Maldita Matemática

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TÍTULO ORIGINAL

Экзаменационная задача Ekzamenaziônnaia zadatcha © TEXTO

Arkádi Avértchenko

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IMPRESSÃO

DEPÓSITO LEGAL

© TRADUÇÃO

1.a EDIÇÃO

João Fazenda Bruaá editora

Nina Guerra e Filipe Guerra

Helder Guégués Norprint, A Casa do Livro Agosto, 2020

B R U A Á E D I T O R A R. Dr. Santos Rocha, 17 r/c, 3080-124 Figueira da Foz | bruaa@bruaa.pt | www.bruaa.pt

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Todos os direitos reservados.




O professor ditou o problema, os alunos apontaram-no e, quando o mestre tirou o

relógio e sentenciou que tinham vinte minutos para o resolver, Semion Pantalíkin passou a mão borratada de tinta pela cabeça redondinha e disse para os seus botões:

Se não o resolver, é o meu fim!...


Este Semion Pantalíkin, fantasista e sonhador, arranjava maneira de

exagerar todos os acontecimentos, todos os fenómenos da vida e, em geral, de ver em tudo o lado mais sombrio.

Se lhe calhava cruzar-se com um rapaz mais alto do que ele, um severo e

implicante rapaz que lhe perguntava com escárnio: «Estás a armar-te aos

cucos, ó boi?», Semion Pantalíkin empalidecia e, entrevendo já com os seus olhos espirituais o fantasma da morte, murmurava baixinho: – É o meu fim.

Quando o professor o chamava ao quadro, ou quando derrubava uma chávena de chá sobre a toalha limpa, pronunciava sempre a habitual frase fúnebre: – É o meu fim.

O seu fim acabava por se resumir a duas cachaçadas no primeiro caso, a uma nega no segundo e, no terceiro, à simples expulsão da mesa do chá.



Ora, mas como a frase fúnebre «É o meu fim» soava com tanta imponência e soturnidade, Semion Pantalíkin gostava de a proferir por tudo e por nada.

A frase, aliás, fora roubada de um dos romances de Mayne Reid, em que as

personagens, ao treparem a uma árvore por causa de um dilúvio e esperando o

ataque de índios, por um lado, e o das garras afiadas de um jaguar escondido no meio da folhagem, por outro, concluíram por unanimidade: – É o nosso fim.

Para caracterizar com maior exatidão a situação das referidas personagens, deve dizer-se que nadavam crocodilos perto da árvore, enquanto o tronco fumegava de um lado, atingido por um raio.



Semion Pantalíkin sentia-se numa situação mais ou menos semelhante ao terem-lhe imposto um problema de matemática diabolicamente

difícil e, ainda por cima, lhe darem apenas uns miseráveis vinte minutos. O problema era o seguinte:

«Dois camponeses saíram do ponto A na direção do ponto B,

caminhando um deles a 4 quilómetros à hora e o outro, a 5. Pergunta: com que antecedência chegará um camponês, em relação ao outro,

ao ponto B, se o segundo saiu um quarto de hora antes do primeiro, sendo que a distância entre o ponto A e o ponto B, em quilómetros,

equivale ao número de barris que dois negociantes de vinho venderam

a um terceiro, sendo que o primeiro recebeu 120 euros e o segundo, 80 euros; o preço de um barril de vinho era de 40 euros.»


Depois de ler o problema, Semion Pantalíkin considerou para si próprio: – Um problema destes em vinte minutos? É o meu fim!

Depois de perder três minutos a afiar o lápis e a dobrar com muito

cuidado a folha de papel quadriculado na qual iria demonstrar as suas

capacidades matemáticas, Semion Pantalíkin fez um esforço e mergulhou na solução do problema.


Pobre do Semion Pantalíkin! Davam-lhe um problema de matemática abstrato quando ele, com todo o seu ser, dos pés à cabeça, vivia tão‑somente no meio das imagens concretas, sem que na sua mente do tipo Mayne Reid coubessem semelhantes abstrações. Para começar, surgiu-lhe a seguinte questão:

– Que camponeses são estes, «o primeiro» e «o segundo»?

Esta seca designação nada lhe dizia à mente nem ao coração. Não poderiam ter dado aos camponeses outros nomes, simples nomes humanos?

É claro que não valia a pena chamar-lhes Ivan ou Vassíli (o seu instinto sugeria-lhe que

estes nomes eram demasiado prosaicos, triviais), mas podiam muito bem batizá-los como William e Rudolf, porque não?


Então, logo que Pantalíkin rebatizou «o primeiro» e «o segundo» como Rudolf

e William, respetivamente, ambos se tornaram compreensíveis e familiares para ele. Já via com os seus olhos mentais uma faixa branca na testa de William,

devida à proteção do chapéu, e o resto da cara bronzeada pelos raios quentes do sol. Quanto a Rudolf, na sua imaginação, era um homem espadaúdo e corajoso, de calças de brim azul e casaco de pele de castor.




Semion Pantalíkin, miúdo fantasista e sonhador, arranjava maneira de exagerar todos os acontecimentos e, em geral, de ver em tudo o lado mais sombrio. Foi o que também aconteceu no dia em que o professor de Matemática ditou um

problema diabolicamente difícil e apenas deu vinte minutos para o resolver. Um

enunciado de tal forma abstrato que Semion, que vivia tão-somente no meio das imagens concretas, se vê obrigado a imaginar uma trama que lhe possa oferecer respostas, mas tudo o que consegue são mais e mais perguntas. E os vinte minutos estão a terminar…

M A L D I TA M AT E M ÁT I C A É U M D O S I N Ú M E R O S E D E L I C I O S O S C O N T O S S A Í D O S D A P E N A

P R I N C Í P I O D O S É C U L O X X , C O M PA R A D O A M A R K T W A I N E A P E L I D A D O D E R E I D O R I S O , ALÉM DAS DEZENAS DE OBRAS QUE NOS DEIXOU, FUNDOU E DIRIGIU A HISTÓRICA R E V I S TA S AT I R I C O N , N A Q U A L C O L A B O R A R A M G R A N D E S N O M E S D A L I T E R AT U R A E ILUSTRAÇÃO RUSSA.

ISBN 978-989-8166-45-6

D E A R K Á D I A V É R T C H E N K O ( 1 8 8 1 - 1 9 2 5 ) , U M D O S G R A N D E S S AT I R I S TA S R U S S O S D O


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