitos, aplicando uma mescla de gostos íntimos, experiências e sensações ao


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produto final. O artista passa a encontrar beleza na forma do objeto admirado (figura 8). A variedade, a pequenez, a lisura, a variação gradual, a delicadeza, a pureza, a clareza da cor, a graça e a elegância se tornam relevantes para destacar a essência da obra.

FIGURA 8 - A LEITORA, 1776

FONTE: ECO, 2004, P. 277

Burke (apud.ECO, 2004) afirma que beleza é acima de tudo uma qualidade objetiva dos corpos, graças à qual eles despertam amor e atua sobre a mente humana através dos sentidos. No século XIX, o caótico e o informe passam a exercer fascínio sobre alguns criadores. Para o homem romântico mesmo a morte, arrancada do reino macabro, pode ser bela. A fuga pode exprimir valores sinceros e ingênuos. Mas sobretudo, o vago do “não sei o quê” passa a suscitar emoções no espírito. A impulsividade do artista do período romântico não buscava o estático e o harmônico, mas enxergava no feio e na antítese uma maneira de encurtar as distâncias entre o sujeito e o objeto. Subentende-se, a partir das leituras de Eco (2004), que a figura da mulher oitocentista pode ser representada por duas imagens distintas: a ingênua virgem adolescente, de aparência angelical e sempre em êxtase amoroso (figura 9); e a figura cigana, relacionando-o a figura do fogo: de natureza inquieta, ardente, perigosa e mística (figura 10).


24 FIGURA 9 - LES DEMOISELES, 1857

FIGURA 10 - SAFO, 1867

FONTE: ECO, 2004, P.298 FONTE: ECO, 2004, P. 332

Com o avanço da industrialização e a expansão do capitalismo, na segunda metade do século, a tristeza, obscuridade e feiura abrem espaço nas artes para a separação entre moral e prática, com intuito de conquistar todas as possíveis transgressões visuais. Percebe-se, contudo, uma fluidez de ideais que hora favorece o natural, hora busca a estilização. Eco (2004) descreve que a mulher-flor (ou mulher-joia) é vista com fascínio quando tem sua imagem associada a um modelo artificial repleto de ornamentos. Em termos técnicos, florais, gemas e arabescos são utilizados para ampliar o senso de fragilidade que permeia a vida e a morte. O misticismo se apresenta na pintura fazendo analogia ao divino, ao transcendente, ao mesmo tempo em que está carregado de sensualidade. Eco (2004, p.351) descreve, de maneira poética, que os artistas deste período tendem a pintar aquilo que seus corações querem pintar, e que Deus está em cada elemento apresentado, ao mesmo tempo em que as mulheres são retratadas com “bocas carnudas e olhos acesos de desejo”.


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Um dos avanços mais interessantes em termos de percepção dos objetos e representação pictórica é o impressionismo. A busca da beleza abandona o céu e leva o artista a mergulhar no vivo da matéria (ECO, 2004). O belo então deixa de ser o êxtase estético, mas passa a ser registrado como instrumento de conhecimento técnico. Romão Ferreira (2010) afirma que durante o século XX a estética industrial invade a vida cotidiana. Tem-se uma mudança radical da silhueta e dos padrões de beleza corporal, principalmente para as mulheres. Entre 1910 e 1920, os corpos se libertam e as formas se alongam, como se as linhas do corpo ganhassem autonomia e acompanhassem a profunda transformação social em curso. A experimentação das artes de vanguarda provoca a reinterpretação do corpo por meio de diversos olhares:

[...] no Cubismo de Braque (1882-1963), Léger (1881-1955) e Picasso (1881-1973), o espaço se estrutura em uma multiplicidade de faces que dividem o volume e compõem um novo espaço, multifacetado. O corpo é percebido a partir dessa multiplicidade de ângulos e a ideia principal é não apenas perceber o corpo a partir de diferentes perspectivas, mas principalmente, percebê-lo em sua realidade profunda. No expressionismo, com Kokoschka (1886-1944), Munch (1863-1944) e Egon Schiele (1890-1918), o corpo aparece torturado e deformado pelo mal-estar causado pela sociedade moderna. Suas formas retorcidas ou exageradas refletem os conflitos que afloram no inconsciente. No Surrealismo de Dali (1904-1989), Ernst (1891-1976) e Magritte (1898-1967), os mecanismos do pensamento são exacerbados, trazidos à tona, e um dos seus objetivos é questionar a racionalidade da ciência e da vida social. Os corpos são o local onde se materializam os desejos inconscientes, pois o inconsciente é a região do indistinto, onde o ser humano não controla a realidade, mas se funde a ela [...] (ROMÃO FERREIRA, 2010, p.189)

Direcionando sua análise para o corpo feminino, o autor ainda complementa:

[...] A percepção do corpo feminino, agora liberto das amarras da tradição, se libera para receber os novos sentidos produzidos por essa nova estética que privilegia a adequação do uso à função. A utilidade e a performance devem se tornar compatíveis às necessidades da vida moderna, serializada e industrial. Os valores sociais, assim como os parâmetros que moldam o conceito de beleza, começam a ser relativizados assim como se relativizam os conceitos da filosofia e a percepção do mundo físico. (ROMÃO FERREORA, 2010, p. 192)


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A partir do período entre guerras, o cinema também passa a influenciar a concepção corporal da mulher estabelecendo uma relação entre beleza e consumo. Desta maneira, começam a se estabelecer padrões contrários: a mulher fatal e a mocinha indefesa; a feminilidade e androginia; a graça aristocrática e o vigor da proletária. Senna (2012) ressalta que o avanço do movimento feminista traz para a arte temas relacionados ao corpo e à sexualidade. A iconologia da vagina e a auto representação do nu feminino visam subverter a imagem da mulher fetiche exposta na mídia. Se por um lado, nas últimas décadas do século XX os padrões de beleza se tornam plurais, por outro a preocupação excessiva com a imagem, valorizando a magreza, juventude, o vigor, impulsionam estratégias de utilização do corpo para obtenção de dinheiro, status e poder (ROMÃO FERREIRA, 2012). Tais elementos ainda são reproduzidos no século XXI, de maneira inconsciente, através de ilustrações facilmente encontradas em sites da web, como Tumblr, Pinterest e Facebook. No entanto, este assunto será retomado no segundo capítulo deste trabalho. A partir desta breve análise da representação do corpo feminino como motivo na arte, ao longo da história, os quadros comparativos da Vênus Nua (figura 11) e da Vênus Vestida (figura 12) apresentados por Eco (2004) nos ajudam a entender como a imagem da mulher foi moldada através do tempo pelo do olhar masculino.


FIGURA 11 - QUADRO COMPARATIVO VÊNUS NUA

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FIGURA 12 - QUADRO COMPARATIVO VÊNUS VESTIDA

FONTE: ECO, 2004, P. 16 E 17 FONTE: ECO, 2004, P. 20 E 21


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Nua, a Vênus de Willendorf, de seios flácidos e o quadril largo, ganha ao longo dos séculos novos contornos e vai sendo educada para se tornar frágil e submissa. Vestida, a Vênus revela a cultura de aparências imposta pelo meio social, que ressalta, através das roupas, alguns aspectos físicos em detrimento de outros. Mas, se o corpo feminino é ao mesmo tempo sujeito e objeto da arte, será que a projeção destas imagens corresponde ao imaginário que a mulher tem de si?

2.1 MULHERES DE PAPEL – O feminino nos quadrinhos

Assim como a pintura, a cultura pop é um espaço de comunicação não-verbal e um campo rico para se analisar questões acerca da representação do corpo da mulher (SIQUEIRA e VIEIRA, 2008). Ao destacarmos as histórias em quadrinhos como uma das fontes de análise, neste trabalho, estamos também fazendo uma análise social, uma vez que estas se utilizam da cultura e da vivência em sociedade como matéria prima para a construção de narrativas (BOFF, 2014). Melo e Ribeiro (2014) afirmam que as histórias em quadrinho são capazes de atingir as mais variadas camadas da sociedade, pelo fato de serem oriundas de duas artes diferentes -

escrita e desenho - e permitirem interpretação de elementos necessários à

compreensão do mundo atual. As autoras ainda ressaltam que as hq´s se apresentam como uma construção da realidade da existência do ser humano, substituindo o mundo real por um fictício, transmitindo os valores de um contexto social carregados de ideologias, de informações e de críticas sociais, que se apresentam de maneira explícita ou implícita. A lógica da identificação permite que o indivíduo se enxergue nas histórias vividas por seus personagens favoritos. No entanto, a construção social dos papéis desempenhados por homens e mulheres reflete, nos quadrinhos, assim como na sociedade, a desigualdade de gênero, a objetificação das personagens femininas e o machismo. Desta forma, este capítulo dedica-se a fazer uma análise acerca do olhar masculino sobre a mulher nos quadrinhos de super-heróis, uma vez que o mercado de comics norte-americano é mais expressivo em termos de criação, produção e consumo.


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A princípio, é preciso destacar que as personagens femininas estão presentes em parte significativa das narrativas dos quadrinhos, desde que estes se tornaram populares. No entanto, como afirma Boff (2014), suas primeiras representações estavam embasadas em estereótipos como mocinhas a serem resgatadas pelo herói, secretárias de grandes executivos e agentes da polícia, ou figuras relacionadas ao sexo. Melo e Ribeiro (2014) mencionam que super-moças e super-vilãs, vieram um pouco depois, e passaram a ser apresentadas como objeto de desejo dos super-heróis, “armas secretas” ou pontos de virada na jornada do herói. Assumpção (2001, apud BOFF, 2014) complementa falando que o apelo corpóreo relaciona a pureza e a ingenuidade das personagens à formas curvilíneas. É possível subentender, por meio de Boff (2014), que a conceitualização da identidade feminina, nas hq´s, é feita a partir das características estéticas que atendem aos critérios dos roteiristas e ilustradores - que em grande maioria das vezes são homens.

A imagem idealizada da mulher, ou melhor, do seu corpo, normatizadas nas HQs são na verdade representações de desejos e fetiches do imaginário masculino [...]. Fazer parte do desejo e sendo representada por 'atributos de seu corpo', não sendo dessa maneira evidenciada as reais capacidades e qualidades da mulher heroína, diferente dos personagens do sexo masculino que, geralmente, são representados e percebidos por sua força, inteligência e poder. (MELLO e RIBEIRO, 2014. p, 108)

Com a luta sufragista pelo direito ao voto, a inserção da mulher no mercado de trabalho e posteriormente a onda feminista na década de 60, o protagonismo feminino nos quadrinhos passa a ser explorado em Girl Strips - histórias com temáticas relacionadas à aventura, mistério e humor; bem como super-heroínas, como a Wonder Woman realizando ações consideradas masculinas.


30 FIGURA 13 WONDER WOMAN GEORGE PEREZ 1970

No entanto, como afirma Wolf (1992) quanto mais numerosos foram os obstáculos legais e materiais vencidos pelas mulheres, mais rígidas, pesadas e cruéis foram as imagens da beleza feminina a nós impostas.

A reação contemporânea é tão violenta, porque a ideologia da beleza é a última das antigas ideologias femininas que ainda tem o poder de controlar aquelas mulheres que a segunda onda o feminismo teria tornado relativamente incontroláveis. Ela se fortaleceu para assumir a função de coerção social que os mitos da maternidade, domesticidade, castidade e passividade não conseguem mais realizar. (WOLF, 1992. p, 13)

Segundo Oliveira (2002), uma vez que o homem dita a aparência da mulher, dentro das regras do que ele acredita ser ideal, o estereótipo criado para as personagens


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femininas nos quadrinhos (figura 14) passa a ressaltar a juventude, a magreza e a sensualidade, elucidando o Mito da Beleza como forma de controle da representação feminina no mass media. FIGURA 14 -

FONTE:HTTP://VIEWCOMIC.COM/ Os seios começam a receber uma atenção fetichista, que faz com que as mulheres permaneçam em um estado de eterna ansiedade em relação a eles. [...] A curva da cintura exageradamente acentuada pode ser submetida a cintas e exercícios; [...] E finalmente as nádegas e coxas, que devem ser duras e arrebitadas sem vestígio sequer de gordura. Horas e horas de exercícios, dietas e ingestão de muita água é o receituário do bumbum sexy. Ele deve ser pequeno e redondo. (OLIVEIRA, 2002. p, 7)

A autora ainda complementa falando que:

O corpo feminino é o lócus onde se concentra o maior número de atributos sexuais e a ele ainda podem ser agregados outros elementos - cabelos e roupas - que são transformados tantas vezes quanto o padrão de beleza vier a determinar. Assim, nas histórias em quadrinhos, o corpo feminino é construído, reelaborado e reatualizado, não como um corpo sujeito, mas como corpo-território para posse e deleite do outro, ou corpo padrão, no qual as múltiplas identidades da mulher são unificadas e fixadas em representações que significam e resignificam uma instância de vigilância e controle sobre sua sexualidade. (OLIVEIRA, 2002. p, 12)


FIGURA 15 SEXUALIZAÇÃO DA FIGURA FEMININA NOS QUADRINHOS

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A busca incessante pela beleza, por outro lado, não se aplica aos personagens masculinos. Encarnar a beleza é uma obrigação apenas para as mulheres. Os super-heróis (figura 16) continuam sendo predominantemente homens brancos e viris, com biótipos diferentes - altos ou baixos, bonitos ou feios, jovens ou velhos, gordos ou magros - e com qualidades psicológicas que não dependem de sua aparência física ou apelo aos seus corpos.


33 FIGURA 16 – REPRESENTAÇÃO DO MASCULINO NOS QUADRINHOS

Para Melo e Ribeiro (2014) o ser mulher no imaginário masculino, associa feminilidade, futilidade e vaidade. Por mais que a personagem tenha 'poderes' e possua um cargo de grande responsabilidade, ela vai ser sempre traída por ser mulher, por acreditar que sua aparência venha em primeiro lugar. E nesse contexto, muitas vezes as heroínas perdem seus poderes, são obrigadas a renegar suas identidades e suas ações heroicas passam a ser restritas. É preciso abrir um pouco mais a discussão deste capítulo, no entanto, para atentar para a manifestação do machismo, que se apresenta não somente na homogeneização do corpo da mulher, como também nas atitudes que a colocam em posição inferior. A partir disso, é possível perceber o quanto é comum, nas histórias em quadrinhos de super-heróis, ver as heroínas perder seus poderes, ser estupradas, humilhadas, ou cortadas e colocadas na geladeira. Exemplos curiosos de tudo que já foi falado neste capítulo, podem ser encontrados na jornada da heroína Batgirl. Em suas primeiras aparições, na década de 60, como destacam Melo e Ribeiro (2014) a Batmoça deixa seus parceiros em situação difícil com os inimigos, porque parou para arrumar sua máscara e tirar lama de seu rosto, o que ajuda na fuga dos criminosos. Em outro momento, ela ganha status de “abajur sexy” ao rasgar seu uniforme, deixando à vista suas pernas e distraindo, assim, os vilões, fazendo com que Batman e Robin os capture. Em 1988, o roteiro da graphic novel “A Piada Mortal” (figuras 17 e 18), de Allan Moore, submete Barbara Gordon - identidade secreta da Batgirl - à uma virada trágica na qual a personagem é atingida por um tiro na coluna, e incapacitada de se defender, é estuprada, fotografada e exposta para forçar o herói - Batman - a se vingar do vilão Coringa.


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FIGURA 17

FIGURA 18

Sarkeesian (2011) destaca que, em 1999, Gail Simone listou uma série de personagens mulheres que haviam sofrido perca de poderes, violação brutal ou morte precoce e macabra. Tais ações enfraquecem as figuras femininas, dentro das narrativas, e se tornam pontos de virada para o crescimento dos heróis. Eis ai mais uma diferença de gênero entre homens e mulheres nos quadrinhos. Para Siqueira e Vieira (2008) o poder exercido pelos homens, nas HQs, é como um direito adquirido e inquestionável, que se reafirma no ato de desenhar as personagem femininas de forma passiva. A crença na supremacia masculina nas HQ´s se manifesta, também, na falta de representatividade de personagens femininas negras, latinas, mulçumanas, velhas, gordas, lésbicas, transexuais, dentre outras. Por conseguinte, a falta de identificação com as personagens apresentadas nas narrativas, provocadas pelas representações negativas apresentadas neste capítulo, gera distânciamento do público feminino das histórias de super herois. Ressalto que ao mesmo paço em que as editoras de quadrinhos contemporâneos tentam fugir do clichê da representação do gênero, é perceptível a manifestação de fãs do sexo masculino, contrários às mudanças e autossuficiência das heroínas.


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Graças aos debates de gênero, diversidade, corpo e sexualidade que se proliferam pela internet, o Feminismo se revitaliza e abre espaço para que mais leitoras se manifestem e questionem personagens que não as representam. As mudanças no arco da Batgirl e da Canário Negro, a revitalização da She Hulk, bem como o surgimento da Thor, Spider Gwen, Mulher Aranha, Silk, Miss Marvel, e A-Force e Bitch Planet, são apenas alguns exemplos de como personagens femininas bem trabalhadas conseguem atrair o olhar das leitoras, bem como do público em geral.

Apesar do destaque positivo, a disputa pela legitimidade do feminino nos quadrinhos de super heróis ainda precisa descontruir o padrão estético que evidencia corpos atléticos, a supremacia dos personagens caucasianos e do machismo presente nas narrativas.

3. OUTRAS MULHERES

Uma vez problematizada a visão masculina sobre o que é ser mulher, bem como o papel social dela nos quadrinhos, este trabalho ganha um novo rumo. Assim, propõe-se uma


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análise feminista sobre a mulher, transpondo-a de criatura para criadora na história da arte. Em seguida, constitui-se um recorte de espaço e tempo, para caracterizar a produção artística de mulheres ilustradoras e quadrinistas brasileiras que rompem os padrões de representação do feminino. Para ratificar a linha de pensamento desenvolvida até aqui, Cris Peter, atuante no mercado de quadrinhos norte americano, como colorista e roteirista, faz o seguinte depoimento:

Venho trabalhando no mercado de comics há muito tempo. Nas grandes editoras, trabalho há uns 5 anos. O que eu percebo na maioria das histórias nas quais eu trabalhei, é o uso de mulheres como acessórios. Como um vaso de planta que fica no canto da sala pra enfeitar o ambiente. Pra ser bem sincera, eu mal me lembro de personagens femininas que colori, pois seus papéis nas histórias são bem irrelevantes. Mas me lembro de debochar sempre das suas poses, que nunca são muito naturais. Porém eu me lembro de títulos como Hexed (BOOM! Studios), The adventures of Super Hero Girl (Dark Horse), Hinterkind (Vertigo) e algumas edições de X-men (Marvel) justamente por terem protagonistas femininas bem representadas. Quando comecei a trabalhar com quadrinhos, eu mesma era bastante machista e não entendia muito a importância da representatividade, mesmo sofrendo da carência dela nos trabalhos que eu fazia. Isso me distanciou um pouco da mídia quadrinhos em si. Hoje me considero mais uma profissional dos quadrinhos do que uma fã. Acho que isso se deve ao fato de eu ter pouco interesse em ler as histórias que eram publicadas. Muitos títulos que os fãs acham clássicos, eu nunca li por pura falta de interesse, falta de algo que me atraísse a ler, personagens com os quais me identificasse, etc. Na verdade eu, como roteirista, vejo muito problema no desenvolvimento de personagens nas histórias em quadrinhos de maneira geral, não só em relação a representatividade. Me parece que falta aprofundamento nos personagens, o que importa é a história e como derrotar o "vilão" e os personagens são só alegorias que estão ali pra resolver uma questão. Não entendemos nada sobre eles, não empatizamos com eles, simplesmente porque nada pessoal sobre eles é mostrado. Não existe desenvolvimento de personagem, e isso me incomoda muito. Mas vejo que a questão da representatividade está se tornando um assunto em pauta para as editoras. Elas ainda falham muito, pois como máquina, o mercado tem muitas formulas prontas que são utilizadas para agilizar o processo de fabricação dos quadrinhos e se tem uma coisa que o público está cansado, é dos clichês que já foram utilizados até a exaustão. O que observo, é que sempre que uma profissional mulher está envolvida no roteiro, edição ou arte, é possível notar a diferença. E acho que é justamente disso que o mercado precisa. Mais mulheres envolvidas na criação dos quadrinhos. Assim mais leitoras se formaram e mais futuras profissionais também.

Fazendo um resgate histórico, a diferenciação por gênero em ambientes consagrados aos homens, como o das Artes, torna invisível suas representantes do sexo oposto até o século XIX. Daí se faz necessário masculinizar a aparência da mulher e afasta-la do


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ideal feminino - de esposa e mãe – para que estas possam pertencer ao mesmo círculo social, como afirma Carvalho (2010); outra prática separatista está relacionada a falta de identidade própria das artistas. Loponte (2002) critica que as mulheres são sempre apêndices de alguém: filha de... esposa ou amante de... mãe de... Elas e suas realizações precisam ser justificadas a partir da sua relação com outros. Como crianças que precisam ser conduzidas, as mulheres artistas e suas produções são sempre colocadas à prova, e sua capacidade de criação além dos limites da maternidade e reprodução é regularmente questionada, legitimando a arte como produto da criatividade e da genialidade masculinas.

[...] o nascimento da categoria “arte feminina” no século XIX como um nicho particular para abrigar o que era então uma novidade: um grande contingente de artistas do sexo feminino que almejavam expor suas obras. Para tanto as associações femininas como a Union des femmes peintres et sculpteurs desempenharam um papel fundamental ao possibilitarem que as artistas expusessem seus trabalhos, o que não era de pouca importância tendo em vista as dificuldades que enfrentavam para se formarem e serem avaliadas de modo equiparável aos homens. Todavia, esses salões exclusivos estimularam um olhar diferenciado para as suas obras, que paulatinamente passaram a ser julgadas não a partir de valores estéticos determinados pelo campo artístico, mas sim de expectativas sociais ditadas pelas demandas de seu gênero, como a de serem “doces”, “femininas”, “delicadas”, “graciosas”, etc. No limite, a “arte feminina” impôs-se então como uma modalidade classificatória perigosa na medida em que tanto solapava a diversidade estética das obras feitas por mulheres, quanto as afastava dos debates estéticos centrais. (SIMIONE, 2011. p, 378)

Simioni (2011) destaca o paradoxal ingresso das artistas nos circuitos de vanguarda por meio da interação estabelecida com os colegas homens, como forma de conseguir visibilidade e direito a palavra. É importante frisar que o termo “arte feminina” se diferencia da “arte feminista” uma vez que o primeiro carrega uma bagagem de significados pejorativos, enquanto o segundo se propõe a romper estereótipos e preconceitos que se abatem sobre a arte produzida por mulheres. Loponte (2002) reforça e afirma que são raras (ou inexistentes) as publicações sobre arte, no Brasil, que questionam padrões estéticos, trazendo outros pontos de vista que discordam dos cânones ou lançam outros olhares sobre feminilidades.


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No decorrer do século XX, no entanto, a assimetria existente no campo das artes, passa a ser insistentemente condenada e combatida pelo movimento feminista. A autora ressalta que em 1971, o Conselho de Artistas Mulheres de Los Angeles lançou uma declaração contestando o motivo de apenas 29 mulheres estarem relacionadas aos 713 artistas que haviam exposto em mostras coletivas no Museu do Condado de Los Angeles. No mesmo período o museu havia montado 53 mostras individuais, sendo apenas uma dedicada a uma mulher. (COUTINHO, 2009).

As implicações do feminismo na arte foram se tornando mais claras a partir dos anos 60, quando na ocasião, a tendência foi alcunhada pela crítica de Arte Feminista e suas integrantes, artistas feministas.[...] É fato, que o impacto do feminismo na arte trouxe à luz uma série de enunciados artísticos que focavam diretamente o universo singular da mulher, sob o ponto de vista da própria mulher artista - naquela altura mais ciente, desperto e afinado. E o surgimento de uma arte feita por e a propósito de mulheres, recheada de intenções políticas inclusas, não foi nem aceito e nem completamente compreendido no início do movimento. (COUTINHO, 2009. p. 56)

Embora já engajadas política e artisticamente, artistas feministas emergentes e outras ainda mais jovens que estavam ingressando, procuraram desenvolver suas práticas em espaços marginais (MATOS, 2013). Tal situação se inverte, no século XXI, graças à Internet. As redes sociais e sites pessoais abrem a possibilidade de publicizar o movimento feminista, as questões de gênero e os obras feitas por mulheres. Ciente disto, apresenta-se no apêndice uma pequena amostra de mulheres, ilustradoras e quadrinistas, brasileiras, feministas, que se propõem a questionar padrões vigentes e buscar uma “representação mais justa” do próprio gênero. A exposição destes trabalhos na internet força os admiradores destas artistas a repensar o que se está olhando e como se está olhando.


FIGURA 19 COMPILADO DE PRODUÇÕES ARTISTICAS FEMINISTAS BRASILEIRAS

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Embasada na teoria de Wolf (1992) que afirma que as mulheres, em geral, procuram modelos para se espelhar, o termo “representação” se apresenta como conceito-chave deste capítulo.

Na verdade, o termo “mulheres” dificilmente poderia ser usado sem modificações: mulheres de cor, mulheres judias, mulheres lésbicas, mulheres trabalhadoras pobres, mães solteiras [...]. Todas desafiam a hegemonia heterossexual da classe média branca do termo “mulheres”, argumentando que as diferenças fundamentais da experiência tornaram impossível reivindicar uma identidade isolada. A fragmentação de uma idéia universal de “mulheres” por raça, etnia, classe e sexualidade estava associada a diferenças políticas dentro do movimento das mulheres. (CARVALHO, 2010. apud SCOTT, 1992)

Desta maneira, quanto mais a figura feminina é desenhada de forma plural subentendendo que as mulheres são altas, baixas, gordas, magras, negras, brancas, amarelas, e com os mais variados traços físicos – mais mulheres se sentem confortáveis com suas próprias imagens. Ao apresentar a ideologia feminista de forma não verbal e resignificada pela


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utilização de cores, formas e texturas nas ilustrações e nos quadrinhos, as artistas apresentadas na lista já mencionada, conseguem estabelecer uma relação direta com o público. A seguir, destaca-se alguns nomes de ilustradoras e quadrinistas brasileiras, cujo trabalho se apoia no discurso feminista.

3.1 – Gabriela Masson.

A brasiliense Gabriela Masson, também conhecida como Gabriela LoveLove6, começou a produzir seus próprios quadrinhos em 2013. Dentre os temas abordados, a sexualidade e a liberdade feminina, bem como a desconstrução do esteriótipo de gênero sempre estiveram presentes. A artista sempre utiliza mulheres como protagonistas, como pode ser observado nos quadrinhos que publica no site Medium3, e suas zines A Ética do Tesão na pós-modernidade I 4 e II5 trazem um olhar diferenciado sobre a sexualidade da mulher. Dentre seus trabalhos, destaco inicialmente, um quadrinho publicado na página do Nébula – Quadrinhos, Jornalismo e Cotidiano 6 – no site Medium, sobre a representação da mulher na cultura pop.

3

https://medium.com/@lovelove6

4

http://issuu.com/katzenminze/docs/eticadotesao

5

http://issuu.com/katzenminze/docs/eticadotesao2

6

https://medium.com/nebula


FIGURA 20

41


42

FONTE: HTTPS://MEDIUM.COM/NEBULA/UMA-N%C3%A3O-QUAL-1CAF9AD0A09D


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Contrariando a ideia de que mulheres fazem apenas quadrinhos delicados e com temas relacionados ao “universo feminino”, Gabriela também produz uma série de quadrinhos chamada Garota Siririca com intensão representar mulheres dentro de situações eróticas, numa perspectiva não sensualidade ou objetificada.

FIGURA 21


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Ao não flertar com o leitor, a Garota Siririca sai do ambito do quadrinho erótico voltado para o público masculino e se torna, por tanto, um meio de se quebrar tabus acerca da masturbarção feminina, da sexualidade e do corpo da mulher. É interessante notar nos trabalhos de Gabriela que não é necessário a utilização de técnicas de desenho e/ou coloração complexas para conseguir passar uma mensagem clara e certeira.

3.2 Carol Rossetti

Tomando como princípio a simplicidade, a ilustradora mineira Carol Rossetti 7, começou a criar ilustrações com lápis de cor sobre papel craft para abordar questões sobre racismo, homofobia, bifobia, transfobia, elitismo, xenofobia e outros tipos de opressões.

FIGURA 22

Carol tem um trabalho coerente, claro e direto capaz de causar identificação imediata também, pela abrangencia de representações da figura feminina e pelo discurso de apoio às mulheres. 7

http://www.carolrossetti.com.br/


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3.3 Manuela Cunha

Com a proposta de resgatar a auto-estima de garotas através do desenho do nu feminino, Manuela Cunha criou o projeto “Outras Meninas”. FIGURA 23

A artista encontra sua poética na utilização da aquarela e na profundidade das histórias das mulheres que ela desenha. É interessante notar que cada figura feminina carrega uma bagem de insatisfações e inseguranças causadas por pressões estéticas e que cada uma delas.

Figura 24


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“Eu sempre fui magra, mas engana-se quem pensa que ser magra é o suficiente para se amar, se aceitar e sermos assim felizes para sempre. A TV e as revistas vão sempre te dizer que seu corpo não é o ideal, vai estar sempre faltando alguma coisa. Se você é magra, o bonito mesmo vai ser ter corpão, muita perna e muita bunda, se você tiver mais corpo, o bonito mesmo vai ser ter o corpo magro esquelético, uma longa busca pelo que não se é. Nós temos que ter maturidade pra entender que a aceitação segue o caminho de dentro para fora, e não de fora para dentro. O que eu tinha que mudar era o meu modo de pensar e não o meu corpo. Modifiquei desde a textura do meu cabelo até o meu físico, para hoje enxergar que a forma que eu me sinto mais bonita e feliz é quando estou saudável e natural. Exatamente como Deus me fez, exatamente como a natureza queria que eu fosse.” (http://outrasmeninas.tumblr.com/ acessado em 18/05 às 16:03)


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3.4 Evelyn Queiroz

Depoimentos também fazem parte do projeto Negahamburguer da paulista Evelyn Queiróz. A artista se apropria do grafite e do lambe-lambe para fazer intervenções urbanas, que retratam situações de mulheres reais e seus desejos de viverem simplesmente como são, sem padrões e com respeito. FIGURA 25


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Evelyn utiliza as redes sociais para dar voz a milhares de mulheres por meio de ilustrações que retratam a violência contra o gênero feminino e os preconceitos produzidos por uma sociedade permeada por padronizações estéticas. Em 2014, a artista lançou o livro Beleza Real, reunindo as histórias por trás das ilustrações. Destaco o relato 21 – “Ela é linda, mais que você” retirado do site8 da ilustradora:

FIGURA 26

Há uns 2 anos atrás eu conheci um cara numa balada, nos beijamos e foi tudo muito intenso aquele dia. Ele disse que iria me ligar no dia seguinte, eu não botei muita fé, mas, sim, ele ligou. E assim começamos um relacionamento, era sério, mas não era namoro. Quase sempre que nos víamos, transávamos e era maravilhoso. Ele era incrível na cama. Ficamos juntos por quatro meses, e de repente ele me disse que tava apaixonado por outra. Disse: “Ela é linda, mais do que você.” Aquilo me doeu muito, mas a história não acaba aí. Meses depois ele me pediu desculpas e disse que queria ficar comigo de novo. Eu, boba, aceitei. Foram muitas idas e vindas, a gente ficava e ele sumia por meses e depois voltava como se nada tivesse acontecido. 8

http://www.negahamburguer.com/


49 Um dia eu me cansei de tanta humilhação e resolvi perguntar: “Se você gosta de mim, porque você sempre some?” Ele respondeu: “Eu gosto muito de você, eu queria muito namorar você, mas eu não consigo te aceitar porque você é gordinha”. Aquilo me cortou como uma faca por dentro, foi horrível. Eu senti uma mistura de raiva, humilhação e indignação. Eu gostava muito dele. Chorei muito e respondi pra ele o seguinte: “Eu espero que um dia você encontre uma mulher que seja linda, magra e gostosona, mas eu tenho certeza que ela não vai ser metade da pessoa maravilhosa que eu sou”. Apesar de ele ter me pedido perdão por pensar dessa maneira, eu nunca consegui perdoá-lo, e nem sei se um dia vou conseguir. (http://www.negahamburguer.com/beleza-real-relato-21-ela-e-linda-mais-do-quevoce/, acessado em 18/06 às 17:22)

3.5 Sirlanney


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A quadrinistas cearense Sirlanney9 aborda a subjetividade feminina em suas tirinhas autobiográficas. A artista merece destaque por mesclar um traço simples, com cores vivas e desenvolver o caráter psicológico de sua personagem principal – a magra de ruim – e por reforçar a simples ideia de que a mulher é um ser complexo, com variações de humor, comportamento, e ideias.

FIGURA 27

A representação do feminino no trabalho de Sirlanney vai além da reprodução pictórica. A artista produz uma metáfora sobre a vida e a condição das mulheres, que é ao mesmo tempo irreverente e politizada.

9

http://sirlanney.tumblr.com/


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FIGURA 28

Por fim é interessante perceber que o dircurso feminista explicito é capaz de motivar outras meninas a enfrentarem situações opressão e assédio, naturalizadas pelo cotidiano.

4. A ILUSTRAÇÃO

COMO DISCURSO

FIGURA 29

A diferenciação entre homens e mulheres na arte é fruto de um longo processo de naturalização da figura feminina como objeto a ser contemplado. Ao ser colocada como um ser inalcançável e ao mesmo tempo submissa, o olhar do artista constrói a erotização do corpo feminino no imaginário do espectador, que por sua vez deseja a mulher, mesmo que ela seja apenas uma pintura, ou uma ilustração.


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Percebe-se que a dimensão do gênero pesa concretamente sobre as artistas, uma vez que a naturalização do olhar masculino tende a diminuir a perspectiva feminina sobres as artes visuais. Coutinho (2009) nos permite submeter que a diferenciação existente privilegia o masculino com o controle do sistema artístico, e sua herança patriarcal corrobora com a cultura do ocultamento feminino. A análise do discurso não verbal, presente na produção artística masculina reflete, segundo Orlandi (1999) todo um sistema abstrato composto por preceitos religiosos, sociais e estéticos que vestem e despem o corpo da mulher, assim como também corroboraram para criação dos estereótipos da virgem, doce e passiva, merecedora de admiração; e da mulher vil, bruxa, sedutora, que se torna ameaçadora pela sua independência. Na arte pop contemporânea, tais modelos continuam sendo utilizados e reforçados a ponto de se tornar comum, nas histórias em quadrinhos, a prática de distorcer o corpo feminino para ressaltar atributos físicos como seios e quadris. Sem mencionar que ilustradores e roteiristas subjugam as figuras femininas ao clichê de mocinhas indefesas que motivam a jornada do herói. É preciso frisar que os quadrinhos, assim como as pinturas e as demais obras de arte analisadas no decorrer deste trabalho, passam mensagens que são reinterpretadas pelo enunciatário. Desenhos não são apenas desenhos, uma vez que existe a troca de informações entre sujeitos e estas geram efeitos sobre a vivência dos envolvidos (ORLANDI, 1999). Ao naturalizar o estupro, a humilhação, ou a morte de personagens femininas nos comics se máscara preceitos machistas que colocam os homens em posição hegemônica, detentora de todo poder e ação nas narrativas. No decorrer do século XX, a inferiorização do gênero feminino passa a ser insistentemente condenada e combatida pelo movimento feminista. Ao permitir que a figura feminina se torne sujeito, na ilustração e nos quadrinhos, se abre espaço para representações positivas de figuras não comumente admiradas – tais como mulheres velhas, obesas, anoréxicas, trans, com deficiências físicas, e das mais variadas etnias.


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A inserção dos ideais feministas na produção autoral feminina contemporânea, contesta também anos de silenciamento das artistas e permite que as personagens saiam do locus da subordinação. Não é à toa que heroínas como Batgirl, Ms Marvel, Thor e Spider Gwen tem atraído olhares do público para as histórias de super heróis10. FIGURA 30 SUPER HEROINAS CONTEMPORÂNEAS

No panorama nacional, o discurso político do movimento feminista, presente nas obras das artistas elencadas neste trabalho, toma a ilustração como canal de diálogo não verbal com o público, para a desconstrução da percepção dos padrões de beleza e desmistificação da sexualidade feminina, permitindo assim subversão dos clichês já enraizados na cultura pop. FIGURA 31 PRODUÇÕES DE MULHERES BRASILEIRAS EM FORMATO HQ 10

http://www.proibidoler.com/quadrinhos/personagens-femininas-lideram-as-vendas-de-hqs-digitais/


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Ao fim desta pesquisa, pode-se concluir que as representações plurais do feminino e a presença de artistas mulheres no cenário da arte pop contemporânea, se torna importante para garantir o interesse de outras mulheres pelo desenho, pelos quadrinhos e pela arte como um todo. A relação estabelecida entre o feminismo e a ilustração dá voz a todas as mulheres pela identificação com as questões cotidianas, sejam elas fictícias ou reais. Acredito que é necessário o estímulo para que mais mulheres produzam e publiquem ilustrações e quadrinhos. Que saiam do anonimato e que contestem a falta de protagonistas femininas, ou os papeis que elas exercem nas narrativas. E sim, é necessário levantar a bandeira do feminismo para combater a naturalização da inferiorização da figura da mulher, para que as próximas gerações possam desfrutar da igualdade de gênero.


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REFERÊNCIAS ECO, Umberto. História da beleza. Rio de Janeiro: Record, 2004. MATESCO, Viviane. Corpo, imagem e representação: Rio de Janeiro: Zahar, 2009. MATTOS, Maria Izilda S. de; SOIHET, Rachel. O corpo feminino em debate. São Paulo: Unesp, 2003. FERREIRA. Ermelinda Maia Araujo. Trajetória de Vênus: leituras do corpo feminino na arte, do classicismo a Biopaisagem de Ladjane Bandeira. Brazilia, 2009. SENNA, Nádia da Cruz. O corpo feminino na arte contemporânea. Ebook do II Seminário Corpos, Gênero, Sexualidades e Relações Etcnico-Raciais na Educação. Rio Grande do Sul, 2012. ALMEIDA, Flavia Leme de. O feminino na arte e a arte do feminino: movimentos libertários do século. São Paulo, 2010. ROMÃO FERREIRA, Francisco. Corpo feminino e beleza no século XX. Revista Alceu. Rio de Janeiro, 2010. LOPONTE, Luciana Gruppelli

BOFF, Ediliane de Oliveira. De Maria à Madalena: representações femininas nas histórias em quadrinhos. São Paulo, 2014.

OLIVEIRA, Selma Regina Nunes. O jogo das curvas. Brasilia, 2002. WOLF, Naomi. O Mito da Beleza. Rocco. Rio de Janeiro, 1992. Siqueira, Denise da Costa Oliveira; e Vieira, Marcos Fábio. De comportadas a sedutoras: representações da mulher nos quadrinhos. São Paulo, 2008. Sarkeesian, Anita. Womens vs tropes Women in refrigerator https://www.youtube.com/watch?v=DInYaHVSLr8#t=12, 2011. acessado em 01/06/2015 às 20:05 Gail Simone - Women in Refrigerator http://lby3.com/wir/women.html, 1999. acessado em 01/06/2015 às 20:20


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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ. Biblioteca Universitária. Guia de normalização de trabalhos acadêmicos da Universidade Federal do Ceará. Fortaleza, 2013.


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