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ANOS DE CARIOCAS
Você já pensou em como as novelas moldam o esterótipo do Rio de Janeiro?
NOVELAS QUE discutem O CARIOCA
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
Disciplina: Comunicação e Literatura Brasileira Professores: Renato Gomes, Aline Novaes e Rosana Lobo Grupo: Bruna Mayer, Carolina Siciliano Silva, Gabriela Bandeira Ribeiro, Layssa Soares, e Leticia de Oliveira
A Novela e o Folhetim Por Bruna Mayer
Ao ser perguntado sobre como os folhetins influenciaram as novelas o pesquisador Mauro Alencar disse: “Autores como Alexandre Dumas ou Victor Hugo escreviam folhetins no século XIX. Aquelas histórias, publicadas em capítulos nos jornais franceses, são a base de qualquer telenovela atual. Existem elementos comuns que todo folhetim segue. Há sempre um casal apaixonado que tem de superar obstáculos para viver seu amor. Ao lado do casal há o vilão, quase sempre uma mulher má. Filho desaparecido também é tema recorrente, assim como dupla personalidade ou gêmeos separados.”
O folhetim saiu do jornal lentamente, evoluiu na radionovela, até chegar à versão contemporânea, chamada de telenovela. Glória Perez, Janete Clair e Manoel Carlos são herdeiros do folhetim clássico. O periódico que captura a atenção do leitor nunca acabou, apenas migrou para as telas e continua envolvendo e emocinando o público.
Lado a Lado A telenovela Lado a Lado foi aclamada pela critica, a trama ganhou o prêmio Emmy Internacional de melhor telenovela de 2013. Ela se passa entre os anos de 1904 e 1910, as personagens principais dão sentido ao nome da trama uma vez que conta a história das duas vidas que no inicio se cruzam e a partir de então passam a caminhar lado a lado. Isabel (Camila Pitanga), uma negra dona de um belo gingado e filha de um ex-
Por Carolina Sciliano
escravo, luta pelo respeito a sua raça e busca ultrapassar barreiras pra conquistar todos os seus sonhos. Laura (Marjorie Estiano) uma mulher burguesa prometida em casamento, que deseja apenas seguir carreira como professora e alcançar a liberdade de seguir sua vida sem ser descriminada por pertencer ao sexo feminino, duas mulheres que juntas buscam forças para sobrepor os limites impostos pela sociedade em que viviam.
Escrita por Claudia Lage e João Ximenes Braga, foi a 80º novela exibida pela Rede Globo na faixa das 18h. Não fugindo ao esperado para uma trama “das seis” os autores conseguiram fazer dessa uma novela de época com uma pitada especial, por retratar um período nunca antes explorado. Ganhando pontos extras pelo cuidado com a fotografia da trama e com a historiografia, trabalho realizado por Rosane Bardanachvili e Luciane Reis responsáveis pelas pesquisas históricas que deram vida as ideias dos autores.
A história do Rio alcança o mundo Nada acaba quando termina. O sucesso da novela Lado a Lado não chegou ao fim com a exibição do seu último capítulo, já exportada para vinte países sendo seis ainda em transmissão e dois com transmissão prevista para o próximo semestre podemos ver a história do Rio de Janeiro sendo apresentada de uma maneira pouco vista por outros países. O Rio de praia, sol, calor e mulatas de biquíni foi substituído pelo Rio da luta de classes, do racismo, do desrespeito com a mulher e das raízes do samba que nos abrilhanta até os dias de hoje. Aos poucos podemos apresentar não só o nosso corpinho bonito, mas como somos uma cidade que carrega nos ombros um passado marcado por batalhas em busca de igualdade.
Camila Pitanga, Lado a Lado (2013)
Lázaro Ramos, Lado a Lado (2013)
Uma nova cidade se apresenta em 1910, a Rua do Ouvidor não é mais a principal, a inauguração das Av. Central, Francisco Bicalho e Rodrigues Alves mudam a forma como as pessoas passam a caminhar pelo Rio. A capital ganha o porto que será a porta da comunicação entre nós e o mundo. E assim se estabelece uma multidão, um homem em meio a multidão que passa a se formar pelas ruas do Rio, o ”homem das multidões” de Poe. Ele deixou de ser alguém e passou a ser mais um que se mistura entre a cidade, se esconde de tudo e de todos, em meio a tantas coisas que acontecem é difícil dizer de que cidade viemos e para onde fomos. A passagem de tempo apresentada na novela Lado a Lado entre os anos de 1904 e 1910 reforça a evolução que a cidade do Rio de Janeiro sofreu e como algumas mudanças puderam afetar tanto a todos. A elite aproveitava as nossas avenidas para exibir os seus modelos europeus, em quando os outros usaram dela como um tapete para apresentar o carnaval e afirmar o samba como nossa raiz.
A evidente urbanização do Rio transforma as características dos que aqui viviam. Deixou de ser uma cidade onde todos se conheciam e ganhou ares de metrópole, atraindo pessoas que vinham de todos os cantos para tentar uma vida melhor na cidade grande. O que era dividido por terras passou a ser cruzado por largas ruas que levavam de um lado ao outro a modernização. A luz, a informação, os bondes e a multidão passaram a ser a nova circulação, mas o limite era o chão. Pouca coisa mudou até onde fomos, pudemos enxergar na novela como eram descriminados aqueles que se destoavam do pensamento geral. Além disso, alguns sintomas observados ao longo da trama dizem muito sobre o Rio em que vivemos atualmente, reforçando a importância de Lado a Lado.
Camila Pitanga e Lázaro Ramos, Lado a Lado (2013)
Dancin’ Days Entre nessa festa! Por Layssa Soares
Novela de Gilberto Braga e atração de enorme sucesso da Globo, Dancin’ Days – exibida de julho de 1978 a janeiro de 1979, no horário nobre – é uma das telenovelas mais festejadas da história da Rede Globo. Marcada pela discussão dos valores da classe média e das elites urbanas, Dancin’ Days teve uma trama forte: uma mulher que tenta conquistar sua reinserção social e a admiração da filha adolescente após passar 11 anos na cadeia. O núcleo central traz personagens bastante reais para a época, moradores de classe média de Copacabana.
A Copacabana de Dancin’ Days O fascínio pela novela se deve, além da própria trama, também à sua capacidade de captar o espírito do fim dos anos 70 – a superação das promessas de maio de 68 e o fim do sonho hippie. No Brasil, esse sentimento era intenso. Já que se vivia sob uma ditadura, o melhor era ser feliz na pista de dança, onde todo prazer era permitido. Entre 1970 e 1980 o Rio ferveu. Embalados pelo hit Dancin’ Days, cariocas apinhavam-se no Teatro Tereza Rachel, hoje Net Rio, em Copacabana, para assistir às Frenéticas, enquanto os mais liberais ficavam boquiabertos com as peças do grupo Dzi Croquettes, em que homens travestiam-se de mulher para atuar e cantar. Na Praia de Ipanema, torravam ao sol nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa, enquanto a fumaça da maconha espalhava o barato pelas dunas do bairro. O Rio tornou-se uma meca para quem queria apenas se divertir.
E a novela de Gilberto Braga transmitia o momento. O folhetim também tinha traços bastante contemporâneos. Seus personagens, por exemplo, eram ambivalentes; ninguém é só santo ou só monstro. A mocinha Julia era uma jovem farrista, mãe solteira, que matou um homem em um Carnaval ao tentar roubar vidros de lança-perfume. E para completar, submetia-se a uma forma mais ou menos velada de prostituição ao se casar com um homem mais velho por puro interesse financeiro. A antagonista, Yolanda Pratini, em compensação, não era lá uma vilã das mais pérfidas; embora fosse capaz de grandes maldades, agia em geral por amor à sobrinha (que criou como filha) e por medo da própria solidão. E o mocinho, Cacá, era um trintão em crise, que larga a carreira de diplomata e faz teste vocacional e sessões de terapia quando isso estava longe de ser moda (na época, ainda era visto por muitos como sinal de loucura). No último capítulo, a briga entre as irmãs Julia Matos e Yolanda Pratini, que discutem sobre Marisa é ambientada no famosíssimo e ícone da cidade do Rio de Janeiro, o Hotel Copacabana Palace. O Rio daqueles anos acabou. No começo da década de 80, quando a capital fluminense passou a ver de mão atadas o crescimento exponencial de sua miséria e violência. Talvez, mesmo com as tensões sociais, exista ainda um certo clima de cordialidade, em que as milionários da avenida Atlântica sabem que precisam dividir o bairro com moradores da favela do Pavãozinho ou dos conjugados da Barata Ribeiro. Copacabana ainda é um bairro em que se esbarram nas ruas pedicures como Julia, socialites falidas como Yolanda, velhos sonhadores como Alberico, mulheres independentes como Emília e Solange e ricaços solitários como Ubirajara.
A Novela no Brasil e no Exterior A imagem do Brasil passada pela novela Dancin’ Days é basicamente Copacabana: praia, sol, classe média, diversão, juventude e Copacabana Palace. A novela foi apresentada pela rede mexicana Televisa, uma das principais exportadoras de telenovela do mundo. Foi a primeira vez que o México, país com forte tradição na produção de teledramaturgia, exibiu uma novela brasileira. A novela foi apresentada em cerca de 40 países, entre eles: Argélia, Bélgica, Bolívia, China, Colômbia, Espanha, França, Polônia, Portugal e Uruguai. Na Itália, chegou a alcançar um
público médio de quatro Sábado à Noite, filme de milhões de espectadores John Badham estrelado por John Travolta que levou por capítulo. milhões de espectadores Em 1978, a novela foi ao cinema e impulsionou tema de uma reportagem o sucesso das discotecas da revista americana em todo o mundo. Nas Newsweek, que destacou a capitais como Rio e São influência da novela sobre Paulo e no interior país, os hábitos de consumo dos virou mania sair para telespectadores. Além de dançar “disco music”. lançar modismos, como A nova onda motivou a meias coloridas de lurex, abertura de discotecas que ícones de uma geração, a se tornaram palco para o novela promoveu produtos público balançar ao som como água-de-colônia das músicas que ouviam e sandália de salto fino. em Dancin’ Days. A própria Foram vendidas 400 mil novela foi inspirada na bonecas Pepa, brinquedo boate de mesmo nome da personagem Carminha comandada por Nelson Motta no bairro da (Pepita Rodrigues). Gávea, que virou point de A trama também tirou badalação no Rio no final partido de Os Embalos de dos anos 70.
A Copacabana de Rubem Braga Dentre os vários cronistas de século XX, Rubem Braga guarda um lugar de destaque na literatura brasileira. O escritor se notabilizou com algumas coletâneas e crônicas publicadas em jornais como o Correio da Manhã, Diário de Notícias, A Manhã, O Globo e Correio da Manhã. Os textos foram reunidos em obras-primas do gênero como “O conde e o passarinho”, “Com a FEB na Itália”, “A borboleta amarela” e “Ai de ti, Copacabana”. “Ai de ti, Copacabana” foi lançado em 1962 e traz 60 crônicas escritas entre abril de 1955 a fevereiro de 1960. Braga, precursor na descrição dos novos hábitos da classe média da zona sul carioca nos anos 1950, é um escritor que se diferencia de seus contemporâneos pelo fato de explorar o lirismo em suas crônicas. Em “Ai de ti, Copacabana” – crônica-título da obra – ele escreve um texto carregado de imagens bíblicas e mitológicas, que prevê que o “apocalipse” se abaterá sobre o bairro. Braga escreveu a crônica com um tema de destruição da pecaminosa Copacabana sob o choque de presenciar o balneário mudando tão rapidamente e o caos começando a se instalar. Muito diferente da Copacabana agitada e jovial de Dancin’ Days. Elenco de Dancin’Days (1978)
Ai de ti, Copacana
Rubem Braga
“Ai de ti, Copacabana, porque eu já fiz o sinal bem claro de que é chegada a véspera de teu dia, e tu não viste; porém minha voz te abalará até as entranhas. Ai de ti, Copacabana, porque a ti chamaram Princesa do Mar, e cingiram tua fronte com uma coroa de mentiras; e deste risadas ébrias e vãs no seio da noite. Já movi o mar de uma parte e de outra parte, e suas ondas tomaram o Leme e o Arpoador, e tu não viste este sinal; estás perdida e cega no meio de tuas iniquidades e de tua malícia. Sem Leme, quem te governará? Foste iníqua perante o oceano, e o oceano mandará sobre ti a multidão de suas ondas. Grandes são teus edifícios de cimento, e eles se postam diante do mar qual alta muralha desafiando o mar; mas eles se abaterão. 6. E os escuros peixes nadarão nas tuas ruas e a vasa fétida das marés cobrirá tua face; e o setentrião lançará as ondas sobre ti num referver de espumas qual um bando de carneiros em pânico, até morder a aba de teus morros; e todas as muralhas ruirão. E os polvos habitarão os teus porões e as negras jamantas as tuas lojas de decorações; e os meros se entocarão em tuas galerias, desde Menescal até Alaska. Então quem especulará sobre o metro quadrado de teu terreno? Pois na verdade não haverá terreno algum. Ai daqueles que dormem em leitos de pau-marfim nas câmaras refrigeradas, e desprezam o vento e o ar do Senhor, e não obedecem à lei do verão. Ai daqueles que passam em seus cadilaques buzinando alto, pois não terão tanta pressa quando virem pela frente a hora da provação. Tuas donzelas se estendem na areia e passam no corpo óleos odoríferos para tostar a tez, e teus mancebos fazem das lambretas instrumentos de concupiscência. Uivai, mancebos, e clamai, mocinhas, e rebolai-vos na cinza, porque já se cumpriram vossos dias, e eu vos quebrantarei.
Ai de ti, Copacabana, porque os badejos e as garoupas estarão nos poços de teus elevadores, e os meninos do morro, quando for chegado o tempo das tainhas, jogarão tarrafas no Canal do Cantagalo; ou lançarão suas linhas dos altos do Babilônia. E os pequenos peixes que habitam os aquários de vidro serão libertados para todo o número de suas gerações. Por que rezais em vossos templos, fariseus de Copacabana, e levais flores para Iemanjá no meio da noite? Acaso eu não conheço a multidão de vossos pecados? Antes de te perder eu agravarei tua demência — ai de ti, Copacabana! Os gentios de teus morros descerão uivando sobre ti, e os canhões de teu próprio Forte se voltarão contra teu corpo, e troarão; mas a água salgada levará milênios para lavar os teus pecados de um só verão. E tu, Oscar, filho de Ornstein, ouve a minha ordem: reserva para Iemanjá os mais espaçosos aposentos de teu palácio, porque ali, entre algas, ela habitará. E no Petit Club os siris comerão cabeças de homens fritas na casca; e Sacha, o homem-rã, tocará piano submarino para fantasmas de mulheres silenciosas e verdes, cujos nomes passaram muitos anos nas colunas dos cronistas, no tempo em que havia colunas e havia cronistas. Pois grande foi a tua vaidade, Copacabana, e fundas foram as tuas mazelas; já se incendiou o Vogue, e não viste o sinal, e já mandei tragar as areias do Leme e ainda não vês o sinal. Pois o fogo e a água te consumirão. A rapina de teus mercadores e a libação de teus perdidos; e a ostentação da hetaira do Posto Cinco, em cujos diamantes se coagularam as lágrimas de mil meninas miseráveis — tudo passará. Assim qual escuro alfanje a nadadeira dos imensos cações passará ao lado de tuas antenas de televisão; porém muitos peixes morrerão por se banharem no uísque falsificado de teus bares. Pinta-te qual mulher pública e coloca todas as tuas jóias, e aviva o verniz de tuas unhas e canta a tua última canção pecaminosa, pois em verdade é tarde para a prece; e que estremeça o teu corpo fino e cheio de máculas, desde o Edifício Olinda até a sede dos Marimbás porque eis que sobre ele vai a minha fúria, e o destruirá. Canta a tua última canção, Copacabana!”
Paraíso Tropical Por Gabriela Ribeiro
A cobertura e o calçadão
A novela mostrou a disposição de Gilberto Braga para retomar a sua veia de cronista da vida urbana, mostrando a verdade das ruas e das coberturas do Rio, com discursos canalhas da elite. Paraíso Tropical é uma novela urbana, tem como trama central a história das gêmeas Paula e Taís, mulheres fisicamente idênticas, mas com personalidades opostas. Copacabana é o cenário central da novela, com núcleos em diversas partes do bairro. A trama conta também a história de Antenor Cavalcanti, um poderoso empresário que se tornou um homem frio e calculista desde a morte de seu filho com Ana Luísa, sua esposa. O empresário só se interessa pelo dinheiro. Daniel, é filho de um caseiro, foi praticamente criado por Ana Luísa e o marido sempre trabalhando no grupo, que mantém sua sede num dos hotéis mais luxuosos na Avenida Atlântica, no Rio de Janeiro. No início da história, o empresário tinha acabado de comprar o resort Ponta do Coral, na fictícia Marapuã, localizado no litoral da Bahia, e Daniel é enviado para finalizar as últimas negociações com o proprietário. Ao chegar em Marapuã, Daniel descobre um bordel nas redondezas do resort e encontra com Amélia, a cafetina das meninas da região. Sua principal menina é Bebel, uma mulher ambiciosa que se envolve com gente perigosa, e se alia ao cafetão Jáder para conseguir vir para o Rio de Janeiro.
E é nesta viagem que Daniel se apaixona pela bondosa Paula, que depois descobre sua irmã gêmea, a vilã Tais, que vive no Rio de Janeiro mendigando convites e sempre sonhando em ascender a alta classe da sociedade carioca. Daniel se apaixona por Paula e pensa em viver por ali mesmo, com uma vida mais tranquila, sem estresse. Porém Olavo tenta acabar com o amor dos dois. O vilão é filho de Marión, uma promoter em decadência. Com a ajuda de Jader, Olavo conseguirá separar o casal por um tempo arquitetando uma armadilha para Daniel com uma menina menor de idade. Sem notícias do seu amado Paula parte para a Amazônia.
Fábio Assunção e Alessandra Negrini, Paraíso Tropical (2007)
Paralelamente à história principal, encontramos no Rio de Janeiro, os ilustres moradores do edifício Copamar que reúne famílias de classe média, em Copacabana, administrado pela síndica Iracema, uma mulher viúva muito rígida e conservadora que deseja transformar o edifício em uma referência da moral e dos bons costumes do bairro. O Copamar se torna alvo de muitas situações engraçadas, como com a
chegada de Dolores, uma ex-cafetina que tem sua fome sexual indomável e com ela tratará homens maravilhosos em uniformes e outros tipos. Também no mesmo prédio ainda vivem o quarentão Cássio, que no passado teve um filho com Lúcia. Belisário Cavalcanti, pai de Antenor, um homem que antigamente vivia de pequenos trambiques e, hoje ainda mantém sua personalidade de antes.
Crítica Social Nesta história, nem tudo é o que parece. A boa moral e conduta são contestadas pelo núcleo de prostitutas, que trata do turismo sexual de uma forma muito abrangente. Expondo essa prática existente no país e principalmente no Rio. Bebel é a personagem central deste núcleo, a prostituta interpretada por Camila Pitanga e representa a beleza da mulher brasileira sensual e cheia de atitude. Percebe-se na trama é que se a cidade do Rio de Janeiro fosse uma pessoa, seria uma mulher linda, com um corpo esbelto. A cidade, com seu ar de paraíso, com a cultura da beleza das praias só pode ser definida desta forma. É desta forma que a cidade é vista, como o oásis de beleza feminina, corpos desfilando ao mar. Gilberto Braga aborda também a crítica social da elite carioca, uma posição social vislumbrada por muitos. Na trama ele insere personagens em decadência, que não fazem mais parte dessa elite, mas que utilizam conhecimentos pessoais para se manter nesse grupo e não perder o luxo que essa vida pode oferecer. Um exemplo disso é Marión que vive no edifício Copamar, com moradores de classe média de Copacabana mas que está sempre tentando se manter em contato com os mais ricos do bairro, uma elite que vem de berço.
João do Rio e a Elite “Souza Prates, de uma das mais ilustres famílias de São Paulo, é o fazendeiro último modelo. Membro do Automóvel Club de São Paulo, membro do Aero de Paris, riquíssimo, levemente esnobe, faz da vida uma contínua diversão. (...)Essas visitas são sempre feitas na companhia de vários amigos, pessoas que levam a vida sem a preocupação da falta de renda – uma das mais graves preocupações da humanidade. De modo que, insensivelmente desarraigados, esses elegantes fazem desaparecer a tradição dos costumes paulistas num reflexo dândi do conforto dos castelos de Inglaterra ou de França.” (Trecho da peça Eva,1915, João do Rio)
Álvaro Moreyra e o Rio Álvaro Moreyra foi um poeta, cronista e jornalista brasileiro. Nascido em Porto Alegre, publicou seu primeiro livro em 1909 quando já colaborava para periódicos gaúchos tais como Jornal da Manhã e Correio do Povo. A poesia de Álvaro Moreyra se integra à segunda geração do Modernismo e influenciou poetas como Carlos Drummond de Andrade. Moreyra mapeia o Rio de Janeiro e outros centros urbanos com a crônica.¬Suas obras podem ser definidas ao falar das cidades e das mulheres que nelas flanam. No texto de Cidada Mulher, Álvaro fala sobre o rejuvenescimento da cidade, que hoje se encontraria ainda jovem, mesmo com seus 450 anos. “A terra carioca tem o tempo da vida contado às avessas. Os anos vão se passando, ela vai ficando mais nova. Quem a procura, na lembrança dos dias colociais, encontra uma velhinha tristonha de nome cristão e vista fatigada, em frente ao mar... Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Durante a permanência de D. João VI, a velhinha desaparece. E lá está, entre os uivos da rainha doida e os primeiros lampiões urbanos, uma grava matrona, vestida sem gosto nenhum... Com D. Pedro I, ei-la chegada ao outono, já bem-posta, aparecendo nas igrejas, nos salões, no teatro... A Regência deixa-a na mesma idade. Pelo meio do Segundo Império, ela rejuvenesce escandalosamente... Quando se proclamou a República, andava a terra carioca nos seus vinte anos... De então para hoje ficou assim... Menina moça, pouco a pouco se desembaraçou, perdeu o ar acanhado, quis viver... O corpo tomou o ritmo das ondas, a graça das árvores esguias. Tem um resto de sonho nos olhos, o voo de um desejo alegre nas mãos... Mulher bem mulher, a mais mulher das mulheres...Conhece o presente. Adivinhas coisas delicidosas do futuro. Mas, não lhe falem em datas, épocas, feitos, criaturas do passado... Não lhe falem, que se atrapalha. Em compensação, enumera todos os costureiros e chapeleiros de Paris... diz de cor e biografia de todos os artistas de cinema... entende de sports como ninguém entende... Conversa em francês, inglês, italiano, espanhol... Ama os poetas... Toma chá, como furor... E dança tudo... É linda!...” (Aqui Está – Trecho de Cidade Mulher, Alvaro Moreyra)
Avenida Brasil Um fenômeno da novela brasileira Por Letícia de Oliveira
Iniciada em março de 2012 e escrita por João Emanuel Carneiro, Avenida Brasil contou uma história sobre vingança, crimes, conflitos familiares e acerto de contas. Apesar de tanto drama envolvido, não eram dispensados bom humor, exageros e comicidade. A novela foi um fenômeno no contexto brasileiro e mundial, chegando a ser licenciada em 150 países e dublada em 19 idiomas. A trama central é o plano de vingança de Rita/Nina (Débora Falabella) contra sua madrasta da infância, Carminha (Adriana Esteves). Na primeira fase da novela, que retrata a infância de Rita, as duas têm um conflito que acaba com Carminha deixando a enteada em um lixão. Na segunda etapa, Rita, agora chamada de Nina, é adulta e se aproxima da família de Carminha e Tufão (Murilo Benício) para realizar sua vingança. Ela conhece também o filho adotivo deles, Jorginho (Cauã Reymond) e, mais tarde, descobre que é o seu amigo de infância Batata, com quem vivia no lixão.
Os demais núcleos da novela são bastante variados em história e contexto. São mostrados diversos personagens típicos da cena carioca, como os aspirantes a jogador de futebol, os moradores do subúrbio, a classe alta da Zona Sul e outros. O teor geográfico da novela consiste em uma importante característica, já que são mostradas diferentes zonas: Copacabana, Divino (bairro fictício bem semelhante a Madureira), um aterro sanitário semelhante ao lixão de Gramacho e outros. É interessante analisar a questão geográfica de Avenida Brasil por serem vistos diversos pontos da cidade, o que leva a abordar, também, diferentes conflitos e hábitos. O tema central de vingança é passado, principalmente, na casa da família de Tufão que, apesar de muito rica, não saiu do subúrbio. No mesmo local há pessoas de classe média ou classe média baixa, vivendo personagens comuns nesse contexto, com hábitos como o comércio de rua e os tradicionais bailes Charme. Já na zona sul do Rio, um dos temas mais abordados é a infidelidade, protagonizada por Cadinho (Alexandre Borges), um homem rico e charmoso que tem três famílias ao mesmo tempo. Por trazer temas tão diversos e uma lista de personagens tão rica em personalidades, Avenida Brasil chegou a atingir uma audiência de 52 pontos no episódio final e foi a novela mais exportada para outros países, superando Da cor do pecado, também de João Emanuel Carneiro, que até então ocupava essa posição. O último capítulo da novela mobilizou o país, deixando importantes ruas de várias cidades completamente desertas. Por ser uma novela que mostra o Rio de Janeiro de forma típica mas, ainda assim, original, e por ter sido exibida tanto dentro do país como fora dele, cabe a pergunta: qual a visão que moradores de outros lugares têm sobre o Rio depois de Avenida Brasil?
Débora Falabella, Avenida Brasil (2012)
Adriana Esteves, Avenida Brasil (2012)
Avenida Brasil e a imagem da vida carioca A cidade do Rio de Janeiro é marcada por uma mistura de classes sociais um pouco maior que outras cidades do Brasil (como, por exemplo, São Paulo). Muitos bairros nobres são cercados por favelas e, apesar de todas as barreiras sociais naturalmente existentes, muitas fronteiras acabam sendo quebradas. No Divino, bairro do subúrbio de Avenida Brasil, a coexistência de diversas classes sociais era um ponto forte, que contribui para a formação de uma visão do Rio como uma
cidade com menos fronteiras do que se imagina. Por mostrar figuras como os jogadores de futebol, típicos do cenário brasileiro, Avenida Brasil faz uma análise dos que seguem essa carreira. Além de Tufão, que era um jogador já aposentado, rico e de sucesso, personagens como Iran (Bruno Gissoni), Leandro (Thiago Martins) e Roni (Daniel Rocha) mostravam outro lado do sonho típico dos meninos brasileiros. Eram jovens de classe média baixa, com dificuldades
financeiras que sonhavam com as conquistas do campo e da bola. De forma geral, esses personagens representam a maioria dos jogadores cariocas e brasileiros: meninos de origem humilde, com garra, vontade e sonhos, que acabam alcançando o sucesso e a fama graças à dedicação e ao amor pelo esporte (no caso, o exemplo de sucesso é Tufão). Outra caricatura muito presente na novela foi a “piriguete” Suelen, vivida por Isis Valverde.
Suelen era uma mulher ousada e insolente que não media esforços para consegui o que queria, sempre com muitas gírias e expressões próprias e bom humor, além da determinação. A personagem chamava atenção pela beleza e pelas roupas, sempre chamativas e sensuais. O comportamento cômico e divertido de Suelen inspirou personagens de outras novelas e ficou mundialmente conhecido. Foram iconizados o estilo, o comportamento e a atitude de muitas mulheres do subúrbio: divertidas, exuberantes e ambiciosas. Outra figura do subúrbio retratada na novela foi o personagem Monalisa, interpretada pela atriz Heloisa Périssé, uma cabeleireira esforçada, que abre um salão no Divino e luta para criar o filho Iran e sofre com a perda do amor de Tufão, que era noivo dela antes de se casar com Carminha. Essa é uma referência às mães trabalhadoras do subúrbio, que fazem o que podem pela família, sempre sendo guerreiras e determinadas. No núcleo da Zona Sul, o foco foi nos conflitos conjugais de famílias ricas. O executivo Cadinho mantém um longo relacionamento com três mulheres ao mesmo tempo: Noêmia (Camila Morgado), Verônica (Débora Bloch) e Aléxia (Carolina Ferraz), tendo filhos com todas elas. Com exageros e muito bom humor, faz-se uma crítica a uma parte da alta sociedade carioca (mas que funciona da mesma forma em outros lugares): a inversão de valores entre dinheiro e família. Casamentos que parecem perfeitos acabam se mostrando sem solidez e até mesmo sem respeito. Pode-se ver que Avenida Brasil levou ao resto do país e a uma boa parte do mundo uma imagem tradicional, mas também inovadora de certos personagens da cena carioca. Deuse voz a figuras que ainda não tinham sido muito exploradas, como o personagem de Lucinda (Vera Holtz), uma catadora de lixo amorosa e familiar, os “novos ricos” da família Tufão e outas caricaturas marcantes dessa trama inesquecível
Referências literárias a espaços cariocas “Quando eu morava em Madureira, sair atrás de doces era uma consequência natural do dia de Cosme e Damião. Rodávamos desde a manhã e, no fim do dia, despejávamos tudo o que fora arrecadado numa bacia, comparando o montante que cada um conseguira. Então se iniciava outro ritual: as trocas. (...) Um dia me mudei para a Barra com meus pais, depois para a Zona Sul, e foi como se essa tradição desaparecesse. As ruas, no dia 27 de setembro, eram apenas as ruas, com sua incessante monotonia. Às vezes, um parente se lembrava de nós e mandava um saquinho de doce.” Trecho da crônica “Cosme e Damião”, do livro “Na dobra do dia” , de Marcelo Moutinho “É uma espécie de bairro-purgatório e nos seus edifícios e ruas pode-se encontrar a mais contrastante e extravagante fauna humana: náufragos existenciais sem perspectivas sociais, ricaços discretos, pivetes poliglotas, vândalos genéticos, desgraçados crônicos, “subs” em geral, a seita consumista classe média vivendo a barra pesada das gangorras sócio econômicas, camelôs científicos, travestis irresistiveis. Extravagante, contrastante fauna humana fazendo coisas nos edifícios ou circulando fora deles bombardeada pelo excesso audiovisual das suas ruas. Um lugar ideal pra proliferação de submundos.” Trecho do conto “Copacabana Hong Kong”, do livro “Básico instinto”, de Fausto Fawcet
Manoel Carlos Um conhecido retrato do Rio
Por Letícia de Oliveira
Ao se falar de Manoel Carlos, é difícil selecionar uma só obra para analisar como esse conhecido autor retrata o Rio de Janeiro. Conhecido pelas Helenas e os dramas familiares, Maneco, como é chamado por muitos, criou obras que entraram para a história da teledramaturgia brasileira, ficando conhecido em todo país e também fora dele. Seu repertório já virou tradição: a protagonista, sempre chamada Helena e interpretada por um nome de peso da televisão, é uma mulher forte, determinada e que luta contra algum drama familiar ou pessoal. As histórias costumam se passar no bairro do Leblon, pelo menos no que diz respeito ao núcleo principal. Pode-se inferir, com isso, que as temáticas costumam envolver a alta sociedade do Rio e os típicos dramas da vida contemporânea. O uso repetido do nome Helena serve como referência a uma personalidade forte, que luta muito na vida, tal como o personagem de Tróia. As Helenas das tramas de Manoel Carlos já foram
interpretadas por Lílian Lemmertz, Maitê Proença, Regina Duarte, Vera Fischer, Christiane Torloni, Taís Araújo, Bruna Marquezine e Júlia Lemmertz (sendo que Regina Duarte já viveu três Helenas diferentes, em História de amor, Por amor e Páginas da vida). Apesar de já ter escrito algumas minisséries, como A presença de Anita e Maysa – Quando fala o coração, é nas novelas que Maneco tem maior sucesso. A sua simpatia pelo Leblon e pelas Helenas costuma resultar em mostrar a parte mais nobre do Rio, com famílias ricas que têm dramas como quaisquer outras. Violência doméstica, racismo, infidelidade, doenças sem cura e adoção foram alguns dos temas polêmicos trazidos em suas tramas. Em Páginas da vida, novela do autor iniciada em 2006 que trouxe Regina Duarte como Helena pela terceira vez, foram incluídos relatos verdadeiros de pessoas comuns; depoimentos capturados nas ruas sobre temas semelhantes aos que eram abordados na novela.
Baila Comigo (1981): A trama conta a história de irmãos gêmeos, filhos de Helena, interpretada por Lilian Lemmertz, separados na maternidade. Quando eles são adultos, muitas coisas começam a ameaçar o segredo de Helena.
Obras de Sucesso
Por amor (1997): Também vivida por Regina Duarte, a Helena desta trama é ex-mulher de um alcoólatra e engravida na mesma época que sua filha. O seu neto, porém, morre no parto, e Helena decide dar o próprio filho para ser criado por sua meiairmã.
Mulheres apaixonadas (2003): A protagonista Helena é vivida por Christiane Torloni, uma mulher rica e trabalhadora que cai na rotina em seu casamento e resolve viver uma grande paixão. Há muitos segredos envolvendo questões de paternidade, em especial no que diz respeito a seu marido Téo, vivido por Tony Ramos. A novela foi polêmica por ser uma das primeiras a falar de homossexualidade. Também foi muito abordada a questão da infidelidade e da violência doméstica, tanto em relação à mulher como aos idosos.
Laços de família (2000): Desta vez interpreta por Vera Fischer, Helena é mãe de Camila e as duas se apaixonam pelo menos homem, Edu. Ainda assim, a protagonista ainda tem sentimentos por Pedro, um amor do passado. Os dramas começam quando a filha de Helena é diagnosticada com leucemia.
Páginas da vida (2006): Novamente vivida por Regina Duarte, Helena é uma médica bem sucedida que resolve adotar uma criança com síndrome de Down cuja mãe morreu no parto e que foi rejeitada pela avó. Paralelamente, outras tramas trouxeram ao público temas como racismo, violência e infidelidade.
História de amor (1995): A história conta a vida de Helena, vivida por Regina Duarte, que enfrenta a gravidez prematura da filha e se apaixona por um médico rico, comprometido e muito assediado.
Trilha Sonora de Mulheres Apaixonadas (2003)
Grupo: Bruna Mayer Carolina Sciliano Gabriela Ribeiro Layssa Soares LetĂcia de Oliveira