Catedral Basílica de Salvador - Teoria da Arquitetura I

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Teoria da Arquitetura I

Catedral Basílica de Salvador


Universidade Federal de Sergipe Departamento de Arquitetura e Urbanismo - DAU Disciplina: Teoria da Arquitetura I Turma: 2020.2 Docente: Pedro Murilo Gonçalves de Freitas Discentes: Ana Clara Matos Araujo Lima Anna Luiza Gusmão Silva Bruna Rayanne dos Santos Ferreira


Contexto Histórico A Catedral Basílica Primacial de Salvador, situada no bairro Pelourinho e considerada a mãe de todas as igreja católicas no Brasil, foi construída durante o período colonial, com uma margem entre os anos de 1652 a 1672, com autoria desconhecida. A priori, funcionou como a capela do Colégio dos Jesuítas, que eram responsáveis pela educação, fundamentada nas bases catolicistas, do Brasil Colônia. A atividade jesuítica manteve-se no Brasil até 1759, quando foram expulsos do Brasil a mando da Coroa Portuguesa, que temia sua crescente influência. Sendo assim, a Igreja foi confiscada pela Coroa e no ano de 1760 foi oficializada como catedral da arquidiocese, em substituição a antiga Sé da Bahia, que se encontrava desativada por problemas estruturais e acabou sendo demolida no século XIX.

Mapa de localização da Catedral Basílica de Salvador.

Fonte: Styling Wizard: Google Maps APls


Precedentes Construtivos Uma das principais representantes da arquitetura jesuítica é a Igreja de Gesu (1568), em Roma, de Giacomo Vignola, também conhecida como Igreja de Jesus. O projeto para esta igreja criou um padrão para outros templos jesuítas. Nela estão contidos alguns dos mais importantes elementos, como a nave única, as capelas laterais substituindo as naves e o transepto embutido no corpo da própria edificação.

A edificação fundamenta-se no pressuposto do partido geral da igreja jesuíta. Entretanto, como Lúcio Costa escreveu em seu artigo "A Arquitetura dos Jesuítas no Brasil", onde buscou estudar e defender a importância dessas obras como verdadeiro símbolo da antiguidade brasileira, houve uma tentativa falha de conciliar a solução tradicional de duas torres com o traçado vigente (p. 147), representado por um novo padrão de frontispício sem torre, característica da arquitetura jesuítica, difundida por Vignola. Essa configuração acaba por influenciar no restante dos elementos: as volutas desenvolvem-se livremente, resultando em um modelo sobressalente ao comum, o frontão ficou limitado à proporções bastante reduzidas, assim como as torres, que vistas de frente, transmitem a sensação de não encaixar-se na fachada.

Igreja de Gesú

Catedral de Salvador


No Brasil, a influência da arquitetura vem mais diretamente de Portugal, em especial do maneirismo português. É possível identificar na Catedral Basílica de Salvador uma relação com a igreja de São Roque (versão ampliada do século XVII) e com a Igreja de São Vicente de Fora, ambas situadas em Lisboa, sendo observado que o programa da catedral seguia os parâmetros da arquitetura que era realizada em Portugal, porém com adaptações e simplificações decorrentes das limitações econômicas e tecnológicas.

Frontão reto

Arquitetura jesuítica

De acordo com John Bury em "Arquitetura e Arte no Brasil Colonial", a dualidade presente no partido estabelecido para a fachada da Catedral de Salvador, como elucidado anteriormente, corresponde a uma relação conflitante entre às proposições jesuíticas estabelecidas pela Igreja de Gesú e ao modelo estabelecido por Filippo Terzi (p. 77), exemplificado pela Igreja de São Vicente de Fora, com a presença das duas torres na fachada.

Fonte: Coisas da Arquitetura Disponível em: <https://coisasdaarquitetura.wordpress.com/2011/09/22/morfologia-da-igreja-barroca-nobrasil-i/>. Acesso em: 22 jun. 2021.


Características físico-espaciais: externo Ao realizar uma análise gráfica da igreja é possível notar uma relação geométrica entre seus elementos, originados do vínculo entre as tradições de forma, função e estilo.

Sua fachada pode ser dividida horizontalmente em três corpos, sendo a maior situada em baixo e a menor situada no meio. O corpo que está inserido no topo é ligeiramente menor que o corpo da base. Já verticalmente, possui cindo divisões, seguindo uma simetria crescente, indo das extremidades em direção ao meio, o que é igualmente definidor no tamanho das janelas e portas, obedecendo o eixo que orienta a segmentação entre as torres, as volutas e o corpo principal. No caso das colunas, que totalizam seis na fachada principal, a proporção é estabelecida de forma crescente, de modo que, a partir do volume representado como a base, elas vão se afunilando até chegar ao volume do topo.

O revestimento externo é feito totalmente em pedra-lioz, importada de Portugal, e sob as portas estão representados Santo Inácio de Loyola, São Francisco Xavier e São Francisco de Borja.


Derivação dos volumes seguindo as bases albertianas


Características físico-espaciais: interno A parte interna da edificação é marcada por um traçado longitudinalmente simétrico, preservando a correspondência entre as capelas adjacentes e o corpo principal - a nave única retangular, coberta por uma abóboda de berço. No programa da igreja não há cúpula, possivelmente devido à limitação técnica do projeto.

Fonte: Senhoritas Fotografia Disponível em: <https://storage.alboom.ninja/sites/5911/alb uns/472450/fotografia-batizado-catedralbasilica-salvador-foto-fotografa-fotografosenhoritas-fotografia-batismo-1.jpg? t=1562705883>. Acesso em: 22 jun. 2021.

Fonte: Crônicas Macaenses Disponível em: <https://cronicasmacaenses.files.wordpress. com/2019/07/catedral-basilica-de-salvadorbahia-03.jpg>. Acesso em: 22 jun. 2021.

O altar-mor é inserido entre dois altares secundários, proporcionando uma visão concentrada da nave central, o que daria uma maior sensação de unidade e efetividade, esperada em um templo jesuíta. Ao todo, contam-se 14 altares dispostos em capelas laterais, sendo maiores as duas capelas mais próximas do altar-mor, formando uma quebra na espacialização com o objetivo de representar em planta a cruz.

Fonte: Jornal Correio Disponível em: <https://correiocdn2.cworks.cloud/fileadmin/user_upload/co rreio24horas/2018/09/13/13092018_Catedr alBasilica_MS_CP2.jpg>. Acesso em: 22 jun. 2021.


Corte longitudinal É possível representar através da modelagem a composição da nave e entender o comportamento dos seus elementos. Para esse tipo de construção, onde a precisão não é o elemento fundamental, mas sim o entendimento do espaço, foi utilizado, como demonstrado anteriormente, uma relação de proporção entre as partes. É possível demonstrar respectivamente, através do corte longitudinal passando pela meio exato da edificação, o adro; o nártex, com presença de dois pavimentos superiores; as capelas laterais, que totalizam 5, sendo uma maior do que as demais; o espaço destinado a capela-mor e, por fim, a sacristia. Além disso, na parte superior, está representada a abóboda de berço.

Corte transversal

Já no corte transversal, que passa pelas penúltimas capelas laterais, a ideia fundamental é a análise de uma possível segunda fachada da catedral, dessa vez representada pela superfície que contêm a capela-mor e as duas capelas laterais. Torna possível também a análise do arco formado pela abóboda. A análise dessa segunda fachada é fundamental para fins de comparação com as igrejas apresentadas anteriormente e entender o comportamento da Catedral de Salvador frente às tipologias jesuíticas e às heranças portuguesas Com relação à simetria das capelas, é possível estabelecer três regras: as quatro primeiras capelas possuem mesma altura e mesma largura; as capelas que se encontram uma em cada lado da capela-mor, possuem a mesma altura das demais capelas, porem são mais estreitas; as últimas capelas laterais possuem a mesma altura que a capela-mor, com uma diferença pequena entre as larguras. Com a modelagem da parte externa, incluindo fachada principal e lateral, identifica-se as esquadrias, as simetrias entre os volumes, os elementos do frontispício (colunas, torres, volutas, frontão, pináculos, etc).


Vista perspectivada Com a modelagem da parte externa, incluindo fachada principal e lateral, identifica-se as esquadrias, as simetrias entre os volumes, os elementos do frontispício (colunas, torres, volutas, frontão, pináculos, etc). Esse tipo de método torna possível o exercício de compreender as características dos estilos presentes na edificação, ainda que a Catedral Basílica de Salvador represente uma edificação com uma complexidade considerável em sua tradução.


Referências COSTA, Lúcio. A arquitetura dos jesuítas no Brasil. Revista do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Rio de Janeiro, n. 5, p. 105-169, 1941. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ars/a/bJFk5JffX7H38W4JPGr3QZg/?lang=pt. Acesso em: 14 jun. 2021. BURY, John. Arquitetura e Arte no Brasil Colonial. Brasília- DF: IPHAN, 2006. . Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/files/johnbury.pdf. Acesso em: 14 jun. 2021. FLEXOR, Maria. Igrejas e Conventos da Bahia. 1.ed. BrasíliaDF: IPHAN, 2010. Disponível http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/ColRotPat9_IgrejasConventosBahia_Vol2_m.pdf. Acesso em: 14 jun. 2021.

em:

NEVES, Belinda. De Templo Jesuítico à Sé Catedral: Transformações Ornamentais e Iconográficas da Igreja do Colégio Após a Expulsão dos Jesuítas. Tese (Doutorado em Artes Visuais)Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia. Salvador. 2020. Disponível em: https://ppgav.ufba.br/sites/ppgav.ufba.br/files/tese_final_belinda_neves.pdf. Acesso em: 14 jun. 2021. SANTOS, Fernanda. Discursos sobre a Arquitetura dos Colégios nas Castas da Companhia de Jesus. Anais do XIV Simpósio Nacional da ABHR, Juiz de Fora-MG, p. 681-693, abr. 2015. Disponível em: https://www.academia.edu/43702965/DISCURSOS_SOBRE_A_ARQUITETURA_DOS_COL%C3%89GIOS_NAS_CARTAS_DA_COMPANHIA_DE_JESUS. Acesso em: 22 jun. 2021.



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