A Menina a ler | março 2016

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Hist贸rias e Mem贸rias Semana da Leitura | mar莽o 2016


História da Menina a Ler

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ra uma vez um senhor que era professor e escultor, ou seria antes, escultor e professor, não interessa, ou talvez sim, bom vamos continuar a história. Esse senhor escultor e professor, ou vice-versa, chamava-se Maurício Penha e deu aulas na Escola S. Pedro, nesta Escola. Decidiu fazer e oferecer uma escultura que representasse os alunos que aqui estudam. É essa escultura que podes admirar na entrada da Escola, local onde foi colocada há mais de cinco décadas.

Quando concluiu a sua obra, teve com ela uma longa conversa explicando-lhe porque era assim. Disse-lhe: Fiz-te em granito para seres forte, resistente como esta pedra que abunda na região transmontana. Pensei chamar-te Maria, o primeiro nome da minha mãe, mas depois pensei que todas as mulheres que não são marias podiam ficar melindradas. Tens irmãos, numa outra escultura que fiz para outra escola, é pena que não possas ir visitá-los. Coloqueite um livro na mão para, na tua vida, quase eterna, ocupares o tempo e continuares sempre a aprender. Peço-te que fiques atenta a todos os que por ti passam a caminho das salas de aula onde vão aprender. Vais conhecer várias gerações de alunos. Ouve o que eles têm para te ensinar, capta as palavras que dizem quando por ti passam. Gosto muito de ti, és bela, inteligente e estudiosa. No final, A Menina a Ler esboçou um belo sorriso. Teresa Bastos - 8.º E

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Abraço do Escultor Maurício Penha à Menina a Ler António Lopes - 9.º C

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O que lê A Menina a Ler?

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sta pergunta surgiu da boca de uma criança que tinha vindo visitar a Escola dos “Grandes” e ficou encantada com a escultura que repousa no jardim. A Menina a Ler ouviu a pergunta e, mesmo sem poder responder, mergulhou no seu mundo de fantasia e sonho e imaginou: Nessa noite, por magia, conseguiu entrar na Biblioteca da Escola. Percorreu com os seus dedos de granito as prateleiras, contou até três e retirou o livro em que tocava. Esse livro, o primeiro em papel que a Menina tinha nas mãos, era a Odisseia de Homero. Curiosa e empolgada, aproximou-se da janela para aproveitar a luz dos candeeiros e leu. Conheceu a epopeia de Ulisses, o herói grego que tinha participado na Guerra de Tróia, que durou dez anos e que demorou mais dez anos, repletos de aventuras, até chegar a Ítaca, a sua ilha, onde a sua mulher Penélope, o seu filho Telémaco e o seu cão Argo o esperavam. Acabou a leitura e, atenta, olhou em volta, descobriu umas máquinas estranhas em cima de várias mesas. Como já era tarde, regressou ao seu lugar, no jardim, mas tinha decidido que, logo que pudesse, iria explorar aquelas estranhas máquinas que ela pressentia serem muito interessantes. Pensou que os seus lugares preferidos da Escola eram o jardim e a Biblioteca.

Renata Gaspar - 9.º A | Sofia Lopes - 9.º B

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Auto da Alma || Doze Casamentos Felizes Clarabóia || Livro do Desassossego Os Lusíadas || Auto da Índia

O Mandarim Os Maias || Caim || A Corja A Capital || A Viagem do Elefante Amor de Perdição || O Homem Duplicado

Mariana Pires - 9.º A

Mensagem

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Conversas (Im)Prováveis da Menina a Ler

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Menina a Ler descobriu há muito, muito tempo que nas noites de lua cheia, quando a cidade dorme, ganha o poder de falar, o que lhe permite ter longas conversas com a estátua do navegador Diogo Cão e o busto do General Alves Roçadas. Conseguimos imaginar diálogos possíveis entre eles: Diogo Cão – Minha esbelta e formosa donzela, o que lê nessas páginas que nunca se cansa? A Menina a Ler – Meu gentil navegante e descobridor, estas páginas já estão gastas de tanto os meus olhos as percorrerem. A solução que encontrei foi imaginar aventuras que nelas poderiam ser contadas. Diogo Cão – Minha estudiosa Menina, não precisa de fazer tão grande esforço, eu, Diogo Cão, navegador, vivi muitas aventuras que lhe posso narrar. A Menina a Ler – Sim, sim, por favor, adorava ouvi-lo.

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Diogo Cรฃo e a Menina a ler

Antรณnio Lopes - 9.ยบ C

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Diogo Cão – Sabe que eu fui escudeiro e cavaleiro da Casa do Infante D. Henrique, o primeiro responsável pelos Descobrimentos, no século XV. Já homem, El-rei D. João II mandou-me explorar uma parte da costa ocidental africana até aí desconhecida. Fui, com os meus marinheiros, o descobridor da foz do rio Zaire, também chamado rio Congo, o rio Poderoso. A sua corrente é tão forte que vemos as águas do rio afastarem as águas do mar. Para provar que tínhamos sido os primeiros europeus a chegar tão longe, em África, mandei gravar uma inscrição na pedra de Ielala, junto às cataratas com o mesmo nome. Fui eu que coloquei os primeiros padrões de pedra e estabeleci o primeiro contacto com o reino do Congo. Foram tempos magníficos, vivemos muitos perigos, como tempestades no mar, ataques de animais selvagens e tão diferentes dos que conhecíamos, emboscadas de indígenas que nos julgavam fantasmas, mas descobrimos, também, gente encantadora, novos produtos e alimentos. Gostava muito dos tecidos coloridos, das danças e cantares dos povos africanos. Estava sempre calor, não precisávamos de tanta roupa como em Portugal. A Menina a Ler – É maravilhoso ouvi-lo. Adorava ter participado nessas suas aventuras. Já agora, pode esclarecer-me uma pequena dúvida: nasceu mesmo em Vila Real? Diogo Cão – Que pergunta, cara Menina, claro que sim. Tenho muito orgulho em ser transmontano. Noto que o dia vai nascer e vamos deixar de poder conversar. Até à próxima lua cheia. Maria João Fernandes - 9.º A | Mariana Santos – 9.º B

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Inscrição da Pedra de Ielala

António Lopes - 9.º C

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Outra noite de luar, outra conversa…

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eneral Alves Roçadas – Chuva amarga esta! Acabam-se todas as minhas esperanças, tecem-se os meus medos, o meu peito me dói. A Menina a Ler – Porque vos lamentais, Senhor General? A vossa vida foi tão preenchida e rica…é verdade que o dia está cinzento, melancólico e a rua está deserta, mas não é motivo para tanta tristeza. General Alves Roçadas – Por ter tido uma vida tão preenchida e repleta de aventuras fascinantes é que me custa este marasmo, estes dias sempre iguais. Fui oficial do Exército Português, fui general e administrador colonial, fui governador de Macau e da Huíla, em Angola, estive em França, na Primeira Guerra Mundial a comandar os nossos homens do CEP. Reparti a minha vida por três continentes. Agora, não passo de um pobre busto em bronze, triste, só e cada vez mais desprezado.

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General Alves Roรงadas e a Menina a Ler

Antรณnio Lopes - 9.ยบ C

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A Menina a Ler – O Senhor General desculpe, mas está equivocado. O seu trabalho é conhecido e reconhecido nos lugares do Mundo onde esteve e os seus conterrâneos homenagearam-no com esse belo busto de bronze. Permaneceis na memória de muitas pessoas, nos livros, até já está na Internet. Tem uma longa história para contar. Eu não tive a possibilidade de ter uma vida de aventuras como o Senhor General. Fui criada para representar os alunos e embelezar esta Escola. Ouço as, por vezes, indecifráveis conversas dos alunos e as queixas e desabafos dos professores e funcionários. Gostava de ter um passado vasto e glorioso como o seu, Senhor General. General Alves Roçadas – Tendes toda a razão linda menina, eu aqui preocupado apenas comigo e esquecendo tudo o que se passa à minha volta. Não posso ser tão pessimista. Olha, repara que a chuva parou e a lua cheia voltou a brilhar em todo o seu esplendor. É bela a vida, mesmo a vida de uma estátua. Gosto de conversar contigo, Menina a Ler.

José Guedes – 8.º E

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Renata Gaspar – 9.º EA

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Pensamentos Soltos da Menina a Ler

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ou uma escultura em granito “presa” a uma base de pedra, mas a minha imaginação viaja por um mundo de fantasia onde tudo é possível. Invento histórias que gostaria muito de contar aos que por mim passam… Sou uma escultura, mas isso não me impede de ser observadora e de ter sentimentos e sensações. Não gosto de estar só, prefiro os dias de aulas aos dias de férias e fins-desemana. Ouço palavras bonitas e outras de que não gosto. Fico feliz com as explosões de alegria de todos os que por mim passam, diariamente. Sou uma guardiã de segredos e desabafos. Queria poder abraçar e, assim, partilhar a alegria e a tristeza desta minha grande família. Sei que há muitas teorias e conjeturas sobre o que eu estou a ler. Já ouvi de tudo. Não sou eu que vou esclarecer este enigma, quero continuar a ouvir as ideias, algumas muito criativas, que vão surgindo. A minha vida seria mais interessante se alguém colocasse uma esferográfica ou outro apetrecho de escrita para escrever os meus pensamentos e impressões. Assim, seria A Menina a Ler e a Escrever.

Francisco Silva e Patrícia Fonte – 8.º F

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Ant贸nio Lopes - 9.潞 C

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O que veste A Menina a Ler?

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Menina a Ler enfrenta todas as estações do ano com uma T-shirt e uma saia curtinha. No verão e na primavera não está mal, mas quando chegam as chuvas impiedosas, as rajadas de vento do outono e o frio, neve e gelo do inverno é difícil. Vale-lhe o ser de pedra, doutra forma já teria adoecido ou mesmo falecido com uma pneumonia ou hipotermia. O navegador Diogo Cão já lhe ofereceu uma capulana num belo tecido africano, mas ela diz que mesmo assim tem frio, aquilo é roupa para o calor de África, não para o clima transmontano. O general Alves Roçadas ofereceu-lhe um tecido adamascado e outro de veludo, que trouxe das suas andanças pela Ásia. A Menina gosta, mas diz que são demasiado caros, irão olhar para ela de soslaio e murmurar que está demasiado burguesa, o que não condiz com os tempos que vão correndo. A Menina a Ler adorou as propostas de Haute Couture, que no ano letivo de 2014/2015 os alunos de Aplicações Informáticas B, do 12.º ano, lhe propuseram. Não conseguiu decidir qual era a mais bonita. Todas lhe agradaram. Aqui ficam algumas das sugestões apresentadas. E tu, como a vestirias?

Ana Silva – Margarida Barradas e Maria João Carvalho – 8.º F

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A Menina a Ler

A Menina a Ler | 17 Aplicações Informáticas B | 2014/2015


O que

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Ficha Técnica Propriedade - Escola S/3 S. Pedro - Vila Real Coordenação de Redação - Rosalina Sampaio Coordenação de Imagem - Lurdes Lopes e Rosalina Sampaio Textos: Ana Silva - 8.º F | Francisco Silva - 8.º F | José Guedes - 8.º E | Margarida Barradas - 8.º F | Maria João Carvalho – 8.º F | Maria João Fernandes - 9.º A | Mariana Santos - 9.º B | Patrícia Fonte - 8.º F | Renata Gaspar - 9.º A | Sofia Lopes - 9.º B | Teresa Bastos - 8.º E Ilustrações - António Lopes - 9.º C | Maria João Fernandes - 9.º A | Mariana Pires - 9.º A Revisão de Textos - Georgina Cruz

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