Cultivo da boa música

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Projeto Laboratorial – N o 16 – Dezembro/2012 – UNAERP – Universidade de Ribeirão Preto

Cidade

Buraco x luxo Cultura

Teatro ao ar livre Estilo de vida

Arte e qualidade de vida

Negócios

Boom: Construção movimenta economia


EXPEDIENTE

EDITORIAL

Reitora da UNAERP: Profa. Elmara Lucia de Oliveira Bonini

Paixão e Compromisso

Coordenadores do Curso de Comunicação Social: Habilitação em Jornalismo

Profa. Me. Flávia Cortese Martelli Habilitação em Publicidade e Propaganda

Prof. Me. João de Assis Soares Professores responsáveis: Carmen Cagno – Pauta, reportagem, redação e edição Daniel do Carmo – Projeto gráfico, arte e editoração Elivanete Zupollini Barbi – Pauta, reportagem, redação e edição Reportagem, Fotografia, diagramação e editoração Bruna Zanuto Carol Strabelli Célia Santos Cláudia Koisumi Daniele Longo Flávio Coelho Francieli Spadari Joanna Prata Larissa Costa Leandro Martins Luara Galacho Lucas Martins Lucas Moreira Luiz Eduardo Mariana Nabor Natália Dovigo Rogério Moroti A Revista Vida Urbana é uma produção laboratorial da 8a. Etapa do Curso de Jornalismo da UNAERP – Universidade de Ribeirão Preto. Av. Costábile Romano, 2201 Ribeirão Preto – SP Fone: (16) 3603-6716

2012

A

revista Vida Urbana é o projeto de encerramento do curso de Jornalismo da Universidade de Ribeirão Preto e já, há alguns anos, vem cumprindo o objetivo de finalizar esse processo de aprendizado e experiência de forma brilhante. Escolhemos a mídia revista para esse momento por entendermos que se trata do mais sofisticado suporte para veiculação de notícias. Sendo assim, durante o processo de produção das matérias, agora publicadas on-line, os alunos concluintes têm a rara oportunidade de, ainda na Universidade, entrarem em contato com o que se convencionou chamar reportagens interpretativas ou dissertativas. Abordando temas que se referem exclusivamente à comunidade em que vivem, trabalham e estudam, ou seja, a região de Ribeirão Preto, os jovens repórteres podem, no caso de uma revista, se aprofundar em questões que não seriam contempladas numa notícia ou mesmo reportagem de jornal, TV ou internet. Isso porque essa é a mídia que permite alargar e verticalizar o foco do tema tratado, discutindo-o e analisando-o, através das fontes apropriadas. Trata-se, portanto, do ponto mais alto da função jornalística - aquele que exige rigor na apuração, adequação e beleza textual, além de uma noção estética mais abrangente no projeto gráfico. Esse ano, a edição de Vida Urbana mais uma vez demonstra que os formandos de uma nova turma de Jornalismo da Unaerp estão prontos para ingressarem no mercado com as ferramentas técnicas necessárias, mas, mais que isso, com o compromisso e a paixão que todo bom jornalista deve ter pelo ofício de informar e integrar sua comunidade. Foto capa: André Paterlini



História

O Cultivo da Boa Música

TexTo

e

FoTos: Bruna ZanuTo

Luzes acessas no teatro. O público chega. Aos poucos cada um vai tomando o seu lugar, não só na plateia, mas no palco também. Em meio aos cumprimentos, encontros entre amigos, músico a músico vai se posicionando para afinar seus instrumentos. As notas se misturam buscando a perfeição em cada som. Toca o terceiro sinal. As luzes da plateia diminuem, ao mesmo tempo em que o palco fica claro. O spalla se posiciona para afinar a orquestra e logo em seguida volta para a primeira fileira dos violinos. Maestro entra. Público aplaude. É exatamento isso o que acontece há 74 anos. A Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto começa a tocar. Aproveite este espetáculo!

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Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto apresenta o 4° concerto, no ano de 1939 comemora os 156 da cidade

O

dia 23 de maio de 1938, marcou o surgimento da associação que é responsável por uma das orquestras mais antigas do Brasil, a Associação Musical de Ribeirão Preto, mantenedora da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto, também conhecida pela sigla OSRP. Já uma senhora, a Sinfônica de Ribeirão é considerada a segunda orquestra mais antiga do país em atividade ininterrupta, perdendo só para a Orquestra do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Mas, segundo a responsável pelo Arquivo Histórico da OSRP, a musicista Gisele Haddad, existem fortes indícios de que na realidade, a Orquestra de Ribeirão seja a mais antiga em atividades ininterruptas. Isso porque a orquestra carioca existe desde 1909, mas pode ter interrompido suas atividades em algum período. “É necessário um estudo minucioso sobre a história de todas as orquestras brasileiras do início do século XX para se averiguar esse assunto”. Gisele explica que muitas delas querem o título de mais antiga e se apresentam como tal, mesmo sem comprovação por meio de documentos. “Posso citar a Orquestra de Recife, de 1930, e de Porto Alegre, do ano de 1950”. O documento que comprovaria ser a sinfônica da “Califórnia Brasileira” a mais antiga do país é um programa de concerto, pertencente ao arquivo pessoal de Luiz Baldo, do segundo festival da Sociedade Cultural Artística de Ribeirão Preto,

realizado em 1929, que mantinha a conhecida Orchestra Synphonica de Ribeirão Preto, e que também seria a mesma orquestra que inaugurou o Theatro Pedro II, na década de 30. “Isso quer dizer que a orquestra é mais antiga que a associação que a mantém. A associação tem 74 anos, mas a orquestra tem 83”, explica. Seja a mais antiga ou não, quem começou esta história foi Max Bartsch (veja box na página XX). Violinista alemão e tocador de cítara, ele foi o principal fundador da OSRP e o primeiro presidente da Orquestra. Junto com ele, vários amantes da música erudita, estrangeiros ou não, batalharam para a manutenção e existência da orquestra. Sem sede própria, os ensaios eram realizados na casa do próprio Max e de alguns integrantes da instituição. Passados alguns anos, os encontros aconteciam no subsolo do Pedro II, no período da noite. Isso porque todos os músicos trabalhavam durante o dia. Embora exaustos e atrasados devido aos seus ofícios, não havia motivo para desânimo. Instituição sem fins lucrativos, a Orquestra de Ribeirão existiu e persistiu com a ajuda de sócios e patrocinadores, sendo que no início a maioria dos associados eram os próprios músicos. Nos primeiros anos, os instrumentistas não eram assalariados, tocavam pelo amor à música, e para se manter exerciam suas profissões que garantiam a renda da família. A Orquestra viveu a sua pior crise durante a Segunda Guerra Mundial. No ano de 1945, quase fechou as portas por falta de dinheiro para sua manutenção. Naquela época, não havia leis de incentivo à cultura, como a atual Lei Rouanet, criada em 23 de dezembro de 1991, que hoje mantém grande parte da receita da Sinfônica.

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História

Novo lar Durante muitos anos os ensaios da Orquestra foram nômades. Sem sede própria, os encontros aconteciam na casa dos músicos e diretores, ou no subsolo do Pedro II. Depois de muito esforço, a Sociedade Musical conquistou uma sede, que era apenas uma sala, instalada no prédio Diederichsen. Mas a alegria durou pouco. Não havia recursos suficientes para o pagamento do aluguel. Novamente sem um local fixo para ensaios, a OSRP lançou o “Livro de Ouro dos Sócios Beneméritos”. Este livro consistia na assinatura de sócios e a quantia doada por eles, sendo a primeira a da Sinhá Junqueira, com a doação de 20 mil cruzeiros. Essa foi uma das razões para que a Sinhá tenha sido intitulada Sócia Benémerita da Sinfônica de Ribeirão. Mas o amor pela instituição não parou por aí. Em 1950, ela doou um valioso terreno de 1.320 metros quadrados, localizado na Avenida Francisco Junqueira, para ser construída uma sede. No entando, não foi erguida a sede nesse terreno, mas o valor adquirido com sua venda, possibilitou a compra de um imóvel localizado na Rua São Sebastião 1.002 que desde 1958 é a sede da Orquestra. Este espaço trouxe muita alegria para a associação, mas também traz histórias inusitadas. O prédio em que abriga a orquestra é considerado, por alguns, como mal-assombrado e guarda lendas como, por exemplo, a luz vermelha no forro que nunca se apaga. José Maria Lopes trabalha na Sinfônica há 32 anos e atua como trombonista há 26. Ele conta que já presenciou cenas inexplicáveis dentro do prédio. “Por várias vezes, eu ficava aqui sozinho até tarde estudando e presenciei por-

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ta se abrindo sozinha, sem vento e sem ninguém. E também tem uma luz no teto que não desaparece”. A tão temida luz no teto aparece por uma fresta entre as placas de madeira no forro. A cobertura já passou por reformas e ninguém nunca conseguiu encontrar essa luz, que não se apaga desde a construção deste prédio. Zé, que é considerado “história viva” da Orquestra de 1980 até hoje, lembra também de fatos engraçados. “Teve um concerto no Teatro Municipal de Ribeirão, onde os praticáveis estavam muito velhos, e no momento em que o maestro deu a entrada para os trombones, os três trombonistas caíram junto com os praticáveis”, explica ele gargalhando ao lembrar da história. São muitas lendas e lembranças em meio às quais, a Orquestra começou a se profissionalizar na década de 90, quando todos os colaboradores passaram a receber salário, ter carteira assinada e carga horária a ser cumprida. Consequentemente, deu-se o desenvolvimento técnico com a vinda de grandes maestros. A Sinfônica teve vários maestros-titulares renomados como: Ignázio Stábile, Enrico Ziffer, Spartaco Rossi, Hércules Gumerato, José Viegas Neto, Lutero Rodrigues, Marcos Pupo Nogueira, Jorge Salim, Roberto Minczuk, Norton Morozowicz, Matheus Araújo, Marcos Arakaki e Cláudio Cruz. Além de ter sido regida por maestros convidados e consagrados como João Carlos Martins, Eleazar de Carvalho, Isaac Karabtchevsky, Filipe Lee, Gunter Neuhold e Ricardo Kanji.

Som do estrange A situação política e financeira na antiga União Soviética foi uma das responsáveis pela vinda de russos, búlgaros e ucranianos para a OSRP na década de 90, que acabou agregando qualidade e profissionalismo. O clarinetista ucraniano Bogdan Dragan, 40 anos, começou os estudos da clarineta aos 10. Ele ficou sabendo da audição da orquestra ribeirão-pretana por intermédio de um amigo. Montou um vídeo e foi convidado a mudar-se para

Nós três sempre estivemos juntos: eu, o Bogdan e a clarineta

o Brasil em 1998, na época em que o regente era Roberto Minczuk. Casado e pai de uma menina, Sofia Dragan, ele resolveu fugir da crise que imperava na Ucrânia, e veio para o país do samba. “Minha rotina nos primeiros dias se resumia em tomar banho frio a cada 10 minutos e estudar o português”, conta o clarinetista. Já sua esposa, Snizhana Drahan, veio para o Brasil um ano depois. Professora e regente de coro, ela diz que gostava de canto desde muito cedo. Nascida em família de músicos,


eiro Sni, como é conhecida pelos amigos, já regeu importantes corais da Ucrânia e em 2008 criou a Escola de Canto Coral da OSRP, e ensaia três coros: lírico, de câmara e juvenil. Ela conta que para não perderem as raízes, as filhas Sofia (nascida na Ucrânia) e Caterina (nascida no Brasil), têm aulas de ucraniano e russo toda semana, mas o idioma russo prevalece no ambiente familiar. Na época, o casal não pensou nas dificuldades e veio com duas malas. Andavam de bicicleta e achavam a vida uma maravilha. “Hoje, eu não sei se eu faria tudo isso novamente. Mudar para um país que não conhecíamos, com criança pequena e sem segurança no empredo. É meio loucura”, explica a regente entre sorrisos e olhar de espanto. Bebê no colo, panelas, passeios de bicicleta e muitas cartas para a Ucrânia, foram assim os primeiros dias de Snizhana no novo país. E ela brinca com o marido: “Nós três sempre estivemos juntos: eu, o Bogdan e a clarineta”.

Minha rotina nos primeiros dias se resumia em tomar banho frio a cada 10 minutos e estudar o português

Sinfônica de Ribeirão e o Theatro Pedro II comemoram os 156 da cidade

Principal palco Tanto o Theatro Pedro II quanto a Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto são considerados patrimônios histórico-culturais da cidade. Ambos lutaram e ainda lutam muito pela sua sobrevivência. Inaugurado no dia 8 de outubro de 1930, com apresentação da Orchestra Synphonica de Ribeirão Preto, o Theatro é considerado o principal palco da OSRP. O concerto de inauguração do Pedro II foi regido pelo maestro Ignacio Stabile, que apresentou a obra Il Guarany, de Carlos Gomes. Logo após as festividades, foi acordado que a Sinfônica de Ribeirão apresentaria seis concertos de gala anualmente, estreitando ainda mais os laços entre as duas instituições. O Theatro foi durante muitos anos um dos espaços que os músicos da Sinfônica utilizavam para ensaiar. Isto aconteceu até o ano de 1980, quando pegou fogo e ficou 16 anos abandonado sob ruínas. No ano de 1996, o Pedro II finalmente foi reinaugurado, depois de anos de recuperação e restauração, e mais uma vez a Orquestra esteve presente em uma data importante no seu palco preferido. Ali, foi a vez de Roberto Minczuk reger a mesma obra de Carlos Gomes que havia sido apresentada no concerto de 1930. Houve também a apresentação da 9ª Sinfonia de Beethoven, sob a batuta de Isaac Karabtchevsky. Anualmente, a Sinfônica apresenta um concerto de comemoração da reinauguração e do aniversário do Pedro II, além de apresentar mensalmente as séries Concertos Internacionais e Juventude Tem Concerto, arrancando longos aplausos do público e lotando as galerias.

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História

Tocando em família M

úsico mais antigo da “casa”, devido aos seus 32 anos de OSRP, Walter Ferreira, 56 anos, é o “patrimônio” da Orquestra. Ele já estudou outros instrumentos, até chegar no que viria a ser o seu sustento nas últimas três décadas, o contrabaixo. “Escolhi o contrabaixo pela beleza do som, pois tem um som grave”, conta Waltinho. Antes de entrar na Sinfônica, ele já havia tocado muito

em bandas de música popular. Mas o seu gosto pela música orquestral falou mais alto. Natural de Barretos-SP, mudou-se a Ribeirão em 1975 e cinco anos depois já fazia parte do naipe de contrabaixo da instituição. Ele lembra que havia muitas brincadeiras entre os músicos, como por exemplo, soltar a cravelha dos instrumentos de corda para desafiná-los nos ensaios. “As vítimas eram escolhidas discretamente. Quando chegou a minha vez, todos riram do som que o contrabaixo desafinado provocou”. Concordando com o trombonista Zé Maria, ele ressalta a importância da profissionalização que a Orquestra conquistou a partir de 1990 e comenta a chegada dos estrangeiros. “A música é universal. A partitura é a mesma em qualquer canto do mundo”. Ele também se recorda de uma das crises que enfrentou nas três décadas de trabalho na instituição. “Acredito que a pior que vivenciei foi no ano de 92, quando teve a troca de moeda nacional. Tivémos que começar do zero”.

Seu filho, Vinícius Ferreira, 26 anos, resolveu seguir seus os passos, e desde 2005 toca contrabaixo ao lado de seu maior mestre. “Comecei a estudar contrabaixo em 2000 e meu pai foi o meu primeiro professor”. Desde criança, Vinícius acompanha o pai no trabalho, mas o encontro com a música não foi amor à primeira vista. “Eu tinha 14 anos quando comecei a me interessar pela música. Foi quando a Orquestra fez uma montagem da Carmina Burana, de Carl Orff, e precisava de crianças para integrar o coro”. Mesmo tendo feito musicalização em outros instrumentos, Vinícius não fugiu às raízes. Waltinho resume como é trabalhar ao lado do filho: “é como se estivesse em família, é o que muita gente quer”.

Max Bartsch Nascido em Nuremberg, na Alemanha, em 9 de abril de 1888, Max Bartsch se mudou com sua família para o Brasil em 1910. No início, a família morou em uma fazenda em Jardinópolis-SP e em 1914 veio para Ribeirão Preto. Era jardineiro como seu pai, e no ano de 1920 foi contratado pela prefeitura da cidade, para cuidar do Horto Municipal. Hoje em dia, ninguém imagina que foi ele quem plantou as palmeiras das praças das Bandeiras e XV de Novembro. Depois de um tempo, Max foi convidado para trabalhar na Cervejaria Antarctica, onde ficou durante 12 anos e conquistou o cargo de gerente. Mesmo sua família mudando-se para Taubaté-SP, ele permaneceu em Ribeirão, e se casou em 1922. A música sempre fez parte da vida de Max Bartsch. Desde jovem, ele estudava música na Alemanha. Chegou a tocar violão, violino, mas preferia a cítara. Em 1928, criou o Quinteto Max. Nos anos 30, também participou do Jazz Band Cassino Antartica. Em 1938, fundou

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Arquivo histórico Ao longo dos seus 74 anos, a Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto foi colecionando histórias e documentos importantes sobre a trajetória da música na cidade. O ex-maestro da OSRP, Marcos Pupo, que também era professor, orientou Gisele Haddad em seu projeto de pesquisa sobre a história da música em Ribeirão e informou que na sede da Sinfônica poderia haver bastante material para o seu trabalho de mestrado. Como a diretoria da época permitiu o livre acesso de Gisele à instituição ela teve uma ideia para retribuir a ajuda. “Pensei que tinha que fazer algo que retribuísse o meu acesso e a coleta de dados neste acervo e por isso eu deixava tudo mais organizado do que encontrava. Aí, em 2008, fui contratada como arquivista assistente”. Quando a musicista entrou, muitas partituras e documentos estavam armazenados em salas úmidas e empoeiradas. “Os funcionários mal sabiam do que se tratava o material”, explica Gisele. O Arquivo Histórico foi assim denominado por Myrian

a Sociedade Musical de Ribeirão Preto, mantenedora da OSRP, da qual se tornou o primeiro presidente. No ano de 1970, faleceu em Ribeirão Preto, mas deixou um legado de música de qualidade, assim como ele defendia e fazia questão que estivesse impressa nos primeiros programas de concertos “O cultivo da boa música educa o povo”.

Os funcionários mal sabiam do que se tratava o material

Strambi, oboísta da Orquestra, falecida em 1989, logo após publicar o livro “50 anos de Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto”, para comemoração do jubileu de ouro da Associação Musical, no ano de 1988. “Para escrever o livro, ela organizou partes dos programas de concertos e outros documentos antigos”. A responsável pelo Arquivo diz que há projeto para digitalização de todo o arquivo musical e histórico, além de ser aberto ao público. “A principal dificuldade é um espaço onde o material possa ser centralizado e armazenado de maneira correta”, explica Gisele. Não há um cômodo na sede que possa integrar as atividades de higienização, manutenção e armazenamento. “Enquanto isto, fazemos o possível para atender estudantes e pesquisadores”. O arquivo concentra muitos documentos importantes (atas, fotos, DVDs, CDs, placas de homenagem, manuscritos de composições e instrumentos), como um programa de concerto em que a OSRP se apresentou em um banquete na cidade de São Paulo, em 27 de abril de 1940, oferecido ao Presidente da República Getúlio Vargas, em comemoração do segundo aniversário do governo estadual de Adhemar de Barros. “Este programa têm a assinatura do próprio Getúlio e do Adhemar”, ressalta Gisele.

Filho da orquestra “Assisto os concertos da Orquestra de Ribeirão desde a minha infância. Meu tio-avô Augusto Seabra teve uma longa história nesta orquestra. Foi violista, violinista e spalla por muitos anos. Portanto, decidi ser músico por volta dos 15 anos, inspirado não só pela família, mas também pelo Juventude Tem Concerto. E não tenho medo de afirmar que sou filho daqueles maravilhosos domingos de manhã”. Quem conta esta história é Lucas Galon, ex-violista da OSRP, atual coordenador pedagógico e professor dos projetos socioeducativos da Sinfônica. Lucas cresceu em família de músicos. Como várias crianças que se tornaram músicos da própria Orquestra que assistiam, ele acompanhava o Juventude Tem Concerto, série mensal da Sinfônica de Ribeirão que consiste em concertos gratuitos para crianças e jovens, e acontecem nas manhãs de domingo, desde 1996. Quando questionado se gosta mais da parte artística-cultural ou educacional da música, Lucas filosofa: “pode parecer uma resposta meio em ‘cima do muro’, mas acredito que as duas estão tão relacionadas que as confundo”. Como o sonho de Max Bartsch, o cultivo da boa música educou, educa e educará o povo, além de transformar um grande sonho em uma belíssima melodia.

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