22/02/2019
Carreira internacional num mundo globalizado - JOTA Info
ADVOCACIA EM LONDRES
Carreira internacional num mundo globalizado Concretização do sonho de atuar no exterior exige recursos, conexões e investimentos VITÓRIA NABAS
22/02/2019 07:33
LONDRES
Crédito: Pixabay
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No mundo globalizado, ter uma carreira internacional é um sonho que cou mais possível. Mas, objetivamente, ainda é algo que exige recursos, conexões e investimentos a que poucos têm acesso. E, na maioria das vezes, não por mérito ou falta dele – apesar de a capacitação e experiência, capitalizadas pela competência e garra, serem condições sine qua non para alcançar o sucesso. Nesse sentido, minha primeira dica é: corra atrás das oportunidades, aprenda uma língua estrangeira, faça cursos no exterior e networking. Aliás, foi pensando em proporcionar essa vivência, que criei, com outros sócios, a Law in Britain – empresa de cursos na Inglaterra para pro ssionais de Direito brasileiros. Tive sorte, mas assim que entrei na graduação em Direito na Universidade de São Paulo, consegui meu primeiro emprego na rma Machado, Meyer, Sanchez e Opice Advogados, onde fui introduzida ao Direito Corporativo e Financeiro – área na qual me especializei com um MBA no Insper, e ao trabalhar nos bancos Chemical Bank (agora JP Morgan Chase) e Bozano Simonsen Bank (agora Santander). +JOTA:
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A experiência me permitiu aceitar uma posição no escritório Sidley Austin, em Nova York, e depois no Unibanco Securities Inc., também em NY. Fui convidada para trabalhar no Sidley Austin porque precisavam de um advogado brasileiro que tivesse experiência na área de banking, mercado de capitais e que falasse inglês. Eu tinha exatamente este per l e, naquela época, os negócios dos EUA com o Brasil iam de vento em popa. Sempre fui muito de vanguarda e desde jovem queria morar fora do Brasil. Antes de estabelecer residência e fundar a Nabas International Lawyers em Londres, onde vivo há 17 anos, passei uma temporada trabalhando em Nova York. Era um um escritório americano onde eu fazia somente Direito Internacional e não praticava Direito americano. Foi uma experiência excelente, porém frustrante ao mesmo tempo pois não podia praticar o Direito local e era considerada meio que uma integrante de uma subclasse, já que não era advogada americana. Porém, a posição no escritório americano não era nada mal e era bem remunerada. O que eu sentia era simplesmente uma sensação de diminuição perante os outros, em virtude de não ser advogada local. Logicamente, meu inglês que já era muito bom, melhorou ainda mais e aprendi muito dos termos técnicos e da prática em um escritório americano. Quando cheguei em Londres, pensei que não poderia ter o mesmo problema e procurei entender como funcionava o processo de requali cação na Inglaterra. https://www.jota.info/carreira/carreira-internacional-num-mundo-globalizado-22022019
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Diferentemente dos EUA, não precisava fazer um mestrado – poderia fazer provas, ter experiência pro ssional contava e havia diversas formas de requali cação e equivalências que foram mudando ao longo dos anos mas que sempre exigem que o pro ssional prove que tem conhecimento dos Códigos de Conduta e Ética da Ordem de Advogados britânica – que é superdiferente pois a lógica jurídica não é a mesma, o sistema jurídico não é o mesmo. Para compensar há umas quatro matérias que não são tão complicadas assim.
Sem fronteiras Construí uma carreira internacional com um mix de estudos, escolhas, direcionamento, disponibilidade para viajar e viver longe da minha família (nasci em Santos, mas fui criada em Presidente Prudente, no interior de São Paulo, onde todos os meus familiares têm origem), batalhando e abraçando cada oportunidade. É claro que pro ssionais que não têm a língua inglesa como nativa podem sentir que precisam ter um algo mais, aquele ‘plus’, para conseguir oportunidades de fazer carreira internacional. Sem falar das reservas de mercado por questões de cidadania e, consequentemente, permissão de trabalho em outros países. Mas estas barreiras são enfrentadas quando você se propõe a viver experiências e se expor a desa os fora de sua zona de conforto – isto é, saindo do fácil, do sem risco, do normal. Minha vida ia muito bem no Brasil quando fui trabalhar no exterior, já tinha um cargo de gerência jurídica em um banco de investimento conceituado com 27 anos de idade e um salário excelente para minha idade. No entanto, faltava algo: uma experiência pro ssional no exterior que eu desejava desde a época da faculdade e foi com fome desta experiência que eu parti em busca da colocação em NY e depois do meu escritório em Londres.
Empreender em outro país Nada disto seria tão difícil como o desa o de montar meu próprio escritório, que se mostrou o empreendimento mais complexo da minha carreira. Nosso órgão scalizador aqui na Inglaterra é realmente scalizador e faz visita de monitoramento, cobra anualmente cursos de aprimoramento, o seguro pro ssional é obrigatório e não podemos ter reclamações pendentes quando da renovação da licença anual (sim anualmente temos que renovar a licença e podemos não obtê-la, isto é, podemos perder o direito de exercermos nossa pro ssão, estando sujeitos a um processo disciplinar para eventualmente reobtê-lo).
Pro bono https://www.jota.info/carreira/carreira-internacional-num-mundo-globalizado-22022019
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Em Londres, nem tudo foram rosas, é claro. Cheguei na cidade com meu sócio, diretor do Departamento de Relações com Clientes Globais da Nabas e namorado, Herman Santiago, onde ele veio trabalhar no Deutsch Bank. Estava sem qualquer oferta prévia de trabalho mas resolvi apostar na nova perspectiva que se abria. Trabalhei durante alguns anos atendendo de forma pro bono brasileiros que procuravam a Casa Latino-Americana, onde tomei gosto pelo trabalho comunitário – até hoje dou consultas na Casa do Brasil, ONG de assistência social gratuita (‘charity’, em inglês), onde estamos agora assumindo toda a administração. Trata-se de uma importante instituição voltada a imigrantes do nosso país no Reino Unido (gosto muito do lado humano da assistência jurídica e também sou consultora jurídica no Queen Mary Legal Advice Centre (LAC), da University of London. É claro que tive de estudar Direito britânico e obter a licença para advogar, tirando a ‘OAB britânica’. Esse processo durou dois anos, em que z muitos cursos, alguns pagos e outros gratuitos, já que eu prestava serviços voluntários para uma ONG. Mas, acima de tudo, custou muito suor e lágrimas pois aprender um novo sistema jurídico não foi fácil. Ou seja: aproveitei para obter esta quali cação, com a visão de unir os dois mundos que eram os meus: Reino Unido e Brasil. Deste intercâmbio nasceram a Lex Anglo-Brasil, associação bilateral de advogados da qual sou cofundadora e tesoureira. Também sou conselheira da Câmara Brasileira de Comércio na Grã-Bretanha. Mas foi na Casa Latino-Americana que, com a realização em ajudar quem precisava, aprendi na prática sobre as leis do país que havia escolhido para viver e identi quei a oportunidade de ter minha própria rma de advocacia.
Construindo pontes Abri meu escritório em 2004. Hoje somos um time coeso de advogados e consultores de negócios multinacionais, multiculturais e multilíngues trabalhando em prol deste intercâmbio e da internacionalização. A missão da Nabas International Lawyers é construir pontes entre pessoas e negócios no Reino Unido, Europa, Estados Unidos e América Latina, com ênfase em Brasil, Inglaterra e Portugal, onde a Nabas também tem representação e onde, devido à boa fase da economia do país, houve aumento de 50% nos pedidos de cidadania portuguesa por brasileiros. Há muitos anos, tornei-me consultora do Department of International Trade (DIT), órgão do governo britânico para fomento de negócios britânicos no exterior e de outros países no Reino Unido, e que possui representação no Brasil. Aspectos legais https://www.jota.info/carreira/carreira-internacional-num-mundo-globalizado-22022019
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da internacionalização de empresas e de imigração relacionados a vistos de negócios no Reino Unido tornaram-se minha especialidade e são frequentemente temas de palestras que faço em Londres, São Paulo e outras capitais brasileiras, para público em geral, investidores e empreendedores, em locais como Feira do Empreendedor do Sebrae, Google Campus e no Expand – Programa de Negócios Internacionais da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG). .
Novos caminhos A ponte segue movimentada no setor de internacionalização, apesar das dúvidas e receios gerados pelo Brexit – a saída do Reino Unido da União Europeia, que deve ser concluída até 29 de março deste ano. Pelo que vejo, não importa como o Brexit aconteça – isso não deve ser um impedidor dos planos de internacionalização de empresas brasileiras a partir da abertura de uma lial em solo britânico. Tenho coordenado diversos workshops para empresas brasileiras integrantes de missões comerciais do DIT no Reino Unido. E, recentemente, mais de 10 empresas latino-americanas participaram de uma apresentação sobre internacionalização na Cubism Law, rma também londrina especializada em Direito Privado, Direito Empresarial e Direito Corporativo, com mais de 70 advogados associados, à qual a Nabas International Lawyers se uniu, em outubro de 2016. Por meio do DIT, a Nabas atende diversas empresas brasileiras com operações no Reino Unido – incluindo gigantes como Tramontina e Minerva, médias como Conde HB – as três premiadas, em maio de 2017, com o British-Brazilian Awards, premiação concedida pelo Think Brazil, iniciativa de órgãos governamentais anglobrasileiros para estimular relações comerciais entre Brasil e Reino Unido –, além de startups, como Gympass – cliente nosso, que chegou a Londres com dois funcionários e não para de crescer. Há quem diga que a Nabas é uma referência a brasileiros no Reino Unido – o que me deixa extremamente orgulhosa. Mas o fato é que nossa excelência é uma construção diária. VITÓRIA NABAS – Fundadora do escritório Nabas International Lawyers, em Londres, e consultora do Ministério do Comércio Internacional do Reino Unido (Department for International Trade, DIT) no Brasil. Especializada em imigração, cidadanias europeias e internacionalização de empresas
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