Eleições espetaculares

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eleições espetaculares na américa latina



Organização Marcelo Serpa

eleições espetaculares na américa latina

Rio de janeiro 2015


Todos os direitos reservados. Copyright dos textos, 2015 © Amanda Avelino, Ana Luiza Figueiredo, Bernardo Mello, Carolina Furtado, Cléo Santiago, Daniel Gullino, Daniel Lyra, Diana Ferraz Rocha, Diana Rodrigues, Elaine Taffner, Everton Maia Soares, Giovanna Lisboa, Igor Gonzaga, Isadora Boaventura Bombonatti, João Brizzi, Kenzo Soares, Laysa Milena Zanetti dos Reis, Leonardo Duarte, Luisa Bordalo Reis, Maria de Fátima Tomaz, Marina Pontes de Miranda, Michelle Giglio, Moana Ambrozi, Natalia Sales, Natasha Pinheiro Guanciale Miele, Paula Rachid, Paulo Oliveira, Rafael Debetto, Rafael Rezende, Tamara Stern, Thayanne Porto Daibert Guimarães, Vanessa da Costa Gonçalves Dias, Victor Freitas Lima, Wallace Nascimento Os direitos morais dos autores destes textos foram devidamente assegurados.

Equipe Editorial ORgANIZAÇÃO COORDENAÇÃO RevisãO Projeto gráfico CapA

Marcelo Serpa Vanessa da Costa Gonçalves Dias Thayanne Porto Daibert Guimarães e Vanessa da Costa Gonçalves Dias Bruno Magno Alves Bruno Magno Alves


Sumário

a reeleição de dilma rousseff

9

por Everton Maia Soares, Laysa Milena Zanetti dos reis, natasha pinheiro guanciale miele, thayanne porto daibert guimarães, vanessa da costa gonçalves dias

aécio neves

43

por ana luiza figueiredo, cléo santiago, isadora boaventura bombonatti, igor gonzaga, tamara stern, wallace nascimento

a trajetória do pSB nas eleições presidenciais em 2014 75 por Luisa Bordalo Reis, Marina Pontes de Miranda, Paula Rachid, Victor Freitas Lima


eleições presidenciais de 2014 na bolívia

103

por Amanda Avelino, carolina Furtado, Diana Rodrigues, Maria de Fátima Tomaz, Giovanna Lisboa, Natalia Sales

eleições presidenciais de 2013 no chile

129

por Bernardo Mello, Diana Ferraz Rocha, Michelle Giglio, Leonardo Duarte

eleições presidenciais de 2013 na venezuela 151 por rafael rezende, rafael debetto, daniel gullino, kenzo soares, daniel lyra

eleições e espetáculo na colômbia

163

por elaine taffner, joão brizzi, moana ambrozi, paulo oliveira


Agradecimentos

Usa quia soluptiorite parum sitius veliquas eveniam fugitasimet, que illoreptatum qui as as molupta qui ommolorernam que nonserem re mos reperion rerestrum doles asitas re ipit que simet et et lant pra vernam qui quos este nobis etur aute maio que qui consern atemquisi unt peremost, quat voloris as dolupta velest quo tem esed eturia porerci usciet lam, nossi in cuptae endelit fugia pa numque exeris imus eosanis et venda dolenim ollenimporem faces iur re, excearu pientiur, odis di del ipsaperatium que pedi cor mil modisque suntem qui alisquatem illanit liquam aut restotatem illuptaque dis sum eos qui doluptas sunt latusto et idi cus, conem utaquam qui cor reheniet ut aut volupic to cori untiusdam sentius alitia nemporrum ium quame explani ssunt, soloreh enduscias que minihilia pa peribusant dolorro resedistrum, vollab int autatem dessumqui te nusanti vero eatur aut qui beribeatur, te num eum voloria intempores de veniet aliquos truptatus. Ribus aut reptaecab ipis audae molest, excerspit debitate pelende recto con cumquamus autem entiatium iur mi, con pore pligendis pos moluptaepudi que laut doloruptat perunt destis aut lab ium harum ad quiderspiet. exere que suntota pratquatius dolorum con nullupt.



a reeleição de dilma rousseff 16 anos de PT no poder

Everton Maia Soares Laysa Milena Zanetti dos reis natasha pinheiro guanciale miele thayanne porto daibert guimarães vanessa da costa gonçalves dias



Dilma rous s ef f a n tes d a pr e si d ê n c i a

Filha da professora brasileira Dilma Jane Silva e do engenheiro e poeta húngaro Pétar Russév, naturalizado brasileiro como Pedro Rousseff, Dilma Vana Rousseff nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais, em 14 de dezembro de 1947. Dilma cursou o ensino fundamental nos Colégio Isabela Hendrix e Sion, que possui influência católica e é um dos mais tradicionais do país. Em 1964, com 16 anos, prestou concurso e ingressou no Colégio Estadual Central, de ensino moderno e com um movimento estudantil agitado. No muro da unidade em uma pintura feita pelos alunos lia-se “Só morrem as causas pelas quais ninguém morre por elas”. No colégio, logo após o Golpe Militar, Dilma começou a se interessar pelos ideais socialistas, militando no movimento estudantil. Ainda neste ano, ingressou como simpatizante na Organização Revolucionária Marxista – Política Operária (POLOP), uma organização fundada em 1961, oriunda do Partido Socialista Brasileiro. O grupo formado por estudantes simpáticos ao pensamento de Leon Trotski e Rosa Luxemburgo seguia uma linha contrária ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). Com o desenvolvimento do regime militar, os militantes da Política Operária viram-se divididos quanto ao método a ser utilizado para a im-


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plantação do socialismo. Um grupo defendia a luta armada, enquanto outro preferia a convocação de uma assembleia constituinte. Dilma optou pelo primeiro. Esse grupo deu origem ao Comando de Libertação Nacional (COLINA). No POLOP Dilma se aproximou de Cláudio Galeano de Magalhães Linhares, cinco anos mais velho e que já frequentava o grupo desde 1962. Casaram-se em 1967 no civil, após um ano de namoro. Nesse ano, Dilma passou a militar no COLINA, enquanto cursava a Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais. Nos anos seguintes a vida de Dilma sofre algumas mudanças, como a sua ida ao Rio de Janeiro e de Galeano para Porto Alegre. Em 1969, o Colina e a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) se unem, formando a Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VPR-Palmares). Na época, Dilma já vivia na clandestinidade e usava codinomes para fugir da repressão aos opositores do regime militar. Um dos fatos atribuídos à Dilma naquele ano foi o roubo ao cofre do ex-governador de São Paulo Adhemar de Barros, no Rio de Janeiro, que teria rendido ao VAR-Palmares a quantia de US$ 2,4 milhões. Ela nega ter participado da operação. No VAR-Palmares, Dilma conheceu o advogado gaúcho Carlos Frankliln Paixão de Araújo, um dos líderes do grupo, com quem ficou casada por 30 anos e teve a sua única filha, Paula. Em 16 de janeiro de 1970, Dilma foi presa em São Paulo acusada pelo promotor de militar de subversão. Detida na Operação Bandeirantes (OBAN) e depois enviada ao Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), ela afirma ter sofrido tortura física, psíquica e moral. Condenada a quatro anos em São Paulo, mais 13 meses no Rio de Janeiro, Dilma conseguiu a redução da pena no Superior Tribunal Militar e cumpriu metade da pena e sendo libertada em 1972.


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Livre, muda-se para Porto Alegre, onde seu marido ainda estava preso por militar contra a ditadura, e cursa a Faculdade de Ciências Econômicas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Após a libertação do marido, ambos ajudam no processo de recriação do Partido Democrático Trabalhista (PDT), de Leonel Brizola, em 1979, depois que todos os envolvidos nos anos duros da ditatura foram anistiados pelo governo militar. Dilma ocupou importantes cargos administrativos, como o de secretária municipal de Fazenda e o de secretária estadual de Minas, Energia e Comunicações no governo Alceu Collares (PDT) e Olívio Dutra (PT). Foi durante essa segunda passagem que, após Brizola ter retirado o apoio ao governo do petista, ela rompeu com o PDT e filou-se ao Partido dos Trabalhadores. Dentro do PT, Dilma ganha fama com a eleição de Luíz Inácio Lula da Silva em 2002 que a escolhe para ser ministra de Minas e Energia. Em 2005, com a saída de José Dirceu, Dilma se tornou a ministra-chefe da Casa Civil, sendo a primeira mulher a ocupar ambos os cargos. Foi na Casa Civil que Dilma se destacou sendo apelidada pelo então presidente Lula de a “mãe do PAC”, o Programa de Aceleração do Crescimento que tinha como objetivo acelerar o crescimento econômico do país com investimentos em infraestrutura. Em 2009, um fato marcou a vida da futura presidente. Diagnosticada com câncer linfático, Dilma enfrentou um intenso tratamento que fez o seu cabelo cair e passou a usar peruca. Nessa época quando a sua candidatura à presidência da república que já era especulada passou a ser questionada em função da doença. No entanto, cerca de cinco meses após o tratamento Dilma já estava curada e pronta para ser a candidata à sucessão do carismático Lula na presidência da República pelo Partido dos Trabalhadores.


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A trajetória e a s m u d a n ça s e n t r e a s ca mpa nhas d e 20 1 0 e 20 1 4 Sobre as peças de campanha Em 2010, a então Ministra-Chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, concorria pela primeira vez à presidência da república, substituindo Lula na representação do Partido dos Trabalhadores. Até a data, Dilma havia ganhado um crescente destaque no cenário nacional devido às suas atuações durante os dois mandatos de Lula, como Ministra de Minas e Energia e, posteriormente, da Casa Civil. Primeira mulher a ocupar os cargos, ela ganhou alta notoriedade a partir de 2007, quando começou a ser apontada como forte candidata a substituição de Lula na corrida presidencial. Assim, toda a campanha de Dilma foi pautada na ideia de continuidade do Governo Lula. Era importante mostrar que a candidata Dilma significava não dar fim às políticas de Lula, e para isso era preciso que o povo conhecesse a história dela e soubesse que Lula, figura icônica e emblemática, a apoia e confia em sua capacidade de continuar os seus planos de governo. “Para o Brasil seguir mudando” era a principal frase de efeito repetida ao longo da campanha. As peças – banners, cartazes, adesivos – traziam fotos de Lula lado a lado com Dilma, para marcar a transição de governo e o voto de confiança que ele, muito respeitado e com ampla aprovação entre os brasileiros, depositava em sua candidata. Se Lula foi o pai do povo, Dilma passava então a ser a mãe. É interessante observar as artes e cores das peças que rodaram durante a campanha de 2010. A fonte usada no nome é serifada e rígida, as cores sérias como verde, branco e vermelho, o que passa ideia muito formal a respeito da campanha, da candidata e do partido.


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Já em 2014, vemos uma mudança radical na abordagem da campanha e na construção das peças. Dilma, agora candidata a reeleição, já não se apoia tanto em Lula para promover seu nome, já que pode usar o próprio governo e as ações por ela executadas para ganhar votos. A campanha agora, diferente da primeira, usa muito mais a imagem da Dilma como figura mais independente, e a constante reafirmação do suporte dado a ela por Lula já não se faz tão necessário quanto da primeira vez. A frase que se ouve é: “Em 2010, votei na Dilma por causa do Lula. Hoje, voto na Dilma por causa da Dilma.” Ainda assim, é praticamente inevitável voltar a explorar a imagem do paternalismo - transformado neste caso em maternalismo. Dilma foi a primeira mulher a ocupar o posto de Chefe de Estado do Brasil, e por isso há uma abordagem diferente da sua campanha, que dá margem a falar com o eleitor com um tom de voz diferente, mais “carinhoso” e “delicado”. É comum imagens da campanha com a candidata a reeleição fazendo o famoso símbolo de um coração com as mãos, a fim de atrair a atenção e a afinidade do eleitor mais jovem, além de, naturalmente, transmitir a imagem de uma Dilma carinhosa e amável, que cuidará de seu povo como uma mãe cuida de um filho. À mesma medida que o suporte de Lula a Dilma diminui em importância midiática para a campanha, outros métodos são adotados. A forma que a candidata utiliza para se identificar com o público é principalmente pela linguagem jovial, reiterada pelas artes da campanha e cores usadas. A fonte usada não é mais serifada e séria; por ser manuscrita, curva, provoca uma proximidade muito mais com quem a está recebendo, e passa uma ideia maior de flexibilidade e calma - ligados ao ideal do feminino, ao contrário da rigidez da fonte usada na primeira campanha. Outro aspecto interessante são as cores: o uso da cor roxa com a vermelha é muito ligado ao universo das mulheres. Ou seja, o fato de Dilma


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ser mulher passa a ser explorado de maneira muito mais incisiva e de certo modo apropriada durante a campanha. Se antes pode-se dizer que quase não havia tratamento diferente da primeira campanha para aquelas que elegeram Lula - pois se usava o mesmo estilo de fonte, cores e artes etc, a campanha de 2014 demonstra ter sido pensada já adequada à posição de Dilma pelo fato de ser mulher, com ênfase muito maior que quatro anos antes.

Sobre a abordagem no horário político No horário político obrigatório, fica evidenciada com mais clareza a diferença de tratamento das duas campanhas. Os primeiros programas de 2010 buscavam contar a trajetória de vida de Dilma Rousseff, desde sua infância até o momento então presente, destacando sua atuação política e combativa, de uma maneira a aproximar sua juventude, de certa forma, à juventude de Lula, a quem ela viria substituir no governo; ou seja, mostrava que Dilma, assim como Lula, também havia lutado por uma causa e sofrido repressões pelas autoridades da época, como uma espécie de “heroína e defensora” do povo e da nação. O voto de confiança depositado por Lula em Dilma era dito e reforçado nos programas televisivos de forma constante, e a história de vida da candidata era o tema das músicas. “Lula e Dilma - Uma História de Amor pelo Brasil”, um dos jingles da campanha, retrata de forma enfática esta transição: “Deixo em tuas mãos o meu povo / e tudo o que mais amei / mas só deixo porque sei / que vais continuar o que fiz (...) / Agora as mãos de uma mulher / vão nos conduzir / eu sigo com saudade / mas feliz ao sorrir / pois sei, o meu povo ganhou uma mãe / que tem um coração que vai do Oiapoque ao Chuí.” A confiança que Lula tem no fato de que Dilma saberá continuar seus planos de governo e os projetos por ele iniciados está registrada, assim como a constante ratificação de que Dilma será como um mãe para o Brasil.


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O fato de Dilma ser mulher persiste como um diferencial no formato de seus programas. Já em 2014, a campanha da reeleição segue estruturada em mensagens de “fé, amor e esperança”, embora ao lado de ataques à oposição. O discurso continua colocando Dilma como uma mãe para o Brasil. E a imagem funciona. Dilma lutou contra um câncer, é mãe e avó; todas são imagens que, no mínimo, causam empatia. A presença de Lula continua sendo icônica e importante, mas a grande mensagem é que o Brasil precisa de Dilma para manter as mudanças proporcionadas pelos governos do PT.

Sobre o uso da internet e das redes sociais Um dos maiores destaques da campanha de 2014 foi o uso amplo de redes sociais. Estabelecendo um contato mais direto com os eleitores, principalmente os mais jovens, a internet se estabelece como um espaço alternativo para o diálogo. Usada para fortalecer a imagem da candidata a internet tem o poder único de tornar a campanha viral – com uma facilidade não vista até então. Twitter, Facebook e YouTube são canais através dos quais o partido e Dilma podem conversar com o eleitor sem precisarem passar pela mídia tradicional, representada por jornais, revistas, rádio e televisão. A utilização da rede como plataforma eleitoral tem sido mais enfática com o passar dos anos, e isso é observável dentro do próprio contexto. Embora já houvesse certo apelo em 2010, foi em 2014 que realmente isto tomou forma. De forma espontânea ou incentivada, as redes sociais apresentam ao eleitor a possibilidade de expressar o próprio voto e, com isso, exercer certa pressão, ou imposição, entre os conhecidos e amigos. Não apenas medidores sociais, os sites se transformam em plataformas de campanha que disputam a atenção do eleitor a todo momento.


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No caso de Rousseff existe uma distinção notória entre as duas campanhas neste âmbito. A paródia Dilma Bolada é um forte exemplo. O perfil humorístico foi criado por um civil sem ligação alguma com a presidenta, durante as eleições de 2010, e a intenção é parodiá-la de forma amigável, com pronunciamentos alternativos (de tuítes-decreto falsos a conversas de Skype inventadas) e brincadeiras que se tornaram extremamente populares ao longo dos últimos anos. A simpatia que Dilma Bolada ganhou dos jovens no Twitter e no Facebook ganhou até o reconhecimento da própria Dilma. Só no Twitter, o perfil tem mais de 300 mil seguidores, e o seu criador, Jeferson Monteiro, foi chamado para fazer parte da Equipe de Campanha de Dilma para a reeleição muito embora esta nunca tenha sido a intenção inicial. O fator curioso – e digno de uma campanha de marketing bem desenvolvida, é a quantidade de mídia espontânea que as redes sociais são capazes de gerar, e talvez este seja o fator mais importante ligado ao grande potencial. Enquanto quase tudo na internet for capaz de se transformar em piada, as telas de celulares e computadores continuarão sendo plataformas de campanha altamente visadas. De forma bem-humorada, e se utilizando de uma forte ironia contra a oposição, o perfil fake da presidenta produz imagens que recebem milhares de compartilhamentos em questão de minutos, e por não virem de uma fonte oficial, mas sim do próprio povo, recebem um olhar mais amigável. Ainda assim, ele é ao mesmo tempo porta-voz de Rousseff. Na conta do Instagram (@dilmabolada), são publicados também vídeos oficiais, além das montagens. No dia 16 de outubro de 2014, quando Dilma sentir um mal-estar após o debate no SBT, um vídeo da candidata agradecendo e tranquilizando a população foi publicado oficialmente pela página, e o mesmo aconteceu com um vídeo em que Chico Buarque declara seu apoio à reeleição. Além das páginas com as postagens oficiais, naturalmente, o ponto


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chave do uso da internet para fazer as campanhas é que o espetáculo fica por conta dos usuários das redes.

o perfil d o s elei to res e o r ó t ulo mid iático O “típico eleitor brasileiro” mora na região sudeste, em município pequeno do interior – menos de 50 mil habitantes. Os simpatizantes de Dilma Roussef tem entre 25 e 34 anos, possuem ensino médio e renda familiar baixa, de até R$1.448. Esse foram os dados obtidos de uma pesquisa com 2.614 pessoas realizada pelo Datafolha no final de fevereiro de 2014. O Datafolha também divulgou o perfil de leitores de alguns dos principais candidatos do primeiro turno. Marina Silva (PSB) teria seu eleitorado formado por 30% de eleitores com ensino superior, e Aécio Neves (PMDB) teria a maior parte de seu eleitorado na região Sudeste (57%), por exemplo. Já o perfil do eleitorado da candidata a reeleição seria formado por principalmente por jovens de baixa renda e escolaridade – sendo rotulados de maneira espetacular pela mídia como pobres e menos esclarecidos –, sendo 44% com o ensino fundamental, 44% com o ensino médio e apenas 12% teria ensino superior. Dilma, porém, conquistou seu espaço entre os estudantes de nível superior, principalmente de faculdades federais, do país. A simpatia dos universitários pela petista deve-se muito aos programas de apoio do governo federal ao ensino superior. Com o REUNI (Reestruturação e Expansão das Universidades Federais) – cujo foco é ampliar o acesso e permanência nas universidades públicas – Lula (2003-2009) e posteriormente Dilma conseguiram ampliar a estrutura física, pedagógica e acadêmica das universidades, possibilitando o aumento do número de vagas e a criação de cursos noturnos, entre outras ações, como a criação de novas universidades e novos campus.


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Nos 12 anos de liderança do PT com mandatos presidenciais, Dilma e Lula conseguiram o feito de aumentar em 100% o acesso ao ensino superior (3,5 milhões de estudantes em 2002 versus 7,1 milhões de estudantes em 2014), além de baterem o recorde de concessão de bolsas de pós-graduação. Os programas FIES, ProUni e Ciência sem Fronteiras (CsF), foram outras iniciativas que surgiram durante o governo PT, e que pesaram na escolha de voto desses estudantes.

A suposta d iv i s ã o d e u m Br a si l c o m a r e s sepa ratista s Segundo o Datafolha, Dilma teria chances de ganhar logo no 1º turno, com cerca de 47% dos votos, sendo que grande parte desses votos estaria concentrado nos estados mais pobres, no norte e nordeste do Brasil. Esse último tópico gerou uma enorme repercussão nos grandes veículos de mídia tradicional – televisão, jornais e revistas – e, consequentemente, contribuiu para a espetacularização de um discurso de “ódio aos pobres”, que se firmou mesmo depois do resultado das eleições. (Anexo: figura 4) Depois do segundo turno da eleição que foi amplamente divulgada pela mídia como a “mais acirrada da história da democracia brasileira”, tais argumentos pejorativos acerca de uma estereotipagem do eleitorado de Dilma Rousseff só serviram para atiçar ainda mais os ânimos e ratificar a ideia de uma “polarização” do Brasil entre pobres e ricos, esquerdistas e direitistas, PT vs PSDB. Tal cenário, porém, que parece tão alarmante nos mapas de Ricardo Amorim (condicionando os votos em Dilma ao programa Bolsa Família), de fato não se apresenta de forma tão maniqueísta quando analisadas outras fontes de informação, e outros vieses interpretativos.


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O mapa da votação presidencial por região apresenta um cenário completamente diferente e bem mais diversificado, por exemplo. Outro dado que contesta o maniqueísmo em proliferação na mídia, foi o percentual de eleitores nordestinos que votaram em Dilma que, embora tenha sido bastante expressivo (72% no segundo turno), foi menos efetivo do que o conquistado por Lula em sua campanha de reeleição em 2006 (77% dos eleitores nordestinos). E para finalizar com a mistificação de que só o nordeste é responsável pela vitória de Dilma, ainda há o fato de que a presidenta venceu em dois dos três maiores colégios eleitorais do Brasil (MG e RJ, 2º e 3º maiores colégios eleitorais do país, respectivamente), perdendo apenas em São Paulo. “Contra fatos não há argumentos”, sentenciava o famoso dito popular. Para muitos, porém, Dilma só conseguiu se reeleger devido a programas assistencialistas como o Bolsa Família – alvo de críticas de alguns colunistas conservadores de direita, sendo Reinaldo Azevedo a figura de maior destaque, e de eleitores extremistas adeptos do discurso “fora PT”. Isso posto, as semanas seguintes à reeleição de Dilma Rousseff foram marcadas por discursos exacerbados nas mais diversas mídias online (palavras-chave como “ditadura”, “comunista” e “bolivarianismo” eram presença garantida), e atos de menor expressão nas ruas solicitando o impeachment da presidenta e a intervenção militar. Mesmo com a derrota nas urnas depois de um segundo turno acirrado, o senador Aécio Neves – adversário político de Dilma e “líder” da oposição – rejeitou a ideia de impeachment da presidenta e repudiou os pedidos dos manifestantes por uma intervenção militar: “Não sou golpista, sou filho da democracia”, disse o atual senador.


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A espeta c u la riza ç ã o d a c a m pa n h a o n l i n e A expansão do acesso a internet, principalmente através de dispositivos mobile, permitiu um novo tipo de comunicação eleitoral, facilitando o engajamento dos candidatos com seus eleitores e gerando grande retorno em mídia espontânea. O publicitário João Santana, marqueteiro responsável pela campanha à reeleição de Dilma Rousseff, certamente atentou-se à essa tendência. A campanha na internet foi bastante difundida, seja em sites oficiais, seja em parceria com internautas (vide o exemplo citado anteriormente da página Dilma Bolada do Facebook). No site oficial de Dilma (www.dilma.com.br) a opção foi por uma identidade visual bastante lúdica ao longo de toda a campanha, em comparação ao visual mais clean e tradicional de seus adversários. A implementação de um scroll infinito expressa também essa preocupação em mobilizar o eleitorado em torno da campanha, aproximando o site da dinâmica das redes sociais. (Anexo: figura 5) A crescente atenção dedicada à mídia online (sites, apps e redes sociais) nas campanhas eleitorais de 2014 também pode ser entendida através de 3 tópicos analisados no livro Comunicação Eleitoral: conceitos e estudos sobre as eleições presidenciais de 2010. A seguir iremos explorar melhor cada um deles:

A espetacularização das eleições O candidato transformou-se em produto, e o eleitor em consumidor final. A intermediação entre o candidato (produto) e o eleitor (consumidor) se dá através de propagandas cada vez menos políticas, e cada vez mais espetacularizadas. Segundo Marcelo Serpa: “Na comunicação persuasiva pesa mais o receptor que o emissor. [...] Ou seja, o que importa é como o


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candidato é percebido pelo eleitor. [...] O objetivo da comunicação é o efeito.” (SERPA, Marcelo. Eleição é espetáculo. pág. 27 e 28). Nos anexos: foto da presidente Dilma em passeata por Campinas (interior de São Paulo) em 17/09/2014. Abandonando o tradicional terninho vermelho e adotando a cor azul em sua vestimenta – tal qual Hugo Chávez em sua campanha presidencial para reeleição em 2012 –, Dilma opta por uma mudança em sua imagem usando a cor da oposição de modo a cooptar mais votos para sua campanha. (Anexo: figura 6)

O engajamento dos jovens eleitores As formas tradicionais de representação política – propaganda eleitoral, partidos, candidatos – foram perdendo sua força de comoção frente aos jovens eleitores nas últimas décadas. De acordo com Mônica Machado: “o desapego [da política] não se traduz na recusa à representatividade coletiva ou ao projeto de inserção na vida política, mas se trata da falta de sintonia com os atuais jogos de representação política convencional. [...] Há uma nova perspectiva do fazer político, que não está mais associada aos modos clássicos de representação.” (MACHADO, Mônica. O engajamento político-eleitoral de jovens no Brasil. pág. 75 e 76) Com isso novas formas de atingir esse importante segmento do eleitorado se fazem necessárias. Uma das maneiras de atrair esse público é através das redes sociais, com posts de linguagem coloquial e conteúdo interativo (Anexo: figura 7). A outra maneira, conforme discutiremos no próximo tópico, é o humor.

O humor como contrapropaganda O humor, desde os primórdios da política, é utilizado como ferramenta de contestação, e aqui no Brasil ganhou grande notoriedade a partir do I Sa-


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lão de Humor de Piracicaba em 1974, que denunciou os abusos da ditadura militar que se havia instaurado no Brasil daquela época (1964 – 1985). Na atualidade o humor continua sendo explorado eficientemente em campanhas políticas, “transformando a ironia fina em arma retórica de convencimento”. (QUEIROZ, Adolpho. Humor e contrapropaganda política. pág. 60) A campanha de reeleição de Dilma Rousseff foi duplamente competente ao se apropriar do humor para atacar seus adversários. Ao observar que a tática de humor leve (porém crítico) da página não-oficial Dilma Bolada surtia grande efeito na internet (Anexo: figura 8), os assessores de campanha não perderam tempo em aproveitar esse viés contestatório em suas páginas oficiais (Anexo: figura 9), principalmente contra Marina Silva no primeiro turno e Aécio Neves no segundo turno. No primeiro turno, com Marina Silva despontando nas pesquisas de intenção de voto, as ações de contrapropaganda do PT foram rápidas e eficazes, auxiliadas em grande parte pela própria postura da candidata do PSB, e suas crescentes contradições em torno de seu plano de governo. Sobre isso, Domenach nos diz que uma das leis da contrapropaganda reside em: “colocar a propaganda do adversário em contradição com os fatos. [...] Esse desmentido não encontra réplica quando os fatos alegados foram colhidos em fontes de informação controladas pelo próprio adversário”. (DOMENACH, Jean Marie. Propaganda política. São Paulo: Difel, 1945). (Anexo: figura 10) A espetacularização da mídia em cima desse assunto foi tamanha que até um neologismo foi criado: o verbo “marinar” – que tem sua aplicação mais ampla em contextos como “ficar em cima do muro” ou “voltar atrás no que disse” ou até mesmo “mudar constantemente de opinião”, embora os seguidores da candidata do PSB digam que de fato significa “mudei meu voto para Marina”. Nem o candidato do PSDB escapou da contrapropaganda do PT, e foi acusado de “marinar” em campanha. (Anexo: figura 11)


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No segundo turno a prática da contrapropaganda permaneceu, porém com uma outra roupagem. A tática, dessa vez, foi atacar o adversário em duas frentes: a primeira de caráter individualista de modo a apontar as falhas de Aécio Neves, principalmente em seu mandato como governador de Minas Gerais; e a segunda de caráter partidário, na qual dados e estatísticas dos anos em que o PSDB esteve a frente da presidência do Brasil serviram de argumento para estimular o “medo” da população frente a um possível “retrocesso” do país, caso o candidato da oposição conseguisse se eleger. Novamente, podemos citar Domenach para melhor exemplificar esse processo: “se no passado de um partido ou de um político forem encontradas declarações ou atitudes o efeito [da contrapropaganda], sem dúvida, é ainda maior: não somente o homem ou o partido serão desacreditados [...] mas também colocados na necessidade de se explicarem e de se justificarem: posição de inferioridade”. (DOMENACH, Jean Marie. Propaganda política. São Paulo: Difel, 1945). (Anexo: figura 12) Com esses três tópicos, portanto, explanamos sobre a grande representatividade alcançada através da mídia online de campanha, que resultou na reeleição da presidenta Dilma Rousseff. O que não significa, necessariamente, que este seja uma fenômeno restrito ao Brasil. A convergência das mídias abriu espaço para um eleitorado mais participativo, a cibercultura aproximou o real ao virtual, e o Facebook virou uma comunidade de conhecimento – inteligência coletiva, segundo Pierre Lévy – diversificando o cenário político, eventualmente em escala global.

A aná lise do d is c u rs o es p e ta c ul a r O espetáculo está presente na sociedade desde os primórdios das relações social e cultural. Foi através da produção de espetáculos e, consequentemen-


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te, da tentativa de sedução do espectador, que o poder político firmou-se ao longo dos séculos. O próprio conceito de espetáculo estabelece uma relação de poder: o espectador é seduzido e dominado pelo que contempla. Denttro desses discursos espetacularizados, é possível perceber a construção do ethos. A palavra, que tem origem grega, significa “caráter moral” e é usada para descrever o conjunto de hábitos ou crenças que definem uma comunidade ou nação. A construção do ethos do enunciador se dá a partir da interação verbal. Observa-se que o político vai trabalhar, no seu discurso, a projeção de uma imagem para “seduzir” e fazer com que o interlocutor comungue com suas ideias. O linguista francês Patrick Charaudeau aponta diferentes tipos de estratégias discursivas que são necessárias para a composição da imagem (ethos) do político. É possível analisar alguns desses critérios na fala da candidata no vídeo Dilma na TV – Programa 15, Bolsa Família, publicado em sua conta oficial no Youtube: “Durante séculos, o Brasil fingiu que a fome e a miséria não existiam. Elas estavam aí, à vista de todos, mas eram invisíveis para os antigos governos, que só se preocupavam em agradar aos poderosos. Foi o presidente Lula quem colocou a fome e a miséria na agenda política do país. Ele criou o Bolsa Família (...) Com a implantação do Brasil Sem Miséria, em 2011, ampliamos e aceleramos as ações de combate à fome e à pobreza extrema. E o resultado está aí: 22 milhões de pessoas saíram da miséria só no meu governo”.

Nesse trecho, percebe-se o que Charaudeau chama de palavra de promessa: Dilma Rousseff inicia seu discurso abordando a realidade do país, apontando que antes do seu governo, a miséria e a fome existiam. Na busca pela credibilidade, quer convencer seu público que o seu governo foi essencial para que essas pessoas saíssem da miséria. Também é possível observar a palavra de decisão, uma vez que ela destacou um problema no


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país e mostrou as soluções que aplicou para resolvê-lo. Ao longo do vídeo, são citadas ações como a construção de creches, os programas de apoio à agricultura familiar, os cursos de qualificação do Pronatec, etc. Essa técnica é utilizada para fazer os eleitores acreditarem que, sendo Dilma reeleita, ações como as citadas continuarão a acontecer e o Brasil continuará a dar oportunidades aqueles que eram “invisíveis” ao antigo governo. Outras técnicas apresentadas por Charaudeau são a palavra de justificação, onde lembra-se o motivo de uma determinada ação ter sido tomada, de modo que são abertas possibilidades para que outras ações sejam tomadas; e a palavra de dissimulação, onde o político antecipa-se, abrindo espaço para a negação de qualquer coisa que tenha dito anteriormente. Dessa forma, uma das principais pressuposições que moldam o discurso político é a seguinte: para que o voto seja conquistado, o político necessita inspirar confiança, simpatia e credibilidade no interlocutor (no caso, o eleitor). E o ethos é uma das ferramentas das quais ele fará uso para atingir os seus objetivos. Por outro lado, um aspecto que está chamando a atenção é a postura adotada pelos candidatos, muito mais ligada à imagem do que às ideias. De acordo com o livro O Estado Espetáculo, “a política, outrora, eram as ideias. Hoje são as pessoas. Ou melhor, as personagens. Pois cada dirigente parece escolher um emprego e desempenhar um papel. Como em um espetáculo”. (1978, p. 9). Na mesma obra, o autor Róger-Gerard Schwartzenberg diz que a retomada ao conteúdo audiovisual, na terceira e atual fase da comunicação, é a responsável por disseminar um conteúdo mais afetivo e personalizado. A imagem passada na televisão tem mais força do que as ideias transmitidas. Tendo isso em mente, sua equipe de campanha adota essa tática e a utiliza em outro vídeo da candidata, intitulado “Dilma manda mensagem para os pais do Brasil”. A publicação foi ao ar no dia 10 de agosto de 2014, no dia dos pais:


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Eu sou daquelas filhas que sentem uma onda de saudade no dia de hoje. Não tenho mais meu pai junto a mim, porém isso não impede que eu sinta sua presença em tudo que eu faço na vida. Uma lembrança indelével do pai mostra a força da paternidade e o grande valor da família. Nosso pai, nossa mãe, nossa família moldam nossa vida para sempre. Por isso temos que agradecer, honrar e retribuir esse legado. Para mim, chefe da Nação, em um dia como hoje, reforço minha responsabilidade de lutar pelo bem-estar de todas as famílias brasileiras. Para terem mais e melhores empregos, mais educação, mais saúde e segurança. Na memória de meu pai Pedro, que escolheu o Brasil como sua pátria, eu saúdo todo os pais brasileiros. Um forte abraço para cada um de vocês e suas queridas famílias.

O Dia dos Pais já é, por si só, uma data voltada para o emocional. Esse aspecto é bastante abordado no vídeo, com Dilma falando da força da paternidade e como isso influência no valor da família brasileira. Essa instituição é, de acordo com o discurso, protegida por Dilma, que a defende e a valoriza. Ela também usa de forma repetida a palavra “mais”, exaltando uma sensação de continuidade para reforçar a validade de sua – até então ainda não concreta – reeleição. E, finalmente, com a utilização de palavras como “queridas” e pronomes pessoais na primeira pessoa do plural (“nosso”, “nossa”), ela pretende se aproximar os espectadores, e, consequentemente, os leitores. Tendo em vista os aspectos observados, concluímos que a esfera política tem trabalhado e dado ênfase ao visual e à personificação, humanização e afetividade para adentrar nos esquematismos da mídia vigente na modernidade, de modo a espetacularizar não somente os candidatos e seus partidos, como todo o cenário político em época de eleições.


referências

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SERPA, Marcelo. PANKE, Luciana. (Orgs.). Comunicação Eleitoral: conceitos e estudos sobre as eleições presidenciais de 2010. E-book Internacional. Coleção Voto Hoje. Rio de Janeiro: Instituto CPMS Comunicação, 2011. 325 p. A história de Dilma: http://oglobo.globo.com/infograficos/especial-dilma/fotogal.asp Aécio rejeita impeachment e repudia pedidos por militares: http://noticias. terra.com.br/brasil/politica/aecio-rejeita-impeachment-e-repudia-pedidos-por-militares,67372c86dcb79410VgnVCM4000009bcceb0aRCRD. html Biografia da presidenta Dilma Rousseff: http://www2.planalto.gov.br/presidencia/presidenta/biografia Canal do comitê de Campanha de Dilma Rousseff: https://www.youtube. com/user/seguirmudando Criador de ‘Dilma Bolada’ se encontra com presidente no Alvorada: http:// g1.globo.com/politica/noticia/2014/10/criador-de-dilma-bolada-se-encontra-com-presidente-no-alvorada.html Criador da “Dilma Bolada”, carioca consegue até emprego com perfil falso da presidente:

http://tecnologia.uol.com.br/noticias/redacao/2012/09/14/

criador-da-dilma-bolada-carioca-consegue-ate-emprego-com-perfil-falsoda-presidente.htm Dilma, a extraordinária história da clandestinidade à reeleição à Presidência: http://oglobo.globo.com/brasil/dilma-extraordinaria-historia-da-clandestinidade-reeleicao-presidencia-14370134 Eleitorado de Dilma é o mais pobre e o menos escolarizado: http://www1. folha.uol.com.br/poder/2014/03/1419905-eleitorado-de-dilma-e-o-mais -pobre-e-o-menos-escolarizado.shtml Levantamento do GLOBO mostra quem é o eleitor médio de Dilma, Aécio e Marina: http://oglobo.globo.com/brasil/levantamento-do-globo-mostra-


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quem-o-eleitor-medio-de-dilma-aecio-marina-13711427 PT atribui força da campanha de Dilma Rousseff às redes sociais: http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/felipe-patury/noticia/2014/10/pt-atribui-bforca-da-campanha-de-dilma-rousseffb-redes-sociais.html Perfil “Dilma Bolada”: https://www.facebook.com/DilmaBolada Perfil “Dilma Rousseff”: https://www.facebook.com/SiteDilmaRousseff Perfil “Lula”: https://www.facebook.com/Lula Perfil “Ricardo Amorim”: https://www.facebook.com/ricardo.amorim.ricam Redes sociais crescem, mas não definem eleição: http://www.cartacapital.com. br/politica/redes-sociais-ganham-importancia-mas-ainda-nao-definem -eleicao-5440.html Site oficial Instituto Lula: http://brasildamudanca.com.br/ Site oficial Presidenta Dilma: http://www.dilma.com.br/ Twitter “Dilma Bolada”: https://twitter.com/diImabr Veja cronologia da vida de Dilma Rousseff: http://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2010/02/21/veja-cronologia-da-vida-de-dilma-rousseff.htm


anexos

Item 1: Figura 1

Item 2: Figura 2


Item 3: Figura 3


Item 4: Figura 4

Item 5: Figura 5


Item 6: Figura 6

Item 7: Figura 7


Item 8: Figura 8


Item 9: Figura 9


Item 10: Figura 10


Item 1: Figura 11


Figura 12




aĂŠcio neves Vida polĂ­tica e campanha presidencial 2014

ana luiza figueiredo clĂŠo santiago isadora boaventura bombonatti igor gonzaga tamara stern wallace nascimento



perfil

Aécio Neves da Cunha nasceu em Belo Horizonte no dia 10 de março de 1960. Economista pela PUC-MG e político filiado ao Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), Aécio foi governador de Minas Gerais de janeiro de 2003 a março de 2010, e senador pelo mesmo estado. Em 2014, Aécio foi candidato de seu partido à presidência do Brasil, concorrendo com Marina Silva, candidata do PSB, e Dilma Rousseff, candidata do PT. Ele chegou a disputar o 2º turno, mas perdeu para a candidata Dilma por uma diferença de 3% dos votos, configurando a eleição mais acirrada da história. Aécio é casado com a gaúcha Letícia Weber desde 2013, com quem teve os gêmeos Julia e Bernardo. Ele também foi casado com a advogada Andréa Falcão entre 1991 e 1998, tendo sua primeira filha, Gabriela Falcão Neves.

T r a jetória n a p o líti c a Aécio Neves nasceu em uma família de políticos tradicionais mineiros. Seu avô paterno, Tristão Ferreira da Cunha e seu pai, Aécio Cunha, foram deputados federais por Minas Gerais. Seu avô materno, Tancredo Neves,


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atuou na redemocratização do Brasil, após ser governador de Minas Gerais em 1983 e 1984, elegendo-se a presidente da República em 1985 - cargo que não chegou a ocupar devido a seu falecimento na véspera da posse. Aécio se envolveu na vida política de seu avô em 1981, quando começou a participar da campanha eleitoral de Tancredo para o governo de Minas. Por conta da campanha de seu avô, Aécio participou de reuniões e comícios em mais de trezentos municípios em Minas. Quando Tancredo foi eleito governador, Aécio passou a ocupar o cargo de seu secretário particular. Ele participou do movimento “Diretas Já” e da campanha de Tancredo à presidência da República. No processo de redemocratização do país, Aécio esteve com Tancredo em visita a Ronald Reagan, presidente dos Estados Unidos; François Mitterrand, presidente da França; Sandro Pertini, presidente da Itália; Bettino Craxi, primeiro-ministro da Itália; Rei Juan Carlos da Espanha e o Papa João Paulo II. Com a morte de Tancredo e a posse do vice-presidente José Sarney em 1985, Aécio renunciou a seus cargos para que o novo presidente escolhesse livremente a composição de seu gabinete, sendo posteriormente nomeado diretor da Caixa Econômica Federal.

Deputado Federal Em 1986, Aécio concorreu para a Assembleia Nacional Constituinte pelo PMDB, tornando-se o deputado federal mais votado de Minas Gerais até então. Por quatro mandatos, Aécio representou Minas na Câmara dos Deputados, sendo sempre reeleito até as eleições em 1998. Durante a Constituinte, ele foi vice-presidente da Comissão da Soberania e dos Direitos e Garantias do Homem e da Mulher e foi um dos autores da emenda que instituiu o direito de voto aos dezesseis anos. Em seu segundo mandato (19911995), votou a favor do impeachment do presidente Fernando Collor. Em


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1992, ele concorreu à prefeitura de Belo Horizonte, mas foi derrotado, sendo sua única derrota eleitoral até hoje. No seu terceiro mandato (19951999), foi eleito presidente do PSDB mineiro e líder do partido na Câmara. De fevereiro de 2001 a dezembro de 2002, Aécio foi presidente da Câmara dos Deputados. Ele concorreu ao cargo contra Aloizio Mercadante (PT-SP), Inocêncio Oliveira (PFL-PE), Valdemar Costa Neto (PL-SP) e Nelson Marquezelli (PTB-SP), sendo eleito com mais votos que a soma de todos os outros candidatos. Seu mandato ficou marcado por medidas que deram mais transparência às atividades da Câmara, como a disponibilização das votações dos projetos de lei na internet. Nesse período, a Câmara promoveu o chamado Pacote Ético, um conjunto de medidas voltadas para moralizar a atuação parlamentar. Aécio coordenou a votação do fim da imunidade parlamentar para crimes comuns, a criação do Código de Ética e Decoro e da Comissão de Ética. Aécio também instituiu a Ouvidoria Parlamentar, responsável por encaminhar ao Tribunal de Contas da União, à Polícia Federal ou ao Ministério Público, denúncias de irregularidades apontadas pela população.

Governador de Minas Gerais Em 2002, Aécio candidatou-se a governador de Minas Gerais com apoio de Itamar Franco. Tendo como concorrentes, o deputado federal Nilmário Miranda, do PT, e o ex-governador Newton Cardoso, do PMDB, Aécio esteve em primeiro lugar segundo todas as pesquisas, com os menores índices de rejeição, e foi o primeiro governador de Minas Gerais a ser eleito no primeiro turno, em toda a história do estado. Em sua candidatura à reeleição, em 2006, Aécio foi considerado um candidato “quase imbatível”. Sua coligação recebeu o nome de “Minas Não Pode Parar”, e contaram novamente, com o apoio do ex-presidente Itamar


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Franco. A vitória de Aécio no primeiro turno já era dada como certa por muitos analistas políticos. Ele manteve um bom relacionamento com as lideranças petistas, principalmente com o presidente Lula e com o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel. Isso fez com que denúncias de corrupção fossem ignoradas durante a campanha. Aécio foi reeleito governador de Minas Gerais com 73,03%, a segunda maior votação percentual do país para o cargo. Na eleição presidencial, Aécio apoiou Geraldo Alckmin que perdeu para Lula nos dois turnos.

Senador Em 2010, Aécio renunciou ao cargo de governador para poder concorrer ao Senado Federal. No mesmo ano, foi eleito com 39,47% de votos, o terceiro senador mais votado, sendo superado apenas por Aloísio Nunes e Marta Suplicy, eleitos por São Paulo. Aécio também conseguiu eleger o seu sucessor Antônio Anastasia para o governo de Minas Gerais. Como parlamentar, Aécio tem defendido questões como: fortalecimento da ação parlamentar, com a restrição ao uso das medidas provisórias; redução de impostos; transformar o Bolsa Família em uma política de Estado; ampliação dos direitos dos trabalhadores domésticos; direcionamento de 10% da receita do governo federal para a área de saúde e mudança no cálculo usado para pagamento dos royalties da mineração. Aécio faz oposição ao governo de Dilma Rousseff. Em 2011, ele apontou os “Caminhos da Oposição” e definiu três pilares no papel da oposição: ‘’coragem, responsabilidade e ética’’.


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Campanhas presidenciais Na eleição presidencial de 2010, Aécio esperava ser o candidato à presidência por seu partido, no lugar de José Serra. Em novembro de 2009, ele havia apresentado suas propostas caso fosse escolhido. Um mês depois, diante da hesitação do PSDB e de Serra em posicionar-se como candidato, Aécio declarou que se lançaria ao Senado Federal nas eleições de 2010. Durante a campanha eleitoral, ele compareceu a eventos e fez campanha para Serra. Em dezembro de 2012, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso lançou Aécio como pré-candidato do PSDB à presidência em 2014. Como em 2010, José Serra e Aécio travaram uma disputa interna pelo apoio do partido a sua candidatura, mas Serra desistiu. Aécio foi oficializado como candidato, tendo Aloysio Nunes, senador por São Paulo, como vice. No dia 5 de outubro de 2014, Aécio disputou o primeiro turno com Marina Silva, candidata do PSB, e Dilma Rousseff, candidata do PT, indo para o segundo turno com a última. Ele obteve cerca de 33,5% dos votos. Mas no dia 26 de outubro, no segundo turno, Aécio perdeu para Dilma por uma diferença de menos de 3,5 milhões de votos válidos.

Presidente Nacional do PSDB Em 18 de maio de 2013, Aécio foi eleito presidente nacional do PSDB, substituindo o deputado federal Sérgio Guerra. A convenção o elegeu com 97,3% dos votos. Como presidente do partido, ele foi o protagonista do programa partidário do PSDB exibido em setembro de 2013. Neste programa, Aécio falou sobre a inflação, problemas de infraestrutura e de obras inacabadas, e sobre as manifestações populares ocorridas em 2013.


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Em setembro de 2013 Aécio Neves e o Instituto Teotônio Vilela, organização de estudos e formação política do PSDB, lançaram o Portal Social do Brasil. O Portal contém informações de 81 projetos sociais nas áreas de juventude, infância, educação, saúde, pobreza, assistência social, emprego, habitação, segurança alimentar, prevenção e combate às drogas, mulheres, idosos e pessoas com deficiência implantados pelos governos estaduais e prefeituras administrados pelo PSDB. Aécio foi considerado pela revista Época, um dos 100 brasileiros mais influentes desde 2007 até 2013. Como deputado federal e senador, foi eleito um dos “Cabeças do Congresso” pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).

P olêmica s Nas eleições de 2010, Aécio declarou ao Tribunal Superior Eleitoral ter um patrimônio de R$ 617 mil. Na sua prestação de contas para as eleições de 2014, declarou ter um patrimônio de R$ 2,4 milhões. Segundo Aécio, o aumento se deveu ao recebimento da herança de seu pai, falecido em 2010. Em abril de 2011, Aécio foi parado em uma blitz da Lei Seca, no Rio de Janeiro, onde se recusou a fazer o teste do bafômetro e teve sua carteira de habilitação apreendida. Sua carteira foi apreendida por estar vencida. Segundo os policiais, Aécio foi liberado por não apresentar sinais de embriaguez.

Governo d e M i n a s Gera i s Aécio Neves possui ampla experiência política. Foi secretário de seu avô, o ex-presidente Tancredo Neves, deputado federal, governador e se-


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nador. Dentre estes cargos, o de governador do estado de Minas Gerais é o que mais influi na atual campanha eleitoral de Aécio para Presidente da República. Existem controvérsias sobre os mandatos de Aécio em Minas (2002 a 2010). Pesquisas sobre seu governo, realizadas naquele período, demonstravam que a população estava satisfeita com as medidas tomadas pelo então governador e sua reeleição em 2006 marcou a maior votação da história de Minas. Contudo, no primeiro turno das eleições presidenciais de 2014, Aécio perdeu para a candidata Dilma do Partido dos Trabalhadores (PT). A partir desta incerteza, analisamos com mais profundidade os dois períodos consecutivos em que Aécio Neves foi governador. Após ser presidente da Câmara dos Deputados entre 14 de fevereiro de 2001 e 17 de dezembro de 2002, Aécio candidatou-se a governador do estado de Minas Gerais, ainda em 2002. Apoiado pelo ex-presidente Itamar Franco, que já havia assumido os cargos de governador e senador do mesmo estado anteriormente, Aécio ganha a eleição no primeiro turno com 57,6% dos votos. Após três meses de mandato, o Datafolha, instituto de pesquisa da Folha de São Paulo, realizou uma pesquisa com 1210 entrevistados entre os dias 31 de março e 1º de abril de 2003, para saber sobre o aceitamento do governo pela população, cujos resultados estão inclusos no anexo (imagem 1). Uma vez no poder, Aécio implementou um modelo de governo chamado “Choque de Gestão” que visava o corte de gastos na tentativa de quitar a dívida do estado que somava aproximadamente 5 bilhões de reais. O número de secretarias no estado diminuiu de 21 para 15, e os salários dos funcionários públicos foram congelados entre 2003 e 2006. Outra característica do “Choque de Gestão” foi basear as ações em meritocracia. Aécio criou o projeto “Poupança Jovem” pelo qual jovens do ensino médio da rede pública de Minas deveriam manter um desempenho escolar elevado e participar de atividades que integrassem a comuni-


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dade ao longo dos três anos de estudo para então receber uma poupança no banco de 3 mil reais. Em 2006, Aécio se candidata novamente ao cargo com o slogan “Minas Não Pode Parar”, promovendo a continuidade das obras realizadas entre 2003 e 2006. Ao longo de toda a campanha, Aécio manteve um bom relacionamento com a concorrência, especialmente com os petistas. Apesar de denúncias de corrupção no período eleitoral, Aécio se reelegeu governador de Minas. Ele prossegue, então, com suas ações de desenvolvimento em diversos âmbitos sociais. Uma delas voltada para a segurança pública: a criação do Centro de Referência à Gestante Privada de Liberdade, em 2009, o primeiro presídio do país a abrigar detentas grávidas e seus bebês, onde recebem os cuidados devidos. Em 2006, o IBOPE (Instituto Brasileiro de Pesquisa e Estatística) realizou uma pesquisa bastante completa sobre o governo de Minas, medindo a satisfação da população em relação ao governo e também fazendo uma prospecção do futuro resultado das eleições daquele ano. Foram realizadas 2002 entrevistas entre os dias 7 e 8 de agosto de 2006, cujos resultados estão inclusos no anexo (imagens 2 e 3) mas seguem adiante: 1ª tabela: Como o(a) sr(a) se sente com relação à vida que vem levando hoje? 71% dos entrevistados afirmaram estar satisfeitos e 15% afirmaram estar insatisfeitos. 2ª tabela: Em quem o(a) sr(a) votaria para Governador de Minas Gerais se a eleição fosse hoje? (Espontânea) 49% dos entrevistados afirmaram que votariam em Aécio Neves. Pouco antes de terminar seu segundo mandato, em março de 2010, Aécio renuncia para se candidatar a senador e seu vice Antonio Anastasia assume o posto de governador do estado.


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Nos quase oito anos em que Aécio esteve no poder, houveram melhorias significativas no estado de Minas Gerais, mas casos de corrupção e erros de gestão graves também estiveram presentes. Uma das maiores falhas foi na Economia, área de formação acadêmica de Aécio. O modelo “Choque de Gestão”, que tinha como princípio maior quitar as dívidas do estado, não conseguiu cumprir esta meta e as despesas aumentaram em mais de 50 bilhões de reais. Outro lapso do governo de Aécio foi o aumento da violência. Ao longo de sua gestão, o número de homicídios aumentou em 14% no estado. Logo nos dois primeiros anos de seu mandato, foram registrados oito mil assassinatos, cerca de 34% a mais que no governo de seu antecessor, Itamar Franco. Também é necessário frisar um escândalo desse período que foi a contratação de 100 mil servidores sem concurso público. Alguns pontos positivos foram as mudanças na saúde, na educação e, em parte, na economia. O sistema de educação pública de Minas Gerais, mais especificamente o ensino fundamental, foi avaliado com nota máxima na escala de avaliação do Índice de Desenvolvimento de Educação Básica (Ideb), em 2011. Além disso, a rede de saúde pública teve melhoras: a mortalidade infantil caiu em 30% entre 2003 e 2013. Mesmo que a dívida do estado tenha aumentado agressivamente ao longo do governo de Aécio, grandes empresas investiram em Minas como Vale, Dow, Alpargatas e Ambev. Para ilustrar, a Alpargatas investiu 280 milhões para construir uma nova fábrica da Havaianas em Montes Claros. Assim, concluímos que a gestão de Aécio trouxe melhoras para o estado de Minas Gerais, mas não necessariamente poderá ser o suficiente para eleger o candidato a presidente do Brasil, ainda mais com casos de corrupção sendo revelados.


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Ca mpa nha Pres i d en c i a l 201 4 / P l a n o d e Governo Para analisar a postura do candidato Aécio Neves em sua campanha e plano de governo para a presidência nas eleições de 2014, nos valeremos de seus meios de comunicação oficiais; seu site e redes sociais; notícias e dados de redes reconhecidas no país – Grupo Globo, Folha de São Paulo, Carta Capital, Datafolha, entre outros; e seu discurso nos debates oficiais. Dividiremos esta análise entre o primeiro e o segundo turno. Esta partilha baseia-se nas diferenças claras de posicionamento do candidato, de acordo com o contexto. Sendo assim, o segundo turno de uma disputa eleitoral é comparável a uma nova eleição e toda sua estratégia de comunicação também se renova.

Primeiro turno No início da corrida eleitoral, o candidato Aécio Neves apresentava-se como franca oposição ao atual governo e à, até então candidata a reeleição, Dilma Rousseff. O senador mantinha-se em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto comandadas pelo Datafolha – cerca de 20% contra 34% da adversária direta e 8% do candidato do PSB, Eduardo Campos. Ainda neste começo de campanha, Aécio participou de uma entrevista no Jornal Nacional onde foi duramente interpelado sobre seu histórico político e suas propostas de governo, pelos jornalistas William Bonner e Patrícia Poeta, assim como todos os outros presidenciáveis. Nesta ocasião, o candidato se posicionava totalmente contra o governo atual em aspectos onde existe um déficit, como nas medidas econômicas, afirmando sua pretensão de reforma dos modelos vigentes. Já com relação a pontos nos quais o mandato do PT sobressai, como nas medidas sociais – programas como Bol-


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sa Família e Minha Casa Minha Vida – Aécio prometia aperfeiçoamentos. Em suma, ele era o candidato que abrangeria todas as classes, contrariando o conceito de muitos, já que o mesmo faz parte da legenda de um partido historicamente de direita. Outro aspecto muito relevante para a tomada de postura do senador no primeiro turno foi, definitivamente, a inesperada morte num acidente de avião do concorrente do PSB, Eduardo Campos. A comoção nacional em torno do ocorrido levou Marina Silva, a vice do pernambucano, a disputar a presidência. Marina obteve maior intenção de votos que Eduardo; nas pesquisas do dia 18 de agosto (em simulação feita antes do anúncio oficial da candidatura), passou Aécio Neves e encostou em Dilma Rousseff. Mas Marina perde espaço nas pesquisas do início de outubro, quando Aécio consegue um empate dentro da margem de erro, com ela. O inesperado mudou a estratégia de campanha do mineiro, que agora fazia não mais uma oposição ao governo vigente com discurso sutil, mas investia em acusações mais pesadas contra Dilma Rousseff e também contra Marina, que já havia disputado a eleição de 2010 com a presidenta. Tal mudança de posicionamento também se relaciona com a maior proximidade do dia da primeira votação, uma vez que os esforços tendem a se tornarem mais agressivos, mas a grande motivação da transformação certamente foram os dados apresentados pelas pesquisas. Como uma ciência analítica, o marketing responsável pelo candidato do PSDB precisaria desconstruir a ideia de nova política que Marina Silva trazia com ela. Sendo assim, as propagandas do candidato começaram a focar na comparação entre Marina e Dilma, mostrando pontos convergentes entre as duas. As campanhas traziam o teor de “Marina e PT: tudo a ver”, uma vez que a candidata já foi da legenda do partido, ou seja, seria mais da mesma política vigente, o que ia de encontro ao conceito da ‘Nova Política’ transmitido por Marina.


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Aécio passou a convocar os eleitores que tinham sede de transformações extremas a votarem na ‘Verdadeira Mudança’, que só viria através dele e do PSDB, já que Marina e Dilma vinham de uma mesma raiz política. O candidato tinha como ponto questionável o fato de pertencer a um partido historicamente de direita que sempre recebeu muitas críticas por ser conservador, sendo assim, considerado um retrocesso pelos adversários. Com uma clara melhor desenvoltura nos debates e um discurso firme que não mudava, Aécio não deixava dúvidas sobre os pontos que eram importantes desde o inicio da corrida eleitoral. Ele conseguiu subir nas pesquisas e ultrapassou Marina nos últimos dias antes da votação do primeiro turno. Muito diferente do que aconteceu com a candidata do PSB, apontada por muitos como insegura e criticada por ter dado declarações que iam de encontro com seu plano de governo. Marina Silva, que já tinha estado empatada tecnicamente com Dilma, caia para a terceira colocação. Há quem diga que Marina causou a própria queda, mas é evidente que Aécio soube usar bem – principalmente em suas falas – o diferencial que apresentava em sua campanha, de um governo focado e mais experiente economicamente em relação às oscilações do atual governo. Os principais exemplos utilizados em seus discursos eram o caso de corrupção da Petrobrás e a inflação, que na visão tucana poderiam ter sido evitados e melhor controlados. No dia 6 de outubro de 2014, Aécio Neves conquistou 33,55% dos votos válidos e foi ao segundo turno com sua principal adversária, Dilma, que obteve 41,59%. O mineiro conseguiu ampla vantagem em Santa Catarina e no Paraná. Venceu também em São Paulo, maior colégio eleitoral do Brasil, porém, perdeu em Minas Gerais, onde foi governador com uma aprovação teoricamente avaliada em 92% e esperava ser maioria.


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Segundo turno Após uma diferença de cerca de 8% em relação à Dilma Rousseff, era clara a necessidade de tornar suas propagandas mais agressivas, deslegitimando as propostas da candidata à reeleição, e também de angariar o apoio de outros candidatos, principalmente da terceira colocada da corrida eleitoral, convertendo seus eleitores para o PSDB. Era extremamente importante também, pesquisar através de métodos qualitativos, o grupo de indecisos para entender que tipo de governo eles queriam para o seu país. Aécio conseguiu conquistar o apoio de diversos segmentos, partidos e de candidatos derrotados no primeiro turno: Marina Silva (a líder do REDE foi o mais forte e importante dos apoios, já que a candidata foi terceira colocada na corrida eleitoral, com cerca de 20% dos votos válidos), o PSB (partido em que Marina foi candidata), PSC (partido do candidato Pastor Everaldo), PPS (que apoiava Marina no primeiro turno) e o apoio declarado da família de Eduardo Campos – um dos mais importantes para Aécio, já que a morte do presidenciável causou uma enorme comoção nacional. Com essas parcerias, o candidato incorporou a alcunha de que poderia mudar a realidade vivida no Brasil. Logo na primeira pesquisa, feita pelo instituto Datafolha, no segundo turno (divulgada no dia 10 de outubro), Aécio tem uma elevação considerável nos seus números e chega a 46% da preferência do eleitorado (contra 44% de Dilma) e 51% dos votos válidos. Nesta situação, os presidenciáveis estavam em empate técnico. Após a retomada das propagandas em rádios e na televisão, Aécio passou a ter uma postura mais agressiva em relação ao PT e sua representante. Nos debates realizados, mostrava ter amplo domínio retórico e grande capacidade argumentativa para rebater acusações. A adversária Dilma apresentava maiores dificuldades nos ‘duelos’, o que abria a porta para um jogo mental implantado pelo tucano. As propagandas políticas surgiam com cada vez


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mais números e escândalos contra o atual governo. Em relação a números, o candidato destacava em seus comerciais, as pesquisas que mostravam superioridade numérica pra ele, assim como Dilma o fazia. A disputa se mostrava cada vez mais apertada e as parcerias agregadas à campanha do Tucano mostravam surtir efeito em seus números. Na última semana de corrida eleitoral, os ataques entre os candidatos se tornaram rotina e ambos tiveram diversas propagadas cortadas pelo TSE. Aécio e Dilma utilizaram diversas vezes a estratégia de acusar um ao outro de corrupção, erros em governos passados, e até acusações pessoais, e o TSE tornou-se cada vez mais rígido (principalmente quando se utilizavam do horário eleitoral gratuito), proibindo e cortando todas as propagandas que não tinham cunho propositivo. O último debate entre os dois presidenciáveis, realizado pela Rede Globo dia 23 de outubro, foi a última oportunidade que os candidatos tiveram para debater propostas antes do pleito. Aécio Neves e Dilma Rousseff ficaram frente a frente, e trocaram perguntas de tema livre. O confronto direto entre os candidatos foi uma novidade em relação aos outros debates de segundo turno que a Globo tem feito desde 2002. O início do debate foi marcado por estratégias utilizadas anteriormente pelos rivais. Aécio e Dilma retomaram assuntos como corrupção, educação, previdência e inflação. Ao citar denúncia trazida pela revista Veja e comentários negativos da revista Istoé, Aécio perguntou a Dilma se ela e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sabiam de esquemas de corrupção na Petrobras. Dilma criticou as publicações e acusou as revistas de manipulação, o que pode ter dado uma vantagem a ela, ao que era muito evidente, depois de denúncias julgadas pelo próprio TSE, que a revista Veja teria feito propaganda irregular publicando essas notícias incriminadoras em relação à Dilma. A estratégia da adversária utilizava muitas comparações entre eles e antigos governos dos mesmos partidos, comparando seu mandato ao de Lula e


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o possível mandato de Aécio ao do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Essa estratégia pode ter enfraquecido a ideia de ‘Nova Política’ de alguns eleitores, já que o governo FHC é taxado como uma política antiga. Aécio mostrou-se sempre seguro durante o debate, também sendo acusado de irônico quando a candidata Dilma não concluía raciocínios ou gaguejava em suas falas. O debate transcorreu de maneira tranquila (mais do que era esperado) e o candidato usou um discurso bastante emocional e citou inclusive o avô, Tancredo Neves. Nas pesquisas do Datafolha divulgadas nos dois dias seguintes, Dilma Rousseff apresentava uma pequena vantagem numérica (que acabou sendo o resultado das eleições). O candidato do PSDB chegou a mais de 50 milhões de votos, mas acabou perdendo por uma diferença bem pequena (cerca de três milhões de votos). O candidato, no dia da derrota, participou de uma entrevista coletiva e se disse orgulhoso pelo que tinha conquistado. A campanha de Aécio foi uma oposição bem forte ao PT e fez dessas eleições uma das mais disputadas de toda a história.

Postura em rela ç ã o à c a n d i d ata D i l m a Rousseff Na última pesquisa sobre a corrida presidencial com a presença de Eduardo, o cenário parecia estabilizado para a mesma bipolaridade de sempre: PT e PSDB tinham a preferência do eleitorado brasileiro. Segundo o IBOPE, em pesquisa divulgada dia 7 de agosto de 2014, poucos dias antes da tragédia com o presidenciável pessebista, Dilma aparecia na liderança com 38% das intenções de voto, Aécio com 23% e Eduardo com 9%. Nesse contexto, a intenção do tucano a respeito de Dilma Rousseff não poderia ser outra: atacar onde o governo petista possuía mais fragili-


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dade, ou seja, falar dos casos de corrupção da gestão atual. Aécio prometia um governo onde “os corruptos não teriam vez”, e que a Petrobras retomaria seu prestígio após anos de suposto descaso. O mineiro acusava Dilma em quase todas as ocasiões de fazer “vista grossa” aos seguidos escândalos envolvendo pessoas próximas ao partido. Ele reiterava em suas entrevistas, que o governo PT tirou a “Petrobras das páginas de economia dos jornais para as páginas policiais”. A política externa brasileira também não foi poupada e sofreu duras críticas de Aécio, mais enfaticamente em casos como a compra ilegal da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, e também na ajuda estratégica feita pelo PT ao governo cubano, tendo construído um porto, e investido em transporte no país. As alianças político-ideológicas de Dilma eram o alvo: o tucano dizia que o Brasil não deveria mais focar suas transações econômicas em países emergentes, como os da América do Sul e os participantes do BRICS (Rússia, Índia, China e África do Sul). Seu argumento era de que o Brasil deveria se alinhar com países desenvolvidos, como os Estados Unidos, e países europeus, o que, segundo ele, seria o melhor para vencer a crise. O tema inflação também não foi deixado de lado, o presidenciável acusou a petista de entregá-la bem pior do que recebeu, e não criar estratégias com foco no controle inflacionário. Além disso, também falava repetidamente nas grandes obras da gestão do PT, que, segundo ele, em sua maioria foram entregues com atraso e caracterizadas pelo sobrepreço. Investimentos em grandes obras, que poderiam, segundo Aécio, serem mais rentáveis se dirigidos à saúde e educação. Áreas que também sofriam, de acordo com o tucano, por receberem poucos recursos devido ao governo ter muitos gastos com obras que ele considerava desnecessárias. Ou seja, Aécio defendia declaradamente à contenção de gastos públicos, em oposição à política petista.


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No dia 13 de agosto de 2014, o cenário passou por uma alteração drástica: Eduardo Campos, candidato em terceiro lugar nas intenções de voto, morre em um acidente aéreo em Santos, no litoral paulista. A morte do candidato pernambucano à presidência da República claramente abalou e obrigou todas as campanhas a tomarem novos rumos e estratégias. E não foi diferente com o candidato tucano, Aécio Neves. Logo após a morte de Eduardo, o PSB decidiu por lançar a candidatura de sua vice, Marina Silva, que, com sua alta popularidade após os bons resultados em 2010 e com a comoção pela morte do colega de chapa, chegou à disputa com um grande número de intenção de voto. A eleição, que até então caminhava para a vitória de Dilma Rousseff no primeiro turno, passou a ter um segundo turno quase que certo e, para o drama do PSDB, sem Aécio Neves. Menos de um mês depois do anúncio de Marina como candidata, o Instituto Datafolha divulga, no dia 4 de setembro, a seguinte pesquisa eleitoral: Dilma 35%, Marina com 34% e Aécio com apenas 14%. Agora, o monstro era outro: Dilma não era mais o empecilho para o PSDB assumir novamente a presidência, ou melhor, não era o maior deles, já que Marina representava o fim da velha bipolarização, o que a tornou uma grande ameaça ao tucano. As críticas do candidato nas entrevistas e debates seriam direcionadas então a um novo inimigo: Marina Silva. O grande desafio de Aécio era começar a atacar Marina, mas ao mesmo tempo sem deixar de lado o ataque ao PT, que continuava na liderança das pesquisas. Então, o melhor caminho encontrado pelos coordenadores de campanha foi tentar aliar o estilo de governo de Marina ao de Dilma, colocando-as no mesmo tipo de condução política, salientando que as duas eram “farinha do mesmo saco”, já que a candidata do PSB foi, por muito tempo, filiada ao PT, além de ter sido Ministra do Meio Ambiente no governo Lula. A ideia era vincular a


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insatisfação com o governo petista à imagem de Marina, dizendo que, em um possível governo dela, nada mudaria. Aécio Neves se apresentava como a verdadeira mudança, e salientava que Dilma e Marina representavam o mesmo projeto político. Segundo a propaganda de sua campanha, Aécio era “a verdadeira força para derrotar o PT” e a que teria mais chances de fazer um bom governo, diferenciado do atual estilo de governar. Pouco tempo depois da chegada de Marina, que perpetuou um discurso de “nova política”, Aécio teve mais uma vez que mudar seu estilo e foco de ataque. Ele voltou a atacar duramente o PT e começou a apresentar-se como a “mudança segura”, já que Marina que passou a representar esse slogan. A volta do ataque à Dilma rendeu bons frutos a Aécio, mesmo no final da campanha: com o foco no discurso “inflação alta e corrupção”, o tucano voltou ao segundo lugar nas intenções de voto no último dia útil antes da eleição, dia 5 de outubro. Segundo pesquisa realizada pelo Datafolha logo após o debate na Rede Globo, Aécio aparecia com 24% das intenções e Marina vinha em terceiro com 21%, já Dilma liderava com 40%. Especialistas em eleições acreditavam que a repentina diminuição no ataque à Marina Silva visava um possível apoio em um segundo turno entre Dilma e Aécio, o que acabou se concretizando: PT e PSDB no segundo turno, com Aécio recebendo apoio oficial do PSB e com a Rede da Sustentabilidade, de Marina, declarando que não aconselham o voto em Dilma Rousseff. Para o segundo turno, o candidato reforçou a venda de sua imagem como a verdadeira mudança, e prometeu fazer um segundo turno mais “alegre”, com a seguinte declaração: “Terei como companheira de viagem nessa campanha, a verdade. Farei a campanha feliz, alegre, de alma leve acreditando que minha missão é dar ao brasileiro aquilo que os brasileiros esperam”. Aécio agora promete lutar pelo que chama de “superação da po-


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breza”, em oposição àquilo que chama de “administração da pobreza”, se referindo às medidas assistenciais implementadas pelo governo petista. No segundo turno, a campanha de Aécio começa a apresentá-lo como o candidato que realmente irá trabalhar pelos mais pobres. O que claramente vem em resposta ao alto índice de Dilma em regiões onde a população tem menor poder aquisitivo, sobretudo no Nordeste do país. Além disso, Aécio voltou a destinar suas críticas à corrupção na Petrobras, e também no possível uso indevido dos Correios para propaganda política do partido governista.

Postura em rela ç ã o à c a n d i d ata M a r i n a S ilva Após a morte de Eduardo Campos, sua vice Marina Silva assume o posto, elaborando rapidamente um novo plano de Governo e definindo metas complementares às previamente estabelecidas por Eduardo. Durante os dias que sucederam o acidente e a nomeação de Marina como candidata à corrida eleitoral, Aécio Neves mostrou-se muito solidário à família de Eduardo, compareceu ao velório e chegou a mencionar a amizade que teria com o ex-governador de Pernambuco em algumas ocasiões. Em um vídeo para o Diário de Pernambuco, gravado em fevereiro de 2014, durante uma visita do ex-governador de Minas à casa de Eduardo Campos, Aécio afirma: É muito saudável hoje para o Brasil que homens públicos que estejam militando em campos políticos diferentes, em partidos diferentes, tenham a capacidade de conversar. (...) Minha conversa com o Eduardo não é em razão da eleição, é uma conversa permanente, que se iniciou há mais de 20 anos atrás, não há por que ser interrompida


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agora. Ao contrário. No que depender de mim essas conversas continuarão (...). Mas hoje é uma vista muito pessoal. Eu fiz questão de vir aqui conhecer Miguel [filho mais novo de Eduardo Campos] e dar um beijo na minha querida amiga Renata [Campos]. (Aécio Faz Visita a Eduardo Campos, 2014) De fato, os ataques de Aécio nas primeiras semanas da campanha eram dirigidos à presidente Dilma Rousseff, o que se manteve após Marina Silva entrar na disputa, no dia 16 de agosto de 2014. Talvez pela perda recente de Eduardo e por Marina estar substituindo um candidato que, devido à sua trágica e inesperada morte, tornou-se uma espécie de promessa não cumprida para muitos brasileiros. Tendo em vista a relação de longa data que o próprio Aécio tinha com Eduardo, não ficaria bem usar da mesma agressividade com que combatia Dilma Rousseff. Marina entrou de relance em uma campanha para a qual sequer pôde se preparar. Ela era membro de um partido fraco, que mal tinha estrutura para lhe garantir carreatas ou espaço na mídia. A análise fria dos fatos levava a crer que Marina não manteria vantagem sobre os outros adversários por muito tempo, e logo a disputa voltaria a concentrar-se nos representantes dos dois partidos mais fortes: PT e PSDB, como nos últimos vinte anos. Entretanto, a rápida subida da candidata nas pesquisas de opinião, aparecendo à frente de Dilma na maioria das vezes, surpreendeu analistas. Dos três candidatos com reais chances de chegarem ao Planalto, o tucano ficara em último lugar em onze pesquisas feitas pelos dois principais institutos de pesquisa do país sobre a corrida presidencial: seis do Datafolha e cinco do Ibope. Assim, no final de agosto, Aécio começou a atacar Marina Silva. A estratégia era expor as supostas fraquezas da candidata, exaltando por que ele e seu partido teriam mais condições de conduzir o país pelos próximos quatro


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anos. Em referência às declarações do conselheiro econômico de Marina, Eduardo Giannetti, que disse que procuraria apoio de Lula e FHC para Marina governar, Aécio declara: A complexidade dos problemas que temos pela frente demanda experiência e quadros. Quando vejo alguns aliados da própria candidata, com todo respeito, buscarem nos quadros do PSDB inspiração para o seu Governo, isso só fortalece a minha convicção de que somos a melhor opção. (Entrevista de Aécio Neves, 2014)

Aécio insistiu no discurso de que o PSDB era maior e mais articulado, ou seja, capaz de mobilizar mais pessoas e, consequentemente, criar mais projetos para o desenvolvimento do país. “O Brasil não é para amadores”, esse foi um chavão que o ex-governador repetiu algumas vezes, diante da candidatura de Marina Silva. Com isso, esperava transmitir a imagem de experiente, enquanto a adversária era construída como ingênua, desorganizada e até mesmo tola. Na ocasião do lançamento do comitê de voluntários de sua campanha, Aécio afirma: “Marina representa um conjunto de boas intenções que não consegue superar suas imensas contradições”. O argumento de que a campanha de Marina, bem como sua candidatura, foram organizadas precipitadamente também estava presente em alguns de seus discursos, mesmo que de forma indireta. O candidato, na televisão e em seus pronunciamentos, dizia saber das complexidades que seriam enfrentadas pelo presidente eleito em 2015 e frisava que a resolução das mesmas não poderia se dar através do improviso ou de soluções apressadas. Era um ataque a Marina Silva, que nesse momento também sofria ataques e difamações por parte da campanha de Dilma Rousseff, Luciana Genro e de muitos internautas, sem ter tempo de mídia ou presença nas ruas para conseguir um direito de resposta adequado.


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A campanha de Aécio poderia ter aproveitado tudo que fora dito a respeito da candidata nas redes sociais e usado para fazer eleitores de Marina migrarem para seu lado. Entretanto, atacá-la nos quesitos “falta de apoio político” e “falta de relevância partidária”, era a forma que Aécio poderia ganhar. Suas parcas tentativas de tirar votos de Marina ao associá-la a fatores como “a corrupção do partido ao qual um dia pertenceu”, como ocorrido no debate realizado pela Rede Globo no dia 2 de outubro, acabou por expô-lo mais do que a adversária. Isso se deveu ao fato de Aécio, ao contrário de Marina, ter um histórico de condutas questionáveis durante sua carreira política, sendo, inclusive, membro de um partido comprovadamente corrupto. “Vossa Excelência também esteve dentro de um partido que praticou mensalão. Não vi Vossa Excelência fazer nenhuma crítica ao expediente à reeleição e não o vi fazer nenhuma crítica ao mensalão”, afirmou Marina Silva, que aproveitou para dizer estar sendo injustamente atacada pelo candidato. Este tipo de embate passou a ser iniciado exclusivamente por Marina, não o contrário, uma vez que não se mostrou efetivo para o tucano. Repetindo a estratégia utilizada durante toda a campanha de Aécio, o PSDB falava para os que já eram simpatizantes do partido e suas condutas e para os que já não gostavam do PT e de suas políticas. Assim, outra vertente dos ataques da campanha tucana à Marina foi dizer que ela e Dilma, na verdade, eram dois lados da mesma moeda: priorizavam políticas sociais, tinham alinhamento com a esquerda e ambas desenvolveram suas carreiras políticas dentro do PT. Aproximando de si o eleitor que não queria mais do mesmo, e usufruindo de todos os comentários negativos que a candidata vinha recebendo, Aécio conseguiu ultrapassar Marina Silva e chegar ao segundo turno. Diante do novo cenário, o presidenciável e o PSDB rapidamente procuraram a candidata derrotada, bem como a viúva de Eduardo Campos, em busca de apoio político. Marina e Renata demoraram mais de dez dias


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para oficializar seus respectivos apoios, mas acabaram optando por auxiliar o tucano na corrida presidencial. No caso de Renata, o apoio certamente teve a ver com a suposta amizade entre Aécio e o falecido candidato, que havia, inclusive, abandonado o PT por não mais se entender com Lula. Por diversas vezes, Aécio aproveitou para frisar que tinha o compromisso de representar o legado e os sonhos de Eduardo Campos: “Eu não tinha dúvidas que, independentemente de quem fosse vitorioso, nós estaríamos juntos em um segundo turno”, disse o tucano. Outra desgarrada do PT, Marina Silva tinha um programa mais voltado às causas sociais e ambientais do que Aécio, que priorizava a economia. Ela tinha, portanto, mais pontos de contato com o programa de Dilma Rousseff. Porém, devido à sórdida campanha protagonizada pela adversária e pelo fato de também ter seus problemas com a atual administração do PT, o apoio de Marina a Dilma parecia improvável. Como também pareceria a Aécio, não fosse o candidato ter assinado uma carta compromisso na qual incorporava a seu programa de governo parte da série de demandas que Marina Silva fez como condição para apoiá -lo no segundo turno. Entre os itens estava o compromisso de dar prioridade à demarcação de terras indígenas, ampliação da reforma agrária, fim da reeleição e transição do país à economia de baixo carbono. Apesar de não constarem prazos e metas para algumas dessas demandas, Beto Albuquerque, vice de Marina Silva, declarou ter achado o documento muito bom e que representava grande parte do programa do PSB. Ainda afirmou que Aécio tinha feito um grande compromisso com o Nordeste e com a mudança. Devido à carta compromisso, Marina não apenas formalizou seu apoio a Aécio como também o comparou a Lula algumas vezes, dizendo que ambos representavam renovação e mudanças necessárias, em seus respectivos momentos.


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Ao trazer para sua campanha uma candidata mais voltada para o lado social e as camadas mais baixas, Aécio provavelmente buscava angariar votos de eleitores que simpatizavam com Marina e suas propostas, eleitores ambientalmente engajados e, também, eleitores pobres, que viam as propostas de Dilma como a única solução para terem seus interesses defendidos – uma vez que, historicamente, o PSDB não é um partido popular. Tratou-se de uma estratégia para melhorar a percepção do público em geral, e uma maneira de incrementar o programa de governo de Aécio, deficiente nos compromissos sociais e ainda muito embasado nas propostas de sua adversária, Dilma Rousseff.


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ca,578733/renata-campos-agradece-forca-de-pernambuco-e-reforca -apoio-a-aecio-neves.shtml http://g1.globo.com/sao-paulo/eleicoes/2014/noticia/2014/10/aecio-neves-dizque-encerrara-ciclo-do-pt-no-governo.html http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2014-10-25/dilma-rousseff-enfrenta-ataques-de-aecio-neves-com-ironias-e-cobrancas.html http://g1.globo.com/jornal-da-globo/noticia/2014/10/aecio-neves-comenta-debate-em-entrevista-ao-jornal-da-globo.html http://datafolha.folha.uol.com.br/eleicoes/2014/presidente/indice-1.shtml http://epocanegocios.globo.com/Informacao/Visao/noticia/2014/10/quem -apoia-quem-no-2-turno-das-eleicoes-presidenciais.html SERPA, Marcelo. Eleições Espetaculares: como Hugo Chavez conquistou a Venezuela. Rio de Janeiro: Contra Capa / Faperj, 2013. 208 p.


Anexos




a trajetória do pSB nas eleições presidenciais em 2014 Considerações sobre o partido, o candidato e a campanha

Luisa Bordalo Reis Marina Pontes de Miranda Paula Rachid Victor Freitas Lima



o pSB

O Partido Socialista Brasileiro se origina no que foi a Esquerda Democrática, em 1945. No fim do Estado Novo de Getúlio Vargas, a Esquerda Democrática se formou com o objetivo de reunir as transformações sociais da época com a liberdade política e civil. Seus fundamentos eram conceitos amplos esquerdistas como o socialismo gradual, o nacionalismo e a democracia. A Esquerda Democrática era oposição à UDN, partido que mais tarde encubaria o Golpe Militar de 64, que tinha como fundamento o liberalismo econômico. No entanto, a Esquerda Democrática também se opunha ao autoritarismo dos partidos com orientação comunista. João Mangabeira, Rubem Braga, Jader de Carvalho, Sergio Buarque de Hollanda e Antonio Candido estavam entre os seus fundadores. A Esquerda Democrática transformou-se no Partido Socialista Brasileiro em 1947, com o mesmo programa e as mesmas propostas. Dentre elas a nacionalização de áreas economicamente estratégicas, a participação popular, garantia de saúde e educação e o desenvolvimento da democracia. Em sua trajetória o PSB sempre teve uma postura democrática e contra ditaduras e autoritarismo. Em 31 de março de 1964 os militares depuseram o presidente João Goulart e assumiram o poder. Em 1965, o Ato Institucional número 2 decretou a extinção dos partidos políticos. E o PSB se dispersou durante o regi-


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me militar. A maioria dos integrantes do PSB foi para o MDB, Movimento Democrático Brasileiro, que se opunha à Arena. Quando ocorreu a abertura política os dissidentes do Partido Socialista Brasileiro continuaram e migraram para outros partidos como PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro), PDT (Partido Democrático Trabalhista). Alguns integrantes do PSB também ajudaram a fundar o PT (Partido dos Trabalhadores), como Sérgio Buarque de Hollanda. O PSB é um partido de pequena expressão eleitoral. Definindo-se mais como partido de quadros do que de massas. E tem como premissa fidelidade ao seu programa político voltado para o socialismo e para a liberdade.

Ed uard o C a m p o s Eduardo Campos nasceu em 1965, em Recife, Pernambuco. Formouse em Economia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) em 1968. Começou sua militância política cedo ainda na Universidade como presidente do Diretório Acadêmico da Faculdade de Economia. Eduardo Campos é neto de Miguel Arraes, o popular ex-governador de Pernambuco, e é considerado seu herdeiro político. Em 1986 iniciou sua carreira política profissional como chefe de gabinete de Miguel Arraes. Entrou no Partido Socialista Brasileiro em 1990 e conquistou seu primeiro mandato pelo PSB como deputado estadual na Assembleia Legislativa de Pernambuco, sendo líder e um dos parlamentares mais expoentes da oposição. Sua atuação expressiva em âmbito estadual lhe rendeu 133 mil votos como deputado federal em 1994. Em 1995 foi secretário do Governo do Estado de Pernambuco e, em 1996, secretário da Fazenda. Em 1998 foi reeleito deputado federal com 225 mil votos, o candidato mais votado do Estado de Pernambuco. Em 2002, no terceiro mandato como deputado


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federal, foi articulador no governo Lula para a aprovação das reformas da Previdência. Campos tornou-se presidente nacional do Partido Socialista Brasileiro em 2005, mas licenciou-se do cargo para concorrer ao Governo de Pernambuco e foi eleito em 2006. Foi reeleito governador de Pernambuco nas eleições de 2010 com 82,83% dos votos válidos. Eduardo Campos deixou formalmente o cargo de governador de Pernambuco em 2014 para dedicar-se à sua candidatura à Presidência da República.

A Ca nd id at u ra d e Ed u a rd o C a m po s Eduardo Campos ainda em seu governo em Pernambuco em 2013 anunciou a aliança com a Rede Sustentabilidade, que tem como líder Marina Silva. A Rede Sustentabilidade era inicialmente um projeto liderado por Marina Silva para a fundação de um partido político. No entanto, o possível partido teve o registro negado para concorrer às eleições presidências de 2014 pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O registro foi negado com a justificativa de que o partido não conseguiu provar a autenticidade de todas as 469 mil assinaturas requeridas para a oficialização. A aliança entre o PSB de Eduardo Campos e a Rede de Marina Silva foi oficializada em 4 de fevereiro de 2014 e foram elaboradas as diretrizes do programa de governo do PSB-Rede. O PPS (Partido Popular Socialista) também formalizou a entrada na aliança. As principais diretrizes do programa de governo são o Estado e a democracia de alta densidade, economia para o desenvolvimento sustentável, educação, cultura e inovação, políticas sociais, qualidade de vida, novo urbanismo e pacto pela vida.


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Em 14 de abril de 2014 foi lançada a pré-candidatura de Eduardo Campos à Presidência tendo Marina Silva como vice.

Ma rina Si lva Marina Silva nasceu em 1958, em Rio Branco, Acre. Sua carreira política iniciou em 1984 quando foi vice-coordenadora da CUT (Central Única dos Trabalhadores) no Acre. Um ano depois se filiou ao PT e se elegeu vereadora e foi a candidata mais votada de Rio Branco. Em 1990 foi eleita deputada estadual, sendo novamente a candidata com votação mais expressiva. Depois, em 1994 foi senadora, foi reeleita e ficou no cargo até 2002, quando foi nomeada Ministra do Meio Ambiente em 2003 pelo então presidente Lula e ficou no cargo até 2008. Foi no Partido dos Trabalhadores que Marina firmou as bases de seu perfil político. Em 2009 filiou-se ao Partido Verde (PV), por se identificar com as políticas ambientais. Marina tem família de origem seringueira e a sustentabilidade passava a ser uma de suas maiores bandeiras. Em 2010 foi candidata à Presidência do Brasil pelo PV e obteve 19,36% dos votos válidos, ficando em terceiro lugar na disputa. Após a tentativa fracassada de fundar o Partido Rede, Marina declarou apoio a Eduardo Campos. Depois de formalizada a aliança entre o PSB e a Rede, Marina Silva tornou-se vice-candidata de Campos.

A Morte d e Ed u a rd o C a m po s O candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos, faleceu no dia 13 de agosto de 2014, uma quarta-feira, quando o jatinho em que estava


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presente com seu assessor, Pedro Neto; o assessor de imprensa, Alexandre Gomes; o fotógrafo, Silva e o staff da campanha, Marcelo Lyra; caiu no bairro do Boqueirão, em São Paulo. Não houve sobreviventes no acidente, incluindo os dois pilotos, Marcos Martins e Geraldo Cunha. Marina Silva havia sido convidada por Campos a embarcar na aeronave, porém ela decidiu não ir, pois teria compromissos com a imprensa. Assim, então, se inicia a maior reviravolta da campanha eleitoral de 2014.

Marina a ssu m e a c a n d id atur a Marina aceitou ser a substituta de Eduardo Campos dois dias depois, no dia 15, porém sua decisão só foi oficializada no dia 20, junto com a de seu vice, o deputado Beto Albuquerque (PSB-RS). Marina declarou em uma entrevista: “Chego ao PSB com o sentido de responsabilidade, com o compromisso assumido nesses dez meses de intenso trabalho, com a disposição de honrar esse compromisso de levar adiante, juntamente com todos aqueles que estavam construindo esse projeto ao lado de Eduardo, levá-lo adiante com o apoio da sociedade brasileira, que viu revelar-se diante de si o tamanho e a grandeza do político que ele [Eduardo Campos] é”.

o novo pla n o d e go v ern o Para apresentar o novo plano de governo da candidatura 40, Marina Silva e Beto Albuquerque, escrevem uma carta publicada no site oficial da campanha: Não vamos desistir do Brasil. Apresentamos este Programa de Governo num momento de grande


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dor, em que nossa coligação Unidos pelo Brasil, formada pelo PSB, Rede Sustentabilidade, PPS, PPL, PRP, PHS, E PSL perde seu líder e candidato a Presidente da República, Eduardo Campos, morto tragicamente em acidente aéreo junto com outros valorosos companheiros. Mal tivemos tempo de retornar do luto à luta, mas o fazemos em honra aos que partiram. Apesar da tristeza, o velório e o sepultamento de, no dia 17 de agosto, em Recife, mostraram algo surpreendente, que contraria o senso comum formado na sociedade brasileira ultimamente, de que a população tem repulsa à política e aos políticos. A despedida a Eduardo foi inequívoca e emocionante demonstração de amor e de respeito a um político. No sentimento dos pernambucanos, que se estendeu aos brasileiros de todos os estados e regiões, revelou-se o reconhecimento íntimo que o povo cultiva pelos que, ao representá-lo, sabem interpretar os seus sonhos e despertar suas esperanças. Esse reconhecimento nos traz a responsabilidade redobrada de corresponder às expectativas da sociedade brasileira, não apenas do ponto de vista da prática política, mas também do conteúdo e da densidade de nossas propostas. Temos a missão de estabelecer uma inflexão conceitual e operacional nos rumos do Brasil: no modelo de desenvolvimento, na gestão do Estado e no funcionamento do sistema político. Esse sentido de mudança e essa coerência entre palavras e atos, encontramos no líder que nos reuniu. Eduardo revelou-se em sua morte. Conhecendo-o, os brasileiros admiraram o quanto foi autêntico e competente em sua vida política e o quanto isso espelhava o homem íntegro, carinhoso, aberto e alegre, que gostava de gente e se realizava ao melhorar a vida das pessoas. Viram que o Eduardo candidato era o mesmo que, juntamente com Renata, criou uma família que enterneceu a todos com seu afeto, orgulho, despojamento e coragem. Essa família deu um testemunho de que a política e a vida são a mesma coisa e ambas devem ser intensas e coerentes, o que


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foi muito bem sintetizado por seu filho Pedro, no pequeno vídeo em que ele e os irmãos homenagearam Eduardo no Dia dos Pais: “Ser seu filho é ser sempre um cidadão”. A despedida de Eduardo foi a afirmação da dignidade da política. Esta é a bandeira que partilhamos e que deve estar presente em todos os nossos atos, especialmente neste programa, que é a expressão maior da nossa aliança e que foi pessoalmente revisado por ele antes de sua partida. Entendemos que está encerrado, no Brasil, um ciclo em que tivemos conquistas, mas em que os agentes políticos – da forma como se organizam e se relacionam entre si e com a população – já não respondem aos anseios da sociedade diante do Estado. Já não conseguem renovar a política nem melhorar os serviços públicos. A cristalização de uma política destrutiva, polarizada e em bases patrimonialistas tirou a vitalidade de nosso desenvolvimento, fazendo-o girar em falso, pela ausência de reformas estruturais essenciais e pela falta de um investimento histórico e revolucionário na Educação, plataforma básica sem a qual todos os nossos castelos serão de areia. O programa que agora apresentamos, ao constatar esse momento de estagnação, aponta para o início de um novo ciclo. Ainda é – e pretende continuar sendo, durante sua execução – uma construção aberta às novas contribuições e à participação da sociedade. Sua proposta central é uma mudança geral na qual se integrem ações estratégicas em muitas áreas e setores. Em cada uma delas e em seu conjunto, revela-se a trilha que nossa coligação percorre para chegar às melhores soluções, afinadas com os sonhos do povo brasileiro. Nenhuma mudança acontecerá, contudo, sem uma ressignificação da política e uma nova sintonia da população com as virtudes democráticas. A crise de representação na qual o sistema político imergiu é um grave fator limitante do desenvolvimento com justiça e sustentabilidade, pois fragiliza


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e deturpa os canais de participação no processo de tomada de decisão, fazendo com que o interesse público se perca em meio a uma enxurrada de interesses particularistas que se imiscuem na esfera do Estado. Nosso programa, em seu Eixo 1, propõe uma concepção de Estado pautada pela participação, gestão competente e governabilidade fundada na transparência. Partimos da necessidade de devolver à sociedade a confiança na democracia e, para tanto, o primeiro desafio é superar a crise de representação por meio de um novo modo de fazer política. Para isso, propomos uma reforma na maneira de conduzir a administração pública, conectando-a com as necessidades de um Estado que se destine a servir a sociedade, e não dela se servir. O Eixo 2 trata da economia para o desenvolvimento sustentável, cuja pujança potencial é desperdiçada pela ausência de políticas à altura da disponibilidade de recursos naturais e da existência de uma sociedade criativa e empreendedora. Planejamento, visão estratégica e condução rigorosa da política econômica podem criar o ambiente necessário a um novo ciclo de desenvolvimento, em novas bases e com novos horizontes. Com esse objetivo, nosso programa apresenta uma série de propostas de reformas microeconômicas capazes de trazer produtividade a todos os setores da sociedade brasileira. No Eixo 3, concebemos educação, cultura, ciência e tecnologia e inovação como um único corpo estratégico, indissociável da cidadania plena e fundamento do desenvolvimento sustentável. A ênfase na educação pública de qualidade vai permear todas as políticas públicas do futuro governo. O Eixo 4 trata de um compromisso sem o qual nenhum programa de governo faria sentido, por mais bem sucedido que pudesse ser nos indicadores econômicos: o bem estar da população. As políticas sociais são o motor de uma visão de justiça e redução das desigualdades, pela garantia de acesso universal e digno a bens e serviços públicos relevantes, direito inalienável


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de cada cidadão. O compromisso com o fortalecimento do SUS, inclusive assumindo bandeiras da sociedade como o Saúde+10, está materializado em propostas que vão enfrentar o desafio de proporcionar ao povo brasileiro uma saúde de qualidade. No Eixo 5 estão as propostas voltadas para um setor crítico e sensível da vida em nosso país: o meio urbano, onde estão 85% dos brasileiros. Aí está o painel mais doloroso de nossa exclusão social, da violência, de todas as assimetrias históricas do país e também da omissão do Estado, da falta de planejamento e do descaso com a qualidade de vida da população. O Eixo 6, finalmente, trata do direito à cidadania plena, garantida pela Constituição a todos os brasileiros, porém, negada na prática, sobretudo a grupos e indivíduos mais vulneráveis e aqueles submetidos a injustiças históricas. É preciso aproximar cada vez mais o ideal constitucional do dia a dia do povo, até porque é do exercício ativo da cidadania, por todos, que advêm o aperfeiçoamento democrático e o funcionamento das instituições para o bem comum. Nesse eixo, nosso programa apresenta um conjunto de políticas públicas que vão reduzir as discriminações e estimular uma maior tolerância diante da pluralidade do povo brasileiro. Este é nosso esforço, este é nosso caminho. Queremos compartilhá-lo com a sociedade brasileira e expressamos este desejo com sinceridade e emoção. Tivemos a ousadia de sair do roteiro da política tradicional para recriar, com novos elementos e novos métodos, a luta pela justiça social e pelo desenvolvimento com sustentabilidade como um de nossos principais objetivos. Tivemos o atrevimento de propor, num país marcado pela política patrimonialista e destrutiva, uma prática de reconhecimento às realizações de outras forças políticas. Estamos apresentando um roteiro para a superação de uma velha polarização que já não dá conta dos novos anseios da população. Ao convocar o nosso povo a percorrer um novo caminho, vamos unir o país com o olhar para o futuro. Vamos juntar todas as forças políticas que

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tenham o desejo e a coragem de mudar o Brasil e fazer as reformas estruturais há tanto adiadas. Vamos inaugurar uma nova era de gestão competente e transparente do Estado e da economia, guiados pela missão de servir. Nosso programa procura expressar esses propósitos. Ele é também uma homenagem a Eduardo Campos, que tanto se empenhou para que estivéssemos juntos nesta aliança e compreendeu profundamente que isso só seria possível por meio de propostas verdadeiras para o Brasil, não de uma conjunção de interesses meramente eleitorais. Sem Eduardo, temos hoje o que sempre nos uniu: a consciência clara de onde queremos chegar juntos e a articulação política feita por ele para dar sustentação ao nosso programa comum. O programa é, em si mesmo, o pacto selado, o acordo maior que une PSB, Rede Sustentabilidade, PPS, PPL, PRP, PHS, e PSL e que há de unir todo o Brasil. Para ele, trouxemos o acúmulo de nossa experiência passada, de nossas diretrizes, de nossos projetos partidários, de nossos compromissos com o povo brasileiro, tudo submetido ao crivo da competência técnica, da inovação metodológica e política e da busca do que de melhor se pensa e se faz no mundo em termos de avanços democráticos. Somos, agora, os principais responsáveis por ampliar e fazer ecoar na História a exortação de Eduardo Campos: “NÃO VAMOS DESISTIR DO BRASIL!” Marina Silva e Beto Albuquerque

A ca mpa n ha m id iáti c a Não é surpresa para ninguém que as eleições 2014 foram marcadas pelo grande número de ataques, disputas de status e visibilidade de mídia. O pleito foi marcado pelo acirramento do embate eleitoral e demonstrou que as máquinas partidárias e reeleitoreiras não funcionaram com a mesma


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eficiência dos anos anteriores. Nem os institutos de pesquisa conseguiram captar o padrão do comportamento eleitoral do chamado voto útil. Entretanto, para que essa eleição com tanta representatividade dos eleitores seja analisada, é preciso observar fatores que estão fora do que foi visto na TV, na internet ou ouviu-se no rádio. O fato é que a eleição do espetáculo brasileiro - termo utilizado por muitos estudiosos de marketing - tem maior grau de espetacularização quando o então candidato a presidência pelo PSB, Eduardo Campos, morre, como já detalhado no tópico anterior. Porém, o que a morte de Campos significou para as eleições presidenciais? Os dados da última pesquisa do Datafolha até então mostravam que a entrada de Marina acabava com a possibilidade de não haver segundo turno na disputa ao Planalto. Como Marina passa a ter o dobro das intenções de voto de Campos (21% a 9%), como iremos analisar mais tarde, dificilmente, Dilma conseguiria obter mais da metade dos votos válidos (excluídos os votos em branco e os votos nulos), que garantiriam sua reeleição no primeiro turno. Em pesquisas feitas na época, Marina passou a ser a única candidata que superaria Dilma - 47% dos votos contra 43% da presidenta, embora o resultado seja considerado empate técnico devido à margem de erro. Ainda sob efeito após a morte de Campos, todas as campanhas à presidência mudaram seu tom e seu discurso político, já que então o PSB tornou-se um partido em potencial para vencer a eleição. Em uma sociedade de massa com orientação democrática, o processo eleitoral é marcado pelo discurso despolitizado e sedutor, no qual o elemento “espetáculo” está presente em demasia. A espetacularização é a pratica e a utilização de determinados fatores para provocar, instigar e manter a atenção do público. No caso da política, essa estratégia espetacular é uma tentativa de associar ao candidato uma imagem competente e sociável. É uma atração emocional, que faz da corrida eleitoral algo festivo.


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Não que a morte de Eduardo Campos tenha sido algo festivo, mas deu aos marqueteiros das campanhas um motivo a mais para usar de todos seus artefatos emocionais. A própria Marina Silva, sua companheira de partido, fez uso da imagem de Campos em memória como forma de trazer esse apelo para o seu lado. Para Serpa (2013), o discurso político, nos processos eleitorais, sofreu uma relativização, em função do deslocamento do foco central da campanha do campo político para o campo da comunicação. Assim como na propaganda clássica, a publicidade e a mídia buscam o eleitor por meio da sedução. O discurso passa a ter um cunho popular e simplório, principalmente devido à nova estética de comunicação em massa. Essa estética traz ao jogo uma necessidade de mise en scene, uma obsessão pela aparência de dimensão alienante. O entretenimento massivo utiliza do sensacionalismo e da espetacularização como formas para que a realidade seja transformada em mercadoria. Para Debord (1997), citado por Serpa (2013), essa é a definição de sociedade do espetáculo: “Esse espetáculo domina a vida em sociedade, sob todas as suas formas particulares”. Como exemplo disso, as pesquisas influenciam na postura de determinado candidato, nos seus gestos e palavras, porque o fundamental não seria o que o candidato de fato é e sim como é percebido por seu público. A política foi, durante séculos, caracterizada pelas ideias passadas nas campanhas. A partir da presença mais marcante do marketing, ela passa a ser caracterizada, principalmente, pelas pessoas e/ou pelos personagens. Segundo Schawartzenberg (1977 apud SERPA, 2013), “é o próprio Estado que se transforma em uma empresa teatral, em ‘Estado Espetáculo’. (...) Para melhor divertir e iludir o público de cidadãos. Para melhor distrair e desviar. E mais facilmente transformar a esfera política em cena lúdica, em teatro de ilusão”.


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u m a a ná lise m a is a f u n d o e m a l g un s pontos d a es tratégia d e m a r ke t i n g d o P SB No final da década de 50, o marketing passou a ser o cargo chefe das campanhas eleitorais. A publicidade é utilizada como serviço público de interesse geral. As análises a seguir são uma constatação mais eficaz de como a campanha de Marina Silva foi baseada e trabalhada. No que diz respeito às propagandas, de forma geral, a campanha do PSB começa se atendo muito a imagem de Campos. Seu primeiro programa veiculado no horário eleitoral, no dia 18 de agosto de 2014, foi o mesmo já gravado de quando a campanha ainda era pautada na aliança Eduardo Campos e Marina Silva, homenageando assim o candidato. Um fato interessante sobre a estratégia do PSB, antes do acidente de Campos, é que toda a comunicação era pautada na aliança entre candidato e vice. Diferente do que vemos nas corridas eleitorais, o PSB mostraria ao eleitor que o governo seria feito por dois e não só por um, e o outro seria para atender exigências de coligações partidárias. As peças da campanha davam ênfase no “E”, entre o “Eduardo E Marina”, que estava sempre em caixa alta e com uma estampa da bandeira do Brasil. No dia 20 de agosto de 2014, Marina Silva faz o pronunciamento oficial como candidata à presidência, sempre lembrando da imagem de Campos e frisando que o seu objetivo era continuar o legado do ex-candidato e honrar a união do que já havia sido construído na campanha. Visivelmente emocionada, Marina termina seu pronunciamento fazendo uso da frase célebre de Campos: “Não vamos desistir do Brasil”. Essa comoção e utilização da frase do ex-candidato são recorrentes aos outros programas daquela semana. Portanto, a partir daí, a estratégia de marketing da campanha do PSB teve que ser alterada, já que Marina começou a sofrer ataques de seus adversários devido às possíveis contradições de seu plano de governo. Para conter esses


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ataques, Marina utilizava seu tempo de televisão para reafirmar sua história de vida, dando a ela credibilidade. Nas suas falas, Marina falava que seus adversários queriam espalhar o ódio e levantar mentiras para denegrir uma imagem sólida. Outro artifício foi usar, em seu site, uma aba denominada “verdades x mentiras”. Ainda sobre credibilidade, esta deve estar ligada a sensação de verdade. A sensação de verdade quer dizer que o que é falado, pode ou não ser verossímil, mas que deve passar essa imagem. Por exemplo, os discursos de Marina foram marcados pelo uso de palavras como mudança, sonho, coragem e propostas reais. Em suas promessas, Marina usava palavras de ordem como se o que ela falasse fosse lei e inquestionável. A meta da comunicação não é eleger um político. É aguçar o instinto inconsciente de conservação e sobrevivência dos eleitores. Ou seja, o que vemos nas campanhas como propostas racionalizadas, não são, na verdade, propostas literais, mas estímulos afetivos, emocionais e passionais. Os estímulos passionais e emocionais nas campanhas eleitorais brasileiras também são muito explorados a partir do uso da imagem de personalidades midiáticas. Durante os dois meses como candidata, ela contou com o apoio aberto de nomes como Betty Goffman, Marco Nanini, Mark Ruffalo, a viúva de Eduardo Campos, Caetano Veloso, Arnaldo Antunes e Gilberto Gil. Este escreveu ainda uma música para a campanha de Marina, que teve grande notoriedade e foi trilha sonora do último programa eleitoral de Marina veiculado no horário nobre. A música evoca a fé, a sensação de maternidade, de cuidado, de respeito, de diversidade, unidade e de sonho, ponto forte explorado pela comunicação da campanha. Além disso, alguns pontos foram amplamente trabalhados como, por exemplo, “originalidade a qualquer preço”: uma tentativa de sempre mostrar algo inédito, para prender a atenção e entrar na memória de quem assiste. Durante sua campanha, a candidata contou com um jingle em ritmo de


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funk, cantado por diversas mulheres, que dizia: “Olha a Marina chegando, olha a Dilma saindo. Ela tá chegando pra mudar nosso destino”. Esse é um exemplo claro de como a campanha da candidata utilizou de artifícios populares e viralizantes, que atém quem assiste e fazem com que essa pessoa replique o que viu e ouviu por ser original, divertido e espetacular. Uma característica muito necessária na comunicação de campanhas eleitorais, também, é a fácil comunicação, com utilização de palavras simples, com o objetivo de que os mais variados públicos e segmentos sejam atingidos. Não deve ser preciso uma decifração daquilo que se está lendo, ou ouvindo, mas sim uma rápida absorção e entendimento. Além disso, o discurso político deve apagar os aspectos controversos da campanha, para que não confunda o eleitor. No caso da campanha de Marina, as frases mais utilizadas eram claras e eficazes: “não vamos desistir do Brasil”, assim como “não é um discurso, é uma vida” ou “coragem para mudar o Brasil”. Essas frases remetem ao tipo de discurso que a campanha estava carregando. Outro ponto interessante da comunicação usada pela candidata é que ela sempre voltava seu discurso para os jovens. As peças gráficas da campanha de Marina sempre apresentavam elementos urbanos, como paredes grafitadas ou pinturas de seu rosto. Isso reflete a ideia de que Marina queria se aproximar com o público, com o trabalhador, com as classes menos favorecidas. Já em relação aos elementos presentes na mídia, em seu último programa eleitoral noturno para a TV, Marina fala ao povo brasileiro com uma favela de plano de fundo a todo o momento. Além disso, as cores verde, amarelo e laranja estão sempre em evidência, em todos os casos, para dar uma sensação de unidade e identidade visual para a campanha. Vale ressaltar ainda que o plano de governo apresentado pela nova candidatura 40 usa da política como espetáculo em toda sua essência. Carregado de emoção, por causa de Eduardo Campos, o texto é escrito em forma de


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carta, para dar um caráter mais pessoal e induzir a sensação de estar sendo entregue a cada indivíduo. Além disso, tem redação clara e objetiva.

pesquisa s d e in ten ç ã o d e v o t o No que diz respeito às pesquisas realizadas ao longo das eleições à presidência, pôde ser observado o baixo número percentual que o PSB apresentava em relação às intenções de voto durante a candidatura de Eduardo Campos. De acordo com os resultados da última pesquisa divulgada antes de sua morte, pelo Ibope, o candidato somava apenas 9% das intenções de voto, contra 23% de Aécio Neves e 38% de Dilma Rousseff. Este cenário mudou a partir do acidente. A primeira pesquisa depois que Marina assumiu a candidatura à presidência pelo PSB foi divulgada no dia 18 de agosto, uma segunda-feira, pelo Datafolha. Os números apontavam Dilma ocupando o primeiro lugar, com 36% das intenções de voto, e Marina, o segundo, com 21% - percentual praticamente idêntico ao conquistado nas eleições passadas, quando também concorria à presidência. Ainda segundo os resultados da pesquisa, Aécio ficaria em terceiro lugar, empatado tecnicamente com Marina, que o venceria pela diferença de um ponto percentual. Nesse sentido, a ideia que até o momento se fazia presente de que Dilma seria eleita já no primeiro turno passou a se distanciar, assim como sua reeleição mesmo no segundo turno, posto que, segundo as pesquisas, Marina a venceria com 47% dos votos, ainda que essa estimativa fosse considerada como um empate técnico devido à margem de erro. O desempenho de Marina teve um crescimento notório com o passar dos dias, tendo sido apontado, segundo pesquisa do Datafolha realizada nos dias 28 e 29 de agosto, um empate já no primeiro turno entre as duas candi-


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datas, quando ambas obteriam a intenção de 34% de votos. Uma reviravolta passou a ser notada no cenário das eleições, transformando as perspectivas de todos os candidatos com a súbita aproximação do PSB à vitória presidencial. Acredita-se que, em um primeiro momento, a comoção gerada pela morte de Eduardo Campos de fato tenha impulsionado o crescimento de Marina. Ao chegar aos 34% de intenção de votos, a candidata à presidência apresentou um ganho de mais de 10% em relação ao percentual das eleições de 2010. No entanto, assim que assumiu o cargo no partido, seu discurso – mais ainda do que suas propostas – era forte. A ideia de que Marina representava uma novidade à política, já desgastada com a polarização entre PT e PSDB, interessou muitos eleitores. Portanto, pode-se dizer que os números não indicavam votos movidos apenas pela emoção, mas pela imagem de uma candidata que poderia tornar possível uma nova política.

resulta d os d o p rim eiro tu r n o : M a r i n a perd e sua f o rç a A ascensão de Marina, no entanto, chegou a um ponto de estagnação em meados de setembro. Apesar de seu crescimento ter sido significativo nos primeiros momentos em que assumiu a candidatura, as pesquisas passaram a indicar nesse mês um decréscimo no que diz respeito às intenções de voto para o PSB, ao passo que o candidato do PSDB, Aécio Neves, ia ganhando força. Muitos fatores poderiam ser apontados por essa virada, explanaremos abaixo alguns dos principais motivos que foram vistos por especialistas políticos, como responsáveis pela derrocada de Marina.


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Em primeiro lugar, pode-se obervar que, em comparação aos seus principais adversários, a candidata do PSB foi quem anunciou de forma mais detalhada o programa de governo. No entanto, o que deveria ser positivo para sua campanha, acabou se virando contra ela devido à quantidade de alterações feitas no documento e à represália dos demais candidatos. Uma das correções de maior repercussão foi quando, claramente influenciada por líderes evangélicos, Marina voltou atrás em sua decisão de apoiar o casamento entre pessoas do mesmo sexo e tornar ilegal a discriminação sexual. Além disso, a candidata do PSB foi acusada de plágio por Aécio Neves, por ter supostamente copiado o Programa Nacional de Direitos Humanos, divulgado em 2002 pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. Também foi fortemente criticada por Dilma, afirmando que, segundo seu plano de governo, o pré-sal daria lugar a fontes de energia alternativas. Todas as alterações e críticas recebidas enfraqueceram seu programa de governo. Além disso, outro problema enfrentado por Marina foi o fato dela não possuir voz decisória no PSB, o que gerou alguns conflitos dentro do partido. Muitos não se sentiam representados por ela e acreditavam que o partido ao qual ela pertencia realmente era o da Rede. Outro fator de grande influência para o gradativo enfraquecimento de Marina teve relação com o tempo que lhe era disponível na televisão. Durante a disputa, o PSB contava com dois minutos para propaganda eleitoral, metade do tempo do PSDB, que dispunha de quatro minutos no horário eleitoral e menos de um terço do tempo do PT, totalizado em onze minutos. Somado a isso, no que diz respeito a fatores externos, uma das estratégias de campanha adotada pelos demais candidatos passou a ser estruturada em uma postura ofensiva a partir do crescimento do PSB, o que foi extremamente prejudicial à sua imagem. Mesmo que a intenção do marketing fosse a de uma campanha sólida e que não tivesse margens para ataque ou


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dúvidas, a candidatura de Marina Silva foi fortemente questionada, assim como já citado anteriormente. Tanto o PT quanto o PSDB elaboraram estratégias para desconstruir o discurso que Marina reproduzia sobre o que sua candidatura iria significar para o país, uma vez que, como já discorrido, sua ascensão nas pesquisas não havia se dado por suas propostas, mas pela imagem que transmitia; a de negação da “velha política” e da polarização entre os dois outros partidos. Para isso, Dilma a comparou aos ex-presidentes Jânio Quadros e Fernando Collor que, sem muito apoio do Congresso, não conseguiram finalizar seus mandatos. A presidente também acusou Marina de ser conservadora e a “candidata dos bancos”, explorando o apoio que o grupo Neca Setúbal, do Itaú, ofereceu ao partido de Marina. Aécio Neves também realizou muitos ataques, mas de modo menos agressivo quando comparado à Dilma Rousseff, acredita-se que pelo fato de saber que poderia não estar entre os dois candidatos no segundo turno e, nesse sentido, aliar-se-ia à candidata do PSB. Devido ao fato de ambos terem programas de governo similares, a estratégia do PSDB consistia em aproximar a figura de Marina ao PT, afirmando que seria “mais do mesmo” e que a nova política que a candidata prometia implantar não aconteceria. O candidato também se aproveitou do fato de ter mais experiência política do que sua adversária, afirmando que conseguiria exercer suas propostas com mais facilidade e maturidade. Dessa forma, o discurso de ambos transmitia a ideia de que Marina ainda não teria força nem experiência suficientes para assumir o cargo e que seria uma figura facilmente influenciável durante o mandato. Como resposta, a candidata optou por manter uma postura pacífica. Não respondeu aos ataques com a mesma agressividade, afirmando preferir sofrer uma injustiça a praticar uma.


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Marina que sempre apresentou uma imagem fragilizada através de sua estatura física, tom de voz e restrições devido a inúmeras alergias, acabou por reforçar esse aspecto ao adotar uma posição de vítima diante das ofensivas de seus adversários, confirmando aquilo que argumentavam. Sem dúvida, ao se focar exclusivamente em suas propostas durante toda a campanha e não desenvolver um viés espetacularizado, como fizeram o PT e o PSDB, Marina perdeu sua força.

A poio d e M a ri n a No dia 05 de outubro a corrida de Marina à presidência da República encontrou seu fim, deixando-a em terceiro lugar com mais de 22 milhões de eleitores, o que significava 21,3% dos votos, praticamente a mesma porcentagem de quando concorreu à presidência no primeiro turno em 2010. Com a apuração de todas as urnas, foi divulgada a vitória de Marina em dois estados: Acre, sua terra natal, e Pernambuco, terra de Eduardo Campos, com 39,34% e 48,13% de votos, respectivamente. O anúncio sobre quem Marina iria apoiar no segundo turno não foi imediato. Somente no dia 12 de outubro, uma semana depois das eleições e um dia após Aécio declarar que realizaria as modificações exigidas pela ex-candidata em troca de seu apoio, ela tomou sua decisão. Em discurso, Marina afirmou que votaria em Aécio e o apoiaria, tendo em vista os compromissos assumidos por ele. Disse também que estava dando um voto de confiança à sua sinceridade e propósitos e entregando aos brasileiros a tarefa de exigir que fossem cumpridos. “Agora, novamente, temos um momento em que a alternância de poder fará bem ao Brasil, e o que precisa ser reafirmado é o caminho dos avanços sociais, mas com gestão competente do Estado e com estabilidade econômica, agora abalada com a


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volta da inflação e a insegurança trazida pelo desmantelamento de importantes instituições públicas”, afirmou, acreditando que Aécio “retomaria o fio da meada virtuoso” do Brasil.

C onsid eraç õ es f i n a is A reviravolta na campanha do PSB com a morte de Eduardo Campos e a escolha de Marina Silva como substituta para a candidatura à presidência trouxe diversas mudanças no cenário das eleições presidenciais de 2014. A morte de Campos gerou comoção nacional e, inicialmente, auxiliou o crescimento de Marina diante dos demais adversários nas pesquisas. Este fator foi explorado nas estratégias de marketing no início de sua candidatura, mas, aos poucos, a imagem da candidata foi se desvinculando de Eduardo Campos e, sendo assim, enfraquecendo-se. Até então, Marina conseguia se manter nas pesquisas e sua campanha poderia ser considerada uma espetacularização eleitoral. Entretanto, com uma coordenação de campanha abalada e desfalcada devido ao acidente no Guarujá, sua campanha se mostrou rasa, sem explorar os pontos que de fato poderiam mantê-la em suas porcentagens de pesquisa e na mente dos eleitores. Marina não se conectou com o eleitor, apenas defendeu a si mesma e suas propostas. Os responsáveis da Comunicação tinham nas mãos armas poderosas, como o jingle criado por Gilberto Gil e o apelo popular da família de Campos, mas não souberam explorá-lo, quando necessário. Nesse sentido, o discurso sobre “Nova Política”, sustentabilidade e direitos humanos guiaram a campanha de Marina Silva. No entanto, suas contradições a enfraqueceram, assim como as estratégias de ataque dos adversários, somada, ainda, à sua postura pacífica e não imponente que acabou por estigmatizá-la como vítima.


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A campanha, que a princípio usou artifícios atrelados ao espetáculo, marcando a morte de Campos e fortalecendo a união de sua imagem junto à Marina, deixou de lado as estratégias de espetacularização ao passo que Marina foi ganhando notoriedade, deixando-a enfraquecida diante de seus adversários ainda na metade da corrida eleitoral. Por não saber explorar determinados aspectos que pudessem aproximá -la à população, Marina não conseguiu manter os 10 pontos percentuais a mais em relação às eleições passadas, voltando ao mesmo número que havia conquistado nas últimas eleições. Pode-se concluir que a campanha em si não foi fracassada, visto que Marina apresentou no 1º turno a mesma média dos votos válidos nas eleições de 2010 e de 2014. Entretanto, o PSB, como partido, saiu enfraquecido com a morte de seu principal líder.


referências

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a t raj et ória d o p s b n a s e le iç õ e s pre si de nc i ai s e m 20 14

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eleições presidenciais de 2014 na bolívia Amanda Avelino carolina Furtado Diana Rodrigues Maria de Fátima Tomaz Giovanna Lisboa Natalia Sales



C ontexto his tó ric o

Após a independência em 1825, a Bolívia, ex-colônia espanhola, esteve sempre ligada à exploração dos recursos naturais. As minas de prata andinas, marcadas pelo apogeu e pela decadência do Cerro Rico de Potosí, foram, provavelmente, a principal riqueza explorada pelos espanhóis. Quando se tornou uma república, a Bolívia ficou marcada pelo o salitre, o estanho, o látex e o petróleo em seus ciclos econômicos do primeiro século de vida republicana do país. Porém, a exploração desses recursos não se desvinculou do padrão vigente no período colonial. Exploradas por empresas diretamente ligadas a setores estrangeiros, responsáveis pela demanda desses recursos, essas atividades abasteciam uma elite demograficamente restrita e com nítida filiação étnica. A elite criola, formada por gente nascida nas colônias e por descendentes de espanhóis, conservou a hegemonia política e econômica do país, e o conduziu a um sistema excludente, no qual a população indígena e chola (mestiços de classe média baixa) eram mantidas como mão-de-obra barata ou em sistemas de prestação de serviços não remunerada, devida pelas comunidades indígenas aos proprietários das terras. A marca de uma imagem da Bolívia como país frágil e desagregado, seriam as perdas territoriais. Envolvida em guerras fronteiriças, a Bolívia se viu mutilada em mais de 50% do território que contava à época da inde-


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pendência. Dessas, além da derrota na Guerra do Acre, ao final da qual a Bolívia concordou em ceder o território acreano ao Brasil em troca de compensações econômicas, a mais dramática foi a perda da faixa litorânea para o Chile, na Guerra do Pacífico. Para um país cuja economia se baseava na exploração de recursos naturais voltada para uma demanda externa, a perda do litoral implicou prejuízos que ainda hoje marcam a economia boliviana. Foi essa a Bolívia que ingressou no século XX. Do ponto de vista econômico, a vocação mineira boliviana teria continuidade com a exploração do estanho, na mesma região das esgotadas minas de prata. Nas questões sociais, ficava claro que o ideal do Estado passava pela exclusão, ou até mesmo a eliminação, do indígena. A ideia era que os indígenas seriam os responsáveis pelo “atraso” do país, interna e externamente. Entre 1880 e 1920, o país viveu um período de governos civis, iniciado com o do presidente Narciso Campero. De 1884 a 1899 o Partido Conservador se manteve no poder, até ser substituído pelo Liberal. Ao tempo em que estiveram à frente do governo, os conservadores favoreceram a mineração, por meio do desenvolvimento de uma rede ferroviária internacional. O Partido Liberal, que governou de 1899 a 1920, tinha sua força máxima em La Paz, e seus dirigentes não faziam parte da oligarquia das minas. Sua ascensão coincidiu com o apogeu do estanho. Em 1920 os republicanos chegaram ao poder, mediante um golpe de estado incruento. Em 1930, Daniel Salamanca, do Partido Republicano, ocupou a presidência. As alterações mais importantes que promoveu foram relativas à situação econômica: a crise econômica mundial causara redução das rendas nacionais e o fechamento de grande parte das minas. Para fazer frente ao mal -estar social e à oposição política, desviou-se a opinião pública para o exterior, iniciando-se um conflito de fronteiras com o Paraguai, pela posse do Chaco Boreal. A guerra durou de 1932 a 1935 e causou grandes perdas humanas e territoriais. A derrota do Exército boliviano, tido como mais bem preparado,


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provocou grande frustração nacional e uma profunda desconfiança frente aos poderes econômicos, às hierarquias políticas e militares. Desse descontentamento surgiram novos partidos, de caráter socialista e radical. Em 1936 foi instaurado o primeiro governo militar desde 1880, formado por veteranos da guerra do Chaco, representantes do que era chamado socialismo militar. As tentativas de reforma social tomaram corpo no confisco das explorações de petróleo pela empresa Standard Oil, na criação de leis trabalhistas e na promulgação, em 1938, de uma constituição progressista. Na década de 1940 surgiram dois importantes partidos, o Movimiento Nacionalista Revolucionario (MNR) e o Partido de Izquierda Revolucionaria (PIR), o primeiro dos quais de orientação inicial fascista, e o segundo, marxista. Depois de várias revoltas violentas, o MNR chegou ao poder apoiado por camponeses e mineiros, quando já estava afastado de sua ala fascista e tinha incorporado a seus quadros o líder mineiro Juan Lechín. Em abril de 1952 teve início a chamada revolução nacional boliviana. Em outubro do mesmo ano foram nacionalizadas as principais empresas mineradoras e criou-se um órgão público para administrá-las. Em agosto do ano seguinte teve início uma ambiciosa reforma agrária e foi abolido o regime de servidão dos índios, que receberam lotes de terras provenientes da fragmentação dos latifúndios. Instituiu-se o voto universal e foram criadas uma central sindical, e milícias de camponeses e operários. Víctor Paz Estenssoro, líder do MNR, governou de 1952 a 1956 e pôs em prática a parte mais revolucionária do programa do partido. É inegável que as transformações legadas pela revolução de 1952 permaneceram na órbita dos governos que a sucederam. O general Barrientos legitimou-se no poder por meio do Pacto Militar-Campesino, pelo qual ganhava o apoio das milícias no campo, diminuindo as pressões às quais era submetido. Ao mesmo tempo a COB, Central Obrera Boliviana, ainda que duramente reprimida pelos militares, continuava desempenhando papel importante.


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A herança do nacionalismo fica evidente no governo que sucede Barrientos, morto prematuramente em acidente de helicóptero em 1969. O general Alfredo Ovando Candia, em um breve governo de pouco mais de um ano, entre 1969 e 1970, decretou o fim do Código do Petróleo e a nacionalização da Gulf Company, e estabeleceu relações com a URSS e o bloco socialista, ao mesmo tempo que sufocava focos guerrilheiros no país. Mas a força do movimento já não era a mesma, e a década de 70 veria na longa ditadura do general Hugo Bánzer o ingresso da Bolívia num cenário compartilhado pelos demais países do continente. Já o epílogo do movimientismo do MNR se daria de forma inusitada. De volta ao poder após a redemocratização, com a reeleição de Victor Paz à presidência em 1985, foi ao mesmo MNR de 1952 que coube a missão de rearticular os objetivos, não só do partido, como das instituições que ele havia ajudado a criar. Nos primeiros meses de governo, o MNR lançaria o Decreto Supremo 21.060, que mudava o papel da Comibol, descentralizando-a e transformando-a numa administradora de contratos nos quais empresas privadas seriam autorizadas a exercer a atividade mineira. Esse decreto levou a uma traumática realocação de trabalhadores mineiros, deslocados de suas zonas de origem para novas frentes agrárias ou para a periferia dos grandes centros. Ao mesmo tempo, abria-se ali o processo de capitalizações - privatizações que, segundo o governo, manteriam o controle estatal sobre as empresas. O MNR se afastava de sua função de articulador das frentes sociais, para assumir o papel de um administrador dinâmico, que buscava o ingresso da Bolívia num cenário globalizado. A chegada de multidões de camponeses às cidades, o enfraquecimento da COB, o acesso à educação, a perda das ideologias estrangeiras, os movimentos por autonomia no mundo, o processo de descentralização do Estado e a persistência da pobreza na maioria da sociedade fizeram renascer nos indígenas sentimentos de identificação coletivos. Começam


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a evocar e criar nações “inexistentes” como a aimará, a quíchua, entre outras, que os levaram ao mesmo tempo a propor um retorno aos reinos do Tawantisuyu. Atualmente, a maioria das novas gerações de “indígenas” e “brancos” possui elementos culturais comuns. Possuíam uma cultura com fortes déficits em sua identificação. Para os indígenas, o papel social nesse processo deve ser gerido pelas comunidades de camponeses e pelo ayllu. A comunidade e o ayllu são os que definem os limites territoriais, ou seja, estabelecem laços culturais entre a comunidade e a terra. O ayllu é para o movimento social indígena a base para sua identificação histórica, que vem desde o Tawantisuyu. Teria sobrevivido à colonização e subsistiria na República. Levando alguns a argumentar “que por ser a potência, o passado potencial, é o recurso histórico -político indispensável para resolver os problemas do presente”. Apesar de sua identificação como indígenas, esses movimentos sociais não são homogêneos e apresentam uma série de variantes. A debilidade do Estado na Bolívia é reflexo de uma economia subdesenvolvida, demasiado dependente da ajuda externa e socialmente excludente. Apesar da implementação rigorosa das diretrizes do Consenso de Washington desde a segunda metade dos anos 1980, não se formularam processos de criação de renda relevantes para fomentar uma coesão social. Por esse e outros equívocos políticos, o movimento social, de longa tradição na Bolívia, toma um novo impulso e adquire um caráter distinto. A história política da Bolívia mostra que não se pode governar contra quase todo o povo. As demandas e os protestos se intensificaram, circunstâncias em que foram os indígenas e não a COB os principais atores. Dessa forma, as mobilizações sociais adquiriram cada vez mais um caráter étnico. Do ponto de vista político-econômico, o movimento “indígena” baseia-se nos despossuídos e perdedores das políticas neoliberais, os que rápida e eficazmente souberam coordenar ações que adquiriram em alguns casos ca-


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racterísticas corporativistas e clientelistas. Pode-se afirmar com toda firmeza e rigor que esse movimento social também é reflexo da opressão de séculos, de gerações, da marginalização e pauperização dos povos aimarás e quíchuas, em suma, de todas as culturas existentes na Bolívia, por elites mestiças e crioulas inaptas para governar para todos, indiferentes à realidade, senhoriais em sua visão de sociedade, racistas, reacionárias e chauvinistas. As ações políticas adquiriram uma nova envergadura por meio das mobilizações dos indígenas. Um sem-número de acontecimentos, marchas, bloqueios, a guerra da água em Cochabamba, o movimento dos cocaleiros no Chapare, representado por Evo Morales, atual presidente da Bolívia e a guerra do gás sucederam-se continuamente em cinco anos e ainda que esses acontecimentos tenham mobilizado diferentes atores sociais, foi o movimento “indígena”, onde se concentram 65% dos bolivianos que vivem na pobreza, que canalizou a maioria do descontentamento. O sistema político perdeu legitimidade e credibilidade, e a sociedade, suas bases de paz social. Os movimentos sociais adquiriram dinâmica na luta por reivindicações, ou seja, tiveram sua base no conflito ou nos conflitos não resolvidos. Evo Morales, envolvida no MAS, movimento al socialismo, e representante da defesa de cultivo da coca foi visto como a mudança para um futuro mais igualitário e correspondente as mudanças esperadas pela população.

Biog rafia d e Ev o M o ra le s Nascido em 26 de outubro de 1959 no departamento de Oruro, Juan Evo Morales Ayma descende de uma humilde família camponesa de origem indígena. É o segundo de três irmãos que sobreviveram às condições de extrema pobreza.


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Sua primeira fase escolar seguiu paralela às tarefas de agricultura e pecuária que seus pais faziam, assim ajudando-os nas atividades que garantiam a subsistência. Entre cinco e sete anos, não foi educado porque todos precisaram se mudar para Jujuy, na Argentina, no intuito de trabalhar nas plantações de cana-de-açúcar. Evo voltou para a escola alguns anos depois, quando retornou à cidade natal. Entretanto, as circunstâncias de vida ainda eram precárias, o que fazia com que por vezes seus pais tivessem de viajar em busca de sustento, tirando a criança da educação formal. Um pouco mais à frente, se mudou para a capital de Oruro a fim de prosseguir os estudos. Acabou entrando numa escola para estudantes sem recursos. Sem apoio financeiro familiar, pagou a instituição e sua estadia na cidade através de trabalhos como padeiro, pedreiro e até trompetista da Banda Imperial de Oruro. Em 1977, formou-se no colegial. Morales define esse dia o último de uma vida antiga, em que colocou o “terno e gravata da classe dominante”. Com menos de 20 anos, Evo exerceu o serviço militar em La Paz, onde sofreu discriminação fundamentalmente por sua etnia e por suas condições financeiras. Em 1980, voltou ao seu povoado e, em 1982, toda a família deixou o local, juntamente de milhares de migrantes do altiplano. Os Morales acabaram fixando morada noutro ponto do país, Chapare, província localizada ao norte do departamento de Cochabamba e trabalhando com horticultura. A conjuntura pareceu mudar quando o clã teve garantia de emprego pelo cultivo da folha de coca, um dos mais constantes da região. Foi nessa época que a notoriedade de Evo começou como líder local do campesinato indígena. Sua realidade desde a infância despertou nele a preocupação com a realidade política e social de seu povo, bem como a da luta dos mais desfavorecidos. Assim, sua militância encaminhou-se aos sindicatos agrícolas, e, em 1983, entrou na união agrícola de San Francisco.


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Ainda na primeira metade dos anos 1980, tornou-se secretário de esportes; em 1985, ocupou a secretaria-geral, e em 1988 foi eleito secretário executivo da Federação do Trópico de Cochabamba. No mesmo ano, o governo conservador de Paz Estenssoro rendeu-se à pressão do governo dos Estados Unidos e conseguiu chegar ao Congresso a lei que restringe a produção de folha de coca. Dessa forma, a substituição gradual das culturas tradicionais por alternativas de rentabilidade duvidosa e destruição compulsória de produtos sem pagamento, nos termos da lei, desembocou em protestos inflamados dos agricultores. Em 1989, com a social-democrata Paz-Zamora na presidência, a Federação do Trópico de Cochabamba, liderado por Morales, mobilizados contra os planos do governo para reduzir a área agrícola de cultivo de coca, ameaçou responder com violência se as forças de segurança do Estado tentassem impor a lei em Chapare. A luta se intensificou em 1993, em que o novo líder conservador Sanchez de Lozada viu nos sindicatos agrícolas constantes fonte de contestação quanto às suas ideias de erradicação da prática. No ano seguinte, seguindo o DEA (Drug Enforcemente Agency) americano, Lozada ordenou a execução de um plano de nome “New Dawn”, cujo objetivo era destruir 10% das lavouras de coca no Chapare. Morales, que em seguida presidiu o Conselho Andino de Produtores de coca (CAPHC) e da Confederação dos Produtores de Coca do Trópico de Cochabamba, convocou uma marcha em La Paz, e, após três semanas de mobilização, chegou à capital com 4.000 camponeses para forçar uma negociação com o Executivo, o que, mais tarde, culminou com a criação dos partidos Assembleia pela Soberania dos Povos (ASP) e do Instrumento Político pela Soberania dos Povos (IPSP). Alejo Veliz, um índio Quíchua assumiu a liderança da nova formação. O ASP-IPSP não conseguiu a aprovação do Tribunal Eleitoral para registrar-se como partido, então decidiu concorrer às suas primeiras eleições


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integrada às listas da Esquerda Unida (IU), uma coalizão progressista liderada pelo Partido Comunista. Em 1997, ano em que o poder retornou ao ex-líder do golpe, general Hugo Banzer, IU ganhou quatro lugares no Parlamento boliviano. Evo Morales conquistou um deles. Certos problemas foram enfrentados a partir daí. Como o IPSP de Morales não teve permissão oficial para registrar-se como um partido político, o líder procurou uma figura eleitoral para aliança. Negociou com David Añez, chefe da Al-Unzaguista Socialismo (MAS-U) Movement, e em janeiro de 1999, Evo foi eleito presidente da nova IPSP-MAS, o que simplificou sua sigla imediatamente e foi reduzida para MAS. Durante o mandato de Banzer, os confrontos com os sindicatos cocaleiros continuaram, o que, de certa forma, respaldou as candidaturas do MAS nas eleições de 1999. Evo estava mais popular, sendo símbolo da luta sindical. Ao longo de 2001, protestos em Cochabamba estavam em curso, especialmente quando o governo decidiu privatizar a água e aumentar o preço de alguns commodities, Morales ameaçou provocar a eclosão da guerra civil no Chapare. Em janeiro de 2002, dias após outra onda de confrontos violentos na região, o Parlamento acusou Morales de instigar a violência e iniciou um processo disciplinar contra ele. Evo perdeu seu assento com o voto favorável da maioria dos membros das forças políticas tradicionais, mas sua popularidade disparou mais ainda. Em seguida, os próprios sindicatos, crentes de que seu maior líder tinha sido injustiçado, designaram-o como candidato do partido à presidência. Não venceu, mas tanto ele quanto o partido saíram fortalecidos, uma vez que tiveram a segunda maior votação. Pouco depois da vitória, Sanchez Lozada teve de enfrentar uma crise política, quando o anúncio da entrada em vigor de um imposto sobre os salários provocou uma onda de violentos protestos nas ruas do país. Pressionado pela gravidade dos incidentes, o presidente retirou as medidas econômicas


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que provocaram a crise, anunciou um realinhamento de seu governo, com a inclusão de membros da oposição NFR e se comprometeram a reduzir as despesas públicas. As medidas presidenciais para apaziguar a crise não surtiram efeito entre os seus adversários políticos, que, encabeceados por Evo Morales, exigiram a sua demissão. Após mais agitação política e social, a queda de Sánchez de Lozada foi invítável, assumindo Carlos Mesa, o vice. Ele anunciou a formação de um novo executivo independente, que tinha o intuito de estabelecer a paz civil. No entanto, após vários meses de trégua, em que Morales foi ratificado como líder principal do MAS e novamente nomeado à candidatura presidencial, voltou com as reivindicações alinhadas às cenas habituais de confronto. No início de junho, Carlos Mesa renunciou e pediu aos representantes do Senado e da Câmara dos Deputados que antecipassem as eleições para evitar mais do que o esperado surto de violência no país. O Parlamento aceitou a renúncia do chefe de Estado e sucessor designado, em caráter provisório, o presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Eduardo Rodríguez, que imediatamente anunciou o pedido. Os bolivianos foram às urnas em 18 de dezembro de 2005 e a maioria de 53,7% aprovou o programa marcado anti-imperialista, anti-capitalista e anti-neoliberal de Evo Morales e o MAS obteve a maioria absoluta na Câmara dos Deputados. Em 22 de janeiro de 2006, Evo Morales tomou posse do cargo mais alto do país. Um dia antes, ele tinha sido nomeado como “Jacha mallku” (“Grande Condor”), a mais alta autoridade dos povos indígenas, em uma cerimônia na capital de Tiwanaku, Aymara. A chegada ao poder foi marcada por dificuldades, porém quebrou os códigos existentes de exclusão social na Bolívia.


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Evo Morales e s u a s c a m p a n h a s presid encia is A exemplo do que estudamos durante o curso Eleições e Espetáculo na América Latina, nos aprofundando no caso da Venezuela, as eleições da Bolívia não são diferentes em termos de espetáculo. Evo Morales, agora em seu terceiro mandato, investiu sempre em campanhas espetacularizadas, que envolveu os eleitores muito mais pelo sentimento do que pela razão.

Eleições presidenciais de 2002 Em janeiro de 2002, mesmo após ser destituído da sua posição no Congresso devido a uma acusação de terrorismo relacionada com uma onda antierradicação ocorrida naquele mês em Sacaba (na qual morreram quatro cocaleros, três militares e um policial), Evo Morales apresentou a sua candidatura para as eleições presidenciais que se realizariam em 27 de junho. Segundo as pesquisas de opinião, o partido registrava apenas 4% de intenção de voto. O MAS utilizou, então os seus recursos numa campanha espetacularizada, que incluiu a distribuição em massa de camisetas, bonés, bolas de beisebol e todo tipo de quinquilharia política. Um anúncio televisivo do partido mostrava uma boliviana que pregava “votar segundo a consciência de cada um, e não segundo o que mandava o chefe de cada um”, além de incluir camponeses, mestiços e indígenas que afirmavam: “vamos votar por nós mesmos. Votaremos no MAS”, utilizando de forma favorável a condição de Morales ser o primeiro candidato presidencial indígena e jogando com a insatisfação de longa data da população com a exclusão social latente na Bolívia. O slogan oficial da campanha foi “Somos Povo, Somos MAS”, num jogo de palavras que usava a sigla do partido político que era encabeçado


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por Morales; isso, aliado à crítica do embaixador estadunidense nesta ocasião e à convocação a não votar por Morales, converteu-se num estandarte da campanha devido à hostilidade existente entre as classes populares bolivianas e os Estados Unidos. Nas eleições presidenciais, o MAS obteve um surpreendente segundo lugar, deixando Morales muito próximo de converter-se em presidente da Bolívia.

Eleições presidenciais de 2005 Em 18 de dezembro de 2005, três milhões e setecentos mil bolivianos inscritos no registro eleitoral foram chamados novamente às urnas para eleger um novo governo. Segundo as pesquisas de opinião prévias, nenhum dos aspirantes obteria maioria absoluta necessária para sua eleição direta. Dessa foram, a designação caberia ao recém-eleito congresso, segundo as regras eleitorais bolivianas. Com uma campanha pelo “voto consciente” e o slogan “Contigo somos MAS”, sempre brincando com o nome do partido e a ideia de força das camadas populares, além de muitas promessas em comícios que mobilizaram a população boliviana, os resultados finais deram uma maioria absoluta de 54% dos votos a Evo Morales, frente a 28,59% de seu principal opositor, Jorge Quiroga, enquanto as pesquisas de opinião apontavam que ele teria apenas 37%. A partir de então, Evo Morales conta com grande apoio popular, revertendo uma “rejeição fabricada”, como ele mesmo disse no seu discurso de posse, no Congresso Nacional: “Estamos submetidos por alguns jornalistas e meios de comunicação a um terrorismo mediático”. Em março de 2005, as pesquisas indicavam que Evo tinha uma rejeição de 73% dos consultados e apenas 21% de apoio. Em setembro, Evo superou a casa dos 30% e, no início da campanha eleitoral, em outubro, chegava aos 44%.


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Após a vitória nas urnas, uma pesquisa de dezembro já lhe dava 65% de apoio e, no momento de tomar posse, Evo possuía 74% de apoio, inclusive em áreas que seu concorrente venceu em número de votos. A partir de sua eleição, Morales tem declarado o seu apoio às políticas dos presidentes de esquerda da América Latina: Fidel Castro, Luiz Inácio Lula da Silva, Néstor Kirchner e em especial do presidente venezuelano Hugo Chávez, se aproximando muito da sua maneira de fazer campanhas e conduzir a política em seu país.

Referendo revogatório de 2008 Em dezembro de 2007, em meio a uma tensa situação política relacionada com o processo constituinte, Morales lançou a proposta de submeterse, juntamente com todos os governadores, ao referendo revogatório, um referendo previsto pela constituição da Bolívia que submete os ocupantes dos cargos a uma nova votação. Assim, em 10 de agosto de 2008, o povo boliviano votou para decidir se queriam ou não que o presidente, Evo Morales, seu vice-presidente, Álvaro García Linera, e oito dos nove governadores do país continuassem em seus cargos. No dia 16 de agosto de 2008 a Corte Nacional Eleitoral da Bolívia confirmou os resultados, que deram a esmagadora vitória do presidente Evo Morales, que acabava de cumprir a metade de seu mandato de cinco anos. Ele foi ratificado no cargo com 67,41% dos votos válidos. A campanha para o referendo revogatório não fugiu à regra da espetacularização, e mais uma vez reafirmou, através de mobilização nas ruas, músicas, comerciais e outras peças publicitárias a força que o povo boliviano possui com Evo Morales no poder. Dessa forma, Evo se firmava cada vez mais fortemente no cargo e envolvia mais e mais pessoas através do emocional.


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Referendo constitucional de 2009 O referendo constitucional boliviano, que tinha por objetivo aumentar os poderes da maioria indígena da Bolívia que se diz oprimida há séculos pelos muitos governos do país, ocorreu em 25 de janeiro de 2009. A população boliviana, envolvida no discurso de Morales, que se utiliza da espetacularização não apenas em época de eleição, mas também durante seu governo, e nessa época já há quatro anos no poder, aprovou a nova Constituição do país. Segundo a contagem calculada pelas principais emissoras da Bolívia, o sim venceu por 61,43%, em números divulgados pela rede Unitel, e por 58,3% segundo dados do canal ATB. O presidente Evo Morales, afirmava que o projeto de seu governo seria aprovado por 70% dos votos. Com a aprovação da nova Constituição, o país realizou novas eleições presidenciais em dezembro, nas quais o atual Chefe de Estado boliviano pôde se candidatar para um novo mandato de cinco anos, garantindo sua manutenção no poder por outros dois mandatos.

Eleições presidenciais de 2009 A campanha para as eleições de 2009 teve como slogan “Bolivia Avanza”, e se baseava principalmente nas conquistas que o governo Evo já tinha realizado no país. Nesse ponto de sua carreira política e seu envolvimento com a população nacional, Morales já era tão popular, apesar da forte oposição, que venceu até entre os bolivianos que moravam no exterior. Destes votos, Morales obteve 75,77%, contra 18,44% de Reyes, 3,05% de Medina, 1,19% de Flores, 0,89% de Joaquino, 0,3% de Véliz, 0,20% de Loaysa e 0,16% de Choquehuanca, seus concorrentes. No total, mais de 125 mil bolivianos em quatro países (Argentina, Brasil, Espanha e Estados


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Unidos) votaram. Em todos Morales venceu com ampla margem, com exceção dos EUA, onde obteve 31,05% contra 61,04% de Reyes. Como já estava amparado pelo referendo revogatório de 2008, o candidato do MAS investiu muito em propagandas positivas sobre si mesmo e o seu sonho de continuar mudando a Bolívia, além de uma campanha na rua que mobilizou grande parte da população a votar pela permanência de Morales no poder. Evo Morales venceu o pleito em seis dos nove departamentos da Bolívia. O candidato do MAS obteve sua maior votação em La Paz (80,28%) e a menor em Beni (37,66%).

C and id atos e c a m p a n ha s pr e si d e n c i a i s d e 2 0 14 Evo Morales – Movimento Al Socialismo (MAS) Eleito, pela primeira vez, em 18 de dezembro de 2005, contrariando todas as perspectivas políticas da época, ao vencer a eleição com 55% dos votos. Com isso, foi o primeiro presidente indígena da Bolívia e da América Latina. Evo é líder sindical dos cocaleiros (agricultores que cultivam a folha de coca), que a utilizam para chás ou mascar a própria folha, como uma tradição indígena. O governo do presidente eleito tem orientação socialista, com foco na implementação da reforma agrária e a nacionalização dos setores chaves da economia. A primeira experiência de Morales com as redes sociais foi no dia 07 de sembro, quando estava em programa de grande audiência na Bolívia e lançou a hashtag #EvoEnVivo que chegou rapidamente a classificação dos


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assuntos mais publicados, o Trending Tropics (TTs). Mas o maior êxito, foi em 12 de setembro, com a hashtag “La #OlaAzul”, que conseguiu baterv o record de tweets na história política boliviana. A hashtag #OlaAzul é explicada por a cor azul representar o partido, assim ativistas, representantes de movimentos sociais e simpatizantes da campanha saiam às ruas propagando a grande “ola azul”. A hashtag serviu para unir um grande grupo e também tornou-se uma forma de demonstração de motivação, alegria, emoção, em consonância com a peça publicitária da campanha de Evo Morales, que em um dos vídeos, proposto por Aldo Peña, que chama o povo “Que levanten la mano quienes quieran a Evo”.

Samuel Doria Medina – Frente de Unidad Nacional Partido de orientação conservadora como alternativa de oposição ao governo de Evo Morales. Principal concorrente de oposição ao MAS, enfrentou pela terceira vez consecutiva o desafio de transforma seu sucesso empresarial em atrativo político, depois de duas derrotas para Evo Morales, em 2005 e 2010. Administrador de empresas, 55 anos, nascido em La Paz, casado e pai de cinco filhos, é o candidato a presidente da frente conservadora Unidade Democrática (UD). Em 2005, Medina teve 7,8% dos votos, e em 2009 seu desempenho foi de 5,6%, percentagens que deram ao seu partido, União Nacional (UN), um relativo crescimento no meio da hegemônica presença de legenda liderada por Morales. Após o fracasso de reunir toda a oposição em torno de uma única candidatura em 2014, Doria Medina se aliou a líderes da direita, como o Governador da região de Santa Cruz, Ruben Costas, para formar a frente UD, o que o fez perder o apoio inicial de dirigentes do centro e da esquerda.


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As suas propostas de governo giraram em torno da sua experiência no campo econômico e a geração de empregos. Sua vida política deu sinais ainda no período da universidade e em 1992 assumiu o cargo de Ministro do Planejamento e coordenação do governo de Jaime Paz Zamora já com interesse na presidência. Na campanha de 2014, tentou se aproximar da população e buscar maior espontaneidade nos gestos que procuravam indicar maior cumplicidade com os eleitores. Utilizou também fatos marcantes de sua vida, como:o sequestro em 1995 onde ficou refém por 45 dias em mãos do Movimento Revolucionário Tupac Amaru (MRTA), a quem teve que paga US$ 1 milhão de resgate, e ter sobrevivido a um acidente áereo em 2005. Os apelos emocionais e midiáticos, não surtiram os efeitos esperados perante a população que o ridicularizou nas redes sociais devido a viralização da frase: “C...não posso morrer”.

Jorge “Tuto” Quiroga – Partido Democrático Cristiano (PDC) Foi presidente do partido Acción Democrática Nacionalista (ADN), no final dos anos 80 e em 2005 assumiu o novo grupo denominado PODEMOS – Poder Democrático Social. Atualmente é considerado um líder de oposição contra o governo de Evo, mas vem perdendo relevância frente aos outros líderes oposicionistas, como: Rubén Costas, Juan del Granado e Samuel Doria Medina. Político conservador, Jorge Arturo Quiroga Ramírez, presidiu a Bolívia de 2001 a 2002, com a morte do ditador Hugo Banzer, nasceu em 5 de maio de 1960 na cidade de Cochabamba e estudou engenharia Industrial nos Estados Unidos. Foi casado com a americana Virgínia Gillum, com quem teve três filhas e um filho.


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Depois de noves anos, em 2014 foi candidato a presidência pelo Partido Democrático Cristiano (PDC), voltando a enfrentar nas urnas Evo Morales. Um dos principais críticos à atual gestão governamental, teve como principais propostas de campanha a o combate as drogas, a união da Bolívia com à Aliança do Pacífico, por considerar que essa aliança levaria o país a negociar com o mercado asiático com os produtos industrializados. Essa proposta foi bastante criticada e não caiu no gosto da população que considerar a Aliança do Pacífico, formada por Colômbia, Chile, México e Peru, como parte de uma conspiração dos EUA para a divisão da União de Nações Sul-americanas (Unasul). Também prometeu que se chegar à presidência, trabalhará para que a Bolívia seja o “coração” energético e industrializador de recursos naturais da região.

Juan del Granado - Movimento sin Medo (MSM) Nascido em 26 de março de 1953. Prefeito de La Paz de 1999 a 2004. Ex-aliado de Evo Morales, hoje é um social-democrata do partido Movimento sin Medo (MSM). O MSM propõe: processo de reforma constitucional para melhorar os mecanismos de representação, incorporar instrumentos e instituições da democracia direta; aprofundar a discussão da erradicação do sexismo e da inclusão das mulheres em todas as áreas; sistema econômico baseado na necessidade de “racionalização dos funcionários públicos”. Ele é identificado com o modelo econômico neoliberal chileno, que diz que a Bolívia deve aprender.

Fernando Vargas - Partido Verde da Bolívia Fernando Vargas nasceu em 2 de abril de 1964 na comunidade de Paraíso – Tipnis. Para as eleições gerais de 12 de outubro, o líder do Território


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Indígena Isiboro Secure National Park (TIPNIS) foi proclamado como um candidato para a presidência do país pelo Partido Verde da Bolívia. Fernando Vargas trabalhou como técnico de subestação Tipnis por mais de nove anos. Ele deixou a escola com formação em direito e tem formação jurídica no planejamento, desenvolvimento de projetos, resolução de conflitos, meio ambiente, impacto das atividades petrolíferas e recuperação de terras. Ele trabalhou como coordenação técnica e sócio-ambiental, o aumento da autoridade do governo San Ignacio de Moxos 2005-2010, assessor Nacional de Áreas Protegidas e levou uma proposta para consagrar as áreas protegidas.

C onclusã o Com 60,89% dos votos Evo Morales se reelegeu pela segunda vez consecutiva como presidente da Bolívia já no primeiro turno, indo para seu terceiro mandato. A vitória, que não foi surpresa, já estava previstas pelas pesquisas. Na última eleição, o candidato do MAS conseguiu uma importante conquista: foi o ganhador em oito dos nove departamentos bolivianos, incluindo Santa Cruz, que era marcadamente da oposição. O sucesso de Morales pode ser entendido se analisarmos os benefícios que ele gerou para a maioria mais pobre da população e para a classe média, que cresceu nos últimos nove anos de seu governo. Ao mesmo tempo, a postura não radical contra o sistema capitalista, que utilizou a exportação para manter a aquecida a economia do país e foi hábil ao controlar a inflação, permitiu que as classes mais altas também aprovassem o seu governo. Evo transformou sua maioria eleitoral em hegemonia politica, ampliando sua base social e mantendo a fidelidade do seu núcleo duro, os movimentos sociais. Além disso, o novo cenário alterou a pauta tradicional


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das eleições. Se em 2005 e 2009 os temas centrais eram a descolonização do estado e o ascenso das maiorias indígenas ao poder, com uma polarização classista, racial e territorial, em 2014 os temas foram centrados em propostas econômicas e projetos de país mais pragmáticos. Apesar da vitória representativa, Morales teve queda na vantagem nos índices de votos em seus principais colégios eleitorais da região altiplânica. Em La Paz, os votos diminuíram 11,46% em relação a 2009, em Potosi 8,81%, em Oruro 13,62% e 2,94% em Cochabamba, berço do MAS. Essas quedas podem estar ligadas a diversos fatores, como: falta de uma maior participação qualitativa dos povos indígenas nos níveis de decisão, a desaprovação da estratégia de conquistar novos eleitores através da incorporação de ex-direitistas ao partido (o que por outro lado trouxe novos votos), escolhas de alguns candidatos feitas de forma não consensual no ocidente ou mesmo a acomodação da militância local, por achar que já era uma luta ganha. Os desafios para o novo período estão em administrar a hegemonia conquistada sem perder os já fiéis eleitores. O movimento atual adotado pelo MAS e por Evo Morales é o da expansão dos limites e inclusão de novos políticos advindos de outros partidos. A questão será como lidar com todos os interesses envolvidos que podem ser diversos e mesmo antagônicos. Como crescer sem perder a fidelidade a seus ideais e eleitores. As próximas eleições, que acontecerão em 2019, serão um desafio ainda maior, pois os jovens eleitores que entraram para o mundo político cresceram no país governado por Morales e não viveram na antiga realidade da nação. Podem, portanto vislumbrar a mudança nos partidos de oposição ao MAS. Evo Morales ainda terá que enfrentar o cumprimento da Agenda Patriótica de 2025, que entre os 13 pontos levantados, inclui a erradicação da miséria. Será uma mandato cheio de atribuições e que exigirá do presidente muito jogo de cintura.


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eleiçþes presidenciais de 2013 no chile Bernardo Mello Diana Ferraz Rocha Michelle Giglio Leonardo Duarte



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“Hoje, nossas conjecturas já não têm como único objeto as relações do espetáculo e da sociedade em geral, como as que tecia Guy Debord em 1967. Agora é a superestrutura da sociedade, é o próprio Estado que se transforma em empresa teatral, em ‘Estado espetáculo’. De uma forma sistemática e organizada. Para melhor divertir e iludir o público de cidadãos. Para melhor distrair e desviar. E mais facilmente transformar a esfera política em cena lúdica, em teatro de ilusão” (SCHWARTZENBERG, 1977: 359).

O espetáculo, como mostra Schwartzenberg (1977), é o novo prisma fundamental para analisar a atuação e constituição do poder do Estado. Nesse sentido, é natural que o processo que conduz à escolha de representantes no corpo administrativo deste Estado também se dê através da espetacularização. É preciso desfazer o mito de que a eleição de governantes se dê por aspectos meramente políticos e de interesse comum. A campanha eleitoral cada vez mais vem se tornando o território de excelência explícita da sedução e da persuasão. É por esse prisma, portanto, que analisaremos as eleições presidenciais de 2013 no Chile. O pleito em questão marcou o retorno de Michelle Bachelet ao posto mais alto da política chilena. Bachelet, que havia sido presidenta de 2005 a 2009, enfrentou no segundo turno Evelyn Matthei,


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candidata à sucessão do presidente Sebastian Piñera. Por representar uma oposição recorrente em nível nacional no Chile pós-Pinochet, a disputa entre Bachelet e Matthei foi escolhida como foco para ser aprofundada nas próximas páginas. Antes, no entanto, é importante que sejam analisadas a atuação de novas circunstâncias políticas e sociais no pleito de 2013, aliadas ao velho contexto que emergiu da redemocratização. Esta tensão ficou explícita em um candidato: Marco Enríquez-Ominami.

Enríquez- Om in a m i: a n o va po l í t i c a n ã o supera os v elho s p a ra d ig m a s Marco Enríquez-Ominami concorreu à eleição presidencial de 2013 credenciado pela votação surpreendente no pleito anterior. Em 2009, ainda deputado distrital, Ominami rompeu com o Partido Socialista, que decidira apoiar o bloco Concertacíon, liderado por Bachelet, e lançou uma candidatura independente – algo permitido pela legislação eleitoral chilena. Com uma campanha irreverente, com inserções de televisão (franjas) que beiravam o humor pastelão, Enríquez-Ominami angariou mais de 1,4 milhão dos votos, um percentual de 20% que o transformou em concorrente potencial ao segundo turno. O sucesso nas urnas levou Enríquez-Ominami a lançar sua própria legenda, o Partido Progressista, e sair como candidato novamente em 2013. Apesar de algumas referências à irreverência da campanha anterior, seus vídeos televisivos adotaram tom mais sóbrio. As franjas da reta final da corrida eleitoral apresentam o candidato sentado, conversando diretamente com o público, com um discurso carregado de temas políticos e sem apelo a elementos gráficos. Mesmo seu jingle, que o acompanha durante todas as propagandas, apresenta um tom mais neutro e cadenciado do que a música utilizada em 2009.


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Enquanto apostava em uma campanha menos impactante do ponto de vista humorístico, Enríquez-Ominami procurou se posicionar como o representante de uma nova maneira de fazer política, afastada da bipolarização tradicional entre o bloco de centro-esquerda Nueva Mayoria, antiga Concertación – que havia governado o Chile desde a redemocratização, em 1990, até o fim do mandato de Bachelet, em 2009 – e a direitista Alianza por Chile, antiga Coalición por El Cambio, que engloba tradicionalmente os partidos Renovación Nacional – de Sebastian Piñera, eleito presidente de 2009 a 2013 – e Unión Demócrata Independiente, da candidata Evelyn Matthei, ex-ministra de Piñera. Sobre o ponto de vista de renovação da política chilena, que Enríquez-Ominami procurou personificar em sua campanha, o acontecimento recente que serviu para embasá-lo foi a reforma política de 2011, que aboliu a obrigatoriedade do voto para todos os inscritos no sistema eleitoral chileno – inscrição esta que era realizada a partir dos 18 anos, e de maneira facultativa. A inscrição passou a ser automática para todos os chilenos maiores de idade, mas a participação nas eleições tornou-se opcional, sem necessidade de justificativa. Esperava-se, com isso, que houvesse uma inclusão maior da juventude chilena, segmento com taxas de participação tradicionalmente baixas em eleições, especialmente nas áreas rurais. Acreditava-se à época que a participação dos jovens chilenos na vida política seria a grande herança das manifestações estudantis de 2011. Na ocasião, as ruas de Santiago e das principais cidades do país se encheram de estudantes que reivindicavam educação pública, gratuita e de qualidade. Em suas franjas, especialmente naquelas de reta final da campanha, Enríquez-Ominami apostava em uma comunicação direcionada aos jovens, convocando-os a acreditar que levaria tais reivindicações adiante. O diagnóstico eleitoral de 2013, no entanto, aponta um caminho diferente. Uma comparação simples entre os percentuais de disposição a votar


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apontados em pesquisas pré-eleitorais dão conta de que pouco mudou a participação da fatia tradicionalmente menos engajada no comparecimento às urnas. O gráfico 1 (Item 1 do Anexo) aponta a evolução do percentual de participação da “geração plebiscito”, como são chamados os que pertenciam à faixa inscrita nos registros eleitorais à época da redemocratização, e o restante da população, nos pleitos de 2009 e 2013. Fica evidente que o crescimento da coluna vermelha, que compreende a juventude chilena e as faixas etárias mais avançadas, não é tão significativo quanto a redução da coluna azul. A queda desta última, que compreende uma faixa tradicionalmente engajada no processo eleitoral (como é possível observar no gráfico de 2009), mostra que o saldo da reforma política e das manifestações estudantis não só deixou a desejar no aumento da participação dos jovens chilenos, como também trouxe como consequência uma redução, de maneira geral, do engajamento eleitoral da população. Em outras palavras, los promotores y promotoras del voto voluntario fallaron en ambos pronósticos. Primero, la participación descendió a niveles históricos. Segundo, se mantuvo una alta desafección en los segmentos más jóvenes (CONTRERAS-AGUIRRE, MORALES-QUIROGA. 2014: 605).

Esta acentuação das abstenções é melhor representada no gráfico 2 (Item 2 do Anexo), que discrimina uma tendência descendente desta participação eleitoral no contexto chileno. No entanto, chama a atenção que o segundo turno das eleições de 2013 tenha um engajamento 17 pontos percentuais menor do que o observado no segundo turno das eleições de 2009 – enquanto a média no período de tempo anterior era de 7 pontos percentuais de queda.


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Esta curva de desafeição política11 que se instalou no Chile não foi revertida pelos elementos políticos na campanha de Enríquez-Ominami, que deixou o pleito com cerca de 723 mil votos – pouco menos da metade conquistada com sua campanha irreverente e debochada de quatro anos antes.

Mich elle Ba c helet: o es p e tá c ulo pó sditad ura qu e s ed u z s em a g r e d i r A derrota de Piñera simboliza a limitação de um modelo que busca, voluntariamente, transmitir a impressão de uma plataforma prioritariamente política em uma campanha eleitoral. O prisma da espetacularização indica uma via oposta: o culto à personalidade e a persuasão do público através de estratégias que não agridam sua percepção, mas procurem seduzi-las. Este, não por acaso, é o principal trunfo da campanha vitoriosa de Michelle Bachelet. Presidente do Chile entre 2006 e 2010, Michelle Bachelet foi a candidata favorita das eleições de 2013 do país. Tendo como principal concorrente a candidata governista Evelyn Matthei, com quem disputou o segundo turno, Bachelet venceu as eleições com 62,2% dos votos. Essa foi a maior votação recebida por um candidato à presidência desde que o Chile retornou às eleições democráticas, em 1989. Bachelet, que deixou o cargo de diretora-executiva da ONU Mulheres que ocupava desde 2010 para disputar as eleições, foi a representante da coligação de oposição Nueva Mayoría. Com um posicionamento de centro-esquerda, a presidente manejou com extremo sucesso as demandas fragmentadas de grupos sociais distintos, circunstância que ficou explícita 1 CASTIGLIONI, R. Chile y el giro electoral: ‘La vergüenza de haber sido y el dolor de ya no ser’.


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nas manifestações estudantis de 2011, sem deixar de lado o imaginário pósditadura que permeia a sociedade chilena como um todo, em que diferentes gerações ainda têm na memória o autoritarismo do governo militar de Augusto Pinochet, que comandou o país entre 1973 e 1990. Michelle Bachelet pode ter se aproveitado dessas reivindicações, já que suas principais propostas durante a campanha se basearam em três pilares: promover uma nova Constituição – a carta vigente naquele momento havia sido promulgada em 1980 na época da ditadura de Augusto Pinochet; promover uma reforma tributária, com o aumento gradual de impostos a empresas; e mudanças no sistema educacional chileno, prometendo oferecer ensino superior gratuito e de qualidade em um prazo de seis anos. A campanha eleitoral de Bachelet, no entanto, não perde de vista o horizonte da personalidade a própria Bachelet – que não pôde concorrer no pleito anterior devido ao regramento eleitoral do Chile, que não permite a reeleição. Segundo o serviço eleitoral chileno, a eleição de Bachelet teve cerca de 5,6 milhões de votos, o que compreende menos de 50% dos eleitores do país. Em um contexto de claro desengajamento político, a propaganda eleitoral da candidata da Nueva Mayoría evita trazer a discussão política em si mesma. Pelo contrário: ela ocupa plano secundário nas franjas de televisão e inserções em redes sociais, que priorizam qualidades individuais de Bachelet, procurando transmiti-las como imaculadas. Bachelet começou sua campanha com o slogan “Yo quiero Chile”. A escolha, apesar de mais personalista, logo deu lugar a “Un Chile de Todos”, que seguiu até o fim da campanha da candidata. Apesar de não transmitir a mesma individualidade do primeiro slogan, a frase adotada produz um efeito de inclusão que se torna fundamental em um contexto no qual o eleitorado precisa se sentir motivado a participar do pleito, já que a participação não é obrigatória. O slogan possui um teor parecido


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com “Brasil, um país de todos” do governo do presidente Lula, que participou do programa de Bachelet, pedindo votos para candidata, na última semana do primeiro turno. O objetivo desse posicionamento foi remeter a um projeto coletivo de país, que não pertencesse a uma candidata apenas, convidando todos os chilenos a fazerem parte de um possível governo e tentando estabelecer uma ideia de igualdade. O apelo da campanha foi extremamente emocional e alegre, resumido na foto de campanha de Bachelet, sempre sorridente e fraterna, ainda que formal. Nas peças, em que se incluem tanto os vídeos veiculados na TV quanto o material de divulgação impresso, internet e outros, a estratégia foi pouco se falar de propostas. Um exemplo disso é o filme que assina a campanha: nele, não há nenhuma palavra além da assinatura – um “M” com as cores da bandeira chilena -, e ainda assim o conceito de “Un Chile de Todos” é extremamente claro e bem definido. Tal filme - uma animação - pode ser analisado em paralelo com o filme da campanha de Matthei, também uma animação, mas que dialoga com um público menos abrangente. No desenho animado de Bachelet, diferentes tipos de pessoas interagem com o “M” que, embora permaneça estático, com a mesma fonte e o mesmo tamanho, recebe interferência das cores e características dos múltiplos estereótipos presentes no filme. Através de uma brincadeira com a identidade visual da campanha, consegue-se passar a ideia de um governo que se adapta à heterogeneidade de seu povo. Enquanto isso, a animação da campanha de Evelyn Matthei consiste num pedido para que as pessoas convençam as outras a votarem na candidata; revelando uma linha de propaganda que comunica para quem já é seu eleitor. A trilha sonora, tanto nesse vídeo de assinatura como em todos os outros que compuseram os programas eleitorais para TV – com apenas pouco mais


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de dois minutos permitidos por candidato – foi uma tática primordial na campanha. Além disso, o tom poético foi outra estratégia que deu certo. O texto abaixo foi retirado de uma peça para mídia impressa, e traz a assinatura da presidente ao final, depois de palavras planejadas para fortalecer o posicionamento da campanha apresentando valores universais: Estoy decidida a convocar una Nueva Mayoria política y social para llegar juntos a la Presidencia de la República. Para que tengamos un Chile inclusivo, que progresa en cada uno de nosotros, con más justicia, más unidad, más participación y más solidaridad; para construir um Chile de Todos.2

Nas redes sociais, a campanha de Bachelet foi um pouco mais modesta. Com baixa média de posts - de um a cada dois dias -, teve um viés mais personalista, baseado mais em apoios e declarações do que em propostas. Sua fanpage no Facebook, que conta com 500 mil fãs, apresentava, na época da campanha, pouco espaço para informações sobre sua agenda; enquanto a página de Matthei, com 40 mil fãs, divulgava encontros e compromissos da candidata diariamente. A fanpage de Bachelet desenvolveu materiais específicos para a plataforma, com conteúdo que buscava interatividade, como o álbum #LaFotoDeTodos, em que eleitores enviavam fotos com bandeiras e cartazes, demonstrando apoio à candidata. Além disso, os posts preocupavam-se em reforçar o conceito #ChileDeTodos e em divulgar ações da campanha nas ruas. A média de postagens no Twitter da candidata era maior do que em sua página do Facebook. Michelle chegou a tuitar mais de 30 vezes em um só dia em sua página, que possui 34 mil seguidores.

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Ver Item 5 do Anexo


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Evelyn Matthei : qu a n d o o e spe tá c ulo encontra lim i tes d e s en ti d o Para começar a abordar a campanha de Evelyn Matthei, da Unión Demócrata Indepediente, é primordial remeter à relação de sua história pregressa com os antecedentes da própria Bachelet – relação esta que é observada tanto pela imprensa chilena quanto por veículos externos, como fica explícito em uma reportagem do inglês The Telegraph3 em agosto de 2013, ainda no início da campanha oficial. A filmagem no Estádio Nacional do Chile, um dos espaços usados pela ditadura militar para agrupar seus prisioneiros, e a presença de Lula, respectivamente última e penúltima franjas de Bachelet no primeiro turno, não foram escolhidas ao acaso. Antes de chegar à presidência, em 2005, Bachelet se destacou como um ícone na luta contra a ditadura militar em seu país – tal qual o ex-presidente brasileiro –, e não só por sua própria atuação política. Esta é uma herança hereditária: o pai de Bachelet foi o general da aeronáutica Alberto Bachelet, parte do alto escalão do governo esquerdista de Salvador Allende, e torturado até a morte quando o general Augusto Pinochet tomou o poder, em 1973. À época da morte do general Bachelet, em 1974, o comandante das instalações em que fora preso era o também general da aeronáutica Fernando Matthei – vizinho e amigo pessoal do primeiro, além de pai de Evelyn Matthei. Fernando jamais assumiu responsabilidade pela agonia do antigo companheiro, mas reconheceu em algumas ocasiões que poderia ter uma atitude diferente à época em que o general Bachelet era torturado no mesmo prédio em que despontava como um dos principais nomes da junta militar de Pinochet. 3 Disponível em: http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/southamerica/ chile/10220468/Chile-presidency-a-battle-between-daughters-tied-together-forever-bythe-Pinochet-years.html


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Quase 40 anos após a morte de seu pai, Michelle Bachelet tentava retomar a presidência do Chile, em vias de fazer um segundo turno eleitoral enfrentando justamente a filha daquele que representou a tragédia acometida sobre o general Bachelet e milhões de cidadãos chilenos. Ao invés de procurar uma relação explícita de Evelyn Matthei com o lado mais obscuro da ditadura, buscando produzir uma inquietação no eleitorado, a campanha de Bachelet encontra uma saída mais cômoda: adota um abstrato tom profético em sua propaganda, convocando o país a lutar por ideias e contra feridas do passado, mas sem associá-las necessariamente a um elemento físico do presente. A sedução de uma sociedade com tendências de despolitização e pouco engajamento é um trunfo que só pode ser alcançado em sua totalidade por Bachelet, já que é a única candidata capaz de manejar para si, ainda que de maneira suave e abstrata, a herança do que talvez fosse o último período de franca politização da sociedade chilena – não tornando este caráter político o fator principal, mas subjugando-o à própria exaltação de uma personalidade suave e que, assim, transmitisse maior segurança e estabilidade para todos. Esta impossibilidade de sentido, este limite de significação, é o obstáculo primordial da campanha de Evelyn Matthei. Sua campanha ainda encontra outras dificuldades, como o fato de ter sido lançada às pressas – as duas candidaturas preferenciais de seu bloco político, a Alianza por Chile, acabaram abdicando. Talvez por isso seja pouquíssimo explorado em sua propaganda a ideia de ser a primeira mulher da direita chilena a concorrer para a presidência, o que também pressupõe esta fronteira simbólica. Afinal, se Matthei é a primeira mulher da direita, Bachelet rouba as atenções por ser a primeira mulher a alcançar, efetivamente, o cargo mais alto da política chilena. A começar pela primeira cena do programa inaugural de Matthei, onde uma criança pergunta para o avô porque ele não gosta mais de Bachelet. A comunicação de Evelyn bate na tecla de que o voto na candidata significa


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avançar, enquanto Bachelet seria um retrocesso. Em vários momentos a situação atual do Chile é criticada, esquecendo dos 4 anos do governo a que pertenceu, endereçando a culpa à Bachelet. Um artigo do jornalista Gabriel Cecílio – que também retoma o pano de fundo da ditadura na disputa com Bachelet – resume as limitações enfrentadas pela candidata da UDI ao ensaiar um enfrentamento na esfera política, o único campo possível diante da vantagem propagandística natural (e bem explorada) de Bachelet no quesito da personalidade. Matthei, como ex-ministra do trabalho, dá ênfase aos 800 mil empregos criados na atual gestão contra 400 mil da passada. Os protestos de estudantes e mascarados, iniciados em 2011, servem de apoio para a proposta de segurança sua campanha, que posiciona os manifestantes como bandidos que têm tirado a liberdade e a tranquilidade das famílias e promete tolerância zero a tal prática. No fim das contas, a linha da comunicação da candidata conservadora é tensa, faz uso do medo e tenta desgastar Bachelet de maneira firme. O apoio do presidente (Sebastián Piñera) com o menor índice de aprovação desde a redemocratização em 1990 é um fardo pesado, uma situação que a comunicação de Matthei claramente não conseguiu resolver.4

As dificuldades primordiais da campanha de Matthei se estendem desde pequenas falhas de editoração em suas imagens de divulgação – como a falta de harmonia espacial e o olhar enviesado na sua foto principal de propaganda – até o próprio slogan. “Ganemos Juntos” é rapidamente trocado por “Um 7 para Chile”, que faz um jogo de palavras com o número da candidata na cédula eleitoral e a avaliação máxima no sistema educacional chileno. No segundo turno, no entanto, o lema 4 Disponível em http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/121639/O-Chile-a -hist%C3%B3ria-e-seus-caprichos.htm


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mais utilizado é “Sí se Puede”, tradicional grito de superação nos países de língua hispânica da América Latina. A dificuldade de estabilizar um comportamento é uma fraqueza que fica evidente na campanha de Matthei, preocupada em buscar todos os públicos mas, em última instância, com dificuldades para identificar e afirmar um eleitorado próprio – afinal, sua ligação hereditária com a direita ligada ao governo Pinochet é encoberta na medida do possível pela propaganda, devido à limitação simbólica imposta pela figura de Bachelet. Já sua atuação nas redes sociais representa uma possível explicação geral para a dificuldade de Matthei – ainda que claramente ressentida pelas dificuldades fundadoras – de conseguir engrenar em sua campanha. Com um volume ligeiramente maior de postagens em relação a Bachelet, mas sem a mesma capacidade de produzir hashtags e ações específicas para a web, a campanha de Matthei encontra mais um muro: um eleitorado com poucas perspectivas de expansão, já que, em última instância, a campanha torna-se um espetáculo de reafirmação do voto para aqueles que já estão propensos a escolher esta candidata. A falta de horizonte maior do que ações localizadas, aliás, fica evidente no completo abandono de sua página no Facebook – a última postagem data de 15 de dezembro, dois dias após o segundo turno em que foi derrotada por Bachelet.


referências

Altman, D. Redibujando el mapa electoral chileno: Incidencia de factores socioeconómicos y género en las urnas. Revista de Ciencia Política, 2014. 24 (2), pp. 49-66. Castiglioni, R. Chile y el giro electoral: “La vergüenza de haber sido y el dolor de ya no ser. Revista de Ciencia Política, 30 (2), pp. 231-248. Contreras-Aguirre, G. & Morales-Quiroga, M. Jóvenes y participación electoral en Chile 1989-2013. Analizando el efecto del voto voluntario. Revista Latinoamericana de Ciencias Sociales, Niñez y Juventud, 2014. 12 (2), pp. 597-615.

Echeverría, J. C. P. La personalización de la política em Chile: Um análisis transacional de la agenda personalista de candidatos, médios de comunicación e opinión pública en las elecciones presidenciales de 2009. Universidad Complutense de Madrid, Facultad de Ciencias de La Información. Madrid, 2013.


Anexos

Item 1: Grรกfico 1. Fonte: Contreras-Aguirre, Morales-Quiroga (2014)

Item 2: Grรกfico 2. Fonte: Contreras-Aguirre, Morales-Quiroga (2014)


Item 3: Franja de Marco EnrĂ­quez-Ominami em 2009

Item 4: Franja de Marco EnrĂ­quez-Ominami na reta final da campanha de 2013


Item 5: Panfletos de campanha de Michelle Bachelet em 2013

Item 6: Campanha de Michelle Bachelet no Facebook


Item 7: Michelle Bachelet, ainda criança, com seu pai, o general Alberto Bachelet

Item 8: General Fernando Matthei (Ăşltimo da direita), pai de Evelyn Matthei, ao lado do ditador Augusto Pinochet


Item 9: Foto de campanha de Evelyn Matthei

Item 10: Material de campanha de Evelyn Matthei no segundo turno


Item 11: Facebook de Evelyn Matthei



eleiçþes presidenciais de 2013 na venezuela rafael rezende rafael debetto daniel gullino kenzo soares daniel lyra



Anteced en tes Eleição presidencial de 2012

É impossível falar das eleições presidenciais de 2013 na Venezuela sem apresentar uma contextualização do que aconteceu nos meses anteriores no país, os últimos do presidente Hugo Chávez no poder. Mesmo tendo passado recentemente pelo tratamento em Cuba de um câncer na zona pélvica – anunciado em junho de 2011, mas que ele garantia estar curado – Chávez decidiu concorrer às eleições referentes ao período 2013-2019, para tentar conquistar um quarto mandato. No poder desde 1999, o presidente completaria, se eleito, 20 anos no comando do país. A doença foi usada tanto por Chávez, em uma estratégia de vitimização, como pela oposição, que questionava a capacidade do presidente de governar. Seu adversário foi Henrique Capriles, governador oposicionista do estado de Miranda. Pela primeira vez a oposição esteve unida em torno de um só candidato (escolhido através de primárias na coalização chamada Mesa da Unidade Democrática), aumentando suas chances de vitória. A união, no entanto, não foi o suficiente. Em 7 de outubro de 2012,


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Chávez foi reeleito com 55,07%, contra 44,31% de Capriles. O presidente teve 8.191.132 de votos, enquanto seu adversário recebeu 6.591.304. Apesar de tranquila, a vitória foi por uma margem mais apertada do que nas eleições anteriores – em 2006 ele venceu Manuel Rosales por 62,84% a 36,9%. Entretanto, Chávez anunciou em 8 de dezembro, que se submeteria a nova cirurgia em Cuba, depois do retorno do câncer. Em transmissão ao vivo pela televisão, ele indicou o vice-presidente, Nicolás Maduro, como seu sucessor, “se algo acontecer”. Dez dias depois, nas eleições para os governos regionais os estados comandados por chavistas cresceram de 16 para 20, de 23 em disputa. A posse do novo mandato estava marcada para o dia 10 de janeiro de 2013, mas o governo pediu o adiamento, já que Chávez está internado em Havana, em Cuba. A oposição acreditou que isso seria uma violação da Constituição, mas o Tribunal Supremo da Justiça considerou que não havia necessidade da posse formal, já que havia continuidade administrativa. Chávez retornou ao país em fevereiro, mas manteve o tratamento. Depois de uma série de notícias contraditórias sobre seu estado de saúde – integrantes do governo afirmavam que ele estava se recuperando, mas o mandatário não era visto em público –, a morte de Hugo Chávez foi anunciada por Maduro em 5 de março, causando enorme comoção popular.

Biog rafia d e N ic o lá s M a d ur o Nicolás Maduro Moros é o atual presidente da Venezuela depois de assumir o cargo com a morte do presidente reeleito Hugo Chávez, em 14 de abril de 2013 foi eleito para mandato integral. Ex-militante da Liga Socialista da Venezuela, trabalhou desde jovem


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como maquinista no Metropolitano de Caracas. Chegou a dirigir o sindicato dos metroviários da capital nacional. Em 1998 Maduro passou a compor as fileiras do partido MVR, e se envolveu na vitoriosa campanha presidencial de 1998 em que Hugo Chávez foi eleito pela primeira vez Presidente da Venezuela. No ano de 2006, a pedido do presidente Chávez, Maduro ingressa no gabinete ministerial como chefe do Ministerio del Poder Popular para los Asuntos Exteriores (Ministério das Relações Exteriores). Em 10 de outubro de 2012, passados três dias das eleições presidenciais, foi nomeado novo vice-presidente executivo. Com a licença do presidente Chávez em dezembro de 2012 para tratamento médico, assumiu a presidência interina da Venezuela. Assumiu o poder após Hugo Chávez morrer na tarde de 5 de março de 2013. Antes de viajar a Cuba para a última fase do tratamento contra o câncer, Chávez chegou a pedir unidade da população “em favor da Revolução Bolivariana” defendida por ele e pediu apoio de Maduro.

Biogra fia d e Hen ri qu e C apr i le s Advogado de origem judaica, é católico, tendo participado na juventude do grupo conservador Tradição, Família e Propriedade (NAVARRO, L., 2012). Sua família controla um importante conglomerado industrial e de entretenimento, com rádios, jornais e televisão (WIKIPEDIA, 2014). Começou sua carreira como deputado pelo COPEI, partido social-cristão que fez parte do Pacto de Punto Fijo, sendo o mais jovem a presidir o congresso em 1998. Em 2000, participa da fundação do partido Primeira Justiça, pelo qual é eleito prefeito do município de Baruta em 2000 e governador do Estado de Miranda, em 2008. Em 2002, Capriles Radonski par-


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ticipou ativamente do Golpe de Estado contra o presidente Hugo Chávez, tendo sido preso por quatro meses (Idem). Em 2012, se torna candidato único da oposição à disputa da presidência com Hugo Chávez. A campanha focada no slogan “Hay um Camino”, tem ressonância principalmente entre as classes A, B e C+, parcela menor da população venezuelana. A construção midiática entorno de Capriles o exibe como um jovem carismático e progressista que percorre o país em uma campanha de corpo-a-corpo, um novo “Lula”, que cita o Brasil enquanto modelo de desenvolvimento econômico liberal com forte enfoque social, de forma a disputar os indecisos, chamados “ni ni” , nem Chávez nem contra. (SERPA,M. ,2013). Caprilez teve a votação mais expressiva da oposição a Chávez em quatro eleições presidenciais, com 44,31 %.

Eleições p res i d en c i a i s d e 2 01 3 Dois pontos de diferença. O que no Brasil na eleição atual foi visto como uma margem apertada, mas legítima, na Venezuela foi o que sustentou os gritos de injúria contra o governo vencedor e as acusações de roubo. Segundo a oposição, mais de 3 mil denúncias de fraude foram feitas por todo país. Maduro, por exemplo, aparece 14 vezes na cédula de eleição enquanto seu opositor aparece apenas uma vez. A indignação sustenta-se graças a opinião generalizada dentro e fora do país de que o Chavismo tinha chegado ao seu fim com a morte pré-matura de seu grande líder, Chávez. Antes de falar da eleição, devemos falar do acontecimento que fez decorrer todo o processo político decisório do ano: 5 de março, morte de Chávez. Logo, como já era esperado não se falava de outra coisa, declarou-se sua imortalidade e Maduro surgiu como o nome para a prosseguir com o Chavismo venezuelano. Uma eleição polêmica e cheia de incertezas.


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O blogueiro Reinaldo Azevedo, brasileiro e jornalista da Veja, mostrouse na época sem esperanças quanto a “libertação” da Venezuela seja na próxima eleição ou na que virá depois. Segundo ele, mesmo se não houvesse alteração nenhuma nas urnas, a eleição já seria uma farsa visto que, em suas palavras: “A eleição na Venezuela não é nem livre nem limpa”. Oposição, no caso, não dispôs dos mesmos instrumentos que Maduro para falar com a população: rádios e TVs estatizadas. Sendo assim, as vias de manipulação da população são amplamente eficientes. O país é lavado legalmente por um severo serviço de censura interna e só o que chega aos ouvidos da população é o que é considerado “saudável” e “didático” sendo que nesse processo os opositores são referidos como usurpadores e defensores de causas próprias. Mesmo assim, apesar de toda essa descaracterização e sem recursos midiáticos apropriados, chegar a quase 50% dos votos contra um adversário desses já é algo surpreendente. A eleição foi certamente uma da mais violentas da história: 7 mortos e 61 feridos foi o saldo na noite do resultado. Caracas é uma das cidades mais violentas do mundo com 122 mortos por 100 mil habitantes. Antonio Patriota, ministro das Relações Exteriores, lamentou as mortes e chegou a pedir “calma” a todos os setores políticos. Pessoas nas ruas, fogo na calçada, entre outros tomaram o cenário naquela noite. Outro aparato que a oposição apontou como um conceito chave do governo foi a máquina assistencialista. “Chávez transformou a Venezuela num país dependente exclusivamente do petróleo, destruiu a indústria, arrasou a agricultura e passou a distribuir caraminguás da renda do óleo às populações mais pobres” dizia a oposição. Aqui no Brasil, o ex-presidente Lula, durante a eleição, gravou um vídeo oficial entusiasmado apoiando Maduro em sua candidatura.

Protestos p ó s elei ç õ es


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O anúncio da vitória de Nicolás Maduro sobre Henrique Caprilles, na corrida presidencial da Venezuela de abril, por uma diferença de 1,59% de votos foi a faísca que impulsionou uma série de protestos e manifestações pelos meses que se seguiriam. Após as apertadas eleições, Henrique Caprilles chamou a sua metade da Venezuela às ruas para protestar pacificamente pela recontagem dos votos, caso o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) oficializasse a vitória de Maduro “Às 20h, que se escutem panelas e caçarolas em toda a Venezuela, no mundo. Para que escutem nossa indignação, nossa raiva”. “Quero pedir que amanhã, de maneira pacífica, com firmeza, valentia, nos mobilizemos aos escritórios do CNE para exigir a recontagem dos votos. Voto a voto. Aqui em Caracas, comigo em frente, iremos ao CNE solicitar tudo isso que disse”. Com um país dividido e em clima de acirramento mais pesado do que o cenário brasileiro de 2014, o não reconhecimento da vitória de Maduro por parte de Caprilles e as acusações ao CNE levaram às ruas milhares de manifestantes em uma noite de protestos que resultou em pelo menos 8 mortes e dezenas de feridos entre opositores e governistas. O clima de tensão na sociedade venezuelana voltou a esquentar no início de fevereiro de 2014 com a emergência de manifestações estudantis relacionadas ao aumento da criminalidade do país, após a notícia de que uma jovem universitária sofrera uma tentativa de estupro. Segundo Rafael Villa, venezuelano professor de Ciências Políticas da USP, a criminalidade de fato é geradora de indignação no país, mas a violência e a radicalização vista nos protestos de fevereiro tiveram uma essência muito mais política-eleitoral. As alas mais radicais da oposição aproveitaram a oportunidade para voltar a pautar a saída de Nicolás Maduro do governo. Com uma relação me-


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nos polarizada a partir de Caprilles - que em janeiro de 2014 trabalhara com Maduro em uma reunião para diminuir a violência no país - o presidente do partido de oposição “Vontad Popular”, Leopoldo López, passou a encabeçar as ações anti-Maduro. Depois de uma semana de protestos em fevereiro que resultou em mais mortos e feridos dos dois lados e uma intensa repressão por parte do estado Venezuelano, Leopoldo López foi acusado pelo governo de ser o grande articulador dos atentados violentos pelo país, enquanto parte da imprensa internacional acusava o governo de censura. Leopoldo acirrou ainda mais a polarização convocando os simpatizantes radicais da Venezuela à acompanharem sua ida até o Ministério de Justiça, onde se apresentaria “mostrando sua cara sem temer” ao governo. Do outro lado, manifestantes chavistas iam às ruas para apoiar o presidente eleito. Nos dias mais tensos de fevereiro, o conflito civil ganhava repercussão nas redes sociais e grandes organizações de direitos humanos pediam o julgamento da violência de ambos os lados de forma igual. A radicalização acabou expondo uma maior fragilidade na oposição quando Caprilles, representante da metade da Venezuela insatisfeita com Maduro nas eleições de 2013, se mostrou contrário às manifestações violentas e à ideia de tirar Maduro do poder. Os protestos seguiram em menor escala ao longo de todo o ano de 2014.


referências

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mundo/america-latina/eleicoes-na-venezuela/eleicoes-na-venezuela-entenda-o-processo-que-definira-a-era-pos-chavez,786dbdcf170fd310VgnVCM20000099cceb0aRCRD.html > Acesso em 23 de nov. 2014 PORTAL G1. Governo da Venezuela anuncia adiamento da posse de Hugo Chávez. 2013. Disponível em <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2013/01/chavez-nao-participara-de-cerimonia-de-posse-confirma-governo.html> Acesso em 23 de nov. 2014 SERPA,M. Eleições Espetaculares: como Hugo Chavez conquistou a Venezuela. Ed. Contra Capa,2013. 208p. WIKIPEDIA. Grupo Capriles. Disponível em: http://es.wikipedia.org/wiki/ Cadena_Capriles. Acesso em: 20 de nov. 2014.



eleições e espetáculo na colômbia elaine taffner joão brizzi moana ambrozi paulo oliveira



republica d e C o lo m b ia : o pa í s d e q ue estamos fa la n d o Do descobrimento ao surgimento dos primeiros partidos

A Colômbia, assim como a maioria dos países da América do Sul, foi descoberta e ocupada no início do século XVI por colonizadores espanhóis. A região foi ocupada durante o século citado e também durante o século XVII, período em que fora administrada em conjunto com outros territórios sob dominação da Espanha. A independência administrativa se deu já no século XVIII com a criação do vice-reino de Nova Granada no território onde hoje estão Colômbia, Equador, Venezuela, Peru, Panamá, Costa Rica e Nicarágua. Já a independência política se daria, como não poderia ser diferente, em uma rebelião liderada por Simón Bolívar e Francisco de Paula Santander. Após alguns anos de guerra, em 1810 foi declarada a independência das garras espanholas, que só viria a ser reconhecida por estes em 1819. A então “República da Colômbia” foi inaugurada com Simón Bolívar como presidente e tendo como parte de seu território os espaços compreendidos por Equador e Venezuela, mas logo a nova república se mostrou instável e acabou cedendo frente às retiradas destes dois países.


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Com isso, o espaço se abriu para que a República da Colômbia como a conhecemos hoje se constituísse. Primeiro, se criaram, respectivamente em 1848 e 1849, os partidos Liberal e Conservador, os mais antigos partidos das Américas. No mesmo período, em 1851, foi abolida a escravidão nos territórios colombianos e, mais à frente, entre 1899 e 1902, se deu a “Guerra dos Mil Dias” entre as facções mais radicais de conservadores e liberais, que condenavam o Partido Conservador de ser centralizador e protecionista.

A política no Século XX Após a guerra, os conservadores continuaram hegemônicos no poder até 1930. Nesse período, o território do Panamá foi vendido aos Estados Unidos, em 1921, e pouco depois o país teve de entrar em guerra contra o Peru pela disputa do departamento de Amazonas e de sua capital Leticia. O domínio dos conservadores acabaria em 1930, sendo substituído por mais dezesseis anos de governo dos liberais. Havia relativa estabilidade política, mesmo apesar da vitória conservadora, com Mariano Ospina Pérez, em 1946, mas o assassinato do candidato e líder liberal Jorge Eliécer Gaitán em 1948 acabou gerando um dos mais violentos períodos da história colombiana. Conhecidos como “La Violencia”, os 10 anos que sucederam o assassinato do político viram o crescimento de grupos paramilitares liberais que, em conjunto com o insurgente Partido Comunista Colombiano, formado sob influência da Terceira Internacional Comunista, enfrentaram a influência do governo conservador colombiano. Durante este período, além de impulsionar a participação colombiana na Guerra da Coreia, a administração conservadora também impediu que a oposição liberal tivesse um candidato na eleição de 1950.


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Tal medida fez com que, em 1953, um golpe de estado depusesse o presidente Laureano Gómez Castro e colocasse, em seu lugar, o general Gustavo Rojas Pinilla. No período em que ocupou o cargo, Pinilla desmobilizou grande parte das guerrilhas urbanas e dos então chamados bandoleros, deu às mulheres o direito ao voto e investiu forte em obras de infraestrutura, saúde e também na educação. As elites, no entanto, temiam por uma ditadura populista e, por isso, em 56 foi criada a Frente Nacional, uma aliança entre conservadores e liberais que, visando alternar entre si o poder na Colômbia, depôs o presidente Rojas Pinilla em 1957. Deste ano até as eleições de 1958, assumiu uma junta militar e, nos 16 anos seguintes, conservadores e liberais se alternaram no poder.

Frente Nacional, surgimento das FARC e cenário atual A Frente Nacional duraria até 1974, mas as consequências desse período abalariam a Colômbia até os dias de hoje. Durante os anos 60, o governo da Frente Nacional impôs uma grande realocação da população rural dentro do território do país com o objetivo de incentivar a agricultura em larga escala e o fornecimento de grandes terrenos a latifundiários ligados às elites nacionais e a empresários de fora do país. Esse conflito, somado às demais divergências de movimentos oposicionistas, fez com que surgissem nas zonas rurais, entre outros grupos, as Forças Armadas Revolucionárias Colombianas (FARC) e o Exército da Libertação Nacional (ELN). Enquanto as FARC tinham ligações diretas com o PCC, com o tráfico de drogas e eram a favor da reforma agrária e também anti-imperialistas, a ELN era formada por padres da Teologia da Libertação e via num regime cristão-libertador-comunista a solução para os problemas estruturais da Colômbia.


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Os anos 80 viram um grande crescimento das guerrilhas rurais armadas como as citadas e, também dos cartéis do tráfico de drogas, com destaque para o Cartel de Medellín, liderado pelo famigerado Pablo Escobar. O cenário continuou alternando conflitos e momentos de aparente paz entre as forças revolucionárias, os cartéis e o governo, que continuou alternando entre presidentes conservadores e liberais até o ano de 2002, quando Álvaro Uribe saiu do Partido Liberal às vésperas da disputa presidencial e mudou para sempre o cenário das eleições. Com um discurso contrário ao de Horacio Serpa, que defendia o diálogo com as FARC e o ELN, Uribe concorreu de maneira independente pelo partido Colombia Primero, vencendo com porcentagens retumbantes tanto em 2006 quanto em 2010 e rejeitando o diálogo com as Forças Armadas Revolucionárias durante todo esse período.

Colômbia: a n á li s e d a s ú lt i m a s e le i ç õ e s A relevância de Uribe para o cenário político colombiano Desde antes do início das campanhas, já se sabia que seria uma disputa muito acirrada. De um lado, o atual presidente, dono da simpatia de grande parte da população por conta de sua política pacificadora, e do outro lado o candidato do Senador Uribe, ex-presidente da Colômbia e figura ainda muito influente no país. Vindo de duas vitórias aterradoras nos primeiros turnos das eleições de 2002 e 2006, o apoio de Uribe se mostrava determinante para o resultado das urnas de 2010, época em que o cenário político visto em 2014 começava a se delinear. O ex-presidente, inclusive, só não concorreu a


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um terceiro mandato consecutivo por não ter o referendo que permitiria tal ato aprovado. Os partidos envolvidos com maior relevância em 2014 também têm ligações estritas com o político: enquanto o “Partido de ‘La U’” do presidente Juan Manuel Santos foi criado por uribistas para que seu legado fosse continuado após o final de seu mandato, em 2010, o partido de oposição também teve participação do ex-presidente em sua criação. O “Centro Democratico - Mano Firme, Corazón Grande” foi criado por uma coalizão política liderada pelo ex-presidente que rejeita as negociações realizadas por Santos e as FARC, apoiando, assim, o candidato Óscar Iván Zuluaga.

o s presid e n c iáv eis d o s eg un d o t ur n o Juan Manuel Santos • Nascido em uma família rica de Bogotá e uma das mais influentes do país, frequentou boas escolas e excelentes universidades dentro e fora da Colômbia, realizando pós-graduação em Harvard e na London School of Economics; • Seu tio-avô, Eduardo Santos, foi presidente (1938-1942) – e proprietário do jornal El Tiempo; • Tem uma inclinação para a política e boas relações com todos os círculos de poder em seu país, o que, segundo teóricos, fortalece sua imagem como um candidato preparado para o cargo de presidente; • Atualmente, é filiado ao Partido Social de la Unidad Nacional, o “Partido de ‘La U’”; • Foi Ministro da Defesa no governo de Uribe. Assim que assumiu, realizou uma viagem pelo interior do país e se deparou com uma


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realidade alheia às regiões centrais da Colômbia – assoladas por guerras e miséria – e isso o fez mudar de opinião quanto as suas estratégias. Sendo assim, pensava que, enquanto ministro, o governo deveria enfraquecer a guerrilha para depois buscar paz através do diálogo; • Trazer a paz definitiva para seu país, segundo o pensamento de Santos, é uma missão para o governo. • Quando eleito, subiu como aliado do antigo presidente, Uribe. Enquanto Ministro da Defesa, atacou fortemente as FARC. Em seu governo, contudo, ele inicia o diálogo com o movimento guerrilheiro e, pelos uribistas, passa a ser considerado um traidor; • Crescimento econômico de 4,3%; • Redução do índice de desemprego; • Melhora da imagem da Colômbia no cenário internacional.

Óscar Iván Zuluaga • Apresenta-se como um homem simples que veio do interior do país; • Formado em Economia e com pós-graduação em finanças públicas em uma universidade de Londres; • Sem conexões com políticos influentes; • Começou sua carreira como prefeito de sua cidade, Pensilvania (Caldas), zona cafeeira da Colômbia. Mostrou-se, durante seu mandato um candidato acessível e alguém que compreende os trabalhadores rurais e a população como um todo; • Foi Senador e também participou do governo de Uribe como Ministro da Fazenda e, atualmente, é filiado ao Partido Centro Democrático; • Sendo uma figura pouco influente no cenário político, ele lutou


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para ser ouvido como candidato; • Com seu discurso feroz contra a guerrilha e a favor da guerra, alinhando-se à política do ex-presidente Uribe nesse quesito – ponto no qual os planos de governo dos presidenciáveis mais divergia –, ganhou muitos eleitores pelo país.

C ampa nhas e p la n o s d e gov e r n o • Apesar de suas campanhas apresentarem imagens e políticas distintas para enfrentamento de um dos maiores problemas da Colômbia – a segurança –, os dois candidatos compartilham uma política econômica liberal; • Ambos carecem de carisma e uma política, a grosso modo, mais populista; • As campanhas foram marcadas por um uma série de escândalos e acusações, tom agressivo e manipulações. Grande espaço delas foi utilizado para agredir, denegrir e provocar um ao outro – de um lado, Santos acusava Zuluaga de espionar e tentar minar o processo de diálogo com as FARC; do outro, Zuluaga afirmava que Santos recebia dinheiro do narcotráfico – deixando a apresentação de propostas e projetos em segundo plano. Jornais de todo o mundo referiram-se a elas como uma “guerra suja” e apontavam para a existência de uma apatia por parte dos eleitores em relação aos presidenciáveis; • A segurança, ponto crucial e mais relevante em meio às pautas dessa eleição, era discutida de forma divergente pelos presidenciáveis – enquanto Santos defendia a manutenção do diálogo, Zuluaga propunha a volta da guerra contra as guerrilhas;


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• A campanha eleitoral de Zuluaga foi feita pelo marqueteiro Duda Mendonça. A marca dela foi o aproveitamento da letra Z, associando a imagem do presidenciável ao personagem Zorro. Tentando associá-la com a de um justiceiro, a campanha tomou um tom mais agressivo no segundo turno, o que resultou num declínio considerável da sua popularidade. Vale ressaltar que o discurso em relação às negociações com as FARC foi suavizado no segundo turno. Dentre as condições estabelecidas para diálogo, estabeleceu o fim de crimes de guerra e os ataques contra a infraestrutura no primeiro mês e, posteriormente, definiriam o fim da negociação, já que teria uma duração determinada. Tal medida foi tomada para conquistar o apoio de Marta Lúcia Ramirez, na tentativa de angariar parte dos dois milhões de votos que a candidata conservadora teve no primeiro turno; • Já a campanha de Santos, no segundo turno, teve como responsável Marcus Vinícius Queiroz, que optou por dar um tom mais emocional à campanha – que, apesar de tratar sempre de assuntos como paz, pecava pela falta de emoção. O brasileiro é visto como o grande responsável pela virada do presidente eleito, que havia sido derrotado por Zuluaga no primeiro turno.

A s eleições “A realidade é que o país está dividido entre uribistas e antiuribistas, portanto não estão sendo discutidos projetos de governo concretos, mas sim referências políticas, e isso é o que será traduzido nas urnas nas próximas eleições, afirma Alfonso Gutiérrez” – Colômbia vai às urnas em meio a troca de acusações entre candidatos, portal G1


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Opiniões colhidas durante a realização do trabalho “Olha, como eu definitivamente prefiro o Santos, eu vou dizer mais coisas sobre ele, mas tentarei ser o mais imparcial possível. Santos quer a paz e ele pretende obter isso através do diálogo, enquanto o Zuluaga não quer dialogar com as FARC. Santos, em seu primeiro mandato, assinou diversos ‘acordos de comércio livre’, mas também gerou diversos empregos. Para mim, Zuluaga é apenas um cachorrinho do nosso ex-presidente, que hoje em dia é senador, Alvaro Uribe Vélez, e eles só querem uma guerra para acabar com o conflito na Colômbia. Essa eleição foi bastante difícil pois os dois candidatos estavam muito próximos, o resultado foi 51 x 49 ou alguma coisa assim. É um pouco arriscado dizer que a parte rica da população vota no Zuluaga, pois, acredite, a Colômbia está dividida em duas partes, mas eu poderia dizer que a parte rica da tem uma inclinação maior pela política de Zuluaga” – Luis David Hoyos Garcia, 21 anos “Santos é o típico presidente que sempre fala tudo de bom que a população quer ouvir, mas as suas ações não condizem com o seu discurso. Já o Zuluaga gosta da guerra, a coisa mais importante para a população é a segurança. Ele quer destruir as FARC e é por isso que eu voto nele, porque pra mim a segurança é o que importa. Aqui na Colômbia, as pessoas que estudam ciências sociais e direito preferem o Santos e já quem estuda economia, prefere o Zuluaga. Há muito interesse em jogo, por exemplo, com o Santos, os políticos possuem mais controle sobre a economia do país, mudando leis, dentre outras coisas. E com Zuluanga, há um ambiente mais propício para fazer negócios” – Stiven Garcia Ruiz, 22 anos “Eu acho que as pessoas que votam em Santos fazem isso porque ele tem tentado negociar com as FARC, que é um grupo terrorista aqui na Colômbia,


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mas ele tem tentado fazer isso há 4 anos e, sinceramente, nada aconteceu. Eu, particularmente, prefiro Zuluaga porque ele diz que, se eles (as FARC) não querem negociar, ele vai começar a lutar contra eles, como o nosso antigo presidente costumava fazer” – Ricardo Arteaga, 24 anos Top of Form “O resultado do primeiro turno das eleições presidenciais da Colômbia revela a mudança de rumo que a sociedade está impondo. Os sucessos econômicos a curto prazo não são suficientes. Cada vez mais, as políticas estatais diante das necessidades da população se mantêm presas entre milhões de reivindicações desesperadas e a incapacidade de governantes que não entendem por que é mais importante o que ainda precisa ser feito do que o que já se conseguiu fazer, os saldos mais que as promessas. (...) Os cidadãos consideram as vitrines das docerias como um direito básico. Ver através dos vidros e sentir o odor das delícias exibidas dá a eles o direito, eles pensam, de possuí-las. Por isso, são sociedades que protestam, sociedades reivindicadoras, coléricas. Por esses motivos, Santos perdeu o primeiro turno contra Óscar Iván Zuluaga (...). Porque, afinal, a paz que é a marca registrada de Santos é uma paz que não faz escolas, nem constrói estradas, nem resolve os problemas aqui e agora. Por isso, suas promessas de campanha não têm importância, porque, assim como acontece com Dilma Rousseff, ninguém liga para quantos milhões de brasileiros saíram da linha de pobreza. O que conta é que o resto tem narizes para cheirar e olhos para ver os doces. E se o doce dos trens, dos hospitais, das escolas e dos empregos não é para eles, por que existe farinha e açúcar para a Copa do Mundo? (...) Uribe e Lula foram, sobretudo, um discurso político. A diferença com Santos e Rousseff é que o discurso de “administrar o possível” não está na moda. Agora desejamos o impossível: “Me dê meu doce já”. Essa é a consequência lógica de ter perdido o tempo na vida e na política. – Perder o poder, El país.


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Foi uma disputa acirrada: enquanto Zuluaga venceu no primeiro turno (29,2% dos votos contra 25,5% do segundo colocado), o resultado das urnas elegeu Santos com 50,9%, frente aos 45% do adversário, sendo a eleição colombiana mais disputada em duas décadas; Sendo o voto não obrigatório na Colômbia, as eleições contaram com um número elevado de abstenções. Nos últimos anos, aqueles que votavam não passava de 49%. Nessas eleições, entretanto, o índice de abstenções foi mais elevado: 60% no primeiro turno e 53% no segundo – participando apenas 16 dos 33 milhões de eleitores cadastrados. Tais índices apontariam para um desencanto dos colombianos quanto aos seus políticos – sem conexão com as reais necessidades da população –, descrédito em relação aos partidos e a percepção de insegurança. “Quando Juan Manuel Santos discursou no domingo à noite diante de seus seguidores para celebrar a vitória, antecipou que obter a paz que prometeu ‘não foi, nem é, nem será fácil’. (...) Sete milhões de cidadãos não confiam na paz com a guerrilha que o presidente propõe e a metade dos inscritos sequer votou. (...) A fratura mais profunda está nas ruas, entre quem pode aceitar que a guerrilha se transforme com o tempo em um partido político e os que não; entre os que acreditam que estão sendo feitas demasiadas concessões em troca de nada e os que confiam no processo até poder avaliar o conjunto; e, principalmente, entre os que acreditam que deve haver penas de prisão para alguns membros das FARC e os que tolerariam outro tipo de sanções. ‘O país ficou destroçado. A partir de agora, Santos tem que convencer metade do país sobre o diálogo de Havana’, explica a analista Laura Gil. A alardeada pedagogia da paz de que falava o Governo não foi, por enquanto, eficaz” – A polarização marca o novo mandato do presidente da Colômbia, El País


referências

Colômbia,

a

maioridade:

http://brasil.elpais.com/brasil/2014/08/18/opi-

nion/1408313337_009785.html A polarização marca o novo mandato do presidente da Colômbia: http://brasil. elpais.com/brasil/2014/06/16/internacional/1402951102_303073.html A paz de Santos ganha na Colômbia: http://brasil.elpais.com/brasil/2014/06/15/ internacional/1402863965_991117.html O país que os candidatos prometem: http://brasil.elpais.com/brasil/2014/06/15/ internacional/1402791515_337256.html A Colômbia vota dividida entre Santos ou a volta do uribismo: http://brasil. elpais.com/brasil/2014/06/15/internacional/1402787573_879783.html Os candidatos enfrentam vários caminhos para chegar à paz na Colômbia: http://brasil.elpais.com/brasil/2014/06/06/internacional/1402030239_029848.html Santos e Zuluaga discordam sobre a negociação com as FARC: http://brasil. elpais.com/brasil/2014/06/10/internacional/1402377625_899978.html A anestesia da guerra na Colômbia: http://brasil.elpais.com/brasil/2014/05/20/ internacional/1400617751_549420.html


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O homem da bicicleta que quer tirar a Presidência de Santos: http://brasil. elpais.com/brasil/2014/05/14/internacional/1400039615_707717.html Perder

o

poder.

http://brasil.elpais.com/brasil/2014/06/01/opi-

nion/1401631712_062830.html Um vídeo sacode as eleições na Colômbia a poucos dias do primeiro turno: http://brasil.elpais.com/brasil/2014/05/18/internacional/1400383440_170077.html O voto da esquerda impulsiona a reeleição de Santos na Colômbia: http://brasil.elpais.com/brasil/2014/06/04/internacional/1401914085_567031.html A

economia

da

paz:

http://brasil.elpais.com/brasil/2014/08/11/opi-

nion/1407789860_819728.html Colômbia ganharia uma década de crescimento se assinasse a paz: http://brasil. elpais.com/brasil/2014/10/02/internacional/1412282107_591301.html O caminho das FARC para a política: http://brasil.elpais.com/brasil/2014/05/23/ internacional/1400874585_593875.html O Governo colombiano e as FARC chegam a um pacto sobre o narcotráfico: http://brasil.elpais.com/brasil/2014/05/16/internacional/1400251643_274679.html As FARC admitem o dano causado aos colombianos durante 50 anos: http://brasil.elpais.com/brasil/2014/10/30/internacional/1414705041_010141.html A Colômbia que não vota: http://brasil.elpais.com/brasil/2014/06/16/internacional/1402872293_513157.html Uma montanha para fugir: http://brasil.elpais.com/brasil/2014/05/25/internacional/1400970806_326947.html A desiguldade social dificulta o crescimento econômico da Colômbia: http://brasil.elpais.com/brasil/2014/05/28/internacional/1401310750_174728.html Passagem para o abuso no transporte público da América Latina. http://brasil. elpais.com/brasil/2014/11/01/internacional/1414873447_925511.html


Este livro foi composto em Electra LT, 11,5/18 pt, com destaques em Baron Neue e Roboto, por Bruno Magno Alves em dezembro de 2014.


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