Ao nosso alcance: espaços da cidadania

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AO NOSSO ALCANCE espaços da cidadania

Bruna Donegá Alves

Orientador: Antonio Aparecido Fabiano Junior

Orientador de projeto: Marcelo Consiglio Barbosa

Universidade Presbiteriana Mackenzie

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

São Paulo, Brasil, 2021

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AO NOSSO ALCANCE espaços da cidadania Bruna Donegá Alves Trabalho final de graduação

agradecimentos

No centro de artes onde eu faço aula de dança, as crianças tem o costume de, antes dos exames e apresentações, juntar todo mundo em roda, dar as mãos e falar “eu preciso de você”, um por um, para a pessoa a esquerda, até completar a volta. Seguindo essa tradição que aprendi na Encontrarte, peço licença para dizer “eu preciso de você” para as pessoas que deram sentido e tornaram esse trabalho possível:

A minha mãe e meu pai, pelo amor e dedicação incondicional que me mostraram a graça de caminhar sempre “ao lado”. Este sonho começou com vocês e eu espero retribuir, todos os dias, o mundo que vocês construíram para mim.

A toda minha família, principalmente meus avós, por transmitirem a garra e urgência (sangue no zóio, segundo meu tio Ri) que faz com que nós, suas filhas e netas, cresçamos aprendendo como mover montanhas.

Aos meus sogros, pelos momentos de puro conforto e carinho, e ao Vi, por ser meu maior parceiro, quem caminha ao

meu lado e é, ao mesmo tempo, serenidade e impulso. Para mim, você é sempre a melhor parte.

Ao grupinho que vem sendo nutrido desde o jardim de infância, com adições maravilhosas ao longo dos anos – André, Berna, Fabs, Fefe, João, Julha, Lari, Leo, Manu, Mari, Pe, Pedro, Robs e Yu –, por, apesar de não me aguentarem mais falando “não posso, tô fazendo projeto”, continuarem sendo fagulha disparadora de inquietações, sempre dispostos a uma boa discussão interminável.

A mais um grupinho, agora de mackenzistas – Aninha, Bia U., Bia V., Ceci, Fran, Gabi, Gi A., Gi B., Giu, Gu, Juju, Ju A., Ju Y., Kami, Lari, Leo, Lia, Nick, Raquel, Ste, Tete e Tiaki – pelos dias fazendo trabalho no chiqueirinho ou tomando sol no bosque e as noites no karaokê ou na Borba, sempre rindo até doer as bochechas.

Aos e às cacos do Mosaico, principalmente Babi, Gabi P., Gabi B., Helo, Jenni, Lau e Mayu, por mais do que me acolherem. Por serem sempre companheiros e companheiras no sonhar, desenhar e pôr

em prática os mundos por vir.

À equipe do projeto Vila Itororó Canteiro Aberto e do Instituto Pedra pela disposição de compartilhar tanto comigo – especialmente você, Mari – e por enraizarem a força do debate coletivo – Helena e Grazi em especial. Eu não poderia ter começado com pessoas melhores.

À equipe de DIMAP da Secretaria Municipal da Fazenda de São Paulo que me mostrou, diariamente, o exercício da cidadania na prática, agora na visão interna da máquina pública.

Ao Roque, por me estimular a enxergar outras perspectivas e por todo o acompanhamento sem o qual os últimos anos seriam muito mais turbulentos.

À toda família Encontrarte, que me manteve em movimento e foi meu ritmo, mais rápido – quando tudo parecia se arrastar demais –, e mais suave – quando eu precisava de um respiro.

Ao corpo docente da FAU Mackenzie, principalmente Carolina Bracco Delgado de Aguilar, César Shundi Iwamizu, Fernando de Mello Franco, Larissa Ferrer Branco, Paulo Emílio Buarque Ferreira, Paulo Olivato, Sasquia Hizuru Obata e Vólia Regina Costa Kato, por todos os dias construírem com a gente processos de aprendizado que estreitam laços.

Aos professores que acompanharam de pertinho, ainda que virtualmente, o processo deste TFG – Adhemar Carlos Pala, Afonso Celso Vanoni de Castro, Ro-

drigo Mindlin Loeb e, em especial, Marcelo Consiglio Barbosa, que tanto confiou no meu trabalho e me estimulou.

À Lizete Maria Rubano, pela participação ativa no meu desenvolvimento como arquiteta, urbanista e cidadã, até o encerramento deste ciclo – ao mesmo tempo em que abrimos as portas e janelas para os muitos outros ciclos por vir – e à Marta Vieira Bogéa, por aceitar o convite para também fazer parte desse diálogo.

Ao Antonio, por acreditar comigo que a luta vale a pena e apostar no cultivo dos conflitos, desde muito antes do início deste trabalho. A minha mãe sempre me falou sobre como o aprendizado só fazia sentido quando se tinha afeto. As suas aulas (em palavras ou ações) transbordam afeição e transformam os que também ainda se deixam afetar.

E a todos e todas moradores, trabalhadores e frequentadores do Jardim Lapenna, em especial à Andrelissa Ruiz, que cederam seu tempo para conversas ou participaram das reuniões e ações propostas pelo grupo de pesquisa-ação, compartilhando e trocando conosco.

Este trabalho é um pouco parte de cada um de vocês e eu guardo as melhores lembranças.

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índice

introdução

capítulo 01

ao alcance de quem?

capítulo 02

o que queremos alcançar?

brincar

conviver

trabalhar

morar explodido: onde os eixos se entrelaçam

capítulo 03

como alcançar?

é preciso desejar

a dimensão exatamente humana como fazer as coisas acontecerem (e durarem)?

considerações finais referências

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Gosto de imaginar que, em um futuro próximo, os prédios vazios do centro abrigarão as pessoas que hoje vivem sem uma residência. Apesar desta hipótese já ser consenso há um certo tempo, uma vez que o número de construções sem uso em São Paulo supera a soma de gente sem teto, medidas efetivas e articuladas como esta ainda não foram tomadas. Ainda assim, mesmo com este sonho sendo tão possível – e desejado –, é improvável que os bairros mais afastados das áreas centrais se esvaziem completamente, não só porque não seria fisicamente possível, mas também porque sempre vão existir pessoas que desejam/precisam morar aqui (sendo “aqui”, a Zona Leste de São Paulo), seja pela facilidade de acesso a cidades da região metropolitana, pelo custo de vida ou (entendendo-o ou não como camada única, mas passível de ser sobreposta) pela relação de pertencimento conquistada com a vida vivida em “seu” território. Com isso em mente e sabendo que, mesmo “próximo” na imaginação, este futuro ainda está em construção – e, muitas vezes, enfrentando tentativas sucessivas e cadenciadas de destruição –, o que pode ser feito na realidade atual para garantir qualidade de vida nesses bairros? Se a (sobre)vida nos exige o tempo da urgência, como trabalhar a dimensão do desejo aqui e agora?

Minha família nasceu e cresceu na Zona Leste de São Paulo. Meus avós paternos trabalharam na Nitroquímica

AO NOSSO ALCANCE

ao nosso alcance

Expressão, estar ao alcance de. Estar a uma distância que pode ser atingida. Forma regressiva de alcançar.

ESPAÇOS DA CIDADANIA

De cima para baixo: minha mãe e meus tios na rua da casa dos meus avós; meu pai brincando na rua, em São Miguel; meu pai em frente à casa construída pelos meus avós.

e construíram uma casa em São Miguel para criar meu pai e minhas tias. Anos depois, minha avó se mudou para o Tatuapé. Por parte de mãe, meus avós compraram uma casa no Tatuapé logo que minha mãe, a filha do meio, nasceu. Mas meus pais não se conheceram no bairro, e sim no carnaval. Continuaram morando no Tatuapé depois de casados e eu era recém nascida quando nos mudamos para o apartamento onde moramos hoje.

Sempre gostei daqui: brincávamos na Rua da Amizade, na pracinha General Costa Barreto, no Largo do Bom Parto e no CERET. Nas férias, meus avós levavam meus primos e eu para passear no SESC Itaquera. Quando fazia aula de dança, era uma luta para reservar um horário para o espetáculo de final de ano na Fábrica de Cultura do Belém. Os donos dos mercadinhos, da padaria e da bomboniere são todos conhecidos pelos seus nomes. Vó Divina vendia pão de queijo em um desses mercadinhos, inclusive. Todo mundo ia a pé para a sorveteria depois da escola e um dos donos, o Eloy, brincava que colocaria uma cama para dormirmos lá. Talvez uma boa cidade deveria ser pensada na quantidade de lugares que nós, nós como um todo, pudéssemos brincar em seus espaços. No meu primeiro estágio, fiz um levantamento sobre o bairro da Bela Vista e fiquei muito surpresa ao abrir o Geosampa e comparar o tanto de pontinhos que surgiam nesse mapa e no do Tatuapé, indicando uma maior quantidade de equipamentos e áreas verdes disponíveis no meu bairro.

Ainda assim, não se passa um dia sem que minha mãe fale que ela não conseguiu, mas espera me ver morar “mais no centro” quando tiver minha própria casa. Existe um senso comum – mais um consenso vindo da imaginação – de que a mudança em direção ao centro significa uma melhora na qualidade de vida.

Em vídeo de 2017, Dória fez uma visita ao Hospital Municipal Dr. Cármino Caricchio, hospital de referência na Zona Leste, localizado no Parque São Jorge. O motivo da

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introdução

visita era “ver como a realidade funciona, sobretudo na região periférica da cidade”, ou seja, o então prefeito da cidade de 12.325.232 habitantes (IBGE, 2020), área total de 1.521.110 km² e área urbana de 949.611 km² (EMBRAPA, 2015) se referia ao Tatuapé, um dos bairros mais bem servidos de infraestrutura da cidade e localizado a aproximadamente 6 km da Praça da Sé, como “região periférica”. Qualquer que seja a definição de “periferia” utilizada pelo ex-prefeito - local distante do centro ou carente de infraestrutura -, não se enquadra na realidade do Tatuapé, evidenciando as intenções de Dória: sugerir uma imagem diferente da realidade atual dos bairros periféricos de São Paulo.

Essa foi uma das situações que me estimulou a pensar o TFG na Zona Leste, colocar a região em evidência a partir do olhar de quem aprendeu a ver com a própria Zona Leste. Lógico que eu venho de uma situação muito confortável e privilegiada, o Tatuapé é efetivamente um dos bairros mais bem favorecidos da cidade. Com certeza a região como um todo guarda vivências muito diversas, mas a sensação que fica é como se os olhares para este território – muitas vezes calejados, preguiçosos ou enviesados – deixassem passar algumas informações e, assim, formassem uma imagem que às vezes até parece com a realidade, mas não a representa em sua completa complexidade.

Meu professor de desenho na época do vestibular dizia que, para desenhar algo, precisamos focar a observação no que vai ser desenhado, ou corremos o risco de desenhar o que queremos/imaginamos que seja, e não o objeto em si. Hoje sei que esse é o maior clichê das aulas de artes, mas, na época, foi absolutamente esclarecedor. Tratando-se de leituras urbanas, é inegável que podemos deixar escapar alguma particularidade, ou pode ser até de nosso interesse projetar desejos e sonhos além da realidade. Entretanto, antes de iniciar o TFG, eu tinha a ideia de me aproximar o máximo possível do que eu acreditava que era pouco explorado quando tratavam daqui. Em

entrevista ao Rede Brasil Atual, Sérgio Vaz, poeta fundador da Cooperifa, disse:

Entendo que algumas pessoas tenham que sair, porque não é tão fácil viajar todo dia, mas o sentimento permanece. Eu sou dá época que queria mudar da periferia, agora quero mudar a periferia. Não é um lugar maldito do qual temos que sair. É um lugar que infelizmente, por conta do Estado, temos alguns problemas, por outro lado ainda falamos com o vizinho, jogamos bola, fazemos saraus. (2018, n.p)

Quando comecei efetivamente a preparar este trabalho, ainda no oitavo semestre, com a matéria de Metodologia, já estávamos em meio à crise do coronavírus. Eu havia conversado com o Antonio para que ele fosse meu orientador e ele me contou que estava iniciando os trabalhos de um grupo de pesquisa, o “Projeto Piloto de adaptação do distanciamento físico em territórios vulneráveis em função da pandemia de COVID-19”, com o professor Fernando. A proposta era compreender hipóteses urbanas de enfrentamento à pandemia colocando o Jd. Lapenna – bairro parceiro de longa data de outras iniciativas do Mackenzie –, em São Miguel Paulista, na Zona Leste de São Paulo, como local de estudo. O distrito de São Miguel já estava entre as regiões que eu considerava me aprofundar, por fazer parte da história da minha família. Assim, me pareceu óbvio que meu TFG deveria seguir paralelamente a esse grupo de pesquisa, de forma que um trabalho pudesse complementar o outro.

Ao longo do ano de trabalho, diretrizes de outras raízes, provenientes de todo trabalho coletivo que conta com muitos grupos, alteraram rotas sobre a concretização das propostas introduzidas pelo grupo. Ainda assim, este TFG e o projeto de pesquisa complementar, “A experiência coletivizada em tempos de isolamento físico”, relatam as experiências resultantes dos contatos e trocas com o bairro e seus agentes. O aspecto projetual da pesquisa completa é o tema a ser desenvolvido por este exercício.

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capítulo 01

ao alcance de quem?

O surgimento do bairro de São Miguel relaciona-se com as origens da cidade de São Paulo, fundada a partir da Vila de São Paulo de Piratininga, que se iniciou como um pequeno povoado em 1554. A formação do Aldeamento de São Miguel do Ururay marca a ocupação da região oriental da cidade, hoje conhecida como Zona Leste de São Paulo. O marco da fundação e colonização deste aldeamento é a Capela de São Miguel, localizada no movimentado largo de São Miguel Paulista, popularmente conhecido como Praça do Forró (MORCELLI, 2016).

Ururay era considerado um ponto estratégico de defesa, por situar-se entre a Vila e o sertão do Paraíba, onde se encontravam índios considerados hostis por quem, por ali, invadia e transformava o território. Os jesuítas percorriam esses caminhos formando novos aldeamentos e trazendo novos índios para os aldeamentos já existentes. Quando os colonos começaram a fixar-se em grandes sesmarias, na metade do século XVII, muitas delas foram apropriações de aldeamentos, ocupando as terras dos índios. Mudanças significativas começaram a ser observadas a partir da divisão e loteamentos destas propriedades que, no início do século XX, foram adquiridas pela linha férrea e pelas indústrias, dando origem a inúmeros bairros operários. Na década de 1970, diversos terrenos, sobretudo nas margens do rio Tietê, abrigaram ocupações precárias, em consequência do adensamento urbano, acompanhado por ondas migratórias e uma grande demanda de trabalho, sem que houvesse políticas públicas direcionadas a amparar demandas da população que mais necessitava de apoio e cuidado (MORCELLI, 2016).

Dessa forma, a ação do poder público foi decisiva no processo de destinação socioeconômica dos territórios da cidade: por um lado, promoveu concentração “(...) de investimentos no centro expandido protegendo, através de um complexo regulatório urbanístico, o patrimônio imobiliário da população de maior renda que vive nesse território (...)” (ROLNIK, 2001, p. 45) e, por outro, garantiu a

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priorização de investimentos “(...) basicamente em sistema viário e de transportes, que servem para mover a população trabalhadora da “cidade-dormitório” para os espaços de trabalho.” (ROLNIK, 2001, p. 45). Esta constatação pode ser observada na consolidação do eixo Leste-Oeste como estruturador da Zona Leste, a partir da construção da Radial Leste, na década de 1960, e, implantação da linha Leste do metrô, na década de 1970.

Entretanto, a dualidade “centro e periferia” não é uma questão somente cartográfica. O entendimento de periferia parte de uma consciência da realidade urbana e sua população está estruturada na ideia da construção de um sujeito que está “à margem” do acesso aos direitos, ou seja, que busca, e luta, para enfrentar a desigualdade

social. O termo foi difundido nos anos 1970 como sinônimo de “lugar de moradia da força de trabalho urbana” (TANAKA, 2006, p. 145), referindo-se à acentuação da segregação urbana nos loteamentos periféricos que, naquele momento, surgiam em áreas afastadas, onde o valor baixo garantia condições para que os trabalhadores industriais adquirissem a moradia própria (BONDUKI; ROLNIK, 1979 apud TANAKA, 2006).

As diversas dinâmicas urbanas presentes na cidade configuram distintos acessos às infraestruturas do Estado e o acesso a elas, por sua vez, advém de um processo histórico de desigualdade na distribuição e mercantilização da terra e dos direitos sociais. A expulsão dos mais pobres para as periferias, sendo estes “produto do processo pelo qual os trabalhadores urbanizam eles mesmos a cidade” (CALDEIRA, 2013, n.p) parece

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esclarecer uma parte das ações, uma vez que hoje muitas áreas centrais se configuram como manifestação de uma nova periferia, onde, esta lógica pode ser ampliada para além da contraposição ao centro, em que os processos urbanos atuais ultrapassam este sentido inicial, gerando territórios de exclusão dentro destas mesmas áreas urbanizadas e anteriormente valorizadas, como por exemplo os conflitos recentes na região da Luz.

Ainda assim, a questão geográfica destacou-se como ponto determinante na ocupação da região estudada, uma vez que as dificuldades de expansão para leste, vencendo a inundável várzea do Carmo e cruzando a estrada de ferro, formaram uma barreira dividindo o espaço urbano. Esta desvantagem de localização garantiu valores mais baixos, fator relevante no contexto de segregação socioespacial, como citado anteriormente e, paralelamente, impôs um maior tempo de deslocamento ao centro (VILLAÇA,1998 apud OLIVEIRA, 2012), uma relação que influencia a dinâmica da cidade de São Paulo até os dias de hoje.

Em sua tese de doutorado, Fernando de Mello Franco (2005) estuda a comparação de densidade e relação emprego por habitante em áreas centrais por onde passam os trilhos, como por exemplo as várzeas do Pinheiros, Tietê e Tamanduatehy e a região de São Miguel. Em números atuais, segundo dados do INFOCIDADE (2021), Fundação SEADE (2021) e Rede Nossa São Paulo (2021), a densidade na subprefeitura de São Miguel é de aproximadamente 152 habitantes/ha e aproximadamente 92 habitantes/ha na subprefeitura de Pinheiros. A taxa de empregos a cada 10 habitantes em idade ativa (igual ou superior a 15 anos), na subprefeitura de São Miguel, encontra-se próxima a 1,20, sendo que a subprefeitura de Pinheiros apresenta média de 17,4 empregos a cada 10 habitantes em idade ativa. É da natureza da região central a concentração de oportunidades e infraestrutura, mas se faz necessária uma organização menos excludente que fortaleça outros núcleos focais de produção e re-

produção da vida na cidade.

São Miguel apresenta uma forte relação com municípios vizinhos na Grande São Paulo, como, por exemplo, Franco da Rocha, Francisco Morato, Ferraz de Vasconcelos, Poá e Itaquaquecetuba, por influência da CPTM. Além disso, possui uma reserva de áreas livres que não se encontra mais disponível em outras áreas da cidade. Este contexto propicia uma situação favorável para o estudo de dinâmicas outras na relação trabalho-da/na/para/pela-cidade. É possível imaginar uma alteração na raiz do entendimento do “trabalho”, onde práticas já exploradas na cidade de São Paulo, como a agricultura urbana, tomam novas formas buscando uma produção articulada que, além de garantir empregos, fornece insumos, por exemplo, para abastecimento público em meio a pandemia. Uma iniciativa que foi inspiração para esta pesquisa chama-se Mulheres do GAU, do projeto Quebrada Sustentável, criado na urbanização da favela União de Vila Nova.

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Mapa relacionando localização dos empregos e população nos distritos de São Paulo. Imagem: Fundo Fica. Espaço do grupo de agricultura urbana no Viveiro Escola. Foto: Facebook Mulheres do GAU.

Dentro do distrito de São Miguel, vizinho ao bairro União de Vila Nova, encontra-se o Jardim Lapenna, um bairro de indústria cerâmica e olarias no início do século XX, realidade comumente observada na região, que apresentou crescimento considerável a partir da década de 1930, quando a criação da linha de ônibus Penha-São Miguel e a inauguração da estação da estrada de ferro (hoje, CPTM), juntamente com a facilidade de acesso a um grande reservatório de água, o Rio Tiete, proporcionaram condições favoráveis para a instalação da Companhia NitroQuímica Brasileira (companhia que meus avós trabalharam). A partir dos anos 1940, essa expansão se relacionou, também, com o próprio crescimento da cidade de São Paulo. O processo de loteamento deste território, despertado pela migração de um grande número de nordestinos para o bairro, atraídos pelos empregos na fábrica e a garantia de moradia fácil e barata, pode ser reconhecido até hoje nas inúmeras vilas e jardins do local, como as três áreas distintas que formam o Lapenna: Vila Nair, Vila Gabi e Jardim Lapenna (FONTES, 1996).

Da esquerda para direita, de cima para baixo: SARA 1930, Mapa 1943 SMUL, Mapa vegetação 1988, Google Earth 2001, Google Earth 2004 (obra do mutirão concluída), Google Earth 2008 (novo acesso Av Jacu Pêssego, novos equipamentos no bairro), Google Earth 2012 (parque Vila Jacuí, adensamento do bairro), Google Earth 2021 (situação atual).

Já nos anos de 1970, a ocupação do bairro aproxima-se do processo de exclusão territorial e periferização da cidade iniciado nesta década citado anteriormente. Neste momento, as demandas por infraestrutura urbana e moradia cresceram rapidamente, sem o devido preparo da Prefeitura para que fossem instalados serviços de atendimento básico. Posteriormente, na década de 1980, a retificação do Rio Jacu incentivou uma nova onda de aumento populacional na região (TAMBURUS, 2019). Outra potente transformação ocorreu nos anos 2000, com a execução do mutirão habitacional Lapenna produzido pela COHAB, fruto da forte organização comunitária e mobilização social local, e o prolongamento da Avenida Jacu Pêssego, que determinou a remoção de parte significativa de pessoas da favela Vila Nair, onde hoje está localizado o Parque Jacuí. Esta desocupação aparenta estar relacionada com ocupações mais recentes do Jardim Lapenna (HASSWANI, 2018 apud BIDERMAN, 2017).

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Dessa forma, a constituição do bairro pode ser dividida em três momentos diferentes: a ocupação mais antiga, ao norte da linha do trem, que é a área mais urbanizada, com ruas asfaltadas, iluminadas e servidas pelas linhas de ônibus, além de casas de alvenaria construídas em lotes individualizados, diferentemente de outras partes do bairro; a região central e leste do bairro, ocupada de forma menos ordenada, mas que contou com movimentos habitacionais de interesse social e mutirões; e as ocupações mais recentes, em constante expansão no limite norte do bairro, área mais vulnerável que não dispõe de saneamento básico e é a mais afetada pelas enchentes (HASSWANI, 2018 apud BATISTA; CARVALHO, 2013). Estes três momentos definem as áreas hoje conhecidas por alto, médio e baixo Lapenna, respectivamente.

Além destas divisões internas que, apesar de não serem barreiras físicas literais, podem ser facilmente observadas no bairro, o Jardim Lapenna é delimitado pela fronteira com equipamentos que desenham uma definição limitadora para área do bairro: a norte, a Estação de Tratamento de Esgotos São Miguel (Sabesp); a sul, estação São Miguel Paulista da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos – CPTM; a leste, o muro da NitroQuímica; e, a oeste, a Avenida Jacu Pêssego.

Por mais que a CPTM e a Avenida Jacu Pêssego sejam importantes rotas de acesso ao bairro, conectando-o ao restante da cidade, a grande extensão e dificuldade de transposição das quatro margens do bairro dificultam a relação com o que está próximo: para acessar uma agência bancária, por exemplo, que não existe no próprio Lapenna, os moradores precisam dar a volta por dentro da estação da CPTM ou cruzar a passarela por cima do trem, e andar até a praça do Forró, ao sul da linha do trem. Quem deseja passear ou se exercitar no parque Vila Jacuí deve enfrentar a travessia da Avenida Jacu Pêssego, uma via estrutural, sem a devida proteção ao pedestre.

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Frente à falta de investimento público no bairro e o crescente aumento na demanda por equipamentos, surgem ações de iniciativa privada com propostas de atuação colaborativa e de construção coletiva, porém ancoradas em termos financeiros como gerência, governança e empreendedorismo, como as promovidas pela Fundação Tide Setubal. Com trajetória desde 2006 no bairro de São Miguel, a fundação atuou em diversas frentes de projetos para a região, promovendo convívio e mobilização comunitária. Neste sentido, em 2008 foi inaugurado o Galpão ZL, iniciativa da Tide Setubal em parceria com a Sociedade Amigos do Jardim Lapenna: um espaço para ações que fomentem uma rede de inovação, transformação e empreendedorismo. (FUNDAÇÃO TIDE SETUBAL, 2021).

Em fevereiro de 2017, em parceria da Fundação Tide Setubal com a Fundação Getúlio Vargas São Paulo, se iniciou um processo participativo com os moradores através da discussão de propostas para o bairro, que resultou na iniciativa “Plano de Bairro do Jardim Lapenna: rota para um território de direitos”, contando com 48 ações de transformação. O Plano de Bairro é um instrumento de planejamento na escala local, criado pelo Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo (PDE – Lei 13.050/14), com objetivo de reunir demandas e desenvolver uma estratégia de transformação a partir da iniciativa da sociedade civil, participação do poder público e setor privado:

De acordo com o PDE, o Plano de Bairro deve conter ações locais relacionadas à: mobilidade (com ênfase na circulação de pedestres, ciclistas e pessoas com deficiência); espaços públicos (áreas livres, áreas verdes e área de lazer); microdrenagem; iluminação pública; acessibilidade e equipamentos públicos. Em suma, trata-se de um instrumento de planejamento destinado a pensar a implementação de pequenas iniciativas e ações diretamente relacionadas com a qualidade de vida das pessoas no espaço mais próximo da vida cotidiana (FUNDAÇÃO TIDE

SETUBAL, 2021, n.p).

O Jardim Lapenna, na época em que o Plano de Bairro foi elaborado, dispunha de uma UBS, duas creches, uma Escola Estadual, um Ponto de Leitura junto ao Galpão ZL, iniciativa da Fundação Tide Setúbal, e um CCA. Com a desapropriação de terrenos no seu entorno, em 2004, para construção do Parque Vila Jacuí e expansão do Complexo Jacu Pêssego houve a ocupação das áreas de várzea junto ao córrego. A área, tão definida por infraestruturas urbanas de circulação viária, é intensificada por ocupação em suas franjas e áreas ambientalmente frágeis, em um processo perverso de formação de uma periferia na periferia, fazendo com que a falta de acesso a água tratada e coleta de esgoto, além dos alagamentos, tornaram-se um grande problema para o bairro.

Um dos maiores legados do Plano de Bairro foi a formação de um colegiado composto por agentes da UBS, representantes da Sociedade Amigos do Jardim Lapenna, S.O.S Lapenna, do Centro de Educação Infantil – Campo, da Escola Estadual Pedro Moreira Matos, do Centro de Educação Infantil – Mutirão, do Galpão de Cultura e Cidadania e Centro da Criança e do Adolescente – Projeto Cultural Educacional Novo Pantanal (CCA – PROCEDU), que seguem atuantes. Mas o Plano também estabeleceu estratégias de melhorias para o bairro, pensadas a partir de quatro eixos principais: fortalecer a organização comunitária, harmonia com o meio ambiente, fortalecer o bairro do Jardim Lapenna e assegurar/qualificar a infraestrutura. Para isso, foram executadas ações com os moradores, como o mutirão de requalificação da Praça Ermínia (FUNDAÇÃO TIDE SETUBAL, 2021), entendendo que a ideia de igualdade urbana depende de uma maior distribuição de cidade.

A partir dos esforços do Plano de Bairro, foi realizada uma ação de canaletas junto ao córrego, para tentar minimizar os problemas de enchentes – que, apesar da significativa melhora, continuam sendo uma questão para o bairro, uma vez que os bueiros muitas vezes encontram-se cheios de lixo. Além disso, hoje há quatro creches,

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além da Escola Estadual, mas o CCA foi fechado. Um Ecoponto também foi instalado debaixo de parte do viaduto da Jacu Pêssego por demanda da população.

Em conjunto com a elaboração do Plano de Bairro, os professores Ana Gabriela Godinho Lima, Daniela Getlinger, Marília Aldegheri do Val e Rodrigo Mindlin Loeb, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, iniciaram, em parceria com o Instituto Brasiliana, um grupo de trabalho no bairro, envolvendo alunos da graduação e pós graduação. O Núcleo de Pesquisa e Projeto em Cultura, Cidade, Gênero e Primeira Infância, contemplado por financiamento da Fundação Bernard Van Leer pela Urban95, desenvolveu ações no território que tiveram desdobramentos em projetos de pesquisa, tópicos especiais para os estudantes da faculdade de arquitetura e urbanismo, além de publicações e apresentações.

A parceria comunidade-universidade construiu recorrentes estudos e pesquisas de melhora para a área, colocando a universidade no lugar de necessário polo de conhecimento que, aberta para novos saberes populares e eruditos por meio de participação e construção com outros agentes, pode se apresentar como ferramenta de formação, reflexão e novas proposições que se estendam para construções de alternativas no confronto com a nossa realidade.

Em 2020, resultante do agravamento da pandemia da COVID-19 no Brasil, diversos grupos de pesquisa focaram suas análises na forma como a doença afetava os diversos territórios do país. Em São Paulo, um importante estudo foi iniciado pelo labcidade (2020), o Laboratório de Pesquisa e Extensão da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, questionou a forma de análise simplificada utilizada pelos órgãos governamentais no enfrentamento da pandemia e desenvolveu, relacionando o CEP de residência com os casos de hospitalização por COVID-19, uma possibilidade de análise territorial, senão precisa (pois conta com múltiplas bases

de dados), ao menos mais plural, montada por camadas múltiplas e leituras sobrepostas.

Por conta das restrições impostas pela pandemia no início deste trabalho, não foi possível visitar o Jardim Lapenna logo no começo desta pesquisa. Portanto, inicialmente, a aproximação se deu através de pesquisas online, acesso a bancos de dados, mapeamentos e conversas com moradores e trabalhadores do bairro. A primeira conversa, online, foi realizada no dia 30.09.2020, com Andrelissa Ruiz, representante da Fundação Tide Setubal, que trabalha no Galpão ZL. No dia 29.10.2020 foi realizada reunião com agentes do bairro – participantes: Antonia Marlucia (Tide), Antonio Fabiano (Mackenzie), Anselmo (morador Vila Nair), Bruna Donegá (Mackenzie), Bianca Santos (Tide), Fernando Franco (Mackenzie), Kaki, Kauanne (grupo de teatro), Malu (guardiã), Marcelo Ribeiro (Tide), Marleide (guardiã), Naama, Vania (guardiã), Sabrina Duarte (Tide), Stefany Barbosa (Mackenzie), Vanessa Strachicini (Mackenzie). A segunda conversa, com representantes do Galpão ZL, fez parte de uma proposta do grupo de pesquisa-ação “Projeto Piloto de adaptação do distanciamento físico em territórios vulneráveis em função da pandemia de COVID-19” para uma hipótese de oficina no bairro. Participantes: Ana Cecília (Mackenzie), Andrelissa Ruiz (Tide), Antonia Marlucia (Tide), Antonio Fabiano (Mackenzie), Bruna Donegá (Mackenzie), Fernando Franco (Mackenzie), Laura Janka, Marcelo Ribeiro (Tide), Pedro Marin (Tide), Sabrina Duarte (Tide), Stefany Barbosa (Mackenzie), Vanessa Strachini (Mackenzie).

Um dos levantamentos, a partir de dados de uma unidade de saúde da Região Metropolitana e do DATASUS, departamento de informática do Serviço Único de Saúde do Brasil, sugere que, no início da expansão da doença, havia uma associação forte entre os casos de Covid-19 e moradores de áreas com grande fluxo de circulação, em função da presença de áreas comerciais e terminais de transporte. O estudo do labcidade explicita como, muitas vezes, análises urbanas são feitas de forma generalizada que não corresponde à realidade:

A leitura territorial por CEP das hospitalizações por SRAG, que tem grande aderência aos mapas de calor dos endereços dos hospitalizados com COVID-19 nos ajuda a complexificar o debate, ao mesmo tempo em que levanta várias indagações. Simplificações do tipo “onde tem favela tem COVID” ou padrões duais do tipo centro/periferia não se sustentam na busca de compreender os fatores que levam a determinados territórios ter uma maior concentração de casos ou óbitos. Para poder ler estes mapas com o devido cuidado é necessário ainda sobrepor com outros mapas/camadas – fluxos da mobilidade urbana, áreas de comércio e intensa circulação, localização de hospitais e de locais de moradia de profissionais de saúde, concentração de idosos, dados raciais – e sua leitura em múltiplas escalas culturais (LABCIDADE, 2020, n.p).

Neste contexto, surgiu a proposta de um grupo de pesquisa-ação, o “Projeto Piloto de adaptação do distanciamento físico em territórios vulneráveis em função da pandemia de COVID-19”¹, organizado pelos professores Fernando de Mello Franco e Antonio Fabiano Junior, em nova parceria entre Mackenzie e Tide Setubal, no qual o Jd. Lapenna foi elencado como território de pesquisa para exemplificar que propostas genéricas de enfrentamento à pandemia não condizem com as necessidades locais específicas. Sendo São Paulo uma cidade de desigualdades evidentes, a resolução das demandas emergenciais

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de enfrentamento à pandemia deve ser definida com base em propostas que, mais do que nunca, compreendam as dinâmicas reais dos espaços a fim de fortalecer ações colaborativas comunitárias, capazes de conduzir a uma experiência que produza luta a favor da construção de justiça social, laços de solidariedade e de sujeitos políticos, por meio de consciência cidadã.

É importante entender a necessária articulação entre ações no território e academia, como estratégia política para a construção de uma hipótese de pensarmos as cidades, apostando em uma agenda político-acadêmica, que deve ser pautada, em pensamento e pesquisa, a partir dos territórios em disputa como campo de espaço de lutas, em mediação entre as necessidades da população, as ações públicas e a participação de outros setores da sociedade. Assim, em momento de crise geral, pretendeu-se reunir estratégias nascidas no Jd Lapenna para estudar de que forma estas circunstâncias apontariam hipóteses para a consolidação de uma rede de articulações que, a partir das práticas já construídas, poderiam indicar caminhos potentes na busca por outras ordens econômico-sociais em áreas fragilizadas.

O Galpão ZL estava fechado desde 23 de março, em consequência das medidas de distanciamento físico, sendo usado como ponto de doação de kits de cesta básica e de higiene para os moradores do Jardim Lapena. Apesar da articulação com creches públicas e Unidades Básicas de Saúde (UBS) do território, foi necessário estruturar um grupo de voluntários para organizar as doações. Como o já existente grupo do Colegiado do Plano de Bairro era composto por muitos moradores do grupo de risco, buscaram articular outros moradores para as ações. E assim iniciou-se um grupo de doze mulheres, as chamadas Guardiãs, que seguiu crescendo e atuando no bairro (no dia da oficina como o bairro, 10.11.2020, já passavam de sessenta e uma mulheres). Além destes dois grupos, há também uma forte presença de coletivos de artes e esportes atuantes no bairro.

A disputa por espaços públicos é intensa e evidente. Com a pandemia, os espaços como escolas, creches e a própria Tide estavam sem atividades. As crianças muitas vezes pulam os muros das escolas, como já faziam aos finais de semana, para poder brincar. O grande campo de futebol funciona como lugar de encontro, não apenas o espaço do jogo ou da pipa. Vania, uma das guardiãs, contou das propostas que as guardiãs começaram a discutir - um “espaço de brincar” no Largo Berigan e um” espaço educador” junto ao muro da Escola Estadual Professor Pedro Moreira Matos, para evitar o despejo e acúmulo de lixo, ação realizada pela primeira vez como parte do Plano de Bairro. Junto ao terreno da Petrobrás, na Avenida Jacu Pêssego, as crianças fizeram um pequeno campinho de futebol e, apesar de anunciarem o perigo dos jovens que correm até a avenida atrás dos pipas, os moradores também se alegram porque “espaço vazio acaba virando parque de diversão”.

Mesmo antes da pandemia, o conflito era constante: as calçadas estreitas muitas vezes apresentam obstáculos, como postes, árvores e carros estacionados no meio do caminho. Como as ruas também não possuem uma largura ideal e muitas pessoas moram em casas sem garagem, os carros são estacionados subindo em suas calçadas. Nos finais de semana, isto se transforma em festa: as pessoas fecham as ruas, lavam seus carros, brincam, fazem churrasco e ouvem música.

Nem sempre estas disputas são facilmente ressignificadas: junto ao mutirão (conjunto de prédios na Rua Miguel Lazarri) existe um campinho com equipamentos para

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exercício ao ar livre, mas seu uso não é frequente. Os moradores de outras áreas sentem como se esta praça fizesse parte do próprio conjunto de prédios do mutirão. Quando o Plano de Bairro propôs um projeto para reforma desta praça, houve insegurança por parte dos moradores do mutirão, que temiam que a praça acabasse com o sossego do local, trazendo mais pessoas para a área, revelando a constituição de espaços de exclusão e segregação também no bairro que pouco acesso tem a equipamentos de uso público. Como resposta, fortaleceu-se a ideia de uma construção coletiva tendo como matriz a importância de um processo não só “consultivo”, uma vez que, um projeto construído com a população compõe a possibilidade de laços afetivos e a formação de um pacto conjunto do bairro.

Ao longo do segundo semestre de 2020, em parceria com o grupo de pesquisa-ação, foi pensada uma oficina com o bairro² para reconhecer o local, identificar as situações descritas (e outras possíveis), além de propor ações. No encontro do dia 10.11.2020, no Galpão ZL, foi realizado, em conjunto com os moradores, um mapeamento de áreas relevantes do bairro. A partir de uma projeção do mapa da região, foram elencados 17 pontos de interesse. Com base nesse levantamento, foram escolhidos três pontos focais - o muro da escola (1), a passarela (2) e o terreno da Petrobrás (3) - para o desenvolvimento do trabalho.

Esta experiência está descrita na pesquisa de iniciação científica, “A experiência coletivizada em tempos de isolamento físico”, complementar a este TFG.

Paralelamente, para este estudo de TFG, foram selecionadas outras três áreas (elencadas nos 17 pontos de interesse com moradores do bairro): o baixio do viaduto na Avenida Jacu Pêssego (4), o terreno junto à creche Jardim Lapenna I (5) e os caminhos de conexão entre estes territórios e o bairro (6).

A partir dos estudos iniciais a respeito do Lapenna, foi produzido um mapeamento de hipóteses para oito regiões aproximadas do território. O estudo possibilitou enxergar conexões e áreas pouco aproveitadas, o que impulsionou um novo mapeamento para entender o que significavam os grandes vazios no bairro, que apresenta uma área relativamente pequena. Foram observados vazios privados e públicos, além de caminhos de traçado claro, outros ainda legíveis e alguns de difícil identificação.

observado: baixio do viaduto. muitas áreas livres sem uso. próximo ao parque vila jacuí

possibilidades: conexão mais clara, para o pedestre, do bairro com o parque

observado: área de ocupações mais recentes e precarizadas. ruas estreitas e que não se conectam. lotes também não tem divisão exata. altíssima densidade, difícil identificar áreas livres e caminhos

possibilidades: garantir conexões, definir melhor os caminhos. fazer com que o espaço público seja mais legível e acessível

observado: área de alta densidade construtiva, onde predominam habitações. vazios no interior das quadras em geral representam quintais ou estacionamentos

possibilidades: melhorias na caminhabilidade (calçadas estreitas, carros ocupando a calçada). aproveitamento dos vazios como transposições e espaços coletivos

observado: área que concentra equipamentos (campo de futebol, galpão da tide, creche, ubs). bem estruturada, mas margeada por habitações vulneráveis junto ao curso d’água

possibilidades: facilitar acesso (áreas próximas sem conexão direta). reorganização das moradias junto ao córrego a fim de garantir melhor habitabilidade

observado área próxima à escola estadual, junto a vias de usos diversos e bem movimentadas do bairro rua rafael zambardi e rua pascoal zambardi lotes e caminho bem definidos

possibilidades: grandes vazios poderiam ser melhor aproveitados para compor os espaços públicos junto à escola

observado: área do mutirão, moradias consolidadas. arruamento bem definido, contínuo e reticulado. única área do bairro com edificações de grande porte (habitação)

possibilidades: grande terreno vazio já possui um projeto de praça. conexão possível com o largo berigan

observado: área próxima ao córrego, moradias mais próximas das águas estão em situação precária, sujeitas a alagamento. alta densidade construtiva

possibilidades: reorganização das moradias junto ao córrego a fim de garantir melhor habitabilidade

observado: área próxima ao trem, junto à rua rafael zambardi e rua serra do salitre. slam (batalha de poesia) junto ao metro. lotes e caminho das ruas bem definidos

possibilidades: conexões com outros bairros, próximo ao tem. espaço público a partir do slam

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²
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Unindo estas informações, foi feita uma divisão em três escalas: frestas (espaços internos que poderiam ser melhor utilizados), bordas (grandes áreas que margeiam o Lapenna) e costuras (os próprios caminhos e ruas). Este mapeamento estrutura a forma de intervenção proposta para o bairro – ações pontuais de potência e desejo emancipatório, por meio de experiências de construções coletivas –, e a intenção de projeto – busca por fomentar hipóteses de experiências urbanas cotidianas coletivas que vislumbram a formação da consciência social.

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Mapa a vazios públicos (escuro) e privados (claro) e mapa dos caminhos (traçado reticulado, caminhos legíveis e caminhos de difícil identificação, do mais escuro para o mais claro). Mapa das três escalas definidas: frestas (claro), costuras (médio) e bordas (escuro).

brincar

sombra, bancos, palco e arquibancada

1. brinquedos ao ar livre 2. área de brincar coberta 3. palco para apresentações/cinema 4. espaço para quem acompanha as crianças 5. banheiro público + trocador

trabalhar conviver

agricultura urbana

1. agrofloresta 2. salas de curso/oficina 3. área para vendas/feira 4. cozinha comunitária 5. espaço para empréstimo de material 6. banheiro público + trocador

1. pequenas hortas 2. composteiras 3. arquibancada e mesas para reunião 4. espaço de descanso (redes, bancos...) 5. skate, patins, dança... 6. banheiro público + trocador

Em cada eixo definido para estudo, foi escolhida uma área para a produção de diretrizes: baixio do viaduto da avenida Jacu Pêssego (borda), o terreno junto à creche e o campinho de futebol (fresta) e a conexão destas áreas através dos caminhos (costura). Após análise e conversas com moradores/trabalhadores do Jardim Lapenna, foram definidos três eixos de atuação – brincar, trabalhar e conviver – para que o projeto fosse efetivamente desenhado apenas junto à creche/campinho e no baixio do viaduto.

brincar se organizar conviver reunir produzir alimentar

trabalhar aprender locomover se divertir

frestas

bordas costuras

áreas comuns de convívio, lazer e reunião espaços cobertos + áreas verdes agricultura urbana, como o GAU, área de plantio + cozinha + espaço de aula

ruas como espaços de convívio melhorias para o pedestre + espaço de festa

Cada tema deu origem a uma proposta de programa a partir de estruturas básicas da arquitetura, que darão apoio às situações desejadas e necessárias em cada espaço projetado. A escolha partiu da intenção de promover uma maior relação entre as regiões mais precarizadas do bairro e a área que concentra os equipamentos públicos, facilitando o acesso e fomentando novos usos e ações comunitárias.

da existência de diversas e variadas potências sem que elas sejam homogeneizadas. É a produção de espaços, onde a arquitetura atue como uma hipótese de experiência que gere consciência, apostando no reconhecimento e identificação do indivíduo na cidade através de elementos que infiltrem e contaminem todas as instâncias da vida coletiva, desencadeando outras forças motoras de transformação.

Simmel (1996) compara a capacidade humana de não só fazer um percurso, mas efetivamente construir estradas/formar caminhos, como um animal que supera distâncias sem fazer esta ligação entre começo e fim. Então se a simples realização da ação não gera consciência, o que gera? Uma possibilidade parte da aposta na lógica da consciência como desencadeadora de potências transformadoras. A vivência, além de tudo, não é a única forma de aprendizado: seria impossível imaginar que alguém experimentaria tudo que existe no mundo, ainda assim, podemos conhecer algo a partir da experiência do outro. Dessa forma, as relações e laços de solidariedade se apresentam como uma perspectiva para despertar inquietações que frutifiquem em vontade e operações de mudança.

sem pular muro

1. brinquedos ao ar livre 2. área de brincar coberta 3. palco para apresentações/cinema 4. espaço para quem acompanha as crianças 5. banheiro público + trocador

agricultura urbana

brincar trabalhar conviver

sombra, bancos, palco e arquibancada sombra, bancos e parte em ambiente fechado sombra, bancos e arquibancada quintal comunitário

1. agrofloresta 2. salas de curso/oficina 3. área para vendas/feira 4. cozinha comunitária 5. espaço para empréstimo de material 6. banheiro público + trocador

1. pequenas hortas 2. composteiras 3. arquibancada e mesas para reunião 4. espaço de descanso (redes, bancos...) 5. skate, patins, dança... 6. banheiro público + trocador

brincar se organizar

conviver reunir

produzir alimentar trabalhar aprender

frestas

áreas comuns de convívio, lazer e reunião espaços cobertos + áreas verdes

Entretanto, o que se busca, com a definição destes territórios de atuação, não é uma cartilha de “solução de problemas” ou a ideia de uma (re)forma do espaço como uma (re)solução e eliminação desses. Não há intenção de aniquilação dos conflitos encontrados no território; o desejo é contrário a isso, ou seja: propõe-se o entendimento

bordas

agricultura urbana, como o GAU, área de plantio + cozinha + espaço de aula

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sombra, bancos e parte em ambiente fechado sombra, bancos e arquibancada quintal comunitário sem pular muro

Planta de situação localizando os locais de intervenção no bairro. Os círculos de foco indicam os equipamento no Lapenna que mais foram relevantes para o projeto: o parque Vila Jacuí, o campo de futebol, a creche, a UBS e o Galpão ZL. A região em laranja mais escuro indica a área mais adensada de moradias e as setas indicam as ruas (cores mais escuras indicam maior movimento).

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capítulo 02 o que queremos alcançar?

Tratando-se de um projeto que nasceu em plena pandemia, é impossível desassociá-la da investigação proposta neste trabalho. Desde o início, inúmeros pensadores se dedicaram a estudar e analisar as possíveis consequências sociais, para além das questões médicas, geradas pela COVID-19. Sendo que a maior questão da pandemia (o contágio em massa) é de natureza coletiva (se todos ficarem em casa e se cuidarem, diminui-se o contágio), imaginou-se que esta situação abriria caminho para que muitas outras práticas coletivas pudessem ser desenhadas e experimentadas: “O que o vírus consegue com a humilde circulação boca a boca de perdigotos – a suspensão da economia mundial – nós começamos a poder imaginar que nossos pequenos e insignificantes gestos, acoplados uns aos outros, conseguirão: suspender o sistema produtivo.” (LATOUR, 2020).

Por outro lado, é importante destacar que em momento algum busca-se sugerir que qualquer forma de violência tenha uma capacidade “pedagógica”. Inclusive, podemos observar que a gravidade das problemáticas resultantes da pandemia, por si só, não foi suficiente para provocar uma explosão de produções e organizações comunitárias, como imaginava-se. Infelizmente, o que vemos de forma mais expressiva, são ações autocentradas, baseadas em um legítimo “desespero por sobrevivência”, um entendimento de que a situação pode ser enfrentada de forma individual. As pessoas se manifestam, por exemplo, para que as atividades não sejam fechadas em virtude da iminência de colapso do sistema de saúde brasileiro (09/03/2021), sugerindo que ficariam sem salário com um novo lockdown, ao invés de reivindicar que o governo garanta meios para que as pessoas possam se manter em casa. A essência das respostas individuais consolida uma estratégia neoliberal de acumulação de riquezas por meio de um discurso permanente de crise econômica, utilizando-as como um novo e violentíssimo negócio para, mais uma vez, muito poucos.

Quais seriam, então, as formas de garantir uma expe-

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riência des-alienante³ que seja capaz de provocar consciência e desejo de vida, em contraposição às políticas destrutivas observadas hoje? Como romper a demonização de práticas não enquadradas nas formas dominantes atuais, quando a situação motiva estratégias defensivas de manutenção do status quo, capturando, corrompendo e entregando o desejo ao “abuso colonial-capitalístico”, ou seja, a completa destituição de sua potência transformadora? Se a base da economia capitalista é a exploração da força de trabalho para extrair mais-valia, atualmente, o capital apropria-se e explora essa própria potência de transformação, através de uma associação cultural e subjetiva, e não apenas no plano econômico, garantindo um poder mais difícil de combater (ROLNIK, 2019).

A aposta de resistência estudada nesta pesquisa é a constituição do “comum”, como apresentada por Tom Negri e Michael Hardt (2001, 2014, 2017 apud ROLNIK, 2019), segundo a qual, a oposição, hoje, se daria através do esforço de reapropriação coletiva dessa potência, construindo o que chamaram de “o comum”. Diversos autores, atualmente, se debruçaram sobre estudos dos comuns, cuja definição pode ser entendida como “(...) bens que são coletivamente usados e geridos por uma dada comunidade por meio do fazer-comum [commoning], isto é, um conjunto de práticas e relações de compartilhamento e reciprocidade (LINEBAUGH, 2014), para além do âmbito do Estado e do mercado e das suas respectivas formas de propriedade, pública e privada” (TONUCCI FILHO, 2020, p. 372). Assim, seria possível “(...) a desidentificação com os modos de vida que o regime constrói no lugar daqueles que devastou, a fim de que possamos desertá-los – não para voltar às formas do passado, mas para inventar outras, em função dos gérmens futuros incubados no presente.” (ROLNIK, 2019, p. 90), estabelecendo um caminho favorável para a reapropriação da força coletiva, capaz de tornar realidade os sonhos de combate ao estado atual das coisas.

Entretanto, Harvey (2014) atenta-se ao fato que o capi-

³ a proposta se coloca como “des-alienante” no sentido de contraposição ao processo político alienante atual. Entende-se que “não-alientante” propõe algo neutro, passivo, isento, como se dissesse que é possível poder escolher entre ser e não ser alienante, enquanto aqui, busca-se uma força consciente de reação e confrontação.

tal continuamente apropria-se destes produtos de trabalho coletivo, quando, por exemplo, as qualidades geradas pelos processos comunitários servem de propaganda de venda, resultando em uma posterior gentrificação do bairro, subvertendo o sentido do desenvolvimento de uma vida urbana diversa, inclusiva e participativa. Ao contrário de Marx, que analisava quase exclusivamente o meio fabril, a concepção sugerida por Hardt e Negri é de que, atualmente, “é a metrópole que constitui um vasto comum produzido pelo trabalho coletivo que se realiza sobre e na cidade” (2009 apud HARVEY, 2014, p. 153), o que aproxima a análise da luta pelo direito à cidade, contra a apropriação capitalista que mercantiliza e monetiza a vida comunal, uma vez que o uso desse comum deveria ser reivindicado por todos que participaram de sua produção.

O problema, portanto, se encontra na relação incompatível entre os produtores do comum e os que, novamente, se apropriam deste para sua mercantilização para benefício privado. Sendo assim, a resistência existe no campo da “subjetividade e do desejo dominante”, na luta pelo rompimento com o status quo, como citado anteriormente, mas também se faz necessária para combater a apropriação dos exercícios de vida comum pelos meios capitalistas: “(...) esse é um território que tem que ser incansavelmente conquistado e construído em cada existência humana que compõe uma sociedade, o que intrinsecamente inclui seu universo relacional.” (ROLNIK, 2019, p.36).

Esta resistência ativa deve ser trabalhada cotidianamente, uma vez que “a definição de projetos transformadores da experiência do dia-a-dia ocupa um lugar fundamental na construção da utopia.” (MARICATO et al., 2000, p. 169). Para isso, é necessário ressaltar a importância de propostas não alienantes – um cinema ao ar livre, uma biblioteca pública, hortas comunitárias,... – mas também compreender que estes espaços, em si, não bastam. O espaço é apenas um instrumento, é imprescindível que,

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em conjunto, sejam construídas práticas des-alienantes – rodas de debate a respeito de filmes, oficinas de textos, almoços compartilhados,... – que promovam o sentido comum em um processo de despertar da consciência. É preciso, a partir da experiência espacial, projetar uma possibilidade de uma outra formulação de bases de esperança, como uma aposta na construção da paisagem da vida da produção social, atrelada diretamente ao fazer coletivo, explorando as possibilidades de diálogo em ato, onde falar ou ouvir só tem sentido quando este processo é impulsionado para que todos falem e todos ouçam, como um espaço-ação.

No Jardim Lapenna, a experiência do Plano de Bairro teve um papel essencial para formar um entendimento da força de união da população. Esta ação, iniciado no esforço conjunto da Sociedade Amigos do Jardim Lapenna e da Fundação Tide Setúbal, e simbolizada pelo próprio Galpão ZL, é a base para o florescimento de inúmeras outras discussões e propostas locais, principalmente após a formação do colegiado de bairro, composto por representantes das instituições do Lapenna. Durante as diversas conversas com moradores e trabalhadores do bairro, foram apresentados artistas locais – com ênfase para o encontro de slam, que migrou da Praça do Forró para a frente da estação CPTM –; membros dos times de futebol; professores das escolas, interessados em construir espaços urbanos para as crianças; o coletivo chamado de Guardiãs, criado durante a quarentena; o projeto de entrega de livros, também criado durante a pandemia; além do trabalho realizado na horta urbana do Viveiro Escola no bairro União de Vila Nova.

A partir destas questões, três ações-pressupostos orientam a leitura, a identificação e os pactos do trabalho proposto – brincar, conviver e trabalhar – que visam proposta arquitetônica por meio de investigação-ação, para que algumas questões possam ser levantadas como estruturadoras de uma ou mais hipóteses para o entendimento do espaço como elemento de confronto

e instrumento de mudança e melhora de vida, que caminham na tentativa de construir outros debates e que coloquem em pauta ações necessárias, pela potência e clara intencionalidade de ação emancipatória, que elas podem e devem ter. Estes verbos-ação partem de um preceito comum: são momentos de relação humana não limitantes, que se relacionam permitindo a multiplicação de atividades – conviver, coexistir, aceitar, adaptarse, movimentar, se organizar, instrumentar, preparar, produzir, trabalhar, descansar, distrair, foliar, se divertir, brincar – e se mostram fundamentais na mediação de conflitos e na composição das diferenças.

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brincar

Uma preocupação recorrente nas falas dos agentes apresentados é com as crianças da região. Os principais –quase únicos – equipamentos públicos da região são escolas e creches, cujas quadras são as áreas favoritas para brincadeiras no bairro. Como ficaram fechadas praticamente durante toda a pandemia, as crianças e adolescentes tiveram que apelar para uma prática já conhecida e recorrente nos finais de semana pré coronavírus, quando os portões também bloqueavam o acesso: pular o muro. E seguiram pulando o muro até que a escola abriu as portas apenas das quadras, já que as aulas seguiam suspensas para seu uso cotidiano.

Ainda assim, é insuficiente pensar apenas em quadras de escola como alternativas de espaços públicos infantis, principalmente quando o bairro possui 18,20% de sua população na faixa etária de até 10 anos de idade, segundo dados do IBGE (censo demográfico de 2010), disponíveis no documento do Plano de Bairro. Considerando que poderiam acontecer quatro jogos ao mesmo tempo, dois nos campos de futebol - junto à Sociedade Amigos do Jardim Lapenna e próximo aos prédios do mutirão -, um na quadra da Escola Estadual e um na CEI Jardim Lapenna, e que uma partida de futebol conta com 22 pessoas jogando por 90 minutos, as aproximadamente 2548 crianças de até 10 anos de idade no bairro (estimativa feita segundo projeção populacional de 14 mil moradores, dados mais recentes disponibilizados pela Fundação Tide

Setúbal) teriam que esperar 2610 minutos, ou 43 horas e meia, para que 29 partidas ininterruptas garantissem a brincadeira de todos e todas. Isso sem contar jovens e adultos, que com certeza desejariam entrar no jogo.

Outro ponto de encontro dos pequenos é o terreno da Petrobrás, junto à avenida Jacu Pêssego. Durante a pandemia, improvisaram um outro espaço de futebol, junto aos pais que se sentam por ali para conversar e observar qualquer perigo por conta da movimentada avenida ao lado. Aliás, brincar não é apenas para as crianças. O grande campo de futebol próximo a creche é espaço de jogo dos mais velhos, aqueles que foram desconsiderados na conta do parágrafo anterior, e reúne adultos também no bar ao lado. O Lapenna também conta com duas praças, sendo uma reformada em ação do processo do Plano de Bairro, e um campinho com equipamentos de exercício na área do Mutirão. Todos esses espaços são ao ar livre e apresentam possibilidades de uso limitadas: às vezes não possuem sombra ou cobertura para um dia de chuva, às vezes falta lugar para sentar, quase sempre dependem inteiramente da criatividade das pessoas que o usam, já que oferecem pouco ou nenhum suporte às práticas do brincar.

Brincar também é um exercício de recordar, tanto um tempo pregresso quanto um tempo que só acontece em nossa imaginação, a mesma evocada lá no começo do trabalho. Brinquemos com as referências que interessam: em 1947, logo após a Segunda Guerra Mundial, as cidades holandesas estavam destruídas e abandonadas. O arquiteto Aldo van Eyck iniciou um experimento espacial com a construção de seu primeiro playground em Betelmanplein. Frente a destruição da guerra, a diminuição na oferta habitacional e o pico de natalidade causado (baby boom) no pós guerra, o contexto era de uma situação de emergência urbanística. A resposta, então, foi a construção de playgrounds em terrenos sem uso: Van Eyck desenhava equipamentos mínimos, de forma a estimular a imaginação e apropriação dos espaços, e que se

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relacionavam com o tecido urbano ao redor. Essas intervenções representavam “(...) a passagem da organização hierárquica do espaço, defendida pelos arquitetos funcionalistas modernos, a uma arquitetura de “baixo para cima”, cujo objetivo era dotar, literalmente, o espaço de imaginação.” (OUDENAMPSEN, 2011, n.p).

A democracia não se resume ao regime ou a entidade do Estado, ela opera nos diversos setores da sociedade, determinando a forma das relações sociais e das instituições. Em outras palavras, a democracia propicia uma cultura da cidadania, a forma social da existência coletiva (CHAUI, 2012). Os projetos desenhados em Amsterdã eram não só espaços democráticos em si, mas também formadores de direitos, em sua época e contexto.

Um espaço público no Jardim Lapenna frequentemente irá operar no conflito, como é o caso de qualquer espaço público. Mas este também é o caso de qualquer proposta de existência de forma democrática. A democracia não considera os conflitos como empecilhos, mas sim parte do processo democrático, parte legítima de sua constituição, devendo ser reconhecidos e respeitados (CHAUI, 2021). A busca por uma vivência de cidadania é o propósito deste “brincar”.

conviver

Em meio a pandemia, duas importantes ações foram estruturadas junto ao Galpão ZL da Fundação Tide Setubal: o coletivo das Guardiãs e o Bike Literária. Como citado no primeiro capítulo, o grupo das Guardiãs surgiu logo no início da pandemia para auxiliar a equipe do Galpão ZL na distribuição de itens básicos para o bairro. Com o passar do tempo o grupo foi crescendo, engajando novas integrantes, e sua atuação também.

Atualmente, cada rua tem sua guardiã, que fica atenta às necessidades daquele território. Mas o trabalho destas mulheres, de idades e estilos diferentes, ganha uma importância além da mobilização de recursos quando entende-se que a própria existência do grupo pode estimular discussões importantes a respeito dos protocolos de saúde na pandemia. Em tempos de questionamentos à ciência, medo das vacinas, ridicularização das medidas de segurança (máscaras, distanciamento e higiene das mãos), as Guardiãs passam frequentemente por treinamentos para proteção e são importantes vetores de informação na Zona Leste, área que concentra maiores taxas de óbito por COVID-19, segundo matéria da Folha (2021).

É importante ressaltar que trata-se de um grupo composto por mulheres, uma vez que, enquanto a divisão sexual do trabalho não for transcendida, as atividades associadas à reprodução seguem sendo temas de luta fundamentais (FEDERICI, 2017). Em live no dia das mulheres, disponível no Youtube, as guardiãs reforçaram a

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Bertelmanplein, primeiro dos playgrounds de Aldo Van Eyck. Foto: Piseagrama (arquivo Municipal da Cidade de Amsterdam).

importância desta organização no empoderamento dessas mulheres, relatando o apoio e fortalecimento entre as participantes frente aos difíceis números da pandemia, como aumento no número de casos de violência doméstica, perda de empregos e a dinâmica residencial, quando as responsabilidades ficam apenas sob as mulheres da casa.

Quando os espaços culturais foram fechados por conta das medidas de segurança, os moradores do Jardim Lapenna ficaram temporariamente sem acesso à biblioteca do Galpão. Os mais de 400 leitores e leitoras cadastrados no Ponto de Leitura enviavam mensagens a Malu Gomes, responsável pelo programa no território, porque desejavam seguir retirando livros. Unindo parcerias de doadores de livros e alternativas para delivery justo, iniciou-se o projeto Bike Literária, no qual um “cardápio” de livros é oferecido aos interessados para escolher por Whatsapp. Além das entregas de livros, foram instaladas duas geladeiras, já sem uso, nas praças do bairro para serem pontos de troca de livros pessoais já lidos.

Estas duas experiências exemplificam formas de convívio iniciadas sobre o contexto do novo coronavírus, mas que explodem para ações além. Fala-se em pausa por conta das restrições de movimento, mas a verdade é que a maior parte da população brasileira seguiu precisando sair de casa para trabalhar, uma vez que o Estado não foi suficiente em garantir o mínimo necessário de proteção que permitisse às pessoas ficarem em suas casas. Enquanto o governo segue negando a gravidade da doença e repudiando medidas como distanciamento e uso de máscaras, a crise sanitária avança desenfreada levando vidas por todo país. Sem uma diretriz nacional baseada em fatos científicos, com propósitos que se direcionam para o bem coletivo e não financeiro, fica muito difícil determinar uma resposta comum para a população frente à situação de insegurança.

Inicialmente, essa suspensão das atividades seria uma

forma de apoio mútuo e respeito absoluto pelo outro. No entanto, dispondo, hoje, das lentes do futuro deste momento inicial, mais precisamente um ano após a introdução dessas discussões, pode-se perceber que, no Brasil, este cuidado com a vida não existiu em momento algum como prática – projeto – nacional. Muito pelo contrário, de acordo com texto do G1 Globo (2021), o que se percebe são tentativas de passar “a boiada” e fazer uma “baciada” de mudança de regras na proteção ambiental, agricultura, política armamentista, entre outros assuntos da lista de favoritos de muitos brasileiros, enquanto o foco principal da mídia era a COVID-19. O próprio mercado financeiro também responde de forma curiosa à crise sanitária, quando o IBOVESPA subia quase 5% em semana que os números de mortes haviam se agravado, a vacinação não tinha previsão de progredir mais rapidamente e a miséria no país se aprofundava, mas afundava 4% com a mínima menção do nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que estaria habilitado a disputar as eleições de 2022, como indica matéria do Valor Investe (2021).

Era de se imaginar que, em março de 2021, momento em que este texto é escrito, esse discurso estaria em outra fase, ou em um novo momento. Infelizmente, ainda não é possível vislumbrar uma solução a curto prazo para a crise sanitária brasileira, pois ela passa o assunto específico e transborda para uma crise maior: a de uma destruição do país. Frente a esse cenário, ações aparentemente simples, como um grupo de mulheres atentas às necessidades de seus vizinhos de porta e a entrega de livros em um sistema de delivery em bicicletas, revelam a potência de introdução de assuntos como reforço das medidas de segurança – uma caminhada pelo bairro é suficiente para perceber que muitos moradores não usam máscaras nas ruas – e de luta social – a disputa deveria ser contra as restrições de circulação ou a favor de mais medidas que garantissem à população a possibilidade de ficar em casa?

– através de experiências de convivência moldadas para responder aos obstáculos enfrentados na pandemia:

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Sete das integrantes do grupo das Guardiãs do Jardim Lapenna. Foto: EL PAÍS. Bike Delivery. Foto: Fundação Tide Setubal.

Como todo dançarino sabe (ou como qualquer ser movente que, a partir de sua experiência vivida, experimenta o que Hélio Oiticica certa vez chamou de “a imanência do ato” também saberá), à medida que o movimento move, ele tende a oferecer, em infinito florescimento, possibilidades sempre novas e imprevistas para (mais, outros) movimentos. O florescimento dessas possibilidades perpetuamente móveis (a que também podemos chamar de borrão opaco da potencialidade) desfaz as fronteiras que sustentam a ficção do sujeito liberal autônomo e auto-móvel. Por isso, a contradição: é pelo movimento que se escapa dos aparelhos disciplinares de captura; mas é também pelo movimento que os sistemas de poder perfuram e quebram um sujeito até à sujeição, tal como se amansa e se doméstica um animal selvagem (como Henri Lefebvre observou tão bem) (LEPCKI, 2020, s/p).

A criação de laços de solidariedade em tempos de crise tem papel estrutural na criação de um projeto capaz de pensar sob uma perspectiva do direito à cidade, com base em pactos de cooperação e desmercantilização da vida, como um veículo de sensibilidades, onde a luta espacial – como base para a constituição das próprias ações como brincar e conviver –, pode emergir como espécie de reação capaz de construir justiça social e compromisso cívico ancorados em elos de solidariedade.

trabalhar

No bairro União de Vila Nova, vizinho a oeste do Lapenna, durante a Urbanização Integrada do Projeto Pantanal, foi implantado um Viveiro-Escola – “um espaço de formação em educação ambiental” (CDHU, 2019, n.p) – que busca articular parceiros para um desenvolvimento local que une recuperação de áreas degradadas, jardinagem comunitária e forte preocupação com o meio ambiente. A proposta iniciou-se atrelada ao programa de recuperação ambiental promovido pela Cooperativa de Reciclagem Nova Esperança. Esta cooperativa foi formada durante as obras de urbanização do bairro para que as centenas de moradores que viviam da coleta e comercialização de resíduos recicláveis tivessem um processo de formação, inclusão social e geração de renda. Em 2010 a Cooperativa obteve um galpão definitivo de forma que o espaço antigo, uma estufa, pode ser liberado para o Viveiro-Escola.

Atualmente o Viveiro-Escola é sede do Grupo de Agricultura Urbana (GAU) e Mulheres do GAU, que desenvolvem atividades de plantio, cultivo e colheita do viveiro; oficinas de sensibilização ambiental; visitas com grupos; produção de alimentos saudáveis; venda de mudas e alimentos; articulação com parceiros do território; além do fortalecimento de uma rede local de organização comunitária, economia solidária, educação socioambiental, comunicação comunitária, arte urbana e pós-urbanização. Para que este trabalho seja possível, dois técnicos da

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Viveiro Escola. Foto: CDHU

Equipe Social da CDHU e parceiros do Projeto Quebrada Sustentável apoiam as nove pessoas que compõem o grupo total do GAU (contando as Mulheres do GAU). Três integrantes participam do Programa Operação Trabalho (POT), e recebem uma remuneração mensal de R$ 1.000,00 da prefeitura, por meio do Projeto “Horta e Viveiros Urbanos”; as demais pessoas trabalham voluntariamente no Viveiro. Ainda assim, as Mulheres do GAU recebem recursos mensais provenientes das oficinas/ atividades realizadas, mas o valor mensal oscila significativamente, uma vez que depende do número de ações promovidas em cada mês (CDHU, 2020).

Hortas urbanas também foram uma demanda frequente nas conversas com moradores e trabalhadores do Jardim Lapenna. A cada quatro anos são realizados os Planos de Ação das Subprefeituras, que articulam o planejamento territorial, as leis orçamentárias e o Programa de Metas de cada gestão. Neles, são detalhadas propostas de escala local para o desenvolvimento urbano e ambiental de cada subprefeitura, através da participação de representantes das subprefeituras, secretarias e órgãos públicos da região e integrantes da sociedade civil, que podem participar de reuniões no Conselho Participativo Municipal de cada subprefeitura ou no Conselho Municipal de Política Urbana (CMPU), audiências públicas e oficinas participativas. No documento de devolutivas dadas para as demandas populares, disponível no portal Gestão Urbana, da audiência pública com o Conselho Participativo Municipal da Subprefeitura de São Miguel Paulista de 2019, a solicitação de implantação de hortas comunitárias foi negada pela Secretaria Municipal das Subprefeituras por “impossibilidade financeira”.

No contexto atual, de crescente miséria por conta da pandemia, as hortas urbanas poderiam não só garantir empregos, como acontece no Viveiro-Escola, mas também fornecer insumos para alimentação para a população mais carente. Segundo dados de uma pesquisa do Instituto Locomotiva em parceria com a Central Única

de Favelas (Cufa), disponível em matéria do Rede Brasil Atual (2021), 80% das famílias moradoras em favelas estão vivendo com apoio de doações. Em seminário da Folha (2021) de apresentação dos resultados da pesquisa “Mais perto do que se imagina: os desafios da produção de alimentos na metrópole de São Paulo”, Marcela Ferreira, pesquisadora do Instituto Escolhas, sugere uma hipótese: uma área de duzentos hectares (a área de terrenos vagos no distrito de Sapopemba, por exemplo), seria possível gerar aproximadamente mil empregos e produzir legumes e verduras para vinte e quatro mil famílias, ou seja, uma vez e meia o número de famílias cadastradas no bolsa família na região. Essas pessoas poderiam receber os alimentos por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que corresponde a compra de alimentos de agricultura familiar, sem licitação, para pessoas em situação de insegurança alimentar e pessoas atendidas pela rede socioassistencial, equipamentos públicos de alimentação e rede pública de ensino.

Área de plantio. Foto: Facebook Mulheres do GAU.

Anualmente, a prefeitura apresenta um gasto com o baixio do viaduto da avenida Jacu Pêssego. O Viveiro-Escola custou R$346.153,64, segundo dados do relatório da CDHU no ano de 2018. A possibilidade de instalar uma horta urbana nos terrenos junto ao viaduto, como por exemplo o terreno da Petrobrás, oferecem uma perspectiva outra de economia solidária – lógica distinta do empreendedorismo, uma vez que foca na coletividade para superação conjunta – para a população do bairro.

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o morar explodido: onde os eixos se entrelaçam

A estruturação do programa proposto para o bairro foi pensada a partir da possibilidade de as relações entre as propostas desejadas e os lugares estudados – baixio do viaduto e terreno junto a creche, como citado no capítulo anterior – desenharem uma contribuição para o florescimento de sementes já germinadas no bairro. Os eixos já citados anteriormente (brincar, trabalhar e conviver) sugerem um morar explodido no bairro, entendendo habitação de forma plena, representado nas ações desenvolvidas pelos moradores que se entrelaçam entre si: falta lugar de brincadeira, então crianças e adultos “inventam” estes espaços; trabalha-se em favor do coletivo no Viveiro-Escola e na ação das guardiãs; por mais que o convívio físico tenha sido colocado em cheque durante a pandemia, o Galpão ZL reinventou a biblioteca para que fosse possível um delivery de livros e fortaleceu o bairro através da ação das guardiãs, introduzindo outra forma de convivência em tempos de distanciamento.

Assim, junto ao campo de futebol, a proposta de salas de oficina e espaços de brincar se unem à creche, possibilitando um uso conjunto, ao mesmo tempo que desenha fechamentos independentes que possibilitam o uso do espaço aos finais de semana e também como atalho para acesso das moradias na área do córrego, sem interferência na creche. Já na área do viaduto, a proposta se aproveita das áreas livres no terreno da Petrobrás para propor uma horta urbana, construindo um apoio no baixio do viaduto com salas de oficina, biblioteca, cozinha comunitária e espaço para feira.

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Corte usos agricultura urbana em momentos do dia e noite Corte usos espaço do brincar em dias de aula e final de semana

capítulo 03 como alcançar?

Os que apostaram, no início da crise de COVID-19, que a natureza coletiva da pandemia poderia sugerir novos caminhos comunitários, como explorado no início do segundo capítulo, não poderiam imaginar que estaríamos, mais de um ano depois, em uma situação muito pior e sem perspectiva de melhora – pelo menos no Brasil. Hoje, quando cada dia que passa é um passo mais próximo de completar o segundo ano de crise epidêmica, os aprendizados deste mais-de-um-ano não parecem ter sido os mesmos para toda a população. Como citado no capítulo anterior, as medidas de segurança (máscaras, distanciamento e higiene das mãos) não são unanimidade, quanto mais o ato de realmente se abster de sair de casa. Inevitavelmente, algumas pessoas saem de casa por necessidade – as medidas para garantir a possibilidade da população ficar em casa não foram eficazes –, mas isso não justifica não usar máscara, não seguir os protocolos de distanciamento ou não fazer a higiene correta. Aparentemente, a questão é outra.

Outras pandemias enfrentadas pela humanidade mostram cenários similares: a Peste Negra, somada à Grande Fome – que debilitou a resistência das pessoas contra doenças – matou uma média entre 30% e 40% da população europeia. Portanto, “diante da possibilidade de uma morte repentina, as pessoas já não se preocupavam em trabalhar ou em acatar as regulações sociais e sexuais, e tentavam ao máximo se divertir, festejando o quanto podiam, sem pensar no futuro.” (FEDERICI, 2017, p. 96). A convivência direta com a morte alterou profundamente a vida na Europa. Mas, nesta época, a dizimação da mão de obra – a classe social mais afetada – aumentou o custo dos trabalhadores e fortaleceu a determinação das pessoas em romper os laços do domínio feudal.

Em tempos atuais, o Brasil assiste sua desigualdade crescer de forma expressiva: segundo dados do relatório Poder, Lucros e Pandemia, 13 milhões de brasileiros encontram-se desempregados, 600 mil micros, pequenas e médias empresas fecharam as portas, enquanto os 42

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bilionários do país aumentaram sua riqueza em US$ 34 bilhões. E esta realidade não é exclusiva do Brasil, o cenário brasileiro segue a tendência mundial: nos três primeiros meses da pandemia do novo coronavírus, os 25 maiores bilionários do mundo aumentaram sua riqueza em US$ 255 bilhões (OXFAM, 2020). Não parece que o mundo se aproxima de uma revolução impulsionada pela crise, como foi o caso do cenário da Peste Negra. Ainda assim, contamos com instrumentos próprios deste momento que podem sugerir pistas de como o enfrentamento da situação hoje poderia se desdobrar em oportunidades futuras.

No capítulo anterior, foram apresentadas ações do bairro no enfrentamento da crise sanitária. Estas operações são frutos de processos comunitários que levam tempo, tanto em sua construção, quanto para mostrarem seus efeitos. Isso porque é necessário criar vínculos e fortalecê-los. No Lapenna, esses laços vêm sendo cultivados há tempos, mas, quase sempre, vinculados a grupos da iniciativa privada. É inegável a importância do trabalho da Tide Setubal, no bairro, mas o que acontece se os planos da fundação se alterarem em algum momento? O mesmo problema pode acontecer em projetos públicos, todo equipamento vinculado à prefeitura é assombrado pelo dia da mudança de gestão, o temor da incerteza do compromisso da próxima equipe com a continuação do programa.

O apoio de iniciativas privadas é determinante para a existência de diversos projetos em São Paulo e, cada vez mais, é possível observar a expansão destas ações em territórios vulneráveis. Este apoio é fundamental, uma vez que garante oportunidades que talvez não fossem viáveis antes, frente à falta de investimentos do poder público. Entretanto, independente do reconhecimento da importância destas parcerias na realidade atual, é preciso compreender quais intenções estão por trás destes projetos, para desmistificar certos conceitos. Uma hipótese é que estes programas, pautados no agenciamento de

empreendedores, são frequentemente mecanismos de expansão do capital financeiro em situações de escassez, de forma que esta população é vista como campo de ampliação dos mercados.

(...) a hoje celebrada capacidade de iniciativa, improvisação e invenção popular é mobilizada para a criação de situações de mercado. (...) Na prática, trata-se de um esforço no sentido de colocar todas as dimensões da vida social (e da existência) sob a égide do mercado, convertendo a troca mercantil em código ético e princípio de conduta. (TELLES, 2015, p. 29).

Esta atuação também pode ser entendida como forma de controle territorial, uma vez que busca um “regime de ordem e segurança” através da criação destes “espaços governáveis”, nos quais a inclusão depende da correspondência dos indivíduos com certos comportamentos desejados (MERRY, 2001 apud TELLES, 2015). Pautas políticas e sociais são repetidamente cooptadas pelo capital sem que caracterizem uma intenção concreta de modificação. O empoderamento é interessante e desejável desde que moderado e prudente. Portanto, é indispensável um sólido compromisso com a comunidade a fim de evitar ao máximo o esvaziamento da potência transformadora destas experiências.

O que garante real sentido a estes programas é o engajamento popular, através da luta pela existência e permanência de ações. É muito mais fácil para uma instituição se inserir em um território que possua lideranças organizadas, e esta mesma organização garante pressão para a manutenção de atividades com grande aderência. Mas se a força popular é tão importante, não poderia ela própria desencadear mais uma alternativa de método de gestão e encaminhamento de propostas que poderia se somar às opções existentes? Quais seriam os espaços dessas outras formas de organização? A aposta de estudo deste trabalho é o fortalecimento do sentimento de comunidade através da construção de espaços que os acolham e permitam sua ampliação. Busca-se entender

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qual a forma urbana que reflete os desejos de uma vivência coletiva e que poderia, a partir de ações cotidianas realizadas nos lugares a serem desenhados, promover o encontro, a troca, o debate, a organização para o confronto e a tolerância.

Trechos do documentário Cuando la fe mueve montañas (When Faith Moves Mountains), registro da experiência proposta pelo artista belga Francis Alÿs na qual, ao longo de um dia, cerca de 500 voluntários, munidos de pás, moveram alguns centímetros uma enorme duna de areia nos arredores de Lima, Peru. Imagem 1: 500 pessoas foram convocadas para formar uma linha com a intenção de mover, com pás, uma duna de 500m de diâmetro a 10cm de sua localização original. Imagem

2: No dia anterior, ela parecia enorme, quando estávamos testando as pás. Imagem 3: Mas quando eu cheguei e vi a fila de 400 pessoas esperando lá... Imagem 4: A duna pareceu bem menor, na realidade. (Francis Alÿs em colaboração com Cuauhtémoc Medina and Rafael Ortega, 2002, tradução nossa).

é preciso desejar

Toda forma de construção coletiva pressupõe certa demora. O cultivo da relação que leva à participação é imprescindível e o tempo faz parte deste processo de assimilação. Mas, ao mesmo tempo que dependem desta dedicação, esses vínculos correm o risco de serem afetados por ações de longa duração em contextos de urgência. Por outro lado, a urgência, característica dos cenários de abandono da cidade de São Paulo, fortalece a demanda. Estas duas situações não são opostas, se complementam. É preciso apenas uma fagulha para incendiar ambas. É preciso desejar ser parte ativa da mudança.

O querer-participar não surge sozinho. Pequenas ações cotidianas irrompem como passos constantes no cultivo dos laços comunitários, e assim, o tempo pode ser aliado destes processos. No Jardim Lapenna, a articulação que há anos vem sendo desenvolvida entre moradores e entidades atuantes no bairro possibilitou que rápidas medidas fossem estruturadas em meio à pandemia. Estas providências obviamente não significaram a solução de todas as questões geradas pela situação epidêmica, mas garantiram, ao menos, uma forma de acolhimento aos moradores.

Neste trabalho, outras ações, sempre baseadas em propostas locais, são estudadas como apostas para desencadear constância no envolvimento cidadão – uma roda de conversa após um filme, oficinas de textos na biblioteca a respeito de experiências do bairro, a produção

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de alimentos e a possibilidade de trocas na horta, saraus com os grupos de slam da região. Estes ensaios partem do pressuposto comum de não se encerrarem neles mesmos, funcionando em conjunto e visualizando sempre possibilidades futuras. Como quem planta uma árvore e, apesar de ter consciência que provavelmente não verá seu florescimento completo durante a vida, cultiva a planta para o benefício daqueles que virão depois de si:

O interesse público sempre demanda um sacrifício dos interesses individuais, determinados pelas necessidades da vida e pelo tempo limitado dado aos mortais. O sacrifício necessário dos interesses individuais para o bem comum – nos casos mais extremos, o sacrifício da vida – é compensado pela felicidade pública, isto é, pelo tipo de “felicidade” que os homens só podem experimentar no domínio público (ARENDT, 2018, p. 110).

Esta participação popular – que é essencialmente política – é própria dos processos democráticos. Dessa forma, a busca por experiências de organização coletiva deve ser baseada na legitimação do conflito e no rompimento “(...) com a representação simbólica da sociedade como um corpo orgânico (...)” (MOUFFÉ, 2006, p. 175). Ao reconhecer o pluralismo de ideias como parte inerente à democracia, percebe-se o consenso “(...) como resultado temporário de uma hegemonia provisória (...)” (MOUFFÉ, 2006, p. 175), de modo que sempre há partes excluídas. A democracia não é algo acabado, ou que se pode um dia ser dado como concluído. O processo democrático vai se construindo ao mesmo tempo em que se vivencia.

Pensar a democracia em todas instâncias da vida urbana, como um processo continuamente construído, esbarra na arquitetura, principalmente nos ambientes de uso público. A experiência da construção do espaço, por meio do projeto arquitetônico, pode contribuir para a transformação de um conjunto de concepções e das práticas espaciais e sociais. O fazer arquitetônico – projetual e construtivo – no tempo se torna, ele também, uma experiência coletiva de um devir futuro, como as próprias

ações comuns. Segundo Lefebvre, “os espaços de representação, portanto, têm o potencial não somente de afetar a representação do espaço como também de agir como força produtiva material com respeito às práticas espaciais” (1993, p. 201). Assim, é de extrema relevância o estudo dos espaços que contemplem essas perspectivas.

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Francis Alÿs, Cuando la fe mueve montañas (When Faith Moves Mountains), 2002.

a dimensão exatamente humana

A “dimensão exatamente humana” é um conceito apresentado por José Saramago para descrever a Galleria degli Uffizi, seu museu favorito. Esta grandeza não pode ser dimensionada em números, mas algumas imagens podem oferecer uma comparação para esta medida. Enumero aqui as minhas: os pátios das casas das minhas avós – um na memória do quintal com escada armada para se comunicar com a vizinha e o quartinho dos fundos onde se fazia pão de queijo, o outro na pele sentida na laje onde ainda acontecem todas festas da família; o escritório do Mosaico EMAU; os módulos-arquibancada da Vila Itororó formando uma “ágora” para as rodas de conversa; todo e qualquer espaço do Sesc Pompéia; a rua São Bento, mais exatamente a quadra entre a Praça do Patriarca e o Largo do Café, na hora do almoço; o jardim na laje do CCSP; o chiqueirinho do prédio da FAUMack. É a dimensão que cria escala e propicia a relação entre as pessoas, percepções buscadas por este trabalho.

Explorar a extensão desta dimensão é investigar a própria arquitetura que cria espaços para acolher e agregar as tantas tensões ativas na cidade. Neste estudo, as duas intervenções propostas buscaram a arquitetura “simples” no melhor sentido: o contrário de extraordinário, o comum. A intenção era o desenho que convidasse as pessoas, pensado com o carinho de quem projeta desejos de mundo. A concepção deste desenho foi feita a partir dos instrumentos básicos da arquitetura – bancos, arquibancadas, sombra, pátios, palcos e ambientes de acolhimento fechados.

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Galleria degli Uffizi (Galeria dos Ofícios).

A compreensão dos fluxos de ambas regiões, junto ao viaduto e ao campo de futebol e creche, possibilitou a inserção de edificações que se relacionam com a malha da cidade, de forma que elas próprias constituem as pontes de conexão ausentes. Estas pontes são tanto literais, facilitando a circulação em áreas importantes do bairro que hoje em dia não tem acessos tão claros, como simbólicas, ao indicarem caminhos as ações cotidianas de cultivo dos laços comunitários. Além disso, a legibilidade destes trajetos por si só é parte relevante da concepção de urbanidade:

A legibilidade pressupõe quase sempre intervenções fora da área de atuação além daquelas necessárias na própria área. A hierarquização do tecido urbano, a circulação coerente com o transporte público, a localização das centralidades e a geografia, sempre subjacente ao solo urbanizado, formam um quarteto de reflexão, conjunto chave para estabelecer uma condição básica de inclusão física. Legibilidade significa precisamente a possibilidade de o indivíduo estabelecer mentalmente o mapa de sua localização no território. O reconhecimento desta leitura contribui na reconstrução da cidadania, favorecendo a apropriação e incorporação social e estabelecendo o sentido de lugar. (VIGLIECCA, 2012, n.p)

Junto ao viaduto, o projeto se apresenta como ponto de parada para quem atravessa do bairro, em direção ao parque Vila Jacuí. Os espaços de apresentação, cozinha comunitária e feira estão propositalmente “no meio do caminho” de quem cruza a avenida Jacu Pêssego para acessar o parque. Assim, cria-se o primeiro vínculo com a proposta de um espaço de agricultura urbana. Aposta-se neste primeiro contato para o desenrolar de uma curiosidade pelas oficinas de plantio, cursos a respeito da importância de alimentos orgânicos ou de cozinha com plantas alimentícias não convencionais (PANC), grupos de leitura na biblioteca, entre outras atividades possíveis. Além disso, as próprias áreas de oficina e a biblioteca poderiam ser utilizadas como salas de estudos diversos, uma vez que nem sempre a moradia apresenta espaço para isto.

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É a tentativa da superação da própria lógica da construção da forma arquitetônica que se apoia sobre uma superfície tão nova quanto ela, a partir do reconhecimento de sombras urbanas, ou da falta delas, encontradas em restos de uma cidade que se constitui com pouca gentileza urbana para, no que nos resta, mostrar que a intervenção nelas é, em si, a própria ação arquitetônica.

No térreo, estruturam-se duas áreas de pátios –os “vazios” – a partir da composição de recintos – os “cheios” – como as arquibancadas, a biblioteca, a cozinha e o palco. O primeiro pátio, se abre para a rua Manuel da Paixão, uma vez que busca sua continuação em direção ao parque. Apesar de ser essencialmente um local de passagem, é conformado por um palco e uma arquibancada, posicionados a partir dos pilares do próprio viaduto, que podem ancorar pausas no caminhar. O segundo pátio apresenta possibilidade de uso mais íntimo, estando cercado por outra arquibancada, a cozinha e a biblioteca, mas, a partir da abertura dos painéis destas fachadas, também se projeta como parte transitável. Estes programas são protegidos pela sombra do próprio viaduto que também se expande com a criação de uma nova cota.

O pavimento superior elabora uma nova geografia que gera visuais para as situações (shows, apresentações ou mesmo simples fluxo de atividades) no andar abaixo. As salas de oficina neste nível são posicionadas de forma a garantir esta relação visual, permitindo que sejam formados corredores que olhem para lados diferentes. Esta ação de olhar e percorrer é amparada também por elementos que dão suporte às funções deste piso: as estantes de frente para as oficinas permitem uma sala aberta que se aproprie do corredor; os bancos-mesas, na passagem que observa o restaurante, garantem um espaço de refeição ou mesmo mais área de assento caso a arquibancada esteja cheia.

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Uma “outra geografia” é ideia presente na proposta para a região da creche e do campo de futebol também. A parte mais densamente ocupada por habitações localiza-se próxima a esta região, que concentra a maior parte dos equipamentos do bairro, mas o acesso é dificultado pela malha urbana pouco clara. Além disso, a área é limítrofe com as moradias localizadas acima do córrego. Dessa forma, o projeto propõe aberturas seguindo os fluxos dos cruzamentos necessários para se alcançar as residências ou equipamentos. Mais uma vez são configurados pátios, a partir da relação destes “vazios” com os “cheios”, acompanhados de espaços de contemplação e acesso à nova cota criada – as arquibancadas, a rampa e a “escalada”.

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Enquanto o pavimento inferior conta com salas fechadas para oficinas, além das áreas livres cobertas, o novo nível não possui ambientes delimitados por paredes. A disposição de elementos móveis de assento ou mesa ampara ações possíveis e convida quem frequenta a dispor o espaço que mais lhe convém – exercício possível também na cozinha e bancos-mesa do programa de agricultura urbana na região do viaduto. Além disso, este andar se conecta com uma arquibancada voltada para o campo de futebol sendo o próprio caminho desta conexão um espaço que permite acompanhar um jogo no andar abaixo. Esta mesma arquibancada, no andar debaixo, tem fundos para as salas da creche, de forma que pode ser usada como apoio, tendo sido desenhada com o cuidado de não bloquear totalmente a incidência solar nos pátios.

Diferentemente da situação anterior, onde o viaduto já proporcionava sombreamento, neste local as áreas de sombra foram todas desenhadas pelo próprio projeto, uma vez que, antes, o terreno era um descampado. Espaços cobertos livres relacionam-se com as casas em volta, o que poderia até sugerir alterações nas mesmas para que se abrissem frente a cobertura com espaços de convívio, festa, brincadeira ou pequenas vendinhas. A relação também é mantida com a creche, possibilitando uso junto à escola ou independentemente, a partir de portões que se fecham ou se abrem alterando o uso. O entendimento de ambas situações projetuais – esta em questão e a junto ao viaduto – como parte do próprio trânsito de pessoas no Lapenna reflete em soluções para os ambientes que ensaiam as proporções facilitadoras das relações humanas.

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Essa dimensão se expande para outras questões, inclusive. Ambos projetos são desenhados a partir de módulos de 1,25m e medidas padrão da construção civil (disponíveis nos manuais da Croslam e Ecotrat) a fim de evitar o desperdício de madeira. As vigas, por exemplo, são formadas por peças duplas de madeira de seção 0,30mx0,06m, garantindo a leveza das peças – que facilita a construção – e permitindo um vazio para que “abracem” o pilar e acolham a calha embutida. Estes pilares podem ser simples, em madeira de seção 0,20mx0,20, quando sustentam as vigas correspondentes a laje do primeiro pavimento, ou duplos, para sustentarem a cobertura, em seção de 0,52x0,20m, formada por duas peças (0,10mx0,20m). As lajes também são pensadas em painéis de madeira CLT com espessura 0,10m e seguindo as larguras disponíveis em tabelas da fornecedora Croslam.

A mesma lógica é seguida pelas soluções não estruturais: bancos são pensados a partir de ripas de madeira horizontais (seção 0,06x0,12m e 2,5m de comprimento, seguindo medidas da fornecedora Ecotrat) que, proposto em duas alturas diferentes (0,45m do chão e 0,90m) possibilita montagens diversas para usos como mesas e bancos. As peças verticais apresentam seção 0,06x0,06m, possibilitando o encaixe dos módulos. Estas mesmas peças formam as estantes de livros e brises. Já para a iluminação, o vazio dos pilares entre as peças de travamento é aproveitado para a instalação da lâmpada protegida por uma chapa de policarbonato de espessura 0,04m. O leve guarda corpo metálico, inspirado pelo projeto do MuBE de Paulo Mendes da Rocha, contorna todo o projeto sem impedir a relação de ver e ser visto nos diferentes níveis.

Dessa forma, a ordem de construção se mostra relevante. A operação no baixio do viaduto seria a primeira a ser construída. A sombra do próprio viaduto serviria inicialmente para a produção das peças. Em um primeiro momento, poderiam apenas produzir os bancos de madeira, para as duas áreas. Depois disso, a estrutura em-

baixo do viaduto começaria a ser edificada de forma que fosse produzido antes o mínimo necessário para o uso (primeiros os canteiros no térreo, palcos, arquibancada e estantes da biblioteca, depois pilares, vigas, laje com área de plantio, a rampa, guarda corpos e então os fechamentos). Esta experiência poderia fortalecer as relações, inspirando a continuidade do projeto junto à creche. Neste momento, novamente a construção se iniciaria com canteiros e arquibancada; posteriormente os pilares, vigas, laje, travamentos, rampa e a cobertura; finalmente, os fechamentos e guarda corpos. O uso aconteceria paulatinamente, como a obra e como a construção de laços sociais.

Este planejamento suscita uma nova questão: como organizar esta produção do espaço? Neste sentido, as próprias dimensões do poder podem ser questionadas. Quais ferramentas a sociedade possui para organizar e gerir espaços coletivos? A “reconstrução do espaço social” dependeria do rompimento com a propriedade privada sobre os espaços, implicando em processos autogestionados nos mais diversos níveis, “a utopia concreta e experimental defendida por Lefebvre passa pela autogestão generalizada e por um sentido revolucionário de cidadania calcado na vida cotidiana desalienada, liberta do capital e do Estado, tal qual em muitas das formulações mais críticas sobre o comum.” (TONUCCI FILHO, 2020, p. 374). Consequentemente, interessa o estudo de grupos e situações que exploraram estas possibilidades.

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laje 1º pav pilares vigas laje fechamen to térreo cobertura vigas cobertura guarda corpo rampa fechamentos 1 pav cobertura estrutura suspensa vigas cobertura fechamen to térreo pilares vigas laje laje térreo laje 1º pav laje 1º pav pilares vigas laje fechamen to térreo cobertura vigas cobertura guarda corpo rampa fechamentos 1 º pav cobertura estrutura suspensa vigas cobertura fechamen to térreo pilares vigas laje laje térreo laje 1º pav Diagramas momentos construtivos.

A ampliação 1a exemplifica a escalada flutuante que eleva-se sempre 0,45m em relação ao nível anterior. As lajes são suspensas por cabos de aço de 0,04m de diâmetro soldados a peças metálicas parafusadas nas vigas intermediárias da laje superior (1b).

O pilar simples em madeira, de seção 0,20mx0,20, sustenta as vigas correspondentes a laje do primeiro pavimento. o número 2 exemplifica o caso da passarela com pilar central e balanço de 1,25m.

No desenho 3 é possível observar a conexão da cantoneira metálica responsável pela fixação da viga secundária na viga principal.

Os pilares duplos sustentam a cobertura. Sua seção de 0,52x0,20m é formada por duas peças (0,10mx0,20m) que se associam a vigas em sentidos perpendiculares. a cobertura, de inclinação 5%, direciona as águas pluviais para calhas embutidas na viga que corre por entre os pilares duplos (imagem 4).

O brise em ripas de madeira (seção 0,06x0,12m e comprimento variável) está representado na imagem 5 a cada 1,25m, as leves ripas de madeira conectam-se a uma peça metálica ligada à viga da cobertura.

Os travamentos dos pilares das fachadas é feitos através de cabos metálicos de 0,04m de diâmetro em Y (7a e 7b) ou em diagonal, para as bordas (6a e 6b).

O detalhe 8 exemplifica a solução de peça metálica que busca prevenir o contato direto do pilar de madeira com o solo.

No detalhe 9 é possível observar a montagem das luminárias encaixadas nos vazios dos pilares. uma peça de policarbonato de 4cm de espessura, parafusada às peças intermediárias do pilar, protege a lâmpada instalada no espaço interno do pilar de madeira.

Já o número 10, exemplifica o mobiliário produzido em ripas de madeira horizontais (seção 0,06x0,12m e 2,5m de comprimento) que, proposto em duas alturas diferentes (0,45m do chão e 0,90m) possibilita montagens diversas para usos como mesas e bancos. As peças verticais apresentam seção 0,06x0,06m, possibilitando o encaixe dos módulos

11a e 11b representam o guarda corpo, inspirado pelo projeto de Paulo Mendes da rocha no mube. um cabo metálico de 0,04m de diâmetro percorre três alturas diversas apoiando-se em peças metálicas de altura 0,25m ou 1,10m distantes 1,25m entre si.

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1a 1 4 5 3 6 7 11 2 8 9 10 7a 6a 1b 4 2 3 11b 11a 10 5 6b 7b 9 8

Na imagem 12 estão representadas as principais vigas de ambas intervenções. Para o espaço do brincar, vigas vagonadas (vãos de 12,5m e 10m), vigas duplas (vão 7,5m e 5m) e a viga em balanço de 1,25 das passarelas. No projeto para agricultura urbana, vãos de 5m, de 3,75m e também a viga em balanço das passarelas. São formadas por peças duplas de madeira de seção 0,30mx0,06m, garantindo a leveza das peças – que facilita a construção – e permitindo um vazio para que “abracem” o pilar.

Os pilares em madeira apresentam a mesma seção de 0,20x0,20m (laje primeiro pavimento) e 0,52x0,20m (cobertura) e estão associados a vigas biapoiadas simples ou com pequenos balanços, nas passarelas ou garantindo fachadas livres de pilares que permitem a integração os espaços internos às áreas externas, quando desejado (13 e 14).

O desenho 15 exemplifica o encontro do pilar de seção quadrada com o chão, apresentando a mesma solução de base metálica parafusada à fundação.

Na imagem 16 está representado o encontro da viga secundária com a viga principal, a partir das cantoneiras metálicas que conectam as peças estruturais apoiadas.

A laje verde foi projetada como uma escada que se eleva de 0,15m a cada novo nível para plantio sobre a biblioteca do projeto (17).

Já a ampliação 18 ilustra a estante proposta para o projeto da biblioteca e do no corredor em frente às salas de oficina.

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como fazer as coisas acontecerem (e durarem)?

Frequentemente, a ideia do comum urbano vem sendo invocada como forma de cooperação além do Estado e iniciativas privadas. Uma das principais abordagens tem como base a noção de cotidiano, uma vez que “a vida cotidiana é ambivalente e contraditória: ao mesmo tempo que cada vez mais colonizada pelo mundo da mercadoria, e sujeita, portanto, às patologias sociais da mistificação, do fetichismo e da alienação, ela constitui também a única arena possível para mudança radical.”

(LEFEBVRE, 2014 apud TONUCCI FILHO, 2020, p. 376377). Em outras palavras, este é o campo ‘vivido’ e que, portanto, demanda estratégias para seu descolamento da vivência alienada.

Por outro lado, ainda segundo Tonucci, “Lefebvre sugere que parte do fracasso da maior parte de experimentos comunitários, de criação de uma ‘nova vida’ em grupo, possa ser creditada à ausência de invenção morfológica.” (2020, p. 385). Por isso a preocupação deste trabalho em discutir os espaços que constituiriam a mediação destas experiências. Esta aposta não surge com este trabalho (e espera-se que tampouco se encerre aqui). Muitos movimentos, coletivos e grupos já percorreram estes caminhos antes e surgem como referência não só de que práticas outras são sim viáveis, mas também para que seja possível calibrar próximas propostas. A diretriz inicial para esta pesquisa foi o projeto Vila Itororó Canteiro Aberto, com foco na experiência dos encontros do “Laboratório

Festa junina da Vila Itororó em 2006. Foto: Lígia Pinheiro/Mosaico. Vila Itororó vista da escadaria da rua Martiniano de Carvalho. Foto: Hélio Bertolucci Jr.

O relato destas experiências como referência para este projeto resultam da bagagem de dois anos atuando diariamente no projeto Vila Itororó Canteiro Aberto, no qual fui estagiária, inicialmente em ativação cultural e depois em arquitetura.

Vila Itororó: Experimentos de uma vida em comum” em janeiro de 2018 ⁴ .

A Vila Itororó é um conjunto arquitetônico idealizado pelo proprietário Francisco de Castro no início do século XX. No interior de uma quadra localizada no limite entre os bairros da Liberdade e Bela Vista, foram construídas, ao longo de anos, edificações residenciais (a própria moradia de Francisco, além de casas de aluguel) e de lazer (uma piscina de uso público e, posteriormente, um clube frequentado por moradores do bairro). Mesmo após a morte de Francisco, o complexo seguiu sendo residência de diversas famílias e espaço público da cidade, principalmente com sua famosa Festa Junina, uma vez que os acessos da Vila eram abertos e a rua interna, pública. Os conflitos e alterações enfrentados no espaço refletiam os momentos da própria história da cidade de São Paulo.

O conjunto foi tombado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat), em 2002 e 2005, respectivamente. E, apesar das controvérsias em torno do assunto desde 1985, como o parecer do conselheiro do Condephaat Ulpiano Bezerra de Menezes que argumentava o diálogo entre moradia e cultura, para que as propostas de preservação da Vila Itororó não viessem descoladas de propostas para a melhoria da vida das pessoas que a ocupavam, em 2006, a área foi decretada como utilidade pública, com consequente desapropriação pelo governo do Estado e pela prefeitura de São Paulo para fins culturais (BARBOUR, 2017).

Este processo conflituoso foi marcado por notificações de despejo, truculência policial nas ações de reintegração de posse e incertezas quanto ao destino das 71 famílias que moravam na Vila nesta última década, uma vez que inicialmente elas recorreram à justiça para suspender a decisão de desapropriação e buscaram parce-

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ria com o poder público para um projeto de recuperação das moradias. Após sete anos de resistência, entre 2011 e 2013, as 71 famílias foram alocadas em três conjuntos da CDHU, dois localizados nas imediações da Vila e um terceiro no Bom Retiro, conquistando, ao menos, o direito de permanecerem na região central da cidade (FELDMAN; CASTRO, 2017).

Assim, quando o Instituto Pedra assumiu o projeto de restauro em parceria com a Prefeitura Municipal de São Paulo, este processo, ainda muito recente, gerava debates frequentes: por que fazer um centro cultural num local de moradia? Por que a recuperação, preservação e conservação da Vila previam a retirada dos moradores? No momento em que o projeto cultura é inevitável, como então integrar a moradia ao projeto cultural? Quais os possíveis usos trariam diálogo entre seu passado e as necessidades atuais do bairro e da cidade? A solução ideal – restaurar as casas para manter os moradores – não era mais realizável, apesar de todos os esforços dos moradores engajados. Imaginar as perspectivas para a Vila, então, esbarrava em demandas coletivas e de interesse geral, não só dos moradores, mas de todo bairro e da cidade.

Com a intenção de refletir coletivamente a respeito dessas questões, decidiu-se por uma abertura ao público desde o início, instalando um experimento de centro cultural contíguo ao canteiro de obras da Vila. Dessa forma, o grande galpão foi ocupado por ações propostas pela gestão do espaço (inicialmente o próprio Instituto Pedra e depois diretamente pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo) e também convidando os próprios frequentadores a utilizarem o espaço como desejassem. O desenvolvimento de atividades diárias – cozinha coletiva, aulas de dança, circo, marcenaria, treinos de esgrima, atendimentos da Clínica Pública de Psicanálise, ensaio de canto, espaço estudos, reunião de grupos, visitas guiadas ao pátio de casas… – extrapolava os usos que a gestão poderia imaginar sozinha e indicava outras pos-

sibilidades de usos futuros conforme a situação da Vila fosse se alterando (obras sendo finalizadas, por exemplo), sem que houvesse dependência da conclusão total do restauro para a “inauguração” do centro cultural. Pouco antes da gestão ser passada para a Secretaria Municipal de Cultura, após a ameaça de fechamento ter sido contornada por mobilização dos moradores do entorno e demais frequentadores, em janeiro de 2018, foi realizado um encontro de três dias, o “Laboratório Vila Itororó: experimentos de uma vida em comum”⁵ com a proposta de pensar coletivamente “o que é, o que pode ser e como pode funcionar a Vila Itororó”. Os cerca de 50 participantes, entre ex-moradores, frequentadores do espaço e outros interessados, foram convidados a debater e construir propostas a partir de falas de convidados (ex-moradores, arquitetos do projeto e representantes do Instituto Pedra, o então coordenador geral dos Centros Culturais e Teatros da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, além de artistas, ativistas e pesquisadores ligados ao Canteiro Aberto) e momentos participativos de oficinas.

Os três dias de atividades foram articulados em torno de três eixos gerais – vida comunitária, práticas culturais e vida na cidade – que resultaram em temas mais específicos – cotidiano, moradia, acolhimento, ajuda mútua, espaço de encontros, resistência, – e, posteriormente, em propostas – espaços livres, moradias comunitárias, expansão das oficinas já existentes na Vila, bibliotecas não só de livros, clube da vida doméstica, acesso ao espaço, álbum de identidade da Vila, estrutura de banho e lavanderia – a serem discutidas com diagnósticos (o que fazer, quando fazer, entregáveis, oportunidades, desafios, parcerias, recursos, atores locais e propostas relacionadas). O desdobramento deste evento não é apenas o arquivo de referência desta experiência, que foi, inclusive, apresentado para a SMC, mas também despertar provocações nos participantes.

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Relato do evento disponível no site do projeto Vila Itororó Canteiro Aberto Oficina no primeiro dia de Laboratório Vila Itororó: experimentos de uma vida em comum. Foto: Rafael Frazão

No meu caso, a discussão que me pareceu mais interessante, e que não imaginava ser possível, foi a possibilidade de gestão do espaço a partir do coletivo Riacho⁶, na época formado por moradores do bairro e frequentadores assíduos do espaço A discussão se iniciou com o temor de que a Secretaria Municipal de Cultura não iria assumir a gestão da Vila com o fim da parceria com o Instituto Pedra para administração do local e ganhou apoiadores durante a oficina, mesmo que, naquele momento, já houvesse perspectiva da SMC assumir a coordenação do espaço. O desejo de um poder coletivo organizando um centro cultural não se concretizou naquele momento, mas criou em mim uma vontade de me aprofundar nesta discussão.

O TFG não é um trabalho que pressupõe a construção física (embora fosse uma ideia atraente e pensada inicialmente, mas inviabilizada pela pandemia). A construção contida nestas páginas é a de traçar pontes para debates que também possam despertar provocações. E a esperança é que estas provocações prosperem em desejos, que floresçam em operações, como as sugeridas por esta pesquisa. Isso porque, como alerta Suely Rolnik, hoje a descrença é generalizada: “Em outras palavras, o mal es-

O coletivo atuava no projeto Vila Itororó Canteiro Aberto propondo eventos e atividades, dentro da lógica de debate do presente e futuro da Vila, a partir de reuniões do grupo. Colagem agricultura urbana, vista do pátio do palco.

tar deixa de ser projetado apenas nas classes política e empresarial, para ser projetado em qualquer segmento da sociedade” (2019, p. 175).

Este trabalho, então, entende que, neste momento, o maior recurso contra o conformismo é partilhar a ideia de mudança com outras mentes curiosas que também tenham vontade de confeccionar outros mundos – talvez quebrando muros. Sem se desmotivar pelo fato de que o horizonte não é atingível, porque, neste caminhar, podemos alcançar o agora: uma ação que não têm expectativa de resolver algo que deveria permanecer em suspensão, como a própria vida, mas que sempre está aberta a constantes transformações.

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Colagem espaço do brincar, arquibancada fachada oeste.

considerações finais

Por fim, eu espero que esse trabalho seja lido pelo que ele é: uma colcha de retalhos de memórias, vivências, conselhos e aprendizados que não começaram neste ano, nem nestes últimos 5 anos. É um compromisso que vem sendo construído desde que eu, criança, ia com a minha mãe para o trabalho dela no projeto Cidade Escola Aprendiz. Como boa pessoa neurótica desde sempre, eu tinha medo de perder aula na escola, mas a minha mãe fazia questão de me mostrar o quanto eu podia aprender com a cidade, tanto no Aprendiz, quanto no caminho. No primeiro ano de faculdade, eu fui a única da sala que disse ter escolhido o curso porque queria ser urbanista, de onde será que veio essa ideia...

Várias experiências contribuíram para que o produto final dessa graduação fosse um manifesto em favor das relações humanas comunitárias – dias completamente comuns nas ruas de São Paulo, práticas no Mosaico, investigações no estágios, aulas inspiradoras de projeto VII –, embora estas situações existam apenas como memória distante hoje em dia, há um ano e três meses de distância, mais precisamente. Explorar estes caminhos é um exercício de esperança frente ao cenário devastador enfrentado, uma vez que a realidade atual mais parece um pesadelo que não te deixa acordar.

Este trabalho não mergulha na ilusão de acreditar que a arquitetura e o urbanismo por si só seriam responsáveis por essa revolução espacial urbana. Não só porque a cida-

de depende da associação de muitas outras esferas, incluindo forte apoio governamental em políticas públicas para as necessidades mais básicas da população – que, independente de estar associado a outras soluções, segue sendo de extrema importância –, mas também frente à despolitização e iminente expropriação de potência consequentes de uma sociedade capitalista. O conjunto de temas apresentados aqui busca sugerir pistas e apostas que, mesmo sobre contínuo risco de dominação pelo capital, disputam as instâncias de solo fértil para a busca de uma vivência menos submissa até que sejam esvaziadas de seu sentido transformador – o que foi chamado pelo professor Antonio Fabiano Junior de “perder da melhor maneira possível”. Essa perspectiva, de que estes fracassos são indispensáveis, também é levantada por José Miguel Wisnik no documentário “Palavra (En)cantada”, “(...) a gente tem que ter a capacidade de olhar ao mesmo tempo a potência e a fraqueza brasileira para que ele dê um salto” (2008, n.p).

Quando a gente gira uma pirueta, existe um momento exato para a força de dobrar os joelhos (plié) se transformar em impulso para te lançar em cima do eixo e girar. Pouco plié e você não gira, muito plié e você perde o momento do impulso. Quando o mundo nos puxa para baixo, os joelhos dobrados para dar impulso correm perigo de tombar até o chão, se desperdiçarmos o instante de equilíbrio. Eu desejo que estejamos sempre atentos a esses estímulos de movimento, para que eles sejam aproveitados em toda sua potência.

Bom, na verdade temos outros projetos, vamos fazer algumas coisas como beber o Atlântico, derreter a Antártica, pintar o céu… Coisas desse nível, coisas simples. (When Faith Moves Mountains - Francis Alys, 2002, tradução nossa).

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Como pintar o céu? - Iván Navarro, Chile, 2014
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Como pintar o céu? Iván Navarro, Chile, 2014. Foto autoral.

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capa

Imagem autoral. Escalas humanas disponíveis em: https:// toffu.co e https://studioalternativi.com.

Imagem autoral. Escalas humanas disponíveis em: https:// showitbetter.co

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