Antropologia

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ANTROPOLOGIA

ATHENAS GRUPO EDUCACIONAL Ieda Pacheco Chaves Presidente Aécio Alves Pereira Diretor Geral Eliene Alves Ferreira Diretora da FAP Elvys Patrick Ferreira de Oliveira Diretor da FAPAN Paulo Jacob Strieder Diretor da FSP Rosângela Aparecida da Silva Diretora da UNIJIPA Itamar Zanin Júnior Diretor da FAMETA Michele Fernandes Mar?nes Designer Educacional

Guia de estudos Antropologia CARO ACADÊMICO

Seja bem vindo!

Sua escolha pelo Grupo Athenas Educacional demonstra o reconhecimento de um trabalho com dedicação a educação que o Athenas Grupo Educacional faz há tantos anos.

Aluno, você já parou pra pensar porque estudamos tanto?

Certificados, monografias, artigos, dissertações, redações, manuais, informativos, memorandos, trabalhos de conclusão de curso...

E qual o resultado disso tudo?

Conhecimento.

E o conhecimento é adquirido pelo estudo.

Estudamos muito para atingir níveis cada vez mais altos de conhecimento e consciência do nosso papel na sociedade.

O ato de estudar traz algumas consequências como: melhor escrita, melhor discurso, aprendizado de técnicas de gestão e defesa, melhor administração de tempo, diplomas na parede, melhor posição no mercado de trabalho que consequentemente nos dá bens, status, entre outros.

O estudar é, antes de tudo, uma busca pela ampliação da consciência para que possamos fazer as coisas melhor do que já fizemos. Decidir com mais clareza o que fazer, não só em cada pequeno problema, mas na realização de grandes planos para nossas vidas ou, quem sabe, algo maior ainda.

Estudar pode ajudar o homem a se tornar uma pessoa livre.

Bons Estudos!

Nead

Núcleo?de?Educação?a?Distância?

Guia de estudos Antropologia SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO........................................................................................................... 07 CAPÍTULO 1 – Introdução à Antropologia................................................................... 08 1.1 Antropologia Social e Cultural.................................................................................... 11 1.1.1 Principais Acepções do Termo ‘Cultura’......................................................... 12 1.2 A Prática Antropológica.............................................................................................. 15 1.3 Glossário.................................................................................................................... 18

CAPÍTULO 2 – Como estudar os detalhes do cotidiano............................................ 19 2.1 O Estudo da Totalidade.............................................................................................. 20 2.2 A Análise Comparativa............................................................................................... 21 2.3 O Observador e o Objeto de Estudo.......................................................................... 23 2.4 Os de 'Dentro' e os de 'Fora'...................................................................................... 24 2.5 Vocabulário................................................................................................................ 26

CAPÍTULO 3 – Cultura e Sociedade............................................................................. 28 3.1 Processos Evolutivos................................................................................................. 28 3.2 Cultura como condicionante à visão de mundo do homem....................................... 32

Guia de estudos Antropologia SUMÁRIO

CAPÍTULO 4 – Manifestações Culturais....................................................................... 38 4.1 O que são manifestações culturais?.......................................................................... 45

CAPÍTULO 5 - Culturas das Minorias........................................................................... 48 5.1 O que é hegemonia?.................................................................................................. 49 5.2 O que é estrutura midiática?...................................................................................... 52 5.3 O que é mídia?........................................................................................................... 53 5.4 Vocabulário................................................................................................................ 56

CAPÍTULO 6 – Multiculturalismo.................................................................................. 57 6.1O que é multiculturalismo?.......................................................................................... 57 6.2 E no Brasil?................................................................................................................ 62 6.3 O que é etnocentrismo?............................................................................................. 62 6.4 Sincretismo................................................................................................................. 63 6.5 Vocabulário................................................................................................................. 67

Guia de estudos Antropologia SUMÁRIO

CAPÍTULO 7 - VALORES: A IMPORTÂNCIA DA TRADIÇÃO PARA MUDANÇA OU TRANSFORMAÇÃO DOS VALORES...............................................................................68 7.1 Mudança e Criatividade............................................................................................... 72 7.2 Vocabulário.................................................................................................................. 78

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................79

Guia de estudos Antropologia APRESENTAÇÃO

Caro aluno, nesta disciplina de Antrologia iremos aprender o que é a antropologia, cultura e sociedade, processos evolutivos, manifestações culturais, culturas das minorias, multiculturalismo, valores: a importância da tradição para mudança ou transformação dos valores. O objetivo da antropologia é a total compreensão do homem, e para isto estuda tudo concernente ao homem.

Fonte: http://www.verruganagordura.com/wp-content/uploads/2010/02/trabalhos.jpg

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Guia de estudos Antropologia CAPÍTULO 01 ‐ Introdução à Antropologia Prezado aluno vamos começar nosso primeiro contato com a disciplina de Antropologia fazendo uma pergunta que se tornará o inglês dessa palavra por todo nosso caminho: O que é?

Para construirmos uma casa o primeiro passo é verificar e preparar o terreno, correto?

Da mesma forma ao pensarmos na palavra 'antropologia' precisamos verificar o que já temos em nossa mente sobre essa palavra, retirar todas as ideias, preparar o terreno para inserir os fundamentos e a partir daí poderemos alcançar tudo o que nossa curiosidade quiser.

Vamos começar por escavar a própria palavra: o que é Antropologia?

A palavra Antropologia deriva etimologicamente do grego anthropos (homem ou pessoa) e logos (razão ou pensamento). É a ciência que estuda o Homem como ser biocultural e é portanto muito abrangente.

As ciências humanas, ciências do comportamento humano, foram divididas em três ramos: sociologia, psicologia e antropologia. A sociologia detém-se ao estudo das relações sociais que envolvem o homem como um ser social. A psicologia estuda o homem como um indivíduo, analisando sua personalidade, atitudes e comportamentos. A antropologia por sua vez compartilha as áreas da sociologia e da psicologia. É a ciência que estuda o homem como ser biológico, sociológico e psicológico, e através de um método comparativo estuda o homem através do tempo e da cultura. O alvo da antropologia é a total compreensão do homem, e para isto estuda tudo concernente ao homem.

Podemos dizer que divide-se essencialmente em dois campos: a Antropologia Biológica (ou física) e a Antropologia Cultural (ou social).

A antropologia biológica ocupa-se do estudo da evolução humana, do homem fóssil e do homem moderno, analisando as características anatômicas, fisiológicas e raciais, tanto através de métodos de análise das variações e evolução genética como das diferenciações geográficas, ecológicas e sociais das populações.

Assim, uma das vertentes da antropologia biológica consiste no estudo das variações dos caracteres biológicos do homem no espaço e no tempo. Por exemplo, estuda os processos de adaptação extra-genética, analisa as particularidades morfológicas e fisiológicas ligadas ao meio ambiente, bem como a evolução destas particularidades. Ela levará em conta os fatores culturais que influenciam o crescimento e a maturação do indivíduo inserido em um determinado contexto. Por exemplo, atualmente já existem programas do governo americano que visam proibir a venda de refrigerantes em tamanho grande nas cantinas escolares e shopping centers pautados na observação sobre o crescimento da obesidade infantil. Há poucos anos seria difícil buscar soluções para uma problemática, a primeira vista, da área da saúde, mas que tem suas raízes no

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comportamento do consumo.

Outro exemplo fácil de observarmos onde a antropologia se aplica é no futebol. E como isso acontece?

Dependendo dos locais onde os jogos são disputados as equipes tem de viajar com vários dias de antecedência para que o organismo dos atletas se adapte à altitude porque, onde a altitude é elevada, há pouco oxigênio no ar; assim, o organismo tem que produzir modificações para solucionar o problema. E como isso acontece biologicamente?

Produzindo mais glóbulos vermelhos, que são os encarregados do transporte do oxigênio no organismo. Quando os atletas regressam a seus locais de origem já não precisam desse suplemento e mais uma vez o organismo irá se adaptar e voltar a produzir os glóbulos vermelhos na mesma quantidade. As aplicações da antropologia biológica são mesmo surpreendentes!

A Antropologia engloba ainda, dimensões muito variadas que vão desde a paleontologia (paleoantropologia) humana à psicobiologia dos grupos atuais e à antropologia forense (alguns de vocês já devem ter assistido a famosa série americana intitulada ´Bones' ou em português 'Ossos', onde uma antropóloga ajuda a desvendar assassinatos a partir da análise de esqueletos. Conhecem? Obviamente a série traz uma versão ficcional extremamente simplificada, mas não deixa de ser empolgante, concorda?).

http://www.spoilersguide.com//wp-content/gallery/bones-8-12/ bones_thecorpseonthecanopy_scene6b-324.jpg

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A Antropologia cultural dedica-se ao estudo das técnicas, usos, costumes, crenças, regras de conduta e de comportamento de um determinado grupo social.

A antropologia social abrange outras vertentes como a antropologia da religião, a antropologia das emoções e, nos últimos anos, estamos participando do desenvolvimento da antropologia do consumo e do 'business anthropology'.

O business anthropology é um termo que tornou-se mais popular e amplamente utilizado a partir da década de 1980, quando antropólogos foram contratados em tempo integral, para trabalhar no departamento de marketing de grandes companhias, aprofundando pesquisas ligadas ao comportamento do consumidor e ao marketing.

Podemos encontrar um exemplo de resultado prático da combinação da antropologia com o marketing nas máquinas fotocopiadoras. Em 1979, dois antropólogos - Lucy Suchman e Julian Orr - integraram o centro de estudos da Xerox para estudar como as pessoas interagiam com a tecnologia. Ao observarem e filmarem a forma como era usada uma fotocopiadora, os investigadores perceberam que as pessoas tinham bastantes dificuldades em fazer uma simples fotocópia. Faltava simplicidade. A solução foi um botão verde a dizer "copy" ("copiar") em todas as máquinas da marca. E, ainda hoje, por mais funcionalidades que as fotocopiadoras possam ter, o botão continua lá. Desde esses tempos cada vez mais antropólogos têm-se infiltrado no mundo das empresas. Atualmente, todas as grandes empresas mundiais que ainda não têm este tipo de profissionais estão a pensar recrutá-los, porque já viram que a metodologia funciona. A previsão é de que a antropologia corporativa se torne, nos próximos cinco a sete anos, uma 'prática normal' dentro das empresas e não 'especial', como ainda é vista hoje em dia.

Poderíamos ficar páginas e páginas a enunciar as outras áreas a que a antropologia também se dedica, pois como o ser humano está em constante evolução e transformação de si mesmo e da sociedade que o rodeia, assim também a antropologia se desenvolve.

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1.1 Antropologia Social e Cultural Vamos começar com uma de nossas perguntas chave: O que é cultura?

A cultura é o conjunto de comportamentos, de valores e das crenças culturais de uma sociedade. “Culturas são sistemas (de padrões de comportamento socialmente transmitidos) que servem para adaptar as comunidades humanas aos seus embasamentos biológicos. Esse modo de vida das comunidades inclui tecnologias e modo de organização econômica, padrões de estabelecimento, de agrupamento social e organização política, crenças e práticas religiosas, e assim por diante”.

Segundo Lévi-Strauss (1976) 'cultura é este conjunto complexo que inclui conhecimento, crença, arte, lei costumes e vários outras aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade'. Para esse autor 'nenhuma cultura está só; ela é sempre dada em coligação com outras culturas'.

Vamos imaginar alguém fazendo uma maquiagem, mascarando-se para uma peça de teatro ou para uma festa. ou porque o 'ritual' de pintar-se faz parte do seu grupo social.

Essa pessoa precisará aplicar várias 'camadas' de cores, cremes e outros produtos até obter o resultado final.

http://artbayeux.wordpress.com/category/historia-da-arte/

¹ Um trabalho muito interessante sobre a produção do corpo você poderá encontrar em BERGER, Mirela – “Tatuagem: A memória na pele”, disponível em http://www.mirelaberger.com.br.

E BERGER, Mirela – “Mídia e espetáculo no culto ao corpo: o corpo miragem”, disponível em http://www.mirelaberger.com.br.

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Usando esse exemplo, podemos dizer que o estudo da antropologia pauta sua compreensão, de uma forma comparativa à buscar abrir essas 'camadas'. Entender como elas foram aplicadas ou construídas, o que significou a sequência dessa construção, entender o uso e escolha das cores que foram utilizadas, os momentos e eventos para os quais o indivíduo se pintou e usou essa máscara ou usou uma outra máscaras, enfim, são as diversas representações identitárias que todos nós temos.

Segundo Geertz (1989) 'O que procuramos, no sentido mais amplo do termo, que compreende muito mais do que simplesmente falar, é conversar com os nativos. O objetivo da Antropologia é o alargamento do discurso humano (...) As sociedades, como as vidas, contêm suas próprias interpretações. É preciso apenas descobrir o acesso à elas'. ² Vamos falar sobre isso no capítulo 3 quando estudaremos sobre identidade e cultura) 1.1.1 - Principais Acepções do Termo “Cultura”

http://bocaberta.org/wp-content/uploads/ 2008/11/mursi02.jpg

Pautados na obra de Mello podemos resumir algumas acepções para o termo cultura: a- Cultura objetiva (manifesta): É a cultura que cria situações particulares como: hábitos, aptidões, ideias, comportamentos, artefatos, objetos de arte, ou seja, todo conjunto da obra humana de modo geral. b- Cultura subjetiva (não-manifesta): É esta cultura que fornece padrões individuais de comportamento firmado em conjunto de valores, conhecimentos, crenças, aptidões, qualidades e experiências presentes em cada indivíduo. c- Cultura material: É a habilidade de manipular e construir; contudo define-se que toda cultura pode ser vista como um produto e um resultado. d- Cultura não-material: É a cultura transmitida pela intenção, onde as ações humanas são providas de conteúdo e significados, mesmo antes de ser construída ou manipulada; portanto, são demonstradas através de hábitos, aptidões, ideias, crenças, conhecimentos e vários outros significados. e- Cultura real: É algo que as pessoas criam de forma concreta em sua vida cotidiana e social. f- Cultura ideal: É o objetivo de cada pessoa, isto é, o conjunto de comportamento que as pessoas dizem e acreditam que deveriam ter.

Rapidamente podemos verificar que o uso do termo cultura é mais abrangente e complexo do que anteriormente podíamos imaginar.

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Agora, para nortear nosso trabalho de exploração das diversas 'camadas' de uma cultura podemos dizer que existem quatro 'camadas' fundamentais: a) O comportamento do povo - esta é a camada mais externa, superficial, e a mais fácil de ser notada quando avaliamos uma cultura. É o conjunto das coisas que são feitas, daquilo que é facilmente notado como ato de fazer de um povo, e como eles fazem estas coisas. Esta identificação pode ser vista no modo de agir, vestir, caminhar, comer, falar, etc. b) Os valores culturais de um povo penetrando uma camada à dentro veremos os valores culturais, e estes valores são firmados sobre a sua noção daquilo que é “bom”, do que é “benéfico”, e do que é http://2.bp.blogspot.com/_4TStK8uZrgU/R6fEWg-a4lI/AAAAAAAAAzc/ sEt0AdNp2dM/s320/chimarrao.gif “melhor”. Os valores culturais são para adequarem ou conformarem o padrão de vida de um povo. c) As crenças - a crença é a noção que se tem daquilo que é verdadeiro. Constitui-se da crença básica de um povo, no que este povo vê como verdade fundamental. d) A cosmovisão - cultura é como uma lente através do qual o homem vê o mundo. É a percepção daquilo que é real, e qual é a realidade do mundo. É o modo de ver o mundo, é o sistema de crença que reflete os comportamentos e valores de um povo.

http://racismoambiental.net.br/wp-content/upLoads/2012/10/BAIANA-ACARAJ%C3%89.jpg

Depois de compreender a existência dessas várias camadas e de relacioná-las com exemplos do nosso dia a dia, podemos perguntar O que é Antropologia Cultural?

Sendo cultura “um sistema integrado de comportamento e valores aprendidos como característica de membros de uma sociedade”, a antropologia cultural analisa o sistema como um todo e como as partes e funções interagem neste todo, e como os sistemas se relacionam, ou seja as máscaras (representações identitárias) que eu escolho usar numa segunda-feira pela manhã em relação as máscaras que meus colegas de trabalho utilizam,

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em relação com as máscaras do padeiro, do taxista, do pecuarista, do bancário, da dona de casa, dos filhos, dos parentes…e tudo isso inserido numa cidade, região, estado, país com sua língua, religião, comida típica, clima… E por aí afora!! Mas não se preocupe, continue a ler e vamos descortinar essa refeição tão complexa, passo a passo, até que andar pelas ruas da sua cidade se torne numa grande aventura de novas descobertas que vão auxiliá-lo no aperfeiçoamento da sua profissão seja ela qual for.

http://planetapantanal.com/0-320-00-0-2500-0-0-9-7538-18990-7161O+PANTANEIRO+TAMB%C3%A9M+CONTA+CAUSOS+DE+BICHOS+E+ALMAS-1.jpg

A Antropologia Social e Antropologia Social Cultural estuda a cultura de um grupo tanto na sua dimensão instrumental, (chamada de cultura material, que se refere às coisas que os homens produzem e com as quais intervêm na natureza), quanto na sua dimensão cosmológica-cognitiva-organizacional, (que abrange os sistemas de ideias e de valores, através dos quais se organiza a percepção do mundo).

Esta dimensão diz respeito aos elementos ideológicos que compõem a definição de cultura, ou sejam, a língua, a religião, o sistema penal, a organização civil, etc.

A antropologia cultural vem a ser uma ciência comparativa da cultura de um povo e traz uma compreensão cultural desse povo, assim, ela estuda o homem integrado em seu contexto social, psicológico, biológico, físico e teológico, apreciando o seu comportamento, valores, hábitos, língua e crença. O conceito chave da Antropologia Cultural é a cultura, mostrando a sua beleza, singeleza, simplicidade, complexidade e arquitetura relacional. A antropologia cultural é o espelho do homem refletido na sociedade; ela apanha todo o sistema de valores, de comportamento, de atitudes e expressões e reflete tudo isto numa expressão cultural distinta. Ela é o palco de “performance” do homem.

Em outras palavras, a antropologia social e cultural diz respeito a tudo que constitui uma sociedade: seus modos de produção econômica, suas técnicas, sua organização política e jurídica, seus sistemas de parentesco, seus sistemas de conhecimento, suas crenças religiosas, sua língua, sua psicologia, suas técnicas de plantio e produção animal, organização do território, e estruturação das cidades. Por exemplo, podemos analisar o meio que nos rodeia, em nosso estado, como as cidades são construídas, como nascem os

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novos 'bairros planejados', chamados de condomínios; por que e de que forma obtêm-se as decisões de que determinados tipos de construção (seja o tamanho dos terrenos, seja o modelo das casas) devem ser definidas para aquele local? Que tipo de estrutura familiar imagina-se que ali irá habitar e desenvolver-se? Quais os parâmetros antropológicos que poderiam ser utilizados no desenvolvimento de um projeto como este e que poderiam interferir de forma a significar o sucesso ou fracasso desses projetos?

Para Lévi-Strauss o progresso se dá quando uma cultura entra em contato com outra (ou outras) culturas, pois as trocas culturais que se sucederiam serviriam como mecanismo de propulsão para o progresso. Lévi-Strauss apontava também que o progresso não é algo que aconteça ou tenha que se desenvolver numa mesma direção. Dessa forma, seria um gesto totalmente etnocentrico tentar dizer o que é evolução e o que não é. O que é progresso e o que não é. Ou, o que é moda e o que não é. 'todo progresso cultural é função de uma coligação entre as culturas' (Lévi-Strauss, 1976).

Para além dos projetos de infraestrutura básica esses questionamentos aplicam-se também ao desenvolvimento de novos negócios, gestão de recursos humanos, atendimento hospitalar, centros de educação, lazer, turismo, esporte, enfim, a antropologia está presente em muito mais situações do nosso dia a dia do que conseguimos aqui listar.

Compreender essa importância e buscar apreender a forma de fazer antropologia pode significar que você poderá ter ferramentas diferentes para desenvolver seu potencial acadêmico/profissional.

Vamos em frente com nossos estudos tendo em mente que esse é nosso objetivo principal e resposta à pergunta que provavelmente já passou por sua mente: Por que é importante você estudar antropologia?

1.2 A prática antropológica Antes de falarmos sobre a prática da antropologia vamos regressar um pouco na história para compreendermos como se estruturou essa disciplina.

Num primeiro momento, que poderíamos chamar de pré-história da antropologia, nos séculos XV e XVI, as notícias sobre os povos distantes eram produzidas por viajantes ou missionários. Nesse momento, delinearam-se duas ideologias concorrentes, a primeira se manifestava por uma recusa pelo estranho e a segunda, por uma fascinação.

A primeira postura se fundamentava na ideia de que os povos primitivos eram selvagens dominados pela natureza, pelo clima, que não tinham história, nem hábitos culturais.

Os seguidores da segunda postura sublinhavam como esses povos tinham conseguido desenvolver sistemas políticos e econômicos que eram melhores que os seus; assim como tinham alcançado um grau de harmonia com a natureza que eles não possuíam. Alguns daqueles pensadores do século XVI chegaram a se perguntar se os bárbaros não eram eles próprios; como aponta Laplantine (2003), eles defendiam e valorizavam a ingenuidade original do estado de natureza.

No século XVIII, o segundo grupo derivou da ideia do bom selvagem; os povos tradicionais representavam os povos da natureza; que viviam livres e felizes gozando da vida. O cinema costuma explorar bastante essa vertente. Vocês já devem ter visto o épico 'Dança com lobos'? Nesse filme o homem branco/ocidental chega destruindo um modo de vida que estava em harmonia com a natureza. Você consegue lembrar-se de mais algum

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filme que apresenta essa ideologia?

Nesse período as muitas viagens de exploradores, apesar de registrarem muitas informações sobre os novos povos ainda não eram vistas como uma ciência pois não possuíam uma metodologia de coleta de dados. Isso ocorreu somente na segunda metade do século XIX quando organizou-se mudanças na forma de coletar os dados e surgiram os primeiros especialistas nessa coleta.

Para que a Antropologia se tornasse numa disciplina científica foi preciso definir o objeto, o método e um paradigma, ou seja, a ideia chave que nortearia a recolha dos dados que antes eram feitos pelos viajantes exploradores. Assim, definiu-se como objeto da Antropologia o 'outro'. As sociedades diferentes das sociedades europeias começaram a ser designadas de sociedades ou culturas primitivas. Esse tornou-se o objeto empírico da antropologia.

A metodologia aplicada nessa época consistia em estudar os relatos dos viajantes, as descrições que faziam das diferentes formas de vida encontradas em outros continentes.

Como exemplo para nós é muito interessante ler as primeiras cartas de Pero Vaz de Caminha para o Rei de Portugal, no ano de 1500, onde descrevia os primeiros contatos com os 'selvagens' numa terra chamada de Monte Pascoal. Abaixo um breve trecho: 'E o capitão-mor mandou em terra no batei a Nicolau Coelho para ver aquele rio. E tanto que ele começou de ir para lá, acudiram pela praia homens, quando aos dois, quando aos três, de maneira que, ao chegar o batei à boca do rio, já ali havia dezoito ou vinte homens. Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Nas mãos traziam arcos com suas setas. Vinham todos rijamente sobre o bater; e Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os pousaram. Ali não pôde deles haver fala, nem entendimento de proveito, por o mar quebrar na costa. Deu-lhes somente um barrete vermelho e uma carapuça de linha que levava na cabeça e um sombreiro preto. Um deles deu-lhe um sombreiro de penas de ave, compridas, com uma copazinha pequena de penas vermelhas e pardas como de papagaio; e outro deu-lhe um ramal grande de continhas brancas, miúdas, que querem parecer de aljaveira, as quais peças creio que o Capitão manda a Vossa Alteza, e com isto se volveu às naus por ser tarde e não poder haver deles mais fala, por causa do mar'. ³

Com certeza naquela época era inimaginável a ideia de que a partir daqueles selvagens e daquela terra iria se desenvolver um país com as dimensões que atualmente conhecemos. Concorda?

Ainda, no final do século XIX, percebeu-se que era necessária alguma forma de controlar os relatos de viagens; uma ideia foi que os próprios antropólogos começassem a buscar essas informações e fizessem esses registros. Assim, começou a definir-se o método da antropologia, conhecido como trabalho de campo e observação participante.

Tendo o objeto de estudo e o método, faltava apenas a peça de ligação para desenvolver as análises, ou seja, o conceito norteador da disciplina. Foi na segunda metade do Século XIX que produziu-se esse amadurecimento da antropologia através do conceito de evolução. Através dele a antropologia ganhou uma forma de interpretar a diversidade cultural e, assim, estabelecer uma ordem nas culturas diferentes no mundo.

A essência da antropologia não está apenas em compreender as diferentes culturas e sociedades mas sim, perceber como essas sociedades percebem o mundo a sua volta, qual é a visão de mundo que utilizam como base para sua evolução e contraste com o 'outro', ou seja, o ponto final de nossa viagem é buscar uma reflexão, aprender alguma coisa sobre nossa própria cultura/sociedade a partir do olhar do outro.

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Essa relação de alteridade, nós e os outros, é o jogo central da antropologia. Nossa percepção de nós mesmos se altera quando é colocada em foco na relação que temos com o 'outro', quando ao observar que o 'outro' pode ter as mesmas emoções e fazer as mesmas coisas, porém de formas diferentes, passamos a nos questionar sobre como nos desenvolvemos.

Por exemplo, quando aprendemos que devíamos tomar banho todos os dias e escovar os dentes? Quando isso passou a ser natural? Quando passou a ser normal olharmos para um aparelho quadrado onde aparecem pessoas que estão em diferentes lugares e até falam diferentes línguas? Quando passou a ser natural termos um pequeno equipamento que nos permite falar com pessoas de diferentes lugares instantaneamente? É natural aprender a assobiar na escola para poder se comunicar? Quais seriam as consequências nos sistemas de comunicação ou os prejuízos financeiros caso nossa sociedade optasse por inserir o assobio como alternativa de comunicação? Usamos esse exemplo para pensar que uma das dimensões fundamentais da antropologia é a dimensão comparativa. É na relação de contraste, de comparação, que percebemos a alteridade.

Assim poderíamos dizer que a antropologia busca produzir um conhecimento sobre nós, mas através do desvio do olhar do outro.

Espero que esse capítulo o tenha auxiliado a começar a ver o 'outro' através de novos filtros. Se você ficou curioso sobre como desconstruir e descobrir as várias camadas culturais que compõem as sociedades, nosso próximo capítulo vai ajudá-lo apresentando as técnicas e ferramentas que a antropologia utiliza para fazer suas 'leituras'. ³ Veja a carta na íntegra no seu Ambiente Virtual de Aprendizagem. http://histoblogsu.blogspot.pt/2009/04/carta-de-pero-vaz-de-caminha-ao-rei-de.html) Link para livros úteis: Para este primeiro modulo vou pedir nas atividades que os alunos leiam a pagina de 9 a 13 do livro do Laplantine. O livro esta disponível on line.

Laplantine, Fronçoise (2003) Aprender Antropologia. São Paulo: Brasiliense http://stoa.usp.br/ailton/files/-1/18417/Aprender.Antropologia.pdf Para ilustrar essa situação veja no seu Ambiente Virtual de Aprendizagem a reportagem sobre a Ilha de Lagomeira, no Arquipélago espanhol. http://globotv.globo.com/rede-globo/fantastico/v/moradores-de-ilha-na-espanha-usamassovio-para-se-comunicar/2020420/ Um trabalho muito interessante sobre tatuagem você poderá encontrar em: BERGER, Mirela – “Tatuagem: A memória na pele”, disponível em http://www.mirelaberger.com.br BERGER, Mirela – “Mídia e espetáculo no culto ao corpo: o corpo miragem”, disponível em http://www.mirelaberger.com.br 4

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1.3 GLOSSÁRIO Antropologia: Antropologia é uma ciência que se dedica ao estudo aprofundado do ser humano. É um termo de origem grega, formado por 'anthropos' (homem, ser humano) e 'logos' (conhecimento).

Cultura: significa cultivar, e vem do latim colere. Genericamente a cultura é um complexo que inclui o conhecimento, a arte, as crenças, a lei, a moral, os costumes e todos os hábitos e aptidões adquiridos pelo homem não somente em família, como também como membro da sociedade.

Costumes: são as regras sociais resultantes de uma prática reiterada de forma generalizada e prolongada, o que resulta numa certa convicção de obrigatoriedade, de acordo com cada sociedade e cultura específica. Os costumes resultam da prática de preservar as ideias e ações, de geração a geração. Os costumes variam muito de um lugar para outro e de um grupo para outro. Variam também através da história de um mesmo grupo.

Crenças: As crenças que são as ideias e percepções de uma pessoa, consideradas por ela absolutas e verdadeiras. As crenças são formadas a partir da visão que a pessoa tem de si e do mundo. Através das suas crenças as pessoas olham para todas as situações da sua vida.

Evolução: processo de desenvolvimento natural, biológico e espiritual no qual toda a natureza, com seus seres vivos ou inanimados, se aperfeiçoa progressivamente, realizando novas capacidades, manifestações e potencialidades. De um ponto de vista meramente biológico, a evolução pode ser definida como descendência com variações.

Observação participante: é uma técnica de investigação social em que o observador partilha, na medida em que as circunstâncias o permitam, as atividades, as ocasiões, os interesses e os afetos de um grupo de pessoas ou de uma comunidade.

O objetivo fundamental que subjaz à utilização desta técnica é a captação das significações e das experiências subjetivas dos próprios intervenientes no processo de interação social Performance: através da colaboração entre autores como Richard Schechner e Victor Tuner os estudos da Performance, transcenderam os palcos e passaram a analisar o homem em suas várias formas de interpretação, como ser humano e ou artista, utilizando os conceitos apresentados por todas as ciências. Essa linha de pesquisa frequentemente enfatiza a importância de investigação dos atos interculturais, como uma alternativa a análise ao trabalho de campo tradicional da antropologia.

Trabalho de campo ou pesquisa de campo: é a observação dos acontecimentos e fenômenos exatamente como ocorrem, a realização da coleta de dados referentes aos mesmos, e a posterior análise e interpretação desses dados com base numa fundamentação teórica consistente com o objetivo de compreender e explicar o problema pesquisado.

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Guia de estudos Antropologia CAPÍTULO 2 - Como estudar os detalhes do cotidiano

Nos estudos da história a sociedade 'global' e suas associações instituídas tem sido priorizada em detrimento das formas menos organizadas de socialidade, ou seja, a vida cotidiana é relegada a um segundo plano, os fenômenos sociais não formalizados, não escritos são rejeitados para o registro do 'folclore'. A abordagem etnológica vem dar uma atenção a esses 'micro' materiais que eram considerados secundários na análise do comportamento social.

Dessa nova abordagem vai resultar um deslocamento dos centros de interesse tradicionais das ciências sociais, para o que podemos chamar de estudo dos pormenores do cotidiano. Assim, a atenção do pesquisador passa a voltar-se para os comportamentos mais habituais e, as vezes vistos como mais fúteis como: os gestos, as expressões corporais, os hábitos alimentares, a higiene, a percepção dos ruídos da cidade e dos ruídos dos campos, etc.

Assim, um dos focos de pesquisa vai recair sobre grupos de pequena dimensão, nos quais as relações (exclusiva ou essencialmente orais) são personalizadas no extremo (um exemplo atual, para o estudo da antropologia da religião, pode ser encontrado na Congregação Cristã). O problema que se apresenta é: Como procederá o pesquisador quando estiver no meio das grandes sociedades, onde a comunicação aparece como cada vez mais anônima?

Uma possibilidade é o pesquisador voltar-se para a família tradicional (em oposição às novas estruturas familiares); para as pequenas organizações religiosas; para a comunidade migrante; as comunidades camponesas e indígenas; etc., ou seja, os objetos de estudo serão os grupos sociais que se localizam mais à margem da sociedade 'global'.

Atualmente observa-se um deslocamento radical do campo da curiosidade humana.

Trata-se de ir do público para o privado (observe-se o grande sucesso de programas de TV como o Big Brother), do Estado para o parentesco, dos grandes homens para os atores anônimos, e dos grandes eventos para a vida cotidiana. A história da antropologia funde-se com a história do cotidiano.

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2.1 O estudo da totalidade A abordagem antropológica tem uma característica muito importante que é o esforço para estar atenta a todos os detalhes e não deixar que nada lhe escape. Na pesquisa de campo, todos os pormenores devem ser observados, registrados no caderno de campo, fotografados e anotados mesmo que não tenham uma ligação direta ao assunto que se estuda. Por um lado, a menor ocorrência deve ser registrada na multiplicidade de suas dimensões (todo comportamento humano tem um aspecto econômico, social, político, etc.). Por outro lado, não é o objetivo da antropologia registrar apenas o significado dos objetos mas o contexto no qual se situam esses objetos, e a rede densa das interações que estas constituem com a totalidade social em movimento. Ou seja, uma estátua no centro de uma praça pode representar uma homenagem e esse é seu significado, porém é preciso verificar outros aspectos, como a exata localização dessa praça (pode ser no centro da cidade ou na periferia e isso altera totalmente o significado da homenagem), o material de que é feito a estátua, o tamanho, e claro, a história por detrás da estátua (as lutas geradas em torno do personagem, a importância dada pela população local ao fato, as ligações sociais, econômicas, religiosas, etc.) e isso são apenas alguns dos aspectos a serem verificados pela abordagem antropológica.

A preocupação que a abordagem antropológica tem em analisar, à partir de um fenômeno concreto singular, das inúmeras dimensões de seus aspectos e da totalidade complexa na qual se insere e adquire sua significação inconsciente, esta relacionada a abordagem menos diretiva e programática da própria prática etnográfica, comparada a outros modos de coleta de informações. Por exemplo, busca para além de fazer um questionário aperfeiçoado, mas fazer surgir um questionamento mais profundo.

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A prática da antropologia, baseada sobre uma extrema proximidade da realidade social estudada, supõe também, um grande distanciamento (em relação a sociedade que o pesquisador procura compreender, em relação a sociedade a qual o pesquisador pertence).

2.2 A análise comparativa A análise comparativa está relacionada à problemática maior da antropologia que é a da diferença, envolvendo uma descentração radical em relação a sociedade de que faz parte o pesquisador, isto é, um rompimento com qualquer forma, dissimulada ou deliberada, de etnocentrismo. Pois, apenas o que percebemos (em estado exposto ou latente) em uma outra sociedade nos permite visualizar o que está em jogo na nossa, mas que não imaginávamos.

O pesquisador precisa 'deixar a si próprio em casa' quando vai ao campo realizar a pesquisa, essa experiência, no entanto, vai resultar numa revelação de si mesmo. Para melhor compreender essa situação vamos analisar um exemplo: quando uma criança nasce, os amigos e os parentes enviam saudações ao novo pai. Esse costume aparentemente insignificante ganha todo seu significado quando o comparamos com a prática na África. Todo o acontecimento se processa como se a parturiente fosse o próprio pai. Assim, participando efetivamente do nascimento da criança, o esposo recupera seus direitos de paternidade (nas sociedades onde o parentesco biológico é dissociado da paternidade social), e se vê totalmente integrado à sua própria família, adquirindo com isso um estatuto de pai perfeito.

Outro exemplo: provavelmente vocês já participaram, ao menos uma vez na vida, da inauguração de um edifício; a casa nova de um amigo, a entrada na primeira casa de um casal recém-casado, etc. Essa comemoração, aparentemente insignificante, permanece totalmente incompreensível se não a relacionarmos às cerimônias de apropriação do espaço que, nas sociedades tradicionais, consistem no sacrifício de um animal ou numa libação de álcool aos espíritos.

O mesmo ocorre quando pensamos na festa de formatura da faculdade, que adquire todo o seu significado a partir do momento em que a relacionamos com os ritos de iniciação e passagem que observamos em outras sociedades. Ao receber o diploma do curso o jovem passa de 'aprendiz' a 'profissional' perante a sociedade onde vive.

Podemos pensar em inúmeros exemplos de ritos de passagem em nossa sociedade como a festa de quinze anos que marca a passagem de menina para moça; a primeira bebedeira do menino que marca sua entrada na vida adulta; etc., ao analisar e comparar esses rituais podemos estudar o comportamento dos adolescentes; ainda, a primeira vez que uma mãe leva seu filho a uma rezadeira ou benzedeira para o proteger de doenças, pode ser relacionado com aspectos do acesso a saúde pública.

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Uma recomendação que é feita pelo antropólogo Evans-Pritchard é que o pesquisador busque estudar duas sociedades para o que aconteceu a Malinowski: 'pensar durante toda a sua vida em função de um único tipo de sociedade', no caso, os Trobriandeses'.

A primeira forma de comparatismo, o evolucionismo, ordena os fatos colhidos dentro de um discurso que se apresenta como histórico. Confrontando essencialmente costumes, procura reconstituir uma evolução hipotética das sociedades humanas (de todas as sociedades) na ausência de documentos históricos. Porém, as generalizações que operaram os pesquisadores desse período apareceram aos poucos como abusivas e, basicamente, a etnologia posterior (a ruptura epistemológica introduzida nos anos 19101920 por Boas e Malinowski) adotou uma posição totalmente anticomparativa.

Com o funcionalismo, a sociedade estudada adquire uma autonomia não apenas empírica, mas também teórica. Não se trata mais de comparar as sociedades entre si, mas de mostrar, como se realiza a integração das diferentes funções em jogo em uma mesma sociedade.

Recordemos que a análise comparativa não é o primeiro trabalho do pesquisador.

Primeiramente é necessário fazer o trabalho de campo diariamente, passando pela coleta e registro etnográfico e a compreensão da lógica da sociedade estudada (etnologia). Em seguida, o pesquisador deverá interrogar-se sobre a lógica das variações da cultura (antropologia). É extremamente importante o pesquisador usar de prudência nessa etapa da pesquisa, portanto, todos os materiais recolhidos devem ser cuidadosamente criticados antes de serem comparados com outros. Pois, se começarmos comparando os costumes de uma população gaúcha com os de uma rondoniense, chegaremos apenas a evidenciar algumas analogias. Assim, como diz Kroeber, as universali-dades encontradas poderiam ser apenas a projeção de categorias lógicas próprias da sociedade do pesquisador. Um exemplo cômico disso é a confrontação de um carioca, ou pernambucano, etc. com o chimarrão gaúcho. O que para os gaúchos é um sistema social de partilha (o chimarrão só é oferecido as pessoas que são reconhecidas como merecedoras de partilhar a cuia) para outros sujeitos pode ser considerado algo nojento, sujo, antihttp://1.bp.blogspot.com/-m_yCyImtdsQ/ higiênico, com gosto amargo e sem sentido.

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2.3 O observador e o objeto de estudo: Se o pesquisador busca uma neutralidade absoluta, imagina ter recolhido fatos objetivos, e portanto, ter eliminado dos resultados de sua pesquisa tudo o que contribuiu na sua realização apagando as marcas de seu envolvimento pessoal com seu objeto de estudo, ele corre o risco de afastar-se do tipo de objetividade (necessariamente aproximada) e do modo de conhecimento específico da antropologia. Essa postura do pesquisador, em busca da objetividade, afastando-se da discussão de si mesmo enquanto sujeito despreza o princípio de totalidade (como vimos no ponto 2.1) pois o estudo da totalidade de um fenômeno social supõe a integração do observador no próprio campo de observação. Dessa forma o pesquisador deverá analisar-se a si mesmo antes de iniciar uma pesquisa e verificar se tem as condições mínimas necessárias para fazer o empreendimento. Por exemplo, uma pessoa que tenha dificuldade em ver sangue nunca poderá fazer uma pesquisa sobre pessoas que necessitam fazer diálise pois obrigatoriamente teria que presenciar um processo de transfusão de sangue. É importante considerar que no processo de observação faz-se necessário distinguir aquele que observa daquele que é observado, porém é impossível separá-los. O pesquisador nunca é uma testemunha totalmente objetiva que observa objetos, mas sim um indivíduo observando outros sujeitos. Ou seja, não é possível observar o comportamento de um grupo como seriam se não estivéssemos a observar. E ainda, o pesquisador, para além de perturbar a situação que observa, cria uma nova situação com sua presença no terreno. Aquilo que o pesquisador presencia em sua relação com seus entrevistados, o que gosta, ou o que rejeita, é parte integrante de sua pesquisa. Assim, uma verdadeira antropologia científica deve sempre colocar a questão das motivações do pesquisador e a natureza de sua interação na pesquisa.

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Dessa forma, a etnografia é a experiência de uma imersão total, consistindo em uma verdadeira aculturação invertida, onde, para além de compreender uma sociedade apenas em suas manifestações exteriores, o pesquisador deve interiorizá-la nas significações que os próprios indivíduos atribuem a seus comportamentos.

Essa compreensão da sociedade, tal como é percebida de dentro pelos atores sociais com os quais o pesquisador mantem uma relação direta, é que distingue a prática etnológica. Assim, o pesquisador procura compreender e analisar o melhor possível a alteridade com a qual é confrontado, nunca entrando em contato direto com os homens e mulheres das sociedades que estuda.

2.4 Os de 'dentro' e os de 'fora' Uma melodia específica ritma o trabalho de todo etnólogo. O primeiro momento é o da aprendizagem através de convívio assíduo e diário resultando num verdadeiro envolvimento com seu objeto de estudo. Trata-se de interpretar a sociedade estudada utilizando os modos de pensamento dessa sociedade, deixando-se, como que naturalizarse por ela. O que não é nada de um exercício intelectual, pois, como diz Georges Balandier a respeito da África, corre-se o risco de voltar 'perdido para o Ocidente'. A abordagem de Rouch, ou de Michel Leiris que, ao estudar sobre a religião afro escrevia em seu diário de campo coisas como: 'eu preferiria ser possuído a estudar os possuídos', ou mesmo as anotações de Roger Bastide, são representativas dessa atitude. Roger Bastide escreveu: 'Eu abordava o candomblé com uma mentalidade moldada por três séculos de cartesianismo. Devia deixar-me penetrar por uma cultura que não era minha. Devia portanto converter-me a uma outra mentalidade. A pesquisa científica exigia de mim a passagem prévia pelo ritual de iniciação'.

Em algumas situações o pesquisador só ultrapassa o primeiro estágio, que é o do encontro, da experiência e às vezes da conversão, se primeiramente o encontrar e atravessar.

Passado o período do encontro e envolvimento, o pesquisador vê-se frente ao segundo momento que é o da distância, necessária para o início da produção científica.

Essa separação entre o pesquisador e o objeto pesquisado é fundamental pois o trabalho de análise não consiste apenas em compreender a sociedade da forma como seus atores sociais a vivem, mas também em entender o que lhes escapa.

Na verdade, os que estão 'dentro' de uma determinada sociedade não pode ser compreendido situando-se apenas dentro dessa sociedade. O olhar distanciado, exterior, diferente, do estranho, e inclusive a condição que torna possível a compreensão das lógicas que escapam aos atores sociais. Ao familiarizar-se com o que de início parecia estranho, o pesquisador vai tornar estranho para esses atores o que lhes parecia familiar.

De fato, do ponto de vista estratégico, os moradores de uma cidade são o piores ângulos para compreender os moradores de uma cidade (facilmente cairíamos nas armadilhas da simples fofoca) e assim também os brasileiros para compreender os brasileiros, etc., pois

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as significações produzidas não residem apenas naquilo que uma cultura ou microcultura apresenta, mas naquilo que não diz.

Não existem sociedades totalmente transparentes a si mesmas, nenhuma escapa de suas armadilhas conscientes. Cada grupo, como também cada indivíduo, produz para si próprio e para os que o cercam uma imagem mais bonita de seus comportamentos, diante disso o pesquisador não deve adaptar-se nem desviar-se, mas sim analisar. Assim, o pesquisador não pode utilizar uma participação cega e uma empatia que não sente, mas apenas buscar fazer uma retransmissão do que foi dito.

Alguns pesquisadores tendem a supervalorizar o discurso do outro, isto é, a esquecer um modelo de pensamento por outro. Para essas situações Marc Augé (1979), diz: 'o etnólogo que tentasse compreender o universo dos bororos e explicá-lo de dentro, não seria mais um etnólogo e sim um bororo".

O risco inverso pode apresentar-se na ocasião do segundo momento do processo, a compreensão de 'fora'. Quando o discurso sobre o outro tende a dominar o discurso do outro, degenera habitualmente em um discurso à revelia do outro, podendo contribuir na sua morte, ou seja, na morte da civilização Levi-Strauss compara a antropologia à astronomia. Qualifica a primeira de astronomia das ciências sociais, e diz que o olhar antropológico é um olhar de astrônomo. É a proximidade desse olhar sobre sociedades distantes que permite que o pesquisador, de volta a sua própria sociedade, possa olhá-la à distância. Existe, é claro, uma contradição aparente nesse olhar próximo do distante que age como um olhar distante do próximo; mas essa contradição, todo pesquisador já encontrou pelo menos uma vez na vida.

Em resumo, essa tensão entre pesquisadores, mas sobretudo em um mesmo pesquisador, entre a situação de outsider (fora) e a de insider (dentro) que é a própria definição da observação participante, essa vontade de 'poder pensar e sentir alternadamente como um selvagem e como um europeu' (E. EVANS- PRITCHARD, 1969).

Tylor, um dos primeiros antropólogos, escreveu: 'Existe uma espécie de fronteira além da qual é preciso estar para simpatizar com o mito, e além da qual é preciso estar para estudá-lo.

Temos a sorte de viver perto dessa faixa fronteiriça e de poder passá-la e repassá-la a vontade".

Espero que esse capítulo o tenha auxiliado a perceber a complexidade dos métodos de pesquisa e da postura exigida ao pesquisador para desenvolver o trabalho antropológico.

No próximo capítulo vamos estudar os conceito de cultura e suas implicações na sociedade.

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2.5 Vocabulário Etnografia: A palavra deriva da união de dois vocábulos gregos: ethnos (que significa povo) e graphein (que significa grafia, escrita, descrição). Logo, etimologicamente, a etnografia é o estudo descrito de um povo. Nesse quadro a palavra 'povo' é vista não com seu significado social (uma classe social), mas como um conjunto de indivíduos unidos entre si por laços comuns de ordem histórica, cultural, religiosa, social, etc.: o povo argentino, o povo boliviano, o povo brasileiro, etc. A etnografia é a metodologia mais utilizada pela antropologia.

Etnologia: Ramo das ciências humanas que tem por objeto o conhecimento do conjunto dos caracteres de cada etnia, a fim de estabelecer as linhas gerais da estrutura e da evolução das sociedades. a Etnologia estuda todos os fatos documentados no sentido antropológico cultural e social, ou seja, analisa e compara as culturas estudas pela Etnografia.

Etnocentrismo: O termo é formado pela justaposição da palavra de origem grega ethnos que significa nação, tribo ou pessoas que vivem juntas e centrismo, que indica o centro. Etnocentrismo é um conceito da antropologia definido como a visão demonstrada por alguém que considera o seu grupo étnico ou cultura o centro de tudo, portanto, num plano mais importante que as outras culturas e sociedades.

Evolucionismo social: é uma teoria criada por Herbert Spencer. Ela foi baseada no conceito de evolução proposto por Darwin, porém aplicada no contexto social. Segundo esta, a civilização se desenvolve do imperfeito para o perfeito. As civilizações primitivas são imperfeitas: nelas reinam a poligamia e o politeísmo. Já as posteriores são mais perfeitas: nelas reinam a monogamia e o monoteísmo, a violência cede lugar ao direito e à organização estatal, e se desenvolvem as artes, as ciências e a filosofia. Assim, todas as civilizações, mesmo que em diferentes estágios, estariam rumando para um mesmo grau de desenvolvimento. A sociedade é um organismo em constante evolução. No entanto, para que haja evolução é preciso haver conflito entre as classes sociais.

Funcionalismo: do Latim fungere, 'desempenhar', é um ramo da Antropologia e das Ciências Sociais que procura explicar aspectos da sociedade em termos de funções realizadas por instituições e suas consequências para sociedade como um todo. Na sociologia e na antropologia sociocultural, o funcionalismo (também chamado análise funcional) é uma filosofia sociológica que originalmente tentava explicar as instituições sociais como meios coletivos de satisfazer necessidades biológicas individuais. Mais tarde se concentrou nas maneiras como as instituições sociais satisfazem necessidades sociais, especialmente a solidariedade social. O funcionalismo é associado com Émile Durkheim e mais recentemente com Talcott Parsons.

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Observação participante: caracteriza-se pela inserção do pesquisador no grupo a ser estudado. É uma técnica de investigação social em que o observador partilha, na medida em que as circunstâncias o permitam, as atividades, as ocasiões e os interesses de um grupo de pessoas ou comunidade. O objetivo fundamental dessa técnica é a captação das significações e das experiências subjetivas dos próprios intervenientes no processo de interação social.

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Guia de estudos Antropologia CAPÍTULO 03 ‐ Cultura e Sociedade Antes de começarmos a falar sobre cultura e sociedade parece-me necessário explorar os conceitos de 'social' e 'cultural'. Vamos ver o que nos diz Laplantine (2003:p.95): ‘Social é a totalidade das relações (relações de produção, de exploração, de dominação..) que os grupos mantêm entre si dentro de um mesmo conjunto (etnia, região, nação. . .) e para com outros conjuntos, também hierarquizados’.

Ainda, Laplantine afirma que é difícil formalizar um conceito abrangente sobre cultura e Kroeber, um dos mestres da antropologia americana, formulou mais de 50 conceitos.

Para nossos estudos vamos utilizar o conceito proposto por Edward Tylor (1832-1917): 'tomado em seu amplo sentido etnográfico é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade'.

Com esta definição Tylor abrangia em uma só palavra todas as possibilidades de realização humana, além de marcar fortemente o caráter de aprendizado da cultura em oposição à ideia de aquisição inata, transmitida por mecanismos biológicos (Laraia, 1986).

Portanto, o conceito de cultura, da forma que utilizamos atualmente, foi definido pela primeira vez por Tylor.

Assim, a antropologia social e a antropologia cultural tem um mesmo campo de investigação. Para além disso, utilizam os mesmos métodos (etnográficos) de acesso a este objeto. Finalmente, são motivadas por um objetivo idêntico: a análise comparativa.

Mas, como propõe Laplantine (2003) 'o que se compara na antropologia social é o social enquanto sistema de relações sociais, sendo que, na antropologia cultural, trata-se do social tal como pode ser apreendido através dos comportamentos particulares dos membros de um determinado grupo: nossas maneiras específicas, enquanto homens e mulheres de uma determinada cultura, de pensar, de encontrar, trabalhar, se distrair, reagir frente aos acontecimentos como o nascimento, a doença, a morte).

Antropologia social = compara o sistema social através das relações sociais Antropologia cultural= compara o sistema social através dos comportamentos particulares dos membros de determinado grupo 3.1 Processos Evolutivos Uma das tarefas da antropologia moderna tem sido a reconstrução do conceito de cultura, fragmentado por numerosas reformulações. Neste capítulo, através do esquema elaborado pelo antropólogo Roger Keesing, vamos resumir as principais teorias modernas para a classificação do conceito de cultura.

Esse autor inicia por referir-se às teorias que examinam a cultura como um sistema adaptativo. Essa teoria foi difundida por autores como Leslie White, e reformulada por Sahlins, Harris, Carneiro, Rappaport, Vayda e outros autores que, apesar de apresentarem grandes divergências entre si, acabam por concordar que: a) Culturas são sistemas (de padrões de comportamento socialmente transmitidos) que servem para adaptar as comunidades humanas aos seus embasamentos biológicos.

Esse modo de vida das comunidades inclui tecnologias e modos de organização econômica, padrões de estabelecimento, de agrupamento social e organização política,

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crenças e práticas religiosas, e assim por diante. b) Mudança cultural é primariamente um processo de adaptação equivalente à seleção natural. (O homem é um animal e, como todos animais, deve manter uma relação adaptativa com o meio circundante para sobreviver. Embora ele consiga esta adaptação através da cultura, o processo é guiado pelas mesmas regras de seleção natural que governam a adaptação biológica). c) A tecnologia, a economia de subsistência e os elementos da organização social diretamente ligada à produção constituem o domínio mais adaptativo da cultura. É neste domínio que usualmente começam as mudanças adaptativas que depois se ramificam.

Existem, entretanto, divergências sobre como esse processo se desenvolve. d) Os componentes ideológicos dos sistemas culturais podem ter consequências adaptativas no controle da população, da subsistência, da manutenção do ecossistema, etc.

A seguir, Keesing refere-se às teorias idealistas de cultura, que subdivide em três diferentes abordagens.

1) A primeira é a dos que consideram cultura como sistema cognitivo, produto dos chamados 'novos etnógrafos'. Esta abordagem antropológica tem se distinguido pela análise dos modelos construídos pelos membros da comunidade.

Para Goodenough, a cultura é um sistema de conhecimento: consiste em tudo aquilo que alguém tem de conhecer ou acreditar para operar de maneira aceitável dentro de sua sociedade. Keesing comenta que se cultura for assim entendida ela fica situada no mesmo domínio da linguagem, como um evento observável.

2) A segunda abordagem é aquela que considera cultura como sistemas estruturais, ou seja, a perspectiva desenvolvida por Claude Lévi-Strauss, que define cultura como um sistema simbólico que é uma criação acumulativa da mente humana.

O trabalho de Lévi-Strauss tem sido o de descobrir na estruturação dos domínios culturais — mito, arte, parentesco e linguagem — os princípios da mente que geram essas elaborações culturais.

3) A última das três abordagens, entre as teorias idealistas, é a que considera cultura como sistemas simbólicos. Esta posição foi desenvolvida nos Estados Unidos principalmente por dois antropólogos: Clifford Geertz e David Schneider.

Geertz busca uma definição de homem baseada na definição de cultura. Para isto, contesta a ideia de uma forma ideal de homem, e tenta resolver a questão de ter uma imensa variedade cultural que contrasta com a unidade da espécie humana.

Para isto, a cultura deve ser considerada não um complexo de comportamentos concretos mas um conjunto de mecanismos de controle, regras, planos, receitas, instruções (que os técnicos em informática chamariam programa) para administrar o comportamento.

Assim, para Geertz, todos os homens são geneticamente aptos para receber um programa, e este programa é o que chamamos de cultura. E isso possibilitou a Geertz declarar que um dos mais significativos fatos sobre nós pode ser finalmente a constatação de que todos nascemos com um equipamento para viver mil vidas, mas terminamos no fim tendo vivido uma só.

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Em outras palavras, qualquer pessoa está habilitada, ao nascer, a ser socializada em qualquer cultura existente. Esta amplitude de oportunidades, entretanto, será demarcada pelo contexto real e específico onde de fato ela crescer.

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¹ Para exemplificar essa questão no seu Ambiente Virtual de Aprendizagem você pode ler a história do cirurgião plástico brasileiro Robert Rey e ver como a mudança sofrida na infância alterou totalmente sua vida. http://pt.wikipedia.org/wiki/Robert_Rey

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Regressando à teoria de Keesing, esta nos aponta que Geertz considera a abordagem dos novos etnógrafos como um formalismo reducionista, porque aceitar simplesmente os modelos conscientes de uma comunidade é admitir que os significados estão na cabeça das pessoas. E, para Geertz, os símbolos e significados são partilhados pelos atores (os membros do sistema cultural) entre eles, mas não dentro deles. São públicos e não privados. Cada um de nós sabe o que http://25.media.tumblr.com/ fazer em determinadas situações, mas nem tumblr_m9sejpje471qi5vt2o1_500.jpg todos sabem prever o que fariam nessas situações. Estudar a cultura é portanto estudar um código de símbolos partilhados pelos membros dessa cultura.

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Assim continuando, Geertz considera que a antropologia busca interpretações. Com isto, ele abandona o otimismo de Goodenough que pretende captar o código cultural em uma gramática; ou a pretensão de Lévi-Strauss em descodificá-lo. A interpretação de um texto cultural será sempre uma tarefa difícil e vagarosa.

David Schneider tem uma abordagem distinta, embora em muitos pontos semelhante à de Geertz. Para Schneider: Cultura é um sistema de símbolos e significados. Compreende categorias ou unidades e regras sobre relações e modos de comportamento. O status epistemológico das unidades ou `coisas' culturais não depende da sua observabilidade: mesmo fantasmas e pessoas mortas podem ser categorias culturais.

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Estamos nas primeiras páginas do nosso terceiro capítulo e provavelmente vocês já devem ter percebido que a discussão sobre cultura não terminou — ainda continua —, e provavelmente nunca terminará, pois uma compreensão exata do conceito de cultura significaria a compreensão da própria natureza humana, tema contínuo da constante reflexão humana.

Assim, finalizamos esse subcapítulo com a afirmação de Murdock (1932): 'Os antropólogos sabem de fato o que é cultura, mas divergem na maneira de exteriorizar este conhecimento'.

3 . 2 C u l t u r a c o m o condicionante à visão de mundo do homem No livro 'O crisântemo e a espada', a antropóloga Ruth Benedict escreveu que a cultura é como uma lente através da qual o homem vê o mundo. Homens de culturas diferentes usam lentes distintas e, portanto, têm visões desencontradas das coisas. http://3.bp.blogspot.com/-eOsCNMphDks/TEHG0tbek0I/ Por exemplo, a floresta amazônica AAAAAAAAAfU/a_K8WXlWK5U/s400/dois_caminhos_2.jpg pode ser descrita por uma pessoa residente numa metrópole - — e sem conhecimentos de botânica — como um imenso aglomerado de árvores e arbustos, dos mais diversos tamanhos e com uma imensa variedade de tonalidades verdes; mas, a visão que um índio tem dessa mesma floresta é totalmente diferente: cada uma dessas plantas tem um significado qualitativo e uma referência especial.

Por exemplo, quando estamos ao telefone com um amigo dizemos: 'te encontro na esquina da praça ao lado da farmácia', enquanto os índios (e também os moradores das áreas rurais) podem usar determinadas árvores como ponto de referência. Assim, ao contrário da visão de um aglomerado verde e confuso, a floresta é vista como um conjunto organizado, constituído de formas bem definidas.

A nossa herança cultural, desenvolvida através de muitas gerações, nos condicionou a reagir de forma depreciativa em relação ao http://3.bp.blogspot.com/-b9BiZ2oz2mA/ULdGZOcuLpI/ comportamento das pessoas que agem fora AAAAAAAAC1o/pZxgXYDgN94/s1600/ Etnias+Ind%C3%ADgenas.jpg

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dos padrões aceitos pela maioria da comunidade. Por isto, discriminamos o comportamento diferente. Até recentemente, por exemplo, o homossexual corria o risco de ser agredido fisicamente quando era visto numa rua (e ainda é agredido em algumas regiões). Isso representa um tipo de comportamento padronizado por um sistema cultural.

Esta atitude varia em outras culturas.

A forma de ver o mundo, as análises de ordem moral e valorativa, os diferentes comportamentos sociais e mesmo as posturas corporais são assim resultados de uma herança cultural, ou seja, o resultado da operação de uma determinada cultura.

Assim, podemos entender o fato de que indivíduos de culturas diferentes podem ser facilmente identificados por uma série de características, tais como: o modo de agir, vestir, caminhar, comer, sem mencionar a evidência das diferenças linguísticas, (o 'uai' dos mineiros, o 'tchê' dos gaúchos, o 'mano' dos paulistas, etc. Com certeza você consegue lembrar de exemplos de grandes diferenças linguísticas mesmo dentro do seu círculo familiar e de amigos).

Ainda, algumas atividades vistas como parte da fisiologia humana podem demonstrar diversidades de cultura. http://3.bp.blogspot.com/--yDLwF36wgg/TdcRmLkxCkI/AAAAAAAAAGc/ Vejamos, por exemplo, o riso.

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Rir é algo inerente a todos os homens. O riso se verifica pela contração de alguns músculos faciais e a produção de um tipo de som. Na maioria das vezes o riso exprime alegria mas também há pessoas que riem por nervosismo, medo, etc. Todos as pessoas riem, mas por motivos e de formas diferentes.

Algumas pessoas, ao rir, emitem um som alto e podem ter expressões faciais próximas a algo assustador para quem não esteja habituado a ver. Concordam?

Pensem no tipo de risos que vocês conhecem……. Isso se explica porque cada cultura tem um determinado padrão para o riso.

Por exemplo, em nossa casa podemos pensar que todos temos uma forma particular de rir, mas um https://encrypted-tbn0.gstatic.com/ observador externo à nossa família irá dizer que todos images?q=tbn:ANd9GcSxxGO2psaj-APiUL2p- rimos da mesma maneira.

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Na verdade, as diferenças percebidas pela família, e não pelo observador de fora, são variações de um mesmo padrão cultural. Por isto é que dizemos que todos os japoneses riem de uma mesma maneira. Obviamente os japoneses estão convencidos que seu riso varia de sujeito para sujeito dentro do Japão.

Pessoas de culturas diferentes riem de coisas diferentes. No Brasil as comédias americanas não fazem tanto sucesso porque na cultura brasileira a piada precisa ter um bocado de tempero sensual, assim, as tortas http://guiadicas.net/fotos/2009/09/ As-risadinhas-dos-beb%C3%AAs.jpg na cara não são vistas como divertidas ou apelativas. Na cultura japonesa as pessoas riem muitas vezes por questão de etiqueta, mesmo em momentos desagradáveis. Enfim, poderíamos continuar mostrando que o riso é totalmente condicionado pelos padrões culturais, apesar de toda a sua fisionomia.

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Segundo Mauss, podemos admitir com certeza que se 'uma criança senta-se à mesa com os cotovelos junto ao corpo e permanece com as mãos nos joelhos, quando não está comendo, ela é inglesa. Um jovem francês não sabe mais se dominar: ele abre os cotovelos em leque e apoia-os sobre a mesa'. Qual é a posição que os jovens rondonenses utilizam nessa mesma situação? È parecida com a postura inglesa, francesa ou é bem diversa?

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As mulheres sentam, caminham, gesticulam, etc. de maneiras diferentes das do homem. Ou seja, para concluir, todos os homens possuem a mesma estrutura corporal, (corpo feminino, corpo masculino) mas a utilização do mesmo, ao invés de ser determinada geneticamente, depende de um aprendizado e este consiste na cópia de padrões que fazem parte da herança cultural do grupo. (por exemplo: meninos aprendem urinar em pé e meninas aprender a urinar sentadas).

Como último exemplo vamos falar sobre a alimentação. A alimentação fornece ao homem a sua energia, que irá gerar a força de trabalho. A alimentação pode ocorrer de várias formas e com diferentes tipos de alimentos.

Todos conhecem a grande diversidade gastronômica brasileira. Normalmente essa diversidade é utilizada para classificações depreciativas; assim, por exemplo podemos identificar os brasileiros de origem italiana como 'comedores de polenta'; os cariocas como 'comedores de feijoada'; e você sabe quem são os designados 'comedores de farinha'?

As pessoas não se espantam, apenas, porque as outras comem coisas diferentes, mas também pela maneira como se comportam à mesa. Como utilizam os talheres, ou se comem com as mãos. Em algumas sociedades o ato de comer pode ser público, em outras uma atividade privada. Alguns rituais de boas maneiras exigem um forte arroto, após a refeição, como sinal de agrado da mesma. Tal fato, entre nós, seria considerado, no mínimo, como indicador de má educação.

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Entre os latinos, o ato de comer é um verdadeiro rito social, segundo o qual, em horas determinadas, a família deve toda sentar-se à mesa, com o chefe na cabeceira, e somente iniciar a alimentação, em alguns casos, após uma oração.

Para concluir, o homem tem vivido grande parte da sua história separado em pequenos grupos, cada um com a sua própria linguagem, seus costumes, sua própria visão de mundo e expectativas. É comum a crença de que a própria sociedade é o centro da humanidade, ou mesmo a sua única expressão. Tais crenças contêm o germe do racismo, da intolerância, e, frequentemente, são utilizadas para justificar a violência praticada contra os outros. A dicotomia 'nós e os outros' expressa em níveis diferentes essa tendência.

Dentro de uma mesma sociedade, a divisão ocorre sob a forma de parentes e não-parentes.

Os primeiros são melhores por definição e recebem um tratamento diferenciado.

O costume de discriminar os que são diferentes, porque pertencem a outro grupo, pode ser encontrado em todos os lugares de uma mesma sociedade (escola, trabalho, bairro, cidade, estado). A relação de parentesco consanguíneo afim pode ser tomada como exemplo. Entre os romanos, a maneira de neutralizar os inconvenientes da afinidade consistia em transformar a noiva em consanguínea, inserindo-a no clã do noivo pelo ritual de carregá-la através da soleira da porta (ritual este perpetuado por filmes de Hollywood).

O fato de que o homem vê o mundo através de sua cultura tem como consequência a tendência em considerar o seu modo de vida como o mais correto e o mais natural.

Espero que este capítulo o tenha auxiliado a perceber que muitos dos conceitos que utilizamos e conhecemos como 'adquiridos' são construídos a partir da cultura e do meio onde nos relacionamos. No próximo capítulo vamos estudar sobre as manifestações culturais e tentar descobrir a origem de algumas de nossas mais famosas manifestações culturais e a riqueza de conhecimentos e competências que são transmitidos através delas de uma geração para a outra.

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Guia de estudos Antropologia CAPÍTULO 04 ‐ Manifestações culturais Como estudamos no capítulo 3, podemos dizer que a cultura é composta de uma série de fatores. Estes elementos básicos são: as crenças, os valores, as normas, os símbolos, o idioma e a tecnologia.

A) As crenças são conhecimentos e ideias sobre a natureza da vida; B) os valores são conceitos do que é bom e ruim; C) as normas são regras que delineiam o comportamento das pessoas; as sanções são caracterizadas como as punições e as recompensas; D) os símbolos são os significados das coisas para uma determinada cultura; E) o idioma é o elemento chave da comunicação entre os indivíduos; F) a tecnologia organiza as formas de trabalho e as relações entre as pessoas.

Precisamos conhecer esses elementos para conseguirmos fazer uma análise adequada do espaço onde a cultura se desenvolve e das relações sociais.

O estudo da cultura, dessa forma, reflete a busca por conhecer diferentes formas de vida social, as particularidades de cada povo, aquilo que o distingue dos demais. Adquirir esse conhecimento é, a cada dia, mais importante, visto que vivemos num período de padronização cultural, de valores e apelo ao consumo difundido pelo sistema capitalista.

Assim, quando falamos em analisar a identidade cultural de um povo, precisamos considerar o impacto exercido pelo sistema capitalista sobre essa identidade. Segundo Canclini (1983), o capitalismo condiciona a economia, a política, a cultura das sociedades tradicionais, causando alterações em seu modo de vida e relações sociais. É preciso lembrar também, que ao observar que uma comunidade possui uma determinada característica, não significa que ela ficará inerte ao longo do tempo, pois a cultura é dinâmica. Isso significa que ela mudará conforme as necessidades dos indivíduos que a compõem e as influências que recebem em suas trocas culturais.

Assim, na relação entre cultura e sociedade, também é necessário entender as questões que envolvem a identidade. Há uma busca significativa nas sociedades pela identidade de um povo, ou nação.

No Brasil, o fato de a multiplicidade cultural existente estar enraizada no processo de formação do país, mesclando características voltadas ao povo indígena, aos imigrantes africanos, europeus, asiáticos, por meio da miscigenação de raças, deu ao país os traços culturais que vemos atualmente (Ribeiro, 2003). Essa pluralidade cultural presente em todo http://1.bp.blogspot.com/-loHFvVWNufY/ território brasileiro, seu processo de USOxpJLk3lI/AAAAAAAADBQ/ib69hTqSX8o/ s1600/untitled.png

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formação, ciclos econômicos, extenso território, diferentes aspectos geográficos, torna difícil encontrar uma característica que abranja sua totalidade como, por exemplo, se analisarmos os grupos de camponeses, religiosos, quilombolas, ribeirinhos, comunidades de assentados, etc.

Alguns símbolos estereotipados como futebol, samba e carnaval, exportados como identidade nacional, na realidade não representam senão a identidade de alguns estados, tornando muito pobre a interpretação do que é o Brasil ou o que é ser brasileiro.

Bosi (1999), diz que no desejo que as pessoas têm de criar uma identidade nacional, em meio a tantas manifestações existentes, corre-se o risco de fortalecer uma imagem cultural que não representa a diversidade da cultura brasileira. Assim, entender a cultura, para além de significar compreender o jogo de saber e poder que se desenvolve (entre a educação formal e informal, entre a distribuição dos recursos financeiros), significa também refletir sobre diversas manifestações culturais brasileiras http://3.bp.blogspot.com/-cPkBuP24G6o/ que a compõem.

TnoOfgVAYQI/AAAAAAAAA2I/ XOzDE9IQbgo/s640/ilustracao+brasil+icones.jpg Cotidianamente a sociedade desenvolve uma visão de cultura que é predeterminada pelo sistema capitalista de produção. Nessa visão, qualquer produto que não seja resultado do trabalho intelectual é refutado como inqualificado, e a educação formal determina a ocupação dos melhores cargos e tem os melhores salários, enquanto as tarefas artesanais e manuais não são contempladas. Em consequência dessa visão limitada, o conceito de cultura popular é visto como aquela desprovida do conhecimento, relacionada a uma classe social sem estudo. Nesse contexto, iniciou-se entre os estudantes brasileiros, na década de 1960, uma discussão sobre a questão da cultura popular, estimulados pelo Centro Popular de Cultura (CPC). O objetivo dessa discussão rompeu com os padrões impostos à cultura popular. A partir desse momento histórico a cultura passou a ser vista como ferramenta de transformação social (ARANTES, 1990).

Segundo Coelho (1997) a concepção da cultura popular está fundamentada em duas origens: a) a primeira surge como a dissimulação dos conflitos sociais existentes entre a cultura local e a estrangeira;

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b) a segunda surge nos grupos na tentativa de contrariar a política dominante, tendo na cultura popular o eixo para a validação da cultura brasileira.

Pautados nesse processo histórico podemos analisar a cultura popular a partir do contínuo esforço em transcender o campo da formalidade e tentar dispor os pensamentos e as formas com que as populações desfavorecidas economicamente se expressam, evocando o que há de particular e, principalmente, a dinâmica política dessa esfera social. Mais uma vez percebemos a importância de conhecer as relações sociais como premissas para entender a funcionalidade da cultura popular.

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As atividades de produção cultural de um povo são relativamente constituídas de persistência e coragem. Primeiramente porque há poucos incentivos do governo; em segundo, há pouco incentivo da própria comunidade que precisa, primeiramente, ocupar-se das questões laborais e outras consideradas prioritárias como acesso à infraestrutura básica. Assim, iniciativas de incentivo às manifestações culturais tornam-se secundárias.

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Para Chartier (1995), compreender a cultura popular significa visualizar a cultura por dois prismas: um como instrumento de dominação para impor-se a outra cultura, fazendo com que esta se sinta inferior; e outro é a forma como se dá essa apropriação diante da imposição.

Assim, a cultura popular pode ser conceituada como toda a produção advinda do povo, que diverge da produção elitista e daquela gerada pelos meios de comunicação. É uma cultura que reflete a voz do povo.

A mesma ideia é fundamentada por Bosi ao http://cultura.culturamix.com/blog/wp-content/ relacionar cultura popular com um conjunto de gallery/cultura-popular-do-brasil/ cultura-popular-do-brasil-1.jpg diversos aspectos implícitos à vida do povo, ou realizados pelo povo. Para esse autor a cultura popular: [...] implica modos de viver: o alimento, o vestuário, a relação homem mulher, a habitação, os hábitos de limpeza, as práticas de cura, as relações de parentesco, a divisão das tarefas durante a jornada e, simultaneamente, as crenças, os cantos, as danças, os jogos, a caça, a pesca, o fumo, a bebida, os provérbios, os modos de cumprimentar, as palavras tabus, os eufemismos, o modo de olhar, o modo de sentir, o modo de andar, o modo de visitar e ser visitado, as romarias, as promessas, as festas de padroeiro, o modo de criar galinha e porco, os modos de plantar feijão, milho e mandioca, o conhecimento do tempo, o modo de rir http://3.bp.blogspot.com/-CZ0hkKMoTKU/ e de chorar, de agredir e de consolar ( BOSI, TnKcim3VfOI/AAAAAAAAFIY/jiI5I5ysj08/s1600/ brasil+cultura+mapa5667.jpg 2006,p.324) .

Na cultura popular, os elementos relacionamse entre si e portanto são inseparáveis. O universo material entra em harmonia com o imaterial, a religiosidade acompanha a moral e o costume. É a junção de todos os elementos, no qual um complementa o outro e existe sem essa relação de reciprocidade (BOSI, 2006). É dessa forma que o universo popular se mistura com o folclore, pois, às vezes, é difícil delimitar o que é folclore e o que é cultura popular, já que no mesmo espaço podem ocorrer as duas

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formas de cultura.

Por outro lado, às vezes a cultura popular mescla-se de tal forma com o folclore que dá a impressão de que é a mesma coisa. Brandão (2003), sugere que a cultura popular só pode ser considerada folclore quando a produção cultural torna-se coletiva e reflete a vida social do povo, ou mesmo quando se refere a uma parcela específica da sociedade, como comunidades quilombolas, ribeirinhas ou rurais.

Para Cascudo (2001), um dos mais respeitados folcloristas brasileiros, o folclore é a tradição popular com regras, empregos de técnicas e funcionalidade como, por exemplo, os folguedos populares: folias de reis, jongo, fandango, bumba-meu-boi. Referese ao folclore como sagrado, hierárquico, e a cultura popular como usos e costumes da convivência cotidiana.

Para Marconi (2001), o folclore é definido como o estudo da cultura da população rural ou urbana, tendo como premissa sua espontaneidade, procurando entender tanto o aspecto espiritual quanto material.

São muitos conceitos e de muitos autores, mas estamos fazendo um esforço para compreender o que é cultura popular, porque isso vai tornar mais simples analisar outros aspectos da cultura popular brasileira.

Recordando que conhecer a cultura existente é a melhor forma de tentar desmistificar as impressões erradas que se têm no território nacional, ou no próprio estado onde se vive.

Assim, vamos primeiramente diferenciar a cultura popular da cultura http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/novembro/ erudita, e depois a cultura popular da imagens/dia-da-cultura-brasileira-001.jpg cultura de massa.

A cultura erudita é aquela que está intimamente ligada à produção dentro dos sistemas de ensino: escolas, instituições, universidades. A cultura institucionalizada é vista como privilegiada por ser um instrumento do governo, de grupos particulares, e por atender principalmente aos indivíduos da classe rica. É também chamada de elitista, porque muitas vezes utiliza o conhecimento adquirido para fortalecer sua imagem e intensificar os contrastes existentes.

Entre cultura popular e cultura de massa a relação é mais complexa, pois percebe-se que os meios de comunicação tendem a reduzir a cultura popular à imagens estereotipadas que destoam da realidade vivenciada pelo povo. O uso que os meios de comunicação lançam sobre a cultura popular é resultado da lógica de mercado. Nesse sentido, o popular é um produto criado para vender e agradar multidões. Em geral os meios de comunicação

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não têm a preocupação de preservar a identidade dessa cultura e se utiliza dela, muitas vezes, de forma sensacionalista. Ainda, normalmente, os mesmos meios de comunicação refletem apontamentos negativos quanto à utilização da cultura popular pelo turismo, como se a atividade turística fosse a causadora de toda a deterioração cultural existente, esquecendo-se que a cultura popular é produto fundamental da existência do turismo.

Em suma, a cultura popular brasileira consiste em uma colcha de retalhos cultural, pluralista, que abrange a cultura da periferia e dos centros urbanos, bem como as manifestações culturais camponesas. Estas últimas, levaram alguns autores a criar personagens que, de certa forma, deformaram a imagem do homem caipira. Um exemplo disso é o personagem Jeca Tatu de Monteiro Lobato. Para Lobato o caipira é o ser do mato, que fala errado, atrasado, preguiçoso, entre outros atributos.

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No entanto, foi através desse personagem caricato que o camponês passou a ocupar um lugar de destaque na literatura e na cultura brasileira. Assim, Lobato, por meio de suas histórias e caricaturas, ainda que de maneira não tão qualificadora, divulgou pela primeira vez o homem do campo e seu modo de vida.

Percebe-se em nossa história que sempre houve uma relação pouco amistosa entre aquilo que é proveniente do homem do campo e as pessoas que residiam fora desses núcleos. Desde o período da colonização brasileira propagou-se uma visão distorcida da cultura caipira dando maior ênfase e valor ao que era de origem branca e europeia. É importante lembrar que a cultura caipira, assim como outras formas de cultura popular, é feita de memória. Esta se reflete na transmissão dos costumes, das tradições e dos conhecimentos (desde o uso das plantas medicinais, como as receitas de doces e comidas típicas). Assim, como afirma Le Goff (1990), a memória tem como função guardar o passado, e ativar o presente e futuro, reconstruindo as principais atividades dos sujeitos e sociedades.

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Nesse processo de transmissão oral usando a memória como ferramenta, muitos dos conhecimentos se perdem (os netos não sabem fazer as receitas medicinais que os avós utilizavam, não sabem usar as sementes para retirar tinta e tingir roupas, não sabem fazer linguiças e outros pratos típicos, etc). Porém, Malinowski (1962), diz que essa perda de características é normal, ao partir do pressuposto de que o cerne propulsor da cultura, é que esta muda de acordo com as transformações decorrentes da vida social dos indivíduos.

A partir disso, é importante enfatizar que as mudanças ocorreram e sempre vão ocorrer no modo de vida camponesa, principalmente porque a globalização é a cada dia mais abrangente e sedutora. Dada a dependência existente entre o rural e o urbano, seria impossível haver um isolamento das comunidades camponeses com vistas a sua preservação, portanto, concordamos com Carneiro (1997), que nos aponta que a interação entre o urbano e o rural não descaracteriza a cultura, partindo do pressuposto de que as transformações ocorrerão inevitavelmente e de maneira diferente, conforme os interesses das comunidades rurais.

A partir desse entendimento, podemos trabalhar e desenvolver nossos projectos profissionais em nossa região e comunidades utilizando o que de melhor as novas tecnologias nos trazem porém com a consciência de que é preciso preservar a cultura local, pois essa é a nossa própria história.

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2 O que são manifestações culturais?

Para a Antropologia Cultural, manifestação cultural é toda forma de expressão humana, seja através de celebrações e rituais ou através de outros suportes como imagens fotográficas e fílmicas.

No contexto da cultura popular é possível realçar as manifestações existentes, pois se a cultura nada mais é do que processos sociais e formas como a sociedade se organiza, as

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manifestações culturais são produto desta sociedade (Santos, 2002).

Para Bosi (2006), as manifestações culturais são expressões de grupos específicos da cultura. Distingue-se da cultura oficial e encontra-se dispersa pelo território nacional. A manifestação cultural deve estar ligada à comunidade, pois essa é uma forma de fortalecer a cultura da qual se originou podendo, também, ser motivada a construir e fortalecer a identidade existente.

As manifestações culturais, desse modo, estão relacionadas às vivências de um grupo específico. Estas, rememoram no presente as práticas que se desenrolaram com o passar do tempo, que não foram esquecidas pela comunidade, ou seja, nas manifestações tem-se a conservação da identidade comunitária.

Dias (2006), elenca as principais manifestações culturais encontradas no território brasileiro, explicando sua funcionalidade, simbologia dentro da sociedade e a resistência de tais manifestações após longo período de tempo, como, por exemplo, o jongo, folias de reis, festa do divino, samba, frevo, a lavagem do Senhor do Bonfim, festa de padroeiro, dentre outros. Além disso, o autor salienta que as manifestações são traduzidas em atrativos turísticos, contribuindo para o desenvolvimento local por meio da atribuição de valor econômico a elas. Este uso turístico caracteriza uma nova funcionalidade social das http://farm1.staticflickr.com/44/173013695_d37c8a5d16.jpg manifestações culturais.

Algumas festividades identificadas em nosso estado são expressões tradicionais, algumas existentes desde a formação do estado, outras incorporadas mais tarde à vida dos moradores. É importante conhecer como e quando elas ocorrem, quem são os atores sociais que organizam e participam. Um caminho para a valorização dessas manifestações culturais pode ser a atividade turística, se esta for conduzida pela comunidade local.

As manifestações culturais dos rondonienses é que constituem o diferencial da própria manifestação; este ponto é importante salientar, para que se reconheça a riqueza cultural presente nessas festividades.

Nesse sentido, estas festividades são recursos potenciais ao turismo, tendo em mente que a cultura, as expressões culturais e sua pluralidade, são condições essenciais para a sua existência. A utilização das manifestações culturais como apoio às atividades turísticas dependerá de vários fatores como a atuação da esfera pública, a vontade da comunidade, e as políticas públicas direcionadas para a cultura e o setor turístico.

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As manifestações culturais dos rondonienses é que constituem o diferencial da própria manifestação; este ponto é importante salientar, para que se reconheça a riqueza cultural presente nessas festividades.

Nesse sentido, estas festividades são recursos potenciais ao turismo, tendo em mente que a cultura, as expressões culturais e sua pluralidade, são condições essenciais para a sua existência. A utilização das manifestações culturais como apoio às atividades turísticas dependerá de vários fatores como a atuação da esfera pública, a vontade da comunidade, e as políticas públicas direcionadas para a cultura e o setor turístico.

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Sabemos ainda que as expressões das culturas do homem também são divulgadas através de outras linguagens, escritas ou verbais. O patrimônio também se constitui como uma linguagem que expressa uma forma de sentir e pensar um acontecimento, um tempo, uma dada forma de ver as coisas do mundo.

Em sua origem, o patrimônio estava ligado às estruturas familiares, econômicas e jurídicas de uma sociedade estável, enraizada no tempo e no espaço. Atualmente, o conceito de patrimônio representa um bem destinado à herança de uma comunidade, constituído pela acumulação contínua de uma diversidade de objetos que se congregam por seu passado comum: obras de arte, trabalhos e produtos de todos os saberes das comunidades.

Inicialmente, procedeu-se ao estudo e registro do patrimônio histórico representado pelos edifícios e obras de arte. Em seguida, projetou-se a passagem da noção de patrimônio histórico para a de patrimônio cultural até estabelecer-se uma perspectiva mais ampla que incluiu o cultural, agregando as dimensões do cotidiano.

Dessa forma, concordamos que o patrimônio pode abarcar manifestações culturais intangíveis, como as tradições orais, a música, idiomas e festas, além dos bens artísticos.

Nesse aspecto, as festas populares expressam as formas identitárias de grupos

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locais, onde o motivo de encontro, de fé ou simplesmente de celebrar atrai e identifica devotos e indivíduos de mesma identidade.

As manifestações populares possuem um caráter ideológico uma vez que o recordar é, antes de mais nada, conservar algo que ficou na memória coletiva (PAIVA MOURA, 2001) e forma de manifestação cultural.

Por fim, devemos lembrar que os bens naturais, ou culturais, materiais ou imateriais, constituem o patrimônio cultural do Brasil, desde que estes sejam portadores de referência à identidade, à ação e à memória de diferentes elementos étnico culturais formadores da nação brasileira.

Nesse capítulo estudamos as várias formas de culturas existentes (erudita, popular, de massa, urbana, caipira, etc.) e a importância da conservação das tradições e das culturas locais através das manifestações culturais, concluindo que a memória é a principal ferramenta de transmissão dos conhecimentos e saberes da cultura popular de um povo.

No próximo capítulo vamos estudar sobre a cultura das minorias!

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Guia de estudos Antropologia CAPÍTULO 05 ‐ Culturas das Minorias Caro Aluno, no decorrer da história vários acordos e tratados tiveram o objetivo de debater a questão dos grupos minoritários. No período após as duas grandes guerras mundiais, que evidenciaram a extrema violência contra as minorias, estimulada pelo nacionalismo, foram estabelecidos tratados de proteção aos grupos minoritários. Por meio da Liga das Nações, fundada no ano de 1919, poderia haver intervenções caso alguma minoria fosse novamente perseguida.

Com a criação da Organização das Nações Unidas (ONU), em 1945, a questão foi novamente levantada. Porém, não aparece na Declaração dos Direitos do Homem. Outro documento importante para essa questão foi a Carta de Paris, de 1990, onde foi registrada a necessidade de proteção à identidade religiosa, linguística, cultural e étnica das minorias.

Autores de diversas áreas do conhecimento desenvolveram pesquisas, a partir dos séculos XX e XXI, onde definiram os conceitos sobre as novas minorias. Neste grupo encontram-se os: homossexuais, idosos, imigrantes e pessoas que não possuem domicílio fixo. No caso dos homossexuais são, ainda hoje, publicamente apontados por sua diferenciação. Já os imigrantes, em muitos países, são considerados parasitas. Entre os principais direitos reivindicados por estas minorias estão o tratamento igualitário, autonomia e independência completa.

Mas afinal, o que define se um grupo é uma minoria ou não? Vamos iniciar nossos estudos neste capítulo buscando responder a questão: o que são minorias?

Para responder essa questão vamos utilizar o conceito formulado por Sodré (2005) em seu livro 'Por um conceito de minoria': 'minoria não é, portanto, uma fusão gregária mobilizadora, como massa ou a multidão ou ainda um grupo, mas principalmente um dispositivo simbólico com uma intencionalidade ético-política dentro da luta contra-hegemônica' (p.11).

Esse autor organizou uma série de características básicas para identificar uma minoria: a) a vulnerabilidade jurídico-social, considerando-se que o grupo dito minoritário não é institucionalizado pelas regras do ordenamento jurídico-social vigente. É, assim, vulnerável, diante da legitimidade institucional e diante das políticas públicas. b) a identidade in statu nascendi, do ponto de vista de sua identificação social, a minoria apresenta-se sempre 'in' na condição de uma entidade em formação e que se alimenta da força e do ânimo dos estados nascentes. Mesmo quando já existe há muito tempo, a minoria vive desse eterno recomeço. c) a luta contra-hegemônica, pois uma minoria luta pela redução do poder hegemônico, embora em princípio sem objetivo de tomada do poder pelas armas.

Atualmente a mídia é um dos principais territórios dessa luta. d) as estratégias discursivas, considerando-se que as estratégias de discurso e de ações demonstrativas (passeatas, invasões, gestos simbólicos, manifestos, revistas, jornais, programas de televisão, campanhas pela internet) são os principais recursos de luta atualmente.

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Você conhece o atual panorama social brasileiro? Aqui os estudos de minorias são um campo obrigatório, pois além das questões de gênero, temos os grupos religiosos e étnicos, os deficientes e a infância, que são tratados de maneira discriminatória. As narrativas hegemônicas são tratadas, pela mídia, de maneira que todos os casos apareçam como algo absolutamente dentro da normalidade. Por exemplo, podemos ver o caso da Parada Gay realizada no Rio de Janeiro. Todos os meios de comunicação mostraram o lado festivo do evento, o número de participantes, as presenças conhecidas, os shows, mas nenhum deles apontou as reivindicações ou questionou o caráter político do evento. Assim, apenas o lado festivo, quase que carnavalesco do evento, é evidenciado colocando em último plano toda a discussão que fundamenta o evento e os seus participantes.

O que nós precisamos questionar, tendo como exemplo esse evento ou os inúmeros eventos realizados pelas chamadas minorias¹ é a banalização das narrativas a partir do entendimento do significado e da aplicação social do conceito de hegemonia.

5.1 O que é hegemonia?

Mas, o que é hegemonia?

Para Gramsci, hegemonia é o domínio de uma classe social sobre as outras, em termos ideológicos, em especial da burguesia com as classes de trabalhadores, e etc.

Por que precisamos estudar esse conceito? Porque esse conceito nos permite perceber a coexistência de outras determinantes como a cultura, a arte, a religião, a filosofia e a ciência que se articulam junto à política e a economia para a produção de um pensamento determinante e dominante.

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Você pode acompanhar no noticiário a luta que foi travada pelos indígenas que buscaram a preservação do Museu do Índio no RJ, ou os indígenas que lutam pelo direito a terra em várias partes do Brasil, os portadores de necessidades especiais que lutam pelo acesso a educação, ao trabalho ou por melhores formas de transporte incluindo fazer pequenas rampas nas calçadas para poderem se locomover com canadianas ou cadeiras

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http://3.bp.blogspot.com/-wa-568mO5-M/Txa7yCoUEyI/AAAAAAAAN5A/ZeBs4zmWeRA/s1600/ Gramsci+e+hist%25C3%25B3rias+em+quadrinhos+Mafalda+e+a+constru%25C3%25A7%25C3% 25A3o+de+sentidos+contra-hegem%25C3%25B4nicos+Tira+2+O+Individualismo.gif

Agora podemos entender que a partir da ideia de um padrão hegemônico e de uma forma determinante, compreendemos a existência de diversas outras estruturas possíveis que aparecem como sistemas minoritários, formas menores, produções sem importância, diferentes e, consequentemente, sem grande referência na estrutura social. O surgimento dessas forças diversas como sistemas dominados possibilita historicamente a previsão de pequenas disputas e lutas, ou seja, começam as rupturas, as manifestações, as organizações dos movimentos sociais!

Espero que esse parágrafo o tenha ajudado a compreender essas relações e construções sociais.

Ainda, normalmente a luta social das diferentes configurações existentes permite o surgimento de sociedades mais justas no sentido da inclusão de fatores heterogêneos. Entretanto, na atualidade não podemos trabalhar apenas com esta perspectiva pois isso significaria desconsiderar a existência de outros fatores capazes de produzir mudanças sociais.

Dessa forma, dentre as características da atualidade, a existência da mídia tem sido a variável que mais influencia a estrutura social de maneira definitiva.

Alguns pesquisadores definem a contemporaneidade a partir da estrutura midiática, a partir da conclusão de que as estruturas como família, trabalho, Estado, religião e escola são diariamente construídas e/ou desconstruídas na mídia, ou seja, estão diariamente a ser transpassadas pela mídia e portanto, não podem ser estudadas sem considerar esse fator. http://www.valor.com.br/sites/default/files/ gn/11/09/foto08int-101-terror-a12.jpg

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Isto significa que, para compreender as estruturas sociais e as minorias, precisamos considerar o uso e o lugar da mídia na atualidade bem como nos aproximar dos motivos que determinam a conceituação da sociedade contemporânea como midiatizada. De uma forma muito simples normalmente dizemos que no Brasil a TV é uma grande formadora de opinião para o povo. Por exemplo, o caso das novelas. Você recorda como eram as telenovelas a 10, 15 ou 20 anos atrás? Você consegue perceber que todos os grandes temas como a inclusão social, o divórcio, a adoção, a traição, a entrada da mulher na indústria, a sexualidade, o aborto, as religiões, as novas estruturas familiares, a homossexualidade e outros foram aparecendo primeiramente nas novelas? A reação da audiência foi medida e, conforme foi ocorrendo a 'aceitação' através da simpatia pelos personagens e pela envolvência com o drama desenvolvido, esses temos começaram a fazer parte do dia a dia e das discussões das pessoas. ´Caro Aluno, isto significa que é necessário compreender que todas as atividades e relações, mesmo aquelas que historicamente definiam a existência do indivíduo, como a personalidade, o trabalho, a educação, a política ou a religião, são modificadas pela estrutura mídiática.

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6.2 O que é estrutura midiática?

Mas, o que é estrutura midiática?

Por estrutura midiática, ou estrutura da mídia, compreendemos o esquema de produção e representação comprometido com as forças ordenadoras do mercado, e com a estetização da vida, desprovido de qualquer intenção de modificação da situação atual, além de ser o responsável direto pelo incentivo e geração do consumo.

Ainda, para compreender o conceito de mídia, é preciso ir além da ideia de que se trata apenas das redes de emissoras de televisão, ou das emissoras de rádio ou ainda do jornais.

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6.3 O que é mídia?

Então, o que é mídia?

Mídia é o conjunto de todos estes componentes (emissoras de TV, rádio, jornal e internet) e a capacidade de gerar uma super estrutura, cujo papel tem sido o de definir de maneira totalizante o quotidiano. Essa capacidade representa um momento único na história da humanidade, porque nem as religiões, nem a política, nem qualquer outro sistema responsável pela normatização das relações sociais conseguiu tingir um nível tão amplo de atuação e tão eficazmente determinar a conduta padronizada de toda uma sociedade, ou seja, atuando no âmbito que engloba desde as definições morais, passando pela formação cognitiva, até a maneira de viver e conviver das diferentes populações.

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Um exemplo da atuação da mídia pode ser visto no caso do cantor Michel Teló que teve sua música 'Ai se eu te pego' conhecida no mundo inteiro. Como exemplo, veja o vídeo de soldados israelenses dançando: http://www.youtube.com/watch?v= wuGaR-DAnRg. Muniz (2005) caracteriza o perfil de atuação dos grupos minoritários num ambiente de absoluta densificação midiática, como uma nova forma de vida, o bios-midiático. Por outro lado, é importante considerar ainda que existem atualmente diversos autores que acreditam numa nova forma de exercício da cidadania, limitada pela desigualdade de acesso informacional, pelo poder do Estado e pela vigilância eletrônica das corporações. A nova relação do capital social que emerge dos níveis de deliberação das redes nas práticas concretas dos cidadãos estabelece uma http://blog.sylviomicelli.jor.br/wp-content/uploads/ 2012/01/michel-telo-capa-revista-epoca.jpg relação mais rica do que o desenvolvimento do processo eleitoral e dos meios de comunicação de massa.

Por último, é necessário registrar que o conceito de minorias é influenciado por sua ação, apesar de muitos movimentos sociais viverem apenas de eventos e breves aparições na mídia, não devemos desvalorizar a força de seus discursos contra-hegemônicos.

Assim, o entendimento sobre minoria deve ir além de simples conotação quantitativa, em que ela coloca-se como inferior, mas nós devemos entender que: minorias são movidas pelo impulso e a vontade de transformação e que se movimentam para tentar mudar situações de conflito ou situações em que se veem vulneráveis diante da legitimidade institucional e diante das políticas públicas.

Tendo em vista este perfil, podemos dizer que a midiatização da sociedade gerou um empoderamento das minorias, que encontraram no espaço midiático mais um grande aliado às suas lutas.

Você sabe que no terreno midiático, a minoria pode se mostrar à sociedade e se fazer ouvir, pode apresentar ao mundo suas insatisfações e desejos de transformação, pode transmitir e criar seus valores, ideias, símbolos e com isso, incentivar comportamentos?

Assim, quando um grupo minoritário faz uso do espaço midiático como lugar de manifestação e luta, essa minoria está, também, exercendo sua cidadania, ao passo que, ao se manifestar, fala de si, constrói, promove mudanças e garante seu direito a cultura, que

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não se resume apenas em consumi-la, mas em produzi-la e difundi-la.

Caro Aluno, isso significa que no momento em que se apoderam dos meios de comunicação para se manifestar e exercer sua cidadania, as minorias garantem seu lugar em um sistema público que muitas vezes a excluem.

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Caro Aluno, em nossa discussão nós precisamos considerar ainda que, se o Estado não incorpora e não reconhece a todos de forma igualitária, são os diferentes grupos sociais que se unem e se posicionam de modo a romper um ciclo de privilégios e assim, lutam para garantir seus direitos como cidadãos, assumindo postura social participativa; que não apenas assume papel de receptor de valores, símbolos e ideologias, mas que também cria e constrói aquilo que acreditam ser necessário para tornar a sociedade, da qual fazem parte, um lugar melhor. Assim, podemos dizer que os meios de comunicação são, claramente, espaços fundamentais para o exercício da cidadania e transmissão da cultura das minorias.

No próximo capítulo vamos discutir o conceito de multiculturalismo, suas origens e influências.

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5.4 Vocabulário Minoria: Minorias são grupos marginalizados dentro de uma sociedade devido aos aspectos econômicos, sociais, culturais, físicos ou religiosos. Porém, o termo não deve ser associado a grupos em menor número em uma sociedade, mas sim, ao controle de um grupo majoritário sobre os demais, independente da quantidade numérica.

Hegemonia: Esse conceito foi formulado pelo cientista social Antonio Gramsci.

Hegemonia significa direção suprema, e é um termo de origem grega. Nessa acepção hegemonia é dominação consentida, especialmente de uma classe social ou nação sobre seus pares. Na sociedadecapitalista, a burguesia detém a hegemonia mediante a produção de uma ideologia que apresenta a ordem social vigente e sua forma de governo em particular, a democracia, como se não perfeita, a melhor organização social possível.

Narrativas: a palavra é originária do latim e quer dizer conhecer, transmitir informações. O conceito de narrativa é o que permite reconhecer o conflito, e é estudada, como um método para produzir, como uma teoria para investigar, como uma prática social estratégica ou política. A narrativa é usada por pesquisadores, para descrever seus estudos e informar o resultado de seu conhecimento. Alguns elementos básicos da narrativa são:  Fato - corresponde à ação que vai ser narrada (O quê?); Tempo - em que linha temporal aconteceu o fato (Quando?);  Lugar - descrição de onde aconteceu o fato (Onde?);  Personagens - participantes ou observadores da ação (Com quem?);  Causa - razão pela qual aconteceu o fato (Por quê?);  Modo - de que forma aconteceu o fato (Como?);  Consequências - Resultado do desenrolar da ação que provoca um determinado desfecho.

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Guia de estudos Antropologia CAPÍTULO 06 ‐ Multiculturalismo Caro Aluno, quando nos confrontamos com uma palavra nova devemos primeiramente compreender seu significado mais simples. Neste caso 'multiculturalismo' forma-se pela palavra multi=muitos e, pela palavra cultura que já estudamos no capítulo 3.

O espaço acadêmico é fértil na apresentação de novos conceitos e multiculturalismo é um conceito bastante recente porém muito valorizado. Vamos responder primeiramente o que é multicultural?

No seu sentido mais simples refere-se simplesmente àquilo que traz em si elementos de muitas culturas.

6.1 O que é multiculturalismo?

E o que é multiculturalismo? É uma consequência da ideia de multicultura, portanto multiculturalismo é o jogo de diferenças, quando diversos elementos culturais se juntam dentro de um mesmo espaço, forjando as características de uma sociedade.

Um autor chamado Stuart Hall (2003), produziu muito sobre o multiculturalismo, e discutiu o tema contando um pouco de sua história de vida e discorrendo a respeito das sociedades multiculturalistas onde conviveu. Segundo Stuart Hall O multiculturalismo refere-se a estratégias e políticas adotadas para governar ou administrar problemas de diversidade e multiculturalidade gerados pelas sociedades multiculturais. É normalmente utilizado no singular significando a filosofia específica ou a doutrina que sustenta estratégias multiculturais. ( HALL, 2003: 52) Stuart Hall considera que existem muitas sociedades multiculturais e diversos multiculturalismos.

Segundo Hall (2003: 52), o termo multicultural é qualificativo, relacionado à características sociais e problemas de governabilidade em qualquer sociedade na qual convivem diferentes comunidades culturais, enquanto o termo multiculturalismo é substantivo, referindo-se à estratégias e políticas adotadas para governar ou administrar problemas de diversidade gerados pelas sociedades multiculturais. Existem muitos tipos de sociedades multiculturais como.: o Brasil, os USA, a Grã-Bretanha, a França, a África do Sul, e outras, que são sociedades heterogêneas.

Caro Aluno, é muito importante ter em mente que há sociedades multiculturais distintas e diversos multiculturalismos. Assim, o termo multiculturalismo é uma ideia contestada pela direita, pela esquerda, pelos liberais, pelos modernizadores, pelos antirracistas, etc.

Hall (2003) estudou o multiculturalismo no caso britânico. Esse autor apontou que a Grã-Bretanha foi o centro do maior império dos tempos modernos e governou uma variedade de culturas. Atualmente os imigrantes constituem 7% da população britânica e 25% da população de Londres e de várias cidades e transformaram muitas cidades britânicas em comunidades multiculturais. Os imigrantes são diferenciados conforme suas origens.

Segundo Stuart Hall (2003), entre as duas maiores comunidades pós migratórias não brancas na Grã-Bretanha o termo raça é aplicado aos afro-caribenhos e etnicidade aos

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asiáticos.

Caro Aluno, um ponto importante que você deve registrar é que a categoria raça não é científica, é uma construção política e social.

Como exemplo dessa situação de conflito étnico nós podemos pensar no caso dos imigrantes haitianos que estão chegando ao estado do Acre. Esses imigrantes vêm de uma cultura totalmente diferente da brasileira, não falam a língua usada no Brasil, e entre outras barreiras têm que lidar com as formalidades institucionais. Precisamos pensar em estratégias de recepção e apoio a essas pessoas que considerem a questão da etnicidade no processo de inserção desses sujeitos (e de suas famílias que devem chegar num futuro próximo) na sociedade brasileira. Sem considerar essa questão qualquer programa de apoio não vai passar de um assistencialismo pontual, sem que isso se transforme num potencial de desenvolvimento sustentável, onde os sujeitos possam realmente adquirir ferramentas para desempenhar suas funções na nova sociedade: estudar (aprender sobre a língua, saúde, funcionamento cívico e jurídico do Brasil) e trabalhar (para realizar seus projectos migratórios que envolvem o reagrupamento familiar, ou seja, trazer suas famílias que ficaram no Haiti).

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Assim, as palavras e o uso que damos a elas podem se tornar barreiras no processo de desenvolvimento de ações estratégicas, seja para implementação de casas populares, de saúde para todos, de escolarização, etc. Nesse contexto Hall nos propõem utilizar o termo hibridismo no lugar das expressões tradição e modernidade, pois esse autor observou que na Grã-Bretanha muitos se consideram negro-e-britânico ou asiáticobritânico.

E no Brasil? Você sabe como se consideram as pessoas que residem na região sul?

Se você for a uma cidade como Blumenau, onde a maioria da população é de origem alemã e perguntar: Como você se considera? A pessoa vai responder: brasileiro ou alemão!

Dependendo de quem pergunta. É uma identificação 'para dentro' (frente aos brasileiros de diversas origens) ou 'para fora' (frente as pessoas que não são brasileiras).

Se compararmos a situação brasileira com a americana veremos que o Brasil conseguiu uma integração muito maior entre os diversos elementos que formam sua cultura. Embora haja pequenos enclaves onde a influência cultural de imigrantes japoneses, alemães ou italianos se sobressai, no total temos uma grande integração que nos leva a falar normalmente em brasileiros descendentes de japoneses e só raramente em nipo-brasileiros.

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Conforme esse exemplo dos estudos de Hall na Grã-Bretanha, podemos também dizer que na sociedade multicultural brasileira o termo raça é mais aplicado aos afrodescendentes enquanto às comunidades ameríndias é mais aplicada o termo etnicidade.

Nossos índios e negros também se consideram índio-brasileiro e negro-brasileiro e nossa cultura também se caracteriza pelo hibridismo e pelo multiculturalismo que no passado foram negados e hoje passam a ser mais reconhecidos.

Segundo Burke (2003) muitos pesquisadores de diferentes áreas estão dedicando cada vez maior atenção aos processos de encontro, contato, interação, troca e hibridização cultural. O preço da hibridação é a perda de tradições regionais e locais e também o aparecimento de reações étnicas ou nacionalistas, bem como a tensão entre regionalismo e mestiçagem ou o surgimento de separatismos, segregacionismos e fundamentalismos, como entre grupos muçulmanos ou na Igreja de Bento XVI, ao afirmar que a única verdade cristã se encontra na Igreja Católica.

Burke se refere ao hibridismo na arquitetura, no mobiliário, nas imagens, na pintura, nos textos traduzidos, na música, na religião, nas festividades, etc.

Podemos encontrar um exemplo desse hibridismo muito próximo da nossa realidade, trata-se da religião do Santo Daime, fundada no Acre pelo padrinho Sebastião, com elementos do tambor de mina, da dança de São Gonçalo, da umbanda e de outras fontes, como religião eminentemente sincrética e híbrida.

Temos ainda outro exemplo bastante familiar: o carnaval! O carnaval foi transplantado da Europa para o Novo Mundo (Brasil), com intensa participação das mulheres, talvez devido à importância das mulheres nas danças religiosas africanas. Burke (2002) também nos lembra que a conversão é também uma forma de hibridismo. As muitas formas de modificação dos comportamentos; os vários componentes que são utilizados por algumas igrejas, por exemplo algumas optam por imagens, outras eliminam totalmente as imagens; o uso das roupas e enfeites utilizados pelas religiões, são formas de hibridismos, pois têm suas origens em vários padrões religiosos de outras culturas.

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Você percebe a importância de entender estes conceitos para analisar e discutir os eventos do dia a dia? Quando falamos em respeitar e aceitar a religião de uma pessoa diferente da nossa precisamos considerar todas essas origens que permearam as decisões de escolha das pessoas. Atualmente nós vemos muitos tipos de igrejas e as julgamos sem uma base analítica. As pessoas dizem coisas como: -'lLá roubam o povo'. Mas nós precisamos entender como esses processos se constroem, como as pessoas escolhem ir a determinados lugares e participar de determinados grupos. Como estudante de uma faculdade você precisa ter muito cuidado quando e como você dá suas opiniões, as pessoas irão ouvir e respeitar o que você diz. Você recorda que no capítulo 2 aprendemos intensamente sobre como fazer pesquisa em antropologia? Continue usando aquelas técnicas para aprofundar seus conhecimentos sobre todos os assuntos que o cercam em sua vida, pois isso o ajudará a ser um profissional mais bem preparado. Então, vamos lá aprender mais alguns conceitos!!

Caro Aluno, nós temos ainda muitas expressões que têm um mesmo significado final como: troca cultural, empréstimo cultural, aculturação, transculturação, acomodação, assimilação, sincretismo, etc., são termos que significam que a cultura dominada adota características da cultura dominante. Estas categorias foram usadas até os anos de 1960, depois caíram de moda quando se passou a refletir mais sobre o colonialismo e a dominação.

Burke considera que atualmente todas as tradições culturais estão em contato, que em nosso mundo nenhuma cultura é uma ilha.

Vamos entender essa ideia do autor pensando na questão alimentar. Quais são os pratos típicos preferidos por sua família? E qual a origem desses pratos? Se nós observarmos nosso bairro ou cidade, vamos descobrir as festas típicas e as feiras populares.

Nesses lugares vamos encontrar muitos pratos típicos diferentes que foram trazidos por imigrantes de várias regiões do Brasil e do mundo e acabaram por se constituir como parte da culinária da nossa região, ou seja, nós emprestamos ingredientes e transformamos a culinária, então nós aculturamos a culinária.

Nesse contexto, Burke aponta que a cada dia é mais difícil delimitar essas fronteiras das origens http://meganchiew.files.wordpress.com/ da cultura.

2013/03/0000749951.jpeg As tradições culturais estão em contato com tradições alternativas. Como exemplo disso podemos citar o Maranhão, onde temos de um lado o bumba-meu-boi tradicional que se altera com a presença de grupos alternativos que cada vez mais substituem os antigos sotaques de zabumba e de matraca, e por outro lado a Casa das Minas (fundada no séc XIX por africanos,), que era considerada como uma ilha de resistência africana, como afirma Roger Bastide (1971) e que continua numa fase centenária de declínio e de quase desaparecimento (Ferretti, 1996).

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Para Burke (2003), em relação às religiões afro-brasileiras não se pode dizer que o candomblé é africano e puro ou que a umbanda é híbrida. Segundo Burke pode-se dizer que as tradições africanas são mais importantes no candomblé do que na umbanda, mas todas as formas culturais são mais ou menos híbridas.

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Continuando com nossa aprendizagem sobre o que é multiculturalismo, agora vamos examinar o que nos diz o sociólogo Andréa Semprini.

Semprini (1999) estudou as questões do multiculturalismo tendo como foco os Estados Unidos e apontou que lá as discussões têm se demonstrado violentas e politizadas, tornando-se difícil evitar escrever a favor ou contra este fenômeno, enquanto que na Europa tendem a ser consideradas com maior condescendência, como um fenômeno norte-americano.

Esse autor considera que o debate multicultural levanta problemas teóricos complexos, relativos ao papel da linguagem, à construção do sujeito, à teoria da identidade.

Segundo ele, para se compreender a situação específica do multiculturalismo nos Estados Unidos, é preciso levar em conta alguns factores como: a questão indígena; a escravidão e o apartheid; as migrações religiosas; os fluxos migratórios e as mutações demográficas. No pós-guerra a sociedade norte-americana experimentou uma verdadeira diversificação de sua base étnica. Ela começou a se distanciar da base branca e europeia. A partir de 1970 a percentagem de americanos brancos já em declínio, acelerou mais o processo de crescimento. Foram os grupos asiáticos e latino-americanos que registraram taxas de https://lh6.googleusercontent.com/-Jo9LGxrcKJo/ aumento mais significativas.

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6.2 E no Brasil?

Para entender o multiculturalismo no Brasil precisamos lembrar que nosso país surgiu do contato entre diferentes culturas. Nesse contato predominava a cultura de origem europeia, sendo que o hibridismo e o multiculturalismo foram negados por muito tempo e só atualmente começou a ser pensado e discutido.

O multiculturalismo se opõe ao etnocentrismo, que é uma dificuldade de pensar a diferença e se considerar como centro do universo e superior aos demais.

Herskovits (1969) define o etnocentrismo como mecanismo primário que funciona na avaliação da cultura e é conatural à maior parte dos indivíduos.

6.3 O que é etnocentrismo?

Ou seja, para simplificar, o que é etnocentrismo?: É o ponto de vista segundo o qual o próprio modo de vida de alguém é preferível a todos os outros.

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É importante saber que rejeitar a diversidade cultural é um fenômeno recorrente em nossa sociedade. Segundo Lévi-Strauss (1976) a diversidade das culturas raramente foi vista como um fenômeno natural, mas sim como um escândalo, daí podemos compreender a recusa dos homens em aceitar tudo que é diferente.

Stuart Hall (2000) estudou o problema da identidade cultural na pós-modernidade, e considera que uma das consequências da globalização é o reforço das identidades locais. Esse autor destacou a importância do fenômeno migratório após a Segunda Guerra Mundial, com o extraordinário movimento de pessoas das periferias para o centro, numa migração não planejada, impulsionada pela pobreza, subdesenvolvimento, guerras, mudanças de regimes políticos, etc.

Estas migrações ocorreram nos Estados Unidos, na Europa e em toda parte, do campo para as cidades levando a uma pluralização de culturas e de identidades nacionais.

Hall ainda afirma que algumas pessoas consideram que o hibridismo e o sincretismo (que é a fusão entre diferentes tradições culturais) constituem uma poderosa fonte criativa, que produz novas formas de cultura.

6.4 Sincretismo Agora vamos falar um pouco sobre sincretismo. Mas o que é sincretismo?

De uma forma simples podemos dizer que: Sincretismo é a fusão entre diferentes tradições culturais.

Por que precisamos estudar sobre sincretismo?

Como sabemos, o Brasil foi formado com a contribuição das mais diversas culturas, procedentes do continente europeu, do continente africano, que se somaram às numerosas nações indígenas encontradas em nosso território. Assim o contato entre múltiplas culturas sempre foi característico da sociedade brasileira, embora na maior parte do tempo, com predomínio da cultura branca dominante.

O antropólogo Roberto da Matta, em diversas reflexões sobre a sociedade brasileira, defende o ponto de vista de que: Devemos dar mais atenção a palavras como 'misturas', 'confusão', 'combinação' e outras mais, que designam aquilo que verdadeiramente é necessário conhecer: os interstícios e as simultaneidades ou, como tenho afirmado no meu trabalho, as 'relações' (1993).

Em trabalho anterior esse autor afirma que: [...] a sociedade brasileira é relacional. Um sistema onde o básico, o valor fundamental é relacionar, misturar, juntar, confundir, conciliar. Ficar no meio, descobrir a mediação e estabelecer a gradação, incluir (jamais excluir). Sintetizar modelos e posições parece constituir um aspecto central da ideologia dominante brasileira (DA MATTA, 1987).

Nós podemos resumir todos esses conceitos em uma frase muito popular: 'o jeitinho brasileiro'. Afinal, o que é o tão famoso jeitinho do brasileiro? É o resultado de se nascer e viver num país multicultural e sincrético. Daí nós sermos conhecidos no mundo inteiro por esse nosso jeitinho, coisa de quem está sempre buscando facilitar, resolver, ajudar. Claro que tem o lado negativo do jeitinho que é a parte abusiva, onde as regras e leis são violadas

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em prol de interesses privados, porém nós sabemos que a maioria do povo brasileiro é gente de boa fé e trabalhadora. Concorda?

Josué Tomasini Castro diz que o sincretismo possui muitos aspectos como: negociação, interação, confronto, transmissão, mistura, adaptação, assimilação, sondagem, transposição, identificação, simbiose, fusão, amálgama, alienação, dinamismo, confluência, interação, etc. (CASTRO, 2006) Outro autor, Herskovits (1969) define sincretismo como uma forma de reinterpretação, que assinala aspectos da mudança cultural com transformações de valores que ocorrem entre as gerações.

Ainda, segundo Stuart e Shaw (2005) sincretismo não é um termo com significado fixo, pois seus sentidos foram historicamente constituídos e reconstituídos. Dessa forma, identificar um ritual ou tradição como sincréticos é dizer pouco pois todas as religiões têm origens compostas e são continuamente reconstituídas.

Caro Aluno, entenda que nós estamos usando o exemplo da religião para observar a questão do sincretismo porque é um exemplo fácil de visualizar, com certeza ao ler esse parágrafo você consegue lembrar de situações que conhece em nossa cidade e relacionar com esse conceito, correto? Nós também poderíamos usar exemplos da música, da moda, da arquitetura, da alimentação, etc.

Um autor chamado Panikkar (1978) utilizou o arco-iris como um dos modelos para perceber o encontro entre diferentes tradições religiosas.

No arco-íris o verde não é o amarelo mas nas margens se assemelham e se misturam.

A mistura de cores pode originar uma cor diferente. Esse autor considera que muitas religiões resultam destas fecundações mútuas. Para Panikkar a metáfora do arco-íris mostra que a variedade de religiões pertence à riqueza da situação humana e apresenta uma visão da dimensão religiosa humana e ajuda a explicar a complexidade antropológica do fenômeno religioso.

Podemos ver na imagem abaixo um exemplo de sincretismo, é a Lavagem do Bonfim que ocorre anualmente em Salvador, Bahia.

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Com tudo que estudamos até aqui entendemos então que a pluralidade, a mistura e a diáspora são características da realidade brasileira.

Para finalizar essa compreensão vamos registrar o que apontou o antropólogo italiano Massimo Canevacci (1996). Esse autor considera o sincretismo como o lado positivo da diáspora. Segundo ele: Assumimos aqui o sincretismo como termo-chave para a compreensão da transformação que está se dando naquele processo de globalização e localização que envolve, transforma e arrasta os modos tradicionais de produção de cultura, consumo, comunicação.

Caro aluno, como último exercício reflexivo para visualizar o conceito de multiculturalismo que estudamos nesse capítulo, vamos recordar das manifestações que ocorreram no mês de junho em todo o Brasil. Aquelas manifestações reuniram pessoas de todas as origens, idades, gênero, profissões e cores. Os objetivos daquelas pessoas eram diferentes entre si mas também cruzavam-se em alguns pontos, algumas cidades tinham requerimentos próprios do local (o aumento do bilhete de transporte público em São Paulo, deu início a manifestação) porém esse requerimento tornou-se bandeira nacional e internacional para as manifestações. Como poderíamos classificar esse episódio? O que você pode falar a respeito dessas manifestações a partir do conceito de multiculturalismo?

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Para analisar essas manifestações à luz do conceito de multiculturalismo precisamos considerar que a ideia de multiculturalismo está no centro dos debates contemporâneos sobre a identidade, a cultura e a coesão social. Na Internet, e só em língua francesa, o Google regista hoje quase meio milhão de entradas para a palavra multiculturalisme, e cerca de dois milhões para multiculturalism, em inglês.

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O termo adquire resultados diferenciados no Canadá, nos EUA, na Austrália e em diversos países europeus. No contexto canadiano, Pierre E. Trudeau² propôs, em 1971, as primeiras políticas destinadas a integrar a força de trabalho estrangeira num quadro de coesão nacional, os textos que consagraram o multiculturalismo como política oficial são a Carta canadiana dos direitos e liberdades (1982) e a Lei sobre o multiculturalismo canadiano (1988). Kymlicka (1998) lista as políticas multiculturalistas do seu país, que incluem: a) Programas de ação positiva com vista a fazer crescer a presença das minorias visíveis nas instituições; b) Propostas ao Parlamento a favor das minorias visíveis; c) Revisões de programas escolares destinadas a ter em conta as contribuições históricas e culturais das minorias étnicas; d) Horários flexíveis que favoreçam os praticantes de certas religiões; e) Programas de educação de orientação antirracista; f) Códigos de conduta que proíbem o racismo na escola e no emprego; g) Formação multicultural para os agentes da polícia, funcionários e intervenientes no mundo da saúde, de forma que possam reconhecer a natureza dos problemas vividos por famílias de imigrantes; h) Diretrizes que previnam a propagação de estereótipos pela média; i) Apoio a festivais e programas de estudos étnicos; j) Prestação de serviços a adultos na sua língua materna; k) Programas de educação bilingues para os jovens, para lhes permitir a transição da sua língua materna para a(s) do país de adoção; Assim, como podemos ver as políticas multiculturalistas correspondem, (novamente e sobretudo, no mundo ocidental desenvolvido), à execução de programas de integração social, religiosa, cultural e política de populações que a situação de multiculturalidade tende a marginalizar.

Em nível dos indivíduos, fora do contexto das políticas e, por exemplo, no âmbito das indústrias culturais, um novo cosmopolitismo multicultural deu origem a numerosas orientações multiculturalistas, mais ricas ou mais pobres, que se estendem das artes plásticas (cada vez mais exposições internacionais descobrem artistas étnicos) à música (com os fenômenos das músicas étnicas, das 'músicas do mundo'-musics of the world-, de fusão e de miscigenação).

Na sua opinião as manifestações de junho de 2013 em todo o Brasil, estavam preparadas e tinham o conhecimento necessário para iniciar uma busca por objetivos parecidos com os obtidos no Canadá?

Caro aluno, para finalizar nossa discussão precisamos ter em conta que sincretismo, cultura, identidade, etnicidade e outras categorias sociais complexas não são termos totalmente definidos, ainda estão em construção e por isso necessitam continuar a serem pensados e repensados, com a colaboração de diferentes ciências. ² Para saber mais sobre esse assunto procure ler Wayne, Norman, ―Justice and Political Stability in the Multicultural State, in Mondialisation, citoyenneté et multiculturalisme.

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É importante lembrar que a própria definição dessas diversas categorias, como do fenômeno do multiculturalismo, continua constituindo um desafio para os especialistas.

Hoje o sincretismo é visto como multiculturalismo, cujo conceito é igualmente polêmico e, como vimos nesse capítulo, possui múltiplos significados.

No próximo capítulo vamos estudar sobre a importância da tradição para mudança ou transformação dos valores. Espero por você!

6.5 Vocabulário Sincretismo: a palavra vem do grego e significava junção de forças opostas em face ao inimigo comum. O termo sincretismo sofreu muitas mudanças de significado com o tempo; a distinção entre o significado objetivo, neutro e descritivo, de mistura de religiões e o significado subjetivo que inclui a avaliação de tal mistura. A partir do século XVII, tomou caráter negativo, passando a referir-se à reconciliação ilegítima de pontos de vistas teológicas oposta, ou heresia contra a verdadeira religião, esse é o sentido mais difundida hoje no Brasil nas discussões entre religiões.

Multiculturalismo: A palavra não designa um estado de coisas nem uma situação de fato; designa, sim, uma atitude valorativa, traduzida, ou não, em militância cultural ou em ação política, e que se exprime na defesa dos benefícios da diversidade cultural e da multiculturalidade.

Hibridismo: é um termo originário da biologia, e serve para designar fusões.

Atualmente é o termo preferido pelos crítidos de moda e da música. Tudo que é híbrido é chique! O autor Canclini (2006) foi quem mais desenvolveu o conceito de hibridismo nas ciências sociais e usou esse termo para nomear os processos de fusão porque, para o autor, hibridismo é um termo que permite abarcar as misturas contemporâneas de um modo geral, como processos tecnológicos, migratórios e econômicos, enquanto que os demais termos se restringem a campos étnicos e religiosos.

Diversidade cultural: remete para a multiplicidade das formas em que as culturas dos grupos e das sociedades encontram as suas expressões. Essas expressões transmitem-se no seio dos grupos e sociedades, e entre eles. A diversidade cultural manifesta-se, não apenas nas variadas formas através das quais o património cultural da humanidade se exprime, enriquecido e transmitido graças à variedade das expressões culturais, mas também através dos diversos modos de criação artística, de produção, difusão e distribuição, e de fruição das expressões culturais, quaisquer que sejam os meios e as tecnologias utilizadas.

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Guia de estudos Antropologia CAPÍTULO 07 ‐ Valores: a importância da tradição para mudança ou transformação dos valores

Caro aluno, você deve recordar que no capítulo anterior discutimos os conceitos sobre multiculturalismo e entendemos sua aplicação para analisar as manifestações e movimentos sociais e culturais de nossa sociedade. Neste capítulo vamos discutir o conceito de valor e a importância da tradição para as mudanças e transformações dos valores utilizados em nossa sociedade. Isso tem fundamental importância, pois nossa sociedade está em constante evolução, e temas como a doação e transplante de órgãos, a adoção por casais homossexuais, etc., fazem parte dos debates cotidianos, assim precisamos estar preparados para construir nossa opinião a partir de uma avaliação de todos os pontos de vista existentes. Vamos começar então a exercitar nossas discussões!

Como você pode observar, o mundo contemporâneo tem por uma das suas principais características o rompimento com o passado, a crença que o novo é sempre melhor do que o velho. Não é difícil de verificar. Veja, por exemplo, uma propaganda de televisão que apresenta um produto já muito conhecido, com uma nova embalagem, uma nova fórmula e, portanto, como se fosse um novo produto. No campo da política também sempre se ouve falar de um novo programa, um novo tempo, uma nova esperança.

Acontece que essa discussão não é nova! Um autor chamado Ortega y Gasset já falou sobre esse fenômeno nas décadas de 20 e 30, quando definiu o que seria o homem-massa.

Uma das características do homem-massa, segundo o autor, é o rompimento com o passado. Este homem-massa está convencido que o mundo de possibilidades cada vez mais infinitas que encontra à sua volta é obra do acaso. Não reconhece o esforço de gerações para que se chegasse ao nível tecnológico, econômico e político atual. Por isso o homem-massa despreza o passado e se atém apenas no presente.

Caro aluno, outro aspecto onde podemos verificar a existência desse desprezo pelo passado é quando falamos com os adolescentes da atualidade. Essa geração está convencida de que a TV sempre foi colorida, todas as pessoas sempre tiveram celular, os chuveiros sempre estiveram disponíveis, as fraldas para bebês sempre foram descartáveis, os automóveis sempre tiveram computadores de bordo, e etc. Será que isso é realmente assim? Ou seja, o homem tende a esquecer-se dos esforços feitos por seus antepassados.

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Ortega & Gasset foi um filósofo espanhol que argumentou que o que diferencia o homem do animal não é a inteligência, mas a capacidade de reter memória pois existem animais que se mostram bastante inteligentes, mas por não conseguir guardar informações não conseguem aprender e evoluir. A humanidade tem uma bagagem cultural que se configura na tradição; e é perigoso desprezá-la. Esse autor apontou ainda que: 'O verdadeiro tesouro do homem é o tesouro de seus erros, a longa experiência de vida decantada gota a gota durante milênios (…) Romper a continuidade com o passado, querer começar de novo, é aspirar a descer e plagiar o orangotango'.

Isto não quer dizer que tenhamos que estar presos a esquemas que não funcionam. A questão é saber o que não está funcionando. Muitas teorias modernas de liderança trazem estórias que mostram a tradição como algo que caducou, o líder está sempre modificandoa. Se não se sabe porque uma coisa é feita de uma determinada maneira, é porque não precisa ser feita assim, você concorda?

Caro aluno, é aqui que começamos a questionar sobre a questão da mudança. Você concorda que para mudar algo, deve-se primeiramente estudar a fundo este algo e estar convencido que não funciona ou que pode melhorar? Na dúvida, deve ser mantido? Por que tanta pressa com a mudança? Por que não fazê-la de forma segura e consciente? Por que o desprezo automático com nossos antepassados?

Nós encontramos na educação um grande exemplo do perigo da mudança sem reflexão adequada. É lógico que não se deve desprezar as novas tecnologias e as novas variáveis do mundo moderno; mas daí a jogar no lixo tudo que a tradição nos mostra nesta área vai uma distância muito grande. Você recorda alguns aspectos sobre a educação que mudaram muito nos últimos anos e que actualmente os resultados não parecem otimistas?

Vejamos, por exemplo, a forma como os filhos falavam com seus pais, sempre usando o tratamento de Sr. ou Srª, raramente ouvia-se falar em filhos que respondiam em voz alta para seus pais, sem falar que os pais eram livres para repreender os filhos, às vezes até com palmadas, e quando chegavam visitas em casa as crianças não ficavam na sala, deixavam os adultos conversar e eram respeitosos, será que atualmente ainda encontramos esse tipo de educação básica nos lares?

A educação em casa é só um exemplo primário. Vamos reflectir: O mundo está melhor por causa disso? As pessoas estão melhores por causa disso? Onde está nos levando o desprezo pelo antigo?

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Caro aluno, é urgente pensarmos que nessa era de globalização que vivemos, onde a diversidade externa tende a tornar-se cada vez mais pobre, torna-se necessário manter e preservar a diversidade interna de cada sociedade, gestada por todos os grupos e subgrupos humanos que a constituem e que desenvolvem, cada um, diferenças às quais atribuem extrema importância. Em certa medida, a diversidade cultural poderá, pelo menos, ser mantida e estimulada pela preservação das especificidades culturais dos diferentes grupos sociais: assim como se criam bancos de genes de espécies vegetais para evitar o empobrecimento da diversidade biológica e o enfraquecimento de nosso ambiente terrestre, é preciso, para que a vitalidade das sociedades não seja ameaçada, conservar, ao menos, a memória viva de costumes, de práticas e saberes insubstituíveis (por exemplo, os saberes sobre as plantas medicinais que nossos antepassados possuíam) que não devem desaparecer. Pois é a diversidade que deve ser salva, não o conteúdo histórico que cada época lhe conferiu e que ninguém saberá perpetuar para além dela própria.

Muitos países desenvolvidos vêem a miscigenação, a influência de outras culturas, a presença 'do outro' como uma ameaça à sua própria identidade cultural, e nas tradições culturais incorporadas por outros elementos tidos como inferiores, como uma influência negativa.

Isso nos faz pensar qual o rumo que a globalização está dando para esta nova concepção de mundo moderno?

Quando falamos em tradições culturais, em tempos de globalização, parece que coloca-se em evidência o contraste entre o tradicional e o moderno, os valores e visões de mundo.

A ideia de tradicional pode ser, numa análise rápida, associada a certas qualidades que nossos olhos 'modernos' identificam como positivas. Entre elas, estão: a passagem do tempo mais lenta; um universo de relações sociais pessoalizadas, onde os mecanismos de controle social se exercem de modo informal; formas de comunicação que privilegiam a oralidade, muitas vezes direta; a participação mais restrita dos meios de comunicação de massa no processo social.

A ideia de moderno, ao contrário, associa-se a uma passagem do tempo como que acelerada; a um ritmo intenso e por vezes vertiginoso de mudanças; às relações sociais impessoais; a uma ampliação e intensificação da circulação monetária e à presença mais intensa das chamadas formas de comunicação de massa.

Vale ressaltar, entretanto, no meio desse conjunto, características sobre as quais estamos de acordo em qualificar como 'positivas': um universo de valores democráticos, com as valiosas ideias de cidadania e direitos humanos, pelo menos tentando se adaptar ao contexto moderno. Nós podemos encontrar aspectos modernos e tradicionais integrados num único processo sociocultural ( CAVALCANTI, 2001).

A presença e interpenetração de tradições culturais distintas, mesmo em países de cultura consolidada, como a França, incita movimentos que podem ser resumidos no que tem sido denominado desterritorialização da cultura, não há dúvidas de que essa ampliação no conceito de patrimônio cultural contribui para aproximar as políticas culturais dos contextos multiétnicos, multirreligiosos e extremamente heterogêneos que caracterizam as sociedades contemporâneas.

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No âmbito das políticas internacionais e nacionais existem instituições de controle sobre as questões e situações relacionadas à proteção do património cultural. Organismos internacionais como a UNESCO e a OMPI (Organização Mundial para a Propriedade Intelectual), e nacionais, como os ministérios, secretarias, centros e fundações de cultura, universidades, programas e projetos específicos, estão potencialmente, voltados para a salvaguarda das culturas tradicionais e dos bens referenciais para as identidades coletivas; para a garantia das condições de vida, de trabalho e dos direitos plenos para as pessoas e comunidades produtoras desse patrimônio.

Porém, ao longo do século passado, pode-se dizer que os recursos destinados para essa questão não foram suficientes entre tantos outros problemas, mas muitas políticas e programas foram implementados, e alguns foram bem sucedidos. O que não deixa de ser animador diante do quadro alarmante de desigualdade social, intolerância étnica e subordinação sociocultural que se apresenta em nosso século.

Este quadro sinaliza mais uma vez, a urgência do reconhecimento e respeito pelas diferenças culturais; a necessidade em afirmar e garantir a possibilidade de redutos de tradições que fundam autenticidades culturais, visões de mundo e identidades socioculturais autônomas, porém, sem ignorar as instâncias da vida em que há maior ou menor integração coletiva ao modo de vida moderno.

Equacionar a conservação de pluralidade cultural e supressão de desigualdades sociais parece configurar uma das grandes questões a serem enfrentadas pela humanidade, durante o século XXI. Ainda, caro aluno, precisamos considerar que, no mundo atual, vivemos cada vez mais em situações de interculturalidade, em cenários onde diversos sistemas culturais se interpenetram e se cruzam.

Nesses cenários, tornam-se obsoletas as teorias de contato cultural, pois não mais se trata de mapear apenas as marcas do confronto entre culturas desenvolvidas separadamente, demarcando a diferença, mas de observar que os grupos se apropriam de maneiras desiguais dos elementos de várias sociedades, rearranjando-os no que Canclini (1997) denomina processo de hibridização. Outros autores preferem utilizar o termo transculturalismo para definir os processos que resultam em simbioses culturais, ou seja, isso significa que: transcultural não é a combinação de elementos que antes eram puros; esses elementos já são produtos transculturais, e nunca, na história cultural do mundo, pode ser encontrado um elemento que não tenha passado por algum processo transcultural.

O termo transcultural se aplicaria também às relações entre grupos diferentes numa mesma sociedade, uma vez que nestas coexistem grupos detentores de uma pluralidade de tradições demarcadas a partir de distâncias sociais, diferenças étnicas, religiosas e ocupacionais.

Aos indivíduos que conseguem ultrapassar essas fronteiras e promover o encontro de mundos culturais distintos, creditou-se o título de mediadores culturais.

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É em pensar em todas estas questões que se pode criar uma ideia da importância das tradições culturais no contexto da globalização.

Não há solução para resolver os problemas deste encontro cultural que a globalização provocou, no entanto, há experiências positivas como o exemplo que o Brasil pode dar com relação à tolerância de se conviver com as diversidade.

7.1 Mudança e criatividade Como sabemos, existem muitas pessoas que não se limitam a viver tal como a grande maioria. Essas pessoas refletem as práticas e preferem o risco da novidade à segurança da rotina. Vivem muitas vezes na insatisfação diária e olham para a realidade como um todo em constante construção. Sobre essas pessoas, um autor chamado Ferreira (1994) falou que: A incontida aspiração ao aperfeiçoamento torna-o um inconformado, para quem nada está perdido nem definitivamente acabado. Não espera, passivamente, que as coisas aconteçam, mas fá-las acontecer. Há no mundo três tipos de pessoas: as que não sabem o que está a acontecer; as que observam o que está a acontecer; as que fazem com que as coisas aconteçam..

Assim, nesse cenário, o processo de criatividade extravasa a simples solução de problemas, ele é muito mais sensível. Efetivamente, há certas soluções de problemas que são criativas mas, ver na criatividade apenas uma forma de resolução de problemas, é limitá-la a comportamentos observados em condições controladas e não reconhecê-lo como fenômeno autónomo.

Vários outros autores referem-se à criatividade como capacidade relacionada ao poder de reconhecer ideias novas ou originais, assim como de explorá-las até aos seus limites, aplicando as ideias aos problemas.

Mas, no meio de todo esse processo de mudança o que é criatividade?

Uma autora chamada Margaret Mead conceitualiza a criatividade como: a descoberta e a expressão de algo que é tanto uma novidade para o indivíduo criador quanto uma realização por si mesma.

De qualquer forma, a criatividade parece remeter para uma variedade de níveis, que vão desde o expressivo, relativo à descoberta de novas formas de expressar sentimentos, ao nível inventivo, válido tanto para o campo da ciência como para o da arte, que remete para a capacidade de descobrir novas realidades, passando pelo nível inovador, que envolve modificações dos princípios básicos que suportam o sistema, exigindo originalidade no agir.

Este último, parece ser o nível criativo que mais opera no processo de mudança e resistência à mudança, portanto no conflito entre tradição e mudança que estamos estudando neste capítulo, pois remete para a pessoa que é o estudante, ou seja, você caro aluno, seu contexto biográfico e cultural, e para a cultura da faculdade que ajuda a dar corpo, e que são as entidades capazes de operar, reinterpretar, recriar adequadamente, uma mudança instituinte, vinda do sistema central, e de a contextualizar com o local e os restantes atores sociais implicados no processo educativo. Você compreende agora a sua

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responsabilidade enquanto acadêmico? E logo a seguir enquanto um profissional formado?

Há contudo que considerar que o preço da novidade é por vezes alto, cria ceticismos, incompreensão e até hostilidades nos iguais contemporâneos.

A Sociedade está continuamente em mudança, quer através da descoberta e da invenção, quer da difusão, que leva à novas práticas e representações. Mas trata-se de uma mudança lenta que nem sempre é interiorizada da mesma maneira pelos diferentes indivíduos de uma sociedade. As pessoas percebem diferentes necessidades tecnicoeconômicas e socioculturais e dividem-se entre mais defensores da mudança ou mais tradicionalistas, consoante a base cultural que possuem.

São inúmeros os exemplos que mostram as dificuldades em ajustar uma mudança tecnológica à cultura existente.

No campo educacional, os atores sociais, portadores de um background próprio, apreendido na história de vida, reagem de diferentes maneiras aos normativos que apontam mudanças e reinterpretam-nas de diferentes modos. Para uns são bem acolhidas, porque são entendidas como melhorias, inovações, para outros são representadas como um retrocesso e por isso resistem à sua implementação. Com certeza você encontra esse tipo de situação no seu dia a dia, não é?

Socialmente, o novo - a inovação - é aceite ou não consoante se ajusta e é compatível ou não com os padrões culturais existentes. A sociologia e a antropologia do desenvolvimento compreenderam muito bem estes fenomenos de rejeição, aceitação e ajustamento.

Em termos individuais, a adesão ou não a uma mudança proposta do exterior, é semelhante. Cada indivíduo é portador de uma cultura pessoal construída não só a partir do grupo social de origem, mas também das interacções com outros padrões constatados, experienciados ou mesmo rejeitados, em todo o trajeto biográfico, e reage a um modelo novo imposto ou proposto, de modo por vezes muito diferenciado. É vulgar categorizar essas reações pelo menos em aceitação e rejeição ou resistência, mas é importante reter que não há uma cultura ideal nem uma cultura universal.

Mudar de comportamento e/ou de cultura, é um processo complexo: primeiramente o indivíduo conhece o estado atual da cultura, e, eventualmente, alguém prospectiva um estado desejado. Mas este corresponde à visão de outros, e não caracterizam

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forçosamente a cultura ideal. Por isso, é natural que em face ao 'novo', as pessoas se questionem da razão de abandonar 'o velho', quer dizer, o modo como sempre fizeram, pensaram, etc., e que lhes permitiu estar vivas, felizes e 'aqui'. Então, porquê mudar?

Em face do crescente desenvolvimento tecnológico, as sociedades industriais, debatem-se com uma questão de assimetria cultural, a qual um autor chamado Jean Poirier chama de heterocultura: o surgimento da heterocultura caracteriza-se pela existência de duas matrizes culturais: uma fundada na tradição, outra baseada na modernidade.

Segundo esse autor: A heterocultura age sobretudo nas sociedades do Terceiro Mundo, onde essas oposições pipocam à luz do dia, avivadas pelo fato de que a modernidade foi trazida pelo estrangeiro; mas a heterocultura é um fenomeno universal que está presente em todo o lado, o Ocidente contemporâneo incluído, onde é precisamente a base dos mal entendidos que existem entre gerações ascendentes e gerações descendentes. (POIRIER, 1995).

Quanto ao processo educativo, ele pressupõe uma constante construção de mudança na mente dos indivíduos, quer na de quem aprende, quer mesmo na de quem ensina ou quer ensinar. Mas não é pacífica a relação entre ensino e inovação. O ensino dedica-se à compreensão e assimilação de conhecimentos anteriores, o que lhe confere um caráter de reprodutibilidade. Assim, para progredir, agir, inovar e ser um potencial agente do desenvolvimento, você caro aluno terá de aprender e dominar as aptidões e instrumentos cognitivos em conexão com o mundo real.

Por outro lado, toda a aprendizagem, toda a informação recebida pelo indivíduo é submetida a um reajustamento. É confrontada com a informação já retida anteriormenteneste sentido a interculturalidade enquanto troca entre o novo e o assimilado é também um fato, mas um fato que há que explorar pedagogicamente. A mente humana é um mecanismo ativo de transformação. Assim que se depara com uma comunicação, filtra a

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informação, compara com o que tem já consolidado, com o que conhece, e classifica, ordena-a e assimila-a ou simplesmente ignora a informação. Você concorda? Com certeza você fez esse processo durante toda a nossa disciplina, não foi?

Isso significa que você utilizou, consciente ou inconscientemente, o método comparativo de que tanto fala Raul Iturra e Vieira (1992), que é um método natural de aprendizagem, mas também face ao intercultural enquanto partilha de saberes: o saber do passado/saber do presente; saber arrumado/saber dinamizado que ou se integra, confronta ou aniquila, isto quando há substituição de premissas. Acontece também que, dado o sistema de interesses, atitudes e representações, há por vezes impermeabilidade do indivíduo em relação à novidade, ao conhecimento, regra e ritual que mexe com a tradição.

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Caro aluno, não se preocupe em demasia porque, convém dizer, para já, que ninguém muda sem perceber a razão de mudar.

Temos pois este paradoxo: o produto social é um obstáculo para a aprendizagem, porque é preciso reordenar o sistema, mas ao mesmo tempo é um ponto de partida porque não se poderá fazer qualquer coisa de novo sem se tirar partido do que se fez anteriormente. (CROIZIER, 1982).

Penso, como Croizier, que o que leva a abandonar o velho e a aderir ao novo, bem como a reflectir sobre esse processo, é muito a consciência da desatualização ou inoperatividade da ordem antiga. E isso implica uma prática pessoal e profissional reflexiva.

Isso implica comparar o que se faz e pensa com o que se propõe que se passe a fazer e a pensar. É por isso que muitos sujeitos estão assim http://almalivresonoros.files.wordpress. perante uma mudança proposta do exterior - uma com/2011/04/mudanc3a7a1.jpg reforma - sem ser desejada.

A mudança é a passagem de um estado de competências, mentalidades, representações, a um outro estado de competências e representações. Isso implica pensar que o processo de mudança como aquele que acompanha o estado A ao estado B, e não aquele que procede como se o estado A não existisse. Por outro lado, o estado B pode integrar competências que derivam ou se mantêm do estado A. Há mudança sempre que se verificam alterações numa organização, instituição ou numa pessoa entre um tempo inicial e um tempo posterior. Com certeza ao concluir essa disciplina, e também ao concluir o seu curso você já não poderá afirmar que é o mesmo sujeito de quando iniciou, concorda?

Porém, não tem que haver alteração radical de práticas e atitudes. Aliás, como muito bem refere Santos Silva (1994), a mudança integra alguma 'continuidade entre as duas

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estruturas, alguma identidade, alguma base de comparação'.

Assim, a mudança não exclui necessariamente a tradição. Antes, pressupõe-na. A mudança social pode entender-se como uma renovação de tradições (SANTOS SILVA, 1994).

Para concluir, a percepção individual do mundo é influenciada pelo grupo. Aquilo que o grupo aprova ou valoriza tende a ser selecionado na percepção pessoal; já o que é rejeitado ou indiferente aos valores do grupo tem menor possibilidade de ser selecionado pela percepção do sujeito – e se for significativa para o sujeito, este o guarda para si ou o elabora de forma a adaptá-lo aos valores grupais, seja de forma lúdica, simbólica ou distorcida, no intuito de evitar a censura coletiva.

O indivíduo que consegue enganar a censura grupal e introduzir nela uma significativa mudança de valores adquire o poder de influenciar a História, daí o dizer-se que 'os poetas são profetas'. Os povos evoluem através de mudanças significativas em sua cultura e as mudanças acontecem rapidamente quando o clima político é de liberdade; caso contrário demora apenas mais uma pouquinho, o tempo de o pensamento, que é livre, romper os grilhões da intolerância.

A mudança começa com o respeito ao passado, o seu entendimento. Somos o que somos por nossa tradição, temos que entendê-la; a partir daí estaremos aptos para pensar em modificá-la e com muito cuidado. Espero que essa disciplina o tenha auxiliado a ser um profissional mais reflexivo e ativo em sua área de atuação!

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7.2 Vocabulário Miscigenação: consiste na mistura de raças, de povos de diferentes etnias, ou seja, relações interraciais; Patrimônio cultural: é o conjunto de todos os bens, materiais ou imateriais, que, pelo seu valor próprio, devem ser considerados de interesse relevante para a permanência e a identidade da cultura de um povo; Desterritorialização: de forma simples significa sair do território. Esse é um conceito desenvolvido por Deleuze e Guattari (1992). Esses autores afirmam que o pensamento se faz no processo de desterritorialização. Pensar é desterritorializar. Isto quer dizer que o pensamento só é possível na criação e para se criar algo novo, é necessário romper com o território existente, criando outro.

Dessa forma, são necessários novos encontros, novas funções, novos arranjos.

Esses autores também desenvolveram o conceito de reterritorialização, que seria basicamente voltar ao território, 'a desterritorialização absoluta não existe sem reterritorialização' . Essa reterritorialização é a obra criada, é o novo conceito, é a canção pronta, o quadro finalizado.

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