BRUNA FERREIRA DA SILVA
INVESTIGAÇÃO SOBRE O FUTURO DO TERRITÓRIO PAULISTA: um estudo sobre implicações da diagonal logística macrometropolitana
UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI BRUNA FERREIRA DA SILVA
Trabalho Final de Graduação apresentado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo como requisito para obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo desenvolvido sob a orientação do Me. Cláudio Manetti.
SÃO PAULO - 2014
“(...) as cidades se isolam da natureza.” - Lefebvre E cada vez mais, de sua própria natureza.
É
preciso alguém para acreditar em nossa loucura ou ela jamais tornar-se-ia real. Por isso, dedico este trabalho à minha família, às incontáveis xícaras de café elaboradas por minha mãe e discussões sobre
viabilidade econômica de minhas ideias absurdas com meu pai. Ao apoio e imensa compreensão de meus irmãos neste processo de me perder em mim mesma para me encontrar profissionalmente.
AGRADECIMENTOS
P
rimeiramente a Deus que desde cedo guiou meus caminhos e me abriu portas com oportunidades de aprendizado que foram além do que eu esperava, colocou no meu caminho
pessoas de um coração imenso que me ajudaram a superar obstáculos e me deram forças quando achei não ter mais nenhuma. Ao meu orientador Me. Claudio Manetti que neste processo de aprendizado e compreensão urbana foi paciente e, contra todas as minhas teimosias fez uso de seu conhecimento admirável contribuindo para o meu crescimento como arquiteta, me ajudando a construir ideias, superar inseguranças e lutar por estas para poder ao fim ter orgulho de minha produção acadêmica. Ao Dr. Caio Santo Amore que em avaliação prévia deste trabalho contribuiu grandemente para a melhor compreensão do território de estudo e dos processos sobre este vigentes. À Prof. Maria Angela Cabianca que me guiou no mundo da pesquisa científica e não me deixou desistir do meu projeto mesmo quando tudo parecia contrário a sua elaboração. Ao programa Ciência Sem Fronteiras / CNPQ pela bolsa de estudos e a oportunidade de aprendizado urbanístico e tecnológico na University of Portsmouth no Reino Unido. A todos os professores que fizeram parte do meu aprendizado direta ou indiretamente, seus conselhos e ensinamentos não serão esquecidos. Ao GAFAAM - Grupo de Alunos da Universidade Anhembi Morumbi que, fruto da ideia, da necessidade e anseio por conhecimento, ampliou minha visão até então limitada, sobre a arquitetura.
T
his final work consists of a investigation about the future of São Paulo’s territory looking to the territorial, logistical and environmental dynamics, supported in the geographical and demo-
graphical forecasts for the next 20 years. It is understood that the geographical and economical relevance of this territory, not only in a regional context but also, national and internationally, implies a need to understand the processes hitherto prevailing, and therefore, an understanding of the phenomena arising in the sub-regional and intra urban scales regarding the future formation of the land. Seeks up the conception of projectual and administrative guidelines able to face up the rural, environmental and urban phenomena of territorial configuration.
KEY-WORDS: macrometrópolis; metropolitan region; urbanism; territorial development; urban development; environmental development; future of territory; microstructures.
RESUMO
E
ste trabalho de conclusão de curso consiste de uma investigação sobre o futuro do território paulista sob um olhar na dinâmica territorial, logística e ambiental e, amparado nas
previsões geográficas e demográficas para os próximos 20 anos. Entende-se que a relevância deste território geográfica e econômicamente, em âmbito não apenas regional e sim nacional e internacionalmente, implica em uma necessidade de entendimento dos processos até aqui vigentes e portanto, em uma compreensão dos fenômenos provocados nas sub-escalas regional e intra-urbana no que diz respeito a formação territorial futura. Busca-se então a elaboração de diretrizes projetuais e administrativas capazes de confrontar os fenômenos rurais, ambientais e urbanos em formação.
PALAVRAS-CHAVE: macrometrópole; região metropolitana; urbanismo; desenho do território; desenho urbano; desenho ambiental; futuro do território; microestruturas.
SIGLAS
AU CDHU CETESB DAEE DERSA EMPLASA FEPASA FERROBAN FERRONORTE IBGE IDH IG IGC PDDT PERH PIB PMDI PNUMA RM RMC RMBS RMSP RMVPLN SEADE SEDM SEH SIFESP TAV UNICAMP USP UGRH
Aglomerado urbano Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental Departamento de Aguas e Energia Elétrica Desenvolvimento Rodoviário SA Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano Ferrovia Paulista SA Ferrovia Bandeirantes SA Ferrovia Norte Brasil Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Índice de Desenvolvimento Humano Instituto Geológico Instituto Geográfico e Cartográfico Plano Diretor de Desenvolvimento de Transportes 2000-2020 Política Estadual de Recursos Hídricos Produto Interno Bruto Plano Metropolitano de Desenvolvimento Integrado Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente Região Metropolitana Região Metropolitana de Campinas Região Metropolitana da Baixada Santista Região Metropolitana de São Paulo Região Metropolitana do Vale do Paraíba e Litoral Norte Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados Subsecretaria de Desenvolvimento Metropolitano do Estado de São Paulo Secretaria de Habitação do Governo do Estado de São Paulo Sistema de Informações Florestais do Estado de São Paulo Trem de Alta Velocidade Universidade de Campinas Universidade de São Paulo Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos
OBJETIVOS METODOLOGIA INTRODUÇÃO À CRISE UMA DISCUSSÃO SOBRE ESCALAS
ETAPA 1: LEITURA DO TERRITÓRIO OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO MACROMETROPOLITANO a. histórico de ocupação do território b. ocupação, uso do solo e contribuição econômica c. equipamentos urbanos
39 43 45
GEOGRAFIA a. hipsometria b. perfil geológico c. cobertura vegetal e áreas verdes d. hidrografia e. contaminação e vulnerabilidade de território
49 50 52 56 58
MOBILIDADE E DINÂMICA TERRITORIAL a. projetos de expansão do sistema de mobilidade b. movimento pendular e implicações no território
63 66
SUMÁRIO
POTENCIALIDADES DO TERRITÓRIO NO PRESENTE E FUTURO INSERÇÃO DO ESPAÇO NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO FATOR HUMANO: O CIDADÃO COMO FOCO PROJETUAL E A CIDADE IDEAL
ETAPA 2: CONSTRUÇÃO ESPACIAL ESTUDOS DE CASO: AS CIDADES DO PASSADO, PRESENTE E FUTURO a. as cidades do passado: utopias urbanas b. as cidades do presente: retrofit e integração c. as cidades do futuro: o consumo construíndo o espaço
91 94 97
CORRELAÇÕES PROJETUAIS E O FUTURO DO TERRITÓRIO a. espaços de amortecimento b. as cidades híbridas e tais microestruturas c. um padrão de tecidos no território d. recortes análogos e. fenômenos observados f. diretrizes para intervenção espacial e administrativa
CONCLUSÃO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
101 103 107 116 122 125
OBJETIVOS
OBJETIVO GERAL
•
Ampliar o entendimento dos processos vigentes e dinâmica urbana da macrometrópole .
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
•
Busca-se, através de estudos urbanos, a compreensão das transformações e relações compartilhadas na chamada diagonal macrometropolitana em toda a sua complexidade, em três escalas distintas: a macro, regional e intra-urbana.
•
Analisar o desenho urbano existente, processos vigentes e seu reflexo na formação espacial, paisagistica e urbanistica das cidades do futuro.
•
Identificar impactos e relações do espaço urbanizado com as reservas vitais no perímetro de estudo.
•
Estabelecer diretrizes de projeto capazes de impactar positivamente na area de estudo.
15
q u e s t i o n a m e n t o
P
c o n s t a t a ç ã o
esquisa e revisão bibliográfica sobre o território e temáti-
cas
relativas
ao
trabalho
para
definir foco de análise do território no contexto ‘cidade do futuro’.
A
nálise de condicionantes físicos, ambientais, culturais e econôm-
icos do território e suas transformações sob a perspectiva do passado e presente para melhor compreensão das
ETAPA 1
16
particularidades
ocorridas.
METODOLOGIA ADOTADA
p r o b l e m a t i z a ç ã o
p r o p o s i ç ã o
ETAPA 2
A
nálise
crítica
do
território
sob a perspectiva de futuro
e cidade ideal para construção de problemática relativa aos desafi-
C
onstrução de diretrizes e estratégias administrativas e pro-
os futuros e a relação entre espaço
jetuais para otimização das relações
e cidadão no perímetro de estudo.
entre espaço urbano, rural e reservas de recursos vitais no contexto de futuro previamente analisado.
17
INTRODUÇÃO À CRISE ‘É sempre muito cedo, ou muito tarde para falar das cidades do futuro.’ Homi K. Bhabha
A
arquitetura teve em sua história periodos claramente estabelecidos que impactaram significantemente na construção de nossa sociedade e deixaram sua marca para que o
futuro absorvesse, criticasse, transformasse e reciclasse ideias de modo a criar as cidades do presente.
Se o Iluminismo nos ensinou a olhar para a ciencia e absorver dela o possível para aumentar 1
:sobre vãos livres e a apropriação do espaço público.
a eficácia de nossos projetos, o modernismo deixa a interação com o espaço urbano e criação de epaços híbridos capaz de se modificar mediante a necessidade do presente¹ .
Nossa história não trouxe apenas conhecimento aplicado, mas sua evolução tambem criou e nos apresentou o atual modelo de vida ocidental adotado de tal forma que nosso crescimento, desenvolvimento e prosperidade em qualquer escala de avaliação, foi associado a consumo; assim inevitavelmente criamos um elo indissociavel entre economia, politica, sociologia, ecologia e o espaco urbano que culminou em uma crise global em todos os setores produzindo uma cidade (leia-se o espaço e seus ocupantes) de papel antropofágico que se contrapõe à tradições e valores sucumbindo perante a incerteza do novo e tecnológico, de um consumo progressista.
19
Esta sistemática se repete no processo de formação do território paulista onde, ao longo do processo de ocupação, variáveis como modelo econômico vigente, comportamento cultural e antropológico e aspirações para o futuro definiram a passagem da cidade de centros definidos e papel social e urbanístico estabelecidos (urbana ou rural) para aglomerações e territórios que se mixam as reservas naturais delimitando novas bordas, novos desafios e novas incógnitas a serem estudadas a medida que tal processo se consolida. Culminamos na crise, crise de entendimento e estagnação estratégica para o nosso território cuja mais recente consequência consiste da incapacidade de gestão e escassez de recursos vitais.
Henri Lefebvre em ‘O direito à cidade’ aponta o fato de a indústria, ao se inserir na cidade como articuladora da criação espacial, negar a cidade no que diz respeito ao reconhecimento das estruturas sociais vigentes e iniciar um processo de descontinuidade histórica propício ao cenário de crise,” fruto de uma “mudança radical” não humanista.
Se Lefebvre aponta a indústria como pivô no cenário ainda no início do processo de urbanização até o presente momento, Koolhas quando em discussão sobre a cidade contemporânea, define a situação como o ‘paradoxo do descompasso entre urbanismo e a cidade’, onde a demanda por infra-estrutura e urbanidade não é acompanhada pela capacidade de provisão por parte dos recursos ou por parte dos projetos urbanos.
20
Crise é o estado inegável que vivenciamos. Crise econômica, crise energética, crise ambiental, crise urbana, política e social; contudo, ainda que a realidade não engane, a negação desta crise, tambem é o comportamento adotado e mais aceitado em nossa sociedade contemporânea. A negação da crise é tão extrema que nas artes visuais e em nossa produção ‘literária’ contemporânea, a exemplo os filmes de ação e quadrinhos, a resposta para o estado de caos vem da figura humana aliada à progresso tecnológico e nunca se aceita o fracasso desta figura salvadora.
Recentemente a ‘corrida pela água’ no Estado de São Paulo levou os departamentos responsáveis pelo abastecimento do Estado e pela provisão de energia em escala nacional a adentrarem uma discussão legal pautada na escassez deste recurso e, em evento público para 2
:Arq. Futuro - a cidade e as águas em 23 de Setembro de 2014.
discussão da gestão de recursos hídricos², líderes políticos e de empresas pivos no modelo consumista global quando perguntados sobre planos de ação para um caso extremo de ausência completa de recursos vitais, apenas responderam que não acreditam que chegaremos a tal situação mesmo quando a certeza da mesma paira como uma sombra em nosso futuro.
Se, portanto, crise é a definição de nossa atual situação, sustentabilidade se apresenta como a solução e certamente pode ser tida como a palavra do século não somente para a arquitetura, mas para todas as áreas de conhecimento e estudo: tecnológico, científico, urbano, cultural e
21
social. Felix Guatari, em ‘The 3 Ecology’ define o presente período como sendo o da eco-geração cuja resposta para crise só pode vir de uma autêntica revolucao cultural, politica e social que remodele nossa producao material e imaterial’ no que diz respeito à produção da cidade, ‘reconhecendo o papel do território agricultor’ (Branzi, 1999), urbano e natural e, iniciando criativamente, uma mudança do meio em que vivemos a partir dos individuos de modo a atingir a sustentabilidade, a chamada: ‘ecosophy’ ou ecosofia.
Deste modo, têm-se a necessidade da correção de um padrão de negação e legitimação do atual estado de crise produzido pelo nosso modelo de consumo, um reconhecimento de que não se precisa de ‘design eficiente’ ou uma revolução cientifica, mas sim, primordialmente, necessita-se um reconhecimento de nossos territórios, riscos, dinâmica e potencialidades do mesmo, a correção de hábitos, cultura e modelo de vida. Faz-se necessário o reconhecimento da relação entre indivíduo e espaço, o reconhecimento de necessidades a serem supridas e de meios a se suprir, reconhecimento de nosso território urbano e agricultor e o estudo de possibilidades de interação dos mesmos. Ainda, como afirma Lefebvre, ‘the past, the present, the possible cannot be separated (...)’ faz-se necessário tambem um reconhecimento da história e das necessidades presentes para viabilizar nossa visualização de correções em nossos padrões de ocupação espacial e criação de uma cidade para o futuro.
Mediante tal desafio, tem-se assim o presente momento nao apenas como crítico, mas como de oportunidade criativa através do aprendizado sobre as potencialidades do território
22
ocupado em meio ao reconhecimento das falhas da sociedade contemporanea.
Sendo assim, busca-se a compreensão do território macrometropolitano no contexto apresentado tendo como centro das discussões não apenas o material concreto proveniente de analises exatas do espaço, mas também a abstração das relações humanas na busca de respostas para a cidade do futuro.
DESAFIOS ANÁLOGOS MEDIANTE A CRISE PARADOXAL
•
crescimento populacional e expansão urbana
•
equipamentos de infrastrutura e logística
•
preservação de recursos vitais
•
revisão de valores, consumo e modelo econômico
UMA DISCUSSÃO SOBRE ESCALAS
J
an Gehl em ‘Cidade para Pessoas’ (2010) destaca a importância da escala na percepção e estudo do espaço urbano. Com a afirmação de que ‘nothing happens if nothing happens’, nos
mostra que intervindo no espaço urbano determinamos, induzimos, provocamos ou neutralizamos as relações entre indivíduo e espaço e, assim, o entendimento à respeito da proporção cidade - indivíduo e fatores pertinentes a mesma, definem a efetividade do que se propõe.
Em um contexto de crise, a compreensão da cidade e intervenção na mesma determina possibilidades para o futuro da mesma. Assim, para além do objeto arquitetônico, faz-se necessário o estudo da infra-estrutura territorial e as dinâmicas visíveis e invisíveis operantes no território sob a perspectiva humana e não apenas sob a perspectiva do design, faz-se necessário um entendimento e contextualização de cidade, aglomerado urbano, região metropolitana, macrometrópole e demais escalas urbanas.
A primeira definição de cidade surgida refere-se à cidade política (a polis) da antiguidade grega definida como centro do poder e política materializada na chamada Agora. Têm-se porém, ao longo dos anos, a transformação dessa cidade lógica através da intensificação de relações comerciais, intensificação das relações humanas demandando espaços capazes de congregar a abrigar o produto das interação humana. Henri Lefebvre em O direito à cidade (2001) define a cidade como sendo ‘a projeção da sociedade sobre um local’ (p.56) sendo esta urbana ou
25
rurbana. Os reflexos da diversidade de nossa produção material e imaterial, o conflito de visões de mundo e valores no espaço compartilhado. A cidade, para além das definições geográficas, é o que se produz gerido pelos que produzem demandando estruturas capazes de amparar a continuidade desta produção: nucleos urbanos demandando a criação de urbanidade e ainda; se desdobrando na criação da chamadas cidades formais, concentradora de investimentos públicos e privados dentro de uma ordem urbana (ou quem sabe, desordem social) e a chamada cidades informais, orbitando a esfera da ilegalidade urbana e com sua carência de urbanidade. Tem-se também que, forças atuantes no território, demandatorias de infra-estruturas ocorrem de forma hierarquica e, assim, a gestão do mesmo segue a chamada escala de urbanização.
Segundo José Afonso da Silva, patrono do direito urbanístico, para além da cidade, Município constitui-se ente federativo, dotados de autonomia própria, materializada por sua capacidade de auto-organização, autogoverno, autoadministração e autolegislação capazes de compor Aglomerados Urbanos - AU que, constitui-se do agrupamento espontâneo de dois ou mais nucleos urbanos sem um polo de atração urbana, quer tais áreas sejam de cidades sede de municípios ou não; Microrregiões - MR, formadas por grupos de municípios limítrofes com certa homogeneidade e problemas administrativos comuns, cujas sedes não sejam unidas por continuidade urbana e ainda; Região Metropolitana - RM que constitui-se de um conjunto de Municípios cujas sedes se unem com certa continuidade urbana em torno de um Município-polo, capazes de exercer influência significativa não apenas sobre as regiões em que se localizam, mas também sobre localidades situadas além das fronteiras regionais, abrangendo todo o território nacional.
26
Sendo que, segundo o § 3º do art. 25 da Constituição Federal de 1988, os Estados Federados podem “mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de municípios limítrofes, visando integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum.”
O estado de São Paulo, como territõrio chave para escoação da produção agrícola e industrial Brasileira apresenta uma série de particularidades no que diz respeito a configuração territorial passíveis de análise para compeensão do futuro urbanístico do mesmo. As Regiões Metropolitanas de São Paulo, Campinas, Baixada Santista, Vale do Paraíba e Litoral Norte, focos deste estudo, sob intensos processos de urbanização, interiorização do desenvolvimento econômico e descentralização produtiva levaram a consolidação de um território com características próprias, estruturado por uma rede de fluxos e articulações funcionais: Macrometrópole Paulista.
Dotada de singular potencialidades geográficas e urbanas extremamente favoráveis ao desenvolvimentos econômico, social e urbano, configura-se como uma região extensa, complexa e dinâmica, sem paralelos no País cuja gestão de sistemas atuantes interfere em todas as sub-escalas. Assim, partindo do princípio de que ‘something happens, because something happens’, tem -se a macrometrópole paulista como objeto de análise para o presente estudo sob o enfoque de seu eixo logístico, de modo que, ações em seu perímetro possam contribuir para o desenvolvimento futuro das cidades no que diz respeito não apenas à urbanidade, mas também qualidade de vida.
27
28
IMAGEM 1: Perímetro macrometropolitano destacando a diagonal logística de enfoque analítico, compreendido entre o Porto de Santos, seguindo pela Av. Anhanguera até o tridente rodoviario que leva ao limite estadual por Mogi, Limeira e Piracicaba.
FONTE: SOBREPOSIÇÃO DE DADOS DA EMPLASA (2014) E IBGE (2010) ELABORADA PELO AUTOR EM AUTOCAD E ILUSTRATOR.
Desta forma, tem-se o foco de análise no presente estudo, do ponto de vista das transformações e dinâmicas urbanas e relação com recursos vitais e aspectos geográficos do mesmo.
LEITURA
ETAPA 1
DO TERRITÓRIO
OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO MACROMETROPOLITANO DADOS GERAIS DA MACROMETROPOLE PAULISTA
•
A Macrometrópole ocupa a porção sudoeste do Estado, com 49 911,20 quilômetros quadrados de área (20,11% do território paulista e 0,48% da superfície nacional).
•
173 municipios com 30 milhões de habitantes, correnspondendo a 75% do estado e 16% da nação distribuidos conforme gráfico 2 e com um perfil de envelhecimento conforme dados do Censo 2010 do IBGE.
•
9 URGH’s e 4 RM’s (imagem 2) distribuidas em 21% da área total do estado.
•
83% do PIB estadual e 28% do PIB nacional cuja diagonal de estudo caracteriza-se por uma densidade superior a R$1750 por km² distribuido conforme gráfico 1.
•
dependência funcional de infra-estrutura entre regiões metropolitanas em processo de conurbação.
GRAFICO 1: CONTRIBUIÇÃO NO PIB DA MMP - 2010
FONTE: IBGE, 2010.
GRAFICO 2: DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO NA MMP - 2010
FONTE: IBGE, 2010.
33
IMAGEM 2: URGHI’S E UNIDADES URBANAS DA MACROMETRÓPOLE
0
35
70
km
FONTE: IGC; DER, 2003; EMPLASA, SEADE, SEP, 2010; LEI ESTADUAL N° 9.034, 1994.
34
C
hamada fenômeno-urbano regional complexo, a macrometrópole paulista demanda uma gestão territorial integrada de modo a atender as necessidades urbanas de uma área em
crescente processo de urbanização com grande concentração econômica.
Em 1990, o território em questão passou a ser analisado cientificamente como uma unidade urbana, contudo, apenas em 2008 o mesmo passa a ser reconhecido explicitamente pelo governo estadual como espaço para políticas integradas através do Decreto Estadual nº 52.748/2008, que, passa a definir a Macrometrópole, obrigatoriamente, como espaço de planejamento do Plano Diretor de Recursos Hídricos devido a sua relevância na contribuição das bacias responsáveis pelo abastecimento das áreas mais densamente povoadas através de mananciais, nascentes e condições geográficas.
Se a macrometrópole faceia o desafio de uma crescente urbanização beirando taxas superiores a 95%, seu perfil populacional curiosamente caminha na direção contrária. Conforme apontado pelo IBGE no Ceno de 2010, a macrometrópole apresenta um perfil de redução do crescimento populacional (0,97%) em função da redução da taxa de fecundidade e consequente envelhecimento da mesma em função da redução de mortalidade. Tal situação acabou por refletir na estrutura da piramide etária que passou a evidenciar um aumento da População em Idade Ativa (PIA) e do número de pessoas idosas.
Ainda sobre o perfil populacional da Macrometrópole, em uma perspectiva de futuro, a fundação SEADE aponta que, apesar da previsão de acréscimo populacional em 6,3 milhões
35
durante os próximos 30 anos, a taxa de fecundidade e mortalidade se mantém, caracterizando esse acréscimo populacional como oriúndo não apenas de nascimentos, mas da mobilidade territorial em âmbito nacional. Têm-se também, uma previsão de envelhecimento da população para os próximos 10 anos exemplificados nos gráficos apresentados pelo IBGE.
IMAGEM 3: PREVISÃO DE PERFIL POPULACIONAL NO ESTADO PARA OS PRÓXIMOS 20 ANOS
FONTE: IBGE, 2010.
36
Nota-se ainda que, segundo dados da Fundação Seade (Imagem 4), o crescimento da mancha urbana, contrário as manchas consolidadas, concentra-se fora das RM’s e grandes aglomerados urbanos, provocando pressão em áreas produtoras e - ou de reservas vitais.
IMAGEM 4
Se há portanto uma intensificação da mancha urbana e um crescimento populacional, a Seade evidencia que 3,4 milhões da população acrescida serão atendidas pela bacia do Alto Tietê. (SEADE,2010)
Outro fator significante a ser considerado na análise do perfil populacional do território macrometropolitano é sua relação com o desenvolvimento econômico do mesmo no período
37
futuro.
Com sua relevância econômica a nível nacional devido ao seu histórico ocupacional e oferta de equipamentos logístico para escoação de produção industrial, a especulação de uma situação futura deste território sob perspectiva de crise nos leva ao padrão global observado onde, em resposta aos problemas da sociedade contemporânea a indústria tende a responder com uma mecanização de seus processos de produção reduzindo a oferta de empregos e impactando no movimento populacional territorial.
Está claro pelos dados do IBGE e Fundação SEADE o aumento a curto prazo da População Economicamente ativa, que em parte, se dá justamente devido a uma intensificação na instalação de indústrias nas imediações do eixo logístico macrometropolitano nos últimos 10 anos. Ainda, apesar do crescimento da população economicamente ativa, a longo prazo com a reversão do perfil populacional para um padrão mais idoso, configura-se uma necessidade de resposta por parte do planejar e gerir o espaço urbano capaz de ofertar a infra-estrutura necessária para capacitar sua população e atender suas necessidades dinâmicas, de certa forma efêmeras, combatendo a crise paradoxal de descompasso entre a intensificação urbana e urbanidade.
Tem-se então grande desafio na gestão de recursos vitais e econômicos para um território de processos únicos, a serem detalhados a seguir, não observados anteriormente em escala nacional.
38
a. histórico de ocupação do território
IMAGEM 5: MANCHAS URBANAS PÓS 70.
0
35
70
km
FONTE: EMPLASA, 2010.
E
m ‘O direito à Cidade’, Henri Lefebvre discorre a respeito do papel da indústria
no processo de urbanização territorial e afirma sua função indutora da transformação
IMAGEM 6: CRESCIMENTO DA MANCHA URBANA RMSP socio - urbana, quando o capital passa a determinar os rumos da espacialização do viver coletivo. Tal conceito pode ser facilmente observado no processo de ocupação do ter-
39
ritório Paulista.
São Paulo sofreu uma crescente urbanização na década de 40 quando em um momento histórico propício à expansão industrial, tecelagens e indústrias alimentícias se instalaram no interior do estado a área se tornou um atrativo empregatício em âmbito nacional. Com o pós - guerra, a região se consolidou e passou a atrair também indústrias de produção tecnológica. Os reflexos espaciais desta situação acabam por configurar uma cidade onde se observa claramente as fronteiras entre campo produtor e unidade urbana permitindo uma clara leitura do território e, ainda o SIMESP - Sistema de Informações Municipais de São Paulo aponta um crescimento populacional entre 1% e 2% com uma taxa de urbanização na ordem dos 75% em um período onde a preocupação com a concepção espacial urbana estava em foco justamente devido às novas tecnologias automobilísticas intervindo na dinâmica urbana.
Já na década de 70, reflexos de uma economia globalizada pós industrial São Paulo se firma como centro econômico no país e o fluxo migratório para a região se intensifica configurando uma situação onde a política, os aspectos sociais e econômicos do país passam a refletir na configuração espacial da produção urbana. Tem-se o início de uma esfacelação do tecido urbano rompendo com as fronteiras administrativas ‘municipais’ e seus núcleos coesos iniciando a demanda por um planejamento integrado que culmina na realidade apontada pelas manchas urbanas do levantamento elaborado em 2011 (IMAGEM 7), com uma situação onde os tecidos urbanos se pulverizam no território através da produção de cidades e não cidades, amparadas em uma especulação imobiliária contínua e em um modelo econômico que conscientemente
40
IMAGEM 7: MANCHA URBANA NO ANO DE 2011
0
35
70
km
FONTE: EMPLASA, 2010.
ou não, ignora a relevância do território produtor em um contexto de futuro das cidades e contribui para o aumento de pressão em reservas vitais de suporte à vida.
T
em-se ainda, como agravante da situação, 2,68 milhões de pessoas residindo em assentamentos subnormais (favelas, invasões e áreas de risco) e precários que se pulverizam no
território (IMAGEM 8) a partir dos grandes aglomerados urbanos e centros econômicos, enfatizando a criação de núcleos carentes de infra-estrutura demandando resposta imediata dos poderes públicos no que diz respeito a gestão territorial integrada para garantir o abastecimento desses nucleos sem pressionar os nucleos consolidades e cuidando para sua relação com reservas vitais e regiões produtoras do território paulista.
41
IMAGEM 8: TIPO DE AGRUPAMENTOS.
Legenda ASSENTAMENTOS SUBNORMAIS ASSENTAMENTOS PRECARIOS ASSENTAMENTOS URBANOS ASSENTAMENTOS NÃO CONTEMPLADOS ASSENTAMENTOS RURAIS
FONTE: IBGE, 2010.
IMAGEM 9: USO DO SOLO NAS IMEDIAÇÕES DA DIAGONAL
Legenda SERVIÇOS SERVIÇOS E ADM. PUBLICA AGROPECUARIO AGROPECUARIO DE RELEVANCIA ESTADUAL INDUSTRIA INDUSTRIA DE RELEVANCIA NACIONAL
FONTE: IBGE, 2010.
42
MULTISSETORIAL
b. ocupação, uso do solo e contribuição econômica
E
m observação do mapa de uso de solo (IMAGEM 9), tem-se a confirmação do processo iniciado pós década de 40, onde as indústrias se instalaram no território e fixaram per-
manência no eixo da diagonal logística de modo a facilitar a escoação da produção a nível nacional e internacionalmente através do Porto de Santos e dos aeroportos inseridos na Região Metropolitana de São Paulo e Região Metropolitada de Campinas (equipamentos responsáveis pela escoação de 73% da produção nacional).
Nota-se também a polarização da oferta de serviços e centralização multissetorial em função das Regiões Metropolitanas levando a uma indagação à respeito da contribuição econômica oriúnda deste território, visto que, segundo dados da SEADE, 82,7% do PIB paulista foram produzidos neste território no ano de 2009.
Assim, conforme o mapa da contribuição no PIB - Produto Interno Bruto (IMAGEM 10) e dados da SEADE (TABELA 1), têm-se que a maior contribuição vem das áreas industriais e nos grandes aglomerados urbanos, configurando uma concentração econômica ainda maior que a populacional nas RM’s de São Paulo (56,5% do PIB e 47,70% da população) e Campinas (7,9% do PIB e 6,8% da população) e, apesar da polarização das ofertas de serviços, estas não fazem parte da maior contribuição em resultados.
43
IMAGEM 10: CONTRIBUIÇÃO PARA O PIB EM MIL REAIS
FONTE: IBGE, 2010.
TABELA 1: CONTRIBUIÇÃO PARA O PIB POR REGIÃO PERFIL DA POPULAÇÃO NO TERRITÓRIO ANALISADO:
Índice de Envelhecimento: 64,32% População com Menos de 15 Anos: 19,99% População com 60 Anos: 12,85% Razão de Sexos: 94,79% Taxa de Natalidade (Por mil habitantes): 14,7 TGCA 2000-2010: 1,10% FONTE: SEADE, 2014.
44
c. equipamentos urbanos
A
inda em ‘O direito à cidade’, Henri Lefebvre discorre a respeito dos fatores morfológicos de realidade prático - sensíveil componentes do espaço que constroem a condição urba-
na e fazem desta a cidade de direito ao cidadão refletindo na qualidade de vida proporcionada e nas condições de habitabilidade da mesma. Sobre o mesmo assunto, Villaça em ‘Espaço Intra-urbano no Brasil’ ainda aponta a inerência dos equipamentos de infra-estrutura urbana na configuração socio-espacial. Villaça, Flavio. Espaço Intra-Urbano , 2001. P. 36
“Não se trata apenas de partir do social para explicar o espaço, mas, ao contrário, é importante também partir do espaço para explicar o social.”
IMAGEM 11: EQUIPAMENTOS DE SAÚDE
LEGENDA 0 HOSPITAIS UNIDADES DE ATENDIMENTO
35
70 km
FONTE: EMPLASA, 2014
45
IMAGEM 12: EQUIP. EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO TECNÓLOGICO
LEGENDA UNIVERSIDADE FACULDADE ESCOLA TÉCNICA
CENTRO TECNOLOGICO CT RMSP CT RMC CT RMVP
INSTITUTO DE PESQUISA IP RMSP IP RMBS IP IPEUNA IP RMC IP RMVP IP
PARQUE TECNOLOGICO RMSP - USP RMC - UNICAMP, RMBS 0
35
70
km
RMVP AU PIRACICABA
FONTE: EMPLASA, 2014
Tem-se então que o poderio econômico, bem como potencial de desenvolvimento do território acaba por estar diretamente conectado à distribuição de urbanidade no mesmo.
Em um mapeamento desenvolvido pela EMPLASA em 2014 é possível verificar como se comporta o perímetro de estudo com relação a oferta de infra-estrutura básica e de imediato, observa-se a contralização de equipamentos nas duas principais RM’s (Campinas e São Paulo) bem como em suas transversais (Eixo de Jundiaí e São José dos Campos), não apenas de saúde (considerados de maior sofisticação e recebendo mais da metade das
46
AU SOROCABA
LEGENDA
IMAGEM 13: EQUIP. DE SERVIÇOS E COMÉRCIO
CENTRO DISTRIBUIÇÃO DEPÓSITO TRANSPORTADORA ATACADISTA HIPERMERCADO SHOPPING
0
35
70
km
FONTE: EMPLASA, 2014
autorizações de internação hospitalar ocorridas no Estado) e educação (básicos de carater público), mas também de serviços e comércios.
Com tal mapeamento, tem-se ainda que a reduzida contribuição para o PIB nos territórios cuja renda provém predominantemente da oferta de serviços não se deve ao tipo - origem da mesma, mas sim pelo fato de que a competitividade com os municípios no eixo logístico vai além da centralização de recursos oriúndos da indústria para esbarrar também na infra-estrutura urbana da mesma como afirma Villaça.
47
GEOGRAFIA a. hipsometria LEGENDA 2500m 1400m 1200m 1000m 800m 600m 400m 200m 100m
FONTE: DESENHO DA AUTORA SOBRE MAPA ESTADUAL DE AB’ SABER.
U
ma breve análise da hipsometria macrometropolitana e alguns dos aspectos morfológicos urbanos da mesma acabam por se justificar. Com um relevo acentuado em suas bor-
das, a geografia da área induz a ocupação territorial observada até então e nos permite investigações à respeito das possibilidades em futuro próximo.
49
b. perfil geológico
FONTE: DESENHO DO AUTOR SOBRE MAPA GEOLÓGICO DE AB’ SABER.
Perfil composto de 4 unidades de relevo predominantes onde é possível notar o maior desafio à ocupação urbana e sistemas de infra-estrutura configurado pela grande Depressão Periférica Paulista (delimitada em vermelho).
50
Com a Serra do Mar delimitando as bordas do Planalto e configurando-se como barreira de acesso e ocupação à planície, a mesma acaba por seguir o desenho hidrográfico se impondo entre as Serras da Mantiqueira e do Japi para então se distribuir no território .
Importante notar que, vencida a barreira da Serra do Mar no sentido Noroeste, o Planalto Cristalino ainda segue delimitando a ocupação do território a partir da transversal que conecta São Paulo ao Rio de Janeiro criando um corredor montanhoso à Nordeste entre as Serras da Mantiqueira, Serra do Mar e Serra da Bocaina configurando a possibilidade de crescimento das manchas urbanas apenas em configuração linear.
Há ainda a noroeste a Grande Depressão Periférica que também conhecida por Serra Geral, se extende até o Rio grande do Sul configurando paredões basálticos e de rochas sedimentares com cerca de 200 metros de desnível traduzindo-se assim em significativa barreira geográfica no território.
FONTE: IBGE.
Tais aspectos contribuem ainda para a formação do perfil bioclimático da região onde, seis modalidades climáticas do sistema de classificação de Köppen ocorrem em São Paulo: os tipos Af e Aw (subúmido encontrado em regiões mais baixas com maior índice pluviométrico), Cfa, Cfb (clima subtropical registrado no Planalto), Cwa e Cwb (correspondem ao clima tropical de altitude das serras).
51
c. cobertura vegetal e áreas verdes IMAGEM 17: ÁREAS VERDES E RESERVAS DO TERRITÓRIO LEGENDA MANCHA URBANA APA RESERVA ESTADUAL ARIE - INTERESSE ECOLOGICO FLORESTA NACIONAL
0
35
70
km
FONTE: EMPLASA, 2014
A
brigando o outrora chamado Cinturão Verde, a macrometrópole abriga em seu território um conjunto de Unidades de Conservação com categorias variadas de proteção in-
tegrando os 17,3% de vegetação original remanescente em nosso território, dentre os quais os parques estaduais das Serras do Mar e da Cantareira, as áreas de proteção ambiental federais da Bacia do Rio Paraíba do Sul e da Serra da Mantiqueira, as áreas estaduais de proteção ambiental de Piracicaba e Juqueri-Mirim, Corumbataí-Botucatu-Tejupá, bem como as do Sistema Cantareira e da Várzea do Rio Tietê.
52
Também são relevantes as áreas naturais tombadas das Serras do Mar e de Paranapiacaba, das Serras do Japi, Guaxinduba e Jaguacoara e a Reserva Florestal do Morro Grande.
Contudo, um problema comum à metropoles em desenvolvimento ameaça tais reservas: a expansão morfológica da cidade informal e a busca por habitação em grandes centros urbanos constituida de ocupações irregular principalmente em áreas de proteção de mananciais (APM’s) levaram revisão legislativa nos últimos anos, assim, busca-se estabelecer parâmetros de uso e ocupação do solo para minimizar o adensamento populacional e a poluição de águas.
Com uma significativa contribuição para o perfil econômico do estado, o avanço de áreas agropecuárias também se apresentam como ameaça às reservas e ainda, somado a tal situação, tem-se que, nos últimos anos a especulação imobiliária passa a atingir as bordas de tais reservas e, em contraste à acelerada dinêmica urbana dos grandes centros, a qualidade de vida proporcionada pela proximidade com reservas passou a ser um atrativo para empreendimentos na cidade formal. Se oferece a qualidade de vida, o direito à uma cidade mais ‘natural’ desde que se possa pagar por esta e assim, é possível dizer que nossas reservas assumem caráter de moeda.
Se por um lado o valor monetário dado as reservas vitais pela expeculação imobiliária afirma o caráter capitalista de nossas cidades, especula-se a possibilidade do mesmo contribuir para um quadro positivo recente no território onde, a partir de 1990, segundo dados do Instituto Florestal, observou-se a redução de desmatamento do território e um crescente aumento de
53
áreas de vegetação espersa (IMAGEM 18) em recuperação do ponto de vista em que, com o valor capital, a reinserção da vegetação no ambiente urbano se faz mais frequente.
Contudo, é importante ainda afirmar o impacto biológico da expansão urbana sob as reservas do território e os ecossistemas alí criados, visto que, na impossibilidade de expansão e coexistência com as cidades de concreto, a fragmentação do tecido verde sobre o território e as pressões sofridas pela dinâmica territorial, os mesmos se encontram fadados à processos de extinção compremetendo o equilíbrio ambiental do perímetro de estudo.
Assim, o SINFESP - Sistema de Informações Florestais do estado de São Paulo apresentou em 2011 o chamado Mapa de Conectividade do estado de São Paulo (IMAGEM 19), esclarecendo melhor a urgência na busca por conectividade dos tecidos verdes fragmentados tendo por base a sobreposição de grupos de trabalho e estudo em vegetação criptógamas (sem flores) e fanerógamas (com flores), aracnideos, répteis, anfíbios, peixes, aves, insetos, mamíferos já ameaçados ou não.
Têm-se portanto a evidência de necessidade de estratégia projetual e administrativa que passe a integrar os tecidos verdes à dinâmica urbana permitindo sua conectividade espacial e garantindo a perpetuação da diversidade de espécies e formas de vida na macrometrópole.
54
IMAGEM 18: TIPO DE COBERTURA VEGETAL LEGENDA FLORESTA OMBROFILA DENSA FLORESTA OMBROFILA MISTA FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECIDUAL SAVANA FORMAÇÃO ARBOREA - VARZEA FORMAÇÃO ARBOREA - MARINHA REPRESAS
0
35
70
km
FONTE: DESENHO DA AUTORA SOBRE MAPA DO SINFESP.
LEGENDA
urgência em conexão de fragmentos coincidindo com áreas agropecuárias e de processo de intensificação industrial e urbana
IMAGEM 19: MAPA DE URGÊNCIA DE CONECTIVIDADE DE TECIDOS
0
35
70
km
FONTE: DESENHO DA AUTORA SOBRE MAPA DO SINFESP.
55
d. hidrografia IMAGEM 20: MAPA HIDROGRÁFICO DO TERRITÓRIO ssão para elevada pre nto abastecime
eleva do tamin índice d e con ação -
FONTE: DESENHO DO AUTOR SOBRE MAPA DE AB’ SABER.
IMAGEM 21: AQUÍFEROS SUBTERRÂNEOS
T
endo o estado 22 UGRHI’s e alta capacidade de produção
de água (3 120 m3 por segundo sendo esta superior à demanda estadual de 830 m3-s), a região macrometropolitana abrange 9 destas, dentre
56
as tais a UGRHI 6, Alto Tietê, que concentra a área urbanizada da RMSP e apresenta as maiores demandas de água total e urbana do Estado, com predominância do abastecimento urbano (79,3% do total, quase à metade de toda a procura urbana do Estado) e configurando um quadro de pressão nos recursos , visto que, as 22 URGHI’s juntas possuem elevada produção mas, individualmente, há um descompasso entre os números de capacidade e demanda.
Segundo a EMPLASA, também em situação crítica as UGRHIs industriais 5 (Piracicaba/Capivari/Jundiaí), 7 (Baixada Santista) e 10 (Tietê/Sorocaba), que usam transposição para suprir as demandas umas das outras o quadro que se tem é de elevada pressão sob este recurso onde, falhas de gestão podem comprometer o continuado desenvolvimento do perímetro de estudo e o abastecimento das manchas urbanas consolidadas como ocorrido no presente ano, onde a deminuição no índice pluviometrico somado à má gestão de recursos hidrícos nos levou a um quadro compremetedor não somente para a Bacia do Alto Tietê, mas para todas as que contribuem para o abastecimento das grandes RM’s.
Tem-se ainda um quadro onde, em um território que se desenvolveu às margens e por causa de seus rios, a relação da população urbana com os mesmos encontra-se tão deteriorada que compromete sua existência à medida que a cidade interrompe sua relação cotidiana com eles e passa a vê-los como barreira urbana. O resultado de tal relação só poderia resultar na perca destes como sendo parte do sistema de abastecimento para configurar um sistema contaminado de recursos comprometidos.
57
e. contaminação e vulnerabilidade de território IMAGEM 22: CONTAMINAÇÃO DE RECURSOS HIDRÍCOS LEGENDA CONTAMINADA CONTAMINADA SOB INVESTIGAÇÃO MONITORAMENTO PARA RECUP. RECUPERADA
UGRHI’S 1 - MANTIQUEIRA 2- PARAÍBA DO SUL 3 - LITORAL NORTE 5 - PIRACICABA, CAPIVARI, JUNDIAI 6 - ALTO TIETÊ 7 - BAIXADA SANTISTA 9 - MOGI GUAÇÚ 10 - TIETÊ-SOROCABA 0
35
70
km
FONTE: DAEE, 2012.
P
ara além das pressões sofridas pelas reservas vegetais e hídricas no território, uma 63% análisa apresentada pela DAEE (IMAGEM 22) demonstrando o índice de contaminação
de recursos hídricos aponta a relação entre manchas urbanas e seu eixo logístico com o comprometimento das águas no perímetro de estudo. Assim, quanto mais denso o núcleo urbano maior a quantidade de áreas afetadas devido à, principalmente, a gestão de detritos despejados em rios .
É importante enfatizar que, tendo a previsão de intensificação de mancha urbana nos
58
dos municípios da Macrometrópole registram o Índice de Coleta e Tratabilidade de Esgotos da População Urbana dos Municípios (ICTEM) inferior a 5 (em classificação de 1 a 10). Destes, 17% estão abaixo do índice 1.
IMAGEM 23: VULNERABILIDADE DE ÁQUÍFEROS LEGENDA ALTO - ALTO ALTO - BAIXO MÉDIO - ALTO MÉDIO - BAIXO BAIXO - ALTO BAIXO - BAIXO
0
35
70
km
FONTE: DAEE, 2012.
próximos 20 anos dentro do perímetro abastecido pela UGRHI’s do Alto Tietê (IBGE), a contaminação acentuada da mesma compromete o abastecimento da população futura.
Tendo em vista o iminente crescimento das manchas urbanas e as áreas já contaminadas “A sociological und erstanding of vulnerability certainly has a crucial no território, é possível verificar ainda, em análise da DAEE (IMAGEM 23) a vulnerabilidade relationship to the future, but also has histori- ambiental de aquíferos e áreas de contribuição para os mesmos. Verifica-se também o elevado cal depth.” Beck, Ulrich. risco de contaminação a medida que se aproxima do aquífero Guarani (IMAGEM 21) e de áreas 2001. de proteção ambiental a nível estadual como a Serra da Mantiqueira .
59
MOBILIDADE E DINÂMICA TERRITORIAL IMAGEM 24: PRINCIPAIS EIXOS DE MOBILIDADE
LEGENDA RODOANEL FERROVIAS HIDROANEL PRINCIPAIS RODOVIAS
0
35
70
km
FONTE: DESENHO DO AUTOR SOBRE MAPA DA EMPLASA, 2014.
A
região macrometropolitana de São Paulo caracteriza-se por ser privilegiada em âmbito nacional no quesito transporte. Historicamente abriga os principais caminhos de aden-
tramento ao território a partir do litoral, com rodovias que conectam São Paulo e a coloca como articuladora com as demais regiões do país. Também a primeira região a receber a implantação de uma ferrovia devido à sua ocupação industrial, conectada ao Porto de Santos e aos aeroportos de Cumbica e Viracopos têm o principal eixo de escoação produtiva da América Latina sendo que , constitui de 63% do total da escoação estadual.
61
Com a implantação do Rodoanel, a dinâmica territórial foi otimizada, visto que, de modo a atender a pendularidade diária entre as Regiões Metropolitanas, não se faz mais necessário o adentramento no perímetro intra-urbano da RMSP.
Contudo, apesar de um sistema de transportes significativo, o mesmo não é capaz de acompanhar o ritmo de crescimento urbano único da macrometrópole e, com a ausência de alternativa para conexão intermunicipa e interestadual de passageiros que vá além das rodovias, acaba por sofrer de uma sobrecarga diária. Em contrapatida, há a previsão de investimento (tímidos) nesse sistema a partir do aproveitamento dos recursos hidrícos, expandindo a hidrovia Paraná - Tietê, implantando ferrovias de alta velocidade para cargas e passageiros e conectando esta ao possível hidroanel. Tem-se ainda a previsão de aumento de capacidade dos aeroportos de Viracopos e Campinas para cargas e passageiros.
Claramente, tais investimentos nos sistemas de transportes influenciam na ocupação do território presente e futura bem como no desenvolvimento econômico do mesmo, visto que, tendo o capital como principal influencia nos tecidos urbanos, a capacidade de produção e escoação de sua produção para trocas comerciais em um território ditam o valor (econômico e não econômico) do mesmo, provocando desafios no que diz respeito à gestão territorial e intervenção espacial no mesmo. Têm-se ainda a noção de que efetivas intervenções nesse sistema dependem de uma indissociavel revolução cultural no que diz respeito à mobilidade urbana visto que se tem, segundo dados do IBGE (2012) um aumento expressivo da motorização individual (automóveis e motocicletas) nos últimos 2 anos.
62
a. projetos de expansão do sistema de mobilidade
C FONTE: EPL - Empresa de Planejamento e Logística S.A. , responsável pelo estudo de viabilidade projetual.
om a promessa de induzir o investimento regional e contribuir para o alívio de pressão sobre o atual sistema de infra-estrura, pelo Decreto nº 6.256/07, o Gover-
no Federal incluiu no Programa Nacional de Desestatização – PND a Estrada de Ferro – 222 destinada à implantação de trem de alta velocidade, ligando os Municípios do Rio de Janeiro, São Paulo e Campinas e prometendo vencer a distância de 600 km em apenas 2 horas com a vantagem de reduzir o impacto ambiental causado por tal viagem se, comparado com a viagem rodoviária. Tem-se porém, antecedendo a continuidade e execução do projeto, os desafios geográficos apresentados pelo território.
IMAGEM 25: TAV ‐ TREM DE ALTA VELOCIDADE INTERESTADUAL
63
IMAGEM 26: HIDROANEL E SUA INTEGRAÇÃO À MACROMETROPOLE
LEGENDA EXT. HIDROVIA TIETÊ - PARANÁ HIDROANEL FERROVIA FERROANEL RODOANEL TERMINAL LOGÍSTICO
FONTE: METROPOLE FLUVIAL, 2012.
A
nível macrometropolitano o estudo de viabilidade técnica para o projeto do Hidroanel desenvolvido pelo Grupo Metrópole Fluvial liderado por Alexandre Delijaicovic e, basea-
do na possibilidade de uso múltiplo das águas, apresenta a possibilidade de integração entre a hidrovia Tietê - Paraná com o sistema de ferrovia expressa para cargas e com o Hidroanel a ser implantado na RMSP. Tal projeto, prevê uma transferência do fluxo de transporte de cargas das rodovias para o novo eixo criado, afirmando o caráter publico dos rios e constribuindo para a redução de pressão em reservas vitais.
64
S O
ciou em 2014 um processo de expansão que prevê, ao longo de cinco eta-
C
pas a elevação de sua capacidade de passageiros de 20 milhões de passage-
A
iros - ano para 80 milhões de passageiros - ano que somada à um ‘Master Plan’
R
O P
da Concessionária Viracopos, o Aeroporto Internacional de Viracopos ini-
para Viracopos prevê
I
Com uma concessão de 30 anos nas mãos da empresa holandesa NACO e
tos financeiros para a região e intensificação da urbanização nos arredores.
empreendimen-
V
uma reforma urbana capaz de atrair
Para o Porto de Santos está prevista a construção de uma extensão na Ilha de Barnabé e Bagrinhos ampliando sua área em 6.5 milhões de m2 que garantirá o aporte de cerca de R$ 4,8 bilhões em investimentos públicos e privados nos próximos 10 anos. Além da Ilha de Barnabé, seis novas áreas estão em análise para incorporar o masterplan de expansão do porto que ambicioso,
Contudo, o aumento de sua capacidade já reflete na movimentação do mercado imobiliário local e
entende-se o projeto como catalisador de transfor-
mação urbana local impactante nas estruturas regionais e macrometropolitanas.
C I B
banísticos para atração de empreendimentos ou reforma urbana nos arredores.
M
60 milhões de pessoas - ano nos próximos 20 anos, não iniciou estudos ur-
U
prevendo um aumento de sua capacidade de 12 milhões de pessoas - ano para
C
Contrário aos investimentos vigente, o aeroporto de Guarulhos é o único que,
A
busca escoar 229,73 milhões de toneladas até 2024.
65
b. movimento pendular e implicações no território IMAGEM 27: FLUXOS ESTADUAIS E INTERESTADUAIS LEGENDA MAIS DE 10 MIL NO ESTADO DE 5 A 10 MIL NO ESTADO
ATÉ 10 MIL PARA OUTROS ESTADOS MAIS DE 10 MIL PARA OUTROS ESTADOS
0
40 km
FONTE: EMPLASA, 2014.
IMAGEM 28: PENDULARIDADE ESCOLA ‐ TRABALHO LEGENDA PRIMEIRO FLUXO SEGUNDO FLUXO TERCEIRO FLUXO
0
40 km
FONTE: EMPLASA, 2014.
66
A
pesar dos investimentos neste sistema de transportes macrometropolitano, a atual centralização econômica e de serviços em contraposição a descentralização residencial,
inevitavelmente atua como principal fator para a criação de um movimento pendular na macrometrópole liderado pela população economicamente ativa (TABELA 2) sendo que, segundo dados da EMPLASA (2014),boa parte direciona-se para o Município de São Paulo, que recebe diariamente 671 116 pessoas para trabalhar ou estudar (42% do total).
Observa-se também que ha um aintensificação do movimento no eixo logístico principalmente pelas relações econômicas e de oferta de serviços estabelecidas entre a RM de Campinas e RM de São Paulo. Tem-se que a intensidade de circulação e trocas nesse espaço privilegiado por seu índice de urbanidade resulta em um grande adensamento de fluxos que, segundo o DER (2008), alcança o índice de 50% dos fluxos econômicos circulantes no estado.
Devido aos pontos de equipamento logísticos, o perímetro de estudo também abriga uma intensa movimentação interestadual, tendo em sua discussão urbanística relevância não apenas regional, mas de cunho nacional.
TABELA 2: PENDULARES POR GRUPO ETÁRIO Observa-se maior fluxo pendular entre a PEA - População Economicamente Ativa.
FONTE: IBGE, 2010.
67
POTENCIALIDADES DO TERRITÓRIO NO PRESENTE E FUTURO
A
ssim, com o presente perfil econômico, urbano, ambiental e demográfico passa-se a analisar o território sob a perspectiva de futuro dos tecidos urbanos no
eixo logístico e orbitantes do mesmo.
O IBGE, em análise estatística da macrometrópole, com base no crescimento apresentado nos últimos 10 anos e tendencias observadas na morfologia do tecido urbano indicou no Censo 2010 as áreas passíveis de expansão urbana e intensificação de investimentos econômicos (IMAGEM 29).
Não coincidentemente, tais áreas consistem de transversais ou paralelas ao eixo logístico passíveis de conexão com o mesmo em futuro próximo através do projetos de expansão da mobilidade urbana apresentados que, não aleatoriamente, são propostas ao território em função de suas características econômicas, geográficas e sociais.
Porém, apesar das facilidades do eixo, o desafio observado está justamente no confronto dessas áreas com a previsão demográfica do IBGE que apontam o envelhecimento da população e diminuição da PEA - População Economicamente Ativa em áreas passíveis de novos investimentos industriais com oportunidades de negócios em um conflito claro de alinhamento estratégico. 69
IMAGEM 29: CRESCIMENTO E OPORTUNIDADE NOS PRÓXIMOS 20 ANOS. CENTRO DE PESQUISA E INDÚSTRIA PONTO LOGÍSTICO ESTRATÉGIO EIXO URBANO, INDUSTRIAL E TURÍSTICO
INDÚSTRIA COM DESTAQUE PARA PROD. AGRÍCOLA
FONTE: IMAGEM DO AUTOR EM CAD SOBREPONDO DADOS DA DAEE E EMPLASA.
LEGENDA
ÁREA DE CONTRIBUIÇÃO DE AQUÍFEROS ÁREA COM PREVISÃO DE INVESTIMENTO ECONÔMICO ÁREA COM PREVISÃO DE INTENSIFICAÇÃO E CRESCIMENTO URBANO ÁREA DE CULTURA ÁREA DE PASTAGEM ÁREA DE PRESERVAÇÃO A NÍVEL ESTADUAL ÁREA DE PRESERVAÇÃO A NÍVEL NACIONAL
Observa-se também que se confirmada a expansão urbana apontada, enfrentamos o desafio de mediar as relações entre espaço urbano (a ser provido) e rural (a prover), visto que a área recebendo investimentos logísticos já no presente, capaz de impactar na ocupação territorial do futuro consiste de terras de cultivo hoje abrigando em grande parte o cultivo de cana de açúcar e laranja.
Para além do território produtor, observa-se uma pressão nas áreas contribuintes de mananciais e em áreas de preservação em um contexto onde tais recursos, em consequência das respostas dadas aos desafios de gestão dos mesmos, já desafiam o abastecimento dos núcleos urbanos e; a convergência da intensificação da mancha urbana com áreas em que
se busca a intensificação de cobertura vegetal visando a preservação do ecossistema apresenta-se nesta equação como um desafio que necessita de respostas espaciais e administrativas.
Se observada e contraposta a mancha de previsão de crescimento dos próximos 30 anos proposta pelo SEADE ao equipamentos de infra-estrutura, têm-se uma centralização de urbanidade, onde os núcleos futuros, carentes de oferta de serviços e condicionantes básicos para desenvolvimento, intensificam a possibilidade de um deslocamento diário dentro do perímetro.
Ao comparar com o desenvolvimento econômico apresentado pelo IBGE, origem do PIB e com o uso do solo, tem-se ainda que as áreas mais carentes de equipamentos caracterizam-se por um uso industrial agropecuário. Assim, se análisada a situação em um contexto de crise e
71
o padrão global indicativo de que em situações similares a tendência de um país é a modernização tecnológica de seus processos produtivos, a carência de equipamentos que viabilizem tal resposta à crise em regiões que não a RM de Campinas ou São Paulo, nos leva previsão de uma necessidade intensificada de descentralização da referida urbanidade.
Se portanto, como afirmou ‘Felix Guatari’ em ‘The 3 Ecology’ (2010), do desafio surge a
is ersa o v s x n tra s ao ei e r ent ctora e con stico logí
oportunidade de resposta criativa e revolução na realidade urbana, as áreas de crescimento apontadas pelo IBGE (IMAGEM 29) nos mostra também áreas de oportunidade urbanística em âmbito projetual e administrativo capazes de, em interação com o eixo logístico, a partir de seu entendimento em um contexto presente e futuro; impactar positivamente e mitigar processos urbanos vigentes, tais como a centralização de recursos e infra-estrutura, que caminham contrários à qualidade de vida em grandes cidades.
Configuram-se então recortes (IMAGEM 30) passíveis de análise detalhada a serem desenvolvidos sob as seguintes perspectivas:
• o nó logístico da diagonal macrometropolitana e sua relação com os espaços agroindustriais, recursos hídricos e possibilidades de desenvolvimento economico-urbano; • deficit de equipamentos de infra-estrutura e contralização de recursos; • mobilidade urbana em um contexto de intensificação de uso e cultura de transporte • relação da mancha urbana com recursos vitais e reservas biologicas.
72
ÁREA DE CONTRIBUIÇÃO DE AQUÍFEROS ÁREA COM PREVISÃO DE INVESTIMENTO ECONÔMICO ÁREA COM PREVISÃO DE INTENSIFICAÇÃO E CRESCIMENTO URBANO ÁREA DE CULTURA ÁREA DE PASTAGEM ÁREA DE PRESERVAÇÃO A NÍVEL ESTADUAL
obstac ulo
ÁREA DE PRESERVAÇÃO A NÍVEL NACIONAL
geográ fico
recorte
linear
FONTE: IMAGEM DO AUTOR EM CAD + DADOS DA DAEE E EMPLASA.
falando de urbanismo ecol贸gico x sustentabilidade .
INSERÇÃO DO ESPAÇO NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO
T
em-se portanto nas grandes metrópoles em desenvolvimento o desafio contemporâneo do crescimento populacional e consequente expansão urbana. Segundo a ONU-HABITAT,
em 2012 o mundo chegou a marca de seus 7 bilhões de moradores e com uma concentracao de 53% deste numero vivendo nas grandes metrópoles em aglomerados urbanos que abrigam tanto a cidade formal como a cidade informal mas afirmando progressivamente as distinções sociais de ambas. Curioso, a esta marca decidimos buscar sustentabilidade. . No caso da macrometrópole, ainda que uma estagnação de seu crescimento populacional, seus fluxos urbanos culturais e socio-econômicos induzem a uma intensificação da ocupação territorial nos levando a consequências de uma modificação acelerada de nossa paisagem pela notória centralização de urbanidade e seus satélites mas insistindo na tentativa de lidar com a logística de prover recursos básicos de maneira sustentável a estes centros populacionais que possuem dinâmicas territoriais visiveis e invisíveis autônomas causando significativo impacto no nosso espaço que, nao mais ‘é determinado por seus objetos arquitetônicos, mas por fluxos e forças atuantes. A cidade que temos se faz com base em sua mobilidade, com base em sua economia, com base em seus ocupantes e, como afirma Christopher Alexander (Timeless way of Buildings – 1979:55) ‘the place is given it’s character by the pattern of events happening there’
Lidar com os desafios de sustentabilidade para o futuro das grandes metrópoles ‘é, lidar
75
com os indivíduos e com sua relação com o espaço circundante, ‘é lidar com o abstrato da constante modificação de necessidades e interesses humanos e não mais apenas com a solidez dos edificios e sistemas criados. Sendo assim, tem-se em mãos nao apenas a necessidade de se projetar o espaço não ocupado, mais que nunca, tem-se em foco o retrofit dos grandes centros urbanos na busca de qualidade de vida e principalmente, de uma sustentabilidade capaz de garantir o equilíbrio entre espaço rural produtor e espaço urbano servido.
Assim, sustentabilidade talvez não se aplique como objetivo geral, mas agora, um urbanismo ecológico que como a morfologia da palavra insinua, seja capaz de lidar com as particularidades lógicas do território, sua geografia urbana, e encontrar nestas os meios necessários para recuperar o impacto causado no território ao longo de seu histórico de ocupação e viabilizar um novo modelo de vida que , condizente com a realidade de escassez de recursos frente ao processo de urbanização, permita uma vivência saudável em grandes cidades.
Especificamente no caso da macrometrópole tem-se que a dinâmica da mesma interfere na percepção da cidade em suas escalas reduzidas e nas relações decorrentes entre individuo-individuo e individuo-cidade caminhando contra a construção de um processo de recuperação urbana condizente com um desenvolvimento sustentável onde se criam de centros de passagem onde em que não se permite uma conexão mais que superficial entre o espaço e o indivíduo e assim, suas particularidades culturais e regionais são facilmente suprimidas pelo modelo de vida globalizada e dinâmica em que se vive em função da geração de capital. Tem-se ainda a figura do Estado como incentivador deste modelo de vida prioritário ao capital em detrimen-
76
to das particularidades espaciais do território como recursos vitais e capacidade de suporte à expansão urbana no que diz respeito à políticas urbanas, visto que, como Flavio Villaça (1986) exemplifica em sua produção literária, de interesse do Estado é seu crescimento econômico.
Contudo, como já apontado, na busca por um urbanismo ecológico, a macrometrópole desempenha papel de extrema relevância para além de seus limites territoriais e o embate entre espaço urbano, rurbano e reserva de recursos, bem como os desafios propensos a este, acabam por ser determinantes para o sucesso deste objetivo no que diz respeito ao impacto de seus sistemas em escalas subsequentes; e ainda que inerente a mutabilidade das necessidades humanas do presente frente ao desenvolvimento tecnologico aplicado à arquitetura e urbanismo e somado aos desafios de gestão do espaço urbano, tem-se o paradoxal descompasso entre nossa infra-estrutura e a crescente busca por ela visto que, a resposta por tal busca se apresenta tardiamente.
Ainda sobre este descompasso, tem-se que, presente a intensificação urbana, a mutabilidade das necessidades do cidadão demanda um reconhecimento do território produtor como presença permanente nas necessidades urbanas e portanto, a supressão do mesmo acaba por constituir-se de uma auto-sabotagem à adaptação dos território ao contexto contemporâneo.
Mas que contexto? É preciso ainda discorrer à respeito do que seria a busca pelo urbanismo ecológico, visto que, se nega a simbiose entre este e o conceito de design sustentável.
77
Entende-se que o alcance de um urbanismo ecológico se dá não em função do conjunto arquitetônico sustentável, mas em função da relação dos sistemas atuantes na urbes com suas condições naturais e assim, inevitavelmente, a relação do cidadão com tais sistemas acaba por determinar o sucesso dessa busca.
Felix Guatary em ‘ The 3 Ecology’ discorre a respeito da criação de uma Ecosofia, uma sustentabilidade que não se dá apenas no espaço físico, mas no sistema imaterial atuante na cidade, na cultura, na esfera social e política da mesma.
Para tanto, caminha-se contra a ideologia dominante de que a ocupação territorial tem que se dar em função do modelo econômico vigente e parte-se para o pressuposto de que, se de fato a busca por um urbanismo se faz tão necessária como aponta a leitura territorial elaborada no perímetro macrometropolitano (no que diz respeito a assegurar recursos para a geração presente, urbanidade a alcance de todo e qualquer espaço urbano e futura e a garantia de perpetuação de nosso ecossistema), políticas administrativas precisam ser criadas e aliadas a intervenções espaciais intervir no território em busca de uma unidade capaz de equilibrar o desenvolvimento econômico e urbano com nossas ambições presentes e futuras de sustentabilidade e ainda, com nosso ideal humano de cidade ideal para o futuro.
Jane Jacobs em ‘Morte e Vida das grandes Cidades’ afirma que “O raciocínio econômico da reurbanização atual é um embuste” e nos induz a indagar à respeito de como nossa econômia é utilizada no caminho contrario aos ideais de cidade que possivelmente permeiam o imag-
78
inário de grande parte dos cidadãos: a cidade onde a infra-estrutura atue como contribuidora da qualidade de vida e não apenas para otimização do sistema de obtenção de capital contribuindo para a legitimização da cidade informal . Assim, torna-se impossível legitimar o modelo econômico e administrativo atual como ideal para contribuição urbana no futuro vindouro e levanta-se a questão do que pode ser ideal para o espaço urbano e sua administração.
O FAT
TOR HUMANO: O CIDADÃO COMO FOCO PROJETUAL E A CIDADE IDEAL
N
unca foi fácil descrever a cidade ideal, tão substancial e palpável quanto a felicidade,e ainda assim, inevitável afirmar que certamente se há um fator comum - coletivo na busca
pela cidade ideal, o mesmo pode ser a Felicidade.
Felicidade, conceito abstrato e relativo; para alguns, ele reside no ter um teto, uma padaria em que se chegue a pé por perto, um espaço de céu sem concreto por onde o sol se permita bater na janela, amarelar algumas folhas de árvores e acordar aves no telhado; para outros, o pisar da grama basta. Para mim, alguns dias, é apenas um copo de café e um bom livro no metrô. A felicidade é individual abstrata mas, por um momento propôe-se fazê-la coletiva em um contexto de futuro das cidades.
O pensar da felicidade coletiva têm-se feito presente no estudo urbano recentemente, e de conceito abstrato, buscou-se torná-la analítica a ponto de entender as necessidades do indivíduo para com o espaço em que se insere e usá-la como indicador para a crítica das cidades dentro de um cenário onde a felicidade como indicador possa agragar valor ao espaço.
Em 2012 a empresa Anholt-GfKRoperCityBrands desenvolveu o levantamento intitulado “ As 10 cidades mais felizes do mundo” utilizando fatores como possibilidade de contato entre individuo e natureza no meio urbano , oferta de equipamentos de infra-estrutura e ainda de-
81
senvolvimento econômico das mesmas.
No mesmo ano, ‘The End of Growth: Adapting to Our New Economic Reality’, um estudo de RichardHeinberg, apresenta um estudo que relaciona a declaração de felicidade de indivíduos no meio urbano com indicadores econômicos.
Ambos os estudos não declararam claramente como o conceito tão abstrato pode ser utilizado como ferramenta analítica até que Stefan Sagmeister em seu estudo entitulado ‘The Happy Show’ na University of Pennsylvania mais que uma exposição sobre o tema buscou, através de pesquisa em seu meio social, encontrar indicadores lógicos para a felicidade de um indivíduo. Curiosamente acabou por apresentar dentre tantas informações obtidas sobre o tema, os seguintes dados:
IMAGEM 32: PIRÂMIDE DA FELICIDADE
IMAGEM 31: COEFICIENTE DE FELICIDADE 82
Em tradução livre, Sagmeister afirma que 40 % da felicidade de um indivíduo é proveniente das atividades desempenhadas em seu dia-a-dia e, somado a 10% oriundo das ‘condições de vida’ - a infra-estrutura para suas atividades compradas ou não por sua capacidade financeira (IMAGEM 31) pode-se dizer que 50% de seu quociente de felicidade tem origem do espaço em que vive, no caso de uma macrometrópole: a cidade.
Interessante observar que não sabemos conviver com o vazio, com a inexistência ou com a ausência. Sócrates afirmava que “uma cidade, nasce ou é tal porque se dá o caso de cada um de nós não ser auto suficiente, mas carentes de muitas coisas. Deu-se o nome de cidade à essa convivência de muitos carentes”, auto-suficiência, individualidade, contradiz a definição de cidade, contradiz a feliz-cidade, a felicidade.
Ainda sobre o tema, Sagmeister materializa em dados a afirmação de Sócrates, apresentando como princípio base para a felicidade (IMAGEM 32), conforme declarado pelos pesquisados, fatores como ‘pertencimento’ ao meio (interação com amigos, família e espaço) e a sensação de segurança proporcionada pela saúde, educação e empregabilidade.
Tem-se então que, ainda que abstrato, o fator humano ‘felicidade’ é dependente de fatores concretos e relacionados ao espaço. Portanto, a dinâmica urbana de cidades acaba por influenciar no mesmo e , na busca por um urbanismo ecológico pautado na intervenção não somente espacial mas também nas relações invisíveis de cidadão-cidade, a perspectiva humana de uma cidade ideal, ainda que abstrata, pode contribuir para a eficiência de projetos urbanos.
83
Acredita-se na cidade como um organismo: é vivo, pulsante, e orgânico. Se faz pela sua natureza e, se transforma e é transformada pela natureza de cada um, pela felicidade, a ausência ou busca dela, ainda que individual.
Assim se é proposta a criação de um conceito de ideal de cidade, este se ampara no objetivo comum da humanidade: felicidade traduzida no espaço humanizado que reflete sua cultura e particularidades mas aceitando certa moldabilidade perante a incerteza da afirmação de um futuro previsto.
Joseph Rikwert já colocava a cidade como a maior conquista inalienável da humanidade em “A sedução do lugar” e, é desta forma, que ela se transforma sob os aspectos culturais e humanos de seus cidadãos, suas buscas, seus ideais e anseios que vão além do platonismo da cidade ideal, residente no belo intocável. A cidade se transforma, e busca o prevalecer de sua projeção ideal sobre imposição de grandes planos capitais e quanto mais se pensa a felicidade e contrapõe esta às cidades em que vivemos, centros econômicos ou geográficos, menos se prova que a cidade global que almejamos, idealizamos, buscamos projetar ou alcançar diariamente seja o que construimos.
Quando vemos sob a perspectiva macrometropolitana, já moldamos nossa cidade seguindo seu valor econômico mas vemos as relações humanas e as relações espaciais sucumbirem nesta busca diária. Lefebvre já dizia em sua produção literária: “(...) as cidades se isolam da natureza”
84
e, cada vez mais, de sua própria natureza na busca por refletir o valor monetário materializado no espaço.
Contudo,a cidade se molda e se faz ao seu cidadão, e tem-se a cidade representação espacial da identidade de um povo e apesar do modelo econômico que vivemos desenhar nossas vidas, a cidade representa mais do que imposição de valores (capital), representa uma cultura, um desejo, uma busca cujo desafio possivelmente resida justamente no valor: a distinção entre os valores ideais que usamos para nossa cidade idealizada e condizentes com um equilíbrio na ocupação e produção urbana e, os valores que tomamos como aceitáveis até então.
Assistimos ao longo dos anos nossas cidades assumirem um papel antropofágico, que absorveu um modelo de ocupação americano e industrial onde cultura, particularidades geográficas e ambientais, bem como valores sociais começam a sucumbir perante a incerteza do novo e tecnológico, da busca por desenvolvimento financeiro que resulta na busca por ocupação de um vazio não apenas externo (paisagem), mas também interno (humano); de forma inconseqüente, que leva a criação de cidades supra-ocupadas, centros de passagem e o caminho a ações destrutivas pautadas em progresso, um progresso volúvel, que se modifica a cada nova realidade econômica pela qual passamos.
Costuma-se dizer que São Paulo tem a ‘cara’ de todos que aqui chegaram e a ocuparam, talvez essa seja sua verdadeira identidade do nosso território: um domínio da mixofilia sobre a mixofobia; mas basta um olhar cuidadoso para o seu território e toda sua particularidade ge-
85
ográfica, biológica e antropológica começa a ser maquiada por uma produção urbana pautada em modelos econômicos que ignoram nossa realidade de escassez e contrariedade ao objetivo de construção de cidades habitáveis , efetivamente urbanizadas.
Contudo, perante tal realidade acredita-se que é possível somar os fatores concretos de possibilidades para futuro identificados na leitura territorial elaborada ao fator abstrado de uma cidade ideal para felicidade e assim estruturar estratégias para intervenção no território.
Tal ideia já fora adotada e resultara em intervenções urbanas de sucesso no passado como por exemplo o caso Italiano da cidade de Roma que em 1600, mediante a necessidade de abastecer a cidade com água para agregar a esta condições de higiene condizentes com a necessidade ditada pela saúde, encontrou sucesso na solução criativa de aliar utilidade ao prazer de estar, fazer parte de uma cidade mediante a implantação de fontes.
Um exemplo pequeno em escala que nos permite indagar a respeito da intervenção macrometropolitana para além das intervençoes administrativas ae pensar nas relações entre indivíduo - cidade , fatores concretos - abstratos, como possibilidades de equilíbrio urbano.
86
CONSTRU
ETAPA 2
ÇÃO ESPACIAL
N
a busca por referências que respondessem ao desafio de crescimento urbano mostrando esta relação entre cidadão e cidade capaz de colaborar para a criação de uma ‘Ecosofia’
nas mais distintas escalas estabeleceu-se três recortes temporais que refletissem a produção urbanística capaz de contribuir para o traçado de diretriz espaciais para a macrometrópole. Não necessariamente os projetos reflitam objetivos de intervenção no perímetro de estudo, mas refletem particularidades condizentes com os desafios observados na análise e leitura territorial.
ESTUDOS DE CASO: AS CIDADES DO PASSADO, PRESENTE E FUTURO a. as cidades do passado: utopias urbanas
D
o planejamento de cidades na escala intra-urbana tem-se o exemplo dos falansterios como estruturas indutoras de uma mudança social capaz de impactar na es-
trutura organizacional do espaço urbano enquanto que a cidade jardim preve a organização do território, reconhecendo a função dos espaços com base nas necessidades da população residente e provendo de infra-estrutura básica para acesso a todo o território.
Se por ora o caso dos falansterios se encontra com o pregado por Guatari à respeito da necessidade de revolução cultural e revisão de nosso produto material e imaterial a partir do projeto não apenas do espaço urbano, mas da indução do comportamento social, das reações político-econômicas com relação a administração do território para a criação da cidade para o nosso futuro; as cidades jardim apresentam meios organizacionais para uma ‘policentralização’ regional que minimizaria efeitos como a pendularidade e viabilizam uma melhor oportunidade de crescimento uniforme ao território atuando na modificação da condição ‘ambiental’ da cidade.
escala comparativa: macrometropole entre 7 e 9 vezes maior em dimensão.
91
IMAGEM 33: OS FALANSTÉRIOS DE CHARLES FOURIER
N
ão pela concepção projetual, mas pela filosofia atuante no projeto e o reconhecimento de que o indivíduo depende das condições impostas pelo meio para
potencializar seu desenvolvimento como cidadão e contribuir para a sociedade.
92
IMAGEM 34: AS CIDADES JARDINS E OS TRES ÍMÃS DE HOWARD
O
campo, a cidade, e a cidade-jardim com a capacidade de sintetizar as vantagens e relevancias dos espaços distintos para a criação da ma-
nutenção social capaz de reverter os efeitos negativos do inchaço urbano.
93
b. as cidades do presente: retrofit e integração
E
m 1972 o “Club of Rome” nos mostra limites para um crescimento sustentável a longo prazo a partir do reconhecimento de nossas limitações e potenciais produtivos e integração
de recursos vitais na rotina e dinâmica urbana.
Assim ainda na escala intra-urbana, projetos que discutem o futuro da cidade em processo de implantação presente trabalham um processo de reconexão entre cidadão , o espaço circundante e recursos vitais, recuperando áreas degradadas para criar nas mesmas zonas complementares à cidade já consolidada.
Novamente, quando Felix Guatari discutindo o conceito de ‘Ecosophy’ nos apresenta as possibilidades para um urbanismo ecológico, fala-se da necessidade de ‘retrofit’, recuperação dos espaços consolidados e integração destes à malha de sistemas urbanos não apenas locais, mas regionais, para que estes atuem como catalisadores no processo de transformação da dinâmica urbana em sub-escalas a partir da reconexão dos fragmentos, tecidos urbanos.
escala comparativa: macrometropole entre 5 a 15 vezes maior em dimensão.
94
IMAGEM 35: O GREEN GRID DE LONDRES DE ‘ALGG PROJECT TEAM’
U
m projeto que através de políticas públicas prevê o atrativo econômico para áreas estratégicas de modo a viabilizar projetos para integração entre recursos
vitais e urbes reduzindo a fragmentação de tecidos verdes e conectando estes aos eixos hídricos em uma escala regional com previsão de expansão progressiva.
95
IMAGEM 36: MADRID RIO DE BURGOS & GARRIDOS E PORRAS LA CASTA
A
parentemente uma intervenção linear no eixo hídrico o projeto parte do princípio que o rio pode ser o catalizador de transformação do espaço ur-
bano a partir da integração entre áreas de interesse econômico, histórico e ambiental e utiliza-se da potencialização dos eixos de mobilidade elevando-os para a categoria multimodal de modo a reconectar individuo e recursos naturaie e ainda,
96
a redefinir a prioridade urbana transferindo-a para o cidadão.
c. as cidades do futuro: o consumo construíndo o espaço
E
m um processo de entendimento da cidade do futuro sob o contexto de crise contemporânea, tem-se possivelmente os projetos que mais chamam a atenção do ponto de vista
de resposta à expansão urbana.
A discussão proposta por Andrea Branzi evidencia o reconhecimento dos usos do território como fundamentais para a manutenção da vida nas cidades e assim, propõe espaços híbridos capazes de atender nossa diversidade de necessidades não apenas em uma escala intra-urbana, mas regional. Com o projeto do Master plan Strijp Philips em Eindhoven, Andrea discute a hibridez do território e sua mutabilidade já planejada, minimizando grandes impactos ambientais no território mas ainda assim, atendendo os desafios de grandes sistemas urbanos. (IMAGEM 39)
O mesmo se dá no proposto pelos metabolistas de ‘59 que ao pensar a dinâmica urbana em grande escala propõe estruturas flexiveis, mutáveis, quase que orgânicas e dependentes do que poderia ser chamado a ‘dinâmica humana’, respondendo à centralização com a criação de cidades satélites que atuem na percepção do espaço por parte do cidadão. É o caso do projeto
97
de Kenzo Tange ‘A plan for Tokio’. (IMAGEM 37)
Tal proposta se opõe a toda materialização projetual proposta pelo Archigram que, em uma crítica da sociedade contemporânea, apresenta as cidades dependentes de seus hábitos culturais, seu modelo econômico e seus valores distorcidos, sua independência completa com relação às particularidades geográficas : a contradição ao que se busca. (IMAGEM 38)
escala comparativa: macrometropole entre 4 a 7 vezes maior em dimensão.
IMAGEM 37: OS METABOLISTAS JAPONESES
A plan for Tokyo. Kenzo Tange, 1960. 98
IMAGEM 38: A CRÍTICA AO CONSUMO DO ARCHIGRAM
The Walking City e Instant City de Archigram - Peter Cook, Londres, 1970. IMAGEM 39: ANDREA BRANZI E O MODERNISMO ITALIANO
Master plan Strijp Philips a Eindhoven de Andrea Branzi, Italia, 1999. 99
CORRELAÇÕES PROJETUAIS E O FUTURO DO TERRITÓRIO a. espaços de amortecimento
A
pós a materialização de diferentes ideais de futuro em nosso presente e contrapondo estes à leitura territorial elaborada e previsões de crescimento de manchas urbanas nos
próximos 20 anos apresentada pelo IBGE (IMAGEM 29), tem-se possibilidades de intervenção no território através de medidas administrativas e projetuais sendo que, identificadas áreas de pressão urbana intensificada e as relações urbanas vigentes e , na busca por um território que contribua para o igualitário direito à cidade, abre-se a possibilidade de investigação dos tecidos morfológicos para a identificação de espaços (vazios urbanos ou não vazios) passíveis de atuação como vetores de transformação territórial partindo do conceito de amortecimento da pressão urbana vigente.
Têm -se ainda a definição de espaço de amortecimento para o presente estudo como sendo a unidade autônoma dotada de urbanidade (equipamentos de infra-estrutura, sistemas de mobilidade, centro econômico e produtor) capaz de atender a demada sobre ela imposta, reduzindo a dependência do espaço urbano com este relacionado para com as Regiões Metropolitanas consolidades e Aglomerados Urbanos.
101
10 102 02
b. as cidades híbridas e tais microestruturas
C
onfrontadas as particularidades geográficas e logísticas do perímetro com áreas passíveis da criação de espaços de amortecimento , tem-se que devido à configuração de serras e
contínuos acidentes geográficos à Leste da diagonal logística macrometropolitana bem como uma configuração de bordas que para além das pressões geográficas abrigam reservas vitais, os recortes situados entre eixos de mobilidade territorial perpendiculares à diagonal logística macrometropolitana assumem caráter de potenciais de intervenção urbanística.
Em uma investigação à respeito das posibilidades de interação com o território, a pesquisa de referências em escalas distintas apresenta o conceito de microestruturas de Andrea Branzi (Ecological Urbanism, p. 110) e hibridez do espaço que, trata a intervenção espacial como parte de um sistema operante, e se operante, reversível, dinâmico e passível de mudança no futuro. O mesmo já afirmava Ludwig Hilberseimer em 1922 com seu trabalho “Hochhausstadt” e a constatação de que a “a cidade é determinada por seus fluxos e forçãs atuantes, e não apenas por seus objetos arquitetônicos”.
O conceito de Andrea faz sentido quando analisado o processo de construção urbana que nos trouxe ao presente momento. A exemplo disso, tem-se que outrora as rodovias foram nossa melhor alternativa em mobilidade urbana, contudo, nosso desenvolvimento urbano e tecnológico em mobilidade transformou essa realidade e, o investimento nas estruturas rodoviári-
103
as permanentes deixaram de contribuir para a otimização da dinâmica urbana para configurar um desafio ao futuro.
Mas ainda, se reconhece essa modificação nas necessidades urbanas, tem-se que a cidade do presente é a responsável por sugerir os caminhos a serem enfrentados no futuro e assim, ‘the aim of the “New Athens Charter” is not the city of the Future but rather the city of the Present.” [a essência para a nova Carta de Athenas não é a cidade do futuro (sobre utopias análogas), mas a cidade do presente (e suas particularidades) ](Andrea Branzi, p.110)
Frente a esta lógica, busca-se soluções para os desafios presentes no território que são possíveis de uma reversão futura. Um impacto no espaço que somente permaneça neste caso se firme sua necessidade de permanência.
Ainda sobre as microestruturas no território, Andrea Branzi afirma a inviabilidade de sucesso de um projeto urbano se este não considerar a esfera urbana e rural como interdependentes, como um organismo de contribuição mútua e mais, se não considerar os aspectos econômicos atuantes no território como parte do plano de revolução morfológica no território futuro, seja para acato do mesmo ou para combate.
Se considera então a possibilidade de encontrar nas microestruturas, somadas a políticas públicas, umas das possibilidades de atuação no território diversificado da macrometrópole.
104
ITAQUAQUECETUBA - JACAREÍ
ETAPA 1 - IDENTIFICAÇÃO E AGRUPAMENTO DE PADRÕES SOB ÁREAS PASSÍVEIS DE EXPANSÃO URBANA. P1 - LIMITES GEOGRÁFICOS MULTILATERAIS NO CONTROLE DA MANCHA DE EXPANSÃO P2 - SEM LIMITES GEOGRÁFICOS NO CONTROLE DA EXPANSÃO URBANA P3 - LIMITES GEOGRÁFICOS UNILATERAIS NO CONTROLE DA MANCHA DE EXPANSÃO
P3
P3
GUARAT. - CRUZEIRO
P3
TAUBATÉ - GUARATINGUETÁ
P3 P2
SÃO ROQUE - ITU
BOTUCATU
P2
PORTO FELIZ - ANHUMAS
P1
RIO CLARO
P1
FONTE: MAPA ELABORADO PELA AUTORA EM GOOGLE MAPS.
c. um padrão de tecidos no território
E
ntende-se que apesar das particularidades de cada agrupamento urbano, é possível identificar no perímetro macrometropolitano de estudo um padrão de tendência futura que se
consolida a medida que aumenta o grau de urbanização territorial. Se portanto se comprova tal padrão, estratégias para o futuro do território podem ser traçadas com uma capacidade de abrangência não pontual, mas progressiva. Assim, na busca por tal padrão, pelo traçado da morfogênese do território, se delimitam três grupos iniciais de ‘tecidos’ a serem identificados dentre as manchas de possível expansão *ACIDENTE GEOGRÁFICO: Constrastes topográficos; grandes diferenças planialtimétricas.
urbana delimitadas pelo cruzamento de dados da EMPLASA e IBGE levantados no processo de leitura territorial, o que pressupões um enfoque nos núcleos urbanos que orbitam as principais RM’s (devido à maiores índices de previsão de crescimento urbano) e não as RM’s em si, conforme indicado abaixo:
GRUPO P1 - SEM LIMITES GEOGRÁFICOS NO CONTROLE DA EXPANSÃO URBANA Constituem-se de áreas situadas no planalto não delimitadas pelos chamados ‘acidentes’ geográficos.
GRUPO P2 - LIMITES GEOGRÁFICOS UNILATERAIS NO CONTROLE DA MANCHA DE EXPANSÃO Constituem-se de áreas situadas em proximidade de borda territorial que configurem ‘acidentes’ geográficos.
GRUPO P3 - LIMITES GEOGRÁFICOS MULTILATERAIS NO CONTROLE DA MANCHA DE EXPANSÃO Constituem-se de áreas pressionadas por mais de um ‘ acidente’ geográfico delimitando ‘corredores ‘ urbanos.
107
RECORTE 01: BOTUCATU - P1 Em uma análise sucinta observa-se que em proximidade com o acidente geográfico a Oeste o núcleo urbano consolidado inicia um processo de expansão fragmentada no sentido Leste através de ocupações bairris (de bairro) ou por habitação popular quando próxima ou no eixo de equipamentos logísticos como rodovias e linha férrea indo de encontro com a expansão de cidades satélites dependentes do núcleo consolidado. Nota-se ainda que a medida que o relevo se eleva a expansão assume a morfologia condominial.
ETAPA 2 - ENTENDIMENTO DOS PROCESSOS ATUANTES NOS PADRÕES IDENTIFICADOS grande nucleo urbano ou RM perímetro urbano consolidado expansão do perímetro urbano mancha indústrial reservas vitais sob pressão direção de expansão habitação popular a. diagrama de entendimento da condição física
condomínio fechado FONTE: IMAGEM ELABORADA PELA AUTORA EM ARCGIS + ILUSTRATOR
108
ETAPA 2 - ENTENDIMENTO DOS PROCESSOS ATUANTES NOS PADRÕES IDENTIFICADOS grande nucleo urbano ou RM perímetro urbano consolidado expansão do perímetro urbano cultura reservas vitais sob pressão direção de expansão novos loteamentos condomínio consolidado
b. diagrama de entendimento da condição física
FONTE: IMAGEM ELABORADA PELA AUTORA EM ARCGIS + ILUSTRATOR
RECORTE 02: RIO CLARO - P1 Observa-se a expansão de forma radial a partir dos núcleos urbanos consolidados e nucleos satélites sobre território produtor de tal forma que nas proximidades de reservas vitais o mesmo se dá por uma morfologia condominial enquanto que proximo de eixos logísticos e áreas produtoras tem-se novos loteamentos de perfil bairril e popular.
109
RECORTE 03: PORTO FELIZ - P2 Por estar no planalto o núcleo urbano passível de maiores índices de expansão encontra-se em meio às principais RM’s e margeada por eixos logísticos, assim sua expansão se dá de forma geométrica centralizadora para o interior do território produtor e reservas vitais.
ETAPA 2 - ENTENDIMENTO DOS PROCESSOS ATUANTES NOS PADRÕES IDENTIFICADOS grande nucleo urbano ou RM perímetro urbano consolidado expansão do perímetro urbano cultura e industria reservas vitais sob pressão direção de expansão loteamentos populares condomínio consolidado c. diagrama de entendimento da condição física FONTE: IMAGEM ELABORADA PELA AUTORA EM ARCGIS + ILUSTRATOR
110
ETAPA 2 - ENTENDIMENTO DOS PROCESSOS ATUANTES NOS PADRÕES IDENTIFICADOS grande nucleo urbano ou RM perímetro urbano consolidado expansão do perímetro urbano cultura, pastagem e industria reservas vitais sob pressão direção de expansão loteamentos populares condomínio consolidado d. diagrama de entendimento da condição física FONTE: IMAGEM ELABORADA PELA AUTORA EM ARCGIS + ILUSTRATOR
RECORTE 04: SÃO ROQUE - ITU - P2 Na mesma situação que o recorte 3 observa-se com maior ênfase o processo de expansão condominial a medida que se aproxima das RM’s e centros financeiros, enquanto que expansão bairril e popular se dá em eixos de mobilidade e expansão industrial.
111
ETAPA 2 - ENTENDIMENTO DOS PROCESSOS ATUANTES NOS PADRÕES IDENTIFICADOS grande nucleo urbano ou RM perímetro urbano consolidado expansão do perímetro urbano cultura, pastagem e industria reservas vitais sob pressão direção de expansão loteamentos populares condomínio consolidado e. diagrama de entendimento da condição física FONTE: IMAGEM ELABORADA PELA AUTORA EM ARCGIS + ILUSTRATOR
RECORTE 05: ITAQUAQUECETUBA - JACAREÍ - P3 Nucleos urbanos situados no corredor entre dois significativos acidentes geográficos só permite expansão em sentido linear provocando uma pressão nas reservas ali situadas e, devido a dependência de recursos da RM, uma progressiva pressão sobre a mesma. Tem-se ainda a observação de expansão condominial nas áreas de serra e novamente, bairril ou popular nos eixos logisticos.
112
RECORTE 06: TAUBATÉ - GUARATINGUETÁ - P3 Na mesma situação que o recorte 5, fica mais claro o padrão de expansão sentido serra configurando perfil de pressão sobre reservas vitais e um ‘embrace’ das áreas produtivas e - ou industriais já observadas em recorte anterior, mas aqui enfatizada de forma mais significativa.
ETAPA 2 - ENTENDIMENTO DOS PROCESSOS C ATUANTES ATU NT TE NOS S PADRÕES PADRÕ Õ IDENTIFICADOS grande nucleo urbano ou RM perímetro urbano consolidado expansão do perímetro urbano cultura e pastagem reservas vitais sob pressão direção de expansão loteamentos populares condomínio consolidado f. diagrama de entendimento da condição física FONTE: IMAGEM ELABORADA PELA AUTORA EM ARCGIS + ILUSTRATOR
113
ETAPA 2 - ENTENDIMENTO DOS PROCESSOS ATUANTES NOS PADRÕES IDENTIFICADOS grande nucleo urbano ou RM perímetro urbano consolidado expansão do perímetro urbano cultura, pastagem e industria reservas vitais sob pressão direção de expansão loteamentos populares condomínio consolidado g. diagrama de entendimento da condição física FONTE: IMAGEM ELABORADA PELA AUTORA EM ARCGIS + ILUSTRATOR
RECORTE 07: GUARATINGUETÁ - CRUZEIRO - P3 Interdependência entre nucleos urbanos com expansão sentido serra abraçando áreas industriais.
114
P
or rápida leitura territorial observa-se uma possível expansão de núcleos urbanos que configura a formação de um perfil morfológico socioeconômico onde as áreas próximas à formações montanhosas pas-
sam a receber núcleos condominiais que indicam a valorização econômica da proximidade de reservas vitais. Tem-se ainda que a expansão em áreas de planície acabam por seguir eixos logísticos inspiradas, movidas pela atividade industrial desenvolvida em tais eixos ou ainda o avanço sobre áreas produtivas. Tal movimento nos remete ainda ao histórico de ocupação territorial local onde, no início da exploração agropecuária e industrial no território os senhorios residiam em locais elevados de modo a controlar seu investimento e evidenciar seu poderio. Poderia se dizer portanto que a morfologia observada tende a evidenciar desigualdades sociais no território a partir da macro-escala se acentuando a medida que adentramos a esca intra-urbana. Tem-se também que a relação de dependência entre núcleos urbanos passíveis de maior expansão urbana (fora das RM’s) e os centros econômicos e logísticos se enfatiza a medida que a escala de urbanidade diminui. Tendo observado que há uma centralização de equipamentos de infra-estrutura em centros econômicos, podese afirmar que a medida que o núcleo urbano em crescimento se distancia desses centros maior a carência do mesmo para com a urbanidade e assim, este apresenta maior expansão por meio de loteamentos populares e bairris em direção aos nucleos urbanos vizinhos. É observado também que boa parte das manchas de expansão de caráter popular se dão em proximidade à significativos eixos hídricos , seja pela proximidade destes com eixos logísticos ou pela instalação de indústrias às margens dos mesmos. A princípio, é possível dizer que se levado em conta as reservas vitais, as classes mais elevadas se aproximam de nucleos vegetativos e as populares de núcleos hídricos.
d. recortes análogos ANÁLOGO Adj. Que contém ou expressa analogia; comparável. Que desenvolve as mesmas funções, quando comparada com outra(s), embora possua origens e estruturas distintas.
T
endo a necessidade de aprofundar o entendimento dos tecidos morfológicos territoriais define-se três recortes análogos para entendimento da relação entre núcleos consolida-
dos, nucleos em expansão , reservas ambientais, sistemas logísticos e infra-estrutura existente sob a perspectiva de replicação da situação em escala macrometropolitana.
Assim, no primeiro recorte análogo observa-se que quando sobre pressão unilateral de um acidente geográfico o perfil de expansão urbana tende a ocorrer de forma radial, partindo da região metropolitana para os núcleos satélites circundantes e configurando um perfil geométrico a ser ocupado que tende a extrapolar as áreas de predominancia industrial para atingir o território produtor e iniciar novos núcleos mas sem perder a segregação social refletida no espaço.
Tem-se que a expansão urbana em escala macrometropolitana em áreas de reserva, difere-se do ocorrido em escala intra-urbana visto que, na escala macrometropolitana, esta aprox-
116
ão
s ciai nan ma de
perímetro urbano consolidado
vas
expansão do perímetro urbano av
reconhecimento de um avanço urbano tipologicamente residencial condominial de classe média-alta e ou chácaras.
a
co ntr ibu iç
ag arreir eográfica
r rese ão sob
b
grande nucleo urbano ou RM
área produtiva: cultura
s o b c ult ur
reservas e acidentes geográfico
a
área predominante industrial eixos de conexão logística direção de expansão pressão urbanística habitação bairril ou popu condomínio fechado
reconhecimento de um avanço urbano tipologicamente residencial não vertical de classe média-baixa.
ETAPA 3 - PERÍMETRO ANÁLOGO 01
área passível de ocupação urbana popular não verticalizada
eixos hídricos significativos área de contribuição de aqu a. diagrama básico de logística e dinâmica territorial FONTE: IMAGEM ELABORADA PELA AUTORA EM GOOGLE EARTH + ILUSTRATOR.
processo de expansão
verticalização e expansão do núc
novos nucleos ur
consolidação de nucleo verticalii
a. diagrama especulativo possível de logística e dinâmica territorial FONTE: IMAGEM ELABORADA PELA AUTORA EM GOOGLE EARTH + ILUSTRATOR.
imação de reservas se dá por parte de investimentos que configuram um ‘cinturão imobiliário’ que redesenha as bordas territoriais e, acabam por atuar como barreiras físicas à possibilidades de reconexão entre reservas naturais e fragmentos de vegetação no planalto.
É importante notar que, quando trata-se de urbanidade e pressão exercida por conta de equipamentos de infra-estrutura, o caso análogo 1 apresenta um perfil onde os núcleos em expansão interagem diretamente com o núcleo consolidado centralizador econômico e urbano consolidando uma situação onde os núcleos satélites sofrem apenas de suas carências e se afirmam como ativos (exercedores de pressão mas não receptores dela).
Em contrapartida, o caso análogo 2 quando o crescimento se dá em território independente de qualquer acidente geográfico observa-se a tendência de uma centralização da expansão urbana e industrial para além de eixos lógisticos mas direcionando-se para áreas próximas de recursos ambientais. Têm -se ainda que contrário ao caso 1, a concentração de formações condominiais não se dá próxima a reservas (estas em nivel com a ocupação urbana), mas no sentido das RM’s e centros urbanos consolidados, detentores dos centros econômicos e oferta de equipamentos de infra-estrutura.
Devido à centralização do processo de expansão urbana estima-se a formação de um novo grande núcleo urbano que se relacione e pressione de maneira intensificada os núcleos consolidados e reservas circundantes comprometendo áreas produtivas e de reserva.
118
grande nucleo urbano ou RM reconhecimento de um avanço urbano tipologicamente residencial condominial a medida que se aproxima dos grandes centros urbanos
perímetro urbano consolidado expansão do perímetro urbano área produtiva: cultura (cana) reservas área predominante industrial eixos de conexão logística direção de expansão pressão urbanística
reconhecimento de um avanço urbano tipologicamente residencial por loteamento bairril ou habita;’ao popular possivelmente decorrente do foco de ocupa;’ao industrial.
habitação bairril ou popular condomínio fechado
previsão de extensão da hidrovia tietê paraná e terminal hidroviário em Porto Feliz a ser conectado com ferrovia
PRESSÃO URBANA SOBRE ÁREAS PRODUTIVAS E RESERVAS VITAIS
ETAPA 3 - PERÍMETRO ANÁLOGO 02
área passível de ocupação urbana residencial e corporativa em função logística
eixos hídricos significativos
a. diagrama básico de logística e dinâmica territorial FONTE: IMAGEM ELABORADA PELA AUTORA EM GOOGLE EARTH + ILUSTRATOR.
nucleo urbano
possivel verticalização
b. diagrama especulativo de possível de logística e dinâmica territorial FONTE: IMAGEM ELABORADA PELA AUTORA EM GOOGLE EARTH + ILUSTRATOR.
Já no último recorte, caso análogo 3, contrário aos anteriores o padrão observado segue a linearidade ocupacional histórica onde os acidentes geográficos delimitam barreiras à expansão e por sua vez, os núcleos urbanos passam a exercer pressão sobre as reservas situadas nos mesmos.
Ainda que linear, o padrão observado no caso análogo 1 onde, os investimentos imobiliários configuram um ‘cinturão’ nas bordas do território também é observado aqui. Tem-se notoriamente a concentração de nucleos populares nos eixos logísticos ( e hídricos), visto que estes se situam nas áreas de vale, e o afastamento dos nucleos condominiais para a serra.
A linearidade no padrão ocupacional ainda favorece a formação de núcleos industriais visto que a impossibilidade de avanço industrial sob o território mantém estas entre núcleos urbanos em expansão.
Observa-se ainda que, devido à seu carater morfológico, difere-se dos casos anteriores também na relação de dependência das RM’s e núcleos consolidados onde os núcleos em crescimento perdem o caráter de ativo para tornarem-se também passíveis de pressão oriúnda dos núcleos que , no mesmo eixo, se distanciam mais das RM’s consolidando então uma progressão linear da necessidade de investimento em urbanidade.
120
grande nucleo urbano ou RM pressão sob serra da mantiqueira
perímetro urbano consolidado expansão do perímetro urbano área rural ocupação condominial em beiras de serra e reservas x ocupação popular nas proximidades logísticas e industriais.
reservas e ou acidentes geográficos área predominante industrial eixos de conexão logística
instalação recente de novas indústrias somadas às antigas em eixo logístico.
direção de expansão pressão urbanística habitação bairril ou popular condomínio fechado
PRESSÃO URBANA SOBRE ÁREAS PRODUTIVAS E RESERVAS VITAIS
ETAPA 3 - PERÍMETRO ANÁLOGO 03
eixos hídricos significativos
a. diagrama básico de logística e dinâmica territorial FONTE: IMAGEM ELABORADA PELA AUTORA EM GOOGLE EARTH + ILUSTRATOR.
nucleo urbano
nucleo urbano
b. diagrama especulativo de possível logística e dinâmica territorial FONTE: IMAGEM ELABORADA PELA AUTORA EM GOOGLE EARTH + ILUSTRATOR.
e. fenômenos observados
D
estacam-se portanto alguns processos observados no território passíveis de contribuição para a formação da imagem do futuro do território condizente com
a intervenção espacial e estratégica que se alinhe com a busca de uma cidade ideal:
aspecto social urbano
relevo
JUSTIFICATIVAS POSSÍVEIS POR LÓGICA FUNCIONAL facilidade e funcionalidade de instalação de recursos logísticos às margens de recursos hídricos. instalação da indústria nos eixos hídricos para abastecimento da produção e conexão logística. instalação da mão de obra atendente à industria na proximidade da mesma. instalação das classes mais elevadas nos pontos mais elevados do território por justificativa histórica pautada no status e poderio, hoje também justificada pela conexão com reservas vitais e a qualidade de vida por estas proporcionada.
uso turístico residencial alto padrão condominial residencial médio - baixo padrão bairril ocupação industrial ou agroindustrial
ETAPA 4 - OBSERVAÇÃO SOBRE A PREDOMINÂNCIA DO PADRÃO DE OCUPAÇÃO TERRITORIAL
bordas do território reservas vegetais cinturão imobiliário área produtiva - cultura reservas hídricas nucleos urbanos nucleos industriais
MORFOLOGIA ANÁLOGA OBSERVADA 122
ETAPA 4 - OBSERVAÇÃO DE POSSIBILIDADES DE REPETIÇÃO DE NUCLEOS DE MODIFICAÇÃO TERRITORIAL
a. repetição geométrica
GRUPO 1
GRUPO 2
b. repetição linear
GRUPO 3
Padrões de repetição da intensificação urbana observados no território que acabam por se dar em imediações dos principais eixos hídricos, visto que, destes dependem o abastecimento e condições vitais urbanas. Observa-se ainda a dinâmica de interação entre núcleos onde configuram-se nucleos ativos que interagem diretamente com as unidades ‘consolidadas’ do ponto de vista da urbanidade e ativos - passivos.
condicionantes físico-geográficos pressurizadores - indutores linear co n d ici o nan
te s fí si co
-g
eo
gr
áfi
co
sc
en
t ral
izad ores
a. repetição geométrica
b. repetição linear
ETAPA 4 - OBSERVAÇÃO SOBRE A REPETIÇÃO DO PADRÃO E PRESSÃO URBANA EM AREAS CONSOLIDADAS
123
B
uscando-se amparar a formulaçao de estratégias para o futuro do território, com base nos tecidos analisado, em sua gênese morfológica e no entendimento das políticas atuantes nesse
território, almeja-se a discussão de diretrizes projetuais que, para além da gestão territórial, viabilizem a intervenção espacial neste território conscientes de que, não se esgota o assunto, mas se abre a oportunidade de ampliação de escala de entendimento dos processos observados mediante a perspectiva de futuro:
f. diretrizes para intervenção espacial e administrativa ETAPA 5 - DEFINIÇÃO DE OBJETIVOS PARA INTERVENÇÃO ESPACIAL NOS TECIDOS IDENTIFICADOS
reconhecimento: das áreas produtoras como parte da construção de cidade do futuro, comunicantes com reservas e urbes para integração das mesmas.
retrofit + new design decentralização e eficiência dinâmica no perímetro de estudo
recuperação: dos bioclimas tomados e ocupados. linear : intervenção nas bordas de tensão urbano - vital. geométrico: proposição de conexão e integração ao espaço urbano - vetor indutor de integração bioclima cidadão.
conexão: do espaço urbano + rural + vital. inserção: de urbanidade e infraestrutura omissa. respeitando impactos lineares e geométricos
ETAPA 6 - DEFINIÇÃO DE MEIOS PARA OBJETIVOS
•
Atuação na redução de processos de impacto negativo no território por meio da exploração de potencialidades do mesmo tais como: reservas de recursos naturais e potencial econômico e logístico.
•
Indução da criação de uma ‘rede’ verde sobre esse território através de políticas públicas de proteção ambiental e ações projetuais estratégicas consolidando as bordas biológicas e induzindo a conexão desta com os fragmentos internos e eixos hídricos. 125
•
Indução da criação de uma ‘rede’ de mobilidade multimodal, mais rápida e eficiente, capaz de reconhecer as necessidades divergentes impostas pelo transporte de massas e transporte logístico e, conectar os grupos de tecidos análogos aos principais eixos logísticos através de políticas integradas de incentivo atuantes nos eixos perpendiculares a estes.
•
Indução da descentralização infra-estrutural (demandante de pressão urbana) e logística para os três grupos de tecidos análogo através de ações projetuais estratégicas condizentes com o objetivo da criada ‘Ecosofia’ onde as mesmas se configurem como açoes híbridas de baixo impacto ambiental capazes de atuar na viabilização da coexistência espacial de tecido urbano e rurbano.
•
Intervenção espacial para adequação do território ao perfil demográfico tendência dos próximos 20 anos.
•
Intervição no processo de polarização econômico - social na morfologia territorial por meio de ações projetuais estratégicas e políticas administrativas que garantam a inclusão urbana e o equalitário direito à cidade.
•
Promoção de políticas públicas integradas capazes de garantir uma melhor gestão territorial no que diz respeito à recursos vitais, distribuição de investimento econômico , ocupação territorial e planejamento urbano. 126
•
Garantir a continuidade de competitividade econômica sem que esta comprometa os recursos ambientais do território e desenvolvimento - integração social no espaço urbano.
•
Demanda de responsabilidade pública perante as transformações morfológicas observadas no território estudado, comprometendo os órgãos administrativos das mais distintas esferas para com a criação de um território equilibrado e saudável para a geração presente e futura.
VER PAINÉL ANEXO COM DIAGRAMAS ILUSTRATIVOS PARA DIRETRIZES
127
“A MERCADOTECNIA DA CIDADE, VENDER A CIDADE, CONVERTEU‐SE ... EM UMA DAS FUNÇÕES BÁSICAS DOS GOVERNOS LOCAIS.” ‐ BORJA & FORN, 1996
CONCLUSÃO
L
ê-se o território, entende-se sua configuração geográfica e particularidades, sua tradução espacial dos aspectos econômico e social (leia-se o aprofundamento em tecidos análogos
que reproduzem espacialmente nossa economia) para então discorrer de possíveis medidas projetuais e administrativas.
Entende-se que não épossível discursar sobre o futuro deste território sem extrapolar o limite espacial para esbarrar nas questôes político-administrativas do mesmo , não porque se queira, mas pelo reconhecimento da indissociabilidade das relações entre espaço urbano e capital e sua influência sobre a cultura do mesmo.
Carl Smith , em Römischer Katholizismus und Politische Form (1927) descreve a cidade como sendo a materialização das políticas econômicas onde a mesma, serve como instrumento afirmador de um conceito que não se vê mas que se faz necessário tornar crédulo; assim, enfatiza a incapacibilidade de uma grande revolução na concepção espacial sem interferência político-econômica.
Não buscando esgotar o assunto, mas ampliar o leque de discussões propostas no perímetro de estudos no que diz respeito a um futuro próximo, conclui-se este trabalho com o início de investigações à respeito da dinâmica econômica territorial e as politicas de administração
129
do mesmo, visto que, com todo o apresentado, fica evidenciado nos estudos desenvolvidos a concentração de riqueza no território macrometropolitano e mais ainda, a relação desta com o eixo logístico que, favorecem os investimentos nas três principais Regiões Metropolitanas: São Paulo, Campinas e Baixada Santista em detrimento dos municípios satélites em crescimento (morfológico).
Observa-se ainda que ‘as gestões urbanas (prefeituras e governos estaduais) têm uma tradição de investimento regressivo’ com uma infraestrutura que alimenta a especulação fundiária e não democratização do acesso à terra ‘dando a proprietários de terra e capitalistas um real poder de definição das realizações orçamentárias públicas’ e portanto do desenho urbano. (Maricato, 2000)
Está claro que, é de interesse do Estado o investimento em infraestrutura e urbanidade, mas apenas onde o retorno para o capital investido seja garantido, assim fundamenta-se as políticas públicas, sistemas econômicos e jurídicos na captação de recursos e nos levando a um cenário onde o conceito de Carl Smith de que a cidade é o reflexo de sua econômia se faz presente.
Em relatório à respeito da capacidade de investimento da macrometrópole publicado pela Sobre “Hochhausstadt” em 1924, e sua funbaseada na dinâmica urbana econômico - social.
EMPLASA fica claro este cenário onde a viabilidade de intervenção urbana é determinada por cionalidade indicadores econômicos. Ludwig Karl Hilberseimer, urbanista alemão, em sua produção moderna discute exatamente a legitimação da materialização econômica no desenho urbano, não como uma representação estilística, mas como um paradoxo onde as condições urbanas da
130
cidade não servem mais seu povo, mas renuncia a este em função do capital.
KURZ, Robert. Para além de Estado e mercado. Folha de São Paulo, 1995.
Tem-se que, enquanto esta ‘máquina’ de geração de lucros funcionar ‘os empresários e políticos de hoje não têm nenhum interesse na criação de um setor autônomo e externo a seu controle’ e assim, a revolução na gestão territorial e consequente intervenção espacial eficiente nas cidades do futuro se faz mais difícil.
E referir-se a este sistema como máquina não é injusto nem abstrato visto que os modelos de gestão territorial vigentes, oriúndos de estratégias administrativas sistematizadas inicialBIRD & Habitat, 1998 . O chamado neoplanejamento por VAINER, Carlos B. em Pátria, Empresa e Mercadoria.
mente em Harvard assumem a cidade como uma ‘máquina empresarial’ que consciente dos fenômenos globais do mercado capital acabam por incentivar a competitividade urbana e financeira intermunicipal mas não a integração das mesmas como um organismo ‘vivo’ e dependente de seus cidadãos. Têm se a cidade como um produto de direito aos que podem pagar por ela e assim, não há nenhuma possibilidade de estabelecer qualquer condição de valor humano e ambiental, ou carisma num sistema submisso ao aparelho de direcção da economia.
Frente a apropriação da cidade pelos interesses capitalistas questiona-se a eficácia deste modelo globalizado no que diz respeito ao valor dado à cidade e território sob a perspectiva de busca da cidade ideal para o futuro, a busca pela criação de uma ‘Ecosofia’. Compara-se a cidade do capital e da especulação com a cidade da participação integração e cooperatividade, onde critérios sociais, estéticos e ecológicos podem ser analisados com atenção redobrada, uma vez que os lucros não assume caráter prioritário.
131
Assim, voltam se os olhos não mais para o espaço consolidado gerido como máquina, mas
“I would say that ecological urbanism para o não urbanizado ou rurbanizado e os interesses do mesmo visto que, esses estão sofren- should reflect deeply on the unbuilt.” do os impactos do crescimento e consolidação das grandes metrópoles e nestes, prevê-se a Homi K. Bhabha, Ecological Urbanmodificação morfológica de tecidos ainda que não compartilhando do valor monetário recebi- ism, p.81
do pelos tais centros consolidados , perpetuando sua situação dependente e a concentração de forças de pressão sobre os polos logísticos territoriais.
Mas ainda, é interessante sob o ponto de vista da esfera capital a gestão territorial que se concentre infra-estrutura e recursos principalmente por esta gerar a competitividade e, sem tal competitividade não há mercado. Contrariando o mercado e modelos administrativos vigentes, a morfologia macrometropolitana passa a pedir a revisão de tal modelo e quando as regiões metropolitanas e centros consolidados passam a sofrer escassez de recurso, escasses de terra para habitação e gritar suas desigualdades, novas possibilidades para promover a cidade podem ser encontradas a partir da gestão unificada intermunicipal para recursos e infra-estrutura, demandando não investimentos pontuais, mas investimentos estratégicos em todo o território objetivando um futuro comum que passe a promover o direito homogêneo à cidade não apenas por parte da esfera urbana, mas também a rural produtora, que precisa encontrar amparo político, administrativo e legilativo para resisitir as pressões da urbanização.
É preciso sim a atuação da iniciativa privada como vetor de investimento territorial, mas ao Estado e no caso, o instrumento de gestão macrometropolitana, cabe assumir sua posição de
132
mediador das relações urbanas de forma coesa, transparente e imparcial, agindo como integrador e alinhador de estratégia intermunicipal, viabilizador de novas ações projetuais estratégicas e quando necessário, como instrumento de veto a centralização de recursos e urbanidade para garantir eficiência econômica e eficácial urbano- social ainda mais, para garantir que as mesmas particularidades territoriais exploradas pelo mercado hoje não cheguem ao limite de exaustão que propicie a reversão do quadro de cidade potencial para desenvolvimento.
Se, busca-se um quadro propicio à criação da chamada ‘Ecosofia’ abrangendo a esfera social -antropologica do viver urbano, faz-se necessária a integração da participação social na definição do direcionamento de investimento territorial, reafirmando o direito à cidadania, visto que, ao cidadão cabe a função de viver e desfrutar da cidade compreendendo seu cenário produtor, seu cenário potencial e seu cenário de crise.
Assim, conclui-se este trabalho como sendo o início da contestação de gestão vigente pautada nas configurações territoriais consolidadas e previstas para um futuro próximo e nos ideais de cidade que se almejam; bem como um estudo sugestivo de estratégias de intervenção espacial para esse futuro.
•
DAEE; IG; IPT ; CPRM. Mapa de Águas Subterrâneas do Estado. São Paulo, 2005.
•
EMPLASA. Cenários para a Macrometrópole Paulista - 2040. São Paulo, 2012.
•
EMPLASA. Finanças Públicas e capacidade de investimento da Macrometrópole Paulista. São Paulo, 2012.
•
EMPLASA; UNICAMP. O Fenômeno da mobilidade Pendular na Macrometrópole do Estado. São Paulo, 2013.
•
EMPLASA. Rede urbana e regionalização do Estado de São Paulo. São Paulo, 2011.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
•
AB’ SABER, Azis. A Geomorfologia do Sitio Urbano de São Paulo. São Paulo: Ateliê Editorial, 2007.
•
ALEXANDER, Christopher. Timeless way of Buildings. Oxford: Oxford University Press,1979.
•
JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. São Paulo: Martins Fontes, 2000
•
KURZ, Robert. Para além de Estado e mercado. Folha de São Paulo, 1995.
•
LEFEBVRE, Henri. O direito à cidade. São Paulo: Centauro, 1968.
•
MANETTI, Claudio. Um ‘olhar’ sobre o território: análise territorial e estudo prospectivo sobre a ‘Grande Diagonal Paulista’. São Paulo, 2013.
•
MARICATO, E.; ARANTES, O. e VAINER, C. A cidade do pensamento único. Petrópolis:Vozes, 2000.
•
MOSTAFAVI, Mohsen; DOHERTY, Gareth. Ecological Urbanism. London: Lars Müller Publishers, 2010.
•
RYKWERT, Joseph. A sedução do lugar. São Paulo: Ed. Perspectiva, 2004.
•
SANTOS, M. Metrópole corporativa fragmentada. São Paulo: Nobel, 1990.
•
SANTOS, M. A urbanização Brasileira. São Paulo: EDUSP, 2008.
•
SMITH, Karl. Römischer Katholizismus und Politische Form. Berlin, 1927
•
VAINER, Carlos B. Pátria, Empresa e Mercadoria. Petrópolis, 2002.
•
VILLAÇA, Flávio. Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Editora Studio Nobel, 2000.
135
IMAGEM 1: PERÍMETRO MACROMETROPOLITANO DESTACANDO A DIAGONAL LOGÍSTICA IMAGEM 2: URGHI’S E UNIDADES URBANAS DA MACROMETRÓPOLE IMAGEM 3: PREVISÃO DE PERFIL POPULACIONAL NO ESTADO PARA OS PRÓXIMOS 10 ANOS IMAGEM 4: PREVISÃO DE INTENSIFICAÇÃO DE MANCHA URBANA NOS PRÓX. ANOS IMAGEM 5: MANCHAS URBANAS PÓS 70. IMAGEM 6: CRESCIMENTO DA MANCHA URBANA RMSP IMAGEM 7: MANCHA URBANA NO ANO DE 2011 IMAGEM 8: TIPO DE AGRUPAMENTOS. IMAGEM 9: USO DO SOLO NAS IMEDIAÇÕES DA DIAGONAL IMAGEM 10: CONTRIBUIÇÃO PARA O PIB EM MIL REAIS IMAGEM 11: EQUIPAMENTOS DE SAÚDE IMAGEM 12: EQUIP. EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO TECNÓLOGICO IMAGEM 13: EQUIP. DE SERVIÇOS E COMÉRCIO IMAGEM 14: HIPSOMETRIA DA MACROMETRÓPOLE IMAGEM 15: MAPA GEOLÓGICO DA MACROMETRÓPOLE IMAGEM 16: PERFIL GEOLÓGICO DA MACROMETRÓPOLE IMAGEM 17: ÁREAS VERDES E RESERVAS AMBIENTAIS DO TERRITÓRIO IMAGEM 18: TIPO DE COBERTURA VEGETAL IMAGEM 19: MAPA DE URGÊNCIA DE CONECTIVIDADE DE TECIDOS IMAGEM 20: MAPA HIDROGRÁFICO DO TERRITÓRIO
LISTA DE IMAGENS IMAGEM 21: AQUÍFEROS SUBTERRÂNEOS IMAGEM 22: CONTAMINAÇÃO DE RECURSOS HIDRÍCOS IMAGEM 23: VULNERABILIDADE DE ÁQUÍFEROS IMAGEM 24: PRINCIPAIS EIXOS DE MOBILIDADE IMAGEM 25: TAV ‐ TREM DE ALTA VELOCIDADE INTERESTADUAL IMAGEM 26: HIDROANEL E SUA INTEGRAÇÃO À MACROMETROPOLE IMAGEM 27: FLUXOS ESTADUAIS E INTERESTADUAIS IMAGEM 28: PENDULARIDADE ESCOLA ‐ TRABALHO IMAGEM 29: CRESCIMENTO E OPORTUNIDADE NOS PRÓXIMOS 20 ANOS. IMAGEM 30: RECORTES DE ANÁLISE APROFUNDADA IMAGEM 31: COEFICIENTE DE FELICIDADE IMAGEM 32: PIRÂMIDE DA FELICIDADE IMAGEM 33: OS FALANSTÉRIOS DE CHARLES FOURIER IMAGEM 34: AS CIDADES JARDINS E OS TRES ÍMÃS DE HOWARD IMAGEM 35: O GREEN GRID DE LONDRES DE ‘ALGG PROJECT TEAM’ IMAGEM 36: MADRID RIO DE BURGOS & GARRIDOS E PORRAS LA CASTA IMAGEM 37: OS METABOLISTAS JAPONESES IMAGEM 38: A CRÍTICA AO CONSUMO DO ARCHIGRAM IMAGEM 39: ANDREA BRANZI E O MODERNISMO ITALIANO IMAGEM 40: CROQUI ESQUEMÁTICO DE RECORTES A SEREM ESTUDADOS
137
D
esde o princípio das investigações relacionadas a este estudo, não houveram cadernos que recebessem tantas informações quanto o quadro
negro e as paredes paredes de minha casa, essenciais no processo de entendimento do que se propôs ôs estudar. Assim, poucos são os registros passíveis de perpetuação. N Nas as imagens abaixo, os diagramas iniciais de organização de ideias e de questõ questões ões p para ara o qual se buscou u rrespostas espostas (ou se incrementou com mais dúvidas). da
ANEXOS: DOCUMENTAÇÃO PARCIAL DO PROCESSO
D
iscussão com orientador à respeito da decisão de buscar padrões, uma morfologia ou, morfotipos no tecido urbano bem como a identificação de dinâmicas vigentes nesses re-
cortes macrometropolitanos intermunicipais. Discutido também efeitos da repetição desses morfotipos no território e reflexo destes nos núcleos urbanos ‘consolidados’.
139
T
rabalho Final de Graduação apresentado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Anhembi
Morumbi como requisito para obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo, propõe a leitura e investigação do território macrometropolitano para compreensão dos sistemas urbanos vigentes e tendências futuras sob orientação do Me. Cláudio Manetti.
SÃO PAULO, 2014.