Aliquidi Fanzine n.º 2

Page 1


MULHERES COM VOZ Ana Pimentel

MULHERES COM VOZ Ana Pimentel

Que interessa então a Mariana as mãos que o encaminham? Se as suas que lhe descem lentas pelas ancas, se as dele que a largaram de improviso… Quebra-se, pois, a clausura: pelos seios ele a tem segura a rasgar-lhe os mamilos com os dentes. Quebra-se pois a clausura? Recurva, tenso, o ventre: a língua entumescida. Dele a língua quente, áspera de saliva e o demorado sugar, rente, ritmado, a esvaziá-la devagar da vida. Compraz-se Mariana com seu corpo, ensinada de si, esquecida dos motivos e lamentos que a levam às cartas e a inventam. – “Descobri que lhe queria menos do que à minha paixão (…)” – ei-la que se afunda em seu exercício. Exercício do corpo-paixão, exercício da paixão na sua causa. (…).

Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa publicaram as Novas Cartas Portuguesas em 1972. Como ponto de partida serviram-se de um romance epistolar do século XVII, As Cartas Portuguesas, compilação de cartas de amor supostamente de uma freira portuguesa, Soror Mariana Alcoforado, a um oficial francês. Construíram ensaios, cartas, textos literários com beleza e força raras, numa vertente essencialmente feminina, sem revelarem até hoje qual delas é a autora de cada um dos escritos. Descreveram realidades e oposições de uma sociedade censurada, escreveram com ousadia tocando por vezes o erotismo. Tal valeu-lhes um processo judicial do qual apenas se libertaram com a Revolução de 25 de Abril de 1974. Formaram o Movimento de Libertação das Mulheres (MLM) no dia em que foi lida a sentença do processo das Novas Cartas Portuguesas. Em 1998 foi publicada uma nova edição comemorativa deste livro que marcou a história da literatura portuguesa e das mulheres.

MULHERES COM VOZ Adrienne Rich, Ana de Castro Osório, Ana Plácido, Betty Friedan, Christina Rossetti, Condessa de Ségur, Elina Guimarães, Elizabeth Barrett Browning, Emily Dickinson, Florbela Espanca, George Sand (pseudónimo de Amandine Dupin), Guiomar Torrezão, Judith Butler, Olympe de Gouges (pseudónimo de Marie Gouze), Maria Amália Vaz de Carvalho, Mary Wollstonecraft, Simone de Beauvoir, Sylvia Plath, Virgínia de Castro e Almeida, Virginia Woolf, … Estes são alguns dos nomes de mulheres ocidentais que desempenharam papéis determinantes na História da mulher. Representantes de uma maioria discriminada, tiveram a capacidade e a coragem de lutar contra imagens, tradições, preconceitos e condições pré-estabelecidas, de procurar a sua satisfação pessoal. O silêncio a que as mulheres estiveram historicamente votadas (e estão ainda em tantas partes do mundo) não é facilmente quebrado. Apesar de todos os progressos, ainda hoje observamos diariamente exemplos de discriminação e consequências deste passado: a menor remuneração salarial, a violência doméstica, a predominância do homem em posições de poder, a soma do trabalho com a maternidade, que retira tempo para desfrutar da liberdade conquistada, e até mesmo a utilização da palavra “Homem”, como sinónimo de Humanidade. Considerando importante conhecer estas mulheres um pouco melhor, escolhi para este texto autoras que quebraram silêncios escrevendo obras imperativas, não apenas para a libertação feminina, mas também para a cultura e o desenvolvimento humano. Simone de Beauvoir (1908-1986) – escritora, filósofa e feminista francesa. Com formação em filosofia, começou por exercer o ofício de professora desta disciplina e também de literatura. Uma repreensão pelas suas críticas à condição da mulher e duas demissões durante a ocupação de Paris pelo regime Nazi, levaram-na a cumprir o desejo antigo de se dedicar à escrita. Publicou, em 1949, O Segundo Sexo, em dois volumes, livro elementar na filosofia, feminismo e estudos da mulher, que reflecte sobre o papel da mulher como o “Outro” do homem e sobre a sua opressão:


MULHERES COM VOZ Ana Pimentel

…nós concebemos a mulher hesitando entre o papel de objecto, de Outro, que lhe é proposto, e a reivindicação da sua liberdade. Não seria possível obrigar directamente uma mulher a parir; tudo o que se pode fazer é encerrá-la dentro de situações em que a maternidade é a única saída; a lei ou os costumes impõem-lhe o casamento, proíbem as medidas anticoncepcionais, o aborto e o divórcio (...) ela é para o homem uma parceira sexual, uma reprodutora, um objecto erótico, um Outro através do qual ele se busca a si próprio.

No primeiro volume efectua um estudo detalhado, procurando a génese da posição inferior da mulher face ao homem. Este ensaio aborda diversas perspectivas, tais como a da biologia, a da psicanálise e a do materialismo histórico. A autora concluiu que nenhuma tinha argumentos para justificar a definição da mulher como o “Outro”. Percorre ainda a condição da mulher ao longo dos tempos. Pertinente é também a abordagem de mitos de diversos períodos e culturas acerca da mulher, sendo possível encontrar ainda alguns destes na actualidade. Um dos exemplos citados é a seguinte frase de Plínio: “A mulher menstruada estraga as colheitas, devasta os jardins, mata os germes, faz caírem os frutos, mata as abelhas; se toca no vinho, dele faz vinagre; o leite azeda…”. Simone de Beauvoir inicia o segundo volume dizendo “On ne naît pas femme: on le devient”. Como existencialista contraria uma visão da mulher que se inscreva num pensamento essencialista. Defende igualmente a responsabilidade ética que o indivíduo tem para consigo, para com os outros e para com grupos oprimidos. Neste livro percorre a educação da mulher da infância até à adolescência e à iniciação sexual. Estuda também os papéis da mulher como esposa, mãe e prostituta, considerando que vivem existências monótonas tendo crianças, mantendo a casa e sendo o receptáculo sexual da libido masculina, em vez de se transcenderem através do trabalho e criatividade. Esta obra seminal para a segunda vaga do feminismo anglo-saxónico foi proibida pelo Vaticano, tal como outro seu livro, Os Mandarins.

feminists fought for”. Lutas e conquistas elementares na história da mulher e da democracia eram menosprezadas numa sociedade que considerava a realização pessoal da mulher uma consequência da sua dedicação enquanto esposa, mãe e dona de casa. Partindo da sua própria inquietação enquanto esposa e mãe de três crianças pequenas, Betty Friedan efectuou, em 1957, inquéritos a duzentas antigas colegas de universidade, apercebendo-se de um sentimento comum a muitas destas mulheres. “The problem that has no name” não derivava certamente da educação, não pelo menos da forma tradicional: It was a strange stirring, a sense of dissatisfaction, a yearning that women suffered in the middle of the twentieth century in the United States. Each suburban wife struggled with it alone. As she made the beds, shopped for groceries, matched slipcover material, ate peanut butter sandwiches with her children, chauffeured Cub Scouts and Brownies, lay beside her husband at night, she was afraid to ask even of herself the silent question: “Is that all?”

Betty Friedan publicou The Feminine Mystique, em 1963, impulsionando a segunda vaga do feminismo na qual as mulheres lutaram por igualdade no trabalho, cultura e fim da discriminação sexual. O título do livro surge quando decide atribuir o nome Feminine Mystique ao problema identificado, ou seja, a imagem imposta pela sociedade à mulher dos subúrbios, no pós II Guerra Mundial e que se concretizava na perda da sua identidade e numa elevada insatisfação pessoal. Uma terceira vaga do feminismo surge no início dos anos 90 no seguimento de objectivos comuns à segunda vaga, mas corrigindo algumas das suas limitações, alterando conceitos de género, sexualidade e alargando-os a uma população mais abrangente. Surgiram várias organizações, movimentos, sendo um dos exemplos os Monólogos da Vagina do movimento V-Day.

Maria Isabel Barreno (1939), Maria Teresa Horta (1937) e Maria Velho da Costa (1939) – escritoras portuguesas A Paz

Betty Friedan (1921-2006) – ensaísta e feminista norte-americana. Após a primeira vaga do feminismo (séc. XIX até meados do séc. XX - Reino Unido e Estados Unidos da América), período no qual se produziram progressos essencialmente no foro legal (tais como o direito ao voto, de propriedade), estava instituído que “...truly feminine women do not want careers, higher education, political rights – the independence and opportunities that the old-fashioned

Compraz-se Mariana com seu corpo. O hábito despido, na cadeira, resvala para o chão onde as meias à pressa tiradas, parecem mais grossas e mais brancas. As pernas, brandas e macias, de início estiradas sobre a cama, soerguem-se levemente, entreabertas, hesitantes; mas já os joelhos se levantam e os calcanhares se vincam nos lençóis; já os rins se arqueiam no gemido que aos poucos se tornará contínuo, entrecortado, retomado logo pelo silêncio da cela, bebido pela boca que o espera.


MULHERES COM VOZ Ana Pimentel

MULHERES COM VOZ Ana Pimentel

Que interessa então a Mariana as mãos que o encaminham? Se as suas que lhe descem lentas pelas ancas, se as dele que a largaram de improviso… Quebra-se, pois, a clausura: pelos seios ele a tem segura a rasgar-lhe os mamilos com os dentes. Quebra-se pois a clausura? Recurva, tenso, o ventre: a língua entumescida. Dele a língua quente, áspera de saliva e o demorado sugar, rente, ritmado, a esvaziá-la devagar da vida. Compraz-se Mariana com seu corpo, ensinada de si, esquecida dos motivos e lamentos que a levam às cartas e a inventam. – “Descobri que lhe queria menos do que à minha paixão (…)” – ei-la que se afunda em seu exercício. Exercício do corpo-paixão, exercício da paixão na sua causa. (…).

Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa publicaram as Novas Cartas Portuguesas em 1972. Como ponto de partida serviram-se de um romance epistolar do século XVII, As Cartas Portuguesas, compilação de cartas de amor supostamente de uma freira portuguesa, Soror Mariana Alcoforado, a um oficial francês. Construíram ensaios, cartas, textos literários com beleza e força raras, numa vertente essencialmente feminina, sem revelarem até hoje qual delas é a autora de cada um dos escritos. Descreveram realidades e oposições de uma sociedade censurada, escreveram com ousadia tocando por vezes o erotismo. Tal valeu-lhes um processo judicial do qual apenas se libertaram com a Revolução de 25 de Abril de 1974. Formaram o Movimento de Libertação das Mulheres (MLM) no dia em que foi lida a sentença do processo das Novas Cartas Portuguesas. Em 1998 foi publicada uma nova edição comemorativa deste livro que marcou a história da literatura portuguesa e das mulheres.

MULHERES COM VOZ Adrienne Rich, Ana de Castro Osório, Ana Plácido, Betty Friedan, Christina Rossetti, Condessa de Ségur, Elina Guimarães, Elizabeth Barrett Browning, Emily Dickinson, Florbela Espanca, George Sand (pseudónimo de Amandine Dupin), Guiomar Torrezão, Judith Butler, Olympe de Gouges (pseudónimo de Marie Gouze), Maria Amália Vaz de Carvalho, Mary Wollstonecraft, Simone de Beauvoir, Sylvia Plath, Virgínia de Castro e Almeida, Virginia Woolf, … Estes são alguns dos nomes de mulheres ocidentais que desempenharam papéis determinantes na História da mulher. Representantes de uma maioria discriminada, tiveram a capacidade e a coragem de lutar contra imagens, tradições, preconceitos e condições pré-estabelecidas, de procurar a sua satisfação pessoal. O silêncio a que as mulheres estiveram historicamente votadas (e estão ainda em tantas partes do mundo) não é facilmente quebrado. Apesar de todos os progressos, ainda hoje observamos diariamente exemplos de discriminação e consequências deste passado: a menor remuneração salarial, a violência doméstica, a predominância do homem em posições de poder, a soma do trabalho com a maternidade, que retira tempo para desfrutar da liberdade conquistada, e até mesmo a utilização da palavra “Homem”, como sinónimo de Humanidade. Considerando importante conhecer estas mulheres um pouco melhor, escolhi para este texto autoras que quebraram silêncios escrevendo obras imperativas, não apenas para a libertação feminina, mas também para a cultura e o desenvolvimento humano. 1.Simone Amarantede Beauvoir (1908-1986) – escritora, filósofa e feminista francesa.

Andrea Martins

1. Folgosinho 2. Linhares da Beira

Com formação em filosofia, começou por exercer o ofício de professora desta disciplina e também de literatura. Uma repreensão pelas suas críticas à condição da mulher e duas demissões durante a ocupação de Paris pelo regime Nazi, levaram-na a cumprir o desejo antigo de se dedicar à escrita. Publicou, em 1949, O Segundo Sexo, em dois volumes, livro elementar na filosofia, feminismo e estudos da mulher, que reflecte sobre o papel da mulher como o “Outro” do homem e sobre a sua opressão:


1. Abeville 2. Amiens 3. Paris

1. Lamego 2. ApĂşlia 3. Lamego


1. Amarante

Bruno Queir贸s Andrea Martins

1. Folgosinho 2. Linhares da Beira



ORMETA

Διογένης ὁ Σινωπεύς

Afirma Gisela, em périplo pela Ásia, chocada com a visão de uma Díli soterrada no esgoto a céu aberto do medo e da miséria, que estas imagens nunca as vira na tv. RAZÕES DE ESTADO. Declara Isabel, regressada da Europa há pouco tempo, que Portugal não existe senão em África. NA ÁFRICA DE LÍNGUA PORTUGUESA, LEIA-SE. Victor afiança que os vistos de residência e as nacionalizações são mais facilmente concedidos a cidadãos do Leste da Europa do que a africanos. MESMO PROVENIENTES DOS PALOP’S.

Bruno Queirós

[NADA...]


Vive hoje o mundo, na era do hipertexto, um muro de silêncio. O que dantes era calado pela escassez de informação, é hoje abafado pelo ruído. Pelo seu excesso. Este silencio é tão paradoxal quanto evidente. Podemos aferi-lo pela lógica do pensamento único que vinga à escala global. > Pese toda a retórica do direito à diferença, tornámo-nos cada vez mais desinteressantes, cada vez mais indistintos. > Empobrecemos a cultura na sua diversidade, convencidos da validade dos contributos de todos para a construção de uma sociedade global que afinal não o é. > Pelo contrário, infiltrou-se em nós uma imposição sub-reptícia que nos incita à padronização do nosso comportamento politicamente correcto. À FORMATAÇÃO. > Dos lugares da geografia da guerra e da fome chegam-nos somente as imagens da conveniência, da propaganda e da legitimação do conflito. VERSÕES. > É natural que nos julguemos mais civilizados e com razão. Vivemos do lado de cá da barricada. > O que está em causa nestas linhas é a contradição expressa pela facilidade com que informação chega de e a qualquer ponto da aldeia e a sua negação propositada – A CENSURA. > >

Desenganem-se os crentes. O arsenal tecnológico que nos permite tornar pública uma ideia em tempo real, propagando-a na inter-rede, é apenas virtual. NINGUÉM NOS OUVE. > A ligeireza com que nos relacionamos com a informação, a falsa convicção de tudo ser verdadeiro e passível de ser conhecido, a confusão entre Informação e conhecimento não passam de manobras de diversão. >

>a

falsa convicção de tudo ser falso!

> O vórtice de informação não encontra correspondência no processamento necessário para que dela possamos tirar qualquer proveito. Estamos reféns da informação. EIS O SILÊNCIO. > O consumidor julga poder participar na construção do conhecimento, contudo, das suas palavras, não sai qualquer som ou efeito. Mesmo assim, aumenta a convicção da liberdade de expressão. EMITIU OPINIÃO. > A realidade escondida mostra que, em sentido inverso, os outputs e a propaganda neles impressa, produz receptáculos do pensamento único e não vasos comunicantes. > Podemos livremente emitir a nossa opinião, é certo, contudo, QUEM A OUVE? > Durante a época dos fascismos, pretos cinzentos, castanhos ou vermelhos, também era obrigatória a presença da rádio, por meio da qual, o poder fazia passar a sua mensagem. >


Eduardo Ferreira

A subtileza da nova propaganda, reside na participação do cidadão entendido enquanto difusor dessa mensagem. Mesmo se este se exprime na contra-mão da opinião, serve ainda assim, o poder, considerado nas suas múltiplas manifestações, porque o veicula na sua negação. > É impossível ao cidadão no seu blogue, competir com a informação institucional. Esta facilmente o consegue desacreditar, rotulando-o como mais uma teoria da conspiração. > > Por outro lado > Vejamos quem escreve na blogosfera e quem nela é lido. Rapidamente chegaremos à constatação que são muitos os que escrevem mas poucos os que são lidos. > A argúcia das novas tiranias reside no facto de serem hoje os seus súbditos mais facilmente domesticáveis, por via do convencimento da sua liberdade e pela crença irracional de ser a democracia uma aquisição inexorável. A VOZ QUE ORDENA. > A censura entrou na fase adulta, hoje não é tão evidente e pulsional. É FRIA, RACIONAL E EFICAZ. > Serve a conveniência a quem dela sempre se serviu. > Convencidos de vivermos em liberdade, não questionamos. Remetemo-nos a uma forma de silêncio pelo ruído que produzimos. > > O LIMITE É A FOME./



deles corta como uma faca afiada o silĂŞncio e invade o espaço sagrado do outro —, com a rispidez reservada aos intrometidos: ÂŤPerguntei-te alguma coisa?!...Âť Depois ĂŠ como se nada fosse: mais um episĂłdio para o oblĂ­vio da (in)civilidade. (As ruas — ou serĂŁo as salas e os corredores? — estĂŁo cheias de estranhos vagamente simpĂĄticos, ou desprezĂ­vel mas irrelevantemente metediços, que nĂŁo temos interesse em conhecer.) Segue cada um a sua vida.

Um dia, um e-mail. Graças a um servidor existente algures na CalifĂłrnia, e tendo passado (qual boomerang) por routers em Londres e Lisboa, a mensagem chegou-lhe ao portĂĄtil com que trabalhava no quarto — vinda de um outro portĂĄtil, pousado sobre umas pernas recostadas na chaise longue da sala situada no outro extremo da casa, ao fundo do corredor.

)HUQDQGR *RXYHLD

Eduardo Ferreira

Dizia apenas: ÂŤHĂĄ muito tempo que nĂŁo escreves nada no teu blog. Sinto falta.Âť

:KDWHYHU KDSSHQHG WR SLOORZ Ă€JKWV" :KDWHYHU KDSSHQHG WR MHDQV VR WLJKW )ULGD\ QLJKWV" :KDWHYHU KDSSHQHG WR /RYHU¡V /DQH" :KDWHYHU KDSSHQHG WR SDVVLRQ JDPHV 6XQGD\ ZDONV LQ WKH SRXULQJ UDLQ" (Derek “Fishâ€? Dick, Punch & Judy)


Foi um processo indefinido, de etapas sucessivas com limites difusos, um acumular de datas das quais poderíamos com alguma honestidade dizer ter sido, cada uma individualmente, a «data fundamental», o «evento-charneira» — e mesmo assim estarmos a mentir, ou a simplificar, ou enganados, ou talvez não, ou não sabermos. Foi um processo em dégradé, digamos assim — metáfora pictórica, ou cruel e literal descrição de uma detectável tendência

A fuga à proximidade física. Gira uma mó sobre a outra: a rotina, de diária passa a semanal, depois a mensal, depois nem isso — porque já não tem de ser. Porque convém que não seja: os horários de um e de outro são mutuamente incompatíveis (por inflexível decisão superior, como é óbvio), as imperativas deslocações de cariz profissional sucedem-se (uma canseira, é o que é: esta antecipadamente anunciada,

do estado das coisas (qual das duas, também não sabemos). Fiquemo-nos pelo que é certo. Pela cronologia sem referências cronológicas (porque incertas e discutíveis), mero encadear de acontecimentos. A imperiosidade da proximidade física. Não há distância geográfica que a vida imponha que não seja ultrapassável, não há tempo tão curto que não justifique a deslocação e a canseira (que, de resto, não existe). Hoje vai ele ao Algarve, no fim-de-semana seguinte sobe ela ao Minho; se um feriado calha a meio da semana, dividem o esforço e encontram-se em Lisboa, em Coimbra ou em Óbidos (para variar, pela mais-valia romântica). Com o desespero dos náufragos, contam os dias, as horas, os minutos até poderem estar de

não fosse passar despercebida). E o telemóvel —outrora inestimável, ainda que mísero, substituto da proximidade impossível —, de bússola ou radar que os conduzia um ao outro no tempo das canseiras indetectadas, passou a Estado-tampão, a intermediário cuja única virtude é precisamente essa: ficar no meio, possibilitar que entre um e outro haja a distância. «Cheguei», depois «Vou sair», depois «Não vou jantar», depois «Não me esperes acordado», depois «Não contes comigo esta noite», depois «Só vou conseguir voltar no domingo». Cada vez mais palavras, cada vez dizem menos um ao outro. Há coisas assim. Até que as palavras, também elas, cessam: porque para nada dizer, nada é preciso. Simples, não? De Castor e Pólux, de Aquiles e Pátroclo a Jacob e Esaú numa

novo juntos, sentirem a pele um do outro, encherem os olhos com a visão um do outro, os pulmões com o cheiro mútuo, a língua com o paladar. Porque a vida, de facto, resume-se a isto: à vastidão desolada de um oceano pontuado por fugazes atóis — breves mas intensas

mão-cheia de anos apenas. (Outros Castores, outros Pátroclos?) Não coabitam: são coproprietários de um apartamento em regime de time-sharing. Há coisas assim. A irrelevância da proximidade física. Já não há por que fugir: à força de

horas de proximidade, espaçadas no vazio de uma espera a que só a linha imaginária que lhes liga os telemóveis traz um esboço de alívio. A factualidade da proximidade física. Ser, não apenas estar. Juntos, finalmente. Sem distâncias nem canseiras (que, afinal, vendo bem e retrospectivamente, sempre existiam). O tempo rende, dá para tudo, até para uma escapadinha ocasional a um hôtel de charme, a Óbidos, Marvão ou outro sítio romântico de boa memória ou que

se evitarem, o Estado-tampão instalou-se-lhes no espírito. Vivem na mesma casa, mas levam existências paralelas, ignorando-se mutuamente sem que para tal seja necessário um esforço, qualquer planeamento ou decisão consciente. É apenas assim. Do time-sharing ao room-sharing, com toda a naturalidade dividindo uma cama sem contudo a partilharem (o que mostra bem a limitação semântica dos estrangeirismos anteriores). O metro e sessenta de lençol entre eles multiplicou-se por mil: mais

faltou visitar nesses tempos idos das canseiras indetectadas. A proximidade física constante traz a sintonia: vêem o mesmo, falam do mesmo, comentam as mesmas coisas, completam as frases um do outro, têm tiradas em uníssono; não lêem o mesmo, mas é como se o fizessem (partilham as leituras no quase-continuum espácio-temporal que constitui a sua vida a dois). Pensam o mesmo. Os seus conhecidos

inóspito e desabitado do que a milha de terra-de-ninguém entre dois Estados vizinhos que assinaram um armistício. A paz podre das costas voltadas, o deserto sem o fascínio do deserto, o cordão sanitário de uma quarentena sine die. A inexistência da proximidade. Simplifiquemos: a distância. Quem é este? Quem é esta? A pergunta não é feita, sequer pensada, mas é uma maneira de sintetizar um

dividem-se entre aqueles que se irritam com o «papel químico» que de um gerou o outro (dividindo-se estes, por sua vez, na opinião quanto ao lado que cada um dos dois ocupa face ao papel químico) e aqueles que os admiram e invejam: ele e ela são, dir-se-ia, almas gémeas. A rotina da proximidade física. Ele e ela: eles. (Tu e eu: nós.) Mós. Uma por cima, outra por

resultado previsível: vivendo como dois estranhos, acabam por efectivamente tornar-se estranhos (e a pergunta, se chegasse a ser feita, não encerraria curiosidade, mas algo entre o espanto e o enfado). Cruzam-se no corredor (ou foi na rua?), encontram-se na sala (ou foi numa praça?), e nada têm a dizer um ao outro; tal como é natural não termos muito a dizer aos milhares de estranhos que connosco se cruzam nas

baixo. Mecanicamente, à hora marcada, gira uma mó sobre a outra. Ele e ela: eles. (Tu e eu: nós.) Mós. Uma por cima, outra por baixo. Mecanicamente, à hora marcada, porque assim tem de ser, gira uma

praças, ruas e avenidas, no metro ou no supermercado. Segue cada um a sua vida. E, nos fugazes momentos de contacto entre essas duas vidas independentes — ela

mó sobre a outra. Ele e ela: eles. (Tu e eu: nós.) Mós. Uma por cima, outra por baixo. Mecanicamente, à hora marcada, porque assim tem de ser, gira uma mó sobre a outra, sempre às voltas. Ele e ela: eles. (Tu e eu: nós.) Mós. Uma por cima, outra por baixo (nem sempre a mesma, que a tanto não chega a rotina). Mecanicamente, à hora marcada, porque assim tem de ser, gira uma mó sobre a outra, sempre às voltas, percurso sem destino, trabalho de Sísifo. Ele e ela: eles. (Tu e eu: nós.) Mós. Uma por cima, outra por baixo... («Ainda aí estás?») E enquanto moem o grão, moem-se as mós uma à outra.

que mecanicamente lhe segura a porta ou lhe aponta o telemóvel esquecido a um canto, ele que com igual automatismo a acode numa emergência —, a outra parte responde com a delicadeza (quando não com a surpresa) devida a um transeunte mais solícito que nos ampara após uma queda ou que inesperadamente se oferece para nos ajudar a transportar algo pesado: «Obrigada! Obrigada! Muito obrigada!» «Obrigado! Obrigado! Muito obrigado!» Ou, reverso da medalha — quando o comentário de um


deles corta como uma faca afiada o silĂŞncio e invade o espaço sagrado do outro —, com a rispidez reservada aos intrometidos: ÂŤPerguntei-te alguma coisa?!...Âť Depois ĂŠ como se nada fosse: mais um episĂłdio para o oblĂ­vio da (in)civilidade. (As ruas — ou serĂŁo as salas e os corredores? — estĂŁo cheias de estranhos vagamente simpĂĄticos, ou desprezĂ­vel mas irrelevantemente metediços, que nĂŁo temos interesse em conhecer.) Segue cada um a sua vida. Um dia, um e-mail. Graças a um servidor existente algures na CalifĂłrnia, e tendo passado (qual boomerang) por routers em Londres e Lisboa, a mensagem chegou-lhe ao portĂĄtil com que trabalhava no quarto — vinda de um outro portĂĄtil, pousado sobre umas pernas recostadas na chaise longue da sala situada no outro extremo da casa, ao fundo do corredor. Dizia apenas: ÂŤHĂĄ muito tempo que nĂŁo escreves nada no teu blog. Sinto falta.Âť

)HUQDQGR *RXYHLD

:KDWHYHU KDSSHQHG WR SLOORZ Ă€JKWV" :KDWHYHU KDSSHQHG WR MHDQV VR WLJKW )ULGD\ QLJKWV" :KDWHYHU KDSSHQHG WR /RYHU¡V /DQH" :KDWHYHU KDSSHQHG WR SDVVLRQ JDPHV 6XQGD\ ZDONV LQ WKH SRXULQJ UDLQ" (Derek “Fishâ€? Dick, Punch & Judy)





DEMASIADAMENTE NOVO PARA ACEITAR UMA MORTE CEREBRAL PORQUE NO MEU CÉREBRO RODOPIA VERTIGINOSAMENTE UM VERSO UM VERSO

A

CRÓNICA DO FILHO PRÓDIGO

NOVAMENTE NESTE EXÍGUO

EXÍLIO E NA GRANDE CÚPULA A TONALIDADE PRATEADA DE MAIS UMA NORTADA NA VERDADE NÃO PASSA DE MAIS UMA CORRENTE DE AR QUE

FANTÁSTICO DO EINER MÜLLER A MINHA FALA É O SILÊNCIO O MEU

ATRAVESSA O MEU PEITO INCÓLUME PORRA JÁ ESTOU FARTO DESTE TÉDIO PORRA

CANTO

Ó METRÓPOLE ESPERA POR MIM QUE EU

JÁ ESTOU FARTO DE TODO ESTE MARASMO SOCIAL ISTO NÃO PASSA DE UM FILME

NÃO TARDO PORQUE EU SOU UMA RATAZANA QUE SACIA A SUA FOME COM

DE CLASSE B COM CONTORNOS NAIF NA VERDADE TUDO ISTO NÃO PASSA DE UMA

OS CADÁVERES QUE FLUTUAM À TONA DO MIJO QUE CORRE NOS TEUS

NULIDADE CATALISADORA DE MAIS UM SUICÍDIO INTELECTUAL O MEU POIS ESTÁ

ESGOTOS SOU O CORVO QUE VOA EM CÍRCULOS EM REDOR DOS TEUS

CLARO AH CLARIDADE TU QUE ATÉ ÉS ALGO DE POSITIVO NESTE MOMENTO NÃO

ATERROS E PRESTIDIGITO COM O MEU LÚGUBRE PIO O TEU FUTURO OU

TE VISLUMBRO É SÓ SOMBRAS SÓ PENUMBRA SÓ SOLUÇOS ACERCANDO-SE DO

A AUSÊNCIA DELE REMEXENDO COM AS GARRAS AFIADAS A IMUNDICE DO

MEU ESPÍRITO É ENGRAÇADA ESTA FORMA DE ESTAR NÃO ESTOU A FAZER NADA

TEU LIXO E TAMBÉM SOU O FOGO DAS FORNALHAS DA TUA INCINERADORA

E SINTO-ME CANSADO NEURÓTICO E STRESSADO OK JÁ SEI TENHO DE RELAXAR

QUE VAPORIZA E PURIFICA TODA A TUA MERDA TÓXICA QUE ENVENENA A

PORTANTO DIRIJO-ME ATÉ UMA TASCA QUE FICA PRÓXIMA DA CASA DOS MEUS PAIS

ATMOSFERA

E OBSERVO EM SILÊNCIO OS ALDEÕES ONDE AINDA RESIDE AQUELE VELHO ESPÍRITO

Ó METRÓPOLE PREPARA-TE PORQUE EU SOU A SOMBRA DE UM NOVO

TRANSMONTANO ESSES NÃO OS CRITICO DE FACTO NEM VALE A PENA CRITICÁ-LOS

ADVIR PORTANTO Ó METRÓPOLE ESPERA POR MIM QUE EU NÃO TARDO

PORQUE AINDA ENCONTRO NELES UM POUCO DE PUREZA PRIMÁRIA A HIPOCRISIA

E ENQUANTO TARDO DEBRUÇO-ME OCIOSAMENTE NUMA MÁXIMA

DESTA ERA DITA MODERNA AINDA NÃO AVINAGROU A EMBRIAGUEZ DAS SUAS

BOKOWESQUIANA FUMO MAIS UM CHARRO BEBO MAIS UMA CERVEJA E

EMOÇÕES POIS ESTES EXILARAM-SE NO INTERIOR DE UMA REDOMA FORJADA POR

GANHO UM POUCO MAIS DE PACIÊNCIA ISSO ISSO PACIÊNCIA É AQUILO

ELES MESMOS ONDE AINDA PRESERVAM O SEU MAIS VALIOSO TESOURO OS VALORES

QUE EU MAIS PRECISO AGORA PARA SUPORTAR ESTA ROCHOSA MARCHA

HÁ JÁ MUITO TEMPO EXTINTOS NESTA NOSSA CONTEMPORÂNEA CIVILIZAÇÃO OK

FÚNEBRE OU ENTÃO FICO-ME POR AQUI E DESAFIO TODO ESTE SILÊNCIO

EU SEI QUE SOU UM ESPÍRITO CRITICO MAS COMO POSSO EU CRITICÁ-LOS ELES

COM UM GRITO DE MUDANÇA PORQUE O DESAFIO AH O DESAFIO É O

VIVEM NUM MUNDO SÓ DELES ONDE VIVEM A SUA VIDA DIA APÓS DIA COM AQUILO

PLÂNCTON QUE ALIMENTA O ESPÍRITO OCEÂNICO

QUE DEUS LHES DÁ E NÃO COM AQUILO QUE ESPERAM ROUBAR AOS OUTROS SABEM

O GRITO PORTANTO

LÁ ELES O QUE REALMENTE SE PASSA NESTE MUNDO ATÉ EU POR VEZES TENHO Luís Oliveira

DUVIDAS SE O SEI EMBORA SAIBA DE ANTEMÃO QUE ATÉ SEI ALGUMAS COISAS BEM NA VERDADE VEJO-OS COMO SENDO UMA ESPÉCIE DE CORDEIROS SELVAGENS PRESTES A SEREM IMOLADOS NUMA NOVA PÁSCOA HISTRIÓNICA PORÉM NÃO SEREI EU A ABRIR-LHES OS OLHOS NÃO SEREI EU A MÃO QUE SEGURARÁ O CUTELO QUE OS IMOLARÁ NÃO SINTO DENTRO DE MIM ESSE DIREITO NÃO PRETENDO SER O CARRASCO DESTA FORMA SINGULAR DE LIBERDADE PORQUE DEFRONTE A ELES SINTO-ME DEMASIADAMENTE IMPURO DEMASIADAMENTE CITADINO E ELES SÃO LAIVOS DE UMA INGÉNUA RESISTÊNCIA NESTA NOSSA CORROSIVA EVOLUÇÃO Ó NOBRES ALDEÕES A TODOS VÓS OLHO OBLIQUAMENTE NUM RESPEITOSO SILÊNCIO EM SILÊNCIO OBSERVO TAMBÉM A MAIS JOVEM GERAÇÃO DESTA CIDADE BEM E A ESSES DESCULPEM LÁ MAS NÃO TENHO OUTRA ALTERNATIVA SENÃO DESPREZÁ-LOS POBRES MISERÁVEIS NÃO PASSAM DE BIZARRAS IMITAÇÕES DE UM NOVO CIRCO DE ATROCIDADES LÁ VÃO VIVENDO A SUA VIDINHA PATÉTICA ABSORVIDOS E AGLUTINADOS NAS ÁGUAS PÚTRIDAS QUE GALGAM O LEITO DA ILUSÃO DIR-SE-IA QUE SÃO UMA ESPÉCIE DE VITIMAS EXTASIADAS AS SUAS MENTES TAL COMO SE FOSSEM SIMILARES A UM INSECTO ENCÉFALO CAEM NA ESPARRELA ARDILOSA DE UMA ARANHA PERNALTA E SÃO DEVORADOS NUM SÓRDIDO SILÊNCIO POR ESSA BESTA ANTROPÓFAGA DA NOSSA ESSÊNCIA


EI-LAS ALI ILUDIDAS JULGANDO-SE IMPERADORES DEFRONTE A UM

TUDO AQUI É PRETÉRITO NESTE SAUDOSISMO DESCUBRO UMA HORRÍVEL

MINÚSCULO ECRÃ REJUBILANDO-SE COM MAIS UMA VITÓRIA NO WARLORDS

INÉRCIA E NO VOSSO PRESENTE MOMENTOS DE SILÊNCIO ONDE EU

DEPOIS DE MAIS UMA RONDA ESTREMUNHADA DE HAXIXE ENQUANTO EU

MATERIALIZO A MINHA VONTADE DE ACÇÃO

NESSE ENTRETANTO CHORO COM O SILÊNCIO DE VER TODAS AS RUAS E

OUTROS AGARRARAM-SE AO CRACK E AO CAVALO VIVEM PROCLAMANDO

VIELAS DESTA CIDADE VAZIAS POIS NELAS JÁ NÃO CALCORREIA O ESPÍRITO

A SUA FRAQUEZA DE CANECO NOS LÁBIOS OU ENTÃO DE GARROTE NO

DA REBELIÃO DA VONTADE E DA MUDANÇA AQUI A CORAGEM ATROZMENTE

BRAÇO DIZEM-SE COMO SENDO UNS VENCIDOS DA VIDA HUMILHAM-

MORRE NO CONFORMISMO SILENCIOSO QUE RESIDE NO INTERIOR DOS

-SE NUM CORREDOR QUE MAIS PARECE UM GUETO POR UMA MERDA

QUARTOS MAIS SOMBRIOS AH COMO EU DESPREZO ESSA INEXISTÊNCIA

DE UMA DOSE QUE POR BREVES MOMENTOS TRANSFORMAR-LOS-ÃO EM

UMA JUVENTUDE DERROTADA NUM PRIMEIRO CONFRONTO CONTRA

SUPER-HOMENS PORÉM PASSADA A MOCA SENTEM-SE NOVAMENTE TODOS

AS ANCESTRAIS MURALHAS DA IGNOMÍNIA

SONHOS DE DIAMANTE

FODIDOS ESSES MESMO QUE OS QUISESSE AJUDAR OH PÁ NÃO O CONSIGO

Ó XAVALOS DESTA CIDADE MEMORIZEM ESTAS

PORQUE PREFEREM UMA LUXÚRIA MOMENTÂNEA NUMA EXISTÊNCIA

MINHAS PALAVRAS ESTE MUNDO TAMBÉM É VOSSO POR FAVOR LUTEM

MERDOSA DIGNA DE UM MORTO-VIVO À DURA LUTA QUE NOS INCENDEIA

POR ELE MANIFESTEM-SE GRITEM EM UNÍSSONO OS VOSSOS NOMES NÃO

E DÁ-NOS VIDA

SE RESIGNEM AO SILÊNCIO DOS NÚMEROS SEJAM OS CIDADÃOS NÃO DE

OUTROS TRAGICAMENTE SUICIDARAM-SE NÃO AGUENTARAM A PRESSÃO

UMA ALDEIA MAS SIM DE UMA METRÓPOLE GLOBAL SEJAM OS FUTUROS

HABITUALMENTE AS SUAS MÁSCARAS MORTUÁRIAS SURGEM-ME NO

CIDADÃOS DE UMA NOVA ORDEM FAÇAM-ME SENTIR ORGULHO DE TODOS

SILÊNCIO DOS SONHOS POR VEZES PENSO QUE RECLAMAM O MEU NOME

VÓS FAÇAM-ME ESQUECER ESTE DESPREZO PORQUE EU ODEIO DESPREZAR

PORÉM AINDA SINTO QUE É DEMASIADAMENTE CEDO PARA ISSO

O AMOR SERÁ SEMPRE O MEU ÚNICO SENTIDO PELO MENOS É AQUELE QUE

MAS NEM TUDO É MAU NESTE REINO AINDA EXISTEM ALGUNS RESISTENTES

EU AINDA SIGO INCONDICIONALMENTE

SÃO COMO O VENTO QUE SIBILA NO SILÊNCIO SÃO OS MEUS AMIGOS E

DESFEITOS EM CARVÃO

CAMARADAS SÃO OS MEUS CÚMPLICES NO MAIS PRODIGIOSO DOS CRIMES E ONDE ESTARÃO AGORA OS INCONFORMADOS DA MINHA GERAÇÃO

EU SEI QUE ELES SÃO POUCOS MAS SÃO MUITO BONS SÃO UMA GRANDIOSA

A MAIORIA PARTIU DESPREZARAM O CONFORTO DO DOMICÍLIO E

MINORIA NÃO VOU ESTAR AQUI A NOMEAR OS SEUS NOMES PORQUE

APAIXONARAM-SE PELOS PRAZERES DA VIAGEM NÃO OS CONDENO EU

ELES SABEM MUITO BEM QUEM SÃO NÃO É VERDADE RAPAZES VOCÊS SIM

MESMO SOU COMO ELES PORQUE O CRIAR RAÍZES CRIA-ME NÁUSEAS

ESTARÃO SEMPRE COMIGO PORQUE FAZEM PARTE INTEGRANTE DA MINHA

PRINCIPALMENTE NESTE MAGNÉTICO SEPULCRO EM GRANITO E NÓS

EVOLUÇÃO

SEMPRE SEREMOS OS TIGRES QUE SOLITÁRIOS PALMILHAM A IMENSIDÃO

PORTANTO NUNCA ESMORECEU E JAMAIS ESMORECERÁ O NOSSO RUMO

MÁGICA DAS TUNDRAS DO SONHO

SERÁ SEMPRE O RUMO DE UM COMETA ASTRO INDEPENDENTE QUE JAMAIS

FICANDO

CASARAM-SE

GERARAM

OUTROS HÁ POR AQUI FORAM NOVOS

NADOS

ENGORDARAM

A NOSSA CORAGEM SEMPRE FOI SINÉRGICA E ESPONTÂNEA

ORBITARÁ EM REDOR DA MEDIOCRIDADE DE UM ASTRO MENOR O NOSSO

DESMESURADAMENTE NUMA VIDA PRETENSIOSAMENTE BURGUESA E A

RUMO SERÁ SEMPRE À FRENTE DA ACÇÃO

SUA VIDA SOCIAL NÃO PASSA DE ENCONTROS AOS DOMINGOS À TARDE

NOVAMENTE NESTE EXÍGUO EXÍLIO E NA GRANDE CÚPULA A TONALIDADE

NUMA TERTÚLIA MISANTRÓPICA POR ENTRE UM TRAGO INTROSPECTIVO

PRATEADA DE MAIS UMA NORTADA NA VERDADE NÃO PASSA DE MAIS UMA

NAS SUAS CERVEJAS CONTAM-SE MEMÓRIAS DA SUA ADOLESCÊNCIA

AS

CORRENTE DE AR QUE ATRAVESSA O MEU PEITO INCÓLUME E TODO O MEU

GAJOLAS QUE COMERAM EMBRIAGADOS NOS DELÍRIOS DE UMA SEXTA-

SER EXORTA AGORA O MEU REGRESSO À METRÓPOLE COMO UM VAMPIRO

-FEIRA À NOITE AS MANIFESTAÇÕES ONDE HISTÉRICOS GRITAVAM COMO

O RETORNO À SUA CANGA AOS PRIMEIROS SINAIS DE UMA NOVA AURORA

SUPER-HOMENS NIETZSCHIANOS MÁXIMAS TROTSKIANAS OU ENTÃO

YA DE FACTO JÁ ESTOU FARTO DESTE SILÊNCIO AQUI NÃO ESCUTO NAS

DÁVAMOS VIVAS A UM SONHO REVOLUCIONÁRIO DE CHÉGUEVARA OU AS

RUAS RUMORES DE UMA NOVA REVOLUÇÃO AQUI NÃO VAIO COM UMA

ESCARAMUÇAS COM A BÓFIA SEM RECEIO ÀS BASTONADAS E AS NOITADAS

LINGUAGEM OBSCENA OS DISCURSOS DEMAGOGOS DOS TECNOCRATAS

QUE TERMINAVAM NA ESQUADRA ÉRAMOS FILHOS DO VISCIOUS O NOSSO

ORTODOXOS E FUNDAMENTALISTAS DE UM CAPITALISMO MORIBUNDO

HINO ERA O ANARCHY IN THE UK OU MELHOR AINDA IN YOUROPE PORÉM

AQUI A MONOTONIA MOLDA O MEU MANIFESTO FODA-SE EU AINDA SOU


DEMASIADAMENTE NOVO PARA ACEITAR UMA MORTE CEREBRAL PORQUE NO MEU CÉREBRO RODOPIA VERTIGINOSAMENTE UM VERSO UM VERSO

A

CRÓNICA DO FILHO PRÓDIGO

NOVAMENTE NESTE EXÍGUO

EXÍLIO E NA GRANDE CÚPULA A TONALIDADE PRATEADA DE MAIS UMA NORTADA NA VERDADE NÃO PASSA DE MAIS UMA CORRENTE DE AR QUE

FANTÁSTICO DO EINER MÜLLER A MINHA FALA É O SILÊNCIO O MEU

ATRAVESSA O MEU PEITO INCÓLUME PORRA JÁ ESTOU FARTO DESTE TÉDIO PORRA

CANTO

Ó METRÓPOLE ESPERA POR MIM QUE EU

JÁ ESTOU FARTO DE TODO ESTE MARASMO SOCIAL ISTO NÃO PASSA DE UM FILME

NÃO TARDO PORQUE EU SOU UMA RATAZANA QUE SACIA A SUA FOME COM

DE CLASSE B COM CONTORNOS NAIF NA VERDADE TUDO ISTO NÃO PASSA DE UMA

OS CADÁVERES QUE FLUTUAM À TONA DO MIJO QUE CORRE NOS TEUS

NULIDADE CATALISADORA DE MAIS UM SUICÍDIO INTELECTUAL O MEU POIS ESTÁ

ESGOTOS SOU O CORVO QUE VOA EM CÍRCULOS EM REDOR DOS TEUS

CLARO AH CLARIDADE TU QUE ATÉ ÉS ALGO DE POSITIVO NESTE MOMENTO NÃO

ATERROS E PRESTIDIGITO COM O MEU LÚGUBRE PIO O TEU FUTURO OU

TE VISLUMBRO É SÓ SOMBRAS SÓ PENUMBRA SÓ SOLUÇOS ACERCANDO-SE DO

A AUSÊNCIA DELE REMEXENDO COM AS GARRAS AFIADAS A IMUNDICE DO

MEU ESPÍRITO É ENGRAÇADA ESTA FORMA DE ESTAR NÃO ESTOU A FAZER NADA

TEU LIXO E TAMBÉM SOU O FOGO DAS FORNALHAS DA TUA INCINERADORA

E SINTO-ME CANSADO NEURÓTICO E STRESSADO OK JÁ SEI TENHO DE RELAXAR

QUE VAPORIZA E PURIFICA TODA A TUA MERDA TÓXICA QUE ENVENENA A

PORTANTO DIRIJO-ME ATÉ UMA TASCA QUE FICA PRÓXIMA DA CASA DOS MEUS PAIS

ATMOSFERA

E OBSERVO EM SILÊNCIO OS ALDEÕES ONDE AINDA RESIDE AQUELE VELHO ESPÍRITO

Ó METRÓPOLE PREPARA-TE PORQUE EU SOU A SOMBRA DE UM NOVO

TRANSMONTANO ESSES NÃO OS CRITICO DE FACTO NEM VALE A PENA CRITICÁ-LOS

ADVIR PORTANTO Ó METRÓPOLE ESPERA POR MIM QUE EU NÃO TARDO

PORQUE AINDA ENCONTRO NELES UM POUCO DE PUREZA PRIMÁRIA A HIPOCRISIA

E ENQUANTO TARDO DEBRUÇO-ME OCIOSAMENTE NUMA MÁXIMA

DESTA ERA DITA MODERNA AINDA NÃO AVINAGROU A EMBRIAGUEZ DAS SUAS

BOKOWESQUIANA FUMO MAIS UM CHARRO BEBO MAIS UMA CERVEJA E

EMOÇÕES POIS ESTES EXILARAM-SE NO INTERIOR DE UMA REDOMA FORJADA POR

GANHO UM POUCO MAIS DE PACIÊNCIA ISSO ISSO PACIÊNCIA É AQUILO

ELES MESMOS ONDE AINDA PRESERVAM O SEU MAIS VALIOSO TESOURO OS VALORES

QUE EU MAIS PRECISO AGORA PARA SUPORTAR ESTA ROCHOSA MARCHA

HÁ JÁ MUITO TEMPO EXTINTOS NESTA NOSSA CONTEMPORÂNEA CIVILIZAÇÃO OK

FÚNEBRE OU ENTÃO FICO-ME POR AQUI E DESAFIO TODO ESTE SILÊNCIO

EU SEI QUE SOU UM ESPÍRITO CRITICO MAS COMO POSSO EU CRITICÁ-LOS ELES

COM UM GRITO DE MUDANÇA PORQUE O DESAFIO AH O DESAFIO É O

VIVEM NUM MUNDO SÓ DELES ONDE VIVEM A SUA VIDA DIA APÓS DIA COM AQUILO

PLÂNCTON QUE ALIMENTA O ESPÍRITO OCEÂNICO

QUE DEUS LHES DÁ E NÃO COM AQUILO QUE ESPERAM ROUBAR AOS OUTROS SABEM

O GRITO PORTANTO

LÁ ELES O QUE REALMENTE SE PASSA NESTE MUNDO ATÉ EU POR VEZES TENHO Luís Oliveira

DUVIDAS SE O SEI EMBORA SAIBA DE ANTEMÃO QUE ATÉ SEI ALGUMAS COISAS BEM NA VERDADE VEJO-OS COMO SENDO UMA ESPÉCIE DE CORDEIROS SELVAGENS PRESTES A SEREM IMOLADOS NUMA NOVA PÁSCOA HISTRIÓNICA PORÉM NÃO SEREI EU A ABRIR-LHES OS OLHOS NÃO SEREI EU A MÃO QUE SEGURARÁ O CUTELO QUE OS IMOLARÁ NÃO SINTO DENTRO DE MIM ESSE DIREITO NÃO PRETENDO SER O CARRASCO DESTA FORMA SINGULAR DE LIBERDADE PORQUE DEFRONTE A ELES SINTO-ME DEMASIADAMENTE IMPURO DEMASIADAMENTE CITADINO E ELES SÃO LAIVOS DE UMA INGÉNUA RESISTÊNCIA NESTA NOSSA CORROSIVA EVOLUÇÃO Ó NOBRES ALDEÕES A TODOS VÓS OLHO OBLIQUAMENTE NUM RESPEITOSO SILÊNCIO EM SILÊNCIO OBSERVO TAMBÉM A MAIS JOVEM GERAÇÃO DESTA CIDADE BEM E A ESSES DESCULPEM LÁ MAS NÃO TENHO OUTRA ALTERNATIVA SENÃO DESPREZÁ-LOS POBRES MISERÁVEIS NÃO PASSAM DE BIZARRAS IMITAÇÕES DE UM NOVO CIRCO DE ATROCIDADES LÁ VÃO VIVENDO A SUA VIDINHA PATÉTICA ABSORVIDOS E AGLUTINADOS NAS ÁGUAS PÚTRIDAS QUE GALGAM O LEITO DA ILUSÃO DIR-SE-IA QUE SÃO UMA ESPÉCIE DE VITIMAS EXTASIADAS AS SUAS MENTES TAL COMO SE FOSSEM SIMILARES A UM

Luís Teixeira

INSECTO ENCÉFALO CAEM NA ESPARRELA ARDILOSA DE UMA ARANHA PERNALTA

Luís Teixeira E SÃO DEVORADOS NUM SÓRDIDO SILÊNCIO POR ESSA BESTA ANTROPÓFAGA DA NOSSA ESSÊNCIA


By Raluca Radu

By Raluca Radu

Silence… is the emptiness of a deserted soul or of an overwhelmed body. Silence… is the peaceful atmosphere that dominates the Universe after a heavy rainfall… Silence… is what comes between me and you when one of us breaks the chain of joy and harmony. Silence… is the sound of thoughts crawling one over the others in order to find “the light” and gain the material condition… Silence… is what defines my language in your womb, tossing me into the cradle of pre-existence. Human beings dissolving into numbness, sliding into a perpetual state of silk worms...Minds lacking the force to define the individual’s inside. All these give “shape” to the social “face” of Silence. I am now holding your warm reddish cheeks into my hands, running of myself and singing you my “song” to win the war over Silence. The last sparkles flickering in your brown eyes abandon themselves into the breath of Silence. To find peace with the self and the world, to discover the true meaning of life and absorb its wicked power, could bring a certain Silence to one’s human passage…. Fotografia_Raluca Radu


Luís Teixeira

Luís Teixeira





Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.